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The Collectivities of S. Vicente Parish

desporto excursionismo teatro educação

A partir da segunda metade do século XIX o movimento associativo em Portugal e, em particular, em Lisboa, ganhou uma grande dinâmica com o surgimento das chamadas sociedades de cultura e recreio, hoje em dia abreviadamente designadas por colectividades. De inegável importância social, prestaram um relevante contributo à população mais desfavorecida, sobretudo até à década de 1970, através da distribuição do chamado bodo aos pobres. A sua acção social passou em algumas delas também pela vertente educacional, nelas funcionado escolas primárias destinadas ao ensino dos filhos dos associados e até dos próprios sócios. A grande riqueza das colectividades e o interesse que despertam reside substancialmente no eclectismo. A sua actividade não se resume apenas a um dos planos cultural, recreativo, social ou desportivo. Raras são as que se dedicam apenas a um deles, o que não invalida que a sua natureza penda para uma ou outra valência. Actualmente constituem, ainda, um factor identitário da Lisboa moderna assente na diversidade das suas freguesias e bairros, na qual se inclui a de S. Vicente.

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A partir da segunda metade do século XIX o movimento associativo em Portugal e, em particular, em Lisboa, ganhou uma grande dinâmica com o surgimento das chamadas sociedades de cultura e recreio, hoje em dia abreviadamente designadas por colectividades. Fundadas nos diferentes bairros da cidade, acompanharam estreitamente a sua evolução. Algumas delas, actualmente centenárias, surgiram no contexto político e social dos finais do século XIX e dealbar do século XX, com o crescimento do operariado e a proliferação do ideário socialista e republicano, sobretudo nos bairros operários. Importa ressalvar, no entanto, que apesar dessa motivação política que deu origem ao aparecimento de algumas destas colectividades nessa época, estatutariamente era clara a interdição de actividades políticas nas suas sedes. A freguesia de São Vicente, criada pela reforma administrativa aprovada pela Lei nº 56/2012, de 8 de Novembro, alterada pela Lei nº 85/2015, de 7 de Agosto, integra o território correspondente às anteriores freguesias da Graça, São Vicente de Fora e Santa Engrácia. Esta realidade geográfica foi acentuadamente marcada, a partir do final do século XIX e início do século XX, pelo surgimento de bairros e vilas operárias cujos residentes desenvolviam a sua actividade laboral sobretudo na indústria tabaqueira.

From the second half of the 19th century onwards, the associative movement in Portugal and, in particular, in Lisbon, gained a great momentum with the emergence of the so-called cultural and recreational societies, nowadays known as collectivities. Of undeniable social importance, the collectivities made a relevant contribution to the most disadvantaged population, chiefly until the 1970s, through the distribution of the so-called food of the poor.

Its social action also included the educational aspect, namely operating primary schools for the children of members and even the members themselves. The great wealth of collectivities and the interest they arouse resides substantially in eclecticism. Its activity is not just limited to one of the cultural, recreational, social or sporting plans. Rare are the collectivities who dedicate themselves to only one of these plans, which does not invalidate that their nature leans towards one or another valence.

Entre as vilas e bairros da freguesia destacam-se a Vila Sousa, construída em 1890 por Francisco e Guilherme Tomás da Costa, a Vila Berta, (Figura 1) edificada em 1908, onde Alfredo Marceneiro trabalhou na década de 1930 nas oficinas Diamantino Tojal, a Vila Maria, de 1910, e o Bairro Estrela D’Ouro. Este último foi mandado construir em 1909 pelo industrial galego Agapito Serra Fernandes para nele residirem os seus empregados. Ele próprio, aliás, morava no bairro. Foi também por sua iniciativa que foi edificado o histórico cinema Royal, na Rua da Graça nº 100, (Figura 2) projectado por Norte Júnior. Nesse cinema, de 900 lugares, com plateia, balcão e camarotes, foi exibido o primeiro filme sonoro em Portugal, intitulado Asas Brancas nos Mares do Sul, de W. S. Van Dyke. Bairro emblemático da freguesia, em

1933 foi berço de uma das colectividades, que durante muitos anos aí funcionou, o Grupo Recreativo Estrela d’Ouro. De inegável importância social, as colectividades prestaram um relevante contributo à população mais desfavorecida, sobretudo até à década de 1970, ao promover uma acção beneficente traduzida, grande parte das vezes, na distribuição do então denominado bodo aos pobres. Esta iniciativa coincidia, habitualmente, com as comemorações do aniversário da colectividade e com a quadra natalícia. Nessas ocasiões eram oferecidas às crianças roupas e brinquedos e servido um lanche. (Figura 3,4,5) Sem esquecer, naturalmente, o apoio prestado aos idosos mais necessitados.

