RESTAURO E INTERVENÇÃO NO LAR SANTANA

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gabriela pereira palmeira - 2020



LAR SANTANA A arquitetura e as sobreposições do tempo. Restauro e intervenção no Lar Santana.


Trabalho final de graduação de Arquitetura e Urbanismo Centro Universitário Barão de Mauá Gabriela Pereira Palmeira Orientador: Henrique Telles Vichnewski


A arquitetura e as sobreposições do tempo. Restauro e intervenção no Lar Santana.


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Dedico esse trabalho à todas as mulheres que lutaram e lutam diariamente para ter voz. A Madre Maurina Borges da Silveira.

Agradeço a Deus por ser tudo para mim. A minha mãe, por ser minha base e ao meu pai, que do céu, com certeza está muito orgulhoso de mim.

Ao meu irmão Gustavo, por sempre me apoiar e me incentivar. Ao meu padrasto Fernando e toda a minha família, por estarem sempre comigo.

Aos meus orientadores, Jadiel e Henrique que, em cada etapa, acrescentaram muito ao meu projeto.

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SUMÁRIO

01

introdução

08

quadro teórico

02

12

03

caracterização e levantamentos

18

referências projetuais

04 48

anteprojeto

05

60


01

introdução

02 03 04 05

10

linha do tempo - 13 quadro teórico restauro - 16 edificações históricas - 20 levantamentos do entorno - 22 caracterização e levantamentos tipologia arquitetônica - 26 18 historicidade do espaço - 28 reconhecimento e danos - 30 legislação - 54 referências projetuais

sesc pompéia - 56 teatro erotídes de campos - 64

anteprojeto

68

programa de necessidades - 70 intervenções - 74 módulos empilháveis - 100 bibliografia - 109


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introdução


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Madre Maurina Borges da Silveira Foto retirada da internet, sem autor sinalizado. http://anistiapolitica.org.br/abap3/2014/04/03/o-calvario-de-madre-maurina-borges-a-freira-que-a-ditadura-torturou/ Acesso em 13 de abril de 2020


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Inaugurado em 1932, o Lar Santana foi constituído “lar” de meninas órfãs pelas irmãs da ordem católica franciscana, vindas da Alemanha. Acusada de cooperar com o grupo de guerrilha “Forças Armadas da Libertação Nacional (FALN)” a diretora do lar, madre Maurina Borges da Silveira, foi presa, torturada e exilada injustamente. Tornando-se reconhecida a partir da Comissão Nacional da Verdade como a única freira presa e torturada na ditadura, a história da Madre deposita um peso de responsabilidade no patrimônio cultural que o Lar Santana representa. O valor do lar, que está em processo de tombamento reconhecido desde 2018 é além de histórico, moral. A significancia da Madre Maurina para a história brasileira é representativa em relação a outras mihares de mulheres que sofreram e sofrem injustamente. Pela discussão moral, me proponho a estudar esse edifício que foi silenciado pelo seu estado de abandono e através dele propor uma discussão sobre feminicidio e mulheres que tambem foram abandonadas e silenciadas. O Lar Santana é um edifício silenciado, com potencialidade para gritar uma história e dessa mesma forma coloco em pauta a militância de mulheres silenciadas que gritaram e fizeram história, assim como as que foram silenciadas sem a oportunidade de fazê-la.

“Ao olhar para trás e resgatar a história de meio século do Brasil, nos vemos, no tempo presente, diante de um processo transicional ainda pendente – de exercício da memória, da reexão, da justa homenagem às vítimas, das formas de reparação e da busca por justiça.” A coragem da inocência de Madre Maurina Borges da Silveira / Frei Manoel Borges da Silveira; Saulo Gomes; Moacyr Castro


ZUZU ANGEL ANA ROSA KUCINSKI CRIMÉIA DE ALMEIDA ELIZABETH TEIXEIRA PAULINE REICHSTUL MAURINA BORGES DA SILVEIRA SOLEDAD BARRET VIEDMA EGLE VANNUCCHI LEME ANGELA MENDES DE ALMEIDA ANA DIAS ÁUREA MORETTI PIRES AURORA DO NASCIMENTO FURTADO DILMA ROUSSEFF CLARA CHARF CLARICE HERZOG ELZITA SANTA CRUS EUNICE PAIVA DIANA PILÓ DE OLIVEIRA HELENY TELLES FERREIRA GUARIBA THEREZINHA ZERBINI FLAVIA INES SCHILLING HELENIRA RESENDE DE SOUZA NAZARETH IARA IAVELBERG INÊS ETIENNE ROMEU GUIOMAR DA SILVA LOPES ILDA MARTINS DA SILVA JOANA LOPES JANE VANINI LÍGIA MARIA SALGADO NÓBREGA LÚCIA MURAT MARIA AUXILIADORA LARA BARCELOS MARLI PEREIRA SOARES MARIA AMÉLIA DE ALMEIDA TELLES “AMELINHA” MARIA JOSÉ ARAÚJO RITA SIPAHI ROSE NOGUEIRA

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02

quadro teรณrico


NVOS 1926

Terreno d o Lar S antana f oi doado à igreja pela cafeicultora Dona Anna Claudina Villela de Andade

NVPO 1932

Prisão da Madre Maurina pela ditadura m ilitar brasileira

OMNQ 2014

13 Colégio Sagrado C oração de Maria fundado pela ordem das irmãs franciscanas a lemãs

Inauguração d o Lar S antana para m eninas o rfãs.

