Paços do Concelho: Porto 1916-(1920)

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Paรงos do Concelho Porto 1916-(1920)

DOMINGOS TAVARES




O arquiteto António Correia da Silva autor do edifício dos Paços do Concelho, foi o criador de algumas arquiteturas emblemáticas da cidade do Porto, cuja ação profissional nunca terá sido devidamente valorizada. Colocado no remate superior da Avenida das Nações Aliadas, é o referencial do novo centro cívico criado no início do século XX. Factor dinamizador da vida cívica e imagem urbana da expansão norte promovida pela burguesia liberal da primeira República. O discurso crítico de quem avalia, sempre revelou alguma desconfiança sobre os pressupostos programáticos daquela arquitetura, esquecendo a coerência conceptual que lhe esteve na origem. Enquanto outros trabalhos do mesmo arquiteto, como o Matadouro de São Roque da Lameira ou a garagem dos Bombeiros Municipais da Foz do Douro, são simplesmente esquecidos. Não era a utopia social que motivava os ilustres representantes do povo portuense em época de consolidação do crescimento físico da cidade, quer em população, quer em estabilização da rede económica gerada pela dinâmica industrial do final de oitocentos. Era, sim, a afirmação do prestígio das novas instituições republicanas, desejosas de consolidação dos ganhos possíveis em menos de cinco anos de ação revolucionária.



O projeto foi realizado na sequência de um concurso público que teve

Prevalecia o ideário teórico das Beaux-Arts, requerendo altura, afirma-

lugar em 1916 que, sendo premiado, não teve realização imediata por

ção presencial própria de um monumento oficial e densidade de imagem

força da Grande Guerra que eclodiu na Europa e do Sidonismo que sus-

capaz de absorver a dimensão simbólica do lugar público projectado.

pendeu a acção da Câmara republicana então eleita. O processo foi re-

Recorria à força particular da decoração, em especial na secção central

tomado em 1919, por iniciativa do vereador das obras, Manuel Caetano

da fachada sul, com claro sentido de espetáculo. Para isso utilizava um

de Oliveira.

reportório de elementos ornamentais na definição das linhas básicas

Uma maqueta do projecto depois de revisto esteve exposta numa das vitrinas da Camisaria Oliveira, no Passeio das Cardosas, onde as pessoas interessadas podiam deixar o seu voto de aceitação ou discordância. Aprovado pela população da cidade, foi depois discutido e votado por unanimidade na reunião do Senado Municipal em Abril de 1920. Iniciados os trabalhos com a drenagem dos terrenos e preparação das fundações, a obra começou a romper somente em 1924.

estruturantes da forma, sublinhando pontos sensíveis das articulações volumétricas. O resultado expressa alguma tendência para um historicismo de natureza eclética, com recurso a um reportório onde estão presentes os motivos clássicos, mas também florais ou puramente de geometria abstrata. Variante do neobarroco que Correia da Silva explorara nas soluções para o Mercado do Bolhão, compõe a parede de fundo da avenida como visibilidade de referência para todo o burgo através do levantamento da torre, símbolo do poder municipal. A oposição radical ao perfil da igreja da Trindade como marca urbana na nova dimensão do centro cívico fica bem expressa na intenção de fazer subir o remate da torre municipal aos setenta e seis metros, competindo diretamente com a mais distante torre dos Clérigos.



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