LAR SANTANA
A arquitetura e as sobreposições do tempo. Restauro e intervenção no Lar Santana.
Trabalho final de graduação de Arquitetura e Urbanismo
Centro Universitário Barão de Mauá
Gabriela Pereira Palmeira
Orientador: Henrique Telles Vichnewski
A arquitetura e as sobreposições do tempo. Restauro e intervenção no Lar Santana.
Dedico esse trabalho à todas as mulheres que lutaram e lutam diariamente para ter voz.
A Madre Maurina Borges da Silveira.
Agradeço a Deus por ser tudo para mim. A minha mãe, por ser minha base e ao meu pai, que do céu, com certeza está muito orgulhoso de mim.
Ao meu irmão Gustavo, por sempre me apoiar e me incentivar. Ao meu padrasto Fernando e toda a minha família, por estarem sempre comigo.
Aos meus orientadores, Jadiel e Henrique que, em cada etapa, acrescentaram muito ao meu projeto.
introdução
Madre
Foto retirada da internet, sem autor sinalizado.
http://anistiapolitica.org.br/abap3/2014/04/03/o-calvario-de-madre-maurina-borges-a-freira-que-a-ditadura-torturou/
Acesso em 13 de abril de 2020
Maurina Borges da SilveiraInaugurado em 1932, o Lar Santana foi constituído “lar” de meninas órfãs pelas irmãs da ordem católica franciscana, vindas da Alemanha. Acusada de cooperar com o grupo de guerrilha “Forças Armadas da Libertação Nacional (FALN)” a diretora do lar, madre Maurina Borges da Silveira, foi presa, torturada e exilada injustamente. Tornando-se reconhecida a partir da Comissão Nacional da Verdade como a única freira presa e torturada na ditadura, a história da Madre deposita um peso de responsabilidade no patrimônio cultural que o Lar Santana representa.
O valor do lar, que está em processo de tombamento reconhecido desde 2018 é além de histórico, moral. A significancia da Madre Maurina para a história brasileira é representativa em relação a outras mihares de mulheres que sofreram e sofrem injustamente.
Pela discussão moral, me proponho a estudar esse edifício que foi silenciado pelo seu estado de abandono e através dele propor uma discussão sobre feminicidio e mulheres que tambem foram abandonadas e silenciadas.
O Lar Santana é um edifício silenciado, com potencialidade para gritar uma história e dessa mesma forma coloco em pauta a militância de mulheres silenciadas que gritaram e fizeram história, assim como as que foram silenciadas sem a oportunidade de fazê-la.
“Ao olhar para trás e resgatar a história de meio século do Brasil, nos vemos, no tempo presente, diante de um processo transicional ainda pendente – de exercício da memória, da reexão, da justa homenagem às vítimas, das formas de reparação e da busca por justiça.”
AcoragemdainocênciadeMadreMaurinaBorgesdaSilveira/ Frei Manoel Borges da Silveira; Saulo Gomes; Moacyr Castro
ZUZU ANGEL ANA ROSA KUCINSKI CRIMÉIA DE ALMEIDA
ELIZABETH TEIXEIRA PAULINE REICHSTUL MAURINA BORGES DA SILVEIRA SOLEDAD BARRET VIEDMA EGLE VANNUCCHI LEME ANGELA MENDES DE ALMEIDA ANA DIAS
ÁUREA MORETTI PIRES AURORA DO NASCIMENTO FURTADO
DILMA ROUSSEFF CLARA CHARF CLARICE HERZOG ELZITA
SANTA CRUS EUNICE PAIVA DIANA PILÓ DE OLIVEIRA HE-
LENY TELLES FERREIRA GUARIBA THEREZINHA ZERBINI
FLAVIA INES SCHILLING HELENIRA RESENDE DE SOUZA
NAZARETH IARA IAVELBERG INÊS ETIENNE ROMEU GUIOMAR DA SILVA LOPES ILDA MARTINS DA SILVA JOANA LO -
PES JANE
VANINI LÍGIA MARIA SALGADO NÓBREGA LÚCIA
MURAT MARIA AUXILIADORA LARA BARCELOS MARLI PE-
REIRA SOARES MARIA AMÉLIA DE ALMEIDA TELLES “AME-
LINHA” MARIA JOSÉ ARAÚJO RITA SIPAHI ROSE NOGUEIRA
02 quadro teórico
Colégio Sagrado C oração de Maria fundado pela ordem das irmãs franciscanas a lemãs
Terreno d o Lar S antana f oi doado à igreja pela cafeicultora Dona A nna C laudina Villela d e Andade
Prisão da M adre M aurina pela ditadura m ilitar brasileira
Inauguração d o Lar S antana para m eninas o rf ãs.