NVOU 1928

Encerramento das a tividades do Lar S antana

NVSV 1969


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Localizado na Vila Tibério, um dos bairros mais antigos de Ribeirão Preto, o Lar Santana foi inaugurado em 1932, constituído “lar” de meninas órfãs pelas irmãs da ordem católica franciscana, vindas da Alemanha. O Lar foi dirigido pela Madre Maurina de 1948 até 1969, quando ela foi presa e torturada pela ditadura militar brasileira. A prisão aconteceu em outubro de 1969, em frente ao Lar sob suspeita de abrigar membros do grupo guerrilheiro Forças Armadas da Libertação Nacional (FALN) e queimar materiais contra a ditadura que eles imprimiam no local. Segundo a história, a irmã Maurina foi presa injustamente e extraditada para o México até 1985 quando voltou ao Brasil e faleceu em 2011, tornando-se reconhecida, a partir da Comissão Nacional da Verdade, como a única freira presa e torturada na ditadura e assim depositando um peso de responsabilidade no patrimônio cultural que o Lar Santana representa. O episódio com a Madre Maurina é uma história em destaque, no meio de tantas outras do período ditatorial brasileiro, pela inocencia da Madre, que não tinha envolvimento com o motivo da sua acusação. O grupo que se reunia no porão e nas salas do Lar Santana tinham autorização pois estariam a serviço da Igreja Católica e paralelamente imprimia panfletos contra a ditadura. O que comprometeu a Madre foi a queima de arquivos, quando ela os encontrou nas dependências do Lar e não queria que nem ela e nem qualquer outra pessoa fosse prejudicada pela presença daqueles papéis. Em carta redigida ao Ministro da Justiça, Alfredo Buzzardi, em 17 de dezembro de 1969, dois meses depois de sua prisão, Madre Maurina escreveu: “Insistia para que eu me confessasse conhecedo-

Fachada Lar Santana Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019

ra do Movimento [MEJ], porém, a única coisa que eu poderia achar-me culpada era o fato de ter mandado queimar os panfletos encontrados no porão da minha casa. No momento, foi essa atitude que me pareceu mais acertada. Depois do ocorrido foi que refleti melhor, chegando a concluir que teria sido mais acertado entregá-los à delegacia.”

Sala Lar Santana Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019


Sem uso desde 2014, quando suas atividades como orfanato para meninas foram encerradas, e em tombamento provisório desde 2018 pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto (CONPPAC/RP), o Lar Santana é um patrimônio histórico e sua conservação é de interesse da cidade e do país pela história que carrega e também como simbologia de um período ditatorial. Ribeirão Preto enfrenta situações onde edifícios públicos ou particulares estão em estado de abandono e consequente degradação, como por exemplo o Hotel Brasil, no centro da cidade, que está fechado desde 1993. O Lar Santana, edificação da década de 30, está em um contexto de abandono no coração da Vila Tibério, sujeito a ações de vandalismo, prejudicando não só o próprio corpo do edifício, mas também a memória e história da cidade. Todo o valor histórico e arquitetônico do edifício não é reconhecido de forma prática pelo poder público e pela população, tornando o edifício uma “lacuna ocupada”, ou seja: é uma edificação significativa na escala do bairro e muito representativa em seu tamanho e porcentagem de ocupação da quadra, porém, o fato de não estar sendo usado o torna uma lacuna, “espaço vazio, falha ou falta”, um vazio dentro de um corpo tão imponente em sua construção, tornando essa lacuna uma brecha para ações de vandalismo, ações do tempo e degradações naturais pela falta de uso e manutenção nas instalações, aquelas que ainda não foram roubadas. Diante da atual situação, esse trabalho tem como objetivo aplicar as teorias de restauro de Cesare Brandi, propondo uma intervenção para que exista um novo uso, trazendo vida ao edifício e explorando seu potencial, sem que haja falso histórico, distinguindo as intervenções da preexistência e documentando para que um dossiê seja criado sobre a história e a construção, a fim de disponibilizar informações e conhecimento para as gerações futuras e cidadãos. A partir de pesquisas em artigos, entrevistas, vídeos e bibliografias, esse objeto de trabalho transcorre uma viagem histórica sobrepondo a memória à preexistência e resulta no projeto de restauro e intervenção, pelo bem do edifício, da cidade, do patrimônio cultural e em memória de Maurina Borges da Silveira.

Sala Lar Santana Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019

Banheiro Lar Santana Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019

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Restauro Os primeiros indícios sobre restauro são chamados de “restauros arqueológicos” praticados sem teorias e metodologias de estudo aprofundadas. Contemporâneo ao movimento a fim de conservar patrimônios, surge um dos pioneiros sobre conceitos de restauração, o francês no século 19, Eugène Viollet-Le-Duc, com o seu “restauro estilístico” que além de restaurar, recriava as edificações destruídas na França, construindo assim falsos históricos sem distinção do antigo com o novo. Viollet-Le-Duc não tentava recuperar a forma original do edifício e, sim, melhorá-la. Tomando distância das teorias anteriores a ele, Camillo Boito condensa suas metodologias no chamado “restauro moderno”, em que ressalta que o edifício deve ter constantes manutenções anteriores à medida de restauro, também para que não sofra nenhum tipo de “amputação” e que não caia em ruínas, além de enumerar princípios para que a restauração não crie um falso histórico, sendo alguns deles: distinguibilidade entre o existente e o restauro, mínima intervenção, registrar as obras com fotografias e documentar in loco as intervenções. Boito defende também a demolição de elementos que foram acrescentados ao longo do tempo e apresentam diferenças em relação a construção original, nunca de forma sensitiva, mas sempre baseado em documentações. Posterior ao pensamento de Camillo Boito, o pensamento de Cesare Brandi tem como conceito de restauração o ato de intervir atribuindo eficiência a obra humana construída. Diante da leitura da Carta de Restauração de 1972 e do livro “Teoria da Restauração” de Brandi, o restauro e as intervenções estão pautadas no ato de reestabelecer o potencial da edificação, com distinguibilidade e preservando as marcas do tempo existentes e a história do edifício, além de garantir que o novo uso não seja incompatível com o histórico, interesses artísticos e estéticos do edifício (Brandi 1993, pg. 33). O conhecido “restauro crítico” trata

