PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON 27

Page 1

PUBL I C A Ç Õ E S D A F U N D A ÇÃO R O B INSO N

ISSN 1646-7116

27

Rede de Património de Portalegre: edificado, móvel e imaterial O projecto do Museu Municipal de Portalegre Portalegre Heritage Network: buildings, moveables and intangibles The project of the Municipal Museum of Portalegre


P U B L I CAÇÕ E S D A F U N D AÇÃO R O B I N S O N

27

Rede de Património de Portalegre: edificado, móvel e imaterial O projecto do Museu Municipal de Portalegre Portalegre Heritage Network: buildings, moveables and intangibles The project of the Municipal Museum of Portalegre

p.01_80.indd 1

14/06/06 20:33


PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON N.º 27 ROBINSON FOUNDATION PUBLICATIONS No. 27 Rede de Património de Portalegre: edificado, móvel e imaterial O projecto do Museu Municipal de Portalegre Portalegre Heritage Network: buildings, moveables and intangibles The project of the Municipal Museum of Portalegre Portalegre, Abril de 2013 Portalegre, April 2013

Fundação Robinson Robinson Foundation CONSELHO DE CURADORES COUNCIL OF CURATORS

Adelaide Teixeira (Presidente) (Chair), Ana Manteiga, Antero Teixeira, Joaquim Mourato, António Ceia da Silva, Rui Cardoso Martins, Sérgio Umbelino CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRATIVE COUNCIL

Nuno Miguel Carrilho Santana (Presidente) (Chair), Nuno Gonçalo Franco Lacão, Rui Manuel Carrilho Crisanto CONSELHO FISCAL FISCAL COUNCIL

António de Azevedo Coutinho (Presidente) (Chair), José Neves Raimundo, António Escarameia Mariquito ADMINISTRADORA DELEGADA ASSISTANT ADMINISTRATOR

Alexandra Carrilho Barata Publicações da Fundação Robinson Robinson Foundation Publications CONSELHO CONSULTIVO EDITORIAL BOARD

Amélia Polónia, António Camões Gouveia, António Filipe Pimentel, António Ventura, Carlos Serra, João Carlos Brigola, Luísa Tavares Moreira, Maria João Mogarro, Mário Freire, Rui Cardoso Martins DIRECTOR EDITOR

António Camões Gouveia ADMINISTRAÇÃO DAS PUBLICAÇÕES PUBLICATIONS ADMINISTRATOR

Alexandra Carrilho Barata

A correspondência relativa a colaboração, permuta e oferta de publicações deverá ser dirigida a All correspondence to be addressed to Fundação Robinson Robinson Foundation Apartado 137 7300­‑901 Portalegre Tel. 245 307 463 fund.rob@cm­‑portalegre.pt www.fundacaorobinson.pt DESIGN DESIGN

TVM designers COORDENAÇÃO COORDINATED BY

António Camões Gouveia COORDENAÇÃO EDITORIAL EDITORIAL COORDINATION

Há Cultura Lda. CRÉDITOS [FOTOGRAFIAS E DOCUMENTOS] CREDITS [PHOTOGRAPHS AND DOCUMENTS]

FG+SG Teresa Nunes da Ponte, arquitectura Museu Municipal de Portalegre TRADUÇÃO TRANSLATED BY

David Hardisty (inglês) (english), Pedro Santa María de Abreu (espanhol) (spanish) REVISÃO EDITING

Célia Gonçalves Tavares, António Camões Gouveia, Luís Nogueiro IMPRESSÃO PRINTED BY

Gráfica Maiadouro dep. legal 377 097/14 issn 1646­‑7116

Na capa, fotografia de Cover photograph from FG+SG

SECRETARIADO DE EDIÇÃO PUBLICATION SECRETARY

Laura Portugal Romão

p.01_80.indd 2

14/06/06 21:11


4

O Museu Municipal de Portalegre

The Municipal Museum of Portalegre El Museo Municipal de Portalegre Presidente do Conselho de Curadores | Chair of the Council of Curators

1. O EDIFÍCIO DO MUSEU MUNICIPAL DE PORTALEGRE

THE MUNICIPAL MUSEUM OF PORTALEGRE BUILDING EL EDIFICIO DEL MUSEO MUNICIPAL DE PORTALEGRE

8 De Seminário quinhentista a Museu Municipal From sixteenth century seminary to municipal museum

De seminario quinientista a Museo Municipal Teresa Nunes da Ponte

12

O traçado do edificado e a sua utilização actual

The design of the building and its current use La traza de la edificación y su uso actual Teresa Nunes da Ponte

24

Os andamentos e as realidades de uma construção

The movements and the realities of a construction Los ritmos y las realidades de una construcción Teresa Nunes da Ponte

2. O MUSEU MUNICIPAL

THE MUNICIPAL MUSEUM EL MUSEO MUNICIPAL

34

Apontamentos da história das colecções e do Museu Municipal

40

O perdurar das colecções: aspectos da conservação

46

A heritage space and many collections Un espacio-patrimonio y muchas colecciones Teresa Nunes da Ponte

Ficha técnica da obra e da exposição

76

General guidelines for a municipal museum exhibition in Portalegre Líneas generales para una exposición en el Museo Municipal de Portalegre António Camões Gouveia

Um espaço-património e muitas colecções

74

Maintaining the collections: preparations for the exhibition La perdurabilidad de las colecciones: preparación para la exposición Laura Portugal Romão

Linhas gerais para uma exposição de um Museu Municipal em Portalegre

62

Maintaining the collections: inventorying and study La perdurabilidad de las colecciones: inventario y estudio Sónia Alves

O perdurar das colecções: preparação para a exposição

54

Maintaining the collections: aspects of conservation La perdurabilidad de las colecciones: aspectos de la conservación Luís Efrem Elias Casanovas

O perdurar das colecções: inventariação e estudo

50

Notes towards the history of the collections and the municipal museum Notas sobre la historia de las colecciones y del Museo Municipal Patrícia Monteiro

Technical credits for the works and the exhibition Ficha técnica de la obra y de la exposición

Síntese: resumos e palavras­‑chave

Abstracts and key­‑words

p.01_80.indd 3

Resúmenes y palabras clave

14/06/06 20:33


O Museu Municipal de Portalegre The Municipal Museum of Portalegre

Maria Adelaide de Aguiar Marques Teixeira PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PORTALEGRE E PRESIDENTE DO CONSELHO DE CURADORES DA FUNDAÇÃO ROBINSON MAYOR OF THE PORTALEGRE TOWN HALL AND CHAIRPERSON OF THE COUNCIL OF CURATORS OF THE ROBINSON FOUNDATION

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 4­‑5, ISSN 1646­‑7116

4

p.01_80.indd 4

14/06/06 20:33


Neste número das Publicações da Fundação Robinson fica documentado um longo processo que conduziu à melhoria acentuada e adequada do Museu Municipal de Portalegre. Tendo uma larga história como Museu com sucesssi‑ vas recomposições museológicas, este espaço de futuro é agora devolvido à cidade e a todos os que nos visitam, con‑ tendo hoje em si como característca definitória a primícia da modernidade espacial, museológica e museográfica. O tempo aqui descrito, como maior ou menor porme‑ nor, encerra todos os caminhos que vão do estudo e aná‑ lise do edificado patrimonializado e das colecções que nele se instalaram, até às finalizações museográficas assentes numa riquíssima proposta de leitura pensada, estudada e deixada em aberto por técnicos qualificados e de posição fir‑ mada no campo dos Museus. Nunca são fáceis de trabalhar os Museus Municipais. A sua diversidade de incorporação, onde avultam, nomeada‑ mente neste de Portalegre, as colecções doadas e deixadas ao cuidado da edilidade, misturam-se, noutra vertente, com a Comunidade de visitantes, futuros doadores, funcioná‑ rios, investigadores e voluntários, numa extensão de media‑ ção sempre comprometedora e profícua nos seus resultados. Por isso o Museu Municipal de Portalegre, que é patri‑ mónio das suas paredes edificadas aos objectos que o preen‑ chem, da exposição às reservas, tem de vir a constituir-se no pólo dinâmico que a proposta agora inaugurada nos deixa. Que a Comunidade sinta o Museu como seu, como local de visita, de aprendizagens, de bem estar estético e de ques‑ tionamento, além de poder apresentar-se como local ideal, porque institucionalizado e tecnicamente apetrechado para salvaguardar os tesouros de cada um que merecm ser par‑ tilhados e os da Comunidade que merecem ser aprendidos e ensinados. Propostas de exposição, de jogo expositivo entre as peças aqui existente ou que se podem solicitar a outros Museus nacionais e internacionais vão, concerteza, dar corpo a uma realidade cultural cheia de criação e movimento, condu‑ cente à documentação das colecções e ao seu registo catalo‑ gráfico e, por aí, assumir uma liderança de casa de memória entre a Comunidade de Portalegre.

This number of the Publications of the Robinson Foundation documents the long process of the notable improvement works for the Municipal Museum of Portalegre. With an extensive history as a Museum with successive museological recompositions, this space for the future has now been handed back to the city and all those who visit us, with its defining characteristic the fruit of spatial, museological and museographical modernity. The period described here, in greater or lesser detail, cov‑ ers all the stages, which range from the study and analysis of the building’s heritage and the collections housed within it, to the museographical finalisation work, which was based on an extremely rich proposal involving detailed readings, which were studied in an open manner by qualified technicians with an experienced position in the area of Museums. In fact, municipal Museums are never easy to operate. The variety of their inventories which, particularly in Portalegre, contain bequeathed collections and items left in the care of the municipal authority, have generally increased and are inter‑ twined with the Community of visitors, future donators, staff, researchers and volunteers, in an extensive mediation which always involves commitment and which is fruitful in its results. As such the Municipal Museum of Portalegre, which is a place of heritage offered within its walls to the objects which fill it, whether in the exhibition or in the reserve collection, has had to constitute itself in a dynamic way, which the proposed arrangement, now inaugurated, has provided us with. It is to be hoped that the Community feels the Museum as its own, as a place to visit, for learning, for aesthetic well-being and questioning, besides being able to present itself as an ideal place, since as an institution it is technically equipped to safeguard the treasures of each of us, which deserve to be shared, and those of the Community, which deserve to be taught and learnt. Exhibition proposals, the exhibitional game between the pieces here or those which can be requested from other national and international museums will, certainly, embody a cultural reality full of creation and movement, propitious for the docu‑ menting of the collections and their catalogue recording and as such take on a leading position in the place of memory in the Portalegre Community.

5

p.01_80.indd 5

14/06/06 20:33


p.01_80.indd 6

14/06/06 20:33


1. O EDIFÍCIO DO MUSEU MUNICIPAL DE PORTALEGRE THE MUNICIPAL MUSEUM OF PORTALEGRE BUILDING

p.01_80.indd 7

14/06/06 20:33


De Seminário quinhentista a Museu Municipal From sixteenth century seminary to municipal museum

Teresa Nunes da Ponte ARQUITECTA ARCHITECT

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 8‑11, ISSN 1646­‑7116

p.01_80.indd 8

14/06/06 20:33


O edifício, do século xvi com traço de Pero Vaz Pereira, foi objecto de alterações em 1765. Albergou o Seminário Diocesano e o Liceu de Portalegre antes da sua utilização como Museu Municipal. Terá concorrido para a escolha do local a sua localização privilegiada junto à Sé, beneficiando do correspondente alargamento da malha urbana1. Para a instalação do Museu, em conjunto com a Biblioteca Municipal, o edifício sofreu uma campanha de obras que alterou substancialmente a construção e os espaços, e anexou ao conjunto uma pequena construção contígua, a Nordeste. Segundo documentos escritos da primeira fase do Projecto de Restauro do Antigo Seminário da Diocese e sua adaptação a Museu e Biblioteca Municipais, de Fevereiro e Junho de 1956, assinados por João Gonçalves Proença, as obras foram realizadas pela Câmara Municipal com a consultoria do Dr. Cayola Zagalo, então conservador do Palácio da Ajuda. As obras alteraram significativamente a composição dos materiais da construção e dos revestimentos, e a própria distribuição dos espaços, de acordo com os princípios da época no que dizia respeito às intervenções no património construído. A descrição de obra compreende a demolição de grande parte dos elementos construtivos do edifício, em alguns casos para posterior reposição ou substituição por cópia nova. Foi o caso de parte das pedras de guarnecimento das paredes e cantarias de portas, e dos degraus e guardas da escadaria principal. Os pavimentos de madeira foram substituídos por laje de betão armado, com o intuito de suportar as cargas introduzidas pela instalação da Biblioteca, e foram abertos grandes arcos revestidos a pedra para alargamento dos vãos interiores existentes.

The 16th century building designed by Pero Vaz Pereira underwent alterations in 1765. It housed the Diocesan Seminary and the Portalegre High School before its use as the Municipal Museum. There was competition for utilisation of the place given its special location alongside the Cathedral, and benefiting from the resultant extension of the urban area1. When the Museum, and the Municipal Library, were located there, the building underwent a series of works which considerably altered the building and its spaces, and which annexed a small adjacent construction to the North East. According to documents written during the first stage of the Restoration Project of the Former Seminary of the Diocese and its adaptation to a Museum and Municipal Library, in February and June 1956, signed by João Gonçalves Proença, the works were carried out by the Town Hall utilising as a consultant Dr. Cayola Zagalo, the then curator of Ajuda Palace. The works significantly altered the composition of the construction materials and their finishings, and the actual distribution of its spaces, according to the principles of the period regarding works in building patrimony. The description of the works includes the demolition of a large part of the constructional parts of the building, in some cases for later repositioning or substitution with a new copy. This was the case with regard to some of the stones lining the walls and ashlars of the doors, the steps and railings for the main staircase. The wooden floors were substituted with concrete slabs, in order to support the loads caused by the locating there of the Library, and large arches were opened covered with stone to enlarge the existing internal spans.

9

p.01_80.indd 9

14/06/18 10:25


Planta de localização do Museu Municipal. Map showing the location of the Municipal Museum.

Vistas da exposição de arte sacra antes da intervenção Views of the sacred art exhibition (2003 and 2006).

10

p.01_80.indd 10

14/06/06 20:33


As fachadas absorveram o modesto edifício que se ane‑ xou a Nascente prolongando-se, na fachada nobre, com o mesmo ritmo de vãos e alternância de motivos ornamentais. Passados 50 anos o edificado carecia de uma profunda remodelação devido ao surgir de problemas da construção, e o processo expositivo acusava a passagem do tempo face a novos conceitos e tecnologias2.

notas

1

2

Susana Bicho refere este facto quando fala de “O Museu. Campo de Representações”. “Se se pensar que este Museu situado na Rua do Paço, ao lado da Catedral, fica junto da mais extraordinária colecção de retábulos e de pinturas que enobrecem esta igreja dio‑ cesana, não podemos deixar de nos sentir esmagados por tão singular conjunto reunido num espaço diminuto.” Percebemos nestas palavras de João Couto a importância e o prestígio atribuídos ao local escolhido para o Museu Municipal de Portalegre. Situação comum a muitos museus e espaços museológicos tal como refere Josep Maria Montaner “O facto de ter de partir de edifícios históricos, de estruturas tipológicas exis‑ tentes, delimita as possibilidades criativas dentro dessa lógica do existente. É o caso dos velhos monumentos que, há décadas, se transformaram em museus e que é neces‑ sário modernizar; da intervenção em museus já existentes, mas que devem ser reestru‑ turados e ampliados; e da longa lista de edifícios antigos – palácios, fábricas, hospitais, quartéis – convertidos em museus e centros de arte, nos quais se soube tirar proveito da estrutura tipológica definida por uma compartimentação espacial prévia de vestíbulos, escadarias, pátios, naves, alas e galerias. Uma intervenção rigorosa seguindo esta lógica deve partir de uma análise tipológica do edifício existente para o revitalizar e enrique‑ cer a sua dimensão urbana.”

The facades absorbed the modest building which was annexed to the East, continuing, in the main facade with the same rhythm of spans alternating with ornamental motifs. After 50 years the building required major remodelling due to the emergence of problems due to its construction, and the exhibitional process showed the passage of time with regard to new concepts and technologies2.

notes

1

Susana Bicho refers to this fact when writing of “The Museum. Field of Representations”. “If it is thought that this Museum is located by the Cathe‑ dral, alongside the most extraordinary collection of altarpieces and paintings which ennoble this Diocesan church, we cannot but feel crushed by such a singular juncture brought together within such a tiny space.” With these words by João Couto we can understand the importance and prestige atta‑ ched to the location chosen for the Municipal Museum of Portalegre.

2

A situation common to many museums and museological spaces, as men‑ tioned by Josep Maria Montaner “The fact that the starting point is his‑ torical buildings, with existing typological features, delimits the creative possibilities within a logic of what currently exists. This is the case with old monuments which, for decades, have been transformed into museums and which need to be modernised; works on existing museums, which need to be restructured and enlarged; and the long list of ancient buildings - pala‑ ces, factories, hospitals, barracks - converted into museums and centres of art, in which use is made of the established typological structure through a prior spatial compartmentalisation involving lobbies, staircases, cour‑ tyards, aisles, wings and galleries. Any thorough intervention works follo‑ wing such logic should start form a typological analysis of the existing buil‑ ding to revitalise it and enrich its urban dimension.

11

p.01_80.indd 11

14/06/06 20:33


O traçado do edificado e a sua utilização actual The design of the building and its current use

Teresa Nunes da Ponte ARQUITECTA ARCHITECT

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 12‑23, ISSN 1646­‑7116

p.01_80.indd 12

14/06/06 20:33


O portal de entrada, encimado pelo brasão do bispado, enfatiza a simetria da fachada principal e da planta, e indi‑ cia o eixo transversal da construção, que compreende a esca‑ daria central e o acesso ao pátio, nas traseiras. O arranque das escadas, numa sucessão de arcos, define também o percurso de um eixo longitudinal, que atravessa o edifício paralelo à fachada, e que corresponde à distribui‑ ção dos espaços. Nas fachadas, excelentes cantarias trabalhadas, em gra‑ nito amarelo da região, alternam cimalhas paladianas em curva e frontão, conferindo aos alçados uma leitura de carác‑ ter barroco. Apesar da descaracterização conferida por obras ante‑ riormente realizadas, o valor patrimonial do conjunto edi‑ ficado justificava um cuidado trabalho de reabilitação e restauro.

