GAZETA DO SUL Sábado e domingo, 15 e 16 de outubro de 2016
Vocação
para ensinar e aprender É nas salas de aula que os professores encontram o real significado da profissão que escolheram. A partir de um trabalho no qual as descobertas são diárias, eles também se tornam aprendizes na busca pelo conhecimento e se orgulham em comemorar o Dia do Professor neste 15 de outubro.
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Nos bastidores da educação:
teoria e prática, o que difere?
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ostaria de salientar em primeiro lu- ticos, escolas precárias, sem acesso à informação, contrário, o pensar certo que supera o ingênuo tem gar que Dia do Professor é todos os sem bibliotecas, sem sala de informática. Somente que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador.” dias trabalhados e que não se faz ne- lhes resta a criatividade. Diante dessa máxima de Freire, fica evidente que cessário uma data única para lemSim, extremamente criativos, os professores pos- uma formação bem direcionada resulta em um probrar deles. Respeito ao ser humano, ao profissional e reconhecimento ao seu esforço fí- suem talento de sobra para se reinventar, todos os fissional bem preparado para enfrentar todas essas sico, intelectual e financeiro é o suficiente para co- dias, todas as horas. Mesmo que sem o mínimo de dificuldades, que na verdade continuarão existinmemorar os seus dias. Lembrando aos demais pro- apoio, concentram-se na profissão celibatária que do. Pensar certo era o que Paulo Freire dizia aos fufissionais, e isso não importa qual seja a área de atu- escolheram. Recebem, quase sempre, muito pou- turos educadores. E como se pensa certo dentro de uma sala de aula com tanação, que só completaram sua caminhada acadêmi- co para a importância que tos conflitos? ca com o auxílio de um professor. Isso nos mostra possuem. Quando todos entendeEsses guerreiros atua importância do professor no mercado de trabalho, Qualquer um faz um rem que a família é o alique por ter tamanha influência sobre os outros cur- am muitas vezes no pacurso de licenciatura cerce da sociedade, não sos deve estar muito bem preparado para formar e pel de psicólogos, enou pedagogia, mas deixando os valores se perfermeiros, educadores e capacitar os futuros profissionais. poucos têm o dom de serem derem, a educação tomará Qualquer um faz curso de licenciatura ou peda- pais, até porque as famíexcelentes mestres, de levar a novos rumos. E é em nome gogia, mas poucos têm o dom de serem excelentes lias de hoje não são as sério a sua profissão e fazer o do ensinar para a busca do mestres, de levar a sério a sua profissão e fazer o estruturadas como as de diferencial na vida dos outros. conhecimento, do aprendiferencial na vida dos outros. Sendo assim, qual o anteriormente pela tríade der que os profissionais da pai-mãe-filho(s). As conpapel do professor, ele ainda é importante? Sendo assim, qual o papel do educação precisam cultivar Mesmo com toda a tecnologia nos dias de hoje cepções mudaram, as esprofessor atualmente, ele ainda a magia, a alegria, a beleza e com o acesso rápido às informações, sem a me- truturas ganharam novas é importante? da profissão. Afinal, que diação de um professor, um aluno não saberia, e formas e a inclusão escoeducador não se sente rehá os que ainda nem saibam mexer ou fazer bom lar chegou. Sim, ela chealizado quando vê o aluno uso dessas modernidades como smartphones, ta- gou não de maneira orgablets, computadores, entre tantas ferramentas cria- nizada e correta, mas de uma forma um tanto abrup- progredindo e diz que enfim conseguiu, que endas para facilitar o dia a dia e trazer para as pesso- ta e irreal. Ela, a inclusão, é prevista em lei, mas na fim aprendeu? Isso lhes dá uma satisfação muito grande, uma as o conhecimento necessário e de forma rápida e maioria das vezes o profissional não tem formação correta. Nesse contexto, o professor contemporâneo específica para isso, dificultando ainda mais a in- sensação de dever cumprido e com o aluno especlusão do aluno. É exigin- cial, mais ainda. Nesse momento é possível explié um educador mais aliado do do profissional um es- car a catarse no coração, chama-se a isso de vocaàs modernidades, à inforforço além de sua forma- ção. Mesmo com a imoralidade do salário, o desmação rápida, às múltiplas Quando todos ção acadêmica e ele o faz respeito à educação