cada obra como única, sem classificar uma metodologia geral para intervir e sim uma metodologia para reconhecimento e documentação do bem como sendo uma obra de arte e sofrendo intervenções somente após a teoria ser reconhecida na necessidade específica. A primeira lei sobre patrimônio no Brasil foi instituída em 30 de novembro de 1937, no mandato do presidente Getúlio Vargas e decreta a organização da proteção do patrimônio histórico artístico e nacional. No mesmo período foi criado o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão federal de proteção ao patrimônio cultural brasileiro, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O compartilhamento de memórias é ponto importante para que as novas gerações cuidem dos patrimônios e valorizem o histórico como exemplo. Na cidade de Ribeirão Preto existem diversos edifícios públicos e particulares em situação de abandono, vulneráveis e sofrendo ações do tempo. Além de obstáculos culturais, acabam tornando-se obstáculos econômicos, impedindo a viabilização do restauro após anos de degradação severa, tornando esses edifícios inaproveitados e inaproveitáveis. Alguns edifícios são muito conhecidos pela população e alguns desconhecidos, porém, independente da fama, todas as construções sem uso causam uma lacuna que nenhuma edificação nova pode suprir, geram um silêncio de expressão, mesmo estando fisicamente aptos, mas se com suas atividades mantidas, a população, a cidade e a memória são beneficiadas. Os projetos de intervenção e restauro em pré-existências são necessários para o cenário da cidade e sua construção social, transformando os edifícios ociosos em um novo uso adaptado para as necessidades de cada bairro.


“A restauração, para representar uma operação legítima , não deverá presumir nem o tempo como reversível, nem a abolição da história. A ação de restauro, ademais, e pela mesma exigência, que impõe o respeito da complexa historicidade que compete à obra de arte, não se deverá colocar como secreta e quase fora do tempo, mas deverá ser pontuada como evento histórico tal como o é, pelo fato de ser ato humano e de se inserir no processo de transmissão da obra de arte para o futuro.” (Brandi 1993, pg. 61)

O Lar Santana, patrimônio histórico provisoriamente tombado pela RESOLUÇÃO Nº 01/2018 do CONPPAC/RP no dia 17/07/2018, está vinculado à história de Ribeirão Preto não somente pelos seus 82 anos de funcionamento com cunho social, de 1932 a 2014, mas também por ter sido palco de uma das histórias mais emblemáticas da ditadura brasileira, envolvendo a prisão e tortura da Madre Maurina, diretora do Lar desde a inauguração até 1969, quando foi levada pelos militares. Por 45 anos, o Lar Santana permaneceu com suas atividades em funcionamento, mesmo após ser eternamente marcado pelo episódio com a Madre. O restauro é peça fundamental na consolidação do edifício como memória e segundo Cesare Brandi no livro “Teoria da Restauração”, restaura-se somente a matéria da obra de arte, devendo visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo. De esquadrias, acabamentos e cores características e marcantes, o Lar Santana se destaca na sua implantação, tendo como marca registrada visualmente o vermelho que conta a sua história. Os acontecimentos que envolvem o Lar são a base para documentação e ações de restauro, preservando o seu interior, exterior e terreno.

Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. (DECRETO-LEI Nº 25, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1937.)

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03

caracterização e levantamentos


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A Vila Tibério, localizada no centro de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, é um bairro documentadamente fundado por trabalhadores ferrovários, de fazendas de café e imigrantes italianos, com suas famílias. A fazenda que se tornou o parcelamento de solo foi doada a Tibério Augusto em 1885. A Vila é o berço do “Botafogo Futebol Clube” que nasceu no bairro em 1918 e também ancorou as construções da Estação de Ribeirão Preto (Cia. Mogiana de estradas de ferro) e a cervejaria Antarctica Paulista. Na década de 50 a Vila Tibério era responsável por metade da produção de riquezas da cidade, o que torna um bairro historicamente importante para a fundação, construção e memória de Ribeirão Preto.


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Lar Santana SEM ESCALA


O mapa de edificações históricas é uma análise de algumas edificações relevantes em relação ao edifício em pauta, Lar Santana. O recorte do centro da cidade foi proposto para que, diante da proximidade física, uma discussão fosse levantada sobre a relevância histórica do Lar Santana, construído na década de 30, assim como o Theatro Pedro II. Essa amostragem foi feita com o propósito de analisar que em dois bairros próximos existe uma quantidade de edificações históricas e somente uma parcela é reconhecida e valorizada. Assim como o próprio Lar Santana, outras edificações necessitam de manutenção e têm potencial para serem adaptadas e utilizadas.

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r

Av . Fá bio Ba rre to

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Av. do Café

SEM ESCALA


Rua Conselheiro Saraiva

Rua Conselheiro Dantas

alv es

Rua Aurora

Rua Jorge Lobato

Bairro historicamente residencial, fundado por trabalhadores, a Vila Tibério permanece com seu uso majoritariamente residencial, com comércios e serviços bem distribuídos, que abastacem o bairro. Além de ser margeado por importantes avenidas que cruzam a cidade. O levantamento de densidade do bairro, atrelado ao gabarito revela um bairro denso, com taxa de ocupação alta na relação edificação/terreno e de gabarito majoritariamente térreo ou sobrado. O entorno imediato de quadras do Lar Santana tem 269 edificações, resultando em uma média de 914,6 pessoas nas 8 quadras.