The entrance portal, crowned by the coat of arms of the diocese, emphasises the symmetry of the main facade and the floor plan, and falls on the transversal axis of the construction, which takes in the central staircase and the access to the courtyard at the back. The start of the stairs is through a succession of arches, which also define the line of a longitudinal axis, which crosses the building parallel to the facade, and which corresponds to the distribution of the spaces. The facades have excellent worked stones, in yellow granite from the region, with Palladian mouldings in the form of curves and pediments, enabling the elevations to be read in a Baroque manner. Despite the previous works having removed some of its essential characterisation, the patrimonial value of the construction required careful rehabilitation and restoration works.

Museu Municipal, 2013. Municipal museum, 2013.

On the one hand there were construction problems to be resolved and, on the other hand it was important to endow the spaces with a formal coherence. What was sought was major but discrete intervention works regarding the key values of the construction, but with a contemporary identification through the introduction of a thorough and clean design, involving current levels of comfort and, where necessary, the introduction into the infrastructure of lighting and environmental comfort systems, essential to new museological requirements. In searching out the key values of the building, special attention and rigour were placed on detailed design, resulting in a cleanliness of form, as a unifying criterion through the intervention works. These works sought to establish a programme introducing new concepts, new functions and new ways of exhib-

13

p.01_80.indd 13

14/06/06 20:33


Alçado Sul, desenho de projecto. South Elevation, project design.

Corte transversal pelo pátio, desenho de projecto. Cross section of the courtyard, project design.

Corte transversal, desenho de projecto. Cross section, project design.

Havia que resolver problemas construtivos por um lado, e por outro importava dotar os espaços de uma coe‑ rência formal. Procurou-se uma intervenção profunda mas discreta, no respeito pelos valores essenciais da construção, mas identificável no tempo pela introdução de uma esté‑ tica contemporânea de desenho rigoroso e depurado, de parâmetros de conforto actual e inserção das infraestru‑ turas actualmente exigíveis, de iluminação e condiciona‑ mento de ambiente, imprescindíveis aos novos requisi‑ tos da museologia. Na busca dos valores essenciais do edificado, especial atenção e rigor foram postos no desenho do pormenor, traduzido na depuração da forma, como critério de uni‑ dade em toda a intervenção

14

p.01_80.indd 14

14/06/06 20:33


PISO 2 Floor 2

PISO 1 Floor 1

1. ENTRADAS | Entrances (59 m2) 1.1. Entrada principal | Main entrance (37 m2) 1.2. Entrada secundária | Secondary entrance (22 m2) PISO 0 Floor 0

2. APOIO AO VISITANTE | Visitor Support (123 m2) 2.1. Recepção e loja | Reception and Shop (63 m2) 2.2. Cafetaria | Cafeteria (31 m2) 2.3. Instalações sanitárias | Toilet Facilities (29 m2) 3. EXPOSIÇÃO | EXHIBITION (801 m2) 3.1. Centro de interpretação | Interpreting Centre (45 m2) 3.2. Sala do coleccionador | Collector’s Room (20 m2) 3.3. Exposição permanente | Permanent Exhibition (710 m2) 3.4. Exposição temporária | Temporary Exhibition (53 m2) 3.5. Reservas | Reserves (26 m2) 4. SERVIÇO EDUCATIVO | Educational Service (35 m2) 5. SERVIÇOS DO MUSEU | Museum Services (65 m2) 6. ÁREAS TÉCNICAS | Technical Areas (25 m2) 7. PÁTIO | Courtyard (156 m2)

Esquema de ocupação do edifício, desenho de projecto.

PISO -1 Floor -1

Building Occupation Layout, project design.

15

p.01_80.indd 15

14/06/18 10:25


A intervenção visou a instalação de um programa que introduziu novos conceitos, novas funções e novos modos de exposição das colecções, e que foi sendo construído no diálogo entre todos os intervenientes do processo. A necessidade de alargamento da área disponível conduziu à integração de um pequeno edifício a Noroeste. Este acrescento configurou um conjunto de planta aproximadamente rectangular. O perímetro da área construída, envolve um pátio exterior, ajardinado, voltado a Norte. O aumento de área permitiu integrar novas funções1: para além de uma sala de exposições temporárias, uma mostra introdutória ou centro interpretativo do museu e suas colecções e uma sala do coleccionador; introduziram-se novas áreas de apoio ao público, recepção e loja e uma cafetaria com uma pequena esplanada exterior, protegida porque

iting the collections, and was constructed through dialogue between all the stakeholders involved in the process. The need to enlarge the available area led to the integration of a small building to the North East. This addition meant that the floor plan was configured in an approximately rectangular form. The perimeter of the constructed area includes an exterior courtyard, which is gardened, facing North. The increase in this area enabled new functions1: in addition to a temporary exhibitions room, an introductory sample or interpretative centre of the museum and its collections and a room for the collector, new areas were introduced providing support for the public, namely a reception, shop and cafeteria with a small external terrace, which is private due to the lower wall of the garden and is certainly

Planta do Piso 0, desenho de projecto. Floor 0 plan, project design.

16

p.01_80.indd 16

14/06/18 10:25


Alçado poente, desenho de projecto. West Elevation, project design.

a cota inferior ao jardim, e local de estadia por excelência2. Integrou-se também um espaço para o serviço educativo, directamente relacionado com o logradouro, área de Reservas e áreas técnicas. Explorou-se a racionalidade do espaço existente, agora trabalhado, afectando os espaços por pisos. A exposição permanente distribui-se pelos dois pisos superiores da construção nobre, e as exposições temporárias na área de ampliação, com possibilidade de entrada independente. Na ala poente do piso térreo, à esquerda da entrada principal, concentram-se as áreas de apoio ao visitante, que se prolongam pelos pisos inferiores do novo edifício, e o espaço para a interpretação do museu. A nascente da entrada ficam o serviço educativo e os serviços do museu. A construção anexada, embora mais modesta, apresenta uma fachada delicada sobre a rua com uma pequena pedra de armas central. A escala, distinta, relaciona-se com o edi-

the ideal place to be2. A space was also created for the educational service, directly connected to the patio, the Reserves area and technical areas. A rational using of the existing, now working, space was carried out, and a division of the spaces made into floors. The permanent exhibition was spread throughout the two upper floors of the ancient building, and the temporary exhibitions in the enlarged area, with a possibility of a separate entry. The visitor support areas are located in the west wing of the ground floor, to the left of the main entrance, which extend along the lower floors of the new building, along with the space for the interpretation of the museum. The educational service and the museum services are to the east of the entrance. The annexed building, although more modest, has a delicate facade on to the road with a central stone containing a coat of arms. It has a distinct scale in relation to the main building in terms of its own circulation areas and this contrib-

17

p.01_80.indd 17

14/06/18 10:25


fício principal através de áreas de circulação próprias, e con‑ tribui para a identificação das actividades a que se destina, lúdicas ou temporárias. A entrada principal, entrada nobre do edifício, é agora complementada por uma entrada secundária, situada na área de ampliação, o que permite constituir novos percursos no museu. A sala de exposições temporárias, que pode fun‑ cionar como sala polivalente, e a cafetaria, podem usufruir assim de uma entrada independente. As portas de entrada são protegidas por guarda ventos em vidro, possibilitando a entrada de luz natural e o usufruto do exterior, bem como a vista do interior a quem passa na rua.

utes to identifying the ludic and temporary areas which it has been designated. The main entrance, the grand entrance of the building,

Vista da entrada e da recepção, 2013. View of the entrance and reception, 2013.

Vista da escadaria central, 2013. View of the central staircase, 2013.

has now been supplemented by a secondary entrance, located in the extended area which has enabled new pathways through the museum to be established. The temporary exhibitions room, which can function as a multipurpose room, and the cafeteria, can thus make use of an independent entrance. The entrance doors are protected by glass windshields, to allow for the entrance of natural light and use of the exterior, as well as providing a view inside for those passing by in the street.

18

p.01_80.indd 18

14/06/06 20:33


Vistas do núcleo do elevador e cafetaria, 2013. View of the lift core and cafeteria, 2013.

As transparências dos novos vãos criam sistemas de vistas exteriores e interiores. Da rua avista-se o pátio interior, e do pátio apreende-se a luz do Sul, que percorre o eixo transversal e entra e banha o espaço sob a escadaria. Quando entra, o público apercebe de um lado as peças temporariamente seleccionadas de um coleccionador e para o outro o primeiro automóvel da cidade na mostra introdutória. O percurso pela escadaria central, com aberturas para o pátio, prepara a surpresa da chegada aos pisos da exposição permanente, onde, grandes espaços interligados no primeiro nível e um grande volume aberto à cota superior, ser-

The transparencies of the new spans create systems of external and internal views. The inner courtyard can be seen from the road, and the courtyard catches the light of the Sun, which runs along the transversal axis and enters and bathes the space under the staircase. Upon entering, the public perceives on the one side the pieces of a collector which have been temporarily selected and on the other side the first automobile of the city in an introductory presentation. The path through the central staircase, with openings to the courtyard, prepares the surprise of arriving at the permanent exhibition floors which, with large spaces interlinked in the first floor and a large volume open to the upper level,

19

p.01_80.indd 19

14/06/18 10:25


vem de suporte às colecções provenientes dos conventos da cidade e dos doadores do museu. Em alternativa, o elevador anula as barreiras arquitectó‑ nicas e permite a vista panorâmica sobre o jardim. Situa-se num local estratégico para permitir a ligação entre os dois corpos da construção, a diferentes cotas, entre o edifício do museu e o que agora se anexa, no logradouro comum. Encerrado numa torre transparente e solto da construção principal, dá-lhe acesso através de passadiços envidraçados. Os arcos anteriormente abertos são regularizados em pórticos rectangulares que permitem uma nova organização das áreas públicas e privadas. No primeiro piso abrem-se as paredes interiores existen‑ tes sob a forma de pórticos tal como no piso inferior. Criam‑ -se grandes espaços interligados entre si permitindo um usu‑ fruto abrangente de proximidade e recuo. Os pórticos criados remetem para as preexistencias e organizam o espaço de forma subtil e quase simétrica pelos seus eixos longitudinal e transversal em conjunto com o núcleo da escada. Criam-se naturalmente núcleos expositivos no conjunto da mostra. No piso superior, a substituição da estrutura da cober‑ tura, permite aproveitar a área de sótão e aumentar o volume da área expositiva dando um melhor enquadra‑ mento às peças. Com referência às preexistências e aos eixos bem defi‑ nidos em todo o edifício, um pequeno corpo novo ligeira‑ mente elevado da cota da cumeeira, integra um lanternim para iluminação zenital e ventilação natural, exacerbando a presença do eixo longitudinal da construção. O logradouro, agora ajardinado com novas plantações e elementos de água, serve de suporte a algumas peças de arqueologia e convida o visitante a permanecer, e os servi‑ ços educativos ao seu usufruto.

serve as support from the collections originating from the convents of the city and the museum donors. As an alternative, the lift takes away the architectural limitations to enable a panoramic view over the garden. It is situated in a strategic location to allow the connection between the two construction blocks, at different levels, between the building of the museum and what is now annexed, in the common patio. Closed in a transparent tower and free of the main construction, it provides access through glassed walkways. The arches which were formerly open have been regularised into rectangular porticos to provide for a new organisation of the public and private areas. On the first floor the existing walls were opened up in the form of porticos in the same way as the lower floor. In this way large interconnecting spaces were established to allow for an extensive employment of proximity and contraction. The porticos hark back to former times and organise the space in a subtle and almost symmetrical manner through the longitudinal and transversal axes along with the central staircase. These create exhibitional centres within the display area. On the upper floor, the replacement of the roofing structure has enabled the attic area to be utilised and to increase the exhibitional area and provide a better framing for the pieces. Referencing the pre-existing elements and the welldefined axes throughout the whole building, a small new body lightly raised from the side of the ridge, provides a skylight for zenith lighting and natural ventilation, emphasising the presence of the longitudinal axis of the building. The patio, now landscaped with new planted areas and water elements, serves as a support for some archaeological pieces and invites the visitor to stay, and the educational services to make use of it.

20

p.01_80.indd 20

14/06/06 20:33


Vistas da exposição de arte sacra, piso 1, 2013. Views of the sacred art exhibition, floor 1, 2013.

21

p.01_80.indd 21

14/06/06 20:34


Planta do piso 1, exposição de arte sacra, desenho de projecto. Floor 1 plan, sacred art exhibition, project design.

Planta do piso 2, exposição de mobiliário e artes móveis, desenho de projecto. Floor 2 plan, furniture and mobile arts exhibition, project design.

Vista da exposição de mobiliário e artes móveis, 2013. View of the furniture and mobile arts exhibition, floor 2, 2013.

22

p.01_80.indd 22

14/06/06 20:34


notas

1

2

Tal como referido na Lei Quadro dos Museus Portugueses, Lei n.º 47/2004, “Artigo 51.º Natureza das instalações: 1 – As instalações do museu comportam necessaria‑ mente espaços de acolhimento, de exposição, de reservas e de serviços técnicos e administrativos.” Estes novos espaços vêm responder às novas necessidades de “bem-estar” nos museus, como refere Werner Oechslin “Os museus enquanto instituições reformu‑ laram a sua postura tradicional que se definia pelo seu papel educativo e adaptaram‑ -se aos hábitos contemporâneos que encaram a cultura como bem de consumo. Os cafés e as lojas expandiram-se exponencialmente e adquiriram um estatuto próprio. (…) Simultaneamente, tornou-se evidente que as tendências estão a mudar de novo e que a clareza dos menosprezados “museus de província” voltou a surpreender e a impressionar.”

notes 1

As mentioned in the Framework Law for Portuguese Museums (Lei Quadro dos Museus Portugueses), Law No. 47/2004, “Article 51. Nature of the facilities: 1 – The facilities of the museum must include spaces for reception, exhibition, reserves and technical and administrative spaces.”

2

These new spaces are a response to the new needs for “well-being” in museums, as mentioned by Werner Oechslin “Museums as institutions have reformulated their traditional posture which was defined by their educational role and have adapted themselves to contemporary habits which consider culture as goods to be consumed. The cafes and shops have expanded exponentially and taken on their own status. (...) Simultaneously, it has become evident that trends are changing again and that the clarity of the despised “provincial museums” have once again surprised and impressed.”

Bibliografia

Bibliography

BICHO, Susana, Rede de Património de Portalegre: edificado, móvel e imaterial – Museu Municipal: História do Edifício e do Museu. Publicações Robinson, Portalegre, Maio 2011, p.17. DIONÍSIO, Santana, Guia de Portugal: Extremadura, Alentejo, Algarve, Biblioteca Nacional, Lisboa, 1972. DORES, Helena Mire, BUCHO, Domingos (documentação e organização de conteúdos), Mapa de Arquitectura Portalegre, Argumentum. KEIL, Luís, Inventário Artístico de Portugal. 1º volume: Distrito de Portalegre, Academia Nacional de Belas Artes, 1943. Lei nº 47/2004 de 19 de Agosto. Diário da República n.º 195/2004 Série I – A . Lei Qua‑ dro dos Museus Portugueses. MONTANER, Josep Maria, Museus para o século XXI, Barcelona, 2003, p.73. OECHSLIN, Werner, “A arquitectura de museus: em tema fundamental de arquitectura contemporânea”, in Höffner, Julia (coordenação), Museus do Século XXI: Conceitos, Projectos, Edifícios (catálogo de exposição), Art Centre Basel, Prestel Editora, 2007. Rede de património de Portalegre: edificado, móvel e imaterial. Museu Municipal: História do edifício e do Museu, Publicações Fundação Robinson, Maio 2011. SEQUEIRA, Susana de Almeida, Porcelanas do Oriente ao Ocidente. Colecção do Museu Municipal de Portalegre, Caleidoscópio, Fevereiro 2007.

BICHO, Susana, Rede de Património de Portalegre: edificado, móvel e imaterial – Museu Municipal: História do Edifício e do Museu (Portalegre Heritage Network: buildings, moveables and intangibles. Municipal Museum: History of the Building and the Museum), Robinson Foundations Publications, Portalegre, May 2011, p.17. DIONÍSIO, Santana, Guia de Portugal (Guide to Portugal): Extremadura, Alentejo, Algarve, National Library, Lisbon, 1972 KEIL, Luís, Inventário Artístico de Portugal. 1º volume: Distrito de Portalegre, (Artistic Inventory of Portugal – Vol. 1 :Portalegre District), Academia Nacional de Belas Artes (National Academy of Fine Arts), 1943 Law No. 47/2004 of 19 August. Diário da República No. 195/2004 Série I – A . Lei Quadro dos Museus Portugueses (Framework-Law for Portuguese Museums) MONTANER, Josep Maria, Museus para o século XXI, (Museums for the 21st Century) Barcelona, 2003, p.73 OECHSLIN, Werner, “A arquitectura de museus: em tema fundamental de arquitectura contemporânea” (“The architecture of museums: an essential theme for contemporary architecture”), in Höffner, Julia (editor), Museus do Século XXI: Conceitos, Pro‑ jectos, Edifícios - catálogo de exposição (Museums of the 21st Century: Concepts, Projects, Buildings - exhibition catalogue)), Art Centre Basel, Prestel Editora, 2007 Rede de património de Portalegre: edificado, móvel e imaterial. Museu Municipal: História do edifício e do Museu (Portalegre Heritage Network: buildings, moveables and intangibles. Municipal Museum: History of the Building and the Museum), Robinson Foundation Publications, Portalegre, May 2011. SEQUEIRA, Susana de Almeida, Porcelanas do Oriente ao Ocidente (Porcelain pieces from the East to the West). Colecção do Museu Municipal de Portalegre (Collection of the Municipal Museum of Portalegre), Edição Caleidoscópio, February 2007.

