Flagra
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Flagra
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E a farra acabou
Alípio Ferreira Mariana Moreira
A
Foto: Isabelle Glezer
cada quatro anos, o Brasil tem no mínimo três feriados a mais garantidos no calendário: são os três jogos da primeira fase da Copa do Mundo de futebol. Enquanto a seleção do digníssimo Ricardo Teixeira (de quem já se falou neste periódico em sua edição #84) está em campo, não há presidente da república que despache, não há fábrica que produza, professor que aplique prova. Tal paralisia nacional é perigosa em tempos de crise como o que vivemos. E talvez dai o suspiro de alívio com a eliminação da seleção brasileira no jogo contra a Holanda. O presidente Lula não conseguiu assistir à seleção brasileira na final do campeonato e teve de voltar a despachar. As fábricas e xérox não tiveram as folgas esperadas na semi e na final, e tiveram que produzir. Os professores da FGV Tiveram que corrigir as provas a tempo e lidar com as reações dos alunos. 2010 promete ser muito mais do que essa derrota de Copa do Mundo... ¤
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Editorial
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Gazeteiros Edição
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Redação
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Capa
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3000 exemplares
Você não lembra ou não sabia?
“Q
ue história vocês querem contar?” Foi assim que o professor Daniel Andrade rebateu à pergunta dos membros da Gazeta Vargas sobre qual é a importância de se preservar a história. Foi pensando nessas duas questões que a edição #85 foi elaborada. A história não é, como nos fez lembrar o professor Daniel, uma narrativa unívoca de eventos sobre a qual todos concordam e teorizam. Em entrevista a esta edição da Gazeta Vargas, o professor Dimitri Dimoulis observa que a construção de uma narrativa histórica envolve a exclusão e o esquecimento de alguns fatos do passado, de acordo com a conveniência ou simplesmente uma preferência estética... É claro que a Gazeta Vargas não sofreu uma guinada editorial repentina, passando de uma revista focada em temas da FGV para ser um compêndio de investigações filosóficas. Por isso, ao longo da #85, o leitor se debruçará sobre provocações sobre o presente e passado da Fundação Getulio Vargas. Há dez anos, a FGV-SP se resumia à EAESP, a Congregação ainda existia e surgia a ideia da Escola de Direito. Há vinte anos, a Fundação era sustentada em parte por dinheiro público (selos), o curso de Administração Pública era financiado pelo Governo do Estado de São Paulo, não havia patrocínio privado de salas de aula e o presidente da Fundação era o mesmo desde 1944. A realidade que hoje vivenciamos na FGV, tão diversa de apenas duas décadas atrás, se modificou em diversas rupturas, que não careceram de discussões
e debates. O presidente da Fundação renunciou pouco antes de falecer. O dinheiro do selo foi cortado pelo governo Collor. As bolsas de AP pelo governo Covas. Os patrocínios em sala de aula iniciaram na gestão do diretor Zeitlin. A Congregação foi virtualmente extinta pelo presidente atual da Fundação, Carlos Ivan Simonsen Leal, em 2007. Em cada um desses eventos, ocorreu uma mudança significativa para a realidade de quem vive a FGV. Em muitos desses eventos, uma postura ideológica acabou desencadeando uma ruptura na história da Fundação. E qual é o nosso posicionamento frente a essas disputas de ideias? Preservar a história trata-se de manter o debate vivo a respeito desses eventos: estar ciente de que a realidade não é irreversível ou imutável, e de que ignorar essa reflexão equivale a endossá-la. As demissões na EAESP ocorreram há muito pouco tempo. No entanto, não fosse o trabalho da imprensa – seja ela a grande imprensa, como a Folha de São Paulo, que também registrou o evento, ou a própria Gazeta Vargas – essa história jamais teria existido. O fato de trazermos à tona a memória desse episódio das demissões não é gratuito, mas reflete que os conflitos, os debates e as portarias da época não gozam do status pacificado que possuem os consensos. Ignorar isso iria contra o próprio objetivo desta entidade. Afinal, se o debate e a crítica são admiráveis em qualquer setor da sociedade, a ausência deles é detestável pelo menos na Academia. ¤
Alípio Ferreira
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A Gazeta Vargas não se responsabiliza por dados, informações e opiniões contidas em textos devidamente identificados e assinados por representantes de outras entidades estudantis, bem como nos textos publicados no Seu Espaço submetidos e devidamente assinados por autor não presente no expediente desta edição. Todos os textos recebidos estão sujeitos a alterações de ordem léxico-gramatical e a sugestões de novos títulos. Por ser limitado o espaço de publicações, compete à Gazeta Vargas a escolha dos textos que melhor se enquadram na sua linha editorial, sendo recusados os textos muito destoantes acompanhados das devidas justificativas e eventuais sugestões de alterações. DIREITOS RESERVADOS — A Gazeta Vargas não autoriza reprodução de parte ou todo o conteúdo desta publicação.
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Cartas Cartas à exclusivíssima edição #84 da Gazeta Vargas
Caros Senhores da Gazeta Vargas, Agradecemos a V.Sas. pelo contato e pela oportunidade, para mais uma vez reafirmar que o Rockafé, ao longo de sua trajetória, procurou e tem procurado manter o compromisso de oferecer produtos e serviços da mais alta qualidade, e que estão de acordo com o prestígio da FGV e de acordo também com as expectativas da comunidade geveniana, a um preço justo e compatível com o padrão acima citado. Dentro desse espírito e na busca de atendimento constante aos nossos clientes, o Rockafé mantém um relacionamento do mais alto nível com todos que fazem parte dessa reconhecida escola. Cordialmente, Armando Paffi Vidal RocKafe Gazeta Vargas – Prezado senhor Armando, agradecemos a colaboração na obtenção das informações para a matéria “De Grão em Grão”. Aproveitamos o ensejo desta resposta, no entanto, para lembrá-lo da promessa que a empresa fez de levar a cabo uma auditoria nas receitas dos restaurantes do primeiro andar. O intuito seria garantir aos alunos da FGV que os 5% da receita bruta do restaurante Getulio estão efetivamente sendo transferidos ao DAGV. Esperamos que os senhores possam encaminhar em breve esta auditoria, com colaboração do DAGV, uma vez que a data prevista para que ela ocorresse era a semana do dia 18 de maio.
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Cartas/Curtas Prezados: Li e achei o texto atraente, leve e divertido, além de divulgar este trabalho que estamos fazendo de um modo cuidadoso e sério, com humor. Portanto, parabéns pelo trabalho, considerando também outras matérias que me parecem tão importantes do ponto de vista político, como é o caso da equipe de trabalho da madrugada na GV. Nada tão importante, mas vale comentar que o Pró-Saúde surgiu em 2003 e não há vinte anos, como foi dito. Além disso, gostaria também de adiantar que as conversas com as coordenações de Direito e Economia estão adiantadas e creio que conseguiremos chegar ao final do semestre já com a ampliação efetiva do serviço para estas duas escolas. Ab. e obrigado pela atenção, Tiago Corbisier Matheus tiago.matheus@fgv.br Errata – Diferentemente do que foi divulgado na edição #84 da Gazeta Vargas, em artigo intitulado “Saúde Mental na GV” (página 21), o serviço Pró-Saúde não é oferecido aos alunos da EAESP desde 1983. Segundo o professor Tiago Corbisier Matheus, coordenador do programa, ele surgiu em 2003.
