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The geology and paleontology of Saint Vincent’s perish As histórias que o chão da Freguesia de
São Vicente conta
Mário Cachão
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É abordada e interpretada parte da geoidentidade de Lisboa, nomeadamente a que serve de substrato à Freguesia de São Vicente. A mais superficial, sobre a qual assenta o edificado desta freguesia, raramente aflora (por exemplo, no Geomonumento da Rua da Judiaria e no Teatro Romano de Lisboa). Outra, escondida centenas de metros abaixo do solo nesta freguesia, mas aflorante nos sectores mais ocidentais, é tradicionalmente utilizada na edificação e pavimentação de vários dos seus monumentos mais emblemáticos como o Mosteiro/Igreja de São Vicente de Fora e o Convento da Graça e sua envolvente. Referimo-nos aos calcários compactos, fossilíferos, mais conhecidos por liós.
O susbtrato geológico da Freguesia de São Vicente
A freguesia de São Vicente situa-se no limite sul da cidade de Lisboa, sobranceiro ao rio Tejo, onde afloram algumas das unidades geológicas mais recentes (recentes com mais de uma dezena de milhões de anos, bem entendido), que constituem o seu substrato urbano. Este subsolo enquadra-se temporalmente no que, em termos de idades geológicas, é conhecido como a Época Miocénico. A maior parte da cidade de Lisboa, das colinas que bordejam a Baixa, ao eixo central do Terreiro do Paço, Praças do Rossio, Restauradores e da Figueira, Avenidas da Liberdade e da República, Campo Pequeno, Entrecampos e Campo Grande, até à Ameixoeira, e todo o seu sector ocidental assentam num espesso e variado conjunto de rochas sedimentares desta época miocénica, depositadas num intervalo de tempo grosso modo entre os 20 e os 10 milhões de anos. Por vezes ocorrem pouco consolidadas, como as areias soltas extraídas em anos idos de locais como o ainda conhecido “Areeiro”. Noutros casos apresentam-se coesas como as argilas de múltiplos barreiros que alimentaram indústrias de cerâmica como, por exemplo as do “Forno do Tijolo”. Noutros casos ainda surgem bancadas mais concrecionadas de arenitos grosseiros a finos, geralmente bastante fossilíferos. Estes biocalcarenitos foram bastante utilizados como revestimento de edifícios e monumentos históricos nomeadamente na Sé, no castelo de S. Jorge, nas muralhas medievais como a Cerca Moura (Portas do Sol), no Postigo (Geomonumento de Lisboa 18, Rua da Judiaria; Figura 1 A e B) e na Torre de São Pedro (Figura 2), ligados à Cerca Velha”, no Teatro Romano de Lisboa (Figura 3) ou no preenchimento das paredes de edifícios antigos um pouco por toda a Lisboa.
The present work describes part of the geodiversity of the city of Lisbon, namely the Miocene geological units that outcrop in the Saint Vincent’s perish, one of the youngest that constitute Lisbon’s substrate. An older (Cretaceous) unit, the Bica formation, is also referred during the presentation, mainly composed by limestone is locally known as liós. This fossiliferous formation contains rich assemblages of extinct bivalve mollusks, the Rudists, whose dominance is interpreted both in terms of its paleoenvironmental tropical marine conditions and on possible reasons for the present day and future scarcity on coral reefs on coastal areas subjected to extreme warming events.
Cretaceous limestone
Rudist
Esta variedade de litótipos miocénicos, a geodiversidade miocénica de Lisboa, foi profusamente descrita há mais de um século por Berkeley Cotter, distribuída por um conjunto de sete unidades principais, ditas “Assentadas”, numeradas de I a VII, nalguns casos subdivididas em subunidades (secções), publicadas postumamente em 1956, fruto da pesquisa, recolha e análise de manuscritos por George Zbyszewski. A partir de então têm sido retomadas com designações e codificações, mais ou menos modificadas, em todos os trabalhos de cartografia da região de Lisboa (Quadro I). Como refere G. Zbyszewski no prefácio desta obra, já Pereira da Costa tinha publicado antes uma memória sobre gastrópodes do Miocénico de
Quadro I
Portugal, encontrando-se a preparar outra sobre bivalves quando faleceu, memória esta publicada postumamente em 1903-04. Outro trabalho de referência, desta feita sobre Equinodermes do Terciário, foi publicado em 1896 por Perceval de Loriol. Em 1950 foi publicado, igualmente a título póstumo, o trabalho incompleto de P. Choffat sobre o Terciário português, o qual retoma as unidades definidas pelo seu conterrâneo B. Cotter. Mais tarde o estudo do Miocénico de Lisboa foi retomado por G. Zbyszewski (e.g. Zbyszewski, 1949, 1953) e depois revisto por T. Antunes e colaboradores em várias publicações do final do séc. XX, início do séc. XXI (e.g. Antunes & Ginsberg, 2003).
