Revista CULTI

Page 1

Culti Edição Limitada | Novembro 2016

INCERTEZA VIVA

O MENINO E O MUNDO

Um aprofundamento na reflexão abordada nas obras presentes nessa edição da Bienal de São Paulo

Uma animação brasileira com com inúmeros focos e explicações relacionados ao mundo capitalista


REVISTA CULTI

índice 03 04

Editorial 32ª Bienal de São Paulo - Incerteza Viva

08

Visite - Museu Afro Brasil

18

O menino e o mundo

20

Tempo e Espaço

22

30 anos do acidente Chernobyl

26 29

50 anos de Jornada nas Estrelas

Star Trek: Enterprise

REVISTA CULTI


EDITORIAL

Esta é uma edição especial da Revista CULTI, elaborada com o intuito de ser apresentada como um dos projetos de um portfólio escolar. A revista aborda diversos temas, cada um com sua importância e peculiaridade. Dessa maneira, os textos presentes nessa edição apresentam desde informações sobre exposições em museus de São Paulo, até análises de filmes discutidos em aulas, realizadas no Colégio Cunha Carvalho, pelo professor Gabriel Maciel. Entre eles, pode-se destacar principalmente a presença de: descrições, reflexões e relatos experienciais. Assim o leitor irá se deparar com: dados sobre a 32ª Bienal de São Paulo e o Museu Afro Brasil, além de imagens das exposições e obras presentes nas mesmas. Ainda há um especial de 30 anos do acidente nuclear de Chernobyl e 50 anos de Jornada nas Estrelas. E também reflexões referente ao filme "O menino e o mundo" (2014). A elaboração e finalização dessa edição durou cerca de uma semana. Assim espero que todos os textos, os quais estão contidos nessa revista, possam despertar a curiosidade, além de mostrar novas visões sobre os assuntos abordados. Desejo a todos uma boa leitura! Gabrielli Martins, editora-chefe da Revista CULTI


Página 4

A 32ª edição da Bienal de São Paulo se propõe a observar as noções de incerteza e as estratégias oferecidas pela arte contemporânea. Enquanto a estabilidade é compreendida como uma cura para a angústia, a incerteza geralmente é evitada ou recusada. As artes, contudo, sempre jogaram com o desconhecido. Historicamente, a arte tem insistido em vocabulários que permitem a ficção e a alteridade, e reage à incapacidade dos meios existentes de descreverem o sistema do qual fazemos parte. A incerteza na arte aponta para a criação, levando em conta a ambiguidade e a contradição. A arte se alimenta do acaso, da improvisação e da especulação. INCERTEZA VIVA se constrói como um jardim, no qual temas e ideias se entrelaçam livremente em um todo integrado, estruturado em camadas, como uma tentativa de ecologia em si mesma. Não está organizada em capítulos, mas antes baseada em diálogos entre diferentes produções de 81

artistas de 33 países. A exposição olha para uma série de artistas históricos. A maioria dos projetos artísticos, no entanto, foi especialmente comissionada para a 32ª Bienal de São Paulo, não para ilustrar um arcabouço teórico ou temático, mas para desdobrar os princípios criativos da incerteza em diferentes direções.


"DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS” LAIS MYRRHA Lais Myrrha investiga instrumentos e saberes que constroem nossa experiê ncia no mundo a partir do lugar que nele ocupamos. Myrrha explora em suas obras a noç ã o de impermanê ncia e a histó ria contada do ponto de vista dos “vencidos”, assim como a precariedade dos conceitos de equivalê ncia e equilí brio. Em Dois pesos, duas medidas (2016), a artista constró i duas torres com as mesmas dimensõ es, compostas de materiais empilhados. De um lado, materiais empregados nas construç õ es indí genas (cipó , toras de madeira, palha) e, de outro, aqueles usados nas edificaç õ es tí picas brasileiras (tijolo, cimento, ferro, vidro, canos) – dois modos construtivos que corporificam modos de vida e dois projetos distintos de sociedade que, ainda que sejam potê ncia de construç ã o, já anunciam suas formas de ruí na.