Altos e Baixos
Em alta Handebol na GV (Campeões da Copa ABC)
Na mesma Problemas com matrículas na EAESP Em baixa Vazamento de petróleo no Golfo do México
Curtas Uso do e-class Uma vez descoberto que o e-class possuía uma ferramenta que poderia disparar e-mails a todos os alunos da EAESP, muita gente se apressou. As chapas concorrentes ao Diretório Acadêmico – notadamente, a chapa Manifesto e a chapa Acesso – enviaram suas propostas e oferendas aos seus potenciais eleitores por meio dessa ferramenta. Durante os jogos IntegraMix, um aluno usou a útil ferramenta para fazer comércio de “kits”. Mas a bomba só estourou quando a chapa FBKKK resolveu reivindicar seu democrático direito a falar com o eleitor, e enviou uma carta encharcada de sarcasmo e provocações a todos aqueles listados no mailing do e-class. A denúncia chegou à alta cúpula da EAESP, ao que o aluno dos “kits” e o representante da FBKKK foram chamados para uma Comissão de Conduta – outrora designado Tribunal do Santo Ofício. A reunião, marcada para as 11h15 do dia 12 de junho, durou até aproximadamente as 11h16 do dia 12 de junho. Os professores presentes notaram que os alunos chamados haviam sido injustiçados, uma vez que nem sequer haviam sido os primeiros a usar o mailing, e arquivaram o caso..
Uso do e-class (2) Devido ao episódio com o uso da ferramenta virtual para o torpedeamento das caixas de e-mails dos alunos da Fundação Getulio Vargas, a Coordenação da EAESP enviou um e-mail ao alunado, instituindo categoricamente que: “o e-class é uma ferramenta criada para uso exclusivamente acadêmico. Não se presta, portanto, à utilização para finalidades políticas, comerciais ou de qualquer natureza que não a especificamente escolar. O uso indevido deste instrumento estará sujeito a penas disciplinares.”
Reforma da fachada na Itapeva A Diretoria de Operações da FGVSP, em sua incontrolável sanha estetizante, fez uma reforma na parede da
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Curtas
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da Gazeta Vargas #85 fachada da FGV na rua Itapeva nos meses de maio e junho. É curioso, no entanto, notar o seqüenciamento da operação. 1) Pintar toda a parede sem lixar para retirar a tinta anterior; 2) Furar todo o chão para colocar um jardim; 3) Sujar toda a parede com cimento e areia devido aos buracos feitos na construção do beiral; 4) Esconder toda a sujeira nas paredes com as plantas afixadas. Apesar da graça e beleza que hoje podemos contemplar ao chegar ao nosso trabalho ou estudo na Fundação, quem ficou literalmente “deslocada” nessa história foi a notória Dona Graça, que fornece a cada dia o desjejum de tantos transeuntes. Além disso, o projeto de arborização da EAESP não é de hoje. No ano passado, algumas “muretinhas” do estacionamento, onde alunos costumavam sentar-se para confabular sobre o ser e o nada, foram preenchidos com canteiros de plantas. Acabar com o estacionamento ainda é uma proposta que viceja nas correntes mais radicais da administração da Escola, apesar de politicamente complicada.
Bom bonito e barato? A Gazeta Vargas, que costumeiramente canaliza as reclamações e denúncias de tanta coisa ruim que acontece no cosmos geveniano, apurou uma informação que poderá resolver a vida de alguns estudantes da EAESP. Quase sempre queixosos das altas taxas que devem pagar para poder estudar nos bancos da Fundação, os alunos agora podem contar com uma alternativa no Piauí. Por R$ 515,00 por mês é ofertado um curso de graduação que ostenta o título de “Administração/FGV” na Faculdade NovaFapi, em Teresina. Confira em http://www.novafapi.com. br/
International Affairs A Escola de Economia de São Paulo, depois de algumas tentativas fracassadas de integrar seus alunos aos programas de intercâmbio da Coordenadoria de Relações Internacio-
nais (CRI) da EAESP, resolveu montar sua própria Coordenadoria. A chamada International Affairs está sendo desenvolvida pelo professor Samy Dana, com auxílio de alguns alunos e de um funcionário contratado, e já conseguiu fechar parcerias com renomadas escolas, como Michigan University, Universidade Pompeu Fabra (Espanha), London School of Economics, Universidade de Tilburg (Holanda, que venceu o Brasil nas quartas) entre outras. Hoje em dia a CRI atende alunos de Economia e Direito, mas estes têm direito somente a vagas remanescentes dos programas de intercâmbio, e viajam na condição de alunos de administração.
ILADDD, a Cepal do Direito Professores da Escola de Direito da FGV-SP participaram dos primeiros encontros para a criação do Iniciativas Latino-Americanas de Direito, Democracia e Desenvolvimento (ILADDD), em abril na capital colombiana, Santa Fe de Bogotá. O grupo intitulado ILADDD reúne grandes juristas da América Latina, e se pretende pensar problemas jurídicos que atravancam ou ameaçam o desenvolvimento da América Latina. O grupo já foi apelidado de “Cepal do Direito”, em referência à Comissão Econômica para América Latina e Caribe, grupo ligado às Nações Unidas que acabou ensejando a criação de uma vertente própria de pensamento econômico, o estruturalismo, e de onde saíram nomes importantes para o cenário acadêmico e político do continente e do Brasil, como Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso e Maria da Conceição Tavares. Os professores Oscar Vilhena, Ronaldo Porto Macedo Jr e Luciana Gross Cunha, todos do Direito GV, acompanharam as reuniões em Bogotá. O professor Oscar afirmou em entrevista ao Estado de São Paulo que “assim como a Cepal produziu documentos para entender o subdesenvolvimento, queremos produzir outros para entender os desafios do direito na região.”
Álcool na FGV Professores No segundo semestre de 2008, os diretores da FGV proibiram o consumo de bebidas alcoólicas nas dependências da Fundação Getulio Vargas. A intenção era impedir que os alunos bebessem, mas o decreto, mal redigido, acabava se aplicando também ao Espaço Bohemia, hoje Clube dos Professores, localizado no 4º andar. À época, a Diretoria de Operações enviou uma consulta por e-mail a todos os professores perguntando-lhes candidamente se achavam que deveria ser proibido o consumo de álcool no 4º andar, ao que a esmagadora maioria respondeu com um contundente “NÃO”. Resultados plebiscitários à parte, num acesso de positivismo jurídico, a DO-SP achou por bem proibir que seus docentes se inebriassem no espaço escolar. Mas como ninguém é de ferro... No dia 24 de junho, último dia de provas na EAESP, foi concordado com os professores que poderiam naquele dia realizar um discreto bacanal – no sentido mais cristão da palavra – no Clube dos Professores, e o vinho foi liberado aos docentes!
