Cidadania

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CIDADANIA UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA

O OUTRO LADO DO PARAÍSO

A política pelo olhar de uma criança

ACABOU A PAZ ISSO AQUI VAI VIRAR O CHILE!

Ocupação das escolas em SP vira principal tema de documentário

20 17

MACHUCA A questão da igualdade nas diferenças


SUMÁRIO 03 EDITORIAL

04 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DE CIDADANIA

06 ACABOU A PAZ - ISSO AQUI VAI VIRAR O CHILE!

08 OCUPAR E RESISTIR!

10 MACHUCA

12 O OUTRO LADO DO PARAÍSO


EDITORIAL Essa é a edição simplificada da revista Cidadania, apresentando um especial de Cidadania: uma construção histórica. É fruto de uma elaboração baseada nos estudos em sala de aula e de aprendizados inspirados nas aulas de Sociologia ministradas pelo professor Gabriel Maciel. Dessa forma, essa edição tem o intuito de ser apresentada como um dos trabalhos do meu portfólio escolar. A temática principal está relacionada com o termo cidadania, o conceito de cidadania é uma ideia dinâmica que se renova constantemente diante das transformações sociais, dos contextos históricos e principalmente diante das mudanças de paradigmas ideológicos. Desta forma, esse conceito será abordado por meio de filmes que representam perfeitamente esse termo. Entre os títulos estão: "Machuca", "O outro lado do paraíso" e o documentário "Acabou a paz - isso aqui vai virar o Chile".

Desejo a todos uma boa leitura! GABRIELLI MARTINS EDITORA-CHEFE


ABRIL, 2017

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A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DE CIDADANIA

O sociólogo britânico Thomas Humphrey Marshall (1893-1981) escreveu em 1950 um ensaio que foi intitulado "Cidadania e classe social". Ali, ele estabeleceu uma divisão atualmente bastante aceita sobre tipos de cidadania. Portanto haveria uma cidadania civil, uma política e uma social. A cidadania civil, conquistada pelas sociedades ocidentais desenvolvidas entre fins do século XVIII e início do século XIX, diz respeito aos direitos fundamentais. Estes são a liberdade, a vida, a propriedade e a igualdade perante a lei.

A cidadania política foi consolidada no fim do século XIX. Ela corresponde a universalização do voto. A cidadania social só foi alcançada na segunda metade do século XX, refere-se ao direito a desfrutar de direito sociais. | CIDADANIA


ABRIL 2017

A efetivação e a gestão dos direitos sociais exigem "uma eficiente máquina administrativa do Poder Executivo" para colocar tais direitos em prática. As políticas públicas implicam escolhas de prioridades. Como es recursos do governo são finitos e os problemas de uma sociedade são muitos, a decisão de onde aplicar o dinheiro arrecadado é política. Nesse sentido, os direitos sociais nunca estão garantidos para sempre. Eles dependem de pressão de grupos diferentes e concorrentes da sociedade para serem efetivados. Um exemplo de mecanismo das categorias para reivindicar direitos é a greve, que tem crescido e consolidado-se como um grande coletivo em que trabalhadores lutam por direitos em comum. Marshall mencionou que direitos, dependem de um Estado eficiente e de uma burocracia profissional e bem treinada para que eles alcancem a maior parte das pessoas.

O caráter universal e igualitário do voto não elimina as desigualdades que caracterizam o próprio processo eleitoral. Portanto, vale lembrar que a luta política não se restringe ao processo eleitoral. No período de eleições, os mais diversos grupos ativam recursos para tentar influenciar de certa forma nas decisões. A democracia é o regime que tem por base a igualdade e o governo da maioria. Porém, na prática, ela acaba se transformando em um sistema marcado por desigualdades sociais. Assim grupos minoritários controlam os mais importantes recursos sociais do país.

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ACABOU A PAZ - ISSO AQUI VAI VIRAR O CHILE!

FICHA TÉCNICA Direção, Produção e Roteiro: Carlos Pronzato Edição: Lucas Duarte Imagens e cenas da repressão: Caio Castor Música tema: Ocupar e Resistir (Koka e Fabricio Ramos) Assessoria de Imprensa: Carola Beresi González Duração: 60 minutos Realização: La Mestiza Audiovisual

A LUTA DE ESTUDANTES CONTRA A REORGANIZAÇÃO DO ENSINO POR GABRIELLI MARTINS A luta dos alunos secundaristas contra a reorganização da rede estadual em São Paulo, em 2015, virou tema do documentário "Acabou a Paz – Isto aqui vai virar o Chile!". A principal ideia dos produtores é de manter viva a memória dessa luta do movimento estudantil que teve repercussão em todo o país.