23

p.01_80.indd 23

14/06/06 20:34


Os andamentos e as realidades de uma construção The developments and the realities of a construction

Teresa Nunes da Ponte ARQUITECTA ARCHITECT

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 24‑31, ISSN 1646­‑7116

24

p.01_80.indd 24

14/06/06 20:34


O tempo decorrido entre o início do processo e do projecto, em 2003, e o fim da obra, em 2011, permitiu fazer uma análise exaustiva da construção. Corrigiram-se as anomalias existentes e fizeram-se as alterações consideradas necessárias do ponto de vista construtivo. Logo de início foram sendo identificadas algumas situações a intervencionar sendo a mais importante a reparação de fendas, com expressão significativa, em paredes portantes de alvenaria de pedra e tijolo. Admitiu-se como causa principal a sobrecarga correspondente à introdução de lajes de betão armado na anterior década de sessenta, situação agravada pela abertura de grandes arcos nas paredes do piso térreo. Optou-se por aliviar a construção do seu peso excessivo, devolvendo-se assim o edificado a uma situação mais próxima da tipologia construtiva original. Procedeu-se à demolição das lajes, por corte junto às paredes, do pavimento do primeiro e segundo pisos, que se substituíram por estruturas constituídas por vigamentos metálicos leves, placas de lamelas de madeira prensada, e soalho de madeira como revestimento. Demoliu-se ainda a laje de esteira junto à cobertura. Simultaneamente, procedeu-se ao reforço das paredes periféricas, através da colocação de barras metálicas cruzadas sob as argamassas de reboco. Os barrotes de madeira da cobertura, que assentavam em paredes de alvenaria de tijolo sobre a laje de tecto do segundo piso, foram substituídos por uma estrutura metálica leve. Esta estrutura eleva-se ao centro, no sentido longitudinal, para suportar o lanternim de iluminação e ventilação natural.

The time which passed between the beginning of the ­process and the initial draft, in 2003, and the completion of the works, in 2011, enabled an exhaustive analysis of the construction to be carried out. Existing anomalies were corrected and alterations considered necessary from a constructional point of view were carried out. Certain situations were identified right at the start, the most important being the repair of the significant number of cracks in load-bearing masonry walls of stone and brick. It was accepted that the main cause of this overloading was the introduction of concrete slabs in the 1960s, a situation worsened by the opening of the large arches in the walls of the ground floor. The decision was made to relieve the construction of its excessive weight, thus returning the construction to a situation closer to the original building typology. The concrete blocks were removed through cuts alongside the walls, along with the flooring of the first and second floors, which was substituted by structures made of light metal beams, pressed wood planks, and wooden panelled flooring. The concrete mat slab alongside the ceiling was also removed. The peripheral walls were also reinforced through the placing of crossed metal bars under the mortar plaster. The wooden beams of the roofing, which were based on walls of brick masonry on the roof slab of the second floor, were substituted by a light metal structure This structure is raised to the centre, in the longitudinal direction, to support the skylight lighting and natural ventilation. During the carrying out of the works, there were problems of supporting the central walls on the top floor, along the former longitudinal corridor, as well as alterations in

25

p.01_80.indd 25

14/06/18 10:25


Demolição da cobertura, 2009. Demolition of the roofing, 2009.

Picagem do reboco existente nas paredes para introdução de reforço estrutural, 2009. Pricking up of the existing plaster on the walls in order to introduce reinforcement, 2009.

Durante a execução da obra, problemas no corte das paredes centrais do último piso, ao longo do antigo corredor longitudi‑ nal, bem como alterações na estrutura da cobertura, conduzi‑ ram à supressão de parte dessas paredes, deixando o volume do lanternim livre, e sem apoios visíveis no seu lado Sul. Foi também detectada a existência de humidade e sais solúveis em paredes, no ângulo Sudeste do edifício, pelo exterior, e no interior em toda a zona da escadaria central de pedra. Para além de humidades ascendentes, verificou-se uma composição desadequada das argamassas com possível utilização de areias contaminadas, e cimento. Estas anomalias foram resolvidas com a remoção de todos os rebocos e aplicação de argamassas novas, de com‑ posição adequada, à base de cal aérea. Por outro lado, estudou-se exaustivamente o trata‑ mento ambiente a realizar, essencialmente a instalação de um sistema de aquecimento central através de pavimento radiante, e de ventilação com humidificação. Executou-se a drenagem do subsolo e o isolamento térmico dos pavimen‑

the roofing structure, which led to the elimination of part of these walls, leaving the volume of the skylight free, and without visible support on its South side. The existence of humidity and soluble salts were also detected on the walls, in the South East angle of the building, on the exterior, and inside throughout the area of the central stone staircase. Besides the growing humidity, an unsuitable quantity of mortars was shown to possibly have contaminated sands, and cement. These anomalies were resolved with the removal of all the plaster and the application of new mortar, with a suitable composition, with a base of sandy lime. In addition, an exhaustive study was made of the environmental processing to carry out, which essentially involved the fitting of a central heating system through heated flooring, and ventilation with humidification. The subsoil was drained along with the flooring being thermally thermal insulated, not only with the purpose of acclimatising and conserving the pieces, but also in order to conserve the building.

26

p.01_80.indd 26

14/06/06 20:34


Imagem da parede existente com registo das suas diferentes constituições, 2010. Image of the existing wall with a record of its different constituents, 2010.

tos, não só com o objectivo da climatização e da conserva‑ ção das peças, mas também da conservação da construção. Identificaram-se diversas constituições de paredes, tendo‑ -se deixado um registo visível e protegido por vidro, no piso térreo, numa das paredes da zona de acolhimento e Loja do Museu, onde se podem apreciar várias camadas de pedra e tijolo, provenientes de diferentes épocas da construção. Encontrou-se, na mesma zona, junto à entrada principal, uma pequena área em cave, que se admite ter funcionado como cisterna. Ficou visível através de uma transparência criada no pavimento, com um troço envidraçado. Foi também identificada uma latrina que se encontrava entaipada, no limite Norte do edifício de ampliação. Dei‑ xou-se na parede, uma área que poderá ser facilmente remo‑ vida para acesso permitindo que seja intervencionada num futuro próximo. Na área de ampliação, o interior da construção, sem inte‑ resse de valor patrimonial, foi praticamente todo demolido e construída uma cave para reservas, que se estendeu sob o logradouro para instalação de áreas técnicas, tendo-se utili‑ zado um sistema construtivo de betão armado tradicional. Utilizaram-se os materiais tradicionais, de revestimento como a pedra de granito amarelo bujardado em pavimentos térreos, de acordo com a construção existente nas suas par‑ tes nobres, e o soalho de madeira em pisos superiores, mate‑ rial compatível com as novas estruturas leves introduzidas, e com a exposição. Na área nobre do edifício principal conservaram-se, tanto quanto possível, os elementos móveis da construção, como a porta exterior principal e parte das portas interiores, que se protegem com guarda-ventos de forma a permitir a abertura permanente destas, e criar as necessárias condições de segu‑ rança contra incêndio, bem como conforto térmico.

Various components of wall were identified, and a visible record of this, protected by glass, has been left on the ground floor, in one of the walls in the reception area and Museum Shop, where various layers of stone and brick can be seen, showing the different construction periods. Also discovered, in the same area near the main entrance, was a small basement area which may have func-

27

p.01_80.indd 27

14/06/06 20:34


Detalhe construtivo da intervenção no edifício antigo. Constructive detail of intervention work on the old building.

28

p.01_80.indd 28

14/06/06 20:34


Detalhe construtivo do passadiรงo e elevador. Constructive detail of the walkway and lift.

29

p.01_80.indd 29

14/06/06 20:34


tioned as a cistern. It has remained visible through a transparency created in the flooring, using a glass section. A latrine was also discovered which was fenced in, at the

Detalhe construtivo da intervenção no edifício anexado. Constructive detail of intervention work on the annexed building.

Northern limit of the extension building. An area was left in the wall which may easily be removed to provide access, thus preparing for any possible works in this regard in the near future. In the widened area, the interior of the building, which had no patrimonial interest, was practically all demolished and a cellar was constructed for the reserve collection, extending under the patio to the technical areas, with a construction system involving traditional reinforced concrete having been utilised. Traditional materials were used, such as yellow bushhammered granite stone in the ground floor floorings, in accordance with the existing construction, in its major areas, and the wooden flooring on the upper floors, a material compatible with the light structures which were introduced, as well as with the exhibition. In the main area of the main building the moveable aspects of the building were conserved as much as possible, such as the main exterior door and part of the interior doors, which are protected with windshields in a manner so as to allow their permanent opening, and create the necessary safety conditions against fire, as well as thermal comfort.

Tanto no exterior como interior, parte das portas foram substituídas por caixilharias metálicas e vidro, no sentido de abrir os espaços, criar uma leitura homogénea entre todas as áreas, bem como identificar as alterações introduzidas. Conservaram-se as portadas que se pensa datarem do século XVIII, que se redistribuíram enfatizando enfiamen‑ tos importantes. Nos restantes vãos instalaram-se novas portadas, lisas, pintadas à cor branca das paredes.

Both on the exterior and the interior, part of the doors were substituted with metal and glass frames, to open spaces, create a homogenous reading between all the areas, as well as identify the alterations introduced. The shutters were conserved, which are thought to date from the 18th century, which were redistributed to emphasise important rows. On the other spans new shutters were fitted, plain white for the walls.

30

p.01_80.indd 30

14/06/06 20:34


Substituiram-se as vidraças por semelhantes, em madeira pintada e vidros duplos, no sentido de melhorar o compor‑ tamento térmico da construção. A introdução de infraestruturas, imprescindível para a instalação do Museu, obrigava à criação de áreas técnicas específicas e caminhos para a passagem de cabos e condu‑ tas. Assim, introduziram-se couretes, racionalmente coloca‑ das junto a paredes existentes, aumentando a sua espessura para integrar armários técnicos. A iluminação assumiu diferentes equipamentos para os diversos efeitos necessários, com a introdução de ilumina‑ ção indirecta para os arcos de pedra e elementos de pedra a realçar, e projectores em calhas electrificadas embutidas nos tectos para a valorização das peças, ou ainda, ilumina‑ ção linear, contínua e directa, em zonas de trabalho. A construção foi protegida com materiais de impermea‑ bilização e isolamento térmico, bem como por pinturas intu‑ mescentes em todos os novos pavimentos e cobertura. Introduziu-se correcção acústica em tectos, em áreas de maior permanência, como a cafetaria, recepção e loja, áreas de trabalho e serviço educativo. Para a resolução dos problemas construtivos e melhor conservação do edificado e das peças a expor, a equipa con‑ tou com o contributo essencial de Luís Elias Casanovas1 e

The panes were replaced with similar ones, in painted wood and double-glazed, in order to improve the thermal performance of the building. The introduction of infrastructure essential for the setting up of the Museum required the creation of specific technical areas and paths for the passage of cables and pipes. As such, changes were introduced, rationally placed in the existing walls, increasing its thickness and joining technical cabinets. The lighting involved different equipment for the various effects necessary, with the introduction of indirect lighting for the stone arches and the stone elements which were to be emphasised, and spotlights on electrified rails embedded in the ceilings to highlight the pieces, and also continuous and direct linear lighting for working areas. The building was protected with sealing materials and thermal insulation, as well as by intumescent paints in all the new floorings and ceiling. Acoustic correction was introduced in the roofs, in areas where individuals stay longer, such as the cafeteria, reception and shop, working areas and the educational service. In order to resolve certain constructional problems and better conserve the building and the pieces to be exhibited, the team was able to rely on the vital contributions of Luís

Vasco Moreira Rato .

Elias Casanovas1 and Vasco Moreira Rato2.

notas

notes

2

1

2

Luis Efrem Elias Casanovas – Investigador do CITAR e da Universidade Católica do Porto, Bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Vasco Moreira Rato, professor auxiliar do Departamento de Arquitectura e Urbanismo do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. Arquitecto, mestre em construção (IST) e doutorado pela UNL em Engenharia Civil (especialidade de Reabilitação do Património Edificado).

1

Luis Efrem Elias Casanovas – Researcher at CITAR and the Catholic Uni‑ versity of Oporto, Scholarship Holder from the Foundation for Science and Technology.

2

Vasco Moreira Rato, auxiliary professor of the Department of Architecture and Urbanism at ISCTE-University Institute of Lisbon. Architect, Masters in Construction (IST) and with a PhD from UNL in Civil Engineering (spe‑ ciality in Improvement Works for Building Patrimony).

31

p.01_80.indd 31

14/06/06 20:34


p.01_80.indd 32

14/06/06 20:34


2. O MUSEU MUNICIPAL THE MUNICIPAL MUSEUM

p.01_80.indd 33

14/06/06 20:34


Apontamentos da história das colecções e do Museu Municipal Notes towards the history of the collections and the municipal museum

Patrícia Monteiro INVESTIGADORA EM HISTÓRIA DA ARTE RESEARCHER IN THE HISTORY OF ART

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 34‑39, ISSN 1646­‑7116

34

p.01_80.indd 34

14/06/06 20:34


Museu Municipal, sem data (foto cedida por Filipe Caldeira). Municipal Museum, undated (photo provided by Filipe Caldeira).

O edifício onde, actualmente, se encontra instalado o Museu Municipal de Portalegre foi mandado erigir por D. Frei Amador Arrais (1530­‑1600), que o destinou às funções de Seminário da recém­‑criada Diocese de Portalegre (1549)2. Da traça quinhen‑ tista, hoje em dia, já nada resta, eliminados que foram todos os elementos do edifício primevo durante a campanha de Setecen‑ tos que submeteu o imóvel a profundas alterações, tanto físicas como funcionais3. Com efeito, o 15.º bispo de Portalegre, D. João de Azevedo (falecido em 1765), seria o responsável pela redefini‑ ção arquitectónica do edifício4, já na segunda metade do século XVIII, à semelhança, aliás, do que sucedeu no mesmo período com inúmeros outros palacetes no centro histórico de Portale‑ gre, marcando de forma indelével o perfil da cidade setecentista. Seria, no entanto, necessário aguardar pela segunda metade do século XX para que o edifício do antigo Seminário viesse a ser‑ vir de instalações ao Museu Municipal. Esta instituição, criada com o propósito específico de preservar peças de valor histórico­ ‑artístico, surgiu logo em inícios do século XX (1918), exibindo ao público as suas colecções nas primitivas instalações dos Paços do Concelho. Já em 1932 transitou para o extinto Convento de São Bernardo local de onde são originárias muitas das peças que viriam a integrar o novo espólio museológico. Daí o museu viria, no final da década de 50 do século XX, a ser instalado no edifício do Seminário, entretanto ocupado por uma Escola Primária, com inauguração datada do dia 28 de Maio de 19615. O volume de incorporações de peças aumentou nos anos seguintes tornando­ ‑se, assim, necessário proceder a obras no imóvel, muito embora só na década de 80 o museu se estendesse a todo o espaço, logo após a Biblioteca Municipal ter deixado o edifício, em 1982. O novo Museu Municipal apresentava agora um conjunto de incorporações bastante abrangente não só em termos cronológi‑ cos (séculos XVI a XX), mas também nas diversas áreas que cons‑ tituem as suas colecções: arte sacra, faianças, xícaras de porce‑

The building housing the Municipal Museum of Portalegre was constructed in 1549 at the behest of D. Frei Amador Arrais (1530-1600), and was designated for use as the Seminary for the recently created Diocese of Portalegre2. Nowadays nothing remains of the sixteenth century design, with all the elements of the original building eliminated during the 18th century works which involved major changes to the building, both physically and functionally3. Indeed, the 15th bishop of Portalegre, D. João de Azevedo (who passed away in 1765), was the individual responsible for the architectural redefinition of the building4, in the second half of the 18th century, a process which also happened during this period to numerous other mansion houses in the historical centre of Portalegre, and which would leave an indelible mark on the outline of the 18th century city. The building which housed the former Seminary would however have to wait until the second half of the 20th century before it was used to accommodate the Municipal Museum. This institution, set up with the specific purpose of conserving works with a historical and artistic value, was created in 1918 and exhibited its collections to the public in a small

35

p.01_80.indd 35

14/06/06 20:34


room in the Town Hall. In 1932 it was transferred to the dissolved Convent of São Bernardo, a place of origin for many of the pieces which would form part of the new museologi-

Colecção de cerâmica exposta no Museu Municipal, 2013. Ceramic collection on exhibition at the Municipal Museum, 2013.

cal collection. In the late 1950s the museum was moved to the former Seminary building, which in the meantime had housed a Primary School, and it was inaugurated on 28 May 19615. The number of pieces in the collections increased in the following years and it became necessary to carry out modification works on the building, although it was only in the 1980s that the museum occupied the whole space, follow-

lana, mobiliário, tapeçarias, imagens em terracota da Virgem, imagens de Santo António e outros objectos relacionados com a figura do santo (na sua maioria pertencentes à doação de Hercu‑ lano Madeira Curvelo), caixas de rapé, leques, etc. O primeiro grande núcleo de peças é composto pelas incorpo‑ rações de objectos de arte sacra, provenientes de antigas casas reli‑ giosas da cidade, entretanto extintas, como as já desaparecidas capelas de São Pedro e de São Miguel, ou de conventos destacando­ ‑se o de São Bernardo e o de Santa­‑Clara como aquelas que maior número de peças legaram ao espólio museológico. Consideramos, no entanto, como bastante provável que grande parte destas peças possam ter pertencido a outros conventos ou mosteiros, não só da cidade, mas também do próprio concelho ou distrito. O segundo grande núcleo de peças a integrar o museu foi composto por colecções de particulares que, em algum momento, foram doadas ou vendidas à Câmara Municipal pelos próprios coleccionadores ou seus familiares: Muito embora nem todos fossem naturais da cidade, através das suas doações ou ven‑ das de peças demonstraram ter reconhecido um valor histórico intrínseco à própria cidade ao elegê­‑la – e, em última análise, ao seu museu ­‑ como pólo aglutinador de vivências e de aspirações individuais. Neste sentido destacam­‑se as colecções do Dr. José

ing the vacation of the building by the Municipal Library in 1982. The new Municipal Museum now had a collection of pieces quite wide-ranging not only in chronological terms (16th to 20th centuries) but also in the various areas which made up the collection: sacred arts, faience, porcelain cups, furniture, tapestries, terra cotta images of the Virgin, images of Saint Anthony and other objects related to the figure of the saint (most of them stemming from the donation of Herculano Madeira Curvelo), snuff boxes, fans, etc. The first major set of pieces consisted of sacred art objects, originating from former religious establishments in the city, which are now extinct, such as the chapels of São Pedro and São Miguel, which have now disappeared, and the convents, particularly those of São Bernardo and Santa Clara, which provided the largest number of pieces for the museum’s collection. It is however considered highly likely that most of these pieces could have belonged to other convents or monasteries, not just in the city but also in the council or district itself. The second major source of pieces for the museum came from private collectors which, at any moment, would

