newsletter n.º 5, Set./2017
LUÍS GUERREIRO
O ENGENHEIRO DAS LETRAS
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PÚBLICO E VOZ DE LOULÉ Luís Guerreiro no P2 e em entrevista ao jornal de que foi director
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CRONOLOGIA FMVG A obra e os projectos da Fundação MVG
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O LAICISMO NA CAPITAL ALGARVIA NOS FINAIS DE OITOCENTOS Último artigo publicado
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Eu amo tudo o que foi Eu amo tudo o que foi, Tudo o que já não é, A dor que já me não dói, A antiga e errónea fé, O ontem que dor deixou, O que deixou alegria Só porque foi, e voou E hoje é já outro dia.
Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930-1935) Lisboa: Ática, 1955
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ABERTURA LUÍS GUERREIRO
NO DIA DOS TEUS ANOS Em cada palavra uma história. Em cada
Tudo faremos, pessoal e institucionalmente,
ideia um projecto. Foi assim, pedra a pedra, para celebrar a sua memória, dar palavra a palavra, que se ergueu a
continuidade ao seu legado e perpetuar o
Fundação Manuel Viegas Guerreiro. Do
seu espírito.
grupo dos quatro, onde me incluía juntamente com o Idálio Revez e o Hélder Martins, o Luís Guerreiro foi o escolhido por ser aquele a quem todos reconhecíamos as qualidades e as condições para melhor expressar o pensamento do nosso patrono e concretizar os fins desta instituição. Não nos enganámos. Não nos desiludimos. O saber de Luís Guerreiro, aliado à generosidade, ao aprumo do seu carácter e à sua impetuosa capacidade criativa tornaram-no um agregador de vontades e de realizações que elevaram o nome da Fundação, de Querença e do Algarve. Em nenhuma palavra caberá, com justiça, a amizade e a gratidão que lhe consagramos.
Neste primeiro aniversário que passamos sem a sua presença física, reunimo-nos e abrigamo-nos na memória. Reunimos os testemunhos de familiares, de alguns dos tantos amigos e apreciadores de Luís Guerreiro, compilamos fotografias e outros documentos. Prestamos-lhe justa, mas singela homenagem, e empenhamonos para que seja vivo e dinâmico este reconhecimento ao nosso tão estimado Luís Guerreiro, o «Engenheiro das Letras». Luís, no dia dos teus anos é a tua voz que ouvimos e celebramos. Gabriel Guerreiro Gonçalves, Presidente interino Primeira acta da Fundação Manuel Viegas Guerreiro
Primeiro Conselho de Administração da FMVG Da esq. para a dir. em cima: Idálio Revez, Manuel Viegas dos Santos, Hélder Martins e Gabriel Gonçalves. Em baixo: Quirino Mealha e Luís Guerreiro
Luís Guerreiro com o Patrono da Fundação, o antropólogo e etnólogo Manuel Viegas Guerreiro
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Com a família: Cristina, Catarina e Gonçalo
RECORDAR LUÍS GUERREIRO É sempre muito difícil conseguir escrever algumas palavras nestes momentos. Resolvi partir desta fotografia que me diz muito. Ao olhar para a imagem fácil é perceber que para mim nasceu tarde e morreu cedo.
Comecei por ser quase sua mãe. Fui amiga em todos os momentos... e serei sempre mana. Um obrigada a todos aqueles que lhe prestaram homenagem que julgo ser plenamente merecida. Maria de Deus Guerreiro
À esq.: com a mãe e a irmã À dir.: com os filhos
AO MEU PAI Sempre viveste apaixonado pela vida. Soubeste viver e ensinaste a viver. Assim, tornaste-te imortal. Uma parte de mim, uma parte de todos nós. Uma parte de nós porque nos tocaste e mudaste enquanto colega, amigo, marido e pai. Parte de mim porque lá em casa éramos a equipa dos sonhadores, dos idealistas, que contudo, com a ajuda da equipa dos realistas fazíamos o nosso caminho caminhando em passos longos, mas com razão e boa prática. Ensinaste-me o valor da integridade, e uma vez disseste-me: ‘O trilho da Razão por vezes tem escolhas e adversidades, exigindo ao caminhante muita atenção e bom senso. Nunca esqueças os princípios da ética, do respeito pelos outros e da ajuda fraterna.’
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Pai, não vou esquecer. Foste o Homem mais inteligente e bondoso que conheci, e tenho as minhas dúvidas se alguém, alguma vez, me impressionará com a mesma elegância e maneira como o sempre fizeste. Foi um privilégio. Obrigada Pai.
Catarina Guerreiro
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FILHO(S) DE QUERENÇA
UM GRANDE AMIGO
Perdemos um grande amigo… Conheço o Luís Guerreiro desde os seus primeiros passos! Temos quase a mesma idade. Frequentámos a mesma escola primária dos Corcitos, sítio que não constava no mapa e palmilhámos, a pé, o percurso entre as nossas casas e a escola, dia após dia, com a companhia dos poucos amigos e amigas que habitavam num e noutro lado do Ribeiro dos Galhardos. Tivemos portanto múltiplas histórias, desde putos, o que nos tornou grandes amigos. Quando começámos a sair para a vida nocturna e uma vez que o Luís não tinha transporte, ia comigo de motorizada até à casa do João Costa, de onde partíamos num famoso Honda 600 até ao litoral. Continuámos a sair juntos, após eu ter carta de condução e éramos quase os únicos jovens de Querença que apareciam no Algarve turístico. Quando nos perguntavam de onde éramos e dizíamos a palavra Querença todos se espantavam pois nunca tinham ouvido tal nome. E que bem promovíamos a nossa terra até aos dias de hoje. Por isso, desde sempre que tenho ligações com o Luís Guerreiro. Acompanhei a sua entrada na Câmara Municipal e o seu crescente gosto e vocação para a cultura. Tive a oportunidade de com ele trabalhar em vários projectos, de onde destaco a Fundação Manuel Viegas Guerreiro, onde
também fui membro do Conselho de Administração e depois membro do Conselho de Mecenas. Nos meus tempos de trabalho na Quinta da Ombria, estabelecemos várias parcerias, sendo que a primeira tinha sido a oferta, por parte da empresa proprietária do empreendimento, dos projectos dos edifícios da Fundação. E hoje, que por força de uma maldita doença, o Luís nos deixou, fica o seu legado. Um legado que não deixa ninguém indiferente e que, no caso da sua terra natal e do coração, fica uma marca indelével da sua persistência. Em termos físicos, o edifício da Fundação é e será um marco na afirmação de Querença na cultura nacional e internacional. Em termos imateriais, os eventos que lá se fizeram e que acontecerão no futuro são algo que a todos nos deve orgulhar. O Luís foi um activo membro do “lobby de Querença” e onde quer que esteja, estará sempre com a atenção virada para a sua terra amada. Descansa em paz caro amigo e a toda a família uma mensagem de paz e de muita força para enfrentarem este e os dias que virão! A todos nós que perdemos um amigo insubstituível, que saibamos viver cada dia com a força e persistência necessárias para enfrentar as adversidades da vida!
Somos de Querença. A terra que nos viu nascer, que muito amamos e sempre enaltecemos. Neste disperso meio rural, todas as famílias se conheciam, todas eram amigas, todas se entreajudavam. Neste ambiente cheio de natureza e ar puro brincámos, frequentámos festividades, fomos à escola, depois ao liceu, mais tarde à universidade. Crescemos, fizemo-nos homens, criámos família, executámos funções, cada um ao seu jeito, cada um no seu ramo de atividade. Sempre que nos encontrávamos, grandes conversas e debates travávamos sobre a nossa terra, sobre cultura, política, agricultura. Os nossos conterrâneos, amigos e filhos de Querença, sempre eram lembrados. Orgulhávamo-nos dos seus percursos, das suas funções, dos seus feitos. Os teus olhares, a tua voz, a tua simpatia, tinham um brilho e uma sensibilidade muito especiais. Luís, bem cedo e com muita mágoa te vi partir, mas o contributo e legado que deixaste pelos locais por onde passaste jamais poderão ser esquecidos. É esta a minha singela homenagem ao grande amigo Luís. Um abraço e até sempre!
Texto publicado no mural de Facebook de Hélder Martins, empresário
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João Costa, engenheiro agrónomo
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Imagem utilizada para divulgar o encontro “Memórias de Querença” (FMVG, 2015)
(mas também o azar) Fiquei triste pois fiquei convencido que muito Tdeiveprivaro prazer com Luís Guerreiro apenas durante haveria a esperar do seu talento e bondade. os dias da homenagem que generosamente me prestaram. E a melhor forma de o honrar será, julgo, dar uma continuidade criativa a essa Fundação, O prazer porque durante as conversas que em tão boa hora criada e que me veio tive com ele fiquei a conhecer, a começar a lembrar um homem (de quando era menino) conhecer um homem bom e criativo, pois me da idade da minha mãe, que sempre dizia, deu a conhecer projectos em que gostaria do menino Manuel, que era "bom e sábio". de se empenhar. E o azar porque esses três dias foram insuficientes para desvendar Agrada-me que o Luís tenha tido também o minimamente um homem cheio de seu nome de Guerreiro — guerreiro pela qualidades. paz. A vida é dura e cega — e, portanto, raramente escolhe os melhores.