Álcool da FGV - Alunos No segundo semestre de 2008, como dito acima, acabou-se a alegria de poder beber cerveja no conforto e aconchego do 1º andar da FGV. No primeiro semestre de 2009 foi aberta a exceção para uma festa, e só! Dizem que é uma questão de tempo até que outros artigos da Sharia sejam implementados na Escola. Mas mesmo assim, com o poderosíssimo lobby da Coordenadoria de Relações Internacionais, a Escola concordou em liberar o consumo de cervejas no 1º andar no dia 16 de junho, data do primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo, contra a Coreia do Norte. Só que a condição era de liberar o consumo de alcoólicos somente aos alunos intercambistas na FGV. O presidente do DAGV na época, Arthur Veloso, sabiamente vetou a proposta, fruto de algum tipo de sinapse mal-resolvida de neurônios pouco republicanos que habitam a EAESP.
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Opinião
A irrelevância da moral Isabelle Glezer
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que são mil advogados acorrentados juntos no fundo do oceano? – Pergunta Andrew Beckett, interpretado por Tom Hanks no clássico “Filadélfia” (Jonathan Demme, 1993), que narra o processo de um advogado (Hanks) injustamente demitido por um grande escritório após descobrirem que havia contraído AIDS. Seu advogado de defesa, interpretado por Denzel Washington, encara-o duvidoso. Beckett responde: - Um bom começo. Uma fábrica busca defender-se de uma indenização milionária por ter incapacitado um pai de família num acidente de trabalho. Um recém-divorciado deseja diminuir a pensão alimentícia que paga para seus filhos, pois quer sustentar sua namorada. Um pequeno empresário busca meios de burlar o fisco. Lá vai o desprezível advogado, cobrar os olhos da cara para dar assistência ou defender judicialmente os personagens acima. Seu estereótipo de ganancioso, sanguinário e moralmente deturpado está relativamente consolidado na sociedade ocidental. Afinal, são os únicos seres capazes de defender, no limite, serial killers, estupradores, Suzane Richtofens e Nardonis mundo afora. Rastejando entre a escória da humanidade, estes seres ganham a vida garantindo os direitos (no Brasil, constitucionais) de ampla defesa e contraditório a criminosos torpes que são, em algum grau na psique humana, indefensáveis. Para uns, a defesa destes criminosos soa como um crime moral quase tão grave (ou até mesmo pior) do que aquele cometido por seus clientes. “Que tipo de pessoa em sã consciência vai ao tribunal mentir descaradamente para livrar um criminosos da pena que todos nós
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sabemos que ele merece?”, questionam os inconformados espectadores deste teatro midiático. Sem adentrar uma insustentável e infrutífera discussão sobre o que é a moral, adotemos, para fins jornalísticos, o conceito tão aceito quanto discutido de que “agir moralmente” significa respeitar determinadas condutas e valores socialmente estigmatizados como corretos ou incorretos. Neste prisma, quão moral é um homem que veste seu terninho “George Armando” e vai ao Fórum Criminal da Barra Funda em defesa de um delinquente inescusável que (obviamente) estuprou, torturou e mutilou criancinhas?
E isso é engraçado, pois com valores democráticos tão consolidados, acabamos caindo no seguinte paradoxo: embora acreditemos que vivemos em uma democracia com igualdade de oportunidades, na qual todos têm direito a defesa e imparcialidade no julgamento, é automático o rótulo de que algumas pessoas simplesmente não têm este direito. Rechaçamos aqueles que exercem a profissão de defendê-los, pois secretamente deseja-se que estes criminosos sejam clandestinamente torturados e mortos.
Ou todos têm direito a defesa, ou ninguém tem. Se a escolha de universalizar este direito já foi feita no contrato social (e renegá-lo nos traria de volta ao estado de natureza e liberdades que outrora renunciamos), podemos repensar a crença de que o advogado dos casos acima age de forma moralmente heterodoxa. E não só advogados – popular e culturalmente retratados como sanguessugas ou tubarões –, ou economistas e administradores não trabalham com decisões capazes de demitir as massas, causando enorme impacto social? Os advogados são apenas mais divulgados, pois acredita-se em algum grau que não integram um sistema corporativo, mas optam sozinhos por seguir uma determinada conduta socialmente controversa. Talvez este simplesmente não seja um debate moral, e agir com ética profissional seja justamente defender o bendito criminoso, resguardando os deveres de preservar, em sua conduta, “a honra, a nobreza e a dignidade da profissão, zelando pelo seu caráter de essencialidade e indispensabilidade”, e todos os conseguintes lero-leros oriundos do exímio Código de Ética e Disciplina da OAB. Por que complicar as coisas? Enquanto aprendizes do Direito, somos treinados para transformar qualquer pequena adversidade em um debate moral épico com o qual somos capazes de perder a voz, a força e o sono. Diariamente. Sem querer desmerecer a importância da moralidade, mas forçá-la dentro de todas as nossas escolhas parece um grande passo em direção a sua banalização. Talvez a moralidade esteja superestimada, trivial, e o desejável seja apenas que haja conformidade entre aquilo que optamos por fazer (de forma remunerada ou não) e o que estimamos como certo. E que todos os dias não sejam um tormento moral-existencialista. ¤
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Promenade
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A Furada Cultural
Um geveniano encara a Virada Cultural 2010
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oi por motivos que me são, hoje, obscuros, que eu fui convencido a participar de um tal evento que eu melhor chamaria de “Furada Cultural”, sendo que meus planos iniciais para a noite consistiam na boa e velha Pink Elephant. Pelo menos uma valiosa lição o ocorrido me proporcionou: a de nunca mais me meter a frequentar atrações gratuitas, onde a mais asquerosa plebe faz questão de comparecer em peso. A noite já fora iniciada com o pé esquerdo (e todos sabem quantas péssimas conotações essa palavra guarda): na impossibilidade de chegar ao centro da cidade utilizandome de meu potente i30 prateado, fui obrigado a pegar o metrô (o que, anteriormente, me parecia uma realidade bem distante). Sim, o metrô! Até que não seria tão ruim, não fosse pelo calor insuportável e pelo odor desagradável que maculava o ar que eu me via obrigado a inalar, enquanto espremido em meio às pessoas mais feias que eu já vira, até então. Mas isso está longe de ter sido o pior da noite: logo fui avisado, por meu pseudo-alternativo amigo João, que teríamos de voltar de trem. Gostaria de brecar meu relato, por um instante, para fazer uma reflexão acerca da natureza do evento. Havia, lá, milhares de pessoas como o João, que, por frequentarem tais eventos e estudarem cinema na FAAP, se consideram reais admiradores da cultura, em geral. Eu lhes digo: se esse interesse fosse real, ficariam em casa lendo um livro, ao invés de mascarar sua fútil vontade de sair com o comparecimento a uma falsa atividade cultural. Ao menos
eu não me envergonho ao dizer que não me interesso por cultura e prefiro pegar uma boa balada, com muita mulher, vodka e Red Bull. Voltemos ao relato. Sim, teria de voltar de trem! Sabem, aqueles trens que viajam às margens dos rios Pinheiros e Tietê, dos quais ouvimos, frequentemente, notícias de tiroteios e homicídios? Sabem, aqueles trens que vão para lugares terríveis como Osasco e a Zona Sul? Mas a noite ainda haveria de piorar, com o início dos shows. Chegando ao primeiro, de uma tal banda que creio ser mexicana, fiquei impressionado com o número de pessoas que pareciam estar se divertindo ao assistir um tedioso e prolongado solo de um estranhíssimo instrumento de cordas que não era nem um violão, nem um cavaco, e tinha um som mais feio que o de ambos. Dentre elas, estava meu amigo João. Eu, no entanto, me recusei a infiltrar-me na multidão, que, nesse momento, já se encontrava embriagada de um vinho barato
Foto: Luciana Figueiredo
Flavio Lima
Onde está o geveniano? e de procedência duvidosa. Esperei o João sentado em uma mureta imunda, que fez com que minha bunda ficasse quadrada e dolorida. As demais apresentações foram igualmente insuportáveis: só não ia embora pelo simples fato de não saber quais trens tomar, além de ter um certo medo de fazê-lo sozinho.