Quadro comparativo das várias designações utilizadas para as principais unidades miocénicas, desde as propostas inicialmente por B. Cotter (1956) às que foram sendo utilizadas em sucessivos trabalhos de cartografia e interpretação geológica. As unidades estão representadas da mais antiga, na base, para a mais recente, no topo, o modo tradicional de representar o tempo em Geologia. É igualmente apresentado o respectivo enquadramento geocronológico, proposto por diversos autores (Nota: À época de B. Cotter, o Helveciano correspondia ao Miocénico médio, um intervalo de tempo geológico mais tarde subdividido nos andares formais Langhiano e Serravaliano).
A idade das unidades de Cotter (Berkeley-Cotter, 1956) estende-se dos 20 aos 11 milhões de anos (Cachão e Silva, 2000; Pais et al., 2012) com as unidades mais antigas ocupando o sector central e setentrional da cidade de Lisboa, e as mais recentes aflorando progressivamente mais para oeste. Os litótipos são bastante variados, de argilitos a arenitos e biocalcarenitos, mais ou menos cimentados, com componente fóssil por vezes bastante abundante, lumachélica. As unidades mais basais comportam fósseis de animais coloniais como corais e briozoários (Carvalho, 1971), bem como de outros de maiores dimensões como os mamíferos marinhos da ordem dos Sirénios (Prista et al., 2014). As unidades médias a superiores testemunham alternâncias de unidades mais marinhas, costeiras, com níveis fluviais e lagunares onde ocorrem fósseis de vertebrados terrestres que incluem antigos elefantes (Gomphoterium), rinocerontes (Hispanotherium), ancestrais de hipopótamos (Brachyodus), cavalos primitivos (Anchitherium), girafas primitivas (Paleotragus) e carnívoros felídeos (Styriofelis) e canídeos (Amphicyon), entre outros de menor porte
(Antunes, 1969). Para o topo da sequência sedimentar voltam a predominar sedimentos marinhos, onde ocorrem, para além de variados vestígios de animais invertebrados, fósseis de cetáceos e de crocodilos (Tomistoma lusitanica) (Pais et al., 2008; Antunes, 2017).
Dos geomonumentos de Lisboa, apenas o da Rua da Judiaria, está inserido no território da Freguesia de S. Vicente. Nele afloram vários níveis do biocalcarenito miocénico da Assentada V, secção a) (“Molasso calcário de Pecten scabrellus do Casal Vistoso e de Musgueira) (Quadro I), servindo de substrato rochoso ao antigo Postigo de São Pedro. Evidenciando marcas de talhe para fins vários, nomeadamente para escoamento de águas pluviais, estes níveis são particularmente carbonatados, compactos, ricos em fósseis de moluscos, espatizados ou em molde, e com sinais de dissolução e carsificação. A este respeito são evidentes depósitos bandados travertínicos de calcite, formados por escorrência de águas em cavidades cársicas, as quais poderão mesmo ter dado origem a espeleotemas, actualmente destruídos (Figura 1C)
Figura 1
Geomonumento de Lisboa (18) da Rua da Judiaria. Afloramentos de biocalcarenitos do Miocénico de Lisboa muito compactos e cimentados. A) Aspecto geral das camadas miocénicas aflorantes onde assenta um antigo palácio de estilo manuelino construído sobre as muralhas da cerca fernandina. B) Afloramentos na base da reconstituição do Postigo de São Pedro, com marcas de talhe e revestimento de gruta. C) Detalhe do depósito travertínico de calcite.
Torre de São Pedro, com revestimento a blocos de biocalcarenito miocénico. A) Pormenor de parte da Torre. B) Detalhe de alguns dos blocos de biocalcarenito, alguns mais ricos em somatofósseis de moluscos bivalves (ostreídeos e pectinídeos) outros onde se evidenciam estruturas sedimentares, como por exemplo, laminações oblíquas, indicando a existência de correntes de fundo que condicionaram a deposição da componente siliciclástica arenítica.
Aspectos do biocalcarenito no contexto do Teatro Romano de Lisboa. A) Níveis aflorantes evidenciando aspectos da estratificação original, no seio do Teatro Romano.
B) Colunas talhadas no biocalcarenito. C) Capitéis de colunas talhados no biocalcarenito.
Formação marinha carbonatada
A unidade mais antiga é constituída por duas formações geológicas, a inferior, mais antiga (Albiano superior a Cenomaniano médio) é a Formação de Caneças (Dinis et al., 2008), também conhecida por Belasiano (Choffat, 1885, Berthou, 1973), sobre a qual ocorre a mais recente (Cenomaniano superior), a Formação da Bica (Pereira de Sousa, 1897, 1904; Dinis et al., 2008), origem dos calcários conhecidos por liós (ou lioz).