Na freguesia de São Vicente ainda hoje existe uma colectividade fundada em 8 de Novembro de 1876 por 18 operários, à época com características expressamente assistenciais, a Caixa Económica Operária, que chegou a ter um número muito expressivos de associados.

A Câmara Municipal de Lisboa cedeu o terreno onde construiu a sua própria sede na então Rua da Infância, na qual está instalada desde 14 de Agosto de 1887. Esta artéria tem actualmente a designação de Rua da Voz do Operário, nome da sua congénere sediada no lado oposto da rua. Constituída posteriormente, a Sociedade de Instrução Voz do Operário viu o seu esforço reconhecido pela vereação republicana que, em 1915, atribuiu o seu nome à rua onde se encontra sediada desde 1913.

A Caixa Económica Operária assumiu desde início contornos específicos ditados pelo fim para que foi criada e pelos condicionalismos sociais e económicos do seu tempo, resultando de uma iniciativa de inspiração cooperativista. Em Portugal o movimento cooperativo de consumo teve início nas últimas décadas do século XIX, face ao aumento populacional e consequente crescimento das grandes cidades e à necessidade de se encontrar resposta para a salvaguarda dos consumidores mais desfavorecidos. Desenvolvendo-se nas duas principais cidades do País e com intensa ligação ao quotidiano dos seus bairros populares, surgiram as primeiras cooperativas e caixas económicas, as quais, além dos seus objectivos de solidariedade ou de crédito e consumo, tinham, igualmente, preocupações de índole cultural que pressupunham a organização de diversas iniciativas com o objectivo de melhorar a formação integral dos seus associados. A Caixa Económica Operária surgiu neste contexto, tendo por fim garantir meios de subsistência a uma classe emergente, através da constituição de uma sociedade de crédito onde os operários seus associados pudessem depositar as suas economias, para formarem um fundo de empréstimo que evitasse, nas horas de aflição, o recurso às casas de penhores. Esta colectividade, onde chegou a funcionar uma mercearia, (Figura 6) uma padaria e uma barbearia destinadas aos sócios, foi tendo ao longo dos anos outros objectivos e preocupações culturais.

O seu edifício de três andares, dotado de um grande salão com palco, chegou a albergar, a partir do final da década de 1930, emissores de rádio, que transmitiam numa frequência comum em horários diferentes. Tratavase da Rádio Peninsular, da Rádio Voz de Lisboa e da Rádio Acordeón, de que eram proprietários os irmãos Amadeu e Fernando Laranjeira. Nos programas emitidos por essas rádios e, em particular pela Peninsular, havia momentos de teatro radiofónico muito apreciados pelos ouvintes. Pelos seus microfones passou o prestigiado locutor Artur Agostinho, então em início de carreira, e diversas artistas, entre as quais: Milu, Maria Eugénia, que ficaria conhecida como a Menina da Rádio e as Irmãs Remartinez, o primeiro duo feminino que surgiu no panorama musical português na senda das Andrew Sisters americanas. Os programas humorísticos conquistaram também o seu espaço na Rádio Peninsular, tendo bastante audiência, caso da Parada da Paródia, na década de 1950, da autoria dos Parodiantes de Lisboa, que, mais tarde, fizeram outros programas no Rádio Clube Português. Esta companhia de teatro humorístico comemorou o seu 50º aniversário nesta colectividade, à qual, na ocasião, ofereceu um elemento escultórico representando a comédia e a tragédia, que se encontra por cima do palco. O universo radiofónico na Graça incluía, ainda outra estação, a Rádio Graça, que, fundada em 1932, se instalaria em 1937 na Rua da Verónica, nº 124. Facilmente se percebe, pois, a importância da rádio na freguesia e a quantidade de artistas que atraiu para os seus programas ao vivo. Por esta rádio passaram locutores como Eládio Clímaco, António Sala e artistas como Milu, Fernanda Baptista entre tantos outros.