Casimiro de Brito, poeta
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Casimiro de Brito no I Festival Literário Internacional de Querença, 2016
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Querença perdeu mais um dos seus filhos. Ainda mais contente fiquei quando após 10 É com tristeza e sentimento de perda e injustiça que dirijo estas breves palavras sobre o Eng.º Luís Guerreiro. Sempre tive desde criança uma boa imagem da pessoa que representava: simpático, simples, humilde, afável e grande amante da história, da cultura local, pois tudo guardava. Mais tarde, demos início ao projeto Maltês, pouco depois de iniciar a minha carreira profissional, como técnica da Associação In Loco. O Luís chefiava na altura a Divisão de Turismo da Câmara Municipal de Loulé. Marcou-me a sua disponibilidade em abraçar a iniciativa, pois todos os meses me deslocava à Divisão de Turismo para, em conjunto com uma das suas técnicas, fazermos este trabalho. De fato a sua atitude para com esta humilde publicação, que comemora em Novembro deste ano 19 anos de existência, sempre me marcou e fez-me sentir valorizada.
partiu mas deixou-nos a riqueza da O Luís sua vida. Foi um trust man.
anos de edição do nosso “Jornalinho”, o Luís um dia me mostrou a encadernação de todas as edições ao longo dos 10 anos. O Luís era assim, passava por vezes despercebido, pois era uma pessoa discreta, mas era muito atento para com as pequenas coisas que, na maioria das vezes, não são assim tão pequenas e têm muito significado. Durante o seu cargo à frente da Divisão de Turismo, foi quando tive oportunidade de aprofundar amizade e relação com a pessoa fantástica que era e que felizmente nos proporcionou uma relação mais próxima com continuidade, em outros cargos e atividades. Estamos todos gratos pelo seu legado, Querença ficou mais pobre, pois o Luís tinha a sua terra sempre bem presente, e sentia muito orgulho nela. Nós também sentimos muito orgulho pela pessoa que foi, pelo que deixou em Querença e na região.
acompanhou, em menino e em adulto. Mereceu sempre a confiança dos seus. Conheci o Luís desde sempre, basta ser Saí da terra, quando regressei vim a privar seu vizinho. Rapaz mais de perto com o agora Eng.º Luís calmo, concentrado, Guerreiro, casado, com filhos e quadro da estudioso, bom Câmara de Loulé, trabalhando muito próximo conhecedor para as do Presidente. A Câmara entretanto mudou idades que de política e admirei-me como o Luís atravessava. Primou continuava muito próximo do Executivo. pela família que Rapidamente compreendi que o Luís era um Manuel Viegas dos Santos, Cons. Admin. da FMVG sempre o supra partidário – nunca mudou de
Onde quer que se encontre ficará muito feliz por ver prosseguir os seus ideais. Não estarás cá para encadernar os 20 anos de Maltês, Luís, mas eu espero estar e entregar na biblioteca da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, para que um dia mais tarde as gerações futuras possam ter conhecimento da história da nossa terra. Até sempre, amigo Luís Guerreiro. Margarida Correia, pres. União Freg. Benafim, Tôr e Querença
Margarida Correia no 2º Festival Literário Internacional de Querença, 2017
orientação política - vestira a camisola da CULTURA e aí estava ele a trabalhar, fosse com quem fosse. Os Executivos sempre confiaram nele. Falecido o primo Manuel Viegas Guerreiro, quis eternizar este homem de Querença sempre ligado ao saber, propondo à viúva D. Conceição a ideia da Fundação, que aceitou. Aqui está, mais uma vez o acolhimento na confiança. Que engraçado... falecida a prima Conceição, casal sem filhos, os sobrinhos,
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pessoas com posses limitadas, sempre aceitaram as propostas do Luís. Teve a sua confiança. Também teve uma etapa como economista: a ideia da Fundação estava na estação quando passa o ProAlgarve que o Luís, de imediato, aproveita. O projeto entra na CCDR, que o aprova. A Câmara Municipal de Loulé complementa o seu financiamento. Mais uma vez teve a confiança das entidades... E a obra ergueu-se fisicamente... culturalmente não terá fim.
A Administração da Fundação por si liderada, soube entender o homem empático, de bom senso, de equilíbrio e concretizador, depositando nele toda a confiança. E a comunidade intelectual como recebeu este homem cuja formação de base foi técnica? Pois, a comunidade cultural soube reconhecer o Luís como se fosse do seu meio e também ela lhe deu a sua confiança. O Papa João Paulo, referindo-se ao futuro, disse: o tempo passa e o Reino de Deus espera.
O tempo do Luís não acabou: deixou-nos a herança da CULTURA E DA CONFIANÇA. Que todos saibamos continuar a força do seu ideal e merecer a confiança que ele sempre conquistou. Fiz este pequeno texto por confiar em ti, Luís: "escreve pouco para que os teus leitores te descubram e interpretem". Obrigado, Luís.
Luís. Além disso, a colaboração regular que ele mantinha na Voz de Loulé era sempre lida com atenção lá em casa, ou não houvesse uma assinatura do jornal local há muitos anos. Na já longínqua década de oitenta, do século
XX, encontrava-o por Loulé. Lembro-me que a sede da Voz de Loulé, em dada altura (penso que nos últimos anos da década de oitenta), esteve instalada numa sala das Galerias D. Leonor e ele andava por lá juntamente com o Neto Gomes, até porque já
Texto que alguns anos mais tarde foi publicado na revista Al-Úlyá. No ano letivo seguinte fiz uma abordagem ao final da Monarquia Constitucional e aos confrontos políticos em Loulé nos anos conturbados da transição entre a Monarquia Constitucional e a I República, artigo também publicado na mesma revista com o título “Publicidade, Política e Cultura na Imprensa Louletana (1907-1912)”. Este gosto pela história local, os livros e publicações antigas sobre o Algarve foram os
pontos de contacto que acabaram por nos aproximar. A partir de meados da década de noventa passei a contactar regularmente com o Luís. Depois começámos a contactar via telefone, mais tarde via email e depois via Facebook. Durante as férias fazíamos sempre os nossos encontros. Desculpem a inconfidência, mas excepto dois ou três amigos mais chegados e a família, era dos poucos com quem mantinha um contacto regular e gostava muito das nossas trocas de ideias e de
Manuel Viegas dos Santos, membro do Conselho de Administração da FMVG
O CAMINHO Provavelmente, como muitos, posso dizer que conhecia o Luís Guerreiro desde sempre, já que pouco mais de uma década nos separava em idade. Cresci em Clareanes, a meio caminho entre Loulé e Querença e os meus familiares conheciam o
tinha regressado dos seus estudos de engenharia em Lisboa e já trabalhava na Câmara Municipal de Loulé. No início da década de noventa fui eu que abandonei Loulé para ir estudar História, na Faculdade de Letras, em Coimbra. Logo no meu segundo ano de curso, 1991/1992, aproveitei as férias de Natal e de Páscoa para realizar uma pesquisa no Arquivo Municipal de Loulé, sobre as “Migrações internas a partir do concelho de Loulé (18101820)” com base nos livros de passaportes.
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conhecimentos. Um café aos sábados no Calcinha, em Loulé, ou noutros espaços eram habituais durante os meses de Verão e, muitas vezes, no período do Natal, e conversas que eram como as cerejas, sobre os mais variados temas, incidindo quase sempre sobre as figuras, os episódios e as fontes sobre a história de Loulé e do Algarve. As edições que cada um de nós tinha e que encontrávamos nas nossas deambulações pelas feiras de velharias e pelos alfarrabistas. Numa dessas conversas começou a falar-se da necessidade de existir de forma acessível um local onde se reunissem as publicações periódicas algarvias. Nós que adoramos os papéis velhos, que para muitos são lixo, sentíamos que era importante reunir e estudar essa informação/documentação.
investigadores a partir para a Biblioteca Nacional, em Lisboa, para a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra ou para a Biblioteca Pública Municipal do Porto, para se poder consultar os jornais e revistas que se publicaram pelo Algarve. Não fazia e não faz sentido!!! Isto tornava e torna bastante onerosa qualquer investigação que obrigue a estas deslocações. Estes interesses comuns e o gosto pelos mesmos temas levaram a que me convidasse a participar para uma conferência no Arquivo Municipal de Loulé, em Abril de 2003, numa altura em tentava ultimar o texto da dissertação de mestrado sobre “Os Republicanos e o Republicanismo no Algarve (1870-1910)”, que infelizmente acabou por nunca ser concluída. O texto dessa conferência acabou por nunca ser
da Foz em 2011, entre vários outros. Foi este interesse do Luís pela I República, em particular no Algarve, que o terá levado a convidar-me para o ajudar na realização da Exposição sobre “Mendes Cabeçadas e a República no Algarve”. O seu entusiasmo neste empreendimento, o sucesso que a mesma teve na época e a edição do catálogo da mesma foram momentos que partilhámos entre nós. Fica a memória dos episódios, das conversas e das partilhas de informação.