Pertencem à Formação da Bica os calcários mais ou menos compactos, umas vezes microcristalinos (o típico liós), outras vezes pulverulentos, outras ainda nodulares, também designados, “apinhoados”. Ocasionalmente aparecem fósseis de amonites (“Camadas com Neolobites vibrayeanus”; Choffat, 1900), embora os seus fósseis típicos sejam os Rudistas, grupo extinto de moluscos bivalves, particularmente abundantes em algumas unidades superiores. A concentração destes rudistas, particularmente nas lajes utilizadas na construção de monumentos como o Mosteiro de São Vicente de Fora ou a Igreja e Convento da Graça (Figura 4).
Dois dos monumentos emblemáticos da Freguesia de São Vicente, ambos com revestimentos maioritariamente constituídos por liós, o calcário fossilífero da Formação da Bica, do Cretácico Superior da região de Lisboa.
A) Detalhe do topo do Mosteiro de São Vicente de Fora. B) Entrada da Igreja e Convento da Graça.
Nestes e em muitos outros monumentos, assim como em lajes de pavimentos da Baixa Pombalina ocorrem fósseis destes rudistas as formas mais frequentes pertencem a duas famílias, os Radiolitídeos, geralmente representados pelo género Sauvagesia, e os
Caprinídeos, representados pelos géneros
Caprina e Caprinula (Figura 5). Estes denunciam terem existido, na região de Lisboa, há cerca de 90 milhões de anos, extensos biohermes ou estruturas bioedificadas, também ditas recifais. Estas, por sua vez, indicam que as águas marinhas onde se formaram, à semelhança do que acontece com os recifes de corais actuais, seriam pouco profundas, quentes e límpidas (pobres em nutrientes e plâncton), bem iluminadas, agitadas e oxigenadas. Esta riqueza em fósseis de rudistas é, aliás, uma das características mais típicas e que permitem a fácil identificação de um calcário como sendo liós. Efectivamente, muitas das lajes talhadas nesta rocha são sectores desses antigos recifes fossilizados (Figura 6).
Figura 5
Dois exemplos de lajes de calcário liós rico em fósseis de rudistas. A) Detalhe do uma laje cortada transversalmente a uma grande quantidade de rudistas quase exclusivamente Radiolitídeos, na sua maioria em posição de vida, tal como estariam no sector mais externo do recife. B) Detalhe de várias lajes talhadas exclusivamente em fósseis de rudistas Caprinídeos.
Conclusão
As rochas aflorantes na região de São Vicente ilustram o último dos paleoambientes marinhos, miocénicos (dos 20 aos 10 milhões de anos), que ocuparam boa parte do que é hoje a cidade de Lisboa, repleto de fósseis que se podem ver em alguns dos seus monumentos e elementos arquitectónicos medievais e, mesmo, romanos. Abaixo destas ocorrem outras, bem mais antigas, que testemunham um episódio igualmente marinho, cretácico (~90 milhões de anos) mas de águas mais quentes e recifais, com bizarros bivalves extintos, os rudistas, na altura, os principais edificadores de recifes na região da grande Lisboa.
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Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, Vol. XI, Fasc. I, pp. 91-92
Um sítio da Pré-Histórica Recente e da Idade do Bronze na Calçada do Monte, n.º 2 – Lisboa
Ana Sofia Antunes1
Anabela Castro2
Victor Filipe3
A intervenção arqueológica
A Late Prehistory and Bronze Age site at Calçada do Monte 2
Lisbon
Nos trabalhos de arqueologia preventiva realizados na Calçada do Monte, n.º 2, em Lisboa, foram identificados vestígios arqueológicos que recuam ao Neolítico Final – um espaço funcional revelado por uma lareira e uma área de despejos. Posteriormente, talvez já no Calcolítico, foi erguida uma estrutura extensa e robusta, com 2 m de largura, que poderá corresponder a uma muralha. Após a sua desactivação ocorreu outro momento de ocupação no sítio, que se enquadrará na Idade do Bronze.
Pré-História
Neolítico Final
Calcolítico
Os trabalhos arqueológicos realizados no imóvel edificado no século XX, situado na Calçada do Monte, n.º 2 enquadraram-se numa perspectiva de minimização de impactes sobre o património decorrentes do projecto de alterações, promovido pela empresa de investimento imobiliário Sustentoasis S.A.. Em termos administrativos, localiza-se em plena cidade de Lisboa, no bairro histórico da Mouraria (fig. 1), freguesia de Santo Estevão (coordenadas geográficas: 38º 43´03.7´´ N; 9º 07.6´ 60´´ O). O projecto de alterações contemplava a escavação de valas perimetrais para reforço das paredes, infraestruturas, um poço de elevador e um acesso que partia deste último até ao parque de estacionamento já construído no âmbito de outro projecto (fig. 2). Numa etapa inicial, que decorreu no mês de Janeiro de 2017, escavaram-se duas sondagens de diagnóstico, cujos resultados já faziam antever contextos com cronologias bastante recuadas. Já em fase de obra, retomaram-se os trabalhos de escavação arqueológica, que decorreram durante os meses de Fevereiro e Março do mesmo ano, com recurso à escavação mecânica dos níveis contemporâneos e modernos, seguindo-se, a escavação manual dos contextos medievais, da Idade do Bronze e pré-históricos. A profundidade alcançada oscilou entre os 0,60 m e os 4,50 m, atingindo-se o substrato geológico. A escavação destas áreas permitiu identificar uma diacronia balizada entre o Neolítico Final e a Época Contemporânea. Neste breve ensaio apresenta-se uma primeira análise dos contextos da Pré-História Recente e da Idade do Bronze, salientando-se a estrutura de combustão, a área de descarte e a robusta construção que poderá ser uma muralha.