36

p.01_80.indd 36

14/06/06 20:34


António de Andrade Sequeira (peças orientais e caixas de rapé), a de Emílio Castro (pratos “ratinhos”), o Dr. Laureano Sardi‑ nha (tapetes de Arraiolos, peças em cerâmica, pratos, incluindo, também alguns “ratinhos”), ou ainda a do Dr. José Nunes Seri‑ gado composta, entre outros objectos, por xícaras de porcelana chinesa e europeia. Um dos nomes mais importantes ligados à génese do Museu Municipal de Portalegre foi o do Dr. Cayola Zagallo, conservador do Palácio da Ajuda, em Lisboa, entre 1938 e 1964 e que, após ter deixado de exercer funções, se instalou durante algum tempo em Portalegre Durante a sua permanên‑ cia na cidade, já em finais dos anos 60, Zagallo redige um rela‑ tório onde esboça novas estratégias de dinamização cultural e turística para a cidade, dando destaque ao novo Museu Munici‑ pal, ao Convento de São Bernardo e ao de São Francisco6. As suas propostas são, a vários níveis, bastante actuais, tendo em conta que abordavam aspectos tão pertinentes hoje como a rentabili‑ zação do potencial turístico de cada edifício, bem como a preser‑ vação dos centros históricos e da sua autenticidade. A Zagallo se poderá, igualmente, atribuir a noção (ainda que embrionária) de uma “rede de museus” em Portalegre, considerando a sua inten‑ ção de musealizar a (então) arruinada Igreja do Convento de São

be donated or sold to the Town Hall by the collectors themselves or their relatives. Although not all of them were from the city, through their donations or sales of their pieces they showed a recognition of an intrinsic historical value of the city in having chosen it and, in the final instance, its museum as the pole of attraction for experiences and individual aspirations. Of particular note in this connection are the collections of Dr. José António de Andrade Sequeira (oriental pieces and snuff boxes), of Emílio Castro (“ratinho” plates), of Dr. Laureano Sardinha (Arraiolos carpets, ceramic pieces, plates, also including some “ratinhos”), or that of Dr. José Nunes Serigado made up, amongst other objects, of Chinese and European porcelain cups. One of the most important names associated with the birth of the Municipal Museum of Portalegre was that of Dr. Cayola Zagallo, curator of Ajuda Palace in Lisbon between 1938 and 1964 who, after ceasing his functions there resided for a time in Portalegre. During this period, Zagallo edited a report where he outlined some new strategies to stimulate culture and tourism for the city, emphasising the new Municipal Museum, the Convent of São Bernardo and that of São Francisco6. His suggestions are, on many levels, quite contempo-

Inauguração do Museu Municipal, sem data (foto cedida por Filipe Caldeira).

rary, taking into account that he dealt with aspects which

Inauguration of the Municipal Museum, undated (photo provided by Filipe Caldeira).

are relevant nowadays such as the potential tourist profitability for each building, as well as the conservation of the historic centres and their authenticity. Zagallo would also equally provide the notion (albeit embryonic) of a “network of museums” in Portalegre, with it being considered that his contribution involved turning the (then) church of the Convent of São Francisco into a “museum”, working closely with the Municipal Museum and with the José Régio House/Museum. In his own words, the rehabilitation of São Francisco “\[…] besides being an

37

p.01_80.indd 37

14/06/06 20:34


Francisco colocando­‑a em estreita ligação com o Museu Munici‑ pal e com a Casa­‑Museu José Régio. Nas suas próprias palavras, a recuperação de São Francisco “[…] além de se tratar de uma obra altamente patriótica, sucede que o recinto em questão se encontra muito bem situado […] a dois passos da Casa­‑Museu José Régio e à beira da estrada da Serra. Quer isto dizer, que do ponto de vista turístico se reveste de igual modo de justificado interesse integrar o mencionado monumento, no número das principais atracções de Portalegre. […] Permito­‑me sugerir que a arruinada Igreja do citado Convento […] se converta num Museu que, a exemplo do que sucede com a Igreja das Mercês, em Évora, passaria a constituir um anexo do Museu Municipal. […] O que convém de momento, em nome dos mais sagrados interesses de Portalegre, é que este assunto tenha imediato andamento […]”7. Cayola Zagallo acabaria por se tornar num dos doadores do Museu Municipal ao legar vários objectos, essencialmente peças de mobiliário e cerâmicas destacando­‑se, contudo, uma Assunção da Virgem (MMP.1073/0038.P), pintada sobre latão e atribuída a Lorenzo Gramieri, pintura que serviu de modelo para o altar­ ‑mor da Sé de Elvas. Pertencem também à sua doação o conjunto de Virgens em terracota e de imagens de Santo António (cerâ‑ mica de Estremoz). Destaque ainda para Rui Serrano Nunes Sequeira (1933 ‑2000), cuja paixão pelo coleccionismo o levaria a reunir, já no final da vida, mais de 10 000 peças (imaginária e outros objectos artísticos) de diversas épocas e proveniências, das quais se desta‑ cam a sua colecção de imagens de Santo António, da Virgem e de Cristo Crucificado (a maior do Mundo nesta temática). As suas aspirações passavam por criar novos polos museológicos em Por‑ talegre, cidade que amou em extremo e da qual se viria a tornar destacado “embaixador”. Entre as colecções doadas ao Museu ou adquiridas pela Câmara Municipal conta­‑se ainda o espólio de pintura pertencente aos

extremely patriotic work, involves an enclosure extremely well situated \[…] a short distance from the José Régio House/Museum and by the side of the Serra road. What this means is that from the tourist point of view this in an equal manner justifies the interest in joining the aforementioned monument to the list of the main attractions of Portalegre \[…] Allow me to suggest that the ruined Church of the aforementioned Convent \[…] could be converted into a Museum which, following the example of the Igreja das Mercês, in Évora, could constitute an annex for the Municipal Museum. \[…] what is required therefore, in the name of the most sacred interests of Portalegre, is that this matter is dealt with forthwith \[…]”7. Cayola Zagallo ended up becoming a donator to the Municipal Museum and bequeathed it various objects, mainly pieces of furniture and ceramics and, in particular, an Assumption of the Virgin (MMP.1073/0038.P), painted in brass, and attributed to Lorenzo Gramieri, a painting which served as the model for the main altar of Elvas Cathedral. Also part of his bequest is the set of Virgins in terra cotta and images of Saint Anthony (ceramics from Estremoz). Of special note also was Rui Serrano Nunes Sequeira (1933?–?2000), whose passion for collecting led him to have brought together, by the end of his life, more than 10 000 pieces (sacred and other artistic objects) from various periods and locations, with special note for his collection of images of Saint Anthony, the Virgin and Christ on the Cross (the largest on this topic in the world). His aspirations included creating new museological branches in Portalegre, a city which he greatly loved and which he would be appointed as its “ambassador”. Among the collections donated to the Museum or purchased by the Town Hall is the collection of paintings belong

38

p.01_80.indd 38

14/06/06 20:34


artistas que durante a primeira metade do século XX fizeram de Portalegre sua residência. Alguns foram os protagonistas de um forte dinamismo cultural e intelectual da cidade, sendo de desta‑ car nomes como Abel Santos, Arsénio da Ressurreição, Benvindo Ceia, Lauro Corado ou ainda do portalegrense João Tavares, cuja colaboração com Guy Fino estaria na génese de diversas peças da Manufactura de Tapeçaria. É também de sublinhar a estadia em Portalegre de Manuel Trindade d’Assumpção, cuja morte precoce viria interromper a sua promissora evolução enquanto artista do movimento expressionista para o surrealista. O Museu Municipal de Portalegre assume­‑se, assim, como o herdeiro por excelência do passado histórico­‑artístico da cidade, representado nos bens provenientes de antigas casas religiosas, devendo, no entanto, o seu crescimento à generosidade de inú‑ meros cidadãos empenhados na defesa e na preservação do seu património. Após um longo período em que o museu se encon‑ trou encerrado e sujeito a uma profunda campanha de reabilita‑ ção, o espaço foi reaberto a 23 de Maio de 2012, com uma nova dimensão museológica devolvendo, assim, à cidade e aos seus habitantes uma parte significativa da sua identidade e da sua memória colectiva. notas

Cf. KEIL, Luís, Inventário Artístico de Portugal, Distrito de Portalegre, Lisboa, Academia de Belas Artes, 1943. 2 Cf. RODRIGUES, Jorge e PEREIRA, Paulo, Portalegre, (col. Cidades e Vilas dePortugal), Lisboa, Editorial Presença, 1988. 3 GAMA, Marta e MANTAS, Helena, “Seminário de Portalegre / Museu Municipal de Portalegre” in http://www.monumentos.pt, N. IPA PT041214090032, 2001 (consultado a 22 de Fevereiro de 2013). 4 GAMA, Marta e MANTAS, Helena, op. cit., 2001 (consultado a 22 de Fevereiro de 2013). 5 AN.TT., Arquivo Oliveira Salazar, Relatório sobre o Museu de Portalegre, Fl – 17B, Cx. 225, pt. 20, s.d. 1

Idem, op. cit., pp. 366­‑367.

6

to artists who during the first part of the 20th century made Portalegre their home. Some provided a major cultural and intellectual dynamism to the city, in particular names like Abel Santos, Arsénio da Ressurreição, Benvindo Ceia, Lauro Corado or also the actual resident João Tavares, whose collaboration with Guy Fino led to various pieces involving Tapestry Manufacture. Also of note was the time spent in Portalegre by Manuel Trindade d’Assumpção, whose early death would interrupt his promising evolution as an artist from the expressionist to the surrealist movement. The Municipal Museum of Portalegre can thus be seen as the inheritor par excellence of the city’s historical and artistic past, representing assets originating from former religious establishments but, however, owing its growth to the generosity of various collectors committed to the defence and the preservation of its patrimony. After a long period in which the museum was closed and underwent major rehabilitation works, it was re-opened on 23 May 2012, with a new museological dimension, thus restoring to the city and its inhabitants a significant part of its identity and its collective memory.

notas

1

Cf. KEIL, Luís, Inventário Artístico de Portugal. 1.º volume: Distrito de Portalegre, (Artistic Inventory of Portugal – Vol. 1 :Portalegre District), Academia Nacional de Belas Artes (National Academy of Fine Arts), 1943

2

Cf. RODRIGUES, Jorge & PEREIRA, Paulo, Portalegre, (col. Cidades e Vilas de Portugal – Col. Cities and Towns of Portugal), Lisbon, Editorial Presença, 1988.

3

GAMA, Marta & MANTAS, Helena, “Seminário de Portalegre / Museu Municipal de Portalegre” (“Portalegre Seminary / Municipal Museum of Portalegre) in http://www.monumentos.pt, N. IPA PT041214090032, 2001 (last accessed on 22 February 2013).

4

GAMA, Marta & MANTAS, Helena, op. cit., 2001 (last accessed on 22 February 2013).

AN.TT., Oliveira Salazar Archive, Report on the Portalegre Museum, Fl – 17B,

5

Cx. 225, pt. 20, s.d.

6

Idem, op. cit., pp. 366-367.

39

p.01_80.indd 39

14/06/06 20:34


O perdurar das colecções: aspectos da conservação Maintaining the collections: aspects of conservation

Luís Efrem Elias Casanovas INVESTIGADOR DO CITAR E DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PORTO RESEARCHER AT CITAR AND THE CATHOLIC UNIVERSITY OF OPORTO

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 40‑45, ISSN 1646­‑7116

p.01_80.indd 40

14/06/06 20:34


Estava já posta em causa a primazia das soluções mecâni‑ cas e dos valores universais para as condições-ambiente nos espaços museológicos quando abordámos o estudo do Museu Municipal de Portalegre pelo que importava, antes de mais, conhecer a colecção, o edifício, as suas características e o meio envolvente, para definir a eventual solução por forma a assegu‑ rar condições ambiente correctas e sustentáveis. Para tal, recor‑ remos ao registo da temperatura e humidade relativa interio‑ res procurando completar essa informação com dados fiáveis das condições exteriores, facultados pelos serviços do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, especialmente importantes para podermos interpretar certas anomalias ocasionais que se devem a uma inversão de subsidência1 originada pela localiza‑ ção da estação do Instituto, que se encontra a 597 m de alti‑ tude, superior à do Museu que é 479 m. Nestas circunstâncias, os valores da humidade relativa e da temperatura observadas no interior do Museu são diferentes dos que se observam em condições normais. Permanece no entanto, invariável a estabi‑ lidade dos valores. A título de exemplo, durante o mês de Agosto de 2000 a temperatura na Sala de Arte Sacra oscilou entre um mínimo de 22ºC e um máximo de 26ºC e a humidade relativa varia entre um mínimo de 35% e um máximo de 50%, não se verificando variações diárias superiores a 4%: nenhum equipamento elec‑ tromecânico pode assegurar estes valores mesmo recorrendo aos equipamentos mais sofisticados. A este respeito, permi‑ timo-nos uma citação e damos a palavra a Jonathan Ashley– Smith, especialista de reputação internacional, durante muitos anos responsável pelos serviços de conservação do Museu Vic‑ toria and Albert de Londres que escreveu: “É fácil afirmar que não haver flutuações é a situação ideal mas é ideal no sentido de ser inatingível. Se for autorizada a presença de pessoas no mesmo espaço em que se encontram os objectos, não há recurso

What has already been questioned has been the primacy of mechanical solutions and the establishing of universal values for environmental conditions within museological spaces and when considering the study of the Municipal Museum of Portalegre, it is most important before anything else, to get to know the collection, the building, its characteristics and the surrounding environment, so as to be able to specify any possible solution so as to ensure environmentally correct and sustainable conditions. Given this, the temperature and relative internal humidity were recorded and an attempt was made to supplement this information with reliable data concerning the external conditions, provided by the services of the Portuguese Institute for the Sea and the Atmosphere. It is particularly important to be able to interpret certain occasional anomalies which are due to an inversion of subsidence1 cause by the location of the Institute’s weather station, which is located 597 m above sea level, higher than the Museum which is 479 m above sea level. Under such circumstances, the values for relative humidity and relative temperature observed inside the Museum are different from those observed under normal conditions. There remains invariable, however, the stability of these values. As an example, during August 2000 the temperature of the Sacred Art room varied between a minimum of 22ºC and a maximum of 26ºC and the relative humidity varied between a minimum of 35% and a maximum of 50%, with there being no daily variation greater than 4%. No electromechanical equipment could ensure these values even if the most sophisticated equipment were to be utilised. In this respect it is worth quoting Jonathan Ashley– Smith, an internationally renowned specialist who for many years was responsible for the conservation services of the Victoria and

41

p.01_80.indd 41

14/06/06 20:34


Folha de termo higrógrafo. 2000.08.06. Hygrographic record sheet. 2000.08.06.

técnico e financeiro que permita assegurar um ambiente total‑ mente estável”2. Esta serena lucidez encontra eco justamente no Museu de Portalegre como prova o conjunto de folhas de termo higró‑ grafo que apresentamos em que são extremamente reduzidas as oscilações tanto da temperatura como da humidade relativa e, à data em que foram recolhidas, não estavam iniciados os trabalhos de correcção da estrutura, o público tinha acesso e os registos da Casa Museu de José Régio referem-se a uma estru‑ tura relativamente leve.

Albert Museum in London who wrote: “It is easy to state that the ideal situation would be for there to be no fluctuations but this is the ideal in the sense of being unattainable. If the presence of people is allowed in the same space as that containing the objects there is no financial and technical resource which can ensure a totally stable environment”2. This serene lucidity can certainly be echoed within the Museum of Portalegre, proof of which are the paper hydrographic readings reproduced here where the variations both in temperature and relative humidity have been consider-

42

p.01_80.indd 42

14/06/06 20:34


Folha de termo higrógrafo. 2000.08.13. Hygrographic record sheet. 2000.08.13.

Importa pois olhar para o que se passou nestes últimos anos no tocante à definição das condições ambiente nos espaços museoló‑ gicos em geral tomando como ponto de partida um texto publicado na The Getty Conservation Institute Newsletter “Passive Design, Mechanical Systems and Doing Nothing”3. Aí, Tim Padfield, defende a tese do recurso à inércia térmica da construção que já havia abordado nos Studies in Conservation4 e propõe “que não se faça nada”. Tendo em atenção as condições exteriores de Portale‑ gre, a solução preconizada de evitar a climatização convencional justificava-se plenamente, como aliás já referimos noutro local5.

ably reduced and the structural correction works had not been started, and on the day they were collected and the public had access, with the records of the José Régio House/ Museum referring to a relatively light structure. It is thus important to consider what has taken place in the last few years as far as the definition of environmental conditions in museological spaces has generally been concerned, taking as a point of departure a text published in The Getty Conservation Institute Newsletter “Passive Design, Mechanical Systems and Doing Nothing”3. There,

43

p.01_80.indd 43

14/06/06 20:34


Folha de termo higrógrafo. 2000.08.20. Hygrographic record sheet. 2000.08.20.