˚552

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˚545

˚535

Travessa Sinimbu

Travessa Santana

Quadra onde está inserido o Lar Santana


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3.1 Tipologia arquitetônica Edifício de arquitetura seguindo o modelo de hospitais religiosos, com uma configuração interna repartida e pátio interno ao formato de “L” do edifício, era o lar de meninas órfãs cuidadas pelas freiras da ordem das irmãs franciscanas. Segundo o arquiteto e urbanista Renato Gama-Rosa Costa, do Departamento de Patrimônio Histórico do Rio de Janeiro existem três formas principais e pioneiras de arquitetura hospitalar, sendo a primeira de edifícios cruciformes insalubres, a segunda, a partir do século 18, baseada em medidas higienistas e cem anos depois as construções pavilhonares. O Lar Santana foi, a princípio, construído de forma pavilhonar única e posteriormente acrescido do segundo pavilhão anexo, resultando no formato atual em “L” e sendo diagnosticado como três momentos de construção por sinais de ampliação e as diferenças entre as esquadrias, pisos e materiais.

“O primeiro tipo, identificado como higienista pela Assistance Publique Hôpitaux de Paris - a arquitetura ventilada de finais do século XVIII, como essa instituição preferia denominar -, serviria de referência para diversos hospitais construídos no Brasil entre as décadas de 1920 e 1950, antes da consolidação do monobloco modernista, como veremos.” “Apontamentos para a arquitetura hospitalar no Brasil: entre o tradicional e o moderno”, Renato Gama-Rosa Costa, 2011


Modelos hospitalares religiosos segundo Renato Gama-Rosa Costa, 2011

MODELO HOSPITALAR RELIGIOSO Século 15 Enfermarias presas a um corpo central com outros ambientes anexos. Forma a princípio cruciforme que evoluiu para formatos em E, H e X.

MODELO PAVILHONAR - Fundação de “casas de misericórdia” Século 18

MODELO MONOBLOCO ou MONOBLOCO MODERNISTA Século 20

“A disposição dos pavilhões buscava conforto, higiene, aeração e insolação dos ambientes de cura, aproveitando-se a proximidade dos rios, as áreas ajardinadas e a topografia do terreno, conforme o projeto dos hospitais pavilhonares. A arquitetura buscava reproduzir um ambiente familiar, expresso por um ‘aspecto rústico’, ‘de casas comuns’(...)”

Criado nos EUA para substituir o modelo pavilhonar de isolamento.

COSTA, Renato Gama-Rosa. Apontamentos para a arquitetura hospitalar no Brasil: entre o tradicional e o moderno.

Diagramas de autoria própria

27


3.2 Historicidade do espaço ETAPA 1

ETAPA 2

28

3,00m x 1,50m Porta metálica

2,72m x 1,10m 1,96m x 1,15m Porta madeira Peitoril 1,00m Janela metálica

Desenho das janelas e portas de autoria própria, com medição no local

2,10m x 0,90m 1,96m x 1,15m Porta madeira Peitoril 0,70m

Janela madeira

2,20m x 1,50m Peitoril 1,30m Janela madeira


A historicidade do edifício foi um estudo baseado na diferença de materialidade e detalhes das esquadrias e revestimentos, além das divisões dos telhados, suas quedas e águas. As datas das construções não foram encontradas. As esquadrias foram medidas no local e as cores presentes nas representações são um levantamento feito através das fotos, representando o mais próximo possível das cores encontradas.

ETAPA 3

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2,72m x 1,10m Porta madeira

2,72m x 1,10m 1,96m x 1,15m Porta metálica Peitoril 1,00m

Janela metálica

2,72m x 1,10m Porta madeira

2,20m x 1,50m Peitoril 1,30m

Janela madeira

2,00m x 1,50m Peitoril 1,30m Janela metálica

Desenho das janelas e portas de autoria própria, com medição no local


3.3 Reconhecimento e danos O levantamento físico do Lar Santana foi feito antes do período de pandemia. As medições do porão não foram executadas, portanto, não será considerado no estudo de restauro e intervenção de proposta desse trabalho. As dimensões do porão são aproximadas, de acordo com a vista externa das aberturas com grade, assim como o reconhecimento do monumento epigráfico presente no pátio. O térreo e o primeiro pavimento foram medidos in loco, assim como as esquadrias. Diante dos levantamentos físicos, juntamente com os levantamentos fotográficos, a proposta desse trabalho é intervir e restaurar o complexo do Lar.

30

SEM ESCALA


Implantação

31

SEM ESCALA


Reconhecimento - Ambientes Térreo

1 pavimento

D 23 22 21 20 19

D

18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 S

1

4

3

7

6

5

8

2

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S

11

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12

14

13

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D 26

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ESC 1:500

Edifício que abrigava um lar de meninas órfãs, alguns cômodos do Lar Santana são característicos de seus antigos usos. No local não existe mais o mobiliário original, mas os armários embutidos e áreas molhadas permanecem, assim como lousas, altar e pinturas que caracterizam salas de aula e música. A clausura é sinalizada por uma placa na porta de entrada e também é diferenciada pelas portas com pequenas aberturas “passa prato”.