“Nós que adoramos os papéis velhos”
Pessoalmente, estivemos juntos pela última vez no Verão de 2016, quando a doença já se tinha manifestado. Estivemos juntos durante um bom bocado à conversa. Chegou acompanhado pela esposa, com um sorriso nos lábios, aquele sorriso simpático, afável que cativava, e trazia um conjunto de livros para oferecer. Eu estava um pouco temeroso na abordagem, era normal, depois de saber da doença, mas a conversa à volta de um chá e de um café foi normal. Porém, a dada altura manifestou o seu cansaço. Os tratamentos ainda duravam, mas havia esperança. Trocámos algumas mensagens até Maio de 2017, na altura da 2ª edição do FLIQ, quando através de amigos comuns soube que tudo se tinha complicado. Infelizmente, apesar do combate, da resistência, dos tratamentos, o Luís partiu. Da esq. para a dir.: Luís Guerreiro, José Correia Martins e Artur Mendonça Perdi um AMIGO, mas a família perdeu um Os arquivos e museus do Algarve, tal como publicado, mas existe em papel e já foi ente querido. a própria Universidade do Algarve, na maior citado em vários trabalhos sobre a temática É estranho estar em Loulé e não fazermos parte dos casos, são recentes e a “A Organização do Partido Republicano no as nossas tertúlias… informação da imprensa regional onde se Algarve: o caso de Loulé (1881-1910)”. Mais Cabe-nos a nós levarmos a bom termo encontra informação inestimável está muitas tarde, através do Luís, participei no I Curso alguns dos projectos que tinha entre mãos, vezes em Lisboa, Coimbra e Porto, longe Livre de História Contemporânea do Algarve sobretudo a questão da Hemeroteca Digital dos investigadores que têm vindo a (2008), organizado pela Fundação Manuel do Algarve, obtendo financiamento através aumentar. Pode parecer estranho, para Viegas Guerreiro. do orçamento participativo. alguns menos informados, mas alguma Encontrámo-nos também entretanto na colecções mais antigas de periódicos não última edição do Congresso do Algarve em Artur Ângelo Barracosa Mendonça, investigador existem no Algarve, ou se existem são muito 2007 e, mais tarde, no Congresso Outras incompletas. Esta situação obriga os Vozes na República, realizado na Figueira
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Luís, Tenho muitas saudades de falar contigo mas é difícil falar de ti! Foram muitos anos de companheirismo, isto é, de amizade partilhada no dia-a-dia, em situação de interajuda. As aulas no Técnico, os dias inteiros de estudo, as férias, as viagens, os passeios, o trabalho… Mais tarde juntámos as nossas famílias e alargámos a amizade às esposas e filhos. Os passeios de carros antigos, de jipe, as festas que tu sempre arranjavas, proporcionam-nos muitos momentos de alegria. Hoje quero recordar a tua capacidade, desde sempre, para comunicar com todos, sem exceção. A empatia com os mais velhos, permitiu -te aprimorar a tua capacidade de contar histórias, nomeadamente das gentes do mundo rural. Muitas vezes falávamos, recordando o dia em que nós, ainda estudantes, fomos fazer uma instalação elétrica para a minha tia Conceição, no Almarginho.
Desse dia, para além de um sentimento partilhado de missão cumprida de ajuda aos outros e de parceria, ficou a expressão da minha tia: “Então também padece?” A simples reprodução desta expressão nos bastava para sabermos o que sentíamos e o que recordávamos! Recordo também o último dia que fomos armar aos pássaros, num gélido Dezembro do 1983: atravessámos a ribeira descalços, acompanhados de mais dois parceiros e sentimos a ligação ao campo e a nossa amizade reforçada por mais um momento marcante. Recordo muitos outros momentos de alegrias e preocupações também e, certamente, uma vida mais enriquecedora por te ter tido como amigo e por ter sido e ser sempre teu amigo. Jorge Renda, engenheiro civil
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À dir.: Bruno Inácio e Luís Guerreiro
Tinha 10 ou 11 anos, no máximo 12. Terá sido por essa altura que terei tido o contacto mais próximo e regular com o Engenheiro Luís Guerreiro. Ele estava a preparar a abertura da Livraria Odisseia em Faro em conjunto com primos que temos em comum. Aliás, o parentesco sempre foi motivo de conversa. Não éramos primos. Ou então, como tantas vezes se diz, éramos primos afastados. As localidades pequenas (em dimensão territorial) como Querença assim o propiciam. Não é muita a distância entre a casa da sua família e a casa da minha família. Da Várzea Redonda ao Cardosal são dez minutos a pé. Os mesmos que mais ou menos percorria para apanhar o autocarro quando fui estudar para Loulé. Nesses meus 10 ou 11 anos, no máximo 12, numa espécie de férias de verão de Faro, fazia o que podia para ajudar na abertura da Odisseia. Lembro-me de arrumar livros consoante determinada organização. Lembro-me de o ter feito errado várias vezes. Lembro-me de distribuir folhetos pelos carros onde era anunciada a inauguração da nova livraria.
Foto publicada no Facebook de Salvador Santos e partilhada por Bruno Inácio
Ficava com os dedos todos negros de tanto levantar os limpa-para-brisas. Estive no dia da inauguração. Havia muitas pessoas, o espaço era grande. Havia gravatas e gente que parecia ser importante. Para os meus 10 ou 11 anos, no máximo 12, pareciam ser gente importante. Recordo a barba e a pera do Engenheiro Luís Guerreiro que, lá ao fundo, junto a duas grandes imagens, uma julgo que era do Poeta Cândido Guerreiro, discursava. Não me lembro do que disse. Ali andava aos encontrões no meio daquelas pessoas importantes. Lembrome sim do sorriso rasgado do Engenheiro Luís Guerreiro. Estava a cumprir um sonho. Esse sorriso era nele uma constante. Um traço de expressividade que sempre manteve. Lembro também os seus olhos cerrados proporcionais ao sorriso. Sempre o vi a rir e a sorrir muito. Era um Homem bem-disposto, positivo e de bem com a vida. Por isso, e por tantas razões mais, é tão injusto que essa vida, com quem ele estava de bem, lhe tenha fugido do corpo de forma tão repentina. Alguns anos mais tarde tornei-me colega
do Engenheiro Luís Guerreiro na Câmara Municipal de Loulé. Eu fazia tudo o que era para fazer. Ele era uma pessoa importante da Câmara. Era o “Homem da Cultura” como tantas vezes ouvi chamarem-lhe. Colaborei com ele em vários projectos e gradualmente fomos ganhando amizade que ele já “carregava” por mim e eu por ele, desde que eu nascera já que eu era uma espécie de primo afastado. A determinada altura fomos os dois chefes de divisão. Ele era da Cultura e eu da Comunicação, Relações Públicas e Eventos e depois do Desporto. A proximidade das áreas feznos fazer muitas coisas em conjunto. Às quartas-feiras de manhã tínhamos sempre reunião com o Vereador Joaquim Guerreiro e com os restantes dirigentes sob seu pelouro. O parentesco também era tema nestas reuniões já que o Joaquim Guerreiro é também ele um primo de ambos. Foram muitas quartasfeiras de manhã. À volta daquela mesa eu era o mais novo e aprendi muito com aquelas pessoas. Passámos por tempos em que havia disponibilidade financeira
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para concretizar projectos, mas também passámos por tempos em que foi preciso um grande rigor e gestão orçamental o que obrigou a tomar decisões difíceis. Não obstante do bom ambiente geral, propiciado por todos, o Engenheiro Luís Guerreiro enchia a sala. Era normal assim ser. Foi, porventura, o melhor relações públicas que a Câmara Municipal de Loulé alguma vez teve. Tinha sempre uma história para contar. E contava sempre as histórias e as estórias com um grande desembaraço e sempre com umas piadas pelo meio. Monopolizava as audiências fossem elas de pequenos grupos ou de grandes salas.
A Fundação Manuel Viegas Guerreiro, um sonho do Engenheiro Luís Guerreiro, teve, no lançamento da sua primeira pedra o então (agora outra vez) Ministro Eduardo Cabrita. Conduzi essa cerimónia e lembrome que me enganei a determinada altura e cortei a palavra ao Senhor Padre. Pedi desculpa e devolvi a palavra. Relembro que nesse momento, o Engenheiro Luís Guerreiro, me sussurrou ao ouvido: “Nem Jesus foi perfeito”. Ele tinha muitas deixas destas. Pese embora as diferenças geracionais tenho bastantes boas memórias do Engenheiro Luís Guerreiro. De alguns
convívios no Café Calcinha onde de resto, estou certo, ele teria tido papel importante nesta nova fase desse importante espaço cultural e social da cidade. Foram muitos os projectos que idealizou e colocou em prática e são muitas as pessoas que vão ter saudades suas. Eu serei uma delas e será destes pequenos momentos que aqui relatei e de tantos outros, que recordarei com saudade um Homem Bom que foi bom para os outros e que deixa a sua marca em Loulé, no Algarve e no País. Até sempre Engenheiro. Bruno Inácio, empresário
A FUNDAÇÃO MVG O Eng.º Luís Guerreiro era um homem de ideais, íntegro e ético. Além da sua vida profissional, abraçou com paixão a causa da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, fazendo desta um marco de dinamização do interior algarvio e particularmente de Querença. Todos lhe devemos muito e Querença não pode esquecer este seu filho. Pascoal Faísca, membro do Conselho de Mecenas
A perda física do Luís, o “Nosso
promoção intransigentes da Cultura e Presidente” como eu gostava de lhe chamar, História do Algarve. é um momento de dor e condolência mas A sua herança é imensa e a sua “menina também fonte de reflexão e inspiração para dos olhos”, a FMVG, a melhor casa para a a luta pela vida, em todas as suas vertentes. acolher. Difícil vai ser estar à altura do Pessoalmente, dadas as minhas legado. demasiadas ausências, recordo com Acredito, porém, que a sua memória e o seu saudade o entusiasmo com que me relatava estímulo omnipresentes irão orientar todos em resenha os acontecimentos que eu tinha os responsáveis vindouros na superação do perdido e como me expunha as ideias e os desafio colocado. planos para o futuro. No final, todos lhe iremos dedicar os Fico também com o testemunho e a partilha desejados sucessos desta sua criação. Até sobre causas comuns centradas na sempre! valorização dos territórios do interior, uma Quirino Mealha, REPER União Europeia riqueza por minerar, e da defesa e Lançamento da 1ª pedra da FMVG, 2009. Entre os presentes: Sec. Estado-Adjunto Eduardo Cabrita
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A Fundação Manuel Viegas Guerreiro é um claro fruto da obstinação deste homem: por ventura, uma das suas mais teimosas obsessões. Traçada à sua imagem e semelhança, esculpiu-lhe não só o corpo mas, muito principalmente, a alma. Assente na sua particular visão de uma cultura baseada nas características de uma região - não só para render homenagem às origens do Patrono, menos regionalista do que o discípulo, mas também às suas esquissou um conjunto de actividades que permitiriam situar o Algarve como objecto de Pedro Ferré, membro do Conselho estudo e de análise e, por essa via, melhor de Administração da FMVG dar a conhecer a região, tanto aos nela nascidos como a todos quantos sobre ela se No tempo em que o sentimento se sobrepõe interessassem. à razão, parece-me mais oportuno o silêncio do luto ao verbo que respiga encomiásticos Assumiu, pois, a alma regionalista de Mário Lyster Franco, e tentou, com este referente, chavões. Procurarei, pois, com muita criar a sua Algarviana. Nesse sentido, vejaparcimónia e não menor contenção, responder ao apelo feito pela Fundação por se como teimosamente procurou, até ao fim dos seus dias, levar por diante a projectada Luís Guerreiro até agora presidida.