[...ELES ESTAVAM DESCOBRINDO COISAS E ENCONTRANDO MEIOS DE ENTENDER... (...QUANDO CRESCEREM...)] EBONY G. PATTERSON Ebony G. Patterson parte de referê ncias da pintura para compor cenas e retratos que se relacionam com a cultura popular e o forte contexto de violê ncia caraterí stico de diversas comunidades em Kingston, Jamaica. Transitando por té cnicas variadas, a artista tem a fotografia como primeira etapa na elaboraç ã o de suas composiç õ es. Transforma as imagens em tapetes que, por meio de colagens, recebem camadas de tecidos e ornamentos. O conjunto de painé is apresentado na 32a Bienal é uma tentativa de traç ar paralelos entre os contextos socioculturais do Brasil e da Jamaica. Reagindo aos altos í ndices de assassinato de crianç as e jovens negros nos dois paí ses, Patterson retrata uma infâ ncia que é potê ncia de criaç ã o e transformaç ã o, e que, ao mesmo tempo, padece diante de sistemas excludentes e violentos.


“HIPÓTESE DE UMA ÁRVORE” MARIANA CASTILLO DEBALL Para a 32a Bienal, a artista Mariana Castillo Deball trabalhou em parceria com o Instituto de Geociê ncias da Universidade de Sã o Paulo e o Geopark Araripe, no Ceará , para construir a instalaç ã o Hipó tese de uma á rvore (2016), que consiste em uma estrutura de bambu em forma de espiral que remete a um esquema de representaç ã o evolutiva de espé cies. A obra conta com dezenas de frotagens – té cnica de transferê ncia amplamente utilizada na paleontologia – feitas pela artista em papel japonê s a partir de fó sseis e materiais geoló gicos encontrados em sí tios arqueoló gicos, coleç õ es institucionais e fachadas de edifí cios na cidade de Sã o Paulo. Ao justapor em espiral os registros de elementos de diferentes naturezas e é pocas, Deball coloca em perspectiva ideias de evoluç ã o, extinç ã o e histó ria.

INSTALAÇÃO “TRUE TO SIZE” HEATHER PHILLIPSON

A linguagem articulada por objetos fí sicos e digitais que habitam o imaginá rio da sociedade de consumo contemporâ nea é a principal maté ria-prima das instalaç õ es e ví deos de Heather Phillipson. TRUE TO SIZE [Fiel ao Tamanho] (20152016) consiste de ví deos, á udios e esculturas em escala humana. É uma suí te de cenas que tem como tema a devastaç ã o – clima extremo, higiene extrema, sexo virtual, comunicaç ã o excessiva, guerras, extinç ã o iminente, sobrevida, enchentes e, em um sentido mais amplo, consumo e desejo. A escala dos objetos e imagens representados faz com que eles momentaneamente percam a banalidade com que sã o consumidos no cotidiano.


"ENCICLOPÉDIA VISUAL BRASILEIRA" WLADEMIR DIAS-PINO Wlademir Dias-Pino é artista, poeta, desenhador gráfico, vitrinista. Na década de 1940, fez suas primeiras incursões na poesia, e ao longo das décadas de 1950 e 60 participou da fundação dos movimentos Poema / Processo e Intensivismo. Sua prática desafia a relação entre imagem e linguagem. Na 32ª Bienal, o artista apresenta um recorte da Enciclopédia Visual Brasileira (19702016), uma espécie de inventário de imagens que contém 1001 volumes divididos em 28 séries. As imagens são compostas a partir de conteúdos apropriados de várias origens e épocas. DiasPino trabalha essa iconografia por meio de colagem, recorte, xerox, sobreposição e manipulação digital. Outdoors (20152016), por sua vez, é constituído por uma série de placas com abstrações geométricas produzidas a partir de paisagens, entre elementos arquitetônicos e hábitos sociais. As placas estão dispostas em diversos pontos do Parque Ibirapuera.