33 Porta clausura Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019

Salão com altar Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019 Serviços - Lavanderia Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019


Cozinha Foto: Gabriela Palmeira, out/2020

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Terraรงo Foto: Gabriela Palmeira, out/2020


Refeitรณrio Foto: Gabriela Palmeira, out/2020

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Banheiro Foto: Gabriela Palmeira, out/2020


9,10

2,77

5,90

5,90

5,29 6,04

6,84

5,93

5,93

4,12 2,02 3,24

5,90

5,93

1,97 5,93

4,64

5,90

1,97

28,75

5,90

5,93

4,94

5,90

5,28

º545

6,01

2,83

5,46

4,38

5,14

31,47

11,95

47,51

4,44

3,70

8,81

2,95

3,65

2,28 3,36

5,56

2,20

2,30

2,60 3,60 1,30

9,54

9,10

7,80

1,96

3,59

3,85

3,85

6,11

4,72

3,30

5,51

5,66

3,94

1,19

3,90

Térreo

32,29

36

Cadastro arquitetônico técnico

ESC 1:300


2,26 14

12,45

1,70

2,45 2,27 2,46

1,96 6,08

13,74

1,10

37

27,29

3,29

2,40 1,58

4,87

6,05 2,40

6,85 D 26

25

24

23

22

21

20

19

18

17

16

1,94

3,63 2,30

14,45

1,05

2

1 S

3

5

4

6

8

7

5,96

1,96 6,08 9

5,34

11

8,89

10

1

12

3 2

14

4

S

13

7

15

8

1,22 2,76

9

5,70

11 10

5,61

13 12

3,60 1,88

15

6

4,39

1,02

17 16

5

3,88 2,64 2,56 2,77 2,77 2,77

1,66

D

18

6,77

20 19

23,72

6,95

21

2,01

22

7,65

14,11

D 23

5,27

1,97 3,15

1,42

9,81 3,15

1 pavimento 2,25 1,472,60 1,80 1,80 1,96

ESC 1:300


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Cortes

A

A


B

A

B

A

39 B

B

ESC 1:500


Elevações

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ESC 1:500

RUA CONSELHEIRO DANTAS, 964

ESC 1:500

RUA DR. JORGE LOBATO


VA SA RA Í

JO RG E

LO BA T

CO NS EL HE IR O

DR

O

RU A

RU A

AU RO RA

DA NT AS

RU A

CO NS EL HE I

RO

RU A

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RUA CONSELHEIRO SARAÍVA

RUA AURORA


Circulação Térreo

1 pavimento

D 23 22 21 20 19

D

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Área restrita (Clausura)

De acordo com o levantamento, a circulação pode ser classificada em setores de uso comum, de serviços e restrito. Sendo cada setor destinado a um tipo de usuário, como por exemplo algumas entradas e saídas exclusivas de áreas de serviço, como a cozinha e a lavanderia e a clausura, área restrita as freiras. A circulação comum é de corredores, pátio e espaços onde as meninas e as freiras tinham livre acesso.


Forros Térreo

1 pavimento

D 23 22 21 20 19

D

18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 S

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S

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D 26

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Alguns ambientes não apresentam nenhum tipo de forro, deixando as telhas cerâmicas aparentes. O térreo se mantém com somente a laje aparente como teto e o primeiro pavimento sofreu uma intervenção, sem documentação conhecida do forro anterior e sem data da instalação do forro de PVC em todos os ambientes. Hoje, essa instalação está em más condições, danificada na maioria dos ambientes, o que prejudica a circulação no local, a manutenção de pisos e limpeza geral.


Pisos

O Lar Santana, de arquitetura pavilhonar apresenta diversas esquadrias diferentes ao longo dos seus ambientes e também algumas diferenças de pisos. Alguns ambientes tem piso de madeira em réguas, alguns em madeira de taco. A maior parte do edifício é de pisos cerâmicos, sem um padrão único, existindo inúmeros tamanhos, cores e estampas.

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02

03 01

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Banheiro no tĂŠrreo Foto: Gabriela Palmeira, out/2020 DormitĂłrio Foto: Gabriela Palmeira, out/2020


Danos

O edifício apresenta alguns danos que se repetem nos ambientes, como destacamento de pintura, sujeira excessiva por falta de manutenção, vandalismo nas áreas molhadas e presença de animais, como morcego. Com materialidades diferentes do térreo para o primeiro andar, alguns ambientes apresentam danos nos pisos e revestimentos, assim como patologias diferentes nas esquadrias que são metálicas ou de madeira. Analisando o edifício como um todo, o estado de conservação é bom, apesar de danos em praticamente todos os ambientes.

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Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019


AMBIENTE 01 FACHADA

CARACTERÍSTICAS E DANOS A fachada principal do Lar Santana contém dois pilares quadrados com capitéis com ornamentos de padrão coríntio, esquadrias metálicas e de madeira, além da escada em granilite e piso cerâmico. A pintura é majoritariamente bege areia, com detalhes em vermelho. Na fachada existem dois tipos de identificação do edifício: o número 984 e o nome “Lar Santana”.

48 Os danos presentes na fachada são, majoritariamente, destacamento de pintura e eflorescência de umidade. Destacamento Eflorescência

Fotos: Gabriela Palmeira, 2019


AMBIENTE 02 SALA DE AULA

CARACTERÍSTICAS E DANOS As salas de aula são localizadas no térreo do Lar Santana e apresentam mobiliário fixo característico do uso, como os quadros de giz. Existe uma moldura contornando as lousas e o pisos desses ambientes é de madeira.

49 Os danos presentes nas salas de aula são destacamento da pintura, deixando aparente a pintura artística anterior, rachaduas e defeitos no piso. Destacamento Rachaduras/Fissuração

Fotos: Gabriela Palmeira, 2019

Análise feita considerando ambientes “tipo”.


AMBIENTE 03 COZINHA

CARACTERÍSTICAS E DANOS A cozinha é um ambiente no térreo, agregado à despensa e a um salão com acesso ao primeiro pavimento. Revestida nas paredes parcialmente com revestimento cerâmico e com pintura até o teto. Esquadrias metálicas e com vidro. Piso cerâmico.