'Hemeroteca Digital do Algarve'. Por via do seu estreme regionalismo, tentou glorificar a cultura do Algarve: muito longe de querer ser exaustivo, assinalo que esteve na génese de edições como a de Cândido Guerreiro ou como as dedicadas à cultura popular louletana; concebeu, também, em actos públicos, homenagear escritores como Casimiro de Brito ou Teresa Rita Lopes. O Tempo, que lhe impôs um precoce fim, interrompeu alguns embrionários projectos que, viessem ou não a realizar-se, seguiriam certamente com fidelidade a sua vocação provincial. Não obstante, seja qual vier a ser o rumo da Fundação, os traços que lhe legou serão marca indelével na história desta instituição. Requiescat in pace. Pedro Ferré, vice-reitor da Universidade do Algarve para a Ciência e Cultura
O Arquivo do Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna (1828-2010): sua preservação e difusão
A MINHA MEMÓRIA DE LUÍS GUERREIRO desde os bancos da Escola Primária até à
do Algarve. Foi um prazer ouvi-lo relatar com afecto, até ao mais pequeno pormenor, Conheci melhor o Luís Guerreiro aquando de Universidade que me aproximaram da dimensão do Luís. Daqueles encontros ficou- acontecimentos em que o narrador se fundia alguns encontros relacionados com a me em primeiro lugar, o seu dinamismo, com a personagem, talvez na verdadeira plataforma o Romanceiro.pt na Fundação Manuel Viegas Guerreiro. Infelizmente a data capacidade organizadora e eficácia que após origem da tradição oral. longas derivações por vários e riquíssimos deste acontecimento, 20 de Fevereiro de Apercebemo-nos que culturalmente temas, voltava ao objectivo principal com 2016, ficou marcada pelo diagnóstico da abraçava com grande amor a trilogia: um pragmatismo consequente e invejável. grave doença que o viria a vitimar. História do Algarve, Querença e Fundação O Luís mostrou-se um comunicador ímpar, Manuel Viegas Guerreiro, que de alguma Antes, também por motivos de saúde, um com empatia e sentido de humor maneira ficaram mais pobres com a sua tumor benigno do fígado, diagnosticado no contagiantes. partida. nosso consultório, originou longas e múltiplas conversas com o Dr. João Martins, Impressionou-me particularmente o seu José Maria Guerreiro, membro do seu grande amigo e companheiro de estudo profundo conhecimento militante da História Conselho Consultivo da FMVG
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LUÍS GUERREIRO… Não esqueço a hospitalidade de Luís Guerreiro quando estivemos em Querença a invocar a memória inolvidável do Professor Manuel Viegas Guerreiro, mestre de tantas gerações e cultor extraordinário do ancestral Reino do Algarve. Posso dizer que nesse dia sentimos o que era estar no coração do Algarve e sob o exemplo generoso e sábio de uma das mais importantes referências da cultura portuguesa. Guilherme d’Oliveira Martins, administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian Luís Guerreiro era o «engenheiro das letras», na expressão de outro saudoso mestre, que foi Joaquim Magalhães. A partir da formação no Técnico, e sempre como probo cidadão e profissional, o presidente da Fundação Viegas Guerreiro, tornouse cedo um apaixonado pelas coisas do Algarve – não numa perspetiva superficial ou passageira, mas com uma grande preocupação de rigor, indo ao encontro dos que melhor poderiam estudar, investigar e aprofundar o conhecimento sobre uma região, cuja riqueza ultrapassa em muito as ideias fáceis que sobre ela se formam. Querença foi a base de partida da sua ação, mas foi o Algarve todo que sempre o atraiu e apaixonou. Muitas vezes nos encontrámos e sempre contei com o seu entusiasmo e a sua solidariedade. A propósito da Convenção de Faro do Conselho da Europa sobre o valor do Património Cultural na Sociedade Contemporânea posso dizer que o Engenheiro Luís Guerreiro era a demonstração clara de como esse documento fundamental, que completa as Convenções de Granada, La Valetta e Florença, sobre o património artístico e arqueológico, assinado no Algarve, constitui um desafio extraordinário para uma região com uma riqueza rara no domínio histórico – como está claramente demonstrado na Exposição sobre Loulé do Museu Nacional de Arqueologia. O turismo cultural tem aqui potencialidades que devem ser seguidas e aprofundadas – para além do sol e do mar. E as iniciativas de Luís Guerreiro e o seu exemplo são um estímulo que o futuro tornará cada vez mais significativo, com tantos mistérios históricos por desvendar (como a escrita do Sudoeste) e com tantas potencialidades na criação contemporânea. A melhor lembrança da sua memória é o prosseguimento do seu entusiasmo e da sua ação! Continuaremos! Essa a nossa gratidão! Guilherme d’Oliveira Martins, administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian
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CRONOLOGIA
FUNDAÇÃO MANUEL
2002-2009 – Promotora do Plano de Recuperação e Valorização do Património e da Paisagem Rural da Freguesia de Querença. 2003-2007 –Promotora e Gestora do Projecto de Recuperação de habitação rural de traça tradicional 2004 – I Jornadas Micológicas do Algarve, Querença 2005 – II Jornadas Micológicas do Algarve, Alte 2006 – Edição do livro Manuel Viegas Guerreiro: Fotobiografia, por Francisco Melo Ferreira 2007 – Edição do livro Manuel Gomes Guerreiro: Fotobiografia, por Fernando Santos Pessoa 2009-2016 – Museu Manuel Viegas Guerreiro 2009-2016 – Centro de Estudos Algarvios 2011 – Co-organização da “Jornada la Cadena de Valor Alimentaria da Aceituna de Mesa”, Sevilha 2011-2012 – I fase de inventariação do espólio documental do Patrono da Fundação 2011-2015 –Co-Promotora do Projecto Querença 2013-2016 – Parceira do projeto “O Arquivo do Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna (1828-2010): sua preservação e difusão”, de que é fiel depositária. Projecto FCT/ UnIversidade do Algarve. Patrocínio Fundação Calouste Gulbenkian.
