cultura do N0 17 – fevereiro 2015
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1 Clássicos Brasil o
O maior evento de automóveis clássicos nacionais
uirapuru
VW kombi
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VW pé-de-boi
willys interlagos
shark
monarca
itamaraty executivo
clássicos
Clássicos Brasil Só automóveis nacionais O sucesso da primeira edição indica que será mais um grande evento anual da cidade de São Paulo
24 Fevereiro 2015 Cultura do Automóvel
clássicos
O
campo de polo da Sociedade Hípica de Santo Amaro, localizada na zona sul da cidade de São Paulo, voltou a ser o palco de um desfile que atrai mais do que amantes dos puros-sangues de raça que lá costumam desfilar. Resgatando uma tradição de décadas, foi lá que aconteceu o primeiro Clássicos Brasil, evento que reuniu os automóveis que já são, ou ainda vão ser, considerados os clássicos da indústria brasileira.
José Ricardo de Oliveira, o organizador, e o Monarca
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clássicos Brasil 2015
À esquerda, a Romi-Isetta, primeiro automóvel a ser fabricado no Brasil. À direita, a perua DKW Universal
A história do automóvel brasileiro pode ser considerada relativamente recente. Nos anos 50, as pessoas dirigiam carros europeus ou norte-americanos, pois tínhamos praticamente todas as marcas, cujos modelos eram importados por pequenas empresas, em pequenas quantidades. Devido ao desequilíbrio na balança comer-
cial, o então presidente Juscelino Kubitchek criou, em 1956, o GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística. Já no final desse ano foram surgindo os primeiros automóveis nacionais, no início com muitos componentes importados mas que, aos poucos, foram aumentando seu índice de nacionalização.
O primeiro veículo a ser produzido foi a Romi-Isetta, só que não foi considerado um automóvel pelo GEIA por não ter duas portas (tinha apenas uma porta na parte frontal). Ficou registrado, então, a perua DKW Universal, depois batizada de Vemaguet, como o primeiro automóvel brasileiro.
Em 1957 surgiram a Volkswagen Kombi, a picape Ford F-100, ainda com carroceria americana, e o Jeep Willys, produzido pela Willys Overland do Brasil. Em 1958 chegaram a Rural Willys e a picape Chevrolet Brasil, a primeira uma perua utilitária derivada do Jeep e a outra uma versão reduzida dos cami-
Uma Volkswagen Kombi 1960, que começou a ser produzida no Brasil em 1957, e o esportivo Uirapuru 26 Fevereiro 2015 Cultura do Automóvel
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Willys Itamarati Executivo, a primeira limusine nacional, e a picape Ford F-100 Twin-I-Bean
nhões da Chevrolet. O ano seguinte, 1959, foi marcado pelo automóvel que viria a ser o ícone da indústria nacional, o Volkswagen Sedan 1200. No mesmo ano a marca francesa Simca – assim mesmo, com “M”, pois é a sigla de Sociedade Industrial de Motores, Caminhões e Automóveis –, lançou no Brasil uma versão
do seu Vedette francês, o Simca Chambord, que por sua vez era baseado em um Ford americano. Ainda em 1959, surgiu o DKW sedã, depois chamado de Belcar, uma reestilização da perua DKW e o Renault Dauphine, um pequeno modelo francês com motor de 850 cm3 e câmbio de três marchas curiosamente produzido aqui
pela Willys, marca norte-americana. O carro de passeio da Willys veio em 1960, uma cópia do Aero Ace, modelo de pouco sucesso nos Estados Unidos, aqui chamado de Aero Willys. Da mesma forma que a Rural, o Aero tinha os mesmos componentes mecânicos do Jeep e foi chamado por aqui de “jipe de terno”.
Ainda em 1960, surgiu o mais desejado automóvel nacional de sua época, o FNM 2.000, depois chamado de JK (uma homenagem ao presidente Juscelino Kubitchek). Cópia de um Alfa Romeo italiano recente, o carro tinha modernidades como dois comandos de válvulas no cabeçote e câmbio de cinco marchas.