Paro por aqui meu relato cronológico e detalhado para relatar peculiaridades isoladas, afinal de contas, não quero entediá-lo, caro leitor, tanto quanto eu me entediei na perturbada noite. Em um dado momento, enquanto assistia, de fora, a um show daquele gênero medonho de música instrumental norte-americana, do qual só gostam os velhos e os chatos, me deparei com algo, no mínimo, inusitado: um desfile de gigantescas esculturas de insetos, feitas de papel. Realmente, não há nada mais cultural do que trinta pessoas carregando um louva-a-deus. Outro momento incrível deu-se quando avistei um grupo de dez pessoas que tinham todo o corpo pintado monocromaticamente, as cores variando de indivíduo para indivíduo. Alguém precisa avisá-los de que, para ser considerada cultura, a pintura deve ser aplicada sobre uma tela, e não sobre seios e genitálias. O ápice da loucura da noite veio, no entanto, durante a apresentação de um velho maluco chamado Hermeto Pascoal. Em meio a gritos horrendos executados pela cantora que o acompanhava, o “artista” resolveu que seria uma ideia sensata a de assoprar enlouquecidamente pelo bico de uma chaleira, como se ela fosse o mais novo instrumento musical inventado pelo homem. Consideram isso cultura? Ou chamam o evento de Virada Cultural apenas para que as pessoas não se sintam culpadas por preferirem uma balada a um livro de sociologia? Que lição tiramos disso tudo? Eis o conselho que eu, Gevênio Padrão, lhes posso dar: no próximo ano, escolha dentre duas opções: 1) Ficar em casa lendo Rousseau; ou, 2) Ir à Royal (ou melhor, à Disco, já que fica mais longe do centro da cidade). Até que en(FIM). ¤
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Gazeteando
Salas patrocinadas O dramático caso no Largo São Francisco Felipe Yamada
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Foto:Fundação Arcadas
a FGV, a existência de espaços físicos patrocinados é vista com bastante naturalidade pela maior parte dos estudantes. Porém, essa prática não é encarada da mesma forma em outras instituições. Recentemente, a Faculdade de Direito da USP, tradicional instituição do Largo de São Francisco, viveu um forte dilema, o mesmo que deve ter ocorrido na GV quando tal política foi implementada: até que ponto um espaço que possui como atividades-fim o ensino e a pesquisa deve servir como forma de divulgação de instituições privadas? O debate que ocorreu na Sanfran é bastante útil para a reflexão referente a esse assunto.
“Privatização do espaço público, só na Direito GV!” Para que se possa manter como uma instituição de ponta no ensino do Direito, a São Francisco demanda fortes e constantes investimentos, tanto em capital humano quanto em infraestrutura. Porém, o orçamento a que esta tem direito não é suficiente para sanar todas as carências da Escola. Tendo isso em vista, foi desenvolvido, ao longo dos últimos três anos, um programa de captação de recursos externos, que conta com contribuições de ex-alunos e de empresas privadas. No modelo criado naquela
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faculdade, agentes doadores de mais de um milhão de reais com destino à reforma de espaços físicos poderiam indicar nomes para o “batismo” dos mesmos. A polêmica iniciou-se com a implantação desta iniciativa, que culminou na instalação do auditório Pedro Conde (banqueiro cuja família patrocinou a obra) e da sala Pinheiro Neto(quetambémnomeiaumdosmaisnotórios escritórios de advocacia empresarial do país). Professores e alunos, então, iniciaram um movimento contrário a estes atos, baseados em diversas argumentações. Primeiramente, haveria um desrespeito às tradições históricas da faculdade, segundo as quais os nomes das salas deveriam prestar homenagens a renomados ex-professores já falecidos. Em segundo lugar, questionavase a formatação institucional do programa de captação de recursos. O aluno Fernando Ramon Machado de Andrade, que cursa cursa o segundo ano na São Francisco e possui envolvimento com essa questão, lembra que tanto o recebimento de doações quanto a nomeação de salas devem, segundo os regimentos da Faculdade e da USP, passar pela aprovação de órgãos colegiados internos, como a Congregação. Porém, o ocorrido de fato foi a tomada de uma medida unilateral por parte do ex-diretor (e hoje reitor da USP) João Grandino Rodas, que, desconsiderando tal institucionalidade, liberou a entrada desses recursos e decretou as respectivas nomeações das salas, agindo de forma isolada (esse episódio, aliás, permite perceber que demonstrações de getulitarismo não são exclusivas dos dirigentes de nossa querida Fundação, mas, na realidade, estão largamente difundidas pelas faculdades, para preocupação dos estudantes). Ademais, de acordo com o estudante, foram ignorados pareceres da consultoria jurídica da USP, segundo os quais seria necessária a existência de uma concorrência pública para o recebimento de contribuições financeiras que impliquem contrapartidas por parte da faculdade.