Entretanto, o conceito da sustentabilidade adquire cres‑ cente importância e em Abril de 2009 realiza–se em Londres uma conferência tendo como tema “Going Green: towards sustainability in conservation” na qual apresentamos, com o Professor Doutor Vasco Peixoto de Freitas, uma comunica‑ ção tendo como tema “The way to sustainability: the balance between outdoor climate and natural indoor climate”. Nesse texto apresentámos o caso do Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa como exemplo do “doing nothing” de Tim Padfield tendo como justificação o comportamento da estrutura e o nosso clima, onde os caracteres mediterrâ‑

Tim Padfield argues the thesis regarding the recourse to thermal inertia for the construction which he had considered in Studies in Conservation4 and proposed to “do nothing”. Given the external conditions in Portalegre, the solution argued to avoid conventional environmental control is fully justified, as has been argued elsewhere5. In the meanwhile, the concept of sustainability has acquired increasing importance and in April 2009 a conference was held in London entitled “Going Green: towards sustainability in conservation” where Professor Doutor Vasco Peixoto de Freitas and myself presented a paper enti-

44

p.01_80.indd 44

14/06/06 20:34


neos se vão atenuando, como escreveu, Orlando Ribeiro6, “esbatendo-se sob a pressão húmida e morna do grande sopro atlântico.” Assim, mais do que o respeito por normas oriundas de outras culturas, importa estudar a nossa realidade sem precon‑ ceitos, antes respeitando a nossa clara personalidade climática como propõe Juan Vilá Valenti7.

tled “The way to sustainability: the balance between outdoor climate and natural indoor climate”. In this text we presented as a case study the Historical Archive of the Santa Casa da Misericórdia in Lisbon as an example of Tim Padfield’s “doing nothing”, using as a justification our climate, where the Mediterranean features are mitigated, as Orlando Ribeiro6 wrote, “waning under the humid and warm pressure of the great Atlantic slipstream.” Thus, rather than respecting norms originating from

Notas

1

2

3 4

5

6

7

Ferreira, Professor H. Amorim – Apontamentos para uso dos estagiários para meteorologista, Serviço Meteorológico Nacional, Repartição Técnica, Tomo 1, 1954, p. 18. Risk Assessment for Object Conservation. Londres: Butterworth- Heineman, 1999, ISBN 075062853 7, p. 214. The Getty Conservation Institute Newsletter, vol. 22, no. 1, 2007, pp. 10-17. “How to design museums with a naturally stable climate” in Studies in Conservation, vol. 49, no. 2, 2004. Casanovas, Luis Efrem Elias – Conservação preventiva e preservação de obras de arte. Condições-ambiente e espaços museológicos em Portugal, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Dezembro 2008, pp. 166-170. Ribeiro, Orlando – Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico – Estudo geográfico. Coimbra Editora Lda., 1945, pp. 7. Valenti, Juan Vilá – La Península Ibérica. Ediciones Ariel, Barcelona, 1968.

other cultures, it is important to study our own reality without preconceptions, and firstly respect the clear climatic personality which we possess, as was proposed by Juan Vilá Valenti7.

Notes 1

Ferreira, Professor H. Amorim – Apontamentos para uso dos estagiários para meteorologista (Notes for the use of interns as meteorologists), Serviço Meteorológico Nacional (National Meteorological Report), Technical Report, Tomo 1, 1954, p. 18.

2

Risk Assessment for Object Conservation. London: ButterworthHeine-

3

The Getty Conservation Institute Newsletter, vol. 22, no. 1, 2007, pp. 10-17.

4

“How to design museums with a naturally stable climate” in Studies in

5

man, 1999, ISBN 075062853 7, p. 214.

Conservation, vol. 49, no. 2, 2004. Casanovas, Luis Efrem Elias – Conservação preventiva e preservação de obras de arte. Condições-ambiente e espaços museológicos em Portugal (Preventative Conservation and the preservation of works of art. Environmentconditions and museological spaces in Portugal), Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, December 2008, pp. 166-170.

6

Ribeiro, Orlando – Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico – Estudo geográfico (Portugal, the Mediterranean and the Atlantic - Geographical Study) Coimbra Editora Lda., 1945, pp. 7.

7

Valenti, Juan Vilá – La Península Ibérica (The Iberian Peninsula). Ediciones Ariel, Barcelona, 1968.

45

p.01_80.indd 45

14/06/06 20:34


O perdurar das colecções: inventariação e estudo Maintaining the collections: inventorying and study

Sónia Alves DIRECTORA DO MUSEU MUNICIPAL DE PORTALEGRE DIRECTOR OF THE MUNICIPAL MUSEUM OF PORTALEGRE

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 46‑49, ISSN 1646­‑7116

p.01_80.indd 46

14/06/06 20:34


margarida mendes: Aos catorze anos, quando vinha ter com a minha mãe, comecei a ver as peças a entrarem para o Museu vindas dos Conventos e de doações, foi por esta altura que se estava a instalar o Museu onde ainda hoje se encontra. Ouvia a explicação sobre as peças e a sua proveniência dada pelo Sr. Dr. Cayola Zagallo e, mais tarde pelo Sr. Dr. Padre Francisco Belo. Margarida Mendes: When I was fourteen years old, and I came here with my mother, I started to look at the pieces coming in to the museum coming from the Convents and donations and it was at this time that the museum was located to where it still is today. I heard the explanation about the pieces and their origin given by Dr. Cayola Zagallo and, later on, by Father Francisco Belo.

Os Museus são os fiéis depositários e os principais defenso‑ res de um património que é de todos. Entre as muitas tarefas de preservação da memória que estão cometidas aos Museus, uma das mais importantes é, sem dúvida, a inventariação das suas colecções. Em que consiste, então, esta tarefa de inventariar os objec‑ tos que constituem o acervo de um Museu? O que é, no fundo, a inventariação? Segundo a Lei nº. 107/2001 de 8 de Setembro, a inventariação consiste no levantamento dos bens culturais existentes, com vista à respectiva identificação. Já a Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus Portugueses – acrescenta que o inven‑ tário museológico consiste numa “relação exaustiva dos bens cul‑ turais que constituem o acervo próprio de cada Museu”, visando “a identificação e individualização de cada bem cultural”. Acres‑ centamos nós que só através deste trabalho de inventariação se torna possível garantir a correcta gestão e protecção do patrimó‑ nio à guarda dos Museus, daí se partindo para o seu estudo e pos‑ terior divulgação. Esta é, pois, uma das tarefas em que o Museu Municipal de Portalegre se tem vindo a empenhar desde 1989. Até essa data existia apenas um livro de Tombo onde se encontravam regis‑ tados alguns dos objectos que, já na altura, constituíam o seu acervo. Excepção honrosa era a colecção Antoniana de Hercu‑ lano Curvelo que, aquando da sua doação em 1985, se fez acom‑

Museums are the faithful holders and the main defenders of a patrimony that is everybody’s. Among the many tasks for the preservation of memory which are carried out in museums, one of the most important is, without a doubt, the inventorying of its collections. What then does this task of inventorying the objects which make up the collection of a Museum involve? What, in essence, is inventorying? According to Law No. 107/2001, of 8 September, inventorying consists of surveying existing cultural assets, with a view to their respective identification. Law number 47/2004 of 19 August – the Framework-Law for Portuguese Museums - adds that museological inventorying consists of an “exhaustive recording of cultural assets which constitute the actual complete collection of each Museum”, seeking “the identification and individualisation of each cultural item”. It should be added that only through this work of inventorying does it become possible to ensure the correct management and protection of patrimony under the protection of Museums, hence one starts from this study and later its dissemination. This is, therefore, one of the tasks that the Municipal Museum of Portalegre has been carrying out since 1989. Until that date there was only one book of Records where some of the objects were recorded which at the time constituted its holdings. An honourable mention was the Antho-

47

p.01_80.indd 47

14/06/06 20:34


panhar por um ficheiro onde constavam todos os objectos que a compunham. Em 1989, então, começam os trabalhos de inventariação das colecções do Museu Municipal. Inicialmente manuscrito, do inventário do seu património constavam apenas uns dados míni‑ mos de identificação das obras: o título, a descrição, as dimensões e a datação. Muita desta informação chegou-nos por via oral, atra‑ vés de antigos e actuais funcionários do espaço, que acompanha‑ ram o processo de incorporação dos objectos. Posteriormente, em meados da década de 90 iniciou-se a inven‑ tariação fotográfica do acervo, passo essencial para uma identifica‑ ção mais precisa e acurada dos objectos museológicos. Conscientes da importância crescente das novas tecnologias aplicadas à informação e a espaços de cultura como Bibliotecas e Museus, a informatização do inventário museológico surgiu como uma necessidade, sendo o passo a lógico a seguir. A infor‑ matização do inventário permitir-nos-ia uma agilização e facili‑ tação das tarefas, uma melhor organização na recolha e classi‑ ficação de dados, uma diversificação dos mesmos e uma maior rapidez no acesso à informação e seu tratamento, cumprindo assim um dos objectivos da missão dos Museus, documentar para preservar, permitindo simultaneamente uma melhor compreen‑ são do passado. Com a aquisição, em finais da década de 90, da aplicação de gestão integral museológica InARTE, foi-nos então possível iniciar a informatização do inventário já existente, dando-nos ainda a oportunidade de acrescentarmos informação comple‑ mentar, seguindo as Normas de Inventário preconizadas pelo então Instituto Português de Museus. Flexível e poliestruturada, a aplicação informática permitiu-nos a introdução de informa‑ ção a um ritmo próprio e tendo em atenção os conhecimentos que ao longo do tempo se foram adquirindo sobre os objectos inventariados. Num processo contínuo que sabemos nunca ter fim, ainda hoje se procede à introdução e actualização de dados nas fichas de inventário. Esta actualização permanente, feita ao ritmo dos

nian collection from Herculano Curvelo which, when it was donated in 1985, came with a file listing all of its contents. So in 1989 the work of inventorying the collections of the Municipal Museum began. Initially hand written, the inventorying of its patrimony consisted of only minimal data to identify works: the title, description, its sizes and its dating. Much of this information reached us orally, through former and current members of staff, who had accompanied the process of receiving the objects. Later, during the 1990s, the photographic inventorying of the holdings became an essential step towards a more scientific and accurate identification of the museological objects. Conscience of the growing importance of new technology as applied to information and cultural spaces such as Libraries and Museums, the digitalisation of the museological inventory became a necessity, and the next logical step to be taken. The digitalisation of the inventory would enable tasks to be more streamlined and facilitated, a better organisation in terms of collecting and classifying data, a diversification of these and a greater speed in accessing information and its processing, thus fulfilling one of the objectives of the mission of Museums, to document in order to preserve, while simultaneously allowing a better understanding of the past. With the acquisition, at the end of the 1990s, of the integrated museological software management system InARTE, it then became possible to start the digitalisation of the existing inventory, providing the opportunity to add supplementary information, according to the Inventorying Standards laid down by the then Portuguese Institute of Museums. Flexible and multi-structured, the software allowed information to be introduced at one’s own rhythm and took into account the knowledge which had been acquired over time regarding the inventoried objects. This was an on-going process that we knew would never end, and even today information is introduced and updated

48

p.01_80.indd 48

14/06/06 20:34


conhecimentos adquiridos, permite-nos uma história mais completa de cada um dos vários objectos que compõem a colec‑ ção do Museu Municipal de Portalegre, fazendo com que a transmissão desse conhecimento ao público seja cada vez mais completa e precisa.

in the inventory records. This on-going updating, carried out as information is obtained, enables a more complete history of each of the different objects which make up the holdings of the Municipal Museum of Portalegre, ensuring that the information communicated to the public is ever more complete and accurate.

antónio sequeira: Iniciei as minhas funções no Museu Municipal de Portalegre, como Técnico Auxiliar de Museo‑ grafia a 23 de Julho de 1986. Começo um processo de aprendizagem, de aquisição de conhecimentos sobre as peças do museu e a história da cidade, já em relação ao inventário desse mesmo espólio existiam dois livros de tombo, muito incompletos. Com a chegada de uma Técnica Superior, de uma nova chefia para os museus da cidade de Portalegre exis‑ tentes àquela data, inicia-se um processo manuscrito de inventariação (com a atribuição de número, título, descrição e medidas) de todas as colecções do Museu Municipal, para o qual foi necessária alguma investigação e contactos com diversos familiares ou pessoas que tinham conhecido a realidade da vida nos conventos. Em Junho de 1999 com a aqui‑ sição por parte da Câmara Municipal de Portalegre do programa informático “In Arte Plus”, inicia-se um novo ciclo na inventariação das colecções do Museu Municipal. Nesta altura, frequento acções de formação para uma adaptação a esta nova realidade. O inventário passa a ser muito mais completo, com uma diversidade enorme de campos, e um mais rápido acesso à informação que se pretende sobre qualquer peça. Em 2008 é adquirido o programa informático “In Arte Premium”, procedendo-se deste modo a uma actualização tecnológica na inventariação e gestão das colecções do museu. Ao longo destes anos foi-se procedendo, em paralelo, à inventariação fotográfica do espólio que evoluiu do papel e do slide para o digital, e para a qual também contribuí. Contrariamente ao inicial livro de tombo, hoje o inven‑ tário está devidamente informatizado e, todos os dias é acrescentada nova informação, num processo que não tem fim. António Sequeira: I started my functions at the Municipal Museum of Portalegre as an Assistant Museography Technician on 23 July 1986. I started a process of learning, of acquiring knowledge about the museum pieces and the history of the city, in regard to the inventorying of that same collection, and at that time there were two records books, which were very incomplete. With the arrival of a Graduate Technician, a new boss for the museums of the city of Portalegre which existed during that time, a handwritten process of inventorying was started (with the assignment of a number, title, description and measurements) of all the collections of the Municipal Museum, for which some research was necessary along with contacts with various family members or people who had known the reality of life in the convents. In June 1999, with the purchase by the Portalegre Town Hall of a computer software program “In Arte Plus”, a new cycle of inventorying the Municipal Museum collections was begun. At that time, I attended training sessions to adapt to this new reality. The inventory became more complete, with an enormous diversification of fields and greater access to information sought on any piece. In 2008 the software program “In Arte Premium” was purchased, and this led to some technological updating in the inventorying and management of the museum’s collections. Throughout these years there was a parallel process of a photographical inventorying of the holdings which developed from paper to slides to being digitalised, and to which I also contributed. Contrary to the initial archival book, nowadays the inventory has been duly digitalised and every day new information is added, in a never ending process.

49

p.01_80.indd 49

14/06/06 20:34


O perdurar das colecções: preparação para a exposição Maintaining the collections: preparations for the exhibition

Laura Portugal Romão CONSERVADORA RESTAURADORA DA FUNDAÇÃO ROBINSON CONSERVER AND RESTORER, ROBINSON FOUNDATION

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 50‑53, ISSN 1646­‑7116

p.01_80.indd 50

14/06/06 20:34


Momentos como este que o Museu Municipal viveu recente‑ mente, em que um espaço museológico se encontra encerrado ao público para obras de requalificação, são excelentes para tra‑ balhar o seu espólio, uma vez que todas as peças são retiradas do seu local de exposição sendo possível fazer uma profunda avaliação do seu estado de conservação e intervir ao nível da conservação e restauro sempre que se revele necessário. Do vasto núcleo que constitui o Museu, poucas peças foram intervencionadas anteriormente, registando-se apenas dois tratamentos no Instituto José de Figueiredo – relevo de São Bernardo, em madeira policromada e dourada do século XVIII, para integrar a XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura (Lisboa, 1983) e o relevo de Pietá, flamengo, em madeira policromada e dourada do século XVI, quando foi solicitado para ser exposto na Europália (Bélgica, 1991); em 2004 foi assinado um protocolo entre a Câmara Municipal e o Instituto Politécnico de Tomar, que possibilitou a intervenção de quatro pinturas, quatro esculturas e um conjunto de doze pequenos relevos em terracota policromada. A Fundação Robinson, através da Rede de Património, acompanhou o processo de desmontagem, trabalhos de con‑ servação e restauro realizados durante o período de obra e a remontagem do espaço. Assim que as peças foram retiradas do edifício iniciou-se o processo de desinfestação de pratica‑ mente todas as peças em madeira, uma vez que a presença de insecto xilófago, em muitos dos casos activo, era evidente. Dada a enorme quantidade de peças recorreu-se à desinfesta‑ ção por tecnologia de atmosfera controlada (CAT).1 Depois de anos em exposição, sem qualquer tipo de inter‑ venção, depois de terem estado em reserva durante os quatro anos de obra (2009-2012), era notório que muitas das peças necessitavam de intervenção. Assim, das 686 peças actual‑ mente expostas, 322 foram alvo de tratamento durante este

Moments such as the one which the Municipal Museum has recently passed through, in which a museological space was closed to the public for improvement works, are excellent for working on its holdings, given that all the pieces are removed from their place of exhibition and it is possible to carry out an in-depth assessment of their state of conservation and carry out conservation and restoration work whenever it is shown to be necessary. Out of the vast collection which makes up the Museum, few pieces have previously received attention, with only two records of work previously carried out at the Instituto José de Figueiredo – a relief of Saint Bernard, in multi-coloured gilded wood from the 16th century, to form part of the XVII European Exposition of Art, Science and Culture (Lisbon, 1983) and the Flemish Pietá relief, in multi-coloured gilded wood from the 16th century , when a request was received for it to form part of the exhibition at Europalia (Belgium, 1991). In 2004 a protocol was signed between the Town Hall and the Polytechnic Institute of Tomar, which enabled work to be carried out on four paintings, four sculptures and a set of twelve small reliefs in multi-coloured terra cotta. The Robinson Foundation, through the Patrimony Network, was involved in the dismounting, conservation and restoration works carried out during the works period and its remounting. As soon as the pieces had been removed from the building a process of disinfestation of practically all the wooden pieces was begun, since the presence of xylophagous insects, in many cases an active presence, was clear. Given the enormous quantity of pieces the disinfestation was carried out using controlled atmosphere technology (CAT).1 After many years of being exhibited, without any type of work done to them, and after having been kept in the Reserve collection for four years (2009-2012), it was clear that work

51

p.01_80.indd 51

14/06/06 20:34


was needed on many pieces. As such, out of the 686 pieces currently being exhibited, 322 were subject to treatment dur-

Bolhas de desinfestação. Disinfestation bubbles.

ing this period. While in some cases the treatment involved just a superficial cleaning, the application of a wax, the gluing of a break, in other cases it was necessary to carry out full conservation and restoration work. The most frequent pathologies were the accumulation of dust and dirt on practically the whole collection, loss of colour and lacerations in the upholstery of the chairs and canapés, the drying out of wooden elements, the darkening of varnishes and lacquers in the picture frames, detachment of colours, small breaks, opening of fissures and the lack of alignment of sculptural elements.

período. Se nalguns caso essa acção foi apenas uma limpeza superficial, a aplicação de uma cera, a colagem de uma frac‑ tura, outros casos houve em que foi necessário realizar um tratamento completo de conservação e restauro. As patologias mais recorrentes eram a acumulação de poeiras e sujidades aderentes em praticamente todo o espó‑ lio, perdas de cor e rasgões nos estofos das cadeiras e cana‑ pés, a desidratação de elementos de madeira, o escurecimento de vernizes e lacunas nas molduras das pinturas, destacamen‑ tos de policromias, pequenas fracturas, abertura de fendas e desunião de elementos de junta nas esculturas. Nenhum tratamento de conservação e restauro tem como objectivo restituir a aparência inicial de uma peça, o que é impossível e contraria a ética profissional, no entanto a cons‑ ciência da perspectiva de futuro e a necessidade de contem‑ plação obrigam-nos a Conservar e Restaurar as obras de arte para que se proceda à sua plena fruição. Assim o objec‑ tivo de uma intervenção de conservação e restauro, conscien‑ ciosa e respeitadora da obra deve ser uma intervenção essen‑ cialmente conservativa, regida por critérios de intervenção

No conservation and restoration process has the objective of restoring the initial appearance of a piece, which is impossible and against professional ethics. However, being aware of the perspective of the future and the need for study requires the Conservation and Restoration of works of art so that they can have their full fruition. Given that the objective

Espaço de trabalho de conservação e restauro.

of conscientious and respectful conservation and restoration

Working space for conservation and restoration.