Dauphine, Teimoso e Gordini, da Willys Cultura do Automóvel Fevereiro 2015 27
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Feito artesanalmente, o Monarca foi montado pelo designer Toni Bianco sobre uma plataforma de Volkswagen em 1954
À esquerda o Monarca, que tinha motor de Porsche 356, e à direita o jipe Candango, com mecânica DKW
Um belo Simca e, à direita, o Shark, esportivo fora-de-série criado em 1970 feito a partir do kit do Avenger GT-15 28 Fevereiro 2015 Cultura do Automóvel
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Dodge Charger R/T, versão esportiva do Dart, da Chrysler, que também tinha motor V8
A Fábrica Nacional de Motores – FNM, também conhecida por Fenemê –, era de propriedade do Governo Federal. Nessa ano surgiu também a perua Chevrolet Amazona, derivada da picape Chevrolet Brasil. Em 1962 surgiram o Renault Gordini, um Dauphine melhorado, com câmbio de quatro marchas, uma versão esportiva com essa mecânica, o Willys Interlagos, que por sua vez era uma cópia do Reualt Alpine francês, e o esportivo da Volkswagen, o Karmann-Ghia, que de esportivo só tinha a
Ford Maverick GT, esportivo dos anos 70 com motor V8 Cultura do Automóvel Fevereiro 2015 29
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Acima um DKW, que tinha motor dianteiro de três cilindros dois tempos, e ao lado um Ford Corcel GT 1971
aparência (desenho original do estúdio Ghia com carroceria criada pela Karmann alemã. O ano de 1963 foi importante pelo maior interesse que os motoristas brasileiros começaram a ter pelos modelos nacionais. O Aero Willys foi totalmente renovado, com desenho da carroceria brasileiro. A Vemag
lançou o belo DWK Fissore e, na linha Simca, foi lançada a perua Jangada. No ano seguinte, o Simca teve melhorias estéticas e a cilindrada do motor aumentada, ganhando o nome de Tufão. Em 1966, o motor do Simca passou a ter comando de válvulas nos cabeçotes e o nome de Emi-Sul e o AeroWillis ganhou
uma versão de luxo, o Itamarati. Da Chevrolet, veio a perua Veraneio, inicialmente chamada apenas de C-1416. Em 1967, o Willys Itamarati ganhou motor maior e a linha Simca foi reestilizada, passando a ter dois modelos, o Esplanada e o Regente. Nesse ano, a Chrysler incorporou a Simca e pas-
sou a produzir os dois modelos. Da mesma forma, a Volkswagen incorporou a Vemag e parou a produção dos DKW e a Ford incorporou a Willys, porém manteve a produção de todos os modelos da marca, ao mesmo tempo em que lançava o luxuoso Ford Galaxie, que mudou os padrões de acabamento dos carros nacio-
A Romi-Isetta tinha porta única com abertura pela frente do carro. Ao lado, um Karmann-Ghia conversível 30 Fevereiro 2015 Cultura do Automóvel
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O primeiro Puma surgiu em 1967 com motor dianteiro do DKW. À direita, uma Rural Willys, o “suv” dos anos 60
nais. Na linha VW, o Sedan passou a ter motor de 1300 cm3 e a Kombi e o KarmannGhia passaram a ter motor de 1500 cm3. Aproveitando o novíssimo projeto “M” da Renault, que viria a substituir o Gordini por meio da Willys, a Ford lançou o Corcel, em 1968. Nesse mesmo ano a Chevrolet lançou o
Opala e a Volkswagen o VW 1600, também conhecido por “fusca de 4 portas” ou “zé do caixão”. Todos eles foram apresentados no Salão do Automóvel de 1968, já como modelos para 1969. Em 1969 foi a vez dos VW Variant, TL e Karmann-Ghia TC, e do Dodge Dart. Em 1971, o JK, que havia perdido esse nome,
passou a chamar FNM 2150, com motor de cilindrada aumentada, e o Opala passou de 3800 cm3 para 4100 cm3. Em 1973, vieram vários novos modelos: o Ford Maverick, o Chevrolet Chevette, o Volkswagen Brasília e o Volkswagen Passat, o primeiro da marca a ter motor refrigerado a água, o Dodge 1800 e
o Alfa Romeo 2300. A partir daí, a indústria nacional começou a crescer e evoluir. A Fiat chegou em 1976 e lançou o 147 no ano seguinte. A história do Geia e de seus frutos é interessante até esse momento, quando os automóveis marcaram a sua época de evolução e, em alguns casos, se tornaram clássicos nacionais.