1 Centro de Arqueologia de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa; Uniarq - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
2 Instituto Superior de Ciências Sociais e Humanas / Universidade de Lisboa; Uniarq - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
3 Uniarq - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Idade do Bronze
Povoamento
In the preventive archeology work carried out at Calçada do Monte 2, in Lisbon, archaeological remains that go back to the Late Neolithic were identified - a functional space revealed by a fireplace and a dump area. Later, perhaps in the Chalcolithic, an extensive and robust structure, 2 m wide, which may correspond to a wall, was built. After its deactivation, there was another moment of occupation on the site, probably framed in the Bronze Age.
Prehistory
Late Neolithic
Chalcolithic
Bronze Age
Settlement
As evidências arqueológicas
A ocupação mais antiga documentada no n.º 2 da Calçada do Monte e, por conseguinte, na colina da Graça, recua ao Neolítico Final, que corresponde, de um modo geral, a uma cronologia centrada na segunda metade do IV milénio a.C. (3500-3000 a.C.). A fase mais antiga encontra-se testemunhada por uma estrutura de combustão (lareira)U.E. [348] - associada a uma área de despejos (U.E. [349]), que incluía cerâmica manual e fauna mamalógica e malacológica, e que corresponderá a um espaço funcional, possivelmente de natureza doméstica (fig. 3). No momento seguinte promoveu-se uma reformulação do espaço, mediante a colocação de um depósito (U.E. [345]) que se terá destinado possivelmente a regularizar o terreno (fig. 4) e que embalava um expressivo conjunto de materiais arqueológicos que nos permitiram enquadrar cronologicamente esta fase da ocupação. Para além de alguns objectos de pedra polida (fig. 6) e de pedra lascada (fig. 5), destacam-se o recipiente mamilado (fig. 8), a taça carenada (fig. 9) e as taças de bordos denteados (fig. 7) típicas do Neolítico Final da Estremadura (Carreia e Cardoso 1994), com paralelos, por exemplo, na Travessa das Dores (Neto, Rebelo e Cardoso 2015), em Vila Pouca (Moita 1967) ou em Leceia (Cardoso 2007). Sobre este depósito do Neolítico Final foi edificada uma construção robusta (U.E. [344]).
Apesar de estar muito truncada pelas sepulturas medievais, foi possível perceber que tinha cerca de 2 metros de largura e era composta por blocos pétreos de grande dimensão nas faces exteriores, sendo o interior preenchido por blocos pétreos menores (fig. 10).
Foi registada em duas das sondagens, com uma extensão de 4 m numa delas, mas prolongava-se, tanto em largura, como em comprimento, para as áreas que não foi possível escavar, sugerindo constituir uma muralha ou um muro particularmente robusto, embora por ora mantenhamos a interpretação em aberto sobre esta realidade. A escassez de materiais arqueológicos associados a esta construção limita o seu enquadramento cronológico, sendo ponderado, de forma provisória, um momento possivelmente centrado já no Calcolítico (III milénio a.C.).
Aparentemente, a destruição desta construção robusta terá ocorrido ainda em momentos antigos, durante o Calcolítico ou a Idade do Bronze (II milénio a.C.). O momento de ocupação posterior encontrase documentado apenas por um depósito (U.E. [342]) que se sobrepõe ao último nível do Neolítico Final e à estrutura robusta porventura edificada no Calcolítico e que fora entretanto destruída (fig. 11). Não é fácil enquadrar cronologicamente este momento e, por ora, mantemos em aberto esta adscrição. A presença de alguns materiais arqueológicos que podem enquadrar-se já na Idade do Bronze, nomeadamente vasos esféricos e um vaso de colo recto (fig. 13), com paralelos no Catujal (Carreira 1997), no Casal da Torre (Carvalho, Bragança, Neto e Justino 1999) ou no Agroal (Lillios 1993), bem como uma taça carenada (fig. 13, n.º 37) idêntica a uma peça recolhida no casal agrícola do Bronze Final do Abrunheiro (Cardoso 2010/2011a, p. 60, fig. 26, n.º 3), em Oeiras, parecem sugerir que na Calçada do Monte pode ter existido uma ocupação deste período (último quartel do II milénio a.C.) ou eventualmente do Bronze Pleno, enquadrada nos três primeiros quartéis do II milénio a.C. (2000-1250 a.C.).