50 Apresenta ações de vandalismo, quebra de armários e de revestimentos, além de destacamento da pintura. Destacamento Vandalismo

Fotos: Gabriela Palmeira, 2019


AMBIENTE 04 SALÃO

CARACTERÍSTICAS E DANOS Esse salão com altar, localizado no primeiro pavimento tem saída para a sacada na fachada e acesso a uma pequena sala anexa. Ambiente com esquadrias de madeira, forro de pvc e piso cerâmico.

51 Apresenta destacamento de pintura, deixando aparente a pintura artística anterior, perda de material solido abaixo da janela, destacamento de pintura próxima ao forro e queda parcial do forro de pvc. Destacamento Perda

Fotos: Gabriela Palmeira, 2019


AMBIENTE 05 BANHEIROS

CARACTERÍSTICAS E DANOS Os banheiros do térreo e do primeiro pavimento apresentam as mesmas características e os mesmos danos. São ambientes com peças metálicas e de louça, com portas de madeira e revestimentos cerâmicos.

52 Os banheiros sofreram ações de vandalismo e não possuem mais as peças metálicas (torneiras, válvulas de descarga e fechaduras), além de ter os revestimentos cerâmicos quebrados por consequência da retiradas das peças. Destacamento Vandalismo

Fotos: Gabriela Palmeira, 2019

Análise feita considerando ambientes “tipo”.


AMBIENTE 06 SALA

CARACTERÍSTICAS E DANOS Antigo quarto do orfanato, essa sala “tipo” não apresenta nenhum mobiliário ou pintura ou característica específica. Esquadrias de madeira, forro de pvc e piso de madeira.

53 Por consequência da retirada da válvula de descarga do banheiro ao lado, essa sala tem uma região de perda na parede, além de destacamento da pintura e embaixo da janela perda de material sólido, acompanhado de fissuras. Destacamento Perda Rachaduras/Fissuração

Fotos: Gabriela Palmeira, 2019

Análise feita considerando ambientes “tipo”.


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3.4 LEGISLAÇÃO


Lei Complementar 2799/16 Art. 30. A Resolução de Tombamento preverá, no entorno do bem imóvel tombado, edificação ou sítio, uma área sujeita a restrições de ocupação e de uso do solo, quando estes se revelarem aptos a prejudicar a qualida de ambiental do bem sob preservação, de finindo, caso a caso, as dimensões dessa área envoltória. § 1º. Nenhuma obra poderá ser executada de ntro da área envoltória de finida nos termos de ste artigo sem que o respectivo projeto seja previamente aprovado pelo CONPPAC-RP. § 2º. O tombamento levará em conta a paisagem natural na qual o bem está inserido e de verá ter suas questões ambientais consi de radas, tais como o trânsito de veículos (emissão de gases poluentes, trepidação etc.), estacionamentos, coleta de resíduos, dentre outras questões relevantes.

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referĂŞncias projetuais


SESC POMPÉIA

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Foto: Pedro Kok


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Localizado no bairro Água Branca, zona oeste de São Paulo, é uma construção de 1938. O famoso conjunto do Sesc Pompéia, projeto de requalificação de uma antiga fábrica de tambores liderado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, é de 1986, com outra materialidade, distinguindo a preexistência da construção feita por ela. O complexo foi incluído na lista de edifícios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2015.


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O Sesc Pompeia é um dos mais importantes centros de convivência e cultura da cidade de São Paulo e recebe diariamente cerca de cinco mil pessoas. Seus múltiplos espaços recebem, ao mesmo tempo, mostras de cinema, teatro, exposições, performances, circo, oficinas criativas, dança e tudo mais que couber em um ambiente totalmente voltado para a produção cultural. Ainda tem duas torres posteriores, construídas pela Lina Bo Bardi, dedicadas à praticas esportivas. Além de ser um importante centro de convivência, o Sesc tem papel fundamental em ser um espaço para expressões artísticas, tornando-se consequentemente um espaço de discussões, assim como retratado nessa foto, uma manifestação artística instigante.

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TEATRO EROTÍDES DE CAMPOS

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Foto: Nelson Kon


Localizado em Piracicaba, interior de São Paulo, o projeto de restauro do Engenheio Central foi feito pelo escritório Brasil Arquitetura em 2009. O conjunto formado pelo Engenho Central é “marca da terra” de Piracicaba, as margens do rio Piracicaba. No memorial do projeto, o escritório detalha o galpão que sofreu intervenção como sendo um dos mais belos e antigos de todos os galpões ali disponíveis. O galpão restaurado antes abrigava um depósito de tonéis e uma destilaria de álcool. Por conta de seu uso, tem pé direito alto e grande vão central. Em palavras do escritório Brasil Arquitetura: “Com um palco “dupla face” que se abre também para a praça central, o teatro será um importante equipamento de apoio às festas ao ar livre. Este deverá ser um teatro contemporâneo multiuso investido de história.” “Uma arquitetura que vai pelas entranhas do edifício transformando vazios em hall público, salas acusticamente equipadas, plateia, palco, restaurante, camarins, salas técnicas e de apoio, tudo que um teatro carece para funcionar em sua plenitude.” -Brasil Arquitetura