A acção social destas agremiações passou em algumas delas também pela vertente educacional, nelas funcionando escolas primárias destinadas ao ensino dos filhos dos associados e até dos próprios sócios. Na freguesia de São Vicente, esse papel coube desde início e, até à actualidade, com particular sucesso, à centenária Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário, fundada em 13 de Fevereiro de 1883, na sequência da criação do jornal A Voz do Operário, em 1879. Este periódico tinha sido criado com o propósito de dar voz aos operários, sobretudo da indústria tabaqueira. Com sede na freguesia de São Vicente, dispõe de outras instalações escolares em diferentes locais da cidade, designadamente na Ajuda e no Restelo, em Belém, e noutras zonas fora de Lisboa. A sua actividade estendese a outras áreas que não apenas a educativa. Esta agremiação promove iniciativas de índole cultural, recreativa e desportiva, sendo de salientar, igualmente, a organização da Marcha Infantil, que actualmente integra 70 crianças e que, em 1988, participou pela primeira vez no desfile da Marchas Populares. Para além dos aspectos de natureza social, que determinaram a constituição de algumas destas colectividades, as componentes cultural, desportiva e de lazer foram ganhando cada vez maior expressão ao longo do século XX. (Figura 7) Entre as iniciativas de cariz cultural destacase o teatro amador. Grande parte das suas sedes possuía pequenos palcos.

A paixão pela representação levou ao surgimento de uma série de grupos teatrais organizados nas colectividades, compostos por associados que levavam muito a sério a arte de Talma. (Figura 8) Nos órgãos de comunicação chegavam a publicar-se críticas jornalísticas sobre a exibição de algumas peças, em que se realçava a qualidade da representação, por vezes equiparada à dos actores profissionais. A produção teatral nas colectividades tinha larga expressão e qualidade na representação e na escolha do reportório, que incluía, naturalmente, além do drama e da comédia, a revista. De realçar que muitos actores que se distinguiram profissionalmente ao longo do século XX, se estrearam na arte dramática nas colectividades. Foi o caso de actores como Raul Solnado, Jacinto Ramos e Anita Guerreiro entre tantos outros, que permitem qualificar as colectividades, sobretudo até aos anos de 1960, como verdadeiras escolas de teatro. De referir, ainda, a realização de concursos teatrais, disputados pelas colectividades, e a importância que para estas significava a conquista de prémios ou menções honrosas.

A partir da década de 1960 a televisão, que nos primeiros anos reunia os associados para assistirem às emissões da RTP, havendo fotografias curiosas desse tempo, em que um aparelho de televisão ocupava o centro do palco e se dispunham as salas como se de um cinema se tratasse, com cobrança de bilhetes, acabou por provocar uma quebra na produção teatral. Algumas destas colectividades recuperariam a actividade dramática com o surgimento de novas gerações de actores amadores, mas nem todas com a pujança de outros tempos. Os bailes realizados durante as comemorações do aniversário, da pinhata, da chita, de carnaval, de fim de ano, bem como as soirées dançantes, constituíam momentos de recreio na vida das colectividades. Inicialmente eram animados por troupes jazz, depois por conjuntos e bandas com nomes muito curiosos, mencionados nos programas, que dão testemunho da intensa actividade musical registada ao longo de vários anos. Um desses conjuntos musicais que actuou em colectividades da freguesia e também no cinema Royal foi o dos muito afamados Seis Latinos. (Figura 9)

O recreio foi sempre uma das principais missões das colectividades, proporcionado em bailes ou soirées dançantes. O Grupo Recreativo Estrela D’Ouro possuía um espólio fotográfico ilustrativo da intensa programação, que preencheu grande parte da sua existência. As noites de fado ainda hoje reúnem os sócios nas colectividades. (Figura 10) Na fronteira da freguesia de São Vicente com a de Santa Maria Maior tem sede O Grupo Desportivo da Mouraria, que pela sua localização e designação desenvolve a sua actividade em estreita ligação com a freguesia vizinha.

A esta colectividade que organiza a Marcha da Mouraria está ligado um grande nome do fado, Fernando Maurício. Também com tradição no fado, o Clube Desportivo da Graça foi o vencedor da Grande Noite do Fado, em 1987. A partir de 1932, com a criação das marchas populares, algumas das colectividades da cidade ganharam protagonismo organizando as marchas dos respectivos bairros. Uma produção cada vez mais sofisticada e que melhorou em qualidade de espectáculo, principalmente a partir do momento em que passou a ser transmitida pela televisão.

