CorpoPlanta
Exposição para o Seminário do Núcleo de Arte e Tecnologia Latino-Americano Maio e junho 2019 Foz do Iguaçu
Miola, Gabriela Canale. Corpo-Planta -- Foz do Iguaçu, 2019.
(Letras - Artes e Mediação Cultural) -- Universidade Federal da Integração Latino-AmericanaBahia, UNILA, 1. Arte. 2. Artes Visuais. 3. Natureza. 4. Tecnologia Artistas: Lucas Gauchinho, Murilo Xavier, Um João da Silva.
CORPO-PLANTA
C
omo produzir tecnologia e preservar os ciclos da Pacha Mama? Em “Corpo-Planta” os artistas investigaram suas raízes para tentar elaborar essa resposta. Respiraram buscando recomeços sensíveis à terra e às distintas formas de vida, olharam suas lentas tecnologias - sem perder de vista as violências ecológicas, políticas, culturais e epistemológicas do nosso tempo. Os trabalhos são exercícios ainda em processo. Eles tentam responder à espécie de antinomia entre Natureza e Tecnologia construída pela lógica Moderna Ocidental. Hoje convivemos com sementes programadas para não gerar novas sementes, desastres ambientais, aniquilação das mais distintas formas de vida, poluição de alimentos, rios, oceanos e do ar. Vivemos o Antropoceno - período que alterou a geologia do planeta em apenas três séculos. As eras geológicas anteriores ao extrativismo capitalista levaram pelo menos 250 milhões de anos para se formar.
Os trabalhos de Gabriela Canale, Lucas Gauchinho, Murilo Xavier, Um João da Silva enfrentam o mais urgente desafio do nosso tempo: lidar propositivamente com as consequências da empresa exploratória da globalização As obras-exercício partilham a premissa de que a criação artística é um campo de pesquisa em que se dão complexos campos de mediação, produção e circulação de saberes e fazeres. Que essas experiências sensíveis-sensoriais sejam um sopro para espalhar sementes-crioulas. Gabriela Canale
MONTAGEM E CIRCULAÇÃO
A
exposição foi pensada como processo de Mediação entre os artistas, seus processos materializados em obras e a comunidade. Nesse sentido pensamos a melhor forma de mediar essas instâncias em uma expografia que pudesse estimular os sentidos discursivos e sensoriais dos visitantes. Lidamos com as possibilidades e limitações do espaço dentro de uma universidade pública em implantação. Aliás, dentro de um tempo de “contingenciamento” de verbas e ataques discursivos ao campo das Artes e das Humanidades Transmutamos o LAU - Laboratório de Artes Visuais da UNILA, que é um espaço projetado para abrigar práticas de Ensino de Artes Visuais. Nos desafiamos a transformar um espaço de ensino mais estruturado para aulas tradicionais em um espaço de exposição de Artes Visuais. Nesse sentido ampliamos a prática de Ensino/Aprendizagem, pensando que a fruição de obras é, também, um processo importante de aprendizagens em que se articulam saberes, fazeres, sensações, repertórios.
Assim retomamos a missão da UNILA “de formar recursos humanos aptos a contribuir com a integração latino-americana, com o desenvolvimento regional e com o intercâmbio cultural, científico e educacional da América Latina” Adequar o Laboratório de Ensino de Artes Visuais para uma exposição de Artes Visuais também pensada como prática de ensino nos colocou muitos desafios: ausência de expositores, inadequação da iluminação, presença de materiais e mobiliários do uso cotidiano do espaço. Nesse sentido lidamos com o desafio de construir um lugar de mediação de Artes Visuais em uma instituição que não dispõe de um espaço adequado para este fim. Fizemos da nossa realidade sementes de onde brotaram Corpo-Planta. Acessamos os materiais disponíveis, levamos nossos próprios materiais, emprestamos equipamentos de cinema, compramos equipamentos novos, arrastamos armários, escondemos mesas e cadeiras. Da mesma forma trabalhamos com os limites de materiais. Muitas vezes os desejos de criação caminham em direção de projetos que nossa realidade não alcança. Lidar com essa esfera pragmática foi, além de uma necessidade, um gesto político de assumir nosso lugar e dentro dele (r)existir com potência.