52

p.01_80.indd 52

14/06/06 20:34


Pormenor da escultura da Nossa Senhora da Assunção antes, durante e depois do tratamento de conservação e restauro. Detail of the sculpture of our Lady of Assumption before, during and after treatment for conservation and restoration.

mínima e reversibilidade dos materiais e técnicas a utilizar de forma a retardar o processo de envelhecimento, restituindo à obra de arte a sua estabilidade química/física e a harmonia estética estritamente necessária para uma correcta interpre‑ tação e leitura da composição artística. Dada a imensa quantidade de peças, o tempo reduzido e a equipa limitada2 optou-se por realizar as operações urgen‑ tes, estabilizando as peças que se encontravam em risco, tra‑ vando o processo de degradação que algumas peças apresen‑ tavam, restabelecendo o seu equilíbrio de forma a poderem ser expostas. Deseja-se que este seja um trabalho de con‑ tinuidade, esperando-se concluir alguns tratamentos ini‑ ciados e realizar outros que embora não tão urgentes são essenciais. Notas

1

2

A desinfestação foi realizada pela empresa Rentokil, com o acompanhamento da Fundação Robinson e decorreu em 2009. Este método consiste na introdução das peças num ambiente selado de bolhas com atmosfera controlada, preenchidas com nitrogénio e dióxido de carbono. É um tratamento completamente seguro e limpo, que deixa os objectos desinfestados, imaculados e sem resíduos de qualquer natureza. Que contou com a preciosa colaboração dos então funcionários do Museu Sónia Alves, Margarida Mendes Carvalho, António Sequeira e dos voluntários Diogo Dias e Ana Serigado.

work must be an essentially conservative intervention, governed by criteria of minimum intervention and reversibility of the materials and techniques utilised so as to slow down the ageing process, restoring the work of art to chemical/ physical stability and the aesthetic harmony necessary for a correct interpretation and reading of the artistic composition. Given the immense quantity of pieces, the reduced time and limited team2, it was decided to carry out the most urgent operations, stabilising the pieces at risk, slowing the process of degradation that some pieces showed, and re-establishing their equilibrium so that they could be exhibited. It is hoped that this will be on-going work, and it is hoped to conclude some treatment processes which have been started and carry out others which, albeit not urgent, are nonetheless essential.

Notes

1

The disinfestation was carried out by the company Rentokil, and monitored by the Robinson Foundation and took place in 2009. This method consists of the introduction of the pieces within a sealed atmosphere of bubbles with a controlled atmosphere filled with nitrogen and carbon dioxide. It is a completely safe and clean process, which leaves the objects disinfested, immaculate and without any residues of any kind.

2

Which involved the precious collaboration at the time of staff from the Sónia Alves Museum, Margarida Mendes Carvalho, António Sequeira and the volunteers Diogo Dias and Ana Serigado.

53

p.01_80.indd 53

14/06/06 20:34


Linhas gerais para uma exposição de um Museu Municipal em Portalegre General guidelines for a municipal museum exhibition in Portalegre

António Camões Gouveia FCSH DA UNL E COORDENADOR CIENTÍFICO DA FUNDAÇÃO ROBINSON FCSH/UNL AND ACADEMIC COORDINATOR OF THE ROBINSON FOUNDATION

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 54‑61, ISSN 1646­‑7116

p.01_80.indd 54

14/06/06 20:34


As dimensões museológicas da renovação do Museu Municipal de Portalegre, em 2012, resultam de um diag‑ nóstico prévio que, uma vez desenhado em percurso e esta‑ bilizado museograficamente, obrigam a uma atitude cons‑ tante, mas não oportunista, de renovação, de acordo com os ritmos de Visitantes e as necessidades de afirmação de memória da comunidade municipal. Essas dimensões diagnosticadas, para o que muito con‑ tribuiram as discussões no grupo de Museologia da Funda‑ ção Robinson, constituído por António Camões Gouveia, António Filipe Pimentel, António Viana, Graça Filipe e João Carlos Brigola, consolidam­‑se em quatro pares de con‑ ceitos chave: fruição e interpretação; reserva e exposição; casas religiosas e coleccionadores; Portalegre e visitantes. Resultantes do dignóstico, estudo e apetrechamento técnico e objectual, aqui documentados e visíveis no espaço­‑Museu, construiu­‑se uma exposição que lhes cor‑ respondesse, ainda que faseada e com possibilidades dis‑ tintas de aferição e avaliação independente e futura. Deixemos mais consolidados em textos referenciais, e mais claros, mas complexificados, com os nossos comentá‑ rios, os conteúdos descritivos dos quatro pares enunciados.

The museological dimensions of the renovation of the Munic-

Fruição e interpretação lei quadro dos museus portugueses Capítulo I. Disposições gerais Artigo 3.º – Conceito de museu 1 ­‑ Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite: a) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá­‑los através da investigação, incor‑ poração, inventário, documentação, conservação, inter‑

Fruition and interpretation

ipal Museum of Portalegre in 2012, resulted from a prior diagnosis which, one the path had been laid out and had been museographically stabilised, required a constant, but not opportunistic, attitude of renovation, in accordance with the rhythms of the Visitors and the needs for the affirmation of the memory of the municipal community. These diagnosed dimensions, to which many people contributed in the discussions of the Museology group of the Robinson Foundation, which consisted of António Camões Gouveia, António Filipe Pimentel, António Viana, Graça Filipe and João Carlos Brigola, were based on four pairs of key concepts: fruition and interpretation; reserve and exhibition; religious establishments and collectors; Portalegre and visitors. Following the diagnosis, study and technical and object mapping, which is documented here and visible in the Museum-space, an exhibition was mounted which corresponds to this, albeit a phased one with distinct possibilities for its tuning and independent and future assessment. Below is a more consolidated and clearer, but more complex at the same time, description using referential texts, with commentaries, of the aforementioned four pairs.

framework law for portuguese museums Chapter I. General provisions Article 3 - Concept of museum 1 - A Museum is an institution of a permanent nature, with or without legal personality, non-profit, with an organisational structure which enables it to: a) Ensure a unitary destination for a set of cultural assets and increase their worth through research, incorporation, inventorying, documentation, conservation, interpretation, exhi-

55

p.01_80.indd 55

14/06/06 20:34


pretação, exposição e divulgação, com objectivos cientí‑ ficos, educativos e lúdicos; b) Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade. Capítulo II. Regime geral dos museus portugueses Secção II. Estudo e investigação Artigo 8.º Estudo e investigação O estudo e a investigação fundamentam as acções desenvolvidas no âmbito das restantes funções do museu, designadamente para estabelecer a política de incorpora‑ ções, identificar e caracterizar os bens culturais incorpora‑ dos ou incorporáveis e para fins de documentação, de con‑ servação, de interpretação e exposição e de educação1. Ir ao Museu é ter a sensação de nunca lá ter estado e a necessidade de estar sempre a voltar. Nesse sentido, tudo aquilo que se construiu navega numa estabilidade relativa de conhecimentos, é sempre necessário documentar mais e melhor, e apresenta­‑se de forma móvel e não imobilizada. Foi por aí que se criaram sintonias, hoje estas mas que amanhã poderão ser outras, se deixaram livres espaços, se inventaram mobiliários destacáveis e amovíveis. Mas fez­ ‑se mais. Deixou­‑se espaço para a renovação, como é o caso do acolhimento interpretativo, o espaço do Coleccionador ou aquele destinado às actividades do sistema educativo, que se quer alargado no espectro etário e de interesses e não fechado nas “escolas”. Em conformidade e numa atitude marcante consentiu­ ‑se num espaço natural de “conversa”, a cafetaria, de acesso directo de e para a rua, que pode avançar em aproximações a “não­‑públicos” evidentes a um espaço­‑Museu. A tentativa,

bition and dissemination, with scientific, educational and ludic purposes; b) Enable regular access to the public and foster the democratisation of culture, the promotion of people and the development of society.

Chapter II. General scheme for Portuguese museums Section II. Study and research Article 8 Study and research Study and research underpinned the activities carried out within the scope of the other functions of the museum, namely that of establishing the policy regarding incorporations, identifying and characterising the incorporated or incorporable cultural assets for the purposes of documentation, conservation, interpretation and exhibition and education1. Going to the Museum is having the sensation of never having been there and the need to always go back. In this sense, all Vista da Sala do Coleccionador, 2013. View of the Collector Room, 2013.

56

p.01_80.indd 56

14/06/06 20:34


Vista da cafetaria e da sala de exposições temporárias, 2013. View of the cafeteria and the temporary exhibition room, 2013.

claramente espacializada, num acesso imediato e de aco‑ lhimento, interliga­‑se com a zona expositiva temporária, aquela onde as realidades da comunidade local, a dos por‑ talegrenses, pode encontrar, agora e amanhã, aproximações mais imediatas às suas memórias, história e perspectivas de futuro. Reserva e exposição É hoje possível afirmar que o museu se transformou num alter­‑ego da cidade, enquanto o quotidiano urbano tendeu inversanente a “museificar­‑se”. Na verdade, a realidade cul‑ tural que fomos construindo, ao longo das últimas décadas, tornou­‑se progressivamente refém da exasperação de valo‑ res simbólicos e icónicos como o “património”, o “turismo” e o “espectáculo” — lembrando, de novo, Guy Debord e Hal Foster —, num processo que tudo “patrimonializa”, tudo “turistifica”, tudo “mediatiza”. Deste modo, a “museuma‑ nia” vem manifestando­‑se, cada vez mais, fora dos próprios museus. (...). Podemos, no entanto, encarar os museus num sentido completamente distinto, ou seja, não como lugares de entretenimento simulado, mas antes de “esquecimento criativo” como escreveu Andreas Huyssen; não como espa‑ ços para “encher” de peças de arte, mas apenas de “diferen‑ tes formas de vazio” — retomando a proposta de Robert Smithson —, nos quais cada criador ou cada visitante possa desenhar o seu próprio “mapa” cognitivo2. As colecções do Museu são expessas e muito variadas, tem muitos déficites de conservação e outros tantos de docu‑ mentação (investigação). Considerando todo este enquadra‑ mento a narrativa museológica não quis nem fugir às situ‑ ações de déficit, que podem ser provocadoras e capazes de gerar intervenção comunitária associativa ou individual, nem ignorar como parte integrante do Museu as suas reservas.

that has been constructed navigates within a relative stability of knowledge, and it is always necessary to document more and in a better way, and show its movable and immobilised form. It is here that the tuning is established, which is one thing today but tomorrow could be another, with spaces left free, with detachable and removable moveable entities. But more has been done. Space has been left for renovation, as is the case with the interpretative receptive area, the Collector space and that reserved for activities by the educational services, which wishes to extend the age range and interests and not just be limited to “schools”. In conformity and in a natural attitude a space for “conversation” is created - the cafeteria, with direct access from and to the street, which can move towards a “non-public” evident for a space-Museum. The clearly specialised attempt, within an immediate access and a reception area, linked with the temporary exhibition area, where the realities of the local community, that of Portalegre, may be found, but today and tomorrow, approximations are closer to their memories, history and future perspectives.

57

p.01_80.indd 57

14/06/06 20:34


As reservas são peça fundamental da programação museológica numa atitude de renovação permanente resultante da melhoria de estados de conservação, a pouco e pouco conseguidos, ou da necessidade de mudar, de recriar situações, de impor novas ginásticas aos olhares daqueles que estão fidelizados e aguçar aqueles dos que são Visitantes esporádicos. No Museu Municipal de Portalegre é evidente quanto a relação reserva­‑exposição é uma das variantes que mais profícua pode ser na criação de dinamismos em todo o equipamento na realização e cumprimento da sua missão.

Exemplo de peças expostas evidenciando os diferentes estados de conservação. Example of exhibited pieces showing the different states of conservation.

Reserve and exhibition

Casas religiosas e coleccionadores convenção­‑quadro do conselho da europa relativa ao valor do património cultural para a sociedade Título I. Objectivos, definições e princípios Artigo 1.º – Objectivos da Convenção As Partes na presente Convenção acordam em: • Reconhecer que o direito ao Património cultural é inerente ao direito de participar na vida cultural, tal como definido na Declaração Universal dos Direitos do Homem; • Reconhecer uma responsabilidade individual e colectiva perante o Património cultural; • Salientar que a preservação do Património cultural e a sua utilização sustentável têm por finalidade o desenvolvimento humano e a qualidade de vida; • Adoptar as medidas necessárias à aplicação do disposto na presente Convenção, no que se refere: ao papel do Património cultural na edificação de uma sociedade pacífica e democrática, bem como no processo de desenvolvimento sustentável e de promoção da diversidade cultural; a uma maior sinergia de competências entre todos os agentes públicos, institucionais e privados interessados3.

It is nowadays possible to state that the museum has been transformed into an alter ego of the city, while that of the daily urban has inversely tended to “musify itself”. In truth, the cultural reality in which we have been constructed, has throughout recent decades become progressively hostage to the exasperation of symbolic and iconic values such as “patrimony”, “tourism” and the “show” - recalling, once again, Guy Debord and Hal Foster—, in a process where everything has been “patrimonialised”, everything “touristified”, everything “mediatised”. In this way, “museumania” will show itself ever more outside of museums themselves (...). We may however consider museums in a completely distinct sense, that is, not as places of simulated entertainment, but rather as “creative forgetfulness”, as Andreas Huyssen wrote; not as spaces to “fill” with art pieces, but merely as “different forms of emptiness” — taking up once again Robert Smithson’s proposal —, where each creator and each visitor may design their own cognitive “map”2. The collections of the Museum are extensive and very varied, with many deficiencies in terms of conservation and others concerning documentation (research). Whereas within this framework the museological narrative does not wish to either run from situations of deficit, which may be provocative and capable of gen-

58

p.01_80.indd 58

14/06/18 10:25


Se se quiser, em poucas palavras, desenhar caracteri‑ zando as incorporações que levaram à constituição da Colec‑ ção do Museu Municipal, podemos usar o par de conceitos que agora afloramos: casas religiosas e coleccionadores. Num tempo, oitocentista com afirmação em início e meados do século XX, encontramos o mosteiro de São Bernardo, cisterciense, e o convento de Santa Clara, fran‑ ciscano, com mais algumas peças de cariz religioso ou para­‑religioso, devocional ou litúrgico sem grandes possi‑ bilidades de referência de origem. Foram agrupadas, ten‑ tando com elas criar narrativa a partir do mundo tão pró‑ prio e fechado de onde provinham. Doutro tempo, mais longo, pois ainda hoje em constru‑ ção, resultam as variadas e dispersas atitudes dos diferen‑ tes coleccionadores locais, disponíveis à doação e à espera de exposição. Se às primeiras se concedeu uma unidade narrativa, mais temática, as peças dos coleccionadores deixaram­‑se

erating individual or joint community action, or to ignore an integral part of the Museum, namely its reserves. The reserves are a fundamental aspect of museological programming within an attitude of on-going renovation resulting from improvement in states of conservation, gradually achieved, or the need to change, to recreate situations, to impose new gymnastics on those views that are loyal and sharpen those which are sporadic Visitors. In the Municipal Museum of Portalegre it is clear that the relationship between reserve-exhibition is one of the variants that is most useful to possibly create dynamisms in all the team in carrying out and fulfilling its mission.

Religious Establishments and Collectors framework-convention of the council of europe regarding the value of cultural patrimony to society Title I – Objectives, definitions and principles Article 1 – Objectives of the Convention The Parties to this Convention agree to:

Vista da exposição de arte sacra, 2013.

• Recognise that rights relating to cultural heritage are inher-

View of the sacred art exhibition, 2013.

ent in the right to participate in cultural life, as defined in the Universal Declaration of Human Rights; • Recognise individual and collective responsibility towards cultural heritage; • Emphasise that the conservation of cultural heritage and its sustainable use have human development and quality of life as their goal; • Take the necessary steps to apply the provisions of this Convention concerning: the role of cultural heritage in the construction of a peaceful and democratic society, and in the processes of sustainable development and the promotion of cultural diversity; greater synergy of competencies among all the public, institutional and private actors concerned3.