e aos educadores. Esses mesinformações. Para tanto, entenderem que a porque o seu aluno está mos educadores que continuam lecionando, cumeles devem estar em consfamília é o alicerce em sala e precisa do seu prem da maneira mais digna o seu dever. tante adaptação e formação Parabéns a todos os profissionais da área da educonhecimento. de seus conhecimentos, se da sociedade, não deixando cação pelo seu comprometimento e dedicação. SaPor esse motivo, devemodernizando. os valores se perderem, a mos concordar com Paulo lientando que nós, professores, temos o dever senão Porém, o que não é leeducação tomará novos rumos. Freire quando ele diz em a obrigação de tentar formarmos cidadãos mais crívado em consideração seu livro Pedagogia da ticos, éticos, pensantes e comprometidos com uma em relação aos professoAutonomia: “Ensinar exi- sociedade mais justa. res, principalmente os que buscam por essa carreira, é como ocorre de for- ge reflexão crítica sobre a prática. Por isso é fundama eficiente a formação. Colocá-lo simplesmente mental que na prática da formação docente, o aprenFátima Machado dentro da sala de aula sem experiência é uma for- diz de educador assuma que o indispensável penPedagoga; pós-graduada em Saberes e ma errônea de fazer educação. E o que fazer quan- sar certo não é presente dos deuses e nem se acha do a teoria é o oposto da prática? Quando o pro- nos guias de professores que iluminados intelec- Práticas da Educação Infantil, Séries Iniciais e fissional se depara com a falta de materiais didá- tuais escrevem desde o centro do poder, mas, pelo Educação Especial e Gestão e Tutoria
Compromisso
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Lula Helfer
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com a formação e transformação Missão de contribuir para a formação dos alunos faz com que a carreira de professor seja marcada por grandes conquistas, embora muitas vezes os profissionais precisem enfrentar desafios dentro e fora da sala de aula
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uando chega ao trabalho, o professor Gusttavo Arossi sabe que precisará estar preparado para receber e responder às mais diferentes questões apresentadas pelos alunos. É diante das surpresas de cada dia, no entanto, que ele encontra a inspiração e motivação. Aos 36 anos, Arossi atua como professor no Colégio Marista São Luís. Nas suas aulas de Filosofia do ensino médio, vê a realização de seu ofício. “Educar é um processo. É uma atividade de formação e de transformação; não deixa de ser um modo de vida, uma escolha de vida! O exercício vivenciado e o tensionamento constante com os limi-
tes do dizível e da sensibilidade demandam um trabalho interior que atua na coletividade e que dá sentido à existência”, ressalta o professor, que tem nove anos de carreira. Quando fala sobre a participação do estudante, Arossi frisa uma série de transformações dessa figura. “Ele ‘está aí’ e, mais do que tudo, ele está como ser de inúmeras condições de possibilidades. Poderíamos, quiçá, fazer uso da metáfora da pedra bruta que precisa ser polida. Trata-de de tarefa diuturna, onde abandonar o ideal de eternos aprendizes cerceia, limita e exclui qualquer sonho e esperança de construção de um novo tempo.” Arossi acredita
que o papel do educador não é o de ser o dono da verdade. “Até porque podemos questionar o que é a verdade. Mas sim, é dever do docente pontificar, apontar caminhos.” Diante de um universo que passa por transformações quase diárias, o professor precisa estar atento ao que os alunos buscam e retribuir da melhor forma possível. “Acerca do comportamento estudantil, é preciso dizer que aí percebemos o desejo incessante do querer, do novo; é a experiência única que permite aprender e apreender. A jovialidade, o espírito crítico e questionador – próprios do aluno – são sinais de que a vida pulsa em todos os sentidos”, reforça.
Futuro Neste cenário de aprendizados, o professor do futuro também deve estar em busca de conhecimento, diz Gusttavo Arossi . Assim, acredita ele, será possível estar em melhores condições para encarar as demandas que surgem. “Não há como se prever com exatidão como será daqui a dez anos, porém, muito embora precisamos estar preparados para lidar com todas as tecnologias, jamais poderemos abrir mão do afeto, da relação estreita, do viés da sensibilidade e da presença como aquele que também é modelo.”