De toda forma, iniciou-se um amplo movimento político contrário à nomeação das salas, com a realização de um abaixoassinado e um plebiscito, nos quais os estudantes, em sua maioria, rejeitaram as atitudes de Rodas. Boa parte dos alunos manifesta-se a favor da existência de fontes privadas de recursos para a faculdade, dada a incapacidade do Estado em garantir um provimento satisfatório de verbas. Os investimentos privados surgem como uma forma de suprir as carências da São Francisco e, mais do que isso, modernizála para que siga sendo um estabelecimento de ensino altamente qualificado. O que se questiona é a forma com que tais contribuições vêm sendo recebidas, aparentemente ao arrepio das normas institucionais e com total falta de transparência. Como resultado disso tudo, após alguns meses de intensos debates, a Congregação da São Francisco decidiu, no último 27/05, revogar a nomeação das salas, devido à suposta ilegalidade das medidas do exdiretor e atual reitor. Sabe-se que a Fundação Getulio Vargas é uma instituição privada, bastante diferente da USP e de suas inúmeras faculdades. Porém, ainda assim, é possível empregar o caso franciscano para se fazer uma reflexão a respeito do que ocorre em nossa FGV. Como um ambiente de ensino deve ser tratado? A autonomia do ensino e da pesquisa acadêmicas podem, de alguma maneira, sofrer interferências por parte dos patrocinadores institucionais? Práticas como propagandas em salas de aula devem ser encaradas como sendo comuns? O recebimento das verbas pela FGV é tratado ao “estilo Rodas” ou há transparência no assunto? O que esta edição da Gazeta Vargas pretende é atiçar a curiosidade e o senso crítico em torno de algumas posturas institucionais da Fundação. Conquanto para muitos o patrocínio em salas de aula pode parecer algo natural, pode-se constatar que para muita gente isso é um fato inconcebível. Longe de querer instigar a revolução contra as propagandas em salas de aula e a notória ASDI, a pergunta a se colocar ao aluno é: qual é sua posição a respeito?¤
Processo Seletivo
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Caras: na GV
Entrevista com
Foto: Erica Miyamura
Marcelo Dias
Ex-funcionário divide sua história e revela perfil empreendedor Erica Miyamura
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arcelo Silva Dias, 45 anos, ex-funcionário da FGV, é figura conhecida tanto entre alunos quanto entre funcionários e terceirizados – os freqüentadores da livraria do térreo no Prédio Nove de Julho com certeza foram atendidos, ao menos uma vez, pelo simpático vendedor. Simpático, porém discreto, recebeu a reportagem junto à Banca GV, local onde hoje trabalha. Também procurado, o irmão Marcos Paulo Dias, 36 anos, optou por não conceder entrevista por, segundo o próprio, timidez. Marcelo iniciou seu trabalho na FGV em 1991, tendo lá permanecido por 18 anos, saindo recentemente com o encerramento das atividades da livraria do andar térreo. Sua rotina começava às 7h, quando saía de sua então residência em São Miguel Paulista, onde morava com os pais; às 9h abria a livraria e lá permanecia até as 18h. Segundo o entrevistado, na livraria fazia “de tudo um pouco”, lidando tanto com a área de vendas como com a parte mais burocrática do serviço. Relacionava os livros novos e os em falta, além de negociar as vendas com a biblioteca, o grande comprador. Pouco tempo após se tornar funcionário da faculdade, passou a tocar paralelamente o empreendimento que até hoje mantém com o irmão Marcos, a Banca GV – aliás, apesar da semelhança física, os dois não são gêmeos, como cogitado por boa parte dos alunos. Durante o longo período em que permaneceu junto à FGV, Marcelo vivenciou algumas das maiores transi-
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ções pelas quais a instituição passou. O entrevistado destacou como mudança mais relevante de sua época o processo de informatização e profissionalização ocorridas na gestão do diretor Michael Zeitlin. De acordo com as declarações de Marcelo, foi neste período no qual foram idealizados e projetados os ambientes patrocinados, bem como o aprimoramento do LEPI. Outro evento que marcou época nesses anos foi a gradual substituição do quadro de funcionários. Mais recentemente, também acompanhou a criação das escolas de Direito e Economia da FGV, hoje estabelecidas na Rua Rocha e no Edifício Itapeva, respectivamente. Aliás, a Banca GV foi outra instalação que passou por modificações: o entrevistado relata que desde a época em que fora recém-adquirida há 15 anos, a banca cresceu tanto em espaço como na oferta de produtos, feito alcançado com auxílio de um patrocínio da Philip Morris e a autorização e incentivo por parte da FGV. Ao longo da entrevista, notou-se uma forte propensão à criatividade e ao empreendedorismo por parte de Marcelo. Relembra, com nostalgia, que fornecera a idéia de organizar a primeira feira de livros promovida pela livraria, auxiliando em sua realização. Na época, relata que durante a gestão de Fernando Meirelles, fora elaborado um “Plano de Metas” (não, espera-se que você não tenha pensado em JK), no qual haveria uma bonificação caso as metas fossem atingidas. Marcelo forneceu idéias diversas ao atual gestor, sendo que se destacou a de vender livros novos com 20% a 40% de desconto. A iniciativa terminou por
Marcos (E) e Marcelo na sua banca aumentar de forma relativa o movimento na livraria, porém, infelizmente, o eficiente funcionário não pôde prosseguir na organização das feiras seguintes, de forma que estas passaram de feiras de livros novos a uma mera queima de estoque de edições antigas. Ao final do ano de 2009, a livraria do térreo encerrou suas atividades, sendo substituída por um departamento de controladoria da FGV. Dizse que o motivo da alteração foi conseqüência de uma mudança de foco com relação aos clientes, sendo que se planejava atender apenas a demanda interna. Já afastado, o ex-funcionário revela que o que mais lhe faz falta é poder trabalhar com livros, atividade que é exercida de maneira um pouco semelhante quando permanece junto à banca. Com relação às pessoas, conta que sempre manteve um bom relacionamento com os alunos e também teve a oportunidade de fazer amizades com alguns dos funcionários. Dentre eles, cita dois já afastados – Valdimir, que foi seu gerente, e Suely Espanha, sua ex-supervisora – como sendo os grandes incentivadores de seu trabalho na FGV, uma vez que valorizavam suas idéias e seus projetos. Atualmente, pretende seguir com a banca, realizando melhorias na mesma, para benefício da comunidade GV; também possui a intenção de, em associação com os alunos da faculdade, realizar um projeto de caráter filantrópico. Espera-se que obtenha sucesso nestes, e quem sabe, em outros empreendimentos futuros. ¤
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Caras: Ex-GV
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Entrevista com Rosa Maria Lima