A Marcha da Graça e a Marcha de São Vicente são organizadas, respectivamente, pelo Clube Desportivo da Graça, fundado em 1935 e pela centenária Academia Recreativa Leais Amigos, constituída em 1915. Os convívios, os almoços de aniversários e, naturalmente, os passeios, serviam e ainda servem, igualmente, de recreio aos associados.

A história das colectividades de São Vicente regista alguns desses momentos, inclusive com fotografias, que ilustram não só a sua actividade, como uma época da vida da cidade e das suas gentes. (Figura 11)

A título de exemplo refere-se um original passeio de eléctrico por Lisboa organizado pelo Grupo dos Cinco Réis em Abril de 1968, para comemorar mais um aniversário. Com partida às 8h30 de uma manhã de domingo, do Largo da Graça, o passeio teve a duração de duas horas e meia, nas quais os 27 participantes percorreram 40 km.

A iniciativa foi objecto de notícia em vários periódicos da época, entre os quais o Diário de Lisboa. (Figura 12) O excursionismo foi uma actividade preponderante, que a par das outras iniciativas de cariz recreativo, cultural e desportivo, marcou a vida das colectividades. Ainda hoje algumas delas organizam passeios e promovem o cicloturismo. O excursionismo foi, inclusive, pretexto para a criação de algumas destas agremiações que, para melhor explicitar os fins a que se propunham, adoptavam a designação de grupos excursionistas.

No território da actual freguesia de São Vicente surgiram em 1898 o Grupo Excursionista Civil do Monte e, em 1921, o Grupo Excursionista Recreio Familiar. (Figura 13)

Ao longo de mais de cem anos de associativismo, no território da actual freguesia de São Vicente, nasceram inúmeras colectividades, muitas delas de vida breve ou até mesmo muito breve. Entre estas algumas tinham por fim específico o excursionismo. Referemse três com designações curiosas tais como: Grupo Excursionista Os Malcriados, fundado em 1924, Grupo de Recreio Excursionista Os 10 Embirrantes, fundado em 1916, composto por apenas 10 sócios, e Grupo Excursionista Avante pelo Futuro. O nome desta última prometia muito, mas avançou pouco pelo futuro. Fundada em Agosto de 1926 foi extinta em Setembro do mesmo ano, por divergências entre os sócios.

Os jogos tradicionais, como o da laranjinha, proporcionavam, também, o recreio aos sócios, sendo, todavia, já reduzido o número de colectividades que possuem espaço adequado para a sua prática. O Grupo dos Cinco Réis, fundado em 1907, com sede na Rua da Graça, nº 162, distinguiu-se durante muitos anos pelo seu famoso campo de laranjinha, onde se realizaram inúmeros torneios. Foi substituído há alguns anos por calçada portuguesa, passando o espaço a ser utilizado como sala para jogar matraquilhos. A originalidade da colectividade não se limitava ao campo de laranjinha, o nome desta agremiação é, igualmente, interessante. Cinco réis era o valor mais baixo da moeda então em circulação no País, ainda monárquico, e foi também esse o valor inicial fixado como quota. A utilização da internet veio revolucionar a vida destas agremiações criando novos interesses e desafios junto dos sócios mais idosos, tendo algumas colectividades disponibilizado espaços para aprendizagem e utilização das novas tecnologias e navegação na internet, caso do Futebol Clube Monte Pedral, que há uma década atrás promovia a utilização das novas tecnologias com o apoio de alguns jovens.