"THE GIRL WAS NOT THERE [A MENINA NÃ O ESTAVA LÁ ]" GÜ NEŞ TERKOL Gü neş Terkol desafia os imaginá rios relacionados ao feminino a partir de histó rias pessoais ou coletivas compartilhadas por mulheres em oficinas que organiza para sua pesquisa e processo de trabalho. O bordado, prá tica culturalmente atribuí da ao ambiente domé stico e ao labor da mulher, ganha camadas pú blicas e polí ticas em sua produç ã o. Na 32a Bienal, sã o apresentadas as sé ries Couldn’t Believe What She Heard [Nã o posso acreditar no que ela ouviu] (2015) e The Girl Was Not There [A menina nã o estava lá ] (2016), essa ú ltima comissionada para a exposiç ã o. Na primeira, em uma montagem aberta, Terkol cria imagens nas quais elementos relacionados ao estereó tipo do “universo feminino” – unhas esmaltadas, cabelos, sapatos – sã o contrastados com fragmentos de corpos cujo sexo nã o é possí vel identificar. Na segunda sé rie, a artista resgata o cará ter mí stico e idí lico da natureza. A coloraç ã o se origina de materiais orgâ nicos, como cebola, folhas de tabaco. O tecido utilizado subverte a aparente fragilidade das obras e sua transparê ncia possibilita entrever as composiç õ es, multiplicando e desconstruindo os imaginá rios do feminino e da natureza.


VISITE

MUSEU AFRO BRASIL Com mais de 6 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, documentos, peças etnológicas e fotografias, tanto de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XV e os dias de hoje, o acervo abarca diversas facetas dos universos culturais africanos e afro-brasileiros

Atualmente, está divido em 06 núcleos: África: Diversidade e Permanência, Trabalho e Escravidão, As Religiões Afro-Brasileiras, O Sagrado e o Profano, História e Memória e Artes Plásticas: a Mão Afro Brasileira. Em cada andar, uma surpresa. O acervo vai muito além das religiões afro-brasileiras. A história, arte, escravidão, música, literatura, personalidades, adereços, móveis, esculturas, instalações estão espalhados nos três andares. É claro que não podiam faltar as obras do artista plástico argentino Carybé e do fotógrafo e etnólogo franco-brasileiro Pierre Verger.

8


REVISTA CULTi

“A exposição do acervo do Museu Afro Brasil pretende contar uma outra história brasileira. (…) tem a intenção de desconstruir um imaginário da população negra, construído fundamentalmente pela ótica da inferioridade ao longa da nossa história e transformá-lo em um imaginário estabelecido no prestígio, na igualdade e no pertencimento, reafirmando assim o respeito por uma população matriz de nossa brasilidade.” REVISTA CULTI

9

O espaço abriga ainda a Biblioteca Carolina Maria de Jesus com aproximadamente 6.800 publicações, com uma coletânea especial de obras raras sobre tráfico atlântico e abolição da escravatura no Brasil, América Latina, Caribe e Estados Unidos. Dentre elas, 20 obras estão disponíveis para download no site da instituição. Além da biblioteca existe também o Teatro Ruth de Souza, com capacidade para 150 pessoas.


PÃO NOSSO DE CADA DIA” “

Uma das obras que mais chamam a atenção do público que visita o museu, A obra chama-se “Pão Nosso de Cada Dia”, do artista angolano Yonamine. O título reforça a cadeia de associações implícitas. Na parede mais extensa da galeria, um painel (de 3,5 metros de altura por 8 de largura) composto por cerca de 2 500 torradas. Fatias de “pão de forma” justapostas sobre as quais, uma a uma, foram gravadas (numa torradeira adaptada que permite “gravar desenhos”, de modo mais ou menos intenso, criando uma gradação de tons desde o amarelo pálido até ao negro) uma seleção de imagens que compõem um padrão irregular. As imagens são duas representações de uma pessoa (rosto e busto) e alguns algarismos. Os algarismos são o 0, o 1 e o 7