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ermano Guimarães é ex-aluno da Fundação Getulio Vargas e dono de uma história motivadora. Germano se formou em dezembro de 2008, no curso de Administração Pública e, desde seu ingresso na FGV se envolve com política e começou a ver o governo como um foco e uma motivação de vida. Encontrou-se com a Gazeta Vargas em maio, na nossa fantástica sede. Seu primeiro ano na FGV foi marcado, dentre outros fatos, pelo distanciamento entre a FGV do Rio de Janeiro e a de São Paulo, que foi a causa da demissão de professores. Devido a esse ocorrido os alunos fizeram uma mobilização na Avenida 9 de Julho em favor dos professores. Germano contou que não participou do movimento, mas que foi um dia marcante na sua vida de aluno. Em seu primeiro semestre, a identificação com a política já começou a aflorar. Sentimento que foi aguçado pelo seu envolvimento com a entidade Junior Pública. Nesta, conquistou os cargos de Gerente de Projetos da Área Pública e mais tarde de Diretor de Projetos da Área Pública. Para ele, a entidade proporcionou novas amizades e a oportunidade de aplicar na prática o conhecimento adquirido em sala de aula. Mais importante, se identificou com valores que leva até hoje, como a idéia de realizar um trabalho de maior impacto na sociedade ajudar as pessoas por meio do 3º Setor e do governo. A GV foi muito importante na elaboração dos planos de Germano, por ter lhe dado oportunidades que sustentaram sua vontade e seus sonhos. Dentre elas foi lembrado o intercâmbio de um mês em Brasília, no qual vivenciou a rotina de um gabinete que cuidava dos processos de fusões e aquisições de empresas. Esta
foi uma excelente experiência também por ter conhecido outros jovens com o mesmo perfil que o seu. Neste período em Brasília, visitou o Congresso Nacional e o Ministério da Fazenda. Esse momento serviu de inspiração para suas decisões. Posteriormente, Germano foi estagiar na área pública, mais especificamente, na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, onde ficou por seis meses. O seu chefe foi chamado a trabalhar na Secretaria da Educação e convidou Germano para ir com ele. Essa é a maior secretaria do Estado Ao aceitar o convite, Germano se confrontou com um grande desafio: trabalhar com a educação. Esta também era uma ótima chance para começar a trabalhar diretamente em prol de seus objetivos. Nesse estágio, coordenou um projeto inovador chamado Escola de Gestão pelo qual recebeu no mês de abril dois prêmios Mário Covas, nas categorias inovação e excelência em gestão. Tal projeto tinha como objetivo tornar o Estado mais eficiente de forma a aumentar os investimentos em educação. Germano era o mais novo dentre todos os premiados, o que o fez sentir que seu esforço era valorizado e que ele pode fazer a diferença. Na sua trajetória pela FGV, ocorreu um fato curioso que, segundo ele, foi muito importante para a definição de sua carreira. Germano lembrou que durante uma eletiva uma garota que ele não conhecia, o abordou e falou sobre uma bolsa de estudos em Washington que poderia ser de seu interesse. Foi assim que ele ficou sabendo da viagem que proporcionou a experiência de ter aulas com grandes líderes de diversos países. O propósito do intercâmbio era fazer os alunos pensarem em liderança global e
Foto: Rosa Maria Souza Lima
GermanoGuimarães Germano, “German” ou ainda “Chairman”, no QG da Gazeta Vargas serem líderes. Desta experiência, ele tirou três grandes mensagens. A primeira: é possível fazer uma mudança global agindo localmente. A segunda: a idéia de rede é extremamente importante atualmente, já que estamos a um passo de cada pessoa no mundo. E como última mensagem: o fato de a cidade ter transmitido a ele o valor da esperança. Esta última mensagem o fez refletir sobre a importância de fazer a mudança em seu espaço já que exercendo impacto sobre onde está inserido ele poderia ter a esperança de verificar uma mudança no mundo como um todo. Durante a graduação, Germano conheceu quatro pessoas que fazem parte de sua vida profissional até hoje, e compartilham com ele os mesmos objetivos, inquietações e ideais de vida. Juntos, arquitetaram um instituto para trabalhar com política e governo que objetiva aproximar os jovens da política esclarecendo a atual imagem da mesma e fazendo-os enxergar a administração pública fora da caixa. Essa foi uma iniciativa empreendedora de alunos que queriam melhorar o país e envolver outros jovens com esse objetivo. Por fim, Germano contou que sua relação com a faculdade não acabou com o fim do curso de graduação, mas que a FGV continua sendo parte de sua vida. Germano aprendeu muito na FGV e nas experiências que viveu junto da faculdade e hoje está transmitindo os valores que incorporou durante sua vida para outras pessoas através de seu trabalho. ¤
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Eleições no DAGV
O DAGV está em crise! Precisamos mudar! Chega de... Rafael Jabur
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s ideias acima representam o espírito que embalou as eleições. Pipocaram em e-mails, discussões para formação de chapas, nas bocas quentes. E como qualquer ideia que pulula pode pulular sem que se pare para pensar por que pulula, assim aconteceu. É apresentado a Fulano a ideia de que a Chapa X vai mudar o que está aí. Legal votar nela. Depois, a Chapa Y fala sobre mudanças também. Z, T, R... Mas o que às vezes se esquece, é que a palavra “mudar”, assim soltinha, não muda nada. Esse verbo traz consigo uma série de questões que, se não forem respondidas de forma contundente, revelam despreparo. Primeiro deve-se ver com nitidez o que se pretende mudar e, com isso, qual efeito negativo provém da forma atual da coisa a ser mudada (pois o que se muda é a forma, não a coisa, se não, seria extinção). Depois esclarecer satisfatoriamente as perguntas: “Qual será a nova forma?” e “Como mudar?”. As primeiras questões, o que deve ser mudado e por que, e qual será a nova forma, são compreendidas e suas respostas fornecidas aos eleitores a contento. Para verificá-las, basta ler as cartas-programa. A última, “Como mudar?”, porém, safada ou inocentemente, é esquecida. Respondê-la significa explicitar os mecanismos que serão acionados em cada etapa: do zero à conclusão (quando a coisa tomou a forma que fora desejada). E, quando estamos falando de DAGV, para a maioria das coisas que precisam ser mudadas, os mecanismos passam longe da economia e administração. Eles acabam se inserindo no escopo da política, ou melhor, algo com um quê de politicagem, mas cujo foco final é o fortalecimento e melhora do DAGV como uma entidade pública, dos alunos, e não o favorecimento pessoal.
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Mas, politicagens à parte, é inevitável citar o contexto em que se inseriu essa eleição: o da “crise”. Não é necessário aqui repetir a história (ela já foi contada pela Gazeta e pelo Presença, jornal do DAGV), mas sim investigar melhor como ela influenciou os rumos que tomaram as eleições. A “crise” do DAGV: uma crise que abalou a instituição ou uma crise pessoal, uma crise que se encerra no âmbito dos nomes?