Foto: Nelson Kon

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Foto: Nelson Kon


As escolhas de referências projetuais se deram a partir de uma busca por palavras chave que levarei para o contexto de novo uso do meu Trabalho Final de Graduação. O SESC Pompéia e o Teatro Erótides de Campos são novos usos de edificações que foram úteis em seus tempos e hoje podem abrigar um novo uso com cunho social. Ambos tem um programa de necessidades artístico, de convivência e relevância na região em que estão edificados. Além de terem sofrido intervenções que respeitam a edificação original com distinguibilidade. Assim como a vida útil do uso do edifício Lar Santana como lar de meninas órfãs em Ribeirão Preto perdurou por anos e acabou, as fábricas que residiam nos edifícios de referência também finalizaram suas atividades mas os edifícios possuem potencial para abrigar novos usos e não se tornarem mais uma construção que gera uma lacuna de uso no entorno, sem valor e sem memória. A partir das leituras projetuais de referência levo em consideração a convivência de intervenções a partir de um princípio de restauro crítico estabelecendo a distinguibilidade de cores e materialidades da préexistência para o novo.

restauro intervenção referências projetuais

novo uso programa de necessidades

produção cultural

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anteprojeto


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PROGRAMA

Baseado nas análises de necessidade do bairro conjuntamente com a proposta de intervenção no Lar, o programa de necessidades é artístico, expositivo, interativo, de convivência, questionamentos e discussões. Espaço para ganhar e criar conhecimentos, conviver, desenvolver habilidades, expor talentos e ocupar o espaço, se apropriar da memória e da história. Com peso histórico e moral, o novo uso do Lar Santana se volta também para discussões de lutas femininas, apoio e sororidade. Trabalhando o Lar como um quebra-cabeça, cheio de possibilidades que precisam ser exploradas, entendidas e precisam de pessoas para que se encaixem e funcionem, o programa se desdobra pelo edifício, interna e externamente.

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biblioteca

habilidades

acolhimento para m

sala de exposições

convivência ESC 1:1000

talentos


mulheres

programa de necessidades

habilidades

Oficinas Ateliês

convivência

Sala de jogos Espaços de interação Cafeteria

talentos

Espaço para atividades diversas, como: feira livre, projeções, apresentações em palco.

acolhimento a mulheres

Espaço totalmente feminino, com diversas atividades.

biblioteca exposições

Biblioteca com espaço para leitura, sala de exposições e auditório.

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Térreo

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INTERVENÇÕES GERAIS Uma das propostas desse trabalho é o restauro do edifício Lar Santana, COMO AS intervenções. Para o tratamento de danos são necessárias algumas medidas como: tratamento adequado dos pisos de madeira, renovo da pintura, respeitando as cores encontradas e documentadas no local, manutenção e parcial reforma dos banheiros que sofreram ações de vandalismo para que o uso seja retomado de forma apropriada e a reposição de louças e peças metálicas danificadas. Atrelada as medidas de tratamento das patologias encontradas e documentadas neste trabalho, as propostas de intervenção possibilitam que o edifício seja novamente ocupado e com um novo uso previsto. Para isso, é necessária a substituição do forro de PVC do primeiro andar, obras para compatibilização dos sanitários tornando-os acessíveis e revisando todas as instalações hidráulicas e também tomando as medidas para acessibilidade das circulações verticais e horizontais. Em algumas ações de intervenção existe a demolição para que os espaços tenham seus potenciais atingidos e possam se adequar ao novo uso sem que o edifício perca suas características.

Térreo

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PLANTA MODIFICADA A distribuição dos espaços foi setorizada por uso e circulação. No térreo, o bloco de convivência conta com um ambulatório para atendimentos ocasionais e uma recepção, além de um espaço de memorial na sala onde existe a escada que leva ao porão, historicamente importante. As salas de oficina e ateliê tem acesso a área externa ao fundo do edifício e depósito próprio, além de proximidade física com o apoio externo, onde serão guardados os módulos empilháveis. O antigo refeitório, agora área destinada à cafeteria, tem acesso ao externo e também ao pátio. O primeiro pavimento é destinado à biblioteca, sala de exposição, auditório, salas multiuso, salas de acolhimento a mulheres e um espaço de café reservado e intimista, além de um terraço para usos diversos durante o dia e durante a noite.

Térreo

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LAYOUT

Térreo

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ATELIÊ


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CAFETERIA

CAFETERIA


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BIBLIOTECA


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SALA 03 - ACOLHIMENTO DE MULHERES


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CORREDOR PRINCIPAL

SALA DE CONVIVÊNCIA


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TERRAÇO CONVIVÊNCIA


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SALA DE EXPOSIÇÕES


A substituição do forro é necessária para o restabelecimento do potencial da edificação. Além do problema atual de degradação e ações de vandalismo que a estrutura do forro sofreu, prejudicando o edifício como um todo. A solução para o forro é uma substituição do existente de PVC por um forro de gesso acartonado, juntamente com a substituição da iluminação existente por lâmpadas eficientes de LED, fazendo uma revisão total das instalações elétricas. Térreo

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SUBSTITUIÇÃO DE FORRO

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SALA DE EXPOSIÇÃO


CIRCULAÇÃO Três tipos de circulação são estabelecidas no Lar Santana: horizontal, no mesmo nível, vertical com escadas na fachada e internamente e acesso restrito ao telhado. Como parte do estudo preliminar, e do reconhecimento da circulação, existe a necessidade de acessibilidade de acesso e circulação vertical.

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INTERVENÇÕES - CIRCULAÇÃO As duas intervenções a respeito da acessibilidade no Lar Santana complementam e impulsionam os usos propostos. A circulação vertical conta somente com escadas, sendo a instalação de uma plataforma levando o térreo ao primeiro pavimento uma intervenção necessária, porém invasiva. No térreo, para nivelar o piso e garantir o acesso e uso, a proposta é uma plataforma descolada do edifício, com acesso por uma rampa, ambos de estrutura metálica, fixados no piso, sendo totalmente reversíveis e não prejudicando o original. A plataforma será no estilo “palco praticável”, com medida de 2 metros por 1 metro, porém, é comercializado em módulos de diversas medidas. Além da plataforma foram desenvolvidos três variedades de módulos empilhaveis para que a plataforma seja usada de diversas formas, com diversas funções. Esses módulos podem ser combinados de diversas formas, sendo eles um módulo de cobertura, módulo de barreira e módulo de degrau.