Carlos Pronzato, cineasta e escritor argentino radicado no Brasil, Lucas Duarte, professor e videoativista, e Caio Finato, videodocumentarista, são os idealizadores do projeto. Vale lembrar que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pretendia separar as escolas por ciclos, o que levaria ao fechamento de ao menos 93 unidades, provocando a transferência de milhares de alunos. Os estudantes, que não foram consultados, não aceitaram o plano, e acabaram por ocupar um total de mais de 200 escolas em protesto.


MOVIMENTO GRITA:OCUPAR ERESISTIR!

A luta ficou marcada por inúmeros confrontos com os estudantes e grandes repressões por parte da Polícia Militar. A singularidade, a horizontalidade, a coragem e o companheirismo foram evidentes na luta desse movimento. Em entrevista para a RBA - Rede Brasil Atual, Lucas Duarte lembra que a ocupação das escolas em São Paulo foi inspirada pela Revolta dos Pinguins, uma série de mobilizações dos estudantes secundaristas chilenos em 2006.

"Elesmostraram paragentequeas pessoastêmquese importarcoma molecada.Elesé quevãoconstruir issoaquidaqui parafrente", afirmaCaioFinato.

Em entrevista a DCM, Carlos Pronzato estabelece uma relação entre os movimentos estudantis marcantes da história, e aponta: "É por isso que aconteceu o que aconteceu. À medida que movimentos sociais, mesmo os de esquerda, se inserem numa estrutura institucional, vão se perdendo. A grande armadilha é você entrar na instituição e passar a viver diariamente com ela. E esse distanciamento é que cria as revoltas populares.

O que aconteceu em 2013 é preciso colocar num contexto mundial, sem dúvida, mas há uma leitura hipócrita sobre isso por parte dos governistas. Dizer que as pessoas haviam conquistado um status econômico e que estavam indo às ruas para exigir mais, é ridículo, não sei de onde surgem elucubrações sociológicas que dizem coisas como essas. O que eu vi, particularmente, foi uma recusa do Estado como uma estrutura de repressão contínua, independentemente dos gestores do capital. "


ocupar e resisTIr Letra: Koka e Fabricio Ramos

Acordei olhei pro lado

Direita tropa de choque

Vi manifestação

Em cima o governo fascista

E do outro lado vi

Esquerda argumentação

Uma pá de ocupação

Embaixo secundarista (2x)

Enquanto uns gritavam felizes Ocupar e resistir (8x) É campeão

Quantos lutaram

Outros apanhavam e lutavam

Gritaram faleceram

Pela educação

Mais de mil?

Política desinteressante

Aqui vai virar o Chile

Causada pela corrupção

Ou o Chile virou o Brasil?

Estigma digna indignação Qual seria o tema do

Memorável

Debate em questão

Luta consciente

Gol da Alemanha

E coincidentemente incrível

Ou senador no mensalão

E é difícil e dói saber

Suor cansaço

E descobrir

Causado pela exaustão

Que a única coisa

Fome e morte

Que cresce mais que a inflação

Causada pela ambição É o genocídio Enquanto nas ruas

Só pra deixar bem claro, irmão

O que se vê é opressão

Não tem arrego

Auto opressão

Você fecha a minha escola

E na mídia

E eu tiro o seu sossego.

Alienação E quem será o culpado em questão

Salve família

Aquele que é eleito

A rua é nossa

Ou aquele que Vota na eleição

Ocupar e resistir (25x)


Summary


MACHUCA

FICHA TÉCNICA

A QUESTÃO DA IGUALDADE NA DIFERENÇA Ambientado em 1973 em Santiago Chile, durante o governo ditatorial, o filme conta a história de dois amigos, um de família abastada burguesa (Gonzalo Infante), e outro (Pedro Machuca) de família pobre. Este último juntamente com outros rapazes de mesma classe social, são integrados em um local para estudantes de classe alta, o Saint Patrick, uma escola católica situada no setor Oriental da capital. O projeto de integração social é adotado pelo padre McEnroe, que ao

Título: Machuca Ano produção: 2004 Dirigido por: Andrés Wood Origem: Chile e Espanha Duração: 116 minutos Classificação: 12 anos Gênero: Biografia/Drama

implementar estas medidas dividiu negativamente a opinião de muitos pais dos alunos que já eram matriculados lá. As suas decisões e medidas acarretaram à sua expulsão logo após o golpe do governo de Augusto Pinochet. O filme está baseado em fatos reais e, em parte, é autobiográfico do diretor, que num estabelecimento similar, sendo estudante, viveu algo similar com o apresentado na trama.