Encerramento das a tividades do Lar S antana
Localizado na Vila Tibério, um dos bairros mais antigos de Ribeirão Preto, o Lar Santana foi inaugurado em 1932, constituído “lar” de meninas órfãs pelas irmãs da ordem católica franciscana, vindas da Alemanha. O Lar foi dirigido pela Madre Maurina de 1948 até 1969, quando ela foi presa e torturada pela ditadura militar brasileira. A prisão aconteceu em outubro de 1969, em frente ao Lar sob suspeita de abrigar membros do grupo guerrilheiro Forças Armadas da Libertação Nacional (FALN) e queimar materiais contra a ditadura que eles imprimiam no local. Segundo a história, a irmã Maurina foi presa injustamente e extraditada para o México até 1985 quando voltou ao Brasil e faleceu em 2011, tornando-se reconhecida, a partir da Comissão Nacional da Verdade, como a única freira presa e torturada na ditadura e assim depositando um peso de responsabilidade no patrimônio cultural que o Lar Santana representa.
O episódio com a Madre Maurina é uma história em destaque, no meio de tantas outras do período ditatorial brasileiro, pela inocencia da Madre, que não tinha envolvimento com o motivo da sua acusação. O grupo que se reunia no porão e nas salas do Lar Santana tinham autorização pois estariam a serviço da Igreja Católica e paralelamente imprimia panfletos contra a ditadura. O que comprometeu a Madre foi a queima de arquivos, quando ela os encontrou nas dependências do Lar e não queria que nem ela e nem qualquer outra pessoa fosse prejudicada pela presença daqueles papéis. Em carta redigida ao Ministro da Justiça, Alfredo Buzzardi, em 17 de dezembro de 1969, dois meses depois de sua prisão, Madre Maurina escreveu: “Insistiaparaqueeumeconfessasseconhecedora do Movimento [MEJ], porém, a única coisa que eu poderia achar-meculpadaeraofatodetermandadoqueimarospanfletos encontrados no porão da minha casa. No momento, foi essa atitude que me pareceu mais acertada. Depois do ocorrido foi que refleti melhor, chegando a concluir que teria sido maisacertadoentregá-losàdelegacia.”
Sem uso desde 2014, quando suas atividades como orfanato para meninas foram encerradas, e em tombamento provisório desde 2018 pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto (CONPPAC/RP), o Lar Santana é um patrimônio histórico e sua conservação é de interesse da cidade e do país pela história que carrega e também como simbologia de um período ditatorial. Ribeirão Preto enfrenta situações onde edifícios públicos ou particulares estão em estado de abandono e consequente degradação, como por exemplo o Hotel Brasil, no centro da cidade, que está fechado desde 1993. O Lar Santana, edificação da década de 30, está em um contexto de abandono no coração da Vila Tibério, sujeito a ações de vandalismo, prejudicando não só o próprio corpo do edifício, mas também a memória e história da cidade. Todo o valor histórico e arquitetônico do edifício não é reconhecido de forma prática pelo poder público e pela população, tornando o edifício uma “lacuna ocupada”, ou seja: é uma edificação significativa na escala do bairro e muito representativa em seu tamanho e porcentagem de ocupação da quadra, porém, o fato de não estar sendo usado o torna uma lacuna, “espaço vazio, falha ou falta”, um vazio dentro de um corpo tão imponente em sua construção, tornando essa lacuna uma brecha para ações de vandalismo, ações do tempo e degradações naturais pela falta de uso e manutenção nas instalações, aquelas que ainda não foram roubadas.
Diante da atual situação, esse trabalho tem como objetivo aplicar as teorias de restauro de Cesare Brandi, propondo uma intervenção para que exista um novo uso, trazendo vida ao edifício e explorando seu potencial, sem que haja falso histórico, distinguindo as intervenções da preexistência e documentando para que um dossiê seja criado sobre a história e a construção, a fim de disponibilizar informações e conhecimento para as gerações futuras e cidadãos.
