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Referências Bibliográficas
Enredo (s.m.): 1. Ato de prender ou colher com rede; 2. Sucessão encadeada de acontecimentos e peripécias à volta do assunto principal de uma peça literária
Quatro atos, ou períodos históricos de análise; quatro escalas, ou escalas de arruinamento sobre as quais intervir; quatro movimentos, ou intenções projetuais pontuadas dentre as áreas reconhecidas como de relevância. A primeira etapa do trabalho é conduzida a partir de uma lógica cronológica e de ocupação do território por diferentes povos: a ocupação marsa e os primeiros assentamentos do lago sagrado; a colonização romana e a primeira obra de drenagem, a feudalização medieval e as novas cheias e a capitalização italiana e a segunda obra de drenagem. A partir do reconhecimento e mapeamento desses períodos, são levantados os pontos de interesse de intervenção, dos quais quatro têm sua exporação projetual desenvolvida.
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O enredo
Intervenção (s.f.): 1. Ato de intervir; 2. Em um debate, ato de emitir opinião, contribuir com ideias; 2. Em arquitetura, projeto arquitetônico em lugar já edificado.
A intervenção
Povoa-se o território com propostas de espaços construídos úteis à população que ali vive e que recuperam e respeitam a memória de uma paisagem transformada. Os quatro atos e quatro escalas se mantém, mas projetos dentro de cada um dos quatro movimentos crescem, em número de intervenções e em nível de exploração formal.
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
CUORE
Cuore (s.m; italiano): 1. Coração. Utilizado com frequência na língua italiana como denotação de “centro”. Similar ao Core do inglês.; 2. A parte mais central ou mais profunda de algo; âmago. 3. A sede das principais atividades de uma comunidade, de um sistema organizado.
1, 2, 3. “Cuore”:Central, tanto geograficamente, quanto culturalmente. O Fucino é um lugar onde se desenvolveram culturas, que ja foi sagrado, pelo qual guerrearam civilizações e que hoje possui uma importância central no abastecimento de alimentos da Itália. A memória do Fucino é ligada à sua centralidade. Como território, como sede de uma cultura e como centro produtivo e de escoamento.
ou (Aqui Jaz Um Lago)
Fùcino (s.m; italiano, marso): 1. “Lugar turvo”, do marso antigo; 2. Lago que tornou-se uma planície agrícola na região de Abruzzo, Itália; 3. Lago histórico na península itálica.
1. “Aqui”: Lugar de importância para o desenvolvimento de uma civilização antiga, os Marsos, que lhe deram o nome respeitado até hoje. ‘Lugar’ como aquele de pertencimento, ancestralidade, cuja história tem o potencial de fazer parte da memória. 2. “Jaz”: A ‘piana del Fucino’ tomou o lugar lugar do que um dia foi um lago. A paisagem cultural e natural deu lugar à paisagem produtiva. O lago, contudo, é controlado por uma massiva obra de infraestrutura que drena constantemente as águas ainda ali depositadas pelos picos nevados, chuvas e pelas nascentes e rios componentes da bacia. Se bloqueada, renascerá rapidamente o espelho d’água. 3. “Um Lago”: Um, como lago notoriamente isolado no centro da península, o Fùcino não fazia parte de uma rede de lagos, mas do resultado do descongelamento de geleiras, da neve dos picos apeninos, chuvas e do afloramento de nascentes depositadas em uma depressão causada por movimentos tectônicos antigos. Era um lago alto, posicionado acima da cota de 600m acima do nível do mar. Sofria variações constantes de profundidade, decorridas de alterações climáticas.
O QUE É?
Planície do antigo Lago Fúcino. Abruzzo, centro da península itálica.