59

p.01_80.indd 59

14/06/06 20:34


If one wishes, in a few words, designing characterising the entry of the objects which lead to the formation of the Collection of the Municipal Museum we can use the pair of concepts which

Vista das caixas de rapé e xícaras em exposição, 2013. View of the snuff boxes and teacups exhibited, 2013.

are now in bloom: religious establishments and collectors. In a 19th century period, and affirmed at the start and during the 20th century, we find the Cistercian monastery of São Bernardo, and the Franciscan convent of Santa Clara, with some more pieces of a religious or para-religious, devotional or liturgical nature, with few possibilities to determine their origin. They were grouped trying thus to create a narrative from that world which is so sui generis and closed and from which they have come from. Another time, further away, yet still nowadays under construction, the result of varied and dispersed atti-

fluir no espaço, encontrar­‑se na contiguidade, sem as misturar, classificar ou organizar cronológica ou tematicamente. Aliás, criou­‑se logo na entrada do Museu, como uma importante e renovável montra de atitude de partilha de cultura de cidadania, um espaço dedicado ao Coleccionador que aqui já dispõe de peças incorporadas e aberto a intervenções de doação futura. A manutenção da orgânica espacial por pisos facilitou este trabalho, deixando verificar as variações e permitindo ao Visitante percursos isolados em cada uma das zonas de apresentação de cada um destes dois corpos expositivos.

tudes of different local collectors, willing to donate and hope for exhibition. If the former has provided a narrative unity, which is more thematic, the pieces of the collectors have been allowed to flow in space, finding themselves to be contiguous, without mixing, classifying or organising them chronologically or thematically. As such a space has been created right at the entrance of the Museum, as an important and renewable shop window of attitude and sharing of cultural citizenship, a space dedicated to the Collector where one sets out incorporated pieces open to interventions from future bequests. The maintenance of the spatial organics by floors has facili-

Portalegre e visitantes As abordagens próximas do território e dos seus recursos tendem a constituir­‑se como um estímulo à diversidade cultural, assim como, a proximidade espacial entre vários recursos turísticos, culturais e patrimoniais podem potenciar a constituição de clusters nas áreas do turismo e do lazer, afirmando­‑se como ofertas diferenciadoras dos destinos turísticos. (...). A cultura tem ganho uma dimensão

tated this work, to allow the variations to be verified and allow the Visitor isolated perusal of each one of the areas presenting each one of these two exhibition embodiments.

Portalegre and visitors Approaches close to the land and its resources tend to constitute themselves as a stimulus for cultural diversity, as well as, in the spatial proximity between different tourist, cultural and patri-

60

p.01_80.indd 60

14/06/18 10:25


estratégica e os museus, não raramente, promovem activi‑ dades com grande potencial de atracção turística que estão na base de economias locais e regionais. Na actualidade, os turistas representam uma parte importante das visi‑ tas aos museus, tornando­‑se, em alguns casos, uma per‑ centagem expressiva do seu público. O reconhecimento da importância da sustentabilidade cultural já foi apreendido pelo turismo cultural e os agentes do turismo estão hoje conscientes que o futuro da indústria turística depende da protecção e preservação dos recursos ambientais, patrimo‑ niais e culturais de cada região4. Os textos anteriores deixam­‑no vir sucessivamente ao de cima: estamos num Museu Municipal e, por isso, Portale‑ gre, para os de Portalegre, e Portalegre para os Visitantes, tem de ser, e procurou­‑se que fosse, a marca de toda esta releitura do edificado e da Colecção do Museu. O centro inerpretativo, colocado logo na zona de acolhimento, terá como função primeira manter clara esta relação Colecção/ paisagem­‑municipal.

monial resources one can strengthen the constitution of clusters in the area of tourism and leisure, stating them to be differentiating offers of tourist destinies (...). Culture has taken on a strategic dimension and the museums, not uncommonly, promote activities which a great potential for tourist attraction which are at the base of local and regional economies. In fact, tourists represent an important part of museum visits, and in some cases represent a significant percentage of its public. The recognition of the importance of cultural sustainability has already been taken on board by cultural tourism and tourism stakeholders are nowadays aware that the future of the tourist industry depends on the protection and preservation of the environmental, patrimonial and cultural resources of each region4. The texts above have led this to successively rise to the top: we are in a Municipal Museum and, therefore, Portalegre, for those of Portalegre, and Portalegre for the Visitors, this has to be, and it was intended to be so, the mark of all this rereading of the building and the Collection of the Museum. The interpretative centre, located right in the reception area, will have as its primary function to make this Collection /municipal landscape relationship clear.

notas

1

2

3

4

Lei n.º 47/2004. Lei Quadro dos Museus Portugueses. Diário da República I Série­‑A, n.º 195 de 19 de Agosto de 2004. Nuno GRANDE – Introdução. Museumania. Museus de hoje, modelos de ontem. Lisboa: Jornal Público / Fundação de Serralves, 2009, p. 14. Resolução da Assembleia da República n.º47/2008. Convenção­‑Quadro do Conselho da Europa relativa ao valor do Património cultural para a sociedade. Diário da República I Série, n.º 177 de 12 de Setembro de 2008. Alexandra Rodrigues GONÇALVES – Museus e Turismo: que experiências? Breve reflexão. ICOM Portugal. Informação. Lisboa: ICOM Portugal, 2009, série II, n.º4, Mar­‑Maio, p. 3.

notes

1

Law No. 47/2004. Lei Quadro dos Museus Portugueses (Framework-Law for Portuguese Museums). Diário da República I Série-A, No. 195 19 August 2004.

2

Nuno GRANDE – Introdução. Museumania. Museus de hoje, modelos de ontem. (Introduction. Museumania. Museums today, models of yesterday). Lisbon: Jornal Público / Fundação de Serralves, 2009, p.14.

3

Resolution of Parliament No.47/2008. Framework-Convention of the Council of Europe regarding the value of Cultural Patrimony to society. Diário da República I Série, No. 177, 12 September 2008.

4

Alexandra Rodrigues GONÇALVES – Museus e Turismo: que experiências? Breve reflexão. (Museums and Tourism: what experiences? Short reflection) ICOM Portugal. Information. Lisbon: ICOM Portugal, 2009, série II, No. 4, Mar-May, p. 3.

61

p.01_80.indd 61

14/06/06 20:34


Um espaço-património e muitas colecções A heritage space and many collections

Teresa Nunes da Ponte ARQUITECTA ARCHITECT

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 00‑00, ISSN 1646­‑7116

p.01_80.indd 62

14/06/06 20:34


As obras realizadas procuraram evidenciar os valores essenciais do edificado e aproximar a construção da sua constituição inicial. Os espaços abertos, amplos e luminosos, e os volumes ampliados, pretendiam proporcionar uma grande liberdade de exposição e abrir caminhos para a valorização das peças. A renovação é indissociável da museologia e museografia. Em conjunto com a coordenação científica da Fundação Robinson, António Camões Gouveia com o apoio de Patrícia Monteiro, a equipa de conservação e restauro da Fundação, essencialmente Laura Portugal Romão, em contacto com a equipa do museu, Sónia Alves, Margarida Mendes Carvalho e António Sequeira, fez-se a distribuição dos vários núcleos e conjuntos expositivos, tendo em vista diferentes ambien‑ tes e “cenários”. Procedeu-se apenas ao seccionamento indispensável, e ao obscurecimento de algumas áreas para melhor destacar, e sacralizar, algumas obras ou conjuntos de peças. Pretendia-se que a museografia permitisse deixar apreen‑ der a arquitectura do edifício e a sua relação com o exterior. Assim, optou-se por criar um sistema autónomo da cons‑ trução envolvente. O novo sistema é constituído por paredes de suporte junto às paredes exteriores, sempre interrom‑ pido junto às janelas criando frestas de leitura para apre‑ ensão do existente. Fazem ainda parte do sistema outras paredes, apostas aos membos das paredes centrais da cons‑ trução, no sentido longitudinal, enfatizando a leitura dos volumes espaciais nesta direcção. As paredes expositivas têm altura inferior ao pé direito dos espaços, deixando visível o encontro entre os planos verticais com os tectos da construção, de forma a melhor se autonomizar do edificado, que funciona como um invólucro omnipresente1.

The works carried out sought to show the main features of the building and get closer to its original construction. The open, ample and luminous spaces, and the extended volumes, were intended to provide major freedom of expression and open up ways of highlighting the pieces. The renovation is inseparable from museography and museology. Working with the scientific coordination of the Robinson Foundation, António Camões Gouveia with the support of Patrícia Monteiro, the conservation and restoration team of the Foundation, principally Laura Portugal Romão, in contact with the museum team, Sónia Alves, Margarida Mendes Carvalho and António Sequeira, the distribution of the various core areas and exhibitional groups was undertaken, taking into account the different ambiences and “scenarios”. Then an essential division was carried out, with some areas being darkened in order to better highlight, and sanctify, some works and groups of pieces. What was intended was that the museography would allow itself to be held by the architecture of the building and its relationship with the exterior. Thus the option was taken to create an autonomous system of evolving construction. The new system consists of support walls alongside the exterior walls, which are always interrupted at the windows to create reading nooks to hold what is present there. They also form part of the system and other walls, based on both of the central walls of the building, in the longitudinal sense, emphasising the reading of the spatial volumes in this direction. The exhibitional walls have a lower height on the right side of the spaces, and show the meeting of the vertical planes with the building’s ceilings, in order to provide more autonomy for the building, which functions as an omnipresent envelope1.

63

p.01_80.indd 63

14/06/06 20:34


A entrada nos pisos, a partir da escadaria central que define o eixo transversal do edifício, proporciona um efeito surpresa de visualização imediata de grande parte das peças das colecções, devidamente hierarquizadas através da sua distribuição e iluminação. Os pontos de vista entre os suportes expositivos desper‑ tam a curiosidade para prosseguir o percurso. Criam-se áreas densas e outras em que as peças estão espaçados entre si, num efeito de cheio e vazio, de inspi‑ ração barroca, característica de grande parte do espólio do museu. Optou-se pela utilização de suportes expositivos de desenho muito depurado, paredes suporte, como já refe‑ rido, plintos e vitrines simples, pintados em cores suaves, por piso, propositadamente discretos de forma a evidenciar a qualidade das peças. Alguns pormenores e acabamentos dos suportes foram pensados para promover a leveza de expressão, e assim contribuir para o enriquecimento dos objectos que ser‑ vem. Os topos das paredes e dos estrados são sempre sota‑ dos para melhor revelar a dimensão, a robustez ou a beleza das peças. A visita inicia-se no piso térreo, junto à recepção e no enfiamento lateral da entrada principal, pelo centro inter‑

The entry to the floors, through the central staircase which defines the transversal axis of the building, provides a surprise effect of the immediate taking in of most of the pieces of the collections, suitably hierarchised through their distribution and lighting. The points of view between the exhibitional supports awaken one’s curiosity to peruse. Dense areas have been created and others in which the pieces are spaced between themselves, in an effect of plenitude and emptiness, of Baroque inspiration, characteristic of a large part of the holdings of the museum. The use of exhibitional supports with a very clear design has been chosen, as has already been mentioned, involving plinths and simple glass panes, painted in suave colours, by floor, deliberately discrete in such a way as to show off the quality of the pieces. Some of the details and finishings of the supports were thought of so as to promote lightness of expression and thus contribute to the enrichment of the objects which they serve. The ends of the walls and the platform show off the size, the robustness and the beauty of the pieces. The visit starts on the ground floor, by the reception and in the lateral row of the main entrance, by the interpretative centre, around the image of the historical centre. It

Projectos onde foi adoptada a mesma filosofia de intervenção usada no Museu de Portalegre: museu e núcleos expositivos da Casa de Mateus; exposição Sede e Museu Gulbenkian: a arquitectura dos anos 60; exposição L’Hotel Gulbenkian, 51, Avenue D’Iena. Memória do Sítio. Projects where the same intervention philosophy used in the Portalegre Museum was adopted: Casa de Mateus Foundation; exhibition Gulbenkian Headquarters and Museum – the architecture of the 1960s; exhibition L’Hotel Gulbenkian, 51, Avenue d’Iéna: Memory of the Site.

64

p.01_80.indd 64

14/06/06 20:34


Planta do piso 1. Museografia. Floor 1 plan. Museography.

Planta do piso 2. Museografia. Floor 2 plan. Museography.

65

p.01_80.indd 65

14/06/18 10:25


pretativo, em volta da imagem do centro histórico. Conta-se a história do museu e da sua génese, que em parte se con‑ funde com a história da própria cidade, contextualizando o percurso expositivo Do outro lado, a nascente, e visível da entrada, a área atribuída ao coleccionador e às doações do museu, permite a rotatividade de peças em destaque, alimenta a expecta‑ tiva para a visita e revela as origens do espólio. Uma parede suporte no enfiamento da entrada e um plinto suportam as peças em mostra. A exposição permanente distribui-se pelos dois pisos principais, com a imaginária proveniente dos conventos e igrejas da cidade no primeiro piso e o mobiliário e artes móveis no segundo piso. Entendeu-se dar relevo às peças mais emblemáticas dos núcleos colocando-as nas áreas centrais dos pisos, junto à entrada, como acontece com o tríptico do Convento de Santa Clara e a Pietá do Convento de São Bernardo no pri‑ meiro piso, ou ainda o contador indo-português da colecc‑ ção do Dr. José d’Andrade Sequeira e a Natureza-morta com aves, de Jean-Baptiste Weenix, no segundo piso. Criaram-se também enfiamentos e colocaram-se conjuntos de grande relevo nos topos, de forma a promover a sua visibilidade. Concentraram-se objectos, dispondo-os cenicamente no espaço para valorizar a sua leitura. No primeiro piso, a imaginária convive com um ambiente obscurecido, onde a iluminação cénica contribui para a cria‑ ção de momentos de exaltação num ambiente sereno, no qual as peças se destacam. A pintura é sempre suspensa em paredes suporte junto às paredes existentes. A estatuária sobre plintos de diversas alturas é distribuída por conjuntos. O mobiliário assenta em estrados, tendo paredes posteriores de apoio.

tells the history of the museum and its birth, which in part is intertwined with the history of the city itself, and thus contextualises the route through the exhibition. On the other side, to the east and visible from the entrance, is the area given over to the collector and the museum donations, enabling the pieces being highlighted to be rotated, providing a taster for the visit and showing the origins of the catalogue. A support wall in the entrance row and a plinth support the pieces on display. The permanent exhibition is distributed throughout two main floors, with the sacred images originating from the convents and churches of the city on the first floor and the furniture and mobile arts on the second floor. It was decided to emphasise the more emblematic pieces of the core areas by placing them in the central areas of the floors, by the entrance, as is the case with the triptych from the Convent of Santa Clara and the Pietá from the Convent of São Bernardo on the first floor, or also the Indio-Portuguese counter from the collection of Dr. José d’Andrade Sequeira and the still-life with birds, from Jean-Baptiste Weenix, on the second floor. Rows were also established with groups of major import placed at the ends, so as to promote their visibility. Objects were concentrated, arranging them scenically in the space to highlight their reading. On the first floor, the sacred images are presented in a darkened setting, where the scenic lighting contributes to creating moments of exaltation within a serene ambience, in which the pieces stand out. Paintings are always hung on support walls alongside existing walls. Statues on plinths are distributed at various heights and in groups. The furniture is placed on platforms, with back walls as support.

66

p.01_80.indd 66

14/06/06 20:34


Cortes longitudinais. Piso 1. Museografia. Longitudinal Sections. Floor 1. Museography.

Cortes longitudinais. Piso 2. Museografia. Longitudinal Sections. Floor 2. Museography.

À entrada no piso a distribuição dos conjuntos de peças pretende deslumbrar o visitante logo à chegada. Os eixos visuais para um lado e outro, no sentido longitudinal, com a ourivesaria nos corredores centrais, e o sacrário proveniente do Convento de São Bernardo de um lado e o conjunto de oratórios de outro, nos topos da sala, convidam ao percurso. Outros pontos de interesse pontuam os espaços, como o armário renascença e alguma pintura. Alguns conjuntos enquadram e encantam pela sua beleza simples,

The distribution of sets of pieces at the entrance to the floor seeks to dazzle the visitor immediately upon arrival. The visual axes from one side and the other, in the longitudinal sense, with the gold jewellery in the central aisles, and the tabernacle from the Convent of São Bernardo on one side and the set of oratories on the other, at the ends of the room, invite you to peruse. Other points of interest punctuate the space, such as the Renaissance cabinet and a particular painting. Some sets frame and enchant through

67

p.01_80.indd 67

14/06/17 09:08


Vistas da exposição de arte sacra, 2013. View of the sacred art exhibition, 2013.

68

p.01_80.indd 68

14/06/06 20:34


Vistas da exposição de mobiliário e artes móveis, 2013. View of the furniture and mobile arts exhibition.

caso do conjunto de colunas de altar junto ao órgão de Santa Clara. No acesso ao elevador, excêntrico ao percurso, uma peça em restauro chama a atenção para aspectos da conservação. No segundo piso dedicado ao mobiliário e artes móveis o ambiente é claro, as portadas estão entreabertas, o volume da cobertura é apreendido através dos tectos e o lanternim deixa entrar alguma luz natural, que envolve o mobiliário, a faiança, a porcelana e a pintura. Após a entrada, que constitui uma introdução das colec‑ ções a visitar, apreende-se no corpo central da sala e para ambos os lados, em estrados, o mobiliário disposto por tipologias, cómodas, e mesas e canapés numa fila dupla central, e cadeiras junto às paredes longitudinais. A pintura mostra-se junto às paredes, perimetralmente. Nos topos da sala e distribuindo-se no sentido trans‑ versal, apresentam-se de um lado a colecção de pratos rati‑ nhos e de faianças, que fecha o edifício, e do outro, em vitrines nas paredes, as colecções de xícaras de porcelana e

their simple beauty, as is the case with the set of altar columns alongside the organ from Santa Clara. At the access to the lift, off the route, a piece being restored calls attention to the conservation aspects. On the second floor dedicated to the furniture and mobile arts the atmosphere is clear, the shutters are open, with the full roofing viewed through the ceilings and the skylight and the letting in of some natural light, to surround the furniture, the faience, the porcelain and the paintings. After the entrance, which constitutes an introduction to the collections to be visited, one can see in the central body of the room and on both sides, on platforms the furniture arranged according to type, commodes, and tables and canapés in a central double row, and chairs along the longitudinal walls. Paintings are hung on the walls around the perimeter of the floors. At the ends of the rooms and distributed in a transversal sense, are on one side the collection of ratinhos plates and faience, which closes the building, and on the other, in

69

p.01_80.indd 69

14/06/06 20:34


Vista da sala de exposições temporárias, 2013. View of the temporary exhibitions room, 2013.