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Criatividade
Tecnologia associada à inovação ajuda a despertar o interesse dos alunos e garante resultados positivos em torno do aprendizado de disciplinas como matemática
em todos os momentos
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esde a infância, Glaucia Cabral Moraes esteve em contato com o magistério. Filha de professores de Matemática, cresceu vendo os planejamentos e vivências nesse contexto. E, quando chegou a hora de escolher uma profissão, ela também optou por desvendar o universo dos números e cálculos. Aos 34 anos, com 11 de carreira, ela atua na Escola Educar-se e também na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Com uma agenda apertada diante de tantos compromissos, a professora sabe da importância de inovar para tornar suas aulas atraentes e possibilitar o desenvolvimento dos alunos. Por isso,
15 de Outubro - Dia do Professor
a criatividade é fundamental em todos os momentos. “Procuro planejar minhas aulas proporcionando significado e sentido para o meu educando, procurando sempre me atualizar, propor metodologias ativas e quando possível, tecnológicas. Penso que o bom professor deve estar constantemente desacomodado”, salienta. Um dos exemplos é o emprego da informática. A partir de softwares matemáticos que otimizem o tempo, destaca, é possível proporcionar aprendizagem em um ambiente no qual o aluno seja protagonista de seu conhecimento, busque suas próprias soluções e crie estratégias de resolução de problemas.
“A contextualização e argumentação são fatores ímpares para o bom desenvolvimento cognitivo do estudante”, salienta. Lembra que todas as metodologias são diversificadas e valem para qualquer faixa etária, pois o importante é saber planejar as aulas com conhecimento e criatividade. Assim, conforme a professora, é possível fazer com que o aluno sinta prazer pelo estudo e vontade em querer aprender sempre mais, principalmente no campo do saber matemático. E quando fala dos resultados, ela destaca a maior participação e interesse dos estudantes diante dos desafios. “Eles precisam ter aulas di-
ferenciadas e ousadas, provocando-os intensamente.” Afirma que a aceitação dos pupilos costuma ser muito boa diante das novidades. E como também trabalha na universidade com disciplinas de práticas de ensino, formando futuros professores, Glaucia destaca a importância de assegurar uma formação com excelência. “Esses acadêmicos e futuros professores devem estar ‘preparados’ para entrar nesse cenário escolar, com tantas questões polêmicas e, mesmo assim, seguirem atualizados e propostos a ensinar e nunca desanimar, pois o professor precisa doar-se a cada novo dia.”
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Cenário
de desafios e descobertas Com 24 anos de carreira, Marcelí Gassen Geller* analisa o contexto educacional e destaca que os profissionais precisam estar atentos ao novo cenário que encontram nas salas de aula
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stamos em um mundo de te saiba o objetivo da atividade e do traconstantes transforma- balho que está sendo desenvolvido. Acreções. Com a educação não dito que um dos elementos motivadores é diferente. Nunca se fa- seja ligar o conteúdo das disciplinas com lou tanto na educação, que a aprendizagem o mundo externo, para conseguirmos dar para os estudantes tem de ser significativa. sentido àquilo que nossos estudantes preMas por que isso? Simples, pois a socie- cisam para adquirirem conhecimento em dade mudou, evoluiu e se transformou. E um mundo tão globalizado, tão instantâcom nossos estudantes não tem sido dife- neo, tão tecnológico. rente. Com todo esse aparato e movimenPrecisamos estar em constante formato tecnológico, o aluno se tornou um ser ção, pois um educador que vem adotando crítico, que argumenta e questiona, e que a mesma forma de ensinar durante anos e não se satisfaz com meras respostas, pois não se atualiza o suficiente, não vai mudar sabe onde buscar sua concepção de mundo informações. Muie de educação instantanetas vezes, eles quesamente. A escola é um dos Tem-se, hoje, tionam: por que telugares privilegiados para informações nho que aprender experimentar situações demais e isso? Eles estão nos desafiadoras e, como tradificuldade chamando à atenção balha com o desenvolvipara uma mudança em escolher quais são mento integral do ser huna educação como mais significativas mano, é sabido que quanum todo. to mais tecnologias surgipara os alunos integráCabe a nós, prorem, mais a educação prefissionais da edu- las dentro de suas cisa de pessoas humanas, cação, o papel de vivências. E o papel evoluídas, competentes e desenvolver várias do professor – o papel éticas. Contudo, precisacompetências para mos ter cautela: se eu quiprincipal – é ajudar o que possamos atuar ser aprender mais, tenho