(os mais frequentes) e ainda o 5 e o 6. A pessoa é José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola.O título reforça a cadeia de associações implícitas. Poucas coisas serão mais comuns, universais e quotidianas que o pão. O pão invoca ao mesmo tempo a intimidade doméstica e familiar, e a mais fundamental luta política e social (contra a fome, “pelo pão”); para além das potenciais significações religiosas num contexto cristão ( a transformação do pão em corpo de Cristo na hóstia consagrada ). A expressão “pão nosso de cada dia” remete também para um sentimento de exaustão em relação à rotina de um quotidiano que parece repetir-se infindavelmente. Uma espécie de cansaço.

10


REVISTA CULTI

ÁFRICA: DIVERSIDADE E PERMANÊNCIA Núcleo dedicado à riqueza cultural, histórica e artística dos povos africanos. Exibe obras das mais variadas funcionalidades e concepções estéticas, que demonstram a competência técnica dos seus autores e exemplificam a imensa diversidade desse continente. Nas vitrines estão expostas desde máscaras e estatuetas feitas em madeira, bronze e marfim até vestimentas bordadas em fios de ouro, todas originárias de diferentes países e grupos culturais como Attie (Costa do Marfim), Bamileque (Camarões), Luba (Rep. Democrática do Congo), Tchokwe (Angola) e Iorubá (Nigéria).

TRABALHO E ESCRAVIDÃO Núcleo que tem o objetivo de ressaltar os saberes e tecnologias trazidas pelos africanos escravizados no campo do trabalho. Tanto no ambiente rural quanto no urbano, o conhecimento dos africanos foi determinante para o desenvolvimento dos ciclos econômicos. Além de pinturas, gravuras e esculturas retratando parte dessas contribuições, os visitantes podem apreciar documentos e outros objetos ligados ao mundo do trabalho, tais como máquinas de moer cana, fôrmas para fabrico do açúcar e ferramentas de carpinteiros e ferreiros.

REVISTA CULTI

11


REVISTA CULTI

12

AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS Núcleo consagrado às religiões e cultos brasileiros que possuem matriz africana. Visões de mundo e mitologias são ressaltadas por meio de rica iconografia, com destaque ao panteão de santos, orixás e outras entidades cultuadas no Brasil. No espaço reservado ao núcleo podem ser observadas vestimentas de Egungun e de orixás, instrumentos musicais, além de pinturas, gravuras, esculturas, instalações e fotografias dedicadas ao tema.

O SAGRADO E O PROFANO Nesse núcleo estão representadas festividades celebradas no Brasil, ligadas ao sagrado e celebradas no espaço festivo da rua. Muitas das festas populares brasileiras, como a Congada e o Maracatu, remetem ao período colonial e eram consideradas espaços de sociabilidade aproveitados pelos africanos escravizados para celebrarem suas tradições e manterem suas identidades culturais. Assim, em diversas festas brasileiras é possível encontrar instrumentos musicais de origem africana, símbolos relacionados a antigos reinos do continente, materializados no núcleo através de máscaras, bandeiras e vestimentas.

REVISTA CULTI


ÁFRICA: DIVERSIDADE E PERMANÊNCIA Núcleo dedicado à história e memória de importantes personalidades negras que se destacaram em diversas áreas do conhecimento, desde o período colonial até os dias de hoje. Fotografias e documentos exaltam a trajetória de escritores como Carolina Maria de Jesus, autora do livro Quarto de Despejo; dos engenheiros da família Rebouças, além de outros notáveis como Teodoro Sampaio, importante geógrafo e arquiteto cujo nome foi atribuído, em sua homenagem, a uma conhecida rua de São Paulo.

ARTES PLÁSTICAS: A MÃO AFRO BRASILEIRA

O Núcleo de Artes Plásticas expõe obras que perpassam diferentes períodos da arte no Brasil, desde o Barroco e o Rococó, o século XIX e a arte acadêmica, bem como a Arte Popular, a Arte Moderna e a Contemporânea. Dentre os artistas expostos destacam-se Estevão Roberto da Silva e os artistas contemporâneos Rosana Paulino, Rubem Valentim, Mestre Didi, entre outros. Em meio às produções contemporâneas são também exibidas obras de artistas africanos e afro-americanos, como Gerard Quenum, Zinkpé e Melvin Edwards.