70

p.01_80.indd 70

14/06/06 20:34


de leques; num conjunto extenso de duas linhas de vitrines horizontais, mostra-se a colecção de caixas de rapé. Deste lado, cria-se um núcleo de pintura de Portalegre que inclui ao centro a apresentação de tapetes de Arroiolos. As cores utilizadas são serenas, marfim e cinza, ora para abrir os tons da estatuária, do ouro e da prata, ora para realçar os materiais dos objectos e das louças. Na sala de exposições temporárias, paredes expositi‑ vas compostas de painéis amovíveis permitem diversas composições. A primeira exposição, sobre os pintores de Portalegre, mostra a pintura temática enchendo as paredes, com uma disposição essencialmente estética, que pretende fazer a festa da cidade. No piso térreo, junto ao centro interpretativo, colo‑ cou-se o primeiro automóvel que circulou em Portalegre, peça estimada na cidade que pode ser apreendida a par‑ tir da entrada através das portas de vidro, num eixo visual importante. No logradouro dispõem-se as balas de canhão, prove‑ nientes do espólio do museu, e uma bica de pedra retoma as suas funções no tanque do pátio. A janela gótica proveniente do Convento de Santa Clara, outrora alojada no pátio do museu, mostra-se agora no seu contexto inicial, em espaço aberto na cerca desse convento. O mobiliário da loja e da cafetaria, ora maciço e pintado nas cores da construção, em cinza ou ocre, ora em vidro e aço de expressão depurada, constituem-se como extensão dos suportes da exposição. A sinalética integra-se no conjunto com a mesma lin‑ guagem, em transparência sobre as portas de vidro, ou em suportes à cor das paredes na exposição.

glass show cases on the walls, the collections of porcelain cups and fans; the collection of snuff boxes is shown in an extensive set of two lines of horizontal glass show cases. On that side a core of paintings has been created of Portalegre which includes in the centre the presentation of the carpets from Arroiolos. The colours used are serene, ivory and grey, sometimes to open up the tones of the statuary, of gold and silver, sometimes to emphasise the materials of the objects and the crockery. In the temporary exhibition room, exhibition walls made up of movable panels allow for different configurations. The first exhibition, on the painters of Portalegre, shows the themed painting filling the walls, with an essentially aesthetic layout, which seeks to celebrate the city. On the ground floor, near the interpretative centre, the first automobile to circulate in Portalegre has been placed, a piece cherished in the city and which can be viewed from the entrance through the glass doors, in a visually important axis. The courtyard, a decompression space, has cannon balls, from the museum’s collection, and a stone fountain. The Gothic window originating from the convent of Santa Clara, formerly housed in the courtyard of the museum, is now shown in its initial context, in an open space in the enclosure of this convent. The furniture of the shop and the cafeteria, is sometimes solid and painted in the colours of the construction, in grey or ochre, sometimes in glass and steel with a clean expression to form an extension of the exhibition supports. The signage is included in this set using the same language, transparent on the glass doors, or on coloured backgrounds on the walls in the exhibition.

71

p.01_80.indd 71

14/06/06 20:34


O logo do museu reinterpreta a espiral, decoração junto ao frete, da cerâmica dos pratos ratinhos e retoma as cores do conjunto, ocre e cinza. Ao longo dos vários anos que a renovação do museu compreendeu, a equipa foi recebendo muitos contribu‑ tos, destacando-se Karolinne Alves em todo o processo da obra e da museografia, Ana Cristina Pais, António Filipe Pimentel, António Viana, Graça Filipe e João Car‑ los Brigola, e a consultoria de José Silva Carvalho nas fases iniciais do projecto; o acompanhamento da presi‑ dente da Câmara Municipal, Maria Adelaide Teixeira e,

The logo of the museum reinterprets the spiral, a decoration alongside the ceramics of the ratinho plates and with the

Vistas da exposição de arte sacra. View of the sacred art exhibition, 2013.

ochre and grey colours of the set. Throughout the many years in which the renovation of the museum took place, the team received many contributions, and particularly of note being those of Karolinne Alves throughout the works and the museography, Ana Cristina Pais, António Filipe Pimentel, António Viana, Graça Filipe and João Carlos Brigola, and the consultancy of José Silva Carvalho in the initial stages of the project; the monitoring of the project by the mayor of the Town Hall, Maria Ade-

72

p.01_80.indd 72

14/06/06 20:35


da Fundação Robinson, Alexandra Carrilho, bem como dos anteriores responsáveis pelo projecto; os anteriores presidente José Mata Cáceres e vereadores Luís Pargana e José Polainas e, ainda, na arquitectura paisagista, Luís Paulo Ribeiro e, no design gráfico, Luís Moreira e Pedro Gonçalves.

laide Teixeira and, from the Robinson Foundation, Alexandra

nota

note

1

Conforme referenciado em legenda, adoptámos a mesma filosofia de inter‑ venção em alguns projectos, nomeadamente no museu e biblioteca e espa‑ ços expositivos da Casa de Mateus, 2001. Trata-se de um exemplo em que a arquitectura merece um relevo particular e uma atenção tão importante quanto a mostra das peças. Referem-se também as exposições Sede e Museu Gulbenkian: a arquitectura dos anos 60, 2006, e L’Hotel Gulbenkian, 51, Avenue D’Iena. Memória do Sítio, 2011, comissariadas por Ana Tostões e Teresa Nunes da Ponte, respectivamente, em que os edifícios e a construção inte‑ gram a própria exposição.

Carrilho, as well as those previously responsible for the project; the former mayor José Mata Cáceres and the councillors Luís Pargana and José Polainas and, also, as regards the landscape architecture, Luís Paulo Ribeiro and, concerning graphic design, Luís Moreira and Pedro Gonçalves.

1

The same intervention philosophy was adopted in some projects, namely the museum and library and exhibitional spaces of the Casa de Mateus, 2001. This is an example where the architecture deserves particular emphasis and as much attention as that given to the exhibition of the pieces. Reference can also be made to the exhibitions Gulbenkian Headquarters and Museum the architecture of the 1960s, 2006, and L’Hotel Gulbenkian, 51, Avenue D’Iena. Memory of the Site, 2011, commissioned by Ana Tostões and Teresa Nunes da Ponte, respectively , in which the buildings and the construction form part of the actual exhibition.

bibliografia

bibliography

PEREIRA, João Castel-Branco (coordenação), Os ratinhos: faiança popular de Coimbra (catálogo de exposição), Museu Nacional do Azulejo, Instituto Português de Museus, 1998. PONTE, Teresa Nunes da (comissária), LEITE, Fernanda Passos e DIAS, João Car‑ valho (coordenação), L’Hotel Gulbenkian, 51, Avenue d’Iéna: Memória do Sítio (catálogo de exposição), Lisboa: Centre Culturel Calouste Gulbenkian, 2011. RIBEIRO, Agostinho (co-autor); LOBO, Albano da Costa, A Casa de Mateus (roteiro),

PEREIRA, João Castel-Branco (editor), Os ratinhos: faiança popular de Coimbra -

Vila Real: Fundação da Casa de Mateus, 2006. SEQUEIRA, Susana de Almeida, Porcelanas do Oriente ao Ocidente. Colecção do Museu Municipal de Portalegre, Caleidoscópio, Fevereiro 2007. TOSTÕES, Ana (ensaios/concepção e coordenação), Sede e Museu Gulbenkian:

a arquitectura dos anos 60 (catálogo de exposição), Fundação Calouste Gulbenkian, Serviço de Belas Artes, Lisboa, 2006.

catálogo de exposição (The ratinhos - popular faience from Coimbra - exhibition catalogue), National Tile Museum, Portuguese Institute of Museums, 1998. PONTE, Teresa Nunes da (commissioner)), LEITE, Fernanda Passos & Dias, João Carvalho (co-ordination), L’Hotel Gulbenkian, 51, Avenue d’Iéna: Memória do Sítio - catálogo de exposição (Memory of the Site - exhibition catalogue), Lisbon: Calouste Gulbenkian Cultural Centre, 2011. RIBEIRO, Agostinho (co-author); LOBO, Albano da Costa, A Casa de Mateus roteiro (The House of Mateus - itinerary), Vila Real: Casa de Mateus Foundation, 2006. SEQUEIRA, Susana de Almeida, Porcelanas do Oriente ao Ocidente (Porcelain pieces from the East to the West). Colecção do Museu Municipal de Portalegre (Collection of the Municipal Museum of Portalegre), Edição Caleidoscópio, February 2007. TOSTõES, Ana (essays/conception and co-ordination), Sede e Museu Gulbenkian: a arquitectura dos anos 60 - catálogo de exposição (Gulbenkian Headquarters and Museum - the architecture of the 1960s - exhibition catalogue), Calouste Gulbenkian Foundation, Fine Arts Service, Lisbon, 2006.

73

p.01_80.indd 73

14/06/06 20:35


Ficha técnica da obra e da exposição Technical credits for the works and the exhibition

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 74‑75, ISSN 1646­‑7116

p.01_80.indd 74

14/06/06 21:30


C Â M A R A M U N I C I PA L D E P O R TA L E G R E PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PORTALEGRE | MAYOR OF THE PORTALEGRE TOWN HALL

José Fernando da Mata Cáceres PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA FUNDAÇÃO ROBINSON | CHAIRPERSON OF THE BOARD OF ADMINISTRATION OF THE ROBINSON FOUNDATION

Maria Adelaide de Aguiar Marques Teixeira

ACOMPANHAMENTO DE OBRA

Teresa Nunes da Ponte Karolinne Alves Diogo Luiz CONSULTORES | CONSULTANTS

Luís Elias Efrem Casanovas José Silva Carvalho Vasco Moreira Rato SEGURANÇA INTEGRADA | INTEGRATED SAFETY

António Portugal

FUNDAÇÃO ROBINSON PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PORTALEGRE | MAYOR OF THE PORTALEGRE TOWN HALL

Maria Adelaide de Aguiar Marques Teixeira PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO CHAIRPERSON OF THE BOARD OF ADMINISTRATION

José Manuel Pinheiro Barradas

ARQUITECTURA PAISAGISTA LANDSCAPE ARCHITECTURE

Topiaris, Estudos de Arquitectura Paisagista, Lda. COORDENAÇÃO | COORDINATION

Luís Paulo Ribeiro

DIRECÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL MANAGEMENT AND GENERAL COORDINATION

Teresa Nunes da Ponte, arquitectura Teresa Nunes da Ponte, architecture | ARCHITECTURE

Teresa Nunes da Ponte Karolinne Alves Diogo Luiz PRODUÇÃO E ARQUITECTURA DE INTERIORES PRODUCTION AND INTERIOR DECORATION

Construções J. C. Sampaio, Lda. Albino Martins – Projecto Vidro, Lda. António José Costa Rodrigues, Lda. Manuel V. A. Delgado ILUMINAÇÃO | LIGHTING

Vítor Vajão CONSERVATION AND RESTORATION

Vasco Farias, Engenheiros e Consultores, Lda. Vasco Farias ÁGUAS E ESGOTOS | WATER AND SEWERAGE

Rui Serpa Santos ELECTRICIDADE E ILUMINAÇÂO ELECTRICITY AND LIGHTING

MECHANICAL FACILITIES

P2E, Manuel Sarmento

Teresa Nunes da Ponte

MUSEOGRAFIA | MUSEOGRAPHY

CONSERVAÇÃO E RESTAURO

INSTALAÇÕES MECÂNICAS

COORDENAÇÃO | COORDINATION

António Camões Gouveia (Fundação Robinson | Robinson Foundation) Patrícia Monteiro

COLABORAÇÃO | COLLABORATION

Epete, Rui Silva Santos ARQUITECTURA

MUSEOLOGIA | MUSEOLOGY

João Manuel Oliveira ESTRUTURAS | STRUCTURES

REQUALIFICAÇÃO DO EDIFICADO IMPROVEMENT WORKS FOR THE BUILDING

EXPOSIÇÃO | EXHIBITION

MONITORING OF THE WORK

COLABORAÇÃO | COLLABORATION

MEDIÇÕES E ORÇAMENTOS

Pedro Mira Anta Miranda Karolinne Alves Gian Paolo Cilurzo Inês Fontoura Magda Marques Victor Correia Marina Araújo Sónia Antunes Carlota Ferrão Pedro Gomes

MEASUREMENTS AND BUDGETS

Nunes Medem, Paulo Nunes CONSTRUÇÃO | CONSTRUCTION

San José Constructora S.A. FISCALIZAÇÃO | FISCALISATION

Cristina Pascoal (C. M. Portalegre | Portalegre Town Hall) Hugo Espanhol (C.M. Portalegre) (C. M. Portalegre | Portalegre Town Hall) ARQUEOLOGIA | ARCHAEOLOGY

Palimpsesto, Lda.

Laura Portugal Romão (Fundação Robinson | Robinson Foundation) DESIGN GRÁFICO | GRAPHIC DESIGN

TVM designers PRODUÇÃO GRÁFICA | GRAPHIC PRODUCTION

Logotexto, letras por computador, Lda. EQUIPA TÉCNICA | TECHNICAL TEAM GESTÃO E ADMINISTRAÇÃO DO PROJECTO PROJECT MANAGEMENT AND ADMINISTRATION

Alexandra Carrilho (Fundação Robinson | Robinson Foundation) Luís Esteves (C. M. Portalegre | Portalegre Town Hall) EQUIPA DO MUSEU | MUSEUM TEAM

Sónia Alves (C. M. Portalegre | Portalegre Town Hall) António Sequeira (C. M. Portalegre | Portalegre Town Hall) Margarida Mendes Carvalho (C. M. Portalegre | Portalegre Town Hall) SERVIÇO EDUCATIVO | EDUCATIONAL SERVICE

Célia Gonçalves Tavares (Fundação Robinson | Robinson Foundation) Jorge Maroco Alberto (Fundação Robinson | Robinson Foundation)

75

p.01_80.indd 75

14/06/06 21:30


Resumos e palavras­‑chave Abstracts and key­‑words Resúmenes y palabras clave

Publicações da Fundação Robinson 27, 2013, p. 76‑77, ISSN 1646­‑7116

p.01_80.indd 76

14/06/06 21:30


PORTUGUÊS

ENGLISH

E S PA Ñ O L

O Museu Municipal de Portalegre

The Municipal Museum of Portalegre

El Museo Municipal de Portalegre

O Museu Municipal, instalado no antigo edifício do seminário quinhentista, 50 anos após a sua inauguração, carecia de remodelação face aos si‑ nais da passagem do tempo, na construção e na evolução dos conceitos do processo expositivo. Actualizado o programa e definidos os princípios gerais da intervenção, o património edificado foi reabilitado no respeito pelos valores originais, na procura das melhores condições para a conserva‑ ção da construção e das peças a expôr, e com o objectivo da valorização das colecções. O espólio foi estudado, inventariado e tratado. Foi iniciado o seu restauro e conservação. A museologia avaliou, elaborou os diagnósticos e os percursos, que a museografia interpretou e estabilizou. A génese do Museu – as Casas Reli‑ giosas e os Coleccionadores – é agora reinterpre‑ tada para melhor mostrar a história do Museu e as peças. As exposições temporárias integram a programa‑ ção do Museu, que as novas funções de apoio ao público e o Serviço Educativo, em novos espaços, apoiam e revitalizam.

The Municipal Museum, located in the 16th century former seminary building 50 years after its inau‑ guration, needed remodelling given its signs of the passing of time, its construction and developments in the concepts of museum exhibiting. Having updated its programme and set down the general guidelines for the works, the heritage build‑ ing was repaired in line with its original values, seeking to provide better conditions for the conser‑ vation of the building and the pieces to be exhibited, and with the aim of improving the collections. The complete collection was studied, inventoried and processed. Its restoration and conservation was started. Museology assessed and drew up its diagnostics and guidelines, and museography interpreted and thus stabilised the works. The original impetus for the Mu‑ seum - the Religious Establishments and their Collec‑ tors – has now been reinterpreted to better demon‑ strate the history of the Museum and its pieces. Temporary exhibitions now form part of the pro‑ gramming of the Museum, which the new Public Assistance and Educational Services, in their new areas, support and revitalise.

Al Museo Municipal, instalado en el antiguo edificio del seminario quinientista, 50 años tras su inauguración, le faltaban obras de reforma ante las huellas del paso del tiempo: en cuanto a su construcción y a la evolución de los conceptos museológicos. Tras actualizarse su programa y una vez definidos los principios generales de la intervención, se rehabilitó el patrimonio edificado, respetando sus valores originales, buscando las mejores condiciones para la conservación de la construcción y de las piezas seleccionadas. Todo ello, con el fin de valorizar las colecciones. Se estudiaron los fondos: se hizo su inventario y se anali‑ zaron. Se inició su restauro y su conservación. Desde la museología, se evaluaron y se elaboraron los diagnósticos y las trayectorias, interpretadas y estabili‑ zadas por la museología. Los orígenes del museo –ins‑ tituciones religiosas y coleccionistas – se interpretan, ahora, para revelar con amplitud la historia del Museo y de sus piezas. Se incluyen, en su programación, las exposiciones tem‑ porales. Además, se revitaliza con sus nuevas funciones de apoyo al público, así como por su Servicio Educativo, que desde nuevos espacios se refuerzan recíprocamente.

Palavras-chave Património edificado Casas religiosas e Coleccionadores Reabilitação – Museu Museologia e Museografia Reserva e Exposição Fruição e Interpretação Portalegre e Visitantes

KEY-WORDS Building Patrimony Religious Establishments and Collectors Rehabilitation - Museum Museography and Museology Reserve and Exhibition Fruition and Interpretation Portalegre and Visitors

Palabras-clave: Patrimonio edificado Instituciones religiosas y Coleccionistas Rehabilitación – Museo Museología y Museografía Reserva y Exposición Disfrute e Interpretación Portalegre y Visitantes

77

p.01_80.indd 77

14/06/06 21:30


p.01_80.indd 78

14/06/06 21:30


p.01_80.indd 79

14/06/06 21:30


p.01_80.indd 80

14/06/06 21:30


Uni達o Europeia FEDER Investimos no seu futuro


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.