Dois esportivos dos anos 60, um Willys Interlagos, com mecânica Gordini, e um Puma, com mecânica VW Cultura do Automóvel Fevereiro 2015 31
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O Brasília, montado com mecânica VW em 1961, e o Fusca Pé de Boi, o popular “pelado” dos anos 60
Os premiados Dos 130 inscritos, 32 foram premiados, divididos em categorias, considerando veículos com mais de 30 anos de fabricação e com 80% de originalidade. Oito juízes tiveram a difícil missão de escolher os melhores dos melhores: Carlos Eduardo Albuquerque, colecionador e restaurador, Fabio de Cillo Pagotto, editor da revista Collector’s Magazine nos anos 90, Gabriel Marazzi, engenheiro jornalista especializado em automóveis e motocicletas, Lincoln Gomes de Oliveira, engenheiro da área automotiva, Luciano Dallago, colecionador e restaurador, Paulo Meyer Ferreira, colecionador especializado em automóveis brasileiros e alemães, Portuga Tavares, jornalista do setor automotivo e Reynaldo Scalco, colecionador.
Para receber o troféu cada carro desfilou na Alameda dos Clubes, caminho com bandeiras de clubes como forma de homenagear estes apaixonados do antigomobilismo. Na categoria JK (veículos fabricados até 1960), que retrata a infância da indústria automobilística brasileira, foram premiados a Romi Isetta 1956 de André Beldi, o DKW Universal 1956 de Flavio Gomes, a VW Kombi Standard 1960 de Walter Beringhs e o VW Monarca de Alexandre Atie Murad. Na categoria Tropicalismo (de 1961 a 1966), época em que os veículos passaram a ter maior índice de nacionalização foram premiados o Esporte Brasília 1961 de Sergio Campos, o DKW Belcar 1000 1963 de Stevens Beringhs, o Fusca Pé de Boi 1965 de Paulo José
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Meyer Ferreira e o Willys Renault Teimoso 1966 de Paulo Ferreira. Na categoria Milagre Brasileiro (de 1967 a 1973), foram premiados o Willys Itamarati Executivo Limusine 1967, o Opala 3800 1969 de Reynaldo Scalco, o Shark 1970 de Sergio Trivelatto, o Ford Galaxie 500 1971 de Fernando Ceolin, o Karmann Ghia 1971 de Walter Beringhs, o Ford Corcel GT 1971 de Sergio Vaz, o JK 1972 de Wamderlei Natali, o VW Variant 1972 de José Mateus Lopes e o Landau 1973 de André Beldi. Na categoria Geração Disco (de 1974 a 1982), foram premiados o Dodge Charger R/T 1972 de Reinaldo Silveira, o Ford F 75 1973 do Alemão TiTiTi, o Ford Maverick 1974 de Gregory Vaz, o Maverick Sedan 1974 de
Andre Vaz, o Chevrolet Chevette 1974 de Carlos Locatelli, o VW Brasilia 1976 de Alexandre Artea, o Dodge Dart 1977 de Fabio Batistini e o Envemo Super 90 1981 de Fernando Hormain. Na categoria Nova República (entre 1983 e 1992), foi premiado o Ford Escort L 1985, de Erwin Moretti. O 1º Clássicos Brasil também teve uma premiação especial que destacou o Ford Galaxie Ambulância 1969 da coleção Clássicos Caslini, o Fusca de Competição Autozoom de Oswaldo Guilherme Decanini, o Fiat 147 do acervo Fiat, o ônibus GM Carbrasa Escolar 1962 do Colégio Dante Alighieri, o Dogde 1800 do acervo do colecionador Fabio Steinbruch e o Puma GTE Espartano 1972 de Heinzjurgen Halle.
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À esquerda um Shark e à direita o carro que foi considerado o primeiro automóvel nacional, o DKW Universal
Uma excelente réplica do Porsche 356, feito com mecânica VW, e um Willys Interlagos
A versão picape da Rural Willys, chamada de F-75, e um Karmann-Ghia Cultura do Automóvel Fevereiro 2015 33