Estão presentes no museu três homenagens póstumas a importantes personalidades portuguesas: Beatriz Costa, grande atriz de cinema e teatro, sua trajetória teve importante participação no teatro brasileiro; Rafael Bordalo Pinheiro, ceramista e caricaturista que criou importantes revistas no Brasil do século XIX, e também pelos 170 anos de seu nascimento; e Amadeo de Souza Cardoso, um pintor revolucionário, o Museu Afro Brasil apresenta uma reprodução dos desenhos do álbum XX Dessins, editados recentemente na exposição retrospectiva dedicada ao artista, realizada no Grand Palais de Paris.Uma sala especial homenageará a artista portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, que viveu no Brasil no período entre 1940 e 1947, convivendo com outros artistas europeus residentes no país, além de intelectuais e pintores brasileiros.


15


LIBERDADE FERNANDO PESSOA DON'T BE. Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não fazer! Ler é maçada, Estudar é nada. Sol doira Sem literatura O rio corre, bem ou mal, Sem edição original. E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como o tempo não tem pressa... Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma. Quanto é melhor, quanto há bruma, Esperar por D.Sebastião, Quer venha ou não! Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol, que peca Só quando, em vez de criar, seca. Mais T H E Rque E ' S Nisto O É Jesus Cristo, OTHER PERFECT TIME. Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca...


19


R E V I S T A

18

C U L T I

O MENINO E O MUNDO é

O Menino e o Mundo brasileiro de

á

O filme j

2013

çã ê í

um filme de anima

o

, escrito e dirigido por Al

foi vendido para mais de

80

Abreu.

é

pa ses, al

m

de ser um dos cinco indicados ao Oscar de melhor

çã

filme de anima

o em

2016

.

ã

Na trama um garoto mora com o pai e a m

e, em

uma pequena casa no campo. Diante da falta de trabalho, o pai abandona o lar e parte para a cidade grande. Triste e desnorteado, o menino faz as malas, pega o trem e vai descobrir o novo mundo em que seu pai mora. Para a sua surpresa, encontra uma sociedade marcada pela pobreza,

çã

explora

o de trabalhadores e falta de

perspectivas de vida.

ç

Os tra

çã ç

os desta anima

o remetem a ingenuidade,

e infantilidade da crian

a. O personagem principal

desenhado com um rabisco simples, em

ç

espa

2

é

D, sobre

os brancos remetendo a folhas de papel.

ç

Esses tra

os suaves retratam exatamente uma

sociedade capitalista.

é

Al

çã

m disso, cada colora

ç

o e tra

os foram

pensados para representar ambientes distintos, por isso enquanto o campo

ç

pequenos tra

é

simbolizado por

os coloridos (representando a

simplicidade e felicidade), a cidade

é

uma mistura

cinzenta de pesadelo futurista e reflexo do capitalismo (presente em outdoors e televisores). O trem que atravessa a fazenda

é

um monstro

gigante, como se fosse uma serpente, que diante

ã

da vis

ç

o da crian

a, "engole" os adultos e depois

ç

desaparece no espa mais.

ê

o branco, sem devolv

-los


PÁGINA 19

O menino conhece a realidade dos processos de trabalho capitalista em todas as suas etapas: plantações de algodão em larga escala, tecelagem, distribuição para o mercado consumidor, exportação e, por fim, a publicidade incitando ao consumismo. A chegada da tecnologia para os trabalhadores significa o desemprego e a acentuação da exclusão. Cada momento do filme foi pensado com um intuito. A exploração dos agricultores, a falência das fábricas, a tristeza dos tecelões, a precariedade dos artistas de rua, a falta de estrutura nas comunidades carentes, o regime militar que persegue todos. Tudo é retratado de modo a misturar o sonho com o pesadelo pelo imaginário da criança, principalmente no que se diz em relação aos dois pássaros que lutam: o pássaro preto está do lado do opressor e o colorido representa o movimento popular, sempre renascendo.. Os pobres são humanizados ao máximo, com a câmera próxima dos pequenos traços que representam os seus olhos tristes, já os poderosos estão escondidos atrás de tanques e veículos potentes.