adequadamente de aluno a interpretar esses de ver, pensar, interpretar, acordo com as no- dados, a relacioná-los, a ler, analisar e estudar, e a vas demandas da so- contextualizá-los na vida tecnologia não promove ciedade. Precisamos isso sozinha. As tecnoloexperimentar situagias, sejam elas quais foções desafiadoras, propiciar aprendizagens rem, no processo educacional, devem sersignificativas que excitem a curiosidade, vir como facilitadoras entre o ensinar e o a imaginação e a criatividade; dar sentido aprender, como algo que vem dar suporte naquilo que se está estudando, mostrar a pedagógico e auxiliar a prática cotidiana. lógica dos fatos e acontecimentos na teoria Tem-se, hoje, informações demais e difie na prática. É importante que o estudan- culdade em escolher quais são mais signi-
ficativas para os alunos integrá-las dentro de suas vivências. E o papel do professor – o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los na vida. Uma nova relação no processo de ensinar e aprender, ajudar o educando na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional, para se tornar um cidadão realizado e feliz. Deve-se educar para a autonomia. Um ensinar mais compartilhado, orientado, com profunda participação dos educandos, individual e coletivo. Um educador não atrai só pelas ideias que carrega consigo, mas também pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula
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chama a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que diz, nas relações que estabelece com os educandos. É esse conjunto que enriquece o processo educacional, tornando-o fascinante aos olhos de quem ensina e de quem aprende.”
*Marcelí Gassen Geller, 45 anos, é formada em Pedagogia e pós-graduada em Psicopedagogia com 24 anos de docência. Atende estudantes do quarto ano do ensino fundamental I no Colégio Marista São Luís e também trabalha na 6ª Coordenadoria Regional de Educação.
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Profissional
em constante atualização Ministrar aulas requer mais do que habilidade e dedicação. É necessário ter contato com novas realidades e buscar novas fontes de conhecimento
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Ser professor é ter o dom de saber germinar sonhos.
uando decidiu, ainda no ensino médio, seguir a carreira de professor, Waldy Lau Filho já tinha noção do que iria encontrar no futuro. Sua mãe, Vera, havia se aposentado como professora de música da rede estadual e foi a referência para a escolha. Além disso, outros aspectos contribuíram para a decisão: “O papel significativo que a escola ocupava em minha vida, o desejo de continuar estudando muito e os professores de excelência que tive na época, os quais trago comigo até hoje”, acrescenta o professor de História e coordenador pedagógico, que atua no Colégio Mauá. Passados 22 anos desde o início da carreira, Waldy Lau tornou-se conhecido pelas iniciativas que desenvolve com o objetivo de estimular a busca pelo novo junto aos alunos. E nesse mesmo compasso, ele viu a necessidade de aprender mais. Ao ingressar no colégio há quase uma década, passou, assim como os colegas, a participar de atividades voltadas à formação continuada. “Isso fez nascer em mim o desejo de aperfeiçoamento profissional e pessoal. Depois de alguns cursos rápidos, realizei uma especialização de dois anos e posteriormente ingressei no mestrado em Educação na Unisc”, conta. Com previsão de concluir o curso no início do ano que vem, Waldy já faz planos: quer con-
tinuar estudando e ingressar no doutorado. Para o professor de 44 anos, o aprendizado constante é uma forma de se manter em sintonia com os avanços a fim de proporcionar um ensino de qualidade e conforme as exigências dos alunos e da sociedade. Em meio a isso, há outros fatores que contribuem para que ele seja um entusiasta da profissão. “Destaco o importante papel que a instituição escola ainda tem de pensar e repensar a sociedade em que está inserida. Mesmo com todas as dificuldades, penso que o professor exerce uma influência positiva sobre o contexto escolar e a sociedade em geral. Motiva-me o estudo da História como uma lente diferenciada para leitura do mundo, bem como pensar a escola não como um local de preparação para a vida, mas como um espaço de vida”, salienta. E nesse espaço onde a busca pelo conhecimento e o saber andam lado a lado, o professor evidencia como pontos positivos o contato com os alunos e suas famílias, bem como as trocas e aprendizados decorrentes dessa integração. “Mas, sem dúvida, o que torna meu trabalho ainda mais gratificante é o retorno que temos deste grande encontro que a escola oportuniza entre alunos e professores. Desse encontro emerge o inesperado, a criatividade, a sensibilidade, assim como a possibilidade de pensar e agir diferente”, orgulha-se.