A comunicação com os sócios e a divulgação dos programas de actividade das colectividades faz-se, cada vez mais, pela internet, em sites e nas redes sociais, o que traduz bem o esforço de modernização que muitas destas associações têm vindo a fazer. Esforço esse que é uma condição de revitalização e sobrevivência, fundamental para incluir os mais idosos e atrair os mais novos. A divulgação das actividades juntos dos sócios e a comunicação em geral esteve sempre no horizonte das colectividades, sobretudo nas que possuíam maior número de associados. Muitas delas antes da internet e das redes sociais, tinham boletins, folhas de notícias e outras publicações do género, algumas até mesmo um jornal, que publicavam com a regularidade possível. Num desses jornais, O Maria Pia, (Figura 14) editado pela primeira vez em 1927, pelo Maria Pia Sport Clube, fundado cinco anos antes, foram publicadas em 1928 as “condições e leis” de um jogo muito em voga nas colectividades entre o final da década de 1920 e a década de 1940, o Fox-ball. O nome é sugestivo e a modalidade, no mínimo, original. Consistia num jogo de futebol realizado nos salões das colectividades, praticado por duas equipas de quatro pares – guarda-redes, meia-defesa e dois avançados - que chutavam a bola na tentativa de marcar golo nas balizas, colocadas em lado opostos da sala, enquanto dançavam o foxtrot. Fica a saber-se por essa publicação que o primeiro campeonato se realizou em 1928, no salão do Maria Pia Sport Clube. Entre as regras do jogo destacam-se as seguintes: a bola de saída não podia ser rematada directamente à baliza, o jogo tinha de ser praticado sem perda de compasso, sob pena da marcação de um livre, a bola não podia ser levantada a mais de 0,50m de altura, igualmente, sob pena da marcação de um livre. Realizaram-se vários campeonatos desta modalidade em diferentes agremiações, chegando um deles a contar com a participação de 22 equipas, cada uma de sua colectividade. O desporto tem feito parte da vida destas associações, nas quais se praticaram e ainda se praticam diferentes modalidades que envolvem diversas faixas etárias. Na freguesia de São Vicente encontramos um número expressivo de colectividades fundadas quase todas em contexto de bairro, essencialmente com vocação desportiva como o Maria Pia Sport Clube que se tem vindo a destacar na prática do basquetebol. O clube tem sido uma verdadeira escola de desporto no que diz respeito ao ensino e prática desta modalidade. Ao longo dos anos foram vários os atletas do clube que se distinguiram no panorama desportivo nacional e internacional, entre os quais Carlos Andrade (Figura 15), Sérgio Ramos e João Santos. (Figura 16)

O Futebol Clube Monte Pedral, apesar da designação, foi no andebol que se distinguiu durante alguns anos. Já o Clube Desportivo da Graça proporciona aos seus associados a prática do futsal e de jiu-jitsu. O Operário Futebol Clube, fundado em 1921, que desenvolve a sua actividade em duas freguesias, tem ligação a São Vicente e constitui uma referência no mundo do futebol. A grande riqueza destas agremiações e o interesse que despertam reside, substancialmente, no seu eclectismo. A actividade promovida não se resume apenas aos planos cultural, social ou desportivo. Raras são as que se dedicam apenas a um deles, o que não invalida que a sua natureza penda para uma ou outra valência. A relevância destas agremiações em termos sociais, culturais e desportivos na vida dos bairros é particularmente significativa em toda a cidade. Nesta zona territorial de Lisboa foram sendo, ainda, fundadas, ao longo dos anos, outras colectividades que merecem referência tais como: o Grupo dos Nove, fundado em 1910, o Mirantense Futebol Clube, instituído em 1935, o Grupo Sempre Unidos, constituído em 1913, o Clube Ferroviário de Portugal, criado em 1961, com instalações nesta freguesia e também em Alcântara e Marvila, o Clube Recreativo da Bela Vista, de 1948, o Grupo Desportivo Os Jovens fundado em 1972, o Centro de Cultura Popular de Santa Engrácia constituído em 1975 e o Núcleo dos Amigos do King, uma das mais recentes, fundada em 1996. O Lusitano Clube, fundado em 1905, apesar de uma longa história que o liga à freguesia de Santa Maria Maior, onde estava sediado, está actualmente instalado na freguesia de São Vicente, aí desenvolvendo a sua actividade.

As colectividades da freguesia de São

Vicente, que outrora pertenciam à antiga freguesia da Graça, foram tratadas no segundo volume de uma colecção de que sou autora, dedicada às freguesias da cidade e respectivas colectividades que a Câmara Municipal de Lisboa, através do Gabinete de Estudos Olisiponenses, tem vindo a publicar. A esse volume intitulado Colectividades de Lisboa-Freguesia da Graça, publicado em 2008, (Figura 17) seguiram-se outros mais, respeitando já a nova reforma administrativa. A história das restantes colectividades de São Vicente constará no respectivo volume, a publicar oportunamente. Actualmente as colectividades constituem, ainda, um factor identitário da Lisboa moderna assente na diversidade das suas freguesias e bairros, na qual se inclui a de São Vicente com toda a sua riqueza associativa.

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