Um enquadramento regional do sítio da Calçada do Monte
A análise que é possível efectuar no estádio actual da investigação sobre este sítio arqueológico é necessariamente provisória, desde logo pela limitação da área escavada e da amostra artefactual existente, podendo as ausências agora detectadas e as leituras realizadas ser revistas, tanto pelo aprofundamento do estudo que estamos a realizar, como pelos resultados de outras intervenções arqueológicas na colina da Graça, que esperamos que venham de futuro a alcançar os mesmos horizontes cronológicos. De qualquer modo, os dados revelados pela escavação arqueológica realizada na Calçada do Monte, n.º 2 revestem-se de grande importância, não só porque era até aos dias de hoje absolutamente desconhecida uma ocupação tão antiga na colina da Graça, como foi ainda possível registar uma sequência estratigráfica com estruturas e contextos preservados e com momentos de ocupação distintos. Atendendo ao cariz tematicamente abrangente do colóquio que deu origem às presentes actas e considerando que se destinam a um público não especializado, iremos neste trabalho privilegiar o enquadramento do sítio na respectiva época, em detrimento de uma análise detalhada da cultura material e das estruturas arqueológicas. Assim, importa referir que durante o Neolítico Final se assiste à aceleração da consolidação do sistema agro-pastoril que decorreu ao longo do 4.º milénio, o qual beneficiou, entre outros, da introdução de melhorias tecnológicas, como a utilização da força de tracção animal, aplicada ao transporte de mercadorias e à agricultura, acompanhada neste caso do arado, possibilitando a lavoura de solos pesados de elevada capacidade agrícola. A melhoria das condições de vida terá originado um aumento de população no Neolítico Final, a qual se estabeleceria em grupos de pequena ou de média dimensão, em povoados usualmente abertos, portanto, desprovidos de sistemas defensivos construídos, e por vezes bastante próximos entre si. O modelo de implantação dos povoados do Neolítico Final da Estremadura é diversificado, e se para alguns locais de habitat foi privilegiada a localização no topo de outeiros, como no caso de Montes Claros (Jalhay, Paço e Ribeiro, 1945; Jalhay e Paço 1947; Carreira e Cardoso 1992; Cardoso 1995a; Cardoso e Carreira 1995) – fig. 14, n.º 7 -, Alto das Perdizes (França 1949) – fig. 14, n.º 6 - ou Alto do Duque (Cardoso 1988a; 1988b) – fig. 14, n.º 10 -, na Serra de Monsanto, em Lisboa, ou ao longo das suas encostas, como a Calçada do Monte, mas sempre com um bom domínio visual do território envolvente, ao mesmo tempo que beneficiam de boas condições naturais de defesa, para outros sítios foi dada preferência à instalação em vertentes suaves, como sucede com o povoado da Parede (Paço, Serrão e Vicente 1957;
Vicente e Serrão 1958), em Cascais. Importa destacar a implantação privilegiada que o povoado da Calçada do Monte tinha, que lhe conferia boas condições naturais de defesa, numa zona de encosta que constituiria uma pequena plataforma ou promontório sobre a margem esquerda da Ribeira de Arroios, a qual subjaz à actual Avenida Almirante Reis. Era um local resguardado, porque se encontrava situado numa segunda linha desde a foz do esteiro da Baixa, onde se adianta a colina do Castelo e, desse modo, provavelmente mais abrigado e adequado à acostagem de canoas, e a partir do qual o domínio visual, tanto para montante para a Ribeira de Arroios, como para o esteiro da Baixa (que corre, grosso modo, sob a actual Baixa Pombalina), seria excelente (fig. 14, n.º 1).