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VIEGAS GUERREIRO
2015 – Exposição «O Poeta Aleixo visto por artistas Plásticos» 2015 – Exposição de Pintura Alfredo da Conceição 2016 – Parceira do projecto Entrearquivos 2016 – Exposição de Fotografia «África Minha -Trilhos Africanos» de MVG 2016 – I Festival Literário Internacional de Querença 2016 – Conversas ENTRE livros (sessões de divulgação cultural e científica) 2016 – Edição do livro Cândido Guerreiro: Fotobiografia, por Luísa Martins. 2016 - Candidatura da Festa das Chouriças em Honra de S. Luís a Património Cultural Imaterial 2017 – Organização da exposição itinerante “Entre Mil Águas – Vida Literária de Casimiro de Brito” 2017 – Candidatura da Colecção Povos Indígenas (espólio Manuel Viegas Guerreiro) ao Programa Internacional ADAI 2017 – Candidatura do Percurso EcoBotânico Manuel Gomes Guerreiro ao Programa CRESC ALGARVE 2020 2017 – Edição do livro Festival
Literário Internacional de Querença: Catálogo 2016 2017 – II Festival Literário Internacional de Querença 2017 – Edição do livro Manuel Viegas Guerreiro: Moçambique, 1957, por Luísa Martins 2017 – Candidatura da Hemeroteca Digital do Algarve ao OPP
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O LIVRO DA VIDA
O TELEFONEMA QUE FICA POR FAZER O Luís Guerreiro faria no dia 4 de setembro, 57 anos. Esse será um dia de silêncio. O Luís, o meu primo Luis, deixou-nos. Ainda zombie, não refeito da ausência definitiva, nunca mais vou poder telefonar-lhe e felicitá-lo pelo aniversário, numa rotina assumida que, todos os anos, se renovava e afirmava. Tínhamos, entre os dois, uma relação de afetiva proximidade e cumplicidade que os cerca de 7 anos de diferença de idades não apoquentavam. Muitas vezes me interrogo o que faz as pessoas sentirem-se mais próximas e ligadas a umas do que a outras. Com o Luís sempre interpretei que a nossa relação familiar fosse mais próxima da de irmão do que de primo. Tinha do Luís igual retribuição. Não tenho uma explicação para essa proximidade. Revolvendo a memória encontro, lá no fundo, um momento em que o Luís esteve em minha casa por um breve período, talvez uma semana. Éramos bastante miúdos: eu, a minha irmã, dois anos mais nova, e o Luís, que teria uns dois anos. Nesse período, o Luís esteve com a «mãe da Corte Garcia», como depois dizia, da localidade onde vivíamos. Pirralhos pequenos, em estreita
comunhão por curto período, virão daí as raízes e o cimento dessa amizade irmanada. Depois, não estando juntos, estávamos presentes. E sabíamos isso. Sempre! A presença era um momento de boa disposição. O Luís era um conversador compulsivo, que associava ao seu saber uma especial forma de dizer as coisas, de expor ideias e impressões, de contar estórias. Emprestava-lhes o seu toque que as distinguia. Relembro uma em breves palavras. Das tradições do Algarve, contava a lenda do Gil da Pena, a que ele emprestava uma expressão própria que nos envolvia, fosse pela entoação que dava à ação, pela vida de que animava as personagens, ou pela simples linguagem gestual. Nessa lenda, cuja ação decorre na Rocha da Pena, ali entre Salir e Alte, enobrece-se a coragem de um jovem de 14 anos que, tendo sido recusado para integrar as hostes do Rei Afonso III na reconquista do Algarve por ser muito menino e sem barba que cofiasse, a Ele se apresenta com um pente em ferro, que crava no queixo, como gesto e prova da sua vontade e valentia para combater. Perante esse sinal de coragem, o Rei recebeuo no seu exército, tendo exclamado: “Ah Gil,
À esq.: João Silva Miguel Inauguração da exposição “Teresa Rita Lopes, uma Paisagem de Mim” no II Festival Literário Internacional de Querença, 2017
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Gil. Quem, como tu, tivera mil!” Um dia, José Hermano Saraiva, num dos seus programas na televisão dedicado a lugares do Algarve, contou esta lenda. Ouvia com gosto, mas pela sua voz parecia ouvir a do Luís. Tempos depois, em conversa, confirmei que o Luís tinha acompanhado o autor na gravação do episódio. Pena é que o Luís não tenha passado a escrito o muito do seu saber e acervo de memória sobre o seu Algarve. Seríamos todos mais ricos. Esse vazio pode bem constituir um desafio para continuadores se aventurarem no seu enorme e rico espólio e dedicarem-se a conhecer, estudar e divulgar o Algarve, a sua cultura e a sua história. Todos ganharíamos e prestar-lhe-íamos uma homenagem que ele merece e agradeceria. Tenho para com ele uma dívida que quero saldar. Estão a decorrer as comemorações dos 50 anos do Novo Código Civil e dos 40 anos da Reforma de 1977. O Ministério da Justiça organizou uma exposição sobre os trabalhos de preparação e elaboração do Código que, com ele e o apoio da Câmara Municipal de Loulé, seria instalada no Tribunal da comarca. Uma edição do primeiro Código Civil de 1867, pertença do Luís, seria o seu contributo para exibir na exposição. Quando tudo estava preparado, a doença recidivou e fez adiar a iniciativa. É altura de a retomar. Da minha parte darei os meus melhores esforços para a concretizar e honrar essa dívida, como um tributo ao Luís, ao meu primo Luís, a quem já não poderei dar os parabéns. João Silva Miguel, Diretor Centro de Estudos Judiciários
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IN MEMORIAM Ao longo do nosso percurso de vida há pessoas que se tornam referências. Umas pela sua personalidade e forma de estar na vida, outras pelos seus feitos e conquistas, outras pelos seu saber e conhecimento. O Luís Guerreiro encontra-se entre aqueles que reúnem estas três grandes capacidades e virtudes. Não sei o que ficará na memória de cada uma das pessoas que com ele tiveram a oportunidade de conviver e trabalhar. Os testemunhos conhecidos são ainda muito recentes e tenho algumas dificuldades em adequar as palavras neste momento aquilo que gostava de transmitir, porque a emoção nos tolda uma visão mais clara e objetiva dos fatos e dos feitos do Eng.º Luís Guerreiro. Sobre a sua dimensão de pensador e de empreendedor está muita coisa escrita. Um legado que deve ser sustentado e baseado nos alicerces da afirmação cultural e científica que preconizava e praticava.
Dos vários momentos em que estivemos juntos e em que partilhámos reflexões culturais, guardo gratas memórias da sua enorme sabedoria e conhecimento sobre as gentes e história local, e regional. De uma enorme disponibilidade para partilhar o seu conhecimento e sempre com um entusiasmo contagiante, em cada história ou documento novo, que ia descobrindo e divulgando. Revelou sempre uma humildade e uma necessidade de partilha com os outros, que conquistou imensos adeptos e conselheiros no seu caminho de construção de conhecimento. Grande amigo de tertúlias era capaz de perder de vista o tempo numa boa conversa. Sentiase bem na sua missão pública e trabalhava com entusiasmo e dedicação em prol da sua comunidade e das suas gentes, incentivando a afirmação literária e cultural. Deixa-nos a todos excelentes ensinamentos, sobre o saber ser e o saber
estar na vida. Ouvia os mais jovens e acarinhava as estórias dos mais velhos. Como alguém disse: um Homem bom e um bom Homem, que recordaremos sempre com boas memórias.
Alexandra Rodrigues Gonçalves, Directora Regional da Cultura
A o amigo engenheiro e ao “apaixonado
outros inspiradores exemplos, surgissem a militante cultural” Luís Guerreiro, que tive o Fundação Manuel Viegas Guerreiro, o prazer de conhecer e com ele iniciar e Festival Literário Internacional de Querença participar nessa visionária e pioneira e o lançamento da proposta de uma futura aventura da criação em 2007, da Rede de Hemeroteca Digital do Algarve. Museus do Algarve, não podia deixar de Continuar e dignificar esta sua obra, a sua manifestar a minha maior e sincera estimulante e acérrima disponibilidade no admiração pelo empenhamento e forte percepcionar da importância e afirmação da sentido de serviço público, que sempre região, do conhecimento da sociedade manifestou em todas as iniciativas e causas algarvia, na multiplicidade civilizacional das em prol da valorização da cultura algarvia. suas raízes, na diversidade e autenticidade A sua sempre altruísta, persistente e dos seus protagonistas e autores e na generosa caminhada, na recolha e interação evolutiva dos seus cruzamentos e salvaguarda da literatura, da oralidade matrizes culturais, será sempre a melhor popular e da história do Algarve, forma de o termos mais perto de nós. acompanhada de uma incansável e Obrigado Luís! sonhadora capacidade de propor e lutar pelas mais diversas soluções, na procura das condições para sua divulgação e fruição José Gameiro, director científico Museu de Portimão públicas foram decisivas para que, entre
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Um livro chamado Luís Guerreiro Quando se perde uma pessoa com a qual se seja unha com carne, é costume ou quase instintivo chorar ainda que disfarçadamente. E quanto maior é a perda também menos se sabe como chorar. Fica-se atónito porque a perda de alguém de valor impele-nos a refletir sobre a fronteira entre o previsível e o inimaginável. A perda de Luís Guerreiro que tantos e tantos não queriam que fosse sequer previsível, à medida que o tempo passa, torna-se cada vez mais inimaginável. Porque ficou uma vida incompleta. Sabiam muitos que poderia e queria fazer muito mais, não tanto por si mas pela terra e pela sociedade que o viu nascer, crescer e para qual sonhou e trabalhou. Não deixou em livro o que sabia, mas o que sabia, até ao momento previsível, foi um livro sem fim. Livro que abria com gosto, quer nos momentos do convívio mais trivial, quer nos momentos em que a história da sua terra e as personagens que a moldaram no passado, impunham a solenidade do momento presente. Bastavam dois minutos de conversa e percebia-se que, para ele, a A Realização dos Sonhos Às vezes as palavras, tal como os afectos e os sentimentos, são como as vestimentas que guardamos num canto do guarda-fatos para um dia usarmos numa ocasião apropriada. Rejeito esta forma de abordagem emocional e dirijo-me com admiração a um homem de grande integridade intelectual que fez do sonho a sua própria realidade. A minha relação com o Luís Guerreiro não foi marcada por nenhum tipo de intimidade: por vezes chegavam até mim algumas acções culturais em que ele estava empenhado, da mesma forma que ele, com certeza, tomava conhecimento das minhas actividades literárias. Foi, portanto, através da Revista Sulscrito que cheguei até ele. Estava a coordenar o n.º 2 da revista (2008) quando decidi contactar o Luís Guerreiro, informandoo deste projecto literário e solicitando apoio. Prontamente, o Luís agendou uma reunião comigo no seu escritório em Loulé. Nessa
Os adoradores do belo Quantas conversas gostaria de ter tido com o amigo Luís Guerreiro ao fim de tarde, sobre o Algarve, a gente, a história, a cultura, a brejeirice, a gastronomia, o mar, a serra, e o sol, pois não somos só " Os adoradores do sol", mas sim "Os adoradores do belo". Deverá ser por herança familiar no Algarve que comungamos, ou alguma mística que também atraiu o infante Dom Henrique para esta terra, que nos inebria.
vida era uma aprendizagem contínua e uma transmissão de conhecimentos ininterrupta. Estou sempre a aprender, dizia, mesmo que soubesse mais do que aquele com quem falava. Era um livro da vida, porque a vida é isso no seu valor. Um dos poucos livros que em vida ele não encontrou à venda porque também jamais foi editado. Não se sabe como chorar a perda deste livro.