A partir de pesquisas em artigos, entrevistas, vídeos e bibliografias, esse objeto de trabalho transcorre uma viagem histórica sobrepondo a memória à preexistência e resulta no projeto de restauro e intervenção, pelo bem do edifício, da cidade, do patrimônio cultural e em memória de Maurina Borges da Silveira.
Sala Lar Santana Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019 Banheiro Lar Santana Foto: Gabriela Palmeira, mar/2019Restauro
Os primeiros indícios sobre restauro são chamados de “restauros arqueológicos” praticados sem teorias e metodologias de estudo aprofundadas. Contemporâneo ao movimento a fim de conservar patrimônios, surge um dos pioneiros sobre conceitos de restauração, o francês no século 19, Eugène Viollet-Le-Duc, com o seu “restauro estilístico” que além de restaurar, recriava as edificações destruídas na França, construindo assim falsos históricos sem distinção do antigo com o novo. Viollet-Le-Duc não tentava recuperar a forma original do edifício e, sim, melhorá-la. Tomando distância das teorias anteriores a ele, Camillo Boito condensa suas metodologias no chamado “restauro moderno”, em que ressalta que o edifício deve ter constantes manutenções anteriores à medida de restauro, também para que não sofra nenhum tipo de “amputação” e que não caia em ruínas, além de enumerar princípios para que a restauração não crie um falso histórico, sendo alguns deles: distinguibilidade entre o existente e o restauro, mínima intervenção, registrar as obras com fotografias e documentar in loco as intervenções. Boito defende também a demolição de elementos que foram acrescentados ao longo do tempo e apresentam diferenças em relação a construção original, nunca de forma sensitiva, mas sempre baseado em documentações.
Posterior ao pensamento de Camillo Boito, o pensamento de Cesare Brandi tem como conceito de restauração o ato de intervir atribuindo eficiência a obra humana construída. Diante da leitura da Carta de Restauração de 1972 e do livro “Teoria da Restauração” de Brandi, o restauro e as intervenções estão pautadas no ato de reestabelecer o potencial da edificação, com distinguibilidade e preservando as marcas do tempo existentes e a história do edifício, além de garantir que o novo uso não seja incompatível com o histórico, interesses artísticos e estéticos do edifício (Brandi 1993, pg. 33). O conhecido “restauro crítico” trata
cada obra como única, sem classificar uma metodologia geral para intervir e sim uma metodologia para reconhecimento e documentação do bem como sendo uma obra de arte e sofrendo intervenções somente após a teoria ser reconhecida na necessidade específica.
A primeira lei sobre patrimônio no Brasil foi instituída em 30 de novembro de 1937, no mandato do presidente Getúlio Vargas e decreta a organização da proteção do patrimônio histórico artístico e nacional. No mesmo período foi criado o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão federal de proteção ao patrimônio cultural brasileiro, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O compartilhamento de memórias é ponto importante para que as novas gerações cuidem dos patrimônios e valorizem o histórico como exemplo. Na cidade de Ribeirão Preto existem diversos edifícios públicos e particulares em situação de abandono, vulneráveis e sofrendo ações do tempo. Além de obstáculos culturais, acabam tornando-se obstáculos econômicos, impedindo a viabilização do restauro após anos de degradação severa, tornando esses edifícios inaproveitados e inaproveitáveis. Alguns edifícios são muito conhecidos pela população e alguns desconhecidos, porém, independente da fama, todas as construções sem uso causam uma lacuna que nenhuma edificação nova pode suprir, geram um silêncio de expressão, mesmo estando fisicamente aptos, mas se com suas atividades mantidas, a população, a cidade e a memória são beneficiadas. Os projetos de intervenção e restauro em pré-existências são necessários para o cenário da cidade e sua construção social, transformando os edifícios ociosos em um novo uso adaptado para as necessidades de cada bairro.
“A restauração, para representar uma operação legítima , não deverá presumir nem o tempo como reversível, nem a abolição dahistória.Aaçãoderestauro,ademais,epelamesmaexigência, que impõe o respeito da complexa historicidade que competeàobradearte,nãosedeverácolocarcomosecretaequase fora do tempo, mas deverá ser pontuada como evento histórico talcomooé,pelofatodeseratohumanoedeseinserirnoprocessodetransmissãodaobradearteparaofuturo.”