A área em torno do esteiro da Baixa que desagua na zona da actual Baixa Pombalina revelou ser particularmente propícia para a instalação de comunidades humanas, pelo menos desde a transição do 5.º para o 4.º milénio a.C., durante o designado Neolítico Antigo Evolucionado, época de que se conhecem já diversos núcleos de habitat neste território. É o caso da Colina de Santana, então situada em posição interfluvial, tendo-se registado ocupações tanto no topo do outeiro, no Campo Mártires da Pátria - Palácio José Vaz de Carvalho (Reis, Pereiro, Cabaço, Ramos e Valera 2017), como no seu sopé, junto ao Largo do Martim Moniz (Muralha, Costa e Calado 2002; Muralha e Costa 2006; Angelucci, Soares, Almeida, Brito e Leitão 2007; Leitão e Henriques 2014), na margem direita da Ribeira de Arroios. Também no topo da colina de São Francisco, importa ainda referir o povoado localizado no Bairro Alto, identificado na Rua dos Mouros, na Travessa da Boa-Hora / Rua do Diário de Notícias e na Rua de São Pedro de Alcântara, sob os Palácios dos Lumiares e Ludovice (Valera 2006, 2014; Valera, Coelho e Ferreira 2008; Reis, Pereiro, Cabaço, Ramos e Valera 2017). Destaca-se neste âmbito a sepultura identificada no sopé da colina do Castelo, na Rua Cais de Santarém - Eurostars Museum Hotel (Rebelo, Neto, Ribeiro, Granja e Cardoso 2017; Cardoso, Rebelo, Neto e Ribeiro 2018). Refira-se, a propósito, que foram recolhidos um machado de pedra polida e materiais de pedra talhada na área do Castelo de São Jorge, que se consideraram então oriundos de um povoado que se localizaria na proximidade, tendo sido avançada a possibilidade da colina da Graça ou da Penha de França (Viana e Zbyszewski 1946), mas estes elementos não são suficientes para uma cabal caracterização desta realidade. No que se refere ao povoamento do Neolítico Final, a Calçada do Monte não se encontra isolada na área da actual cidade de Lisboa, identificandose já um padrão de instalação de sítios desta época em encostas articuladas com as ribeiras subsidiárias do Tejo ou com o próprio rio, como é o caso de sítios ainda mal caracterizados como a Cerca dos Jerónimos (Correia 1913; Chaves 1937), em Belém e da Junqueira (Vaultier e Zbyszewski 1947), em Alcântara (fig. 14, n.º 8), entre outros. Destaca-se, por ter sido identificado mais recentemente e por ter sido alvo de uma escavação arqueológica mais abrangente, o povoado detectado em vários pontos na Ajuda, designadamente na Travessa das Dores (Neto, Rebelo e Cardoso 2015; 2017), na Rua dos Quartéis (Basílio e Pereiro 2017) e no Antigo Quartel do Rio Seco (Costa, 2017), localizado na encosta de uma das colinas da Serra de Monsanto, na margem direita do Rio Seco (fig. 14, n.º 9), com o qual a Calçada do Monte mantém um paralelismo evidente do ponto de vista da implantação e da cultura material, designadamente das produções cerâmicas, de pedra lascada e de pedra polida. Em alguns casos os dados sugerem uma possível estratégia concertada de exploração e/ou de gestão das ribeiras subsidiárias do Tejo, mediante a instalação de povoados ao longo do seu curso, em ambas as margens. É o caso de Vila Pouca (Correia 1912b; Roche, Ferreira e Zbyszewski 1959; Moita 1967; 1994; Carreira e Cardoso 1992) e de Sete Moinhos (Correia 1912a; Castelo-Branco 1985; Carreira 1995), implantados frontalmente em margens opostas da Ribeira de Alcântara (fig. 14, n.os 5 e 4), encanada desde meados do século passado sob a Avenida de Ceuta. Será também o caso, porventura, da Ribeira de Arroios, onde para além do povoado da Calçada do Monte (e da colina da Graça) se identificaram vestígios no Largo de Santa Bárbara do que será outro povoado pré-histórico, localizado algures na colina que lhe é sobranceira (Agradecemos a Vanessa Filipe e a José Pedro Henriques a informação inédita facultada sobre a intervenção arqueológica que realizaram no Largo de Santa Bárbara.). Todavia, apenas o conhecimento da cronologia de ocupação concreta de cada povoado pode fundamentar leituras territoriais e comprovar a efectiva contemporaneidade entre sítios. Mesmo no caso de Vila Pouca e de Sete Moinhos, a sugestiva relação decorrente da sua implantação, encontra alguns obstáculos nos dados revelados pela cultura material, que parece indicar que a ocupação de Sete Moinhos terá tido início após o abandono de Vila Pouca (Cardoso 2008-2009, p. 105-106). Efectivamente, em Vila Pouca, apesar das referências de A. Mesquita de Figueiredo à recolha de objectos de cobre ou de bronze nos «fundos de cabana» que escavou no local no início do século XX, a par de machados de pedra polida e de uma colher de cerâmica (Figueiredo 1922, p. 195), não se comprovou uma ocupação calcolítica nos trabalhos posteriores, nem se observaram até à data os materiais arqueológicos mencionados. Por outro lado, ainda que Sete Moinhos possa ter tido uma ocupação, mais ou menos efémera, no Neolítico Final, representada pelos recipientes carenados, a ausência de cerâmicas com bordos denteados (presentes abundantemente em Vila Pouca) pode indicar que estes povoados não foram coevos. Sete Moinhos terá vigorado essencialmente no Calcolítico Pleno, conforme testemunharão um formão de cobre e a cerâmica decorada (“folha de acácia” e “crucífera”), bem como a cerâmica campaniforme, sendo o único exemplar de colo canelado recolhido (possível perduração) um escasso indicador de uma ocupação no Calcolítico Inicial (Cardoso 2008-2009, p. 106). De qualquer modo, importa salientar a limitação de que padece a análise destes sítios, uma vez que se baseia em dados parcos, parcelares, provenientes de recolhas antigas e destituídos de enquadramento contextual e estratigráfico, em locais que actualmente se encontram urbanizados ou florestados e que dificultam a contrastação das presenças e das ausências crono-culturais.