Temos de manter e projetar a obra do amigo Luís, sendo por certo a sua vontade. Mário Lázaro, director Medicina Interna Hospital de Faro
Carlos Albino, jornalista altura ele era Chefe de Divisão de Cultura da Câmara Municipal. Encontrei um homem de cultura, com uma atenção genuína e um entusiasmo fora do comum, curioso dos novos conceitos emergentes no âmbito da literatura e das revistas em particular; conhecedor do meio cultural do Algarve (falou-me do seu acervo de publicações sobre e do Algarve com uma verdadeira paixão). Sim, Luís Guerreiro era um apaixonado pela Cultura. E eu senti-me amigo deste homem. Não foi uma amizade com hábitos de convívio. Foi mais profunda: uma amizade de pura consideração e admiração por uma pessoa que se dava aos outros, ajudando-os a concretizar os seus projectos e os seus sonhos. A característica mais veemente na personalidade do Luís Guerreiro era «provocar o acontecimento». O Luís fazia acontecer, e os seus sonhos tornavam-se
realidade. Só espero que as acções que o Luís nos apresentou em vida não caiam no vazio e no esquecimento, e que os seus sonhos interrompidos sejam integrados na realidade de todos nós.
Fernando Esteves Pinto, escritor
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C onheci o Luís Guerreiro na Câmara de Loulé há muitos anos atrás, numa altura em que ele começava, a tempo inteiro, a abraçar as lides da história e das letras. Nessa altura, o que me fascinava era a sua prodigiosa memória e a facilidade como nos encantava com a narração de histórias locais. O convívio com o Luís acabou por ser uma aprendizagem tanto intelectual como humana. Intelectualmente, a minha admiração pelo Luís foi crescendo na medida em que era claro que ele utilizava a sua fabulosa memória ao serviço de uma história cada vez mais elaborada,
trazendo para ela a novidade e a vida, ao mesmo tempo que a tornava acessível e mesmo um prazer para quem o ouvia ou o lia. Humanamente, fui aprendendo a reconhecer no Luís o exemplo de alguém, raro, que procurava sempre manter a amizade e criar um bom ambiente à sua volta, em vez de se envolver em questiúnculas vazias que de uma forma, ou de outra, acabam por nos envenenar. Talvez esta sua maneira de estar na vida seja uma das maiores heranças que ele nos deixa. João Sabóia, arquivista Câmara Municipal de Loulé
“Luís Guerreiro é uma grande perda para a Cultura algarvia, pelo importante trabalho de investigação que desenvolveu, ao longo de anos, e que contribui para um melhor conhecimento da sua História. Era um homem da Cultura local e regional. Vítor Aleixo, Presidente da Câmara Municipal de Loulé
C onheci o Luís Guerreiro no início da década passada, tinha por ele apreço e amizade.
Partilhámos projectos culturais comuns, na Rede de Museus do Algarve onde estivemos por várias vezes na coordenação, no projecto expositivo “Algarve - Do Reino à Região ”, também nas comemorações do 1.º Centenário da República. Escreveu sobre Silvestre Falcão para o catálogo da exposição “A 1.ª República em Tavira – transformações e continuidades”, tema que dominava como poucos. O que apreciava profissionalmente no Luís Guerreiro era o seu genuíno interesse e conhecimento sólido da cultura algarvia, sobretudo nas suas dimensões histórica e literária. O seu desaparecimento prematuro representa uma perda colectiva, deixa-nos a memória de um Homem construtivo e um amigo. Jorge Queiroz, gestor cultural Câmara Municipal Tavira
Para além das qualidades humanas que todos lhe reconheciam, simpatia, tolerância, disponibilidade permanente para os outros e grande dinamismo intelectual, há um episódio que testemunha toda a sua dedicação à cultura e o seu amor e empenho pela Fundação Manuel Viegas Guerreiro. Ele soube, através de um amigo comum, o Neto Gomes, que nós, no Jornal do Algarve, tínhamos os números da revista Património e Cultura, que procurava para completar a coleção que tinha na Fundação, pois enquanto não conseguiu que eu lhos entregasse, não desistiu. E como constatou que nós tínhamos alguns livros sobre o Algarve que lhe interessavam, aproveitou para os levar também. Era assim o Luís Guerreiro, sempre pensando na sua Fundação e na cultura algarvia. Fernando Reis, director do Jornal do Algarve
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Uma memória
O buscador de livros
Homem de consensos
Acompanhou-me em caminhadas pelos montes dos Corcitos e com ele aprendi a ler aqueles lugares que para mim eram confusos. Ensinou-me com descrição e generosidade, sem presumir que sabia tudo o que para mim era ainda intrigante. Fê-lo atento ao que eu pudesse trazer de novo ao muito que ele tão profundamente conhecia. Luís Guerreiro tinha uma espécie de ética da escuta que fazia dele não só o investigador curioso e ponderado, mas uma pessoa de encontros, um construtor de diálogo e o mais amável e paciente promotor de soluções construtivas quando tudo nos problemas parecia empatado e tenso. Há uma dúzia de anos estivemos ambos envolvidos numa projectada reestruturação dos polos museológicos do Museu Municipal de Loulé. Tanto aí como em muitos outros projectos a sua ponderação e profunda dedicação ao conhecimento e à cultura na sua terra chamaram ao encontro e à colaboração vozes dispersas e por vezes desentendidas. Ficará na minha memória não só como o ponderado e persistente construtor de projectos, o sábio conhecedor da sua terra e o generoso promotor de cultura cidadã, mas também como o sincero Homem de Boa Vontade, um exemplo vital no mundo de hoje.
Esta casa foi uma fonte de busca onde ele muitas vezes vinha à procura de livro de fulano de tal e eu dizia ou tenho ou neste momento não há… Foi dos meus primeiros frequentadores. Há pelo menos 20 anos que vinha visitar-me na Rua do Alportel ou na rua por detrás do teatro Lethes. Ele e o Sr. Emanuel Sancho de S. Brás de Alportel. O Sr. Luís Guerreiro queria engrandecer os arquivos de Loulé. Era um indivíduo que sabia, que estava dentro da bibliografIa. Foi um bom buscador de livros.
Em meu nome e em nome da Direção da Associação In Loco, expressamos os nossos mais sentidos pêsames pela partida prematura do Engº Luis Guerreiro, pessoa de cultura que muito contribuiu para o progresso da região. Para além da ligação pessoal que nos ligava, o Engº Luis Guerreiro teve durante toda a sua vida uma personalidade muito positiva, contribuindo para o estabelecimento de consensos e para o fortalecimento de parcerias de cooperação, elementos fundamentais para a afirmação do Algarve e dos seus valores culturais. Foi uma grande perda a que se verificou com o seu desaparecimento material, mas fica a sua obra e o seu exemplo, que nos cabe a nós perpetuar.
Carlos Simões, alfarrabista
Artur Gregório, presidente da Associação In Loco
Cultor do intelecto
O Eng.º Luis Guerreiro era das pessoas com mais amplo campo de conhecimentos com que eu convivi na minha vida. A sua sabedoria foi fruto de uma existência dedicada a cultivar o espírito, ele que sendo engenheiro e portanto com formação académica nas técnicas e ciências, era um cultor da intelectualidade. Possuidor de uma cultura invulgar, pelo muito que ele deu, naquela que podemos considerar uma curta vida, podemos imaginar o que ainda nos poderia dar se a vida lhe não tivesse sido ceifada tão cedo. Uma enorme perda para a Fundação MVG, para Loulé, para o Algarve e para o País. Com saudades, Fernando Santos Pessoa, arquitecto paisagista
Pedro Prista, membro do Conselho Consultivo da FMVG
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“Bom dia minha senhora. Muito gosto, muito gosto!” Sim, conheci o engenheiro Luís Guerreiro em Maio de 2005. Então, eu desenvolvia pesquisas para escrever um livro sobre Duarte Pacheco e cheguei a alguns artigos que ele tinha publicado. Telefonei-lhe. (De Lisboa, para a Câmara Municipal de Loulé – telefones fixos) “Vai escrever uma biografia do Duarte Pacheco?!...” “Não! Uma ficção, um romance... Mas ficção não é mentira! Ando à procura da verdade...” “Ah!... Então, porque não vem até aqui abaixo, para conversarmos?” Fui. “Vem falar com o engenheiro Guerreiro?... Ele está à sua espera.” Abriu-se uma porta. “Bom dia, minha senhora. Muito gosto. Muito gosto!...” E assim nos conhecemos. Foi extremamente generoso comigo. Entregou-me documentação. Contou-me o que sabia de um homem que a ambos entusiasmava. O avô alfaiate, o pai, a mãe, o irmão Humberto. As obras da rua da Corredoura, o Técnico… “E agora, vamos almoçar!”
Que boa estava a conserva de cenouras! “Gostava de continuar a conversar consigo... Mas tenho de ir a Quarteira, esta tarde!” Voltei para o hotel – Garden Hotel – e escrevi os primeiros parágrafos de A Cova do Lagarto. “Naquele dia, véspera de São João, visitou as obras do mercado. - Não está mal, não senhor... E fica pronto quando? Seguiu.” O livro teve o acolhimento e o êxito que agora podemos avaliar. O engenheiro Guerreiro levou-me a apresentálo lá, na casa onde nasceu Duarte Pacheco. Auditório cheio. Lídia Jorge, Presidente da Câmara! As palmas. Os autógrafos. E depois foi-me telefonando, felicitando, sempre que sabia de algum dos sucessos que nos atribuíram. Muito obrigada, caro Luís Guerreiro!
Filomena Marona Beja, escritora
Da esq. para a dir.: Sérgio Luís de Carvalho, Filomena Marona Beja, Reinaldo Barros e Adão Contreiras, no II Festival Literário Internacional de Querença
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HOMEM DE HISTÓRIA(S) Uma perda inaceitável: Luís Guerreiro, um activista da vida. A missão de condensar o meu pensamento acerca de um Homem da gesta de Luís Guerreiro é verdadeiramente difícil. Dada a diversidade e qualidade das personalidades que, sobre ele, darão o seu precioso contributo, em áreas diversas, vou restringir-me aos aspectos que espelham a minha visão e relação com Luís Guerreiro, que se entreteceu em sincera admiração e amizade. Conheci Luís Guerreiro no curso das minhas investigações sobre o Algarve. Recordo que nesse dia conheci outro gigante da cultura algarvia: António Rosa Mendes.