Inspiração para a vida É na sala de aula que acontecem alguns dos momentos mais marcantes no desenvolvimento de uma pessoa. E os professores são personagens de muitos deles, seja como educadores ou, muitas vezes, como conselheiros. Nessa troca, na qual todos aprendem, os ganhos são compartilhados. Quando faz um retrospecto acerca de sua vida e das lembranças que carrega em torno dos professores que encontrou, Waldy Lau cita o educador Rubem Alves. “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...” Nesse cenário, o educador também destaca alguns dos nomes que contribuíram para sua opção pelo curso de História. Entre eles, destaca os professores Adriana Cornelli Luz e Adelmo Etges. “A eles serei eternamente grato pela diferença que fizeram em minha vida.”
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ou de uma família nha lado a lado, quem olha, quem numerosa e não sente, quem chega ao coração a me lembro de ter cada ‘bom dia’, antes de iniciar a contato com li- aula. Somos quem traz o mundo vros antes de iniciar meus estu- para dentro da sala. Nós somos dos na escola. Acontece, então, o responsáveis, junto com a famíencontro com o primeiro olhar es- lia, pela formação completa, porpecial: a professora alfabetizado- tanto, humana de cada aluno perra. Alguns anos depois, descubro to de nós. no olhar da minha irmã, Aida BaAo entrar na sala, peço que os racy Klafke, o encanto pela Lín- alunos abram as janelas e vejam gua Portuguesa e, em especial, o dia, percebam o sol ou a chupela educação. Quando precisei va e eles retribuem com sorrisos. escolher meu Não é fácil inifuturo no ensiciar a aula de Somos três no médio, não Língua Portuhouve dúviguesa às 7h30! professores da de que conComo estamos na família, e, quistaria michegando ao em nossos encontros, nha vaga no final do ano, chamado Cur- a educação e o prazer meus alunos já so Normal, na de trabalhar com entendem meu Escola Estadu- olhares é sempre o olhar e eu, o al Ernesto Aldeles. Agora, tema da conversa. ves, na minha um sorriso meu cidade natal, Acredito, piamente, que é compreendiRio Pardo. Lá, o papel do professor é, do como um encontrei, no ainda, o responsável ‘chamar a atenprimeiro dia de ção’, ‘agora vapelo desenvolvimento aula de Litemos começar’ ratura, aquela de jovens e futuros ou ‘você não que foi respon- profissionais fez a leitura?’, sável por dessem precisar pertar em mim gastar o tempo a paixão pelas letras escritas: Lia precioso do nosso encontro com Machado. conversas que podem ser traduMal sabia eu que seria na zidas com o olhar. Unisc, curso de Letras, e, depois, É nessa relação que acredito. no mestrado, na mesma institui- É nela que está minha inspiração, que três outros olhares en- ção. Às vezes, as pessoas entencantados fariam de mim a profes- dem o termo ‘inspiração’ de masora realizada que sou. Nas au- neira equivocada. Para mim, ela las dos mestres Elenor Schneider, está, sim, no detalhe. Se minha Norberto Perkoski e Ângela Fron- aula for, um dia, um detalhe imckowiack, a vontade de me tor- portante a ser lembrado por um nar alguém que levasse aos alu- aluno, creio que minha presença nos além de ‘aulas’ tomou con- por aqui já tenha valido a pena. ta de mim. Para completar minha Agradeço por, no meio do meu história de encantamento, antes de caminho, ter encontrado diferenme formar, encontrei uma equi- tes olhares.” pe que divide, até hoje, a mesma paixão pelo conhecimento, Colégio Mauá. *Agda Baracy Netto, 33 anos, Penso que minha história seja tem dez anos de magistério. Grade gratidão. Se não fosse a pre- duada em Letras-Português/ Essença, pelo caminho, de professo- panhol e com mestrado em Leitures encantados, talvez fosse hoje ra e Cognição, atende alunos do uma professora que dá aula, so- quinto e nono ano, primeira sémente. Somos três professores na rie/médio (com Redação) e, temfamília, e, em nossos encontros, porariamente, trabalha com clasa educação e o prazer de traba- se de segunda série/médio (Porlhar com olhares é sempre o tema tuguês/Literatura). Ela atuou na das conversas. Acredito, piamen- Emef José Leopoldo Rauber e te, que o papel do professor é, ain- também no Colégio Estadual Proda, o responsável pelo desenvol- fessor Luiz Dourado, quando esvimento de jovens e futuros pro- tava concursada. Hoje trabalha fissionais, pois somos quem cami- no Colégio Mauá