Uma das questões que se mantém em aberto relacionase com o tipo de sítio que configuraria a ocupação da Calçada do Monte, ou seja, com a sua funcionalidade. A presença da lareira (fig. 3) e de um conjunto diversificado de objectos utilizados em distintas tarefas do quotidiano, como as cerâmicas (figs. 7-9), os furadores de sílex (fig. 5), vocacionados para a preparação de peles, os machados e as enxós de pedra polida (fig. 6), destinados aos trabalhos com madeira ou as peças de sílex talhadas utilizadas na colheita de cereal (fig. 5), bem como o dormente de mó relacionado provavelmente com a moagem de cereais (encontrado reaproveitado numa construção da fase de ocupação posterior), induzem a ponderar um cariz permanente ou semipermanente para este povoado no Neolítico Final. Denota-se aparentemente uma ausência de pontas de seta, que seriam úteis na caça, mas assinala-se a presença de fauna mamalógica e esta comunidade beneficiava certamente da diversidade de espécies do estuário, pontualmente representadas na fauna malacológica registada. No caso da indústria lítica de sílex, assinale-se a riqueza da região de Lisboa nesta matéria-prima e existência de diversos pontos possíveis de exploração na Pré-História, com destaque para a Serra de Monsanto (Valera 2014; Leitão, Pimentel, Didelet, Mourão, Luz e Cardoso 2019) e a oficina de talhe de Santana (Cardoso 2008-2009, p. 103). Dada a relativa proximidade com a colina da Graça, é possível que uma das fontes de aprovisionamento se localizasse a cerca de 3 km, em Campolide (fig. 14, n.º 3), num local com ocupação pré-histórica identificado em 1907 por Paul Choffat, quando decorriam os trabalhos para a ampliação do Túnel do Rossio, mas logo infelizmente destruído pelos trabalhadores do povoado da Calçada do Monte num determinado momento do Neolítico Final ou do Calcolítico Inicial. De igual modo, desconhece-se por que motivo cessou a ocupação no Neolítico Final dos restantes povoados mencionados, mas que parece ser uma tendência transversal na Baixa Estremadura, sendo apontadas algumas possibilidades que invocam uma eventual epidemia, fenómeno natural ou conflito social (Cardoso 2004), sem prejuízo de outras causas. No caso de Oeiras, João Luís Cardoso parece ter efectivamente identificado um período de despovoamento que perdurou por algumas décadas entre o abandono dos povoados do Neolítico Final e a ocupação do Calcolítico Inicial de Leceia (circa 2900 / 2800 cal BC), marcada pela chegada de novas populações, portadoras de uma panóplia artefactual diferente e responsáveis pela edificação perfeitamente planeada do sistema defensivo no sítio (Cardoso 2004; 2010). Se o mesmo sucedeu na colina da Graça e no território envolvente e se aqui existiu um povoado fortificado calcolítico (fig. 10) são questões que permanecem, por ora, em aberto. Do mesmo modo, mantém-se a incógnita sobre uma eventual coexistência com a comunidade utilizadora de cerâmica campaniforme (exclusivamente decorada a ponteado) instalada na Praça da Figueira no Calcolítico Pleno (Cardoso e Carreira 1997), algures no III milénio a.C., a partir de 2700/2600 a.C., de acordo com as datações radiométricas e os dados arqueológicos apurados para o fenómeno campaniforme da Estremadura, que atestam que os grupos campaniformes foram coevos das populações calcolíticas que habitavam nos povoados fortificados (Cardoso 2014). Esta ocupação da Praça da Figueira conformaria um pequeno habitat aberto de base familiar, idêntico a outros sítios campaniformes da área ribeirinha de Lisboa, nomeadamente os que partilham a localização numa encosta voltada para o Tejo, caso dos povoados da Junqueira (Correia 1913; Chaves 1937) e de Pedrouços (Castro, Filipe e Barbosa 2017). Finalmente, no n.º 2 da Calçada do Monte, foi ainda documentado um vestígio posterior às realidades que abordámos supra. Trata-se de um depósito (U.E. [342]) que se sobrepõe à estrutura robusta (eventual muralha) porventura edificada no Calcolítico e que fora entretanto destruída ou desactivada, pelo Tempo ou pelo Homem (fig. 11). A presença de vasos esféricos, com colos rectos e de uma taça carenada (fig. 13) sugere um enquadramento na Idade do Bronze para esta ocupação, porventura na transição entre o Bronze Pleno e o Bronze Final. A dificuldade em atribuir uma cronologia a esta fase radica essencialmente na inexistência de uma cabal caracterização da cultura material, particularmente cerâmica, do Bronze Pleno na Baixa Estremadura, decorrente da escassez de dados, tanto artefactuais, como radiométricos, devidamente contextualizados. Refira-se, por um lado, que a (re)ocupação de povoados calcolíticos na Idade do Bronze é um fenómeno documentado na Estremadura, por exemplo em Vila Nova de São Pedro e no Zambujal (Cardoso 1999/2000; 2005). Por outro lado, a confirmar-se esta ocupação da Calçada do Monte, ela não estaria isolada no território envolvente, no qual se conhece, bem próximo, na margem oposta da ribeira de Arroios, na Encosta de Santana, um testemunho do Bronze Pleno (Leitão e Cardoso 2014) – fig. 15, n.