TEMPO E ESPAÇO Por: Gabrielli Martins

O filme não localiza o espectador em um espaço nem em um tempo, porém não há como não pensar e compará-los com os processos semelhantes de colonização pelos quais passou todo o continente latinoamericano. Primeiro era uma colônia que fornecia matéria prima e mão de obra barata. Depois, a condição de todos esses países terem sido governados por ditaduras militares, representadas no filme por grandes tanques de guerra – como se fossem máquinas-monstro que perseguia aqueles fora do regime. O clima de opressão é quebrado várias vezes por uma trupe de músicos e dançarinos , com gorros e ponchos coloridos, tocando músicas alegres, ao som da flauta-pan. São momentos de respiro, como a lembrar que a resistência popular não morreu e muito menos perdeu a esperança para mudar aquela situação.


Página 21

AOS OLHOS DE UMA CRIANÇA

EMICIDA Menino, mundo, mundo, menino (4x) Selva de pedra, menino microscópico O peito gela onde o bem é utópico É o novo tópico, meu bem A vida nos trópicos Não tá fácil pra ninguém É o mundo nas costas e a dor nas custas Trilhas opostas, 'la plata' ofusca Fumaça, buzinas e a busca Faíscas na fogueira bem de rua, chamusca Sono tipo 'slow blow', onde vou, vou Leio vou, vô, e até esqueço quem sou, sou Calçada, barracos e o bonde A voz ecoa sós mas ninguém responde Miséria soa como pilhéria Pra quem tem a barriga cheia, piada séria Fadiga pra nóis, pra eles férias Morre a esperança E tudo isso aos olhos de uma criança... Gente, carro, vento, arma, roupa, poste Aos olhos de uma criança Quente, barro, tempo, carma, roupa, nóis Aos olhos de uma criança

Mente, sarro, alento, calma, moça, sorte Aos olhos de uma criança Sente o pigarro, atento, alma, louça, morte Aos olhos de uma criança Airgela adiv aigrene açrof Roma zap edadrebil zov edatno É café, algodão, é teto, vendo o chão é certo É direção afeta, é solidão, é nada (é nada) É certo, é coração, é causa, é danação, é sonho, é ilusão É mão na contra mão, é mancada [...] É fome, é fé, é os home, é medo É fúria, é ser da noite, é segredo, é choro de boca calada Saudades de pá, pai, quanto tempo faz, a esmo Não é que esse mundo é grande mesmo A melodia dela, no coração, tema Não perdi seu retrato, Tipo Adoniran em Iracema


Página 22

30 ANOS DO ACIDENTE CHERNOBYL Em 2016 fez 30 anos que ocorreu o desastre de Chernobyl, na Ucrânia.


19

O dia 26 de abril de 1986 entrou para a história da humanidade como a data em que aconteceu o maior acidente nuclear de todos os tempos na pequena cidade de Chernobyl, na Ucrânia, então parte da União Soviética. O quarto reator da usina localizada na até então desconhecida cidade soviética sofreu uma explosão de vapor seguida de derretimento nuclear, despejando assim uma enorme quantidade de material radioativo no ar, criando uma nuvem de gases 200 vezes mais radioativa do que aquela formada nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki após a detonação de duas bombas atômicas em 1945. Não houve uma razão exata para o acidente na Ucrânia, mas o consenso em torno do tema é o de que falhas de projetos e erros humanos na manipulação dos controles do reator culminaram no desastre.