Aguenta essa Dunga! No escopo político, acusações são o bastante para deflagrar uma crise feia. No caso do DAGV, acima das formas elas tomaram, ganhou destaque elas terem feito com que aflorasse a falta de transparência nas tomadas de decisão. Quem saiu maculado, porém, não foi a instituição DAGV, mas os envolvidos diretamente na “crise”. Por isso, a ideia de que a “crise” manchou o DAGV e que por isso mudanças são necessárias é errada. Caso se ache que é necessário alterar alguma coisa no DAGV, é necessário com ou sem crise (mesmo que ela tenha aju-
dado a enxergar o que é preciso ser mudado, a necessidade não depende dela). E quais mudanças foram propostas? Foram as principais chapas que concorreram: Manifesto, Acesso e FBKKK, todas com mudanças fortes em mente. A chapa Manifesto tinha como principal chamativo um apelo à volta dos “velhos tempos”, da época em que o alunopadrão geveniano não sofria de letargia política. E clamava, em sua súmula intitulada “Manifesto por um DAGV melhor”, que a culpa de tal passividade diante de fatos como “uma mensalidade que sobe 5% em um período de IGP negativo” é do DAGV, pois seria papel dele, por ser feito por e para os alunos, intermediar as relações entre estes e a Diretoria, e colocá-los a par das situações, informá-los, já que eles “não frequentam o terceiro andar”. O discurso em tom rebelde, porém, não conseguiu angariar votos necessários na segunda eleição (sim, foram duas - e mais abaixo uma breve explicação do que ocorreu), que foi a que valeu. Mas de todas as chapas, a proposta mais atroz, no sentido de ser a mais extrema, veio da FBKKK. Já conhecida por todos por sempre participar das eleições com a intenção de ganhar mais risos do que votos, a chapa desta vez entrou pra valer, pra “botar o pau na mesa”. E a ideia principal da chapa era a devolução aos alunos do quinhão correspondente ao repasse (que vem embutido na mensalidade). Essa proposta se baseava na teoria de que o repasse criava um vínculo entre o DAGV e a diretoria que seria pernicioso aos alunos. A FBKKK entendia que isso nutria uma dependência financeira com relação à diretoria, e essa dependência tornava o DAGV politicamente mais fraco em questões sobre as quais as opiniões e propostas divergissem das da diretoria. E, tornando o DAGV mais politicamente mais fraco, tornava os alunos politicamente mais fracos. Acabar com o repasse era, portanto, condição não só suficiente, mas também necessária, para devolver ao DAGV independência com relação à diretoria - questão fundamental para devolver aos alunos
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poder nas tomadas de decisão das escolas. Isso tudo, contudo, não passa de teoria. É bem sabido de todos que opiniões divergentes não são muito apreciadas na alta cúpula altamente cupulante da fundação. Pensar que o dinheiro é a mais valorosa moeda de troca nesse jogo político e, por isso, abrir mão dele para abrir novas veredas, pode ser perigoso. Pode-se acabar ficando sem o já escasso poder político e, além disso, sem dinheiro. Mas agora não tão cedo teremos um teste empírico da teoria, uma vez que a chapa não conseguiu votos suficientes para pôr o experimento em prática. Quanto à vencedora, a chapa Acesso, parecia a mais tímida das chapas. Mas acabou ganhando, de virada. E em se tratando da vencedora, é importante explicitar aqui algumas das propostas. A mais controversa parece ser a ideia de reescrever o texto do estatuto. Segundo a carta-programa da chapa, ele se encontra defasado. Porém, o estatuto, que vigora desde 2005 (e pode ser lido no site do DAGV), não é facilmente modificável: mais da metade dos associados (alunos de AP, AE e economia) devem estar presentes na primeira convoca-
O debate estremeceu a República ção ou mais de um terço nas seguintes, e deve contar com o voto concorde de pelo menos dois terços dos presentes. Espera-se que os gevenianos participem,
ou seja, que estejam presente e leiam as modificações para julgá-las. Além disso, espera-se que as modificações sejam divulgadas de forma ampla, do jeito que irão constar no estatuto. Outra mudança preconizada pela carta-programa é a criação do cargo de Vice Presidente Acadêmico de Administração Pública. Essa proposta vem corrigir um lapso,
Enfim, as três chapas agiram de forma antidemocrática utilizando-se de mecanismos não-ilegais.
que cursos com substâncias diferentes tenham um mesmo nome na Diretoria Executiva. Na carta, porém, não são encontradas propostas mais sólidas. Ficase, então, na expectativa. No decorrer das eleições, acusações e comprovações de falcatruas foram evidenciadas, principalmente durante os debates. A chapa FBKKK trouxe dois fatos à tona, cada um dizendo respeito a uma das outras chapas. O primeiro deles foi o registro, pelo presidente da chapa Acesso, de um site na internet cujo domínio era “www.chapamanisfesto.com.br”. O segundo foi a acusação de que o presidente da chapa Manifesto teria votado pela a impugnação da candidatura da chapa Acesso. Contra essa acusação, o presidente da Manifesto se calou. Enfim, as três chapas agiram de forma antidemocrática utilizando-se de mecanismos não-ilegais. O registro do domínio, o voto pela impugnação, e a ladina estratégia da chapa FBKKK de “concorrer” através das chapas “FBKKKcom asteriscos” para ganhar um maior espaço durante os debates são atos que surtem o mesmo efeito, quiçá revelam um mesmo fim: potencialmente diminuir ou extinguir o espaço da(s) outra(s) chapa(s). E esse efeito é condenável para quem preza por uma competição demo-
crática saudável (de ideias e não de malandragens). O primeiro sufrágio aconteceu nos dias 26 e 27 de Maio. Com uma boa participação do alunato, a possibilidade real da chapa FBKKK ganhar e a disputa ferrenha entre as chapas, a expectativa quanto ao resultado era grande. Mas qualquer estômago foi pouco: mesmo com a chapa Manifesto já cantando vitória, percebeu-se que havia uma desigualdade entre o número de votantes que constavam lista (que se assina ao votar) e o total de votos computados pelo sistema - foram computados 38 votos a mais do que assinaturas. Alguns reclamam: a diferença de votos entre as chapas que foram primeira e segunda colocadas (respectivamente, Manifesto e Acesso) foi maior do que o número de votos computados a mais. De qualquer forma, a decisão da Comissão Eleitoral foi unânime entre os membros: anular as eleições. A segunda eleição, realizada nos dias 1º e 2 de Junho, foi totalmente escrutinante: com medo de novos paus que pusessem em cheque o resultado final das apurações, decidiu-se utilizar um processo mais primitivo - a cédula de papel colocada na urna. Após o término da apuração, uma surpresa: uma virada! No ínterim das eleições a chapa Acesso conseguiu persuadir eleitores que vestiam a camisa da Manifesto? Parece que não. Essa virada veio pra mostrar o quão frágil é a conexão entre o resultado das urnas e a vontade dos votantes (a não ser que se suponha uma vontade volátil a ponto de ter mudado no curto espaço de tempo entre as eleições). Ou seja, para fazer valer a vontade não bastam as urnas. Ela tem que ser externada por meios legitimados, diariamente, se aproveitando dos mecanismos que a democracia nos proporciona. Portanto, não achem que exercer os seus direitos significa votar. É uma coisa bem maior que isso, e construída com um esforço bem maior do que o apertar de botões da urna.¤
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Entrevista: Dimitri Dimoulis
História e Tradição: Preservá-las para quê?
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quela quarta-feira estava ensolarada na capital paulista. Manchetes nos jornais anunciavam que o jogador Cacau chorara ao ouvir o hino alemão. O papa Bento XVI dava uma audiência sobre Santo Tomás de Aquino. O jornal O Estado de São Paulo publicava uma errata: o índice IPC-S, que dera um resultado deflacionário de 0,19%, revelava uma queda mais intensa do que a apurada na prévia, com dados até o dia 15 de junho, e não até o dia 7 de junho, como fora publicado. Algum desses fatos se tornará “História”? Um evento a mais nesse dia nos joga alguma luz sobre o assunto. O professor Dimitri Dimoulis, nascido na Grécia e desde 1999 no Brasil, conversou com a Gazeta Vargas sobre o que é e qual é a importância de se preservar a História. O professor Dimitri estudou Direito em Atenas, possui mestrado pela Universidade Sorbonne, além de doutorado e pós-doutorado pela Universidade do Sarre, na Alemanha. É diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Constitucionais, que também presidiu de 2007 a 2010 e ajudou a fundar em 2004. Gentilmente nos recebeu em sua sala, na Escola de Direito da FGV-SP, onde leciona desde 2007, para nos expor algumas das suas visões a respeito dos papéis desempenhados pela tradição e pela história, em especial dentro de organizações como a Fundação Getulio Vargas. Gazeta Vargas - Professor Dimitri, o senhor nasceu na Grécia, país com notória tradição e história. Além disso, o senhor estudou na Sorbonne, tradicional universidade francesa. Hoje o senhor
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leciona na Fundação Getulio Vargas que, em menor medida, também é uma instituição que angaria respeito nacional e internacional devido a sua tradição de excelência e ativismo pelo desenvolvimento do Brasil. Qual é o papel que a história e a tradição possuem na caracterização da identidade de uma organização ou de um país?