M orreu Luís Guerreiro. Um Homem Bom,
grande e leal Amigo, para quem a Fraternidade era muito mais do que uma palavra! Já doente, não quis deixar de vir a Portalegre, no dia 22 de Abril, para um convívio fraterno. Permanece vivo e bem vivo nos nossos corações! O Público de 2 de Julho chamava-lhe “Engenheiro de Letras”. Solicitaram-me então um pequeno texto que aqui deixo na integra. Só o tempo verbal, infelizmente, está desactualizado. Luís Guerreiro: Um Homem de Cultura e um Amigo Certo Loulé e o Algarve têm em Luís Guerreiro um estudioso e um estremecido defensor. Conheci Luís Guerreiro em Julho de 2007, por ocasião do Curso Livre de História Contemporânea, “O Algarve no contexto da II Guerra Mundial”, realizado em Loulé, onde proferi a conferência “Os Anos 40 à luz dos memorialistas algarvios”. O contacto fora estalecido através da minha estimada colega Maria João Duarte. De imediato me chamou a atenção o facto de Luís Guerreiro
A mais valia que Luís Guerreiro trouxe à investigação histórica do Algarve é indizível. Além da riqueza inesgotável dos seus depoimentos e conhecimento sobre esta província, era com generosidade invulgar que disponibilizava fontes de grande valor informativo e, muitas vezes, únicas e inéditas. Muitos documentos, fotografias e contactos não me teriam chegado de outra forma. Sou-lhe eternamente devedora e grata. Não se intimidou com as temáticas que eu estudava. Para ele, a construção da memória era essencial à felicidade das gentes e, nesse âmbito, nunca alimentou pruridos políticoideológicos.
Deste modo, as diversas colaborações de Luís Guerreiro ajudaram-me a transformar a nossa infeliz memória colectiva dos tempos ditatoriais em memória justa e pacificada. Luís Guerreiro cumpriu e ajudou a cumprir a História. Contrariou o hábito e prática dos portugueses que fizeram de Portugal o país da “não inscrição”, do país que não preserva a memória e onde nada se passa. Há que promover a divulgação do seu legado junto das novas gerações. O conhecimento de figuras de irrepreensível porte moral e ético, como Luís Guerreiro, cada vez mais raras na esfera pública e política, vai para além da História e faz cumprir a Democracia. Maria João Raminhos Duarte, historiadora
ser um entusiasta pela História de Loulé em particular e do Algarve em geral, embora não tivesse uma formação naquela área, carência que soube compensar pelas leituras, pelo estudo e pelo amor à sua pequena pátria. O engenheiro Luís Guerreiro é um amador da História, no sentido etimológico da palavra. Uso-a muitas vezes no seu verdeiro sentido: amador é aquele que ama; e ele ama profundamente a sua região e tem manifestado esse amor por uma dedicação sem limites, pela recolha e inventariação de documentos e outras fontes em especial da época contemporânea – mas não só – e produzido diversos estudos que são modelares a todos os níveis. Olhou sempre com especial interesse para a I República – época que também tenho estudado - e, por isso, tivemos diversos contactos mesmo antes das comemorações do centenário da proclamação da República. A seu convite, lá fui de novo até terras algarvias, a 15 de Outubro de 2008, para outra conferência, em Loulé, na alcaidaria do castelo sobre
“A Maçonaria em Loulé”. Comecei nessa época um estudo sobre a Maçonaria no Algarve, cuja conclusão tem sido sucessivamente adiada por outras tarefas que tem surgido, e Luís Guerreiro, que tem sempre insistido para que o termine e publique, forneceu-me informações preciosas tanto biográficas como iconográficas. Recordo a alegria e a surpresa que manifestou ao ter encontrado e salvo um conjunto de documentos sobre o Partido Republicano Evolucionista em Loulé…Voltei por diversas vezes àquela cidade para participar em diversas iniciativas de índole cultural. Uma delas sobre a figura do almirante Mendes Cabeçadas, com uma belíssima exposição e a publicação do volume colectivo José Mendes Cabeçadas Júnior e a Primeira República no Algarve, que ele coordenou e no qual colaborei. Encontrámo-nos em variadíssimas ocasiões, sempre no quadro de interesses e ideais comuns, vários, e com os quais nos identificámos. António Ventura, director do Centro de História da Universidade de Lisboa.
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LUÍS GUERREIRO FAZ-NOS FALTA
Q uem havia de dizer, quando, ainda há tão
pouco tempo, nos encontrámos em Querença, Faz-nos falta pelo trabalho que realizou no sentido da desmistificação da história local e regional, que hoje lhe estaria a escrever para tão longe! fazendo com que louletanos, algarvios e todos os Pessoa disse, quando Mário de Sá-Carneiro que se interessam pela região pudessem partilhar morreu, “morre jovem o que os deuses amam”. É, memórias e saberes, valorizando a Identidade e o aparentemente, uma injustiça porque imagino que Património do Algarve. o amor dos deuses vai para os que consagram a Faz-nos falta porque a vitalidade que hoje se vive sua vida a tornar a dos outros melhor, mais plena, no âmbito da pesquisa da história e do património da região, alargada a todos os públicos e não mais cumprida. Assim a sua foi. Por isso deviam ter circunscrita à academia, se deve, em grande parte, -lhe dado mais tempo para continuar a realizar os ao seu trabalho de divulgação a um público seus sonhos. Talvez tivessem achado tanto o que alargado, nos mais diversos locais para onde era solicitado. Faz-nos falta para já fez que resolveram chamá-lo para o seu boas conversas sobre história local, para um café, para uma risada, para a convívio! Foi, de facto, tanto e tão valioso, mas definição de um projeto historiográfico ou para a montagem de uma exposição confesso que não lhes perdoo que tivessem temática. E faz-nos falta pelo exemplo que deu na maior das lutas: a luta pela interrompido o que estava a fazer com tanto amor, Vida. Se venceu ou se perdeu? Venceu, pela memória e pelo legado que deixou. Luísa Martins, historiadora muito particularmente na Fundação que acarinhou GENEROSIDADE INTELECTUAL como a um filho. Resta-nos a consolação de sentir Não me recordo já quando conheci o Luís Guerreiro, mas sei que, ao longo dos pulsar a sua inspiração em tudo o que ela venha a anos, muitas vezes recorri a ele, sempre que precisava de saber alguma coisa realizar – essa talvez a melhor maneira de manter sobre a história contemporânea do Algarve. Ele estava sempre disponível para viva a sua presença. partilhar o muito que sabia e, se por acaso não soubesse, depressa se Teresa Rita Lopes, escritora prontificava a descobrir mais sobre o assunto ou a encontrar quem pudesse ajudar. Recordo-me que, por vezes, lhe telefonava para confirmar um pormenor e competência e a amizade com que Luís acabávamos por conversar durante longo tempo, sobre aquilo que eu pretendia Guerreiro dirigia a Fundação e organizava em saber e muito mais. O mais curioso é que, a maior parte das vezes, me dizia: «não particular o FLIQ não encontrarão par. Ficará para precisa de me citar, deixe lá isso!» sempre a lembrança do justo tom deste Luís Guerreiro era, portanto, uma pessoa de uma generosidade intelectual como humanista. há poucas neste mundo. Era também um excelente comunicador. É que, sabendo tanto sobre tanta coisa, sendo um verdadeiro erudito à moda antiga, era também Catherine Dumas, professora universitária uma pessoa que sabia partilhar, como poucas, a sua sabedoria. E fazia-o com imenso prazer, com entusiasmo, que contaminava quem o ouvia. Recordo, em especial, uma visita ao Cemitério de Loulé, promovida, salvo erro, aquando das Jornadas Europeias do Património, e da qual Luís Guerreiro era o guia. Passear num cemitério pode não parecer a coisa mais interessante do mundo, mas a verdade é que esta visita, que durou bem mais que a hora e meia programada, foi das mais divertidas que já fiz até hoje. Luís Guerreiro falou da história de Loulé, do Algarve e de Portugal, das histórias das famílias que lá estão sepultadas e de alguns dos seus membros, importantes a nível local, Teresa Rita Lopes e Catherine Dumas com Luís Guerreiro, no II FLIQ, 2017 regional ou mesmo nacional. Falou-se ainda da própria história dos cemitérios, da sua organização espacial, que, explicou, retrata (cont.)
A
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IN MEMORIAM DE LUÍS GUERREIRO (cont. pág. ant.) em grande parte a organização da sociedade. E falou-se da simbologia presente nas campas e jazigos, bem como das mensagens mais ou menos escondidas nessa simbologia, por exemplo ligadas à Maçonaria. E, mesmo estando num cemitério, houve ocasião para o humor, por exemplo quando passámos junto ao jazigo de uma família, das mais antigas de Loulé, cujo apelido é “Penis”... Se recordo tudo isto é porque acho que esta visita guiada pelo Luís Guerreiro ao Cemitério de Loulé, onde ele próprio repousa agora, dá bem a dimensão da sua personalidade – um homem erudito, profundamente apaixonado pela história do seu concelho e da sua região, a partilhar com prazer o muito que sabia, pontuando tudo com uma ponta de humor e de boa disposição.
Não jogámos ao berlinde e à baneca
Por esta razão – e por muitas, muitas mais! - o Luís Guerreiro fará falta ao nosso Algarve!