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PALCO PRATICÁVEL DE ALUMÍNIO COM FORRAÇÃO E PÉS REGULÁVEIS

Intervenções

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PLATAFORMA ELEVATÓRIA A intervenção da plataforma elevatória foi pensada para solucionar um grande problema do edifício, que é a circulação vertical. No térreo, ela está localizada em uma área de circulação e no primeiro pavimento, está no ambiente onde funcionava a cozinha da clausura. Esse local foi escolhido pela posição física que favorece a acessibilidade e pela antiga cozinha possibilitar essa intervenção física, não sendo um ambiente com mobiliário ou pinturas com valor estético e histórico. Térreo

1 pavimento

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CORTE CC ESC 1:100


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Cozinha Clausura Foto: Gabriela Palmeira, out/2020

HALL PLATAFORMA ELEVATÓRIA


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96 Buscando a acessibilidade e liberdade de uso do pátio do Lar, uma plataforma descolada do edifício, amparada por uma rampa para vencer o desnível é uma das propostas desse trabalho. Esse piso nivelado liberta possibilidades de uso, sendo totalmente reversível e sem interferir na arquitetura original. Além do aspecto físico, o piso nivelado possibilita um espaço multiuso para que o edifício e o seu terreno sejam ocupados e aproveitados pela população, tornando o Lar Santana um espaço de questionamentos, discussões e produções. A discussão trata da ocupação de um lugar memória, aproximação da população do bem histórico e apropriação da história. Sobrepor e não apagar, não esquecer e não danificar.


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FACHADA


Para a instalação da plataforma completa, são necessários 487 módulos de piso. Todos os módulos tem os encaixes para os complementares, possibilitando diversos usos e funções do espaço.

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SEM ESCALA


MÓDULOS EMPILHÁVEIS

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0,55m

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- Estrutura base estilo “Palco praticável” - Alumínio - Pés reguláveis - Forração SEM ESCALA

- Módulo 1 - Degrau - Alumínio - Pés encaixe - Forração - Módulo 2 - Barreira - Alumínio - Pés encaixe

- Módulo 3 - Cobertura - Alumínio - Pés encaixe - Forração


101 Encaixe 5cmx5cm para módulos

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Pés reguláveis


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“RESSIGNIFICAR: É olhar de dentro para fora. É encontrar novidade no que a gente vê todo dia. É saber que as coisas mudam tanto quanto pessoas. É recriar o que um dia foi criado. É a própria regra. É saber lidar com o novo. É perceber que tem um pouco da gente em tudo o que a gente faz. É um exercício de auto conhecimento. É um ato de extrema liberdade em que a gente pinta o mundo à nossa volta do jeito que a gente vê.” - O livro dos ressignificados


BIBLIOGRAFIA BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração, Ateliê Editorial, 1977 BOAS, Flávia Vilas. Fragmentos Patrimoniais: Percursos pela História de Ribeirão Preto, 2016 BOITO, Camillo. Os restauradores, Ateliê Editorial, 1884 Carta do Restauro, Governo da Itália 1972 COSTA, Renato Gama-Rosa. Apontamentos para a arquitetura hospitalar no Brasil: entre o tradicional e o moderno. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 2011, vol.18, suppl.1 [cited 2020-03-29], pp.53-66. DA SILVEIRA, Frei Manoel Borges ; Saulo Gomes; Moacyr Castro. A coragem da inocência de Madre Maurina Borges da Silveira. ABAP - Associação Brasileira de Anistiados Políticos - IPCCIC – Instituto de Identidades Culturais, 2014. DECRETO-LEI Nº 25, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1937. <http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Decreto_no_25_de_30_de_novembro_de_1937.pdf> DO CARMO, Fernanda Heloísa; VICHNEWSKI, Henrique; PASSADOR, João; TERRA, Leonardo. Cesare Brandi: Uma releitura da teoria do restauro crítico sob a ótica da fenomenologia. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 189.01, Vitruvius, fev. 2016 <https://www.vitruvius. com.br/revistas/read/arquitextos/16.189/5946>. FÁBIO, André Cabette. O que é IPTU progressivo. E como tem sido sua aplicação em São Paulo.<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/05/04/O-que-%C3%A9-IPTU-progressivo.-E-como-tem-sido-sua-aplica%C3%A7%C3%A3o-em-S%C3%A3o-Paulo> LEI Nº 10.257, DE 10 DE JULHO DE 2001. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm> LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico, Brasiliense 1981 OLIVEIRA, Rogério Pinto Dias de. O equilíbrio em Camillo Boito. Resenhas Online, São Paulo, ano 08, n. 086.01, Vitruvius, fev. 2009 <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.086/3049>. OLIVEIRA, Rogério Pinto Dias de. O idealismo de Viollet-le-Duc. Resenhas Online, São Paulo, ano 08, n. 087.04, Vitruvius, mar. 2009 <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.087/3045>. <http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/madre-maurina/> <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-10-21/historia-sobre-madre-maurina-e-mais-emblematica-da-ditadura-militar-diz-pesquisadora> Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN)1 1937-1946 <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Servi%C3%A7o%20do%20Patrim%C3%B4nio%20Hist%C3%B3rico%20e%20Art%C3%ADstico%20Nacional.pdf> TIRELLO, Regina Andrade. Freitas, Pedro Murilo Gonçalves de. A síntese gráfica no processo de projeto de restauração arquitetônica. 2010

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