A fim de testar o funcionamento do equipamento mesmo com baixa energia disponível, os responsáveis pela usina desligaram os geradores de emergência e reduziram a potência do reator para 25%. Some a isso algumas falhas de projeto e o resultado foi o primeiro acidente nuclear de nível 7 registrado pela humanidade. Em um primeiro momento, ao menos 30 pessoas morreram por resultado direto do acidente. Até 2005, a Organização Mundial da Saúde estimou em 4 mil o número de mortos direta ou indiretamente ligados ao acidente de Chernobyl — o Greenpeace considera este número subestimado e sugere um bem maior: 200 mil mortos em decorrência do desastre ao menos até 2006. Além disso, o governo ucraniano estima que apenas 5% das cerca de 600 mil pessoas envolvidas nos trabalhos de resgate e limpeza estejam saudáveis.


24

REVISTA CULTI

30 anos depois ... Três décadas depois do desastre, Pripyat, a cidade construída ao redor de Chernobyl para abrigar os trabalhadores da usina, virou um deserto. Evacuada nos dias seguintes ao acidente, em torno da usina, foi criada uma zona de exclusão de 2,8 mil quilômetros quadrados a fim de isolar a área. Sem a ação humana intensa, o número de espécies de animais e plantas que voltou a habitar a região cresceu de forma inédita. “Quando as pessoas se foram, a natureza voltou”, comentou o biólogo da zona de exclusão de Chernobyl Denys Vyshnevskiy, em entrevista à AFP. “A radiação está sempre aqui e tem um impacto negativo, mas não tão significante quanto a ausência de intervenção humana”, complementa. Segundo o professor de biologia da Universidade da Carolina do Sul Timothy Mosseau, que vai ao menos uma vez por ano a Chernobyl desde 1999, os efeitos da radiação são notáveis na fauna da região. “Observamos vários efeitos causados pela radiação: anormalidades no desenvolvimento, tumores, cérebros menores do que a média e defeitos no esperma desses animais”, comenta em entrevista à revista Galileu.

REVISTA CULTI


Atualmente a região de Chernobyl está deserta. Apenas 36 horas após os eventos que culminaram no maior desastre nuclear da história, o local foi evacuado e a enorme maioria de seus moradores jamais voltou — estima-se que cerca de 300 pessoas vivam atualmente por lá. Os níveis de radiação dentro da zona de exclusão são considerados baixos, não alcançando um patamar perigoso para seres humanos. Porém, quanto mais próximo da usina, maior é a radiação, resultando em ambientes que não devem ser frequentados por seres humanos durante mais do que alguns minutos. O futuro de Chernobyl ainda é incerto. O reator quatro da usina foi selado por um enorme “sarcófago” de concreto, que atualmente encontra-se em estado bastante ruim. Um consórcio internacional deve realizar a sua substituição apenas a partir do ano que vem, em uma obra orçada em US$ 2,2 bilhões. Segundo a BBC, após a finalização desta obra é que terão início os trabalhos de remoção de toda a estrutura do reator e também do entulho. Entretanto, ainda estamos bem longe de ver a região habitável novamente. A duração da radiação causada pelo césio 137, um dos elementos mais nocivos expelido pela explosão da usina, é de cerca de 30 anos. Contudo, análises do solo feitas em 2009 mostraram que a quantidade de césio 137 presente na região não diminuiu nesta proporção, obrigando os cientistas a refazerem o cálculo de quando supostamente a cidade ucraniana poderá ser livremente habitada sem qualquer risco. Com isso, estima-se atualmente que levaria de 180 a 320 anos até que os efeitos radioativos se tornassem praticamente nulos.

Página 25 8


REVISTA CULTI

26

50 anos de Jornada nas Estrelas

No dia 8 de setembro de 1966, estreava pela rede NBC o primeiro episódio de Jornada nas Estrelas, série de ficção científica que propunha um futuro pacífico, unido e voltado para a exploração do espaço. Em meio ao cenário sócio-político e cultural da época, a série era uma produção ousada, mas que não conseguiu resistir às pressões externas, sendo cancelada com apenas três temporadas. Jornada nas Estrelas sobreviveu à passagem dos anos através das reprises, conquistando novas gerações.