Nos registos sonoros
Elisabete Rodrigues, jornalista, diretora do Sul Informação
Nem as aventuras do tempo de crescer. Conheci-te já maduro, sonhador Na utopia de um país diferente Com Nóvoa em Presidente. Descobri essa tua lonjura Esse jeito singular de ser De estar e partilhar saber Nesta luta sempre inacabada De fazer emergir um tempo novo Inventando futuro todos os dias. Nesta precoce e dolorosa partida Mágoa, vazio e inquietação… Partiste tão cedo meu amigo… Nesse lugar incerto e improvável Que povoa pensamentos fecundos De crentes no celestial destino, Vejo-te no etéreo jardim sensorial Desfiando livros e memórias Nessa incessante procura Para descobrir e semear cultura E construir identidades… Dessa tua dolorosa despedida Entre cânticos de cigarras E estridentes aleluias A multidão comovida Lamentava, desabafava “Já levaram o nosso Luís” “Um homem cinco estrelas” “Nunca ouvimos dizer mal dele”
Lamento a despedida de um grande defensor dos valores do nosso mundo rural e da cultura como expressão do autêntico que existe no nosso Algarve. Até sempre caro amigo.
“Tinha uma memória fantástica”
Francisco Serra, presidente CCDR-Algarve
Poema publicado no Facebook, assinado com as iniciais JA
“Um homem excecional” “Que iremos reencontrar na casa do Pai” Adeus Luís…até sempre… Um abraço terreno
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Café Calcinha, Loulé
UM HOMEM SINGULAR Vejo-o pelo retrovisor da esperança atrás de mim para me ajudar. A vida é construída na debilidade de alicerces pasmados e sem alma, que nos obrigam sempre, a que nos possamos debater contra nós próprios para nos reerguermos em cada momento, mesmo em desequilíbrio, para não nos soltarmos dos carris que nos levam, por aí, a cada novo caminho. Por isso, pelo esforço de todos os teus instantes, não se percebe bem, que do centro da vida se tivesse escapado dos carris, um dos nossos melhores, Luís Guerreiro, um homem único e singular. É pois com a alma profundamente revoltada, com angústias ainda sem nome, que assisto ao desaparecimento de uma das mais belas e fascinantes figuras da nossa história. Da minha história de vida. Existem amigos de infância que sabem tudo. Sabiam tudo sobre o Luís. Outros que na Faculdade arriscavam espreitar para as suas sebentas, sem nunca perceberem que não estava ali um futuro engenheiro, antes uma das mais vincadas personalidades da nossa cultura, do nosso património humano, fazedor de amizades, ganhador de todos os respeitos, embora também tivesse lutado, contra os que na ambição, não o compreenderam. Acompanhei os seus últimos momentos, ora em visitas que me debilitavam, ora escutando o soprar angustiado do amigo Idálio, ou de sua mulher. Devo-lhe uma fatia enorme do nada que hoje sou, e fiz essa afirmação várias vezes. E de tal forma nos ligámos. E de tal forma ele esteve sempre presente nas minhas coisas, como conselheiro, orientador, não na sua valorização, mas na minha, que mesmo agora, quando caminho, olho pelo retrovisor da esperança, e vejo que ainda segue os meus passos, como quem me procura ajudar. Perdi um enorme e solidário amigo, tudo farei, para lhe dedicar o livro sobre a vida da Santa Casa da Misericórdia de Loulé, mesmo assim, o meu saldo será sempre negativo. Espero que Loulé e o Algarve, nunca se esqueçam do “Engenheiro das letras”, como lhe chamou Idálio Revez, num memorável trabalho editado no jornal Público, a 2 de Julho deste ano. Neto Gomes, jornalista GRANDE DUPLA Sinto-me perdida… UM VAZIO… o meu LUÍS GUERREIRO… parte da minha vida, da história da minha vida. Meu CHEFE, meu AMIGO, dizia-me muitas vezes “NÃO TENHO INIMIGOS, SÓ TENHO AMIGOS. FALO COM TODA A GENTE E TODA A GENTE FALA COMIGO”. Sim, porque estamos mais tempo no trabalho do que com a nossa própria família. Alguns dos nossos AMIGOS são a nossa família. Posso dizer que os meus filhos nasceram e cresceram com o Luís. A minha filha partilhou muitas vezes com o Luís o seu gabinete para estudar e tiveram conversas. O meu filho nasceu e foi recebido com muito amor e carinho por todos nos serviços chefiados pelo Luís Guerreiro. Também tivemos as nossas chatices, faz parte da vida. Mas passava rápido, logo me chamava e contava uma piada, uma história ou mostrava uma fotografia nossa de algum momento especial. O Luís Guerreiro é ÚNICO, É ESPECIAL. Sempre bem disposto, sempre disponível, era só ligar. GRANDE DUPLA. Sem sabermos um do outro viemos para o mesmo serviço. Foram muitos anos e cria-se uma grande cumplicidade, confiança, amizade, carinho. Por vezes não precisávamos falar, o olhar dizia. O LUÍS GUERREIRO que eu dizia sempre HOMEM que “de uma palavra faz uma história”. Ana Marçal, Câmara Municipal de Loulé
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Luís, Engenheiro do SABER Cidadão Probo, Sábio e Universal Como amigo pessoal do Luís e seu companheiro de inúmeras jornadas, diria que o Algarve e o Mundo, mediante o infortúnio que se abateu (desaparecimento físico do Engenheiro), perderam também um dos seus melhores filhos, mais Ilustres.
Ninguém que seja importante se perde verdadeiramente. Tu eras importante. A tua qualidade humana. Eras uma boa pessoa no total alcance da palavra bom e juntavas a isto os teus vastos, únicos e preciosos conhecimentos. E fazias com que a tua arte de os contar tivesse imagens como um filme. Era uma alquimia. Viam-se os actos e os actores.
«Meu Caro Luís, como certamente, te lembrarás, era sempre ao Meio-Dia que todos os dias, nos últimos ou derradeiros quatro anos, lá do fundo (do degredo), me davas de vaia … Pois bem, neste preciso momento é Meio-Dia em ponto, e, esta será perenemente a Hora Imortal!»
À luz do teu poente e nesta hora única sabes que nada nos deves. Nós sim é que te devemos o que fizeste, disseste e ensinaste. Na grande e inevitável caída que nos espera a todos, chegou o dia da última viagem. Viagem de que estarás sempre regressando.
Obrigado Mestre, por tudo! Eternas Saudações e Bem-Haja.
O Luís andará pelos nossos passos e só morre quando nós morrermos.
João Martins, vereador da CML
“NÃO TENHO INIMIGOS, SÓ TENHO AMIGOS. FALO COM TODA A GENTE
Lembrando Aleixo: Como a morte é um segredo, quem sabe lá se, por sorte, os mortos têm mais medo da vida, que nós da morte? Humberto Nunes, agricultor apaixonado pelas questões da cultura
E TODA A GENTE FALA COMIGO”, Luís Guerreiro
FACEBOOK: Filipa Soares Humildade, simpatia e de fácil empatia é como descrevo o Engº. Luís Guerreiro, com quem tive a sorte de conhecer e trabalhar aquando das comemorações do centenário do Instituto Superior Técnico, onde estudou, no âmbito da exposição de homenagem a outro grande louletano, o Engº. Duarte Pacheco. José Sousa Martins Perde-se um grande do conhecimento e da cultura , irrecuperável a médio ou longo prazo. Recordo com saudade a figura pelo infinito conhecimento e fino trato. Era um aristocrata da difusão do saber. Recordo com saudade os muitos momentos que tive a oportunidade de compartilhar com ele. A família e aos amigos os meus mais sentidos pêsames. Que descanse em paz. Carlos Aquinos Como a vida é cheia de surpresas... descansa em paz, Luís... :( Antonio Catarino Querença, Loulé e o Algarve perderam um estudioso da sua história, um defensor da sua terra, que tive o privilégio,de conhecer, por indicação do Hélder Martins, num programa da TSF -- Os presidentes, com Fernando Alves e Pedro Pinheiro -- transmitido em direto da terra que ele tanto amava. Que descanse em paz! Fernando Cardoso De Sousa O Luís foi um dos meus elos principais na ligação a Loulé e tudo o que conheço dele são iniciativas em favor da região de que tanto gostava. Até a fundação do Gabinete Académico de Investigação e Marketing - GAIM - se deve muito a ele, quando foi necessário iniciar o levantamento toponímico da cidade. Muitos jovens beneficiaram então com o emprego gerado e muito disso se fica a dever ao Luís. Espero, sinceramente, que o Município encontre forma de perpetuar a sua memória. Que descanse em paz. www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
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ALGUMAS PUBLICAÇÕES
P. 30 Obituário, CLEPUL em Revista, Centro de Literaturas de Expressão Portuguesa da Universidade de Lisboa/CLEPUL, 15 de Agosto de 2017 P. 32 Entrevista ao jornal A Voz de Loulé, 21 de Outubro de 2016 P. 34 Artigo, Idálio Revez, Público, 2 de Julho de 2017 P. 42 Artigo, Luís Guerreiro, Promontoria Monográfica: História do Algarve 03, 2016
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FICHA TÉCNICA Edição: Textos: Os testemunhos que celebram a memória de Luís Guerreiro são da responsabilidade dos seus autores e respeitam o acordo ortográfico adoptado por cada autor. Fotografia: As fotografias da edição n.º 5 da Newsletter FMVG registam várias fontes. Incluem-se entre os seus autores fotógrafos profissionais como José Encarnação (Mira), Telma Veríssimo, Vasco Célio, bem como outros a trabalhar na imprensa regional e muitos amigos, colegas e familiares de Luís Guerreiro. A todos, o nosso agradecimento. Coordenação, recolha de conteúdos e paginação: Marinela Malveiro Revisão: Patrícia de Jesus Palma
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