º 2 -, cronologia que está ainda documentada no Bairro Alto, nomeadamente no Palácio do Ludovice - Rua de São Pedro de Alcântara (fig. 15, n.º 4), onde se recolheu em posição secundária um punhal ou pequena alabarda com três rebites, de cobre ou bronze, cujo contexto original se localizará numa área situada mais a norte e acima na vertente, na direcção do Príncipe Real (Reis, Pereiro, Cabaço, Ramos e Valera 2017). Já o Bronze Final encontra-se documentado na Praça da Figueira (fig. 15, n.º 3), embora em momentos tardios dentro deste período, cronologicamente enquadrados nos séculos X-IX a.C., no que seria uma pequena instalação (Cardoso e Carreira 1997; Silva
(Choffat 1889; 1907; Vasconcelos 1937; Leitão, Cardoso e Didelet 2017). A relação imediata que o povoado da Calçada do Monte mantinha tanto directamente com a Ribeira de Arroios, como indirectamente com a Ribeira de Valverde e até com o próprio Tejo, terá sido certamente relevante no tipo de actividades que ali eram desenvolvidas, sem esquecer a própria navegação, que potenciava os intercâmbios transregionais. Nestes destacam-se, por exemplo, no âmbito geral da Pré-História, os que traziam placas de xisto decoradas do Alentejo, como a identificada na Quinta da Fareleira (Zbyszewski 1957), em Chelas, usada provavelmente em contexto funerário e os que trocavam o abundante sílex da região de Lisboa pelo anfibolito do Alentejo ou pelas rochas da região de Sintra, com que se produziam objectos de pedra polida. A questão da funcionalidade do sítio está associada a outra: o papel que desempenhava na rede de povoamento em que se integrava. Numa perspectiva regional mais alargada, tem constituído uma referência incontornável para a investigação o povoamento do Neolítico Final documentado em torno da Ribeira de Barcarena, em Oeiras, com destaque para o povoado de Leceia (Cardoso 1989; 1997; 2000), que seria o núcleo principal, com o qual se articulariam os povoados de Barotas (Costa 1992), do Monte do Castelo e do Carrascal (Cardoso 2009; Cardoso, Sousa e André 2015), para os quais João Luís Cardoso preconiza uma ocupação semi-permanente associada a estratégias especializadas de exploração de recursos, funcionando nomeadamente como oficinas de talhe de sílex (Cardoso 2004). Em outros casos, a vocação funcional estaria relacionada por exemplo com o tratamento de peles, caso do povoado do Estoril, em Cascais, ou com o armazenamento, tendo sido proposto para a Travessa das Dores, na Ajuda, onde não se identificaram cabanas, mas apenas silos, que ali se tivesse estabelecido um celeiro colectivo (Neto, Rebelo e Cardoso 2015). Com base na leitura que os dados actualmente permitem, o povoado aberto da Calçada do Monte não parece ter perdurado para além do Neolítico Final, ou, porventura, para além de momentos iniciais do Calcolítico. Neste aspecto, conhece semelhanças com o que sucedeu com os povoados de Vila Pouca, de Montes Claros e de Carnaxide, na Serra de Monsanto e com o povoamento da Ribeira de Barcarena, onde os povoados de Barotas e do Carrascal foram abandonados no Neolítico Final, revelando aparentemente, neste caso, uma tendência para a concentração demográfica em alguns povoados que detinham condições mais favoráveis e que acabaram por crescer, dotar-se de construções mais complexas e perdurar ao longo do Calcolítico, como sucedeu em Leceia (Cardoso 2000; 2004; 2010).
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2013). Embora também existam povoados de altura, normalmente fortificados, neste período, como sucede com a Penha Verde (Cardoso 2010/2011b), em Sintra, um dos traços marcantes do povoamento desta época são os pequenos casais agrícolas, unidades familiares de pequena dimensão que exploram os recursos da sua envolvente. Em Lisboa é conhecido o sítio da Tapada da Ajuda (fig. 15, n.º 5), datado da fase mais antiga do Bronze Final (século XIII a.C.), onde se identificaram cabanas de planta oval com 6 m de comprimento (Cardoso, Rodrigues, Monjardino e Carreira, 1986; Cardoso 1995b; Cardoso e Silva, 2004). Como nota final, importa realçar que, embora o crescimento urbano da cidade de Lisboa tenha ocultado os vestígios das mais antigas fases de povoamento deste território, comprova-se que elas não foram totalmente obliteradas e preservam-se ainda parcialmente sob os edifícios e sob as ruas, por vezes a apenas uns escassos 20 cm abaixo da cota de circulação actual, como sucede na Calçada do Monte, o que justifica a existência de cuidados redobrados quando da execução das intervenções urbanísticas de modo a que aqueles testemunhos possam ser cabalmente documentados e analisados.
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