É uma das principais zonas de produção agrícola de abastecimento nacional para a Itália e que já abrigou um dos maiores lagos do país. Nascido do acúmulo de águas de nascentes próximas, descongelamento de geleiras, precipitações e neve de picos depositada em uma falha geológica côncava, o Fucino foi um lago alto de formação lenta, com altíssima variabilidade de profundidade. Isolado entre os montes apeninos e cuja posição protegida e estratégica na conquista e circulação na península itálica geraram diversos conflitos por seu controle. O Fucino é atualmente o coração da Marsica, sub-região histórica compreendida na atual região de Abruzzo, na zona central da Itália. A Marsica tem tal nome em homenagem à primiera civilização a habitar a região, os Marsos, um povo latino cujo nome provém de sua devoção ao deus da guerra, Marte. O lago de Fucino era o núcleo de organização da civilização marsa e era para eles sagrado. Conquistada pelos romanos como colônia nas campanhas republicanas de expansão ao longo do século III a.C., os povos da Marsica foram integrados aos costumes de Roma e sua independência civilizatória terminada. A conquista da Marsica pelos romanos trouxe consigo as ocupações das cidades cada vez mais próximas das margens. A imprevisibilidade das mudanças de nível do Fucino - frequentemente não-sazonais, mas concentradas em períodos longos de seca ou de cheia - trouxe prejuízos para as cidades que ali se estabeleciam, vítimas de inundações inesperadas e crises sanitárias. A expansão de Roma e a posição estratégica do lago passaram a despertar interesses econômicos para além da manutenção de suas cheias. No ano 41, o Imperador Cláudio ordena que galerias de drenagem sejam escavadas por dentro das montanhas para controlar as cheias do lago e, eventualmente, drená-lo para dar espaço à produção agrícola no coração da península itálica, posição estratégica para o escoamento para o restante do império e, principalmente, para o abastecimento da Capital, muito póxima ao vale desenhado pelo lago. A obra é continuada pelos imperadores sucessivos e obtém sucesso parcial ao controlar as enchentes, contudo não é suficiente para drenar todo o lago, que cede espaço à produção agrícola apenas em uma parte de sua extensão. A partir do século 5, com a decadência do Império Romano do Ocidente, as manutenções nas galerias são interrompidas e elas são finalmente bloqueadas por sedimentos, fazendo com que, ao longo dos séculos seguintes, o lago enchesse novamente, contudo nunca retornando a sua extensão pré-romana. Apesar de chave para o desenvolvimento das diversas cidades à sua margem, sua economia pesqueira e suas identidades, ligadas a uma paisagem determinante na organizaão do território, a vontade da nobreza de concentrar ali sua produção agrícola se mantém. A posição era ideal, climaticamente e geograficamente para alimentar uma nova nação industrial e fazer crescer a renascida capital do Reino da Itália. Concedido ao Príncipe Alessandro Torlonia em 1848, o lago é a jóia de um principado no qual o monopólio agrícola da coroa poderá se desenvolver. A paisagem natural do Fucino resiste por dezoito séculos aos interesses de avançar sobre ela a produção agrícola. Porém, a partir do projeto do engenheiro suíço Jean François Mayor de Montricher, o lago é totalmente drenado até 1873. Entre a manutenção de suas margens pelas delimitações das áreas produtivas e o desenvolvimento de cooperativas e vilas agrícolas em seu interior, o Fucino torna-se um dos principais espaços de produção da Itália e, salvo poucas intervenções contemporâneas, mantém sua função por toda a história recente.
(Acima) Imagem de satélite tirada pela equipe da Estação Espacial Internacional. Fonte: ISS Crew Earth Observations experiment, Caption by M. Justin Wilkinson (2008).
Itália no continente europeu. Em preto, posição do antigo lago Fucino.
0 500 1000km
Fonte: camadas shapefile do portal Eurostat da Comissão Europeia (2020). Cartografia realizada pelo autor.
Roma
A região de Abruzzo, uma das 20 regiões do país. Em preto, posição do antigo lago Fucino.
0 250 500km
Fonte: camadas shapefile do portal Eurostat da Comissão Europeia (2020). Cartografia realizada pelo autor.
Roma
Itália central e a região de Abruzzo, com suas quatro províncias. Em preto, posição da planície do Fucino, província de L’Aquila, cuja região sudoeste coincide com a região histórica conhecida como Marsica.
0 25 50km
Fonte: camadas shapefile do portal Eurostat da Comissão Europeia (2020). Cartografia realizada pelo autor.
Cartografia geral da planície do Fucino, representando sistema viário, manchas urbanas, hidrografia e vegetação. Para a análise específica desse território e respeitando a hierarquia de seus eixos, o mapa foi rotacionado, com o leste para cima.
0 2,5 5km
Fonte: camadas do Geoportal do Governo Regional de Abruzzo (2010). Cartografia realizada pelo autor.
Macro-camada de análise: cheios e vazios, ou a mancha urbana construí da. -
0 2,5 5km
Fonte: camadas do Geoportal do Governo Regional de Abruzzo (2010). Cartografia realizada pelo autor.
Macro-camada de análise: sistema rodoviário e ferroviário - infra-estrutura de movimentação territorial e escoamento. Em vermelho, sistema ferroviário, o principal para o escoamento da produção.
0 2,5 5km
Fonte: camadas do Geoportal do Governo Regional de Abruzzo (2010). Cartografia realizada pelo autor.
Macro-camada de análise: hidrografia - bacia hidrográfica do Fucino e canais de irrigação e drenagem.
0 2,5 5km
Fonte: camadas do Geoportal do Governo Regional de Abruzzo (2010). Cartografia realizada pelo autor.
Macro-camada de análise: vegetação total. Áreas de vegetação preservadas e/ou acessíveis à exploração.
0 2,5 5km
Fonte: camadas do Geoportal do Governo Regional de Abruzzo (2010). Cartografia realizada pelo autor.