(Brandi 1993, pg. 61)
O Lar Santana, patrimônio histórico provisoriamente tombado pela RESOLUÇÃO Nº 01/2018 do CONPPAC/RP no dia 17/07/2018, está vinculado à história de Ribeirão Preto não somente pelos seus 82 anos de funcionamento com cunho social, de 1932 a 2014, mas também por ter sido palco de uma das histórias mais emblemáticas da ditadura brasileira, envolvendo a prisão e tortura da Madre Maurina, diretora do Lar desde a inauguração até 1969, quando foi levada pelos militares. Por 45 anos, o Lar Santana permaneceu com suas atividades em funcionamento, mesmo após ser eternamente marcado pelo episódio com a Madre. O restauro é peça fundamental na consolidação do edifício como memória e segundo Cesare Brandi no livro “Teoria da Restauração”, restaura-sesomenteamatériadaobradearte,devendovisar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo. De esquadrias, acabamentos e cores características e marcantes, o Lar Santana se destaca na sua implantação, tendo como marca registrada visualmente o vermelho que conta a sua história. Os acontecimentos que envolvem o Lar são a base para documentação e ações de restauro, preservando o seu interior, exterior e terreno.
Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
(DECRETO-LEI Nº 25, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1937.)
03 caracterização e levantamentos
A Vila Tibério, localizada no centro de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, é um bairro documentadamente fundado por trabalhadores ferrovários, de fazendas de café e imigrantes italianos, com suas famílias. A fazenda que se tornou o parcelamento de solo foi doada a Tibério Augusto em 1885. A Vila é o berço do “Botafogo Futebol Clube” que nasceu no bairro em 1918 e também ancorou as construções da Estação de Ribeirão Preto (Cia. Mogiana de estradas de ferro) e a cervejaria Antarctica Paulista. Na década de 50 a Vila Tibério era responsável por metade da produção de riquezas da cidade, o que torna um bairro historicamente importante para a fundação, construção e memória de Ribeirão Preto.
O mapa de edificações históricas é uma análise de algumas edificações relevantes em relação ao edifício em pauta, Lar Santana. O recorte do centro da cidade foi proposto para que, diante da proximidade física, uma discussão fosse levantada sobre a relevância histórica do Lar Santana, construído na década de 30, assim como o Theatro Pedro II. Essa amostragem foi feita com o propósito de analisar que em dois bairros próximos existe uma quantidade de edificações históricas e somente uma parcela é reconhecida e valorizada. Assim como o próprio Lar Santana, outras edificações necessitam de manutenção e têm potencial para serem adaptadas e utilizadas.
RuaRoqueNicarato
Av.AntônioeHelenaZerrener
Av.FábioBarreto
Rua Conselheiro
Dantas
Bairro historicamente residencial, fundado por trabalhadores, a Vila Tibério permanece com seu uso majoritariamente residencial, com comércios e serviços bem distribuídos, que abastacem o bairro. Além de ser margeado por importantes avenidas que cruzam a cidade. O levantamento de densidade do bairro, atrelado ao gabarito revela um bairro denso, com taxa de ocupação alta na relação edificação/terreno e de gabarito majoritariamente térreo ou sobrado. O entorno imediato de quadras do Lar Santana tem 269 edificações, resultando em uma média de 914,6 pessoas nas 8 quadras.
3.1 Tipologia arquitetônica
Edifício de arquitetura seguindo o modelo de hospitais religiosos, com uma configuração interna repartida e pátio interno ao formato de “L” do edifício, era o lar de meninas órfãs cuidadas pelas freiras da ordem das irmãs franciscanas. Segundo o arquiteto e urbanista Renato Gama-Rosa Costa, do Departamento de Patrimônio Histórico do Rio de Janeiro existem três formas principais e pioneiras de arquitetura hospitalar, sendo a primeira de edifícios cruciformes insalubres, a segunda, a partir do século 18, baseada em medidas higienistas e cem anos depois as construções pavilhonares. O Lar Santana foi, a princípio, construído de forma pavilhonar única e posteriormente acrescido do segundo pavilhão anexo, resultando no formato atual em “L” e sendo diagnosticado como três momentos de construção por sinais de ampliação e as diferenças entre as esquadrias, pisos e materiais.
“O primeiro tipo, identificado como higienista pela Assistance Publique Hôpitaux de Paris - a arquitetura ventilada de finaisdoséculoXVIII,comoessainstituição preferiadenominar-,serviriadereferência para diversos hospitais construídos noBrasilentreasdécadasde1920e1950, antes da consolidação do monobloco modernista, como veremos.”