PROCESSO Os participantes da exposição realizaram uma série de encontros presenciais e trocas virtuais de informação. Partiram de suas experiências de conexão com a Natureza. Muitas instâncias se encontraram: conexões da Natureza com as religiões de matriz africana; memórias familiares de uso de plantas como processos de cura; experiências sensoriais nos espaços de preservação da Natureza em Foz do Iguaçu; questões políticas e econômicas de exploração da Natureza; catarses experimentadas no contato com plantas e animais, entre outros. Tentamos conversar sobre o processo. Buscamos o diálogo e interpenetração entre ideias e criações. A partir dessas memórias e conversas acessamos diferentes materiais bibliográficos tanto do campo da Medicina, da Filosofia, da Literatura e das Artes. Nessas múltiplas relações foram se delineando obras de arte cuidadosamente montadas na exposição. Nela, foram apresentados trabalhos de Gabriela Canale, Lucas Gauchinho, Murilo Xavier e João da Silva como parte do I Seminário do Núcleo de Arte e Tecnologia Latino-americano, em maio e junho de 2019.
As obras relacionam diversas linguagens e memórias, são instalações multissensoriais que refletem material, ética e esteticamente alguns dos embates e conexões entre Tecnologias e Natureza. A exposição foi aberta ao público e a visitação à “Corpo-Planta” fez parte das disciplinas “Genealogia das Artes”, “Estéticas Contemporâneas” e “Direção de Arte”. Durante essas aulas, muitos campos de mediação se estabeleceram, relacionados aos escopos de cada disciplina. Essa experiência foi a semente para pensarmos dentro desse projeto as possíveis relações com o Ensino. A potência da experiência foi o marco inicial para a criação do projeto de Pesquisa apresentado à UNILA intitulado “Arte e Natureza: Poéticas e Pedagogias da Mãe Terra”.
Murilo Xavier
“Amor Interracial” Um João da Silva Madeira, Forquilhas de Ameixa Japones
“Goiabeira - A Viúva Negra - Goiabeira” Um João da Silva Galho de Paineira, fitas de renda, galhos de Goiabeira, cipós, perfume.
“Pau-Brasil - Adaga para matar Sonhos - Pau-Brasil” Um João da Silva Galhos de Pau-Brasil, metal, tecido. “Uvalha - A cumpridora de promessas - Uvalha” Um João da Silva Galhos de Uvalha, corda, pena, palha, perfume.
“Florada-peixes, Flor de Água sobre a Terra” (2016) Lucas Gauchinho Painel de madeira, PET, taxinhas, borboleta Morpho didius fêmea
Teko Porã | Bem-Viver”(2019) Gabriela Canale e Mário Ramão Colchonetes, tecidos de algodão, casca de laranja, louro, lavanda, camomila, burrito, erva de São Caetano, equipamento de som
Link para o áudio da instalação Teko Porã | Bem-Viver https://soundcloud.com/gabrielacanale/teko-pora-bem-viver2019-de-gabrielacanale-e-mario-ramao
Esboço da instalação Teko Porã | Bem-Viver
Tecnologias do tempo: carta para Lygia Clark”(2019) Gabriela Canale acrílico, borracha, coral marinho, pedra, concha, e equipamento sonoro
Áudio da instalação https://soundcloud.com/gabrielacanale/tecnologisa-do-tempo-carta-a-lygia-clarkgabriela-canale
Detalhes de Tecnologias do Tempo: carta para Lygia Clark
“Natureza Morta: Epistemicídio em Três Atos” (2019) Gabriela Canale Nanquim sobre papel, registro de áudio
Áudio da instalação “Natureza Morta: Epistemicídio em Três Atos” https://soundcloud.com/gabrielacanale/natureza-morta-epistemicidioem-3-atos-gabriela-canale
Detalhe do processo de “Natureza Morta: Epistemicídio em Três Atos”
Verde não é Militar(2019) Murilo Xavier Video-instalação, folhas de Costela de Adão, folhas de Espada de São Jorge, Folhas de Espada de Santa Bárbara, bancos de madeira, sacos plásticos cheios de água.
Projeto de montagem “Verde não é Militar”
Projeto de montagem “Verde não é Militar”
Projeto de “Verde não é Militar”
Projeto de “Verde não é Militar”