No meio
do caminho, olhares Professora Agda Baracy Netto* conta como é a experiência de ensinar e o que motiva a desenvolver o trabalho com os alunos
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Edição e textos: Dejair Machado dejair@gazetadosul.com.br • Diagramação: Rodrigo Sperb
Integração Lula Helfer
pelo conhecimento
Troca de experiências e convivência entre professores é uma forma de contribuir para qualificar o trabalho desenvolvido com os alunos em sala de aula
A
paixão pelo magistério e o orgulho em contribuir para a formação de seus alunos são algumas das características em comum entre as professoras Caren Renata de Queiroz e Luciana dos Santos Vargas. Colegas na escola Educar-se, as duas descobriram que o ato de compartilhar experiências e vivências é fundamental para a carreira que escolheram. Mas, acima de tudo, viram os benefícios que a prática pode proporcionar na sala de aula. Além da satisfação gerada pela convivência entre colegas em um ambiente no qual o conhecimento flui pelos corredores, as professoras têm conseguido bons resultados no aspecto pedagógico. “Na medida em que trocamos experiências e ideias, o trabalho se torna mais
rico, leve e significativo”, acrescenta Caren, 32 anos, sete deles como professora. Com licenciatura em Educação Física e Pedagogia e especialização em Educação Infantil, ela atende alunos do terceiro ano do ensino fundamental. Sua colega, Luciana, 36 anos, fez licenciatura em Pedagogia e Psicopedagogia Institucional e atua há cinco anos em sala de aula, também com o terceiro ano do fundamental. Quando falam sobre a opção, ambas deixam claro que o sonho vem de infância e isso as motiva no dia a dia, que tem como desafio a agenda apertada comum a todos os professores. Mas o fator tempo não impede a integração entre as colegas, uma prática comum e estimulada pela instituição onde ambas atuam. “A escola acredita muito nesse trabalho coletivo e oportuni-
za esse diálogo entre todos os professores, áreas e turmas. Mas nossa proximidade/intimidade se consolidou mais quando a Escola Educar-se duplicou alguns anos em virtude de seu crescimento, pensando na qualidade do ensino e saúde dos professores. Assim, quando nós recebemos as turmas de terceiros anos, passamos a dialogar mais, trocar ideias e refletir sobre como desenvolver o trabalho e sobre as questões que emergem no cotidiano das crianças”, diz Luciana. Nos encontros entre colegas dos anos iniciais desenvolvidos pela escola, os participantes podem dialogar e planejar os projetos e propostas de aprendizagem, levando em conta a realidade das turmas. Além disso, os grupos de estudo permitem pesquisas e trocas de experiências, bem como a integração.
Resultados Foi a partir de estímulos dos encontros que as colegas tiveram a ideia de desenvolver a Olimpíada da Multiplicação, em 2015. A iniciativa proporcionou momentos muito produtivos com os participantes, tanto em relação aos números como no que se refere a atitudes sustentáveis, desenvolvendo aspectos como autoconfiança, organização, cooperação e estimulando a socialização entre o grupo. A organização das tarefas propiciou atividades de multiplicação aliadas ao estudo do meio ambiente, nas quais as turmas, divididas em equipes (Fauna, Flora, Terra e Água), pensaram/planejaram e realizaram ações em benefício do meio ambiente, envolvendo reutilização de materiais de descarte, confeccionando maquetes, coleta de resíduos pelo campus da Unisc, separação dos materiais (calculando o tempo de decomposição de acordo com alguns critérios estipulados) e outras propostas. O resultado foi tão animador que, neste ano, a proposta foi desenvolver as Malhas de Multiplicação. Nessa iniciativa apresentada pelas professoras, as crianças planejaram e realizaram a costura de uma malha com botões para desenvolver a compreensão lógica da multiplicação. “A realização dessa atividade também oportunizou momentos significativos e prazerosos entre as turmas, em que o ato de confeccionar a malha objetivou uma aprendizagem para além do ‘conteúdo matemático’. Além das citadas, muitas outras propostas coletivas já vivemos e estão em andamento neste ano”, explica Caren.