Após o sucesso de bilheteria do filme Guerra nas Estrelas, a série criada por Gene Roddenberry ganhou vida nova, ao ser transportada da TV para o cinema. Na TV, a série original gerou uma versão animada e mais cinco spinoffs, sendo a última ainda inédita. A franquia cinematográfica, depois de passar por um período de hibernação, voltou revigorada e pronta para conquistar uma nova geração de fãs. Poucas séries de TV conseguiram se enraizar tão profundamente no imaginário popular, a ponto de construir um universo próprio reconhecido pelo público.

REVISTA CULTI


REVISTA CULTI

27

STAR TREK Jornada nas Estrelas (Star Trek) foi a primeira tentativa de fazer ficção científica séria com personagens fixos da história da televisão americana. Antes dela, uma outra série de ficção já fazia grande sucesso, "The Twilight Zone" (conhecida no Brasil como "Além da Imaginação"), mas era de natureza antológica -- uma coleção de histórias sem personagens fixos, exceto pelo apresentador. A idéia básica por trás do seriado era bem simples: as aventuras da galante tripulação de uma nave espacial terrestre nos confins do espaço, em algum ponto do futuro (que acabou, posteriormente, sendo definido como meados do século 23). Os humanos estariam em situação muito melhor que a atual, e a Terra seria um paraíso, sem conflitos, guerras ou problemas sociais. Restaria aos terráqueos apenas a busca pelo desconhecido, novos mundos e civilizações, como forma de aprimorar ainda mais sua sociedade e seu conhecimento. O primeiro ano da série foi exibido em 1966-1967, destacando as aventuras de uma nave da Frota Estelar em pleno século 23, a USS Enterprise, e sua tripulação, composta por Kirk, Spock, o médico de bordo Leonard McCoy (DeForest Kelley), o engenheiro Montgomery Scott (James Doohan), o timoneiro Sulu (George Takei) e a oficial de comunicações Uhura (Nichelle Nichols). O navegador russo Pavel Chekov (Walter Koenig) só iria se juntar à trupe na temporada seguinte.

"Vida longa e próspera" (Mr. Spock)

PRIMEMAGAZINE.COM


REVISTA CULTI | PÁGINA 28

Star trek: série animada A Série Animada decolou em 1973, produzido pelo estúdio Filmation, que mais tarde faria clássicos da animação televisiva como "He-Man" e "She-Ra", e exibido pela NBC aos sábados de manhã. Apesar das limitações técnicas e da redução do tempo dos episódios dos 51 minutos da época da série filmada para apenas 23 minutos, o programa mais uma vez se tornou sucesso de crítica. E, mais uma vez, não teve público suficiente para mantê-lo no ar. Os episódios claramente eram muito desenvoltos para uma série infantil. O desenho resistiu por duas temporadas e 22 episódios, antes de ser cancelado.


Em 2001, era hora de criar uma quinta série com atores para substituir Voyager na UPN. Nascia Enterprise, uma prequel que contava as aventuras da primeira Enterprise, cem anos antes da nave de Kirk. Para comandar o elenco foi contratado Scott Bakula, ator já famoso por seu papel na série sci-fi "Quantum Leap".

A série durou 4 temporadas, sendo encerrada em maio de 2005. Durante seus três primeiros anos, esteve um pouco perdida, preferindo enfocar mais um assunto criado para a ocasião, como a Guerra Fria Temporal, ou um ataque que quase dizimou a Terra efeutado pela raça Xindi. Porém, a partir de sua quarta temporada, temas oriundos da Série Clássica foram explorados e Enterprise se despediu com dignidade. Após o término de Enterprise, os fãs se encontram num hiato entre produções que deverá durar alguns anos. É hora de aproveitar para rever esses 40 anos de Jornada, sempre em busca de algo que ainda não tenha sido totalmente explorado em seus mais de 700 episódios e 10 filmes para cinema.

REVISTA CULTI | PÁGINA 29

STAR TREK: ENTERPRISE



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.