“Apontamentos para a arquitetura hospitalar no Brasil: entre o tradicional e o moderno”, Renato Gama-Rosa Costa, 2011
Modelos hospitalares religiosos segundo Renato Gama-Rosa Costa, 2011
MODELO HOSPITALAR RELIGIOSO
Século 15
Enfermarias presas a um corpo central com outros ambientes anexos.
Forma a princípio cruciforme que evoluiu para formatos em E, H e X.
MODELO PAVILHONAR
- Fundação de “casas de misericórdia”
Século 18
“A disposição dos pavilhões buscava conforto, higiene, aeração e insolação dos ambientes de cura, aproveitando-se a proximidade dos rios, as áreas ajardinadas e a topografia do terreno, conforme o projeto dos hospitais pavilhonares. A arquitetura buscava reproduzir um ambiente familiar, expresso por um ‘aspecto rústico’, ‘de casas comuns’(...)”
COSTA, Renato Gama-Rosa. Apontamentos para a arquitetura hospitalar no Brasil: entre o tradicional e o moderno.
MODELO MONOBLOCO ou MONOBLOCO
MODERNISTA
Século 20
Criado nos EUA para substituir o modelo pavilhonar de isolamento.
3.2 Historicidade do espaço
A historicidade do edifício foi um estudo baseado na diferença de materialidade e detalhes das esquadrias e revestimentos, além das divisões dos telhados, suas quedas e águas. As datas das construções não foram encontradas. As esquadrias foram medidas no local e as cores presentes nas representações são um levantamento feito através das fotos, representando o mais próximo possível das cores encontradas.
3.3 Reconhecimento e danos
O levantamento físico do Lar Santana foi feito antes do período de pandemia. As medições do porão não foram executadas, portanto, não será considerado no estudo de restauro e intervenção de proposta desse trabalho.
As dimensões do porão são aproximadas, de acordo com a vista externa das aberturas com grade, assim como o reconhecimento do monumento epigráfico presente no pátio.
O térreo e o primeiro pavimento foram medidos in loco, assim como as esquadrias. Diante dos levantamentos físicos, juntamente com os levantamentos fotográficos, a proposta desse trabalho é intervir e restaurar o complexo do Lar.
Implantação
Reconhecimento - Ambientes
Edifício que abrigava um lar de meninas órfãs, alguns cômodos do Lar Santana são característicos de seus antigos usos. No local não existe mais o mobiliário original, mas os armários embutidos e áreas molhadas permanecem, assim como lousas, altar e pinturas que caracterizam salas de aula e música. A clausura é sinalizada por uma placa na porta de entrada e também é diferenciada pelas portas com pequenas aberturas “passa prato”.
Cadastro arquitetônico técnico
Cortes
Elevações
RUADRJORGELOBATO
Circulação
Térreo
1 pavimento ESC
Forros
Alguns ambientes não apresentam nenhum tipo de forro, deixando as telhas cerâmicas aparentes. O térreo se mantém com somente a laje aparente como teto e o primeiro pavimento sofreu uma intervenção, sem documentação conhecida do forro anterior e sem data da instalação do forro de PVC em todos os ambientes. Hoje, essa instalação está em más condições, danificada na maioria dos ambientes, o que prejudica a circulação no local, a manutenção de pisos e limpeza geral.
Pisos
O Lar Santana, de arquitetura pavilhonar apresenta diversas esquadrias diferentes ao longo dos seus ambientes e também algumas diferenças de pisos. Alguns ambientes tem piso de madeira em réguas, alguns em madeira de taco. A maior parte do edifício é de pisos cerâmicos, sem um padrão único, existindo inúmeros tamanhos, cores e estampas.
Danos
O edifício apresenta alguns danos que se repetem nos ambientes, como destacamento de pintura, sujeira excessiva por falta de manutenção, vandalismo nas áreas molhadas e presença de animais, como morcego. Com materialidades diferentes do térreo para o primeiro andar, alguns ambientes apresentam danos nos pisos e revestimentos, assim como patologias diferentes nas esquadrias que são metálicas ou de madeira. Analisando o edifício como um todo, o estado de conservação é bom, apesar de danos em praticamente todos os ambientes.