A propรณsito do
Dia Mundial do Livro 2017 Manuel Montenegro
O livro é uma das muitas correias de transmissão do saber em Arquitetura, facto bem autopsiado n’ Uma Anatomia do
tecas pessoais e profissionais dos Arquitetos que aqui depositaram os seus arquivos. De entre estes, destaca-se para além
Felizmente os tempos são outros e há hoje espaços onde essa transmissão é feita de forma bem evidente. Basta visitar a biblioteca da Faculdade de Arquitetura na proximidade de datas de exames e entregas ou percorrer os olhos pelo estado das lombadas das revistas ou da coleção de livros sobre Álvaro Siza ou Fernando Távora para compreender como um livro pode servir como instrumento de educação de massas. Espaços menos evidentes albergam acesso a outros tesouros do mesmo tipo. A Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva (FIMS), também parte da Universidade do Porto, alberga um repositório substancial de livros, provenientes das biblio-
Para melhor compreender Rogério de Azevedo, figura tão heterodoxa quanto fundamental da Arquitetura Portuguesa pelo trabalho que desenvolveu enquanto docente de Arquitetura, enquanto pioneiro da Arquitetura Moderna (e do seu contrário) no Porto (Garagem e Edifício Sede do Comércio do Porto) e enquanto responsável pelo restauro de alguns dos mais importantes Monumentos Nacionais (Paço dos Duques de Bragança, …), sugere-se a leitura da recente Dissertação de Doutoramento da Arquiteta Ana Alves Costa, Projecto e Circunstância. A coerência na diversidade da obra de Rogério de Azevedo, por enquanto apenas disponível na Biblioteca da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, enquanto não passa também ela a livro.
Livro de Arquitectura, recentemente publicado por André Tavares. Em circunstâncias em que a circulação de livros (e de ideias) não é livre, é com frequência através das bibliotecas privadas, e pela generosa partilha destes objetos pessoais, que a transmissão do conhecimento e o alargamento de horizontes que este acarreta podem acontecer. Foi este o caso durante quase metade do Século passado em Portugal, em que as bibliotecas pessoais dos mestres da secção de Arquitetura da Escola Superior de Belas Artes do Porto substituíram este fundamental instrumento de aprendizagem. Álvaro Siza deixou nota disso mesmo, em 1993, a respeito de Fernando Távora, aquando da sua Jubilação da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto - “Tive o privilégio de viver a renovação da Escola. Partilhei com outros estudantes o impulso e a informação que ele e os mais convidados - Carlos Loureiro, Octávio Filgueiras, mais tarde Agostinho Ricca e Mário Bonito - descobriam dentro e fora do país, por igual e sem preconceitos.”
da biblioteca do fundador, a que foi cuidadosamente construída por Fernando Távora. Alguns milhares de livros, muitos raros, cuidadosamente anotados com data e local de compra, de modo a compreender as redes de influências que as leituras permitiam construir. Escolhemos doze, que partilham uma origem comum - foram resgatados por Fernando Távora a 16 de Março de 1984, quando a biblioteca particular de Rogério de Azevedo foi a leilão através do Alfarrabista Manuel Ferreira. O conjunto, diverso, agrega cronologicamente, desde uma edição de 1771 do Tratado de Vignola até uma cópia do catálogo da Moderna Arquitetura Alemã, de 1941, da responsabilidade de Albert Speer, Inspetor Geral do Urbanismo de Berlim, editada em Português e Alemão aquando da exposição realizada em Lisboa, em Novembro do mesmo ano. Entre a regra clássica e o dogma neoclássico, outras surpresas constam desta dúzia, como se poderá ver nas imagens que se seguem ou, preferencialmente, com uma deslocação à Fundação, na praça do Marquês de Pombal, no Porto.