“SABE ONDE VAI ESTAR O SEU AMIGO DAQUI A 5 ANOS? COMEÇANDO A UNIVERSIDADE. E VOCÊ VAI ESTAR LIMPANDO BANHEIROS. EM 10 ANOS ELE VAI ESTAR TRABALHANDO NA EMPRESA DO PAI. E VOCÊ CONTINUARÁ LIMPANDO BANHEIROS. E, EM 15 ANOS, ELE VAI SER DONO DA EMPRESA DO PAI. E VOCÊ? ADIVINHE. VAI CONTINUAR LIMPANDO BANHEIROS. E ELE NEM SE LEMBRARÁ DE SEU NOME.” - ISMAEL (PAI DE PEDRO) É evidente que o diretor da escola, está a favor de proporcionar uma educação igualitária a todos, integrar naquele ambiente elitistas garotos de famílias com poucas condições, procedentes de povoados marginais. Portanto, como já foi citado antes, o caminho não é fácil, pois vão ficar claros os preconceitos instalados nas mentes de pais, mães, alunos e até

mesmo de docentes. A sociedade em geral boicotará a nobre ideia do diretor da escola. Porém, mesmo enfrentando todas essas dificuldades ainda restam motivos de esperança. Tais como a amizade que surge entre os protagonistas. Essa cumplicidade existente entre ambos, como no reconhecimento das suas diferenças e a possibilidade de conviverem com elas, animam-nos a sonhar com um mundo ideal. Paralelamente a isso, também surge o despertar dos garotos aos primeiros amores, protagonizada por Silvana, amiga do Gonçalo e de Pedro. Ao final da trama, em uma realidade injusta e desigual como a que se instaurou violentamente no Chile de 1973, é provável que o que foi dito pelo pai de Pedro a ele se realize e que Gonzalo e Pedro sigam trajetórias distintas na vida; isso fica claro nas últimas cenas nas quais Gonzalo, permanece confuso diante de uma situação difícil, e que aquela amizade tenha gerado frutos que nem a força, nem o medo sejam capazes de destruir.

“DESDE QUANDO UM BRANCO É AMIGO DE UM ÍNDIO?” PERGUNTA SILVANA.“CLARO QUE PODE SER. É POSSÍVEL.” RESPONDE GONZALO.


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O outro lado do paraíso "Toda família tem um sonho"

FICHA TÉCNICA

O Outro Lado do Paraíso, um longa-metragem de André Ristum é baseado em um dos contos do livro “Trevas no Paraíso” que narra a vida da família do

Gênero: Drama Direção: André Ristum Gênero: Drama Nacionalidade: Brasil Data de lançamento: 2 de junho de 2016 DURAÇÃO: 1h 55min

jornalista mineiro Luiz Fernando Emediato, um dos muitos brasileiros que foram à Brasília tentar morar "perto do presidente" e acabaram numa comunidade pobre e sem muitos recursos. A trama é narrada por Nando (Davi Galdeano), o filho que possui 12 anos e é obrigado a acompanhar a família nesse novo universo. O menino relata suas descobertas e aventuras, além da busca do pai por um futuro melhor e também os laços criados entre os trabalhadores da comunidade de Taguatinga, onde moraram. Página 12 | CIDADANIA


Vale lembrar que o pano de fundo da trama é 1963, o Brasil passava por um período delicado no seu cenário político, o país se encontrava totalmente dividido e no ano de 1964 ocorreu o golpe Militar que nos levou a anos de ditadura (19641985), incluindo muitos acontecimentos sangrentos e desumanos com aqueles que eram contra as decisões, ou melhor, imposições do governo. Portanto, é interessante analisar que no filme situações incluindo o pai, a família, o golpe e as greves, são todos vistos e analisados pelo olhar do garoto. O filme ainda relata as incertezas do primeiro amor, a lealdade entre amigos, a simplicidade e companheirismo entre os trabalhadores da comunidade.

O longa-metragem ganhou o prêmio de melhor filme do júri popular no Festival de Gramado e outros sete prêmios no Festival de Brasília, o Troféu Câmara Legislativa, incluindo Melhor Filme na escolha do público, Melhor Ator (Davi Galdeano), Melhor Atriz (Simone Iliescu) e Melhor Roteiro. Ainda recebeu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Atriz (Maju Souza) e Melhor Filme pelo Júri Popular Jovem no Festival Latino-americano de Trieste, na Itália, e o Premio Radio Exterior de Espanha para o longa metragem que melhor reflete a realidade latino-americana, no Festival Latino Americano da Catalunha, em Lleida, na Espanha.

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