Foto: Dimitri Dimoulis
Alípio Ferreira
Professor Dimitri Dimoulis, um constitucionalista internacionalíssimo Dimitri Dimoulis – Eu começaria fazendo uma reflexão sobre o termo “tradição”. Tradição, que é até um termo jurídico em direito, significa “entrega de alguma coisa”. Se alguém compra meu carro, eu vou entregar o meu carro, e isso no direito se chama tradição: o ato de entregar. Esse é o sentido mais banal do termo tradição, que não tem nada de valorativo. Mas podemos ainda pensar: tudo aquilo que nós, seres humanos, temos é o resultado de uma tradição de capacidades anteriores. Aí vem uma ideia de imortalidade. Por que os seres humanos talvez sejam imortais? Porque
um está sempre entregando ao outro as suas capacidades, seus conhecimentos, experiências e inclusive seus bens materiais. Nós podemos ter o conhecimento de o que é o tempo, o que é planejamento, a capacidade de comunicação, de várias emoções porque alguém fez a “tradição”, nos “entregou” esses elementos e capacidades. Nesse sentido a tradição é, para mim, a condição humana. Não é aquele sentido nobre de que vou falar depois. É um sentido muito simples: só falo português porque meus pais e o ambiente, amigos, professores, livros, cursos me ensinaram isso. Nós somos neste sentido necessariamente o produto de uma tradição. Mas por ser tão importante, essa condição humana, essa idéia de imortalidade, que passa de geração para geração, do fato de que você está no meio de uma cadeia que vem de algum lugar e você está indo para algum outro, implica que sem tradição não se trabalha, não se vive, não existe nada. O ser humano é tão diferente em relação aos animais porque tem grandes capacidades de transmitir e grandes capacidades de receber, enquanto que o animal aprende muito pouco. Agora, o que isso tem a ver com aquilo que outro sentido de “tradição”? “A Sorbonne é uma faculdade tradicional”. Aí entra outro elemento, que é a seletividade. Dentro daquilo que alguém ofereceu, o que você vai valorizar? A expressão “família tradicional”, no sentido banal de tradição, é ridícula, pois que família não é tradicional? Todos nós descendemos de um macaco da África, então nesse sentido todos nós temos uma tradição de sei lá quantos milhões de anos. E então ocorre aquilo que vários his-
Entrevista: Dimitri Dimoulis
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toriadores vão chamar “a invenção da tradição”: seletividade. Se você perguntar à maioria dos gregos eles vão dizer: “somos descendentes de Alexandre Magno, de Sócrates, Platão...” Ah é? E de que mais? Assisti a uma banca em que o candidato disse: “os gregos, que eram filósofos...” E um professor falou: “não, os gregos eram marinheiros e camponeses. Entre milhares e milhares de marinheiros e camponeses houve uns vinte filósofos”. Quer dizer: estamos descartando do passado elementos e estamos guardando outros. A tradição deixa de ser um aprendizado, e passa a ser a construção de um valor. Como notar isso na universidade? A FGV é uma instituição muito tradicional. Primeiro elemento: não posso questionar a sua excelência, que é reconhecida pelos especialistas e a sociedade, nesse sentido a FGV tem uma tradição de excelência científica, de pesquisa, consultoria etc. Segundo elemento: a FGV dispõe de mecanismos para transmitir a excelência para as próximas gerações de alunos e professores através de processos seletivos, notas, reprovações, concursos e outros mecanismos de controle da qualidade do ensino e do nível de aproveitamento. Essa transmissãotradição (ou transmissão da tradição) ocorre através de conflitos. Se o professor quiser ser muito sincero (e antipático), diria ao aluno: “eu te reprovei em nome da tradição da FGV, você não merece fazer parte daqui”. A tradição nesse aspecto tem um elemento doloroso, um elemento de conflito e de exclusão. GV - Apesar de, como dito, a Fundação Getulio Vargas possuir sólida tradição em excelência, a Escola de Direito de São Paulo, na qual o senhor leciona, é bastante recente. Recentemente foi lançado um livro “A história de um sonho”, que celebra os 10 anos da “ideia” da EDESP, relatando os passos para chegar ao que ela hoje constitui. Essa iniciativa revela um esforço prematuro da Escola
de Direito em estabelecer uma tradição? É possível ter tradição sem ter história? DD - Quando eu falo pra um taxista “Vamos para a GV na Rua Rocha”, ele pergunta “O senhor é professor da GV?”, e falo que sim. O taxista então me classifica nessa tradição de excelência. Só que ele na verdade me trata como se fosse professor do EAESP... Aí podemos perceber o valor da tradição – que vários sociólogos, como o Bourdieu, vão analisar. É um valor de troca, uma moeda (ou capital) de prestígio cultural-social: se eu falar que sou da GV abrem-se as portas. Porque a tradição de certa maneira permite essas “trapaças”. Por outro lado, a Direito-GV foi fundada e dirigida por professores da Escola de Administração, que portanto pertenceram àquela tradição. Então, por um lado estamos um pouco “trapaceando”, eu estou me aproveitando de uma tradição de excelência que eu não tenho. Por outro lado, a tradição permite que uma parte da história da instituição efetivamente se transmita. Essa escola está tentando
A primeira turma da Direito GV está entre as dez melhores do país. Como? A tradição se aprende e pode ser transplantada
seguir os padrões de excelência. Nós podemos construir uma própria tradição, mas por outro lado nós quase sempre temos uma previsão de qualidade com base na transmissão da tradição alheia. Prova disso: faz-se o exame da OAB e a primeira turma da Direito-GV está entre as dez melhores do país. Como consegue fazer isso? Graças justamente à assimila-
ção daqueles padrões de tradição. A tradição é algo que se aprende e pode ser transplantada. GV – O que é a História? A História é uma abstração? DD - Renan, historiador francês do século XIX, diz que um dos elementos fundamentais que permite ao povo-nação construir sua tradição, e manter sua identidade, é o fato de esquecer alguns fatos do passado. A história, então, é o contínuo esquecimento de inúmeros fatos que aconteceram. Eu, na minha história muito modesta e pessoal, não me lembro de o que eu almocei ontem. É um fato histórico? É um fato ao qual eu não atribuo valor histórico e por isso apago da minha memória. Ao mesmo tempo todos nós, de maneira em parte consciente em parte inconsciente estamos esquecendo ou pelo menos ocultando acontecimentos que nos desagradam ou que são percebidos como contrários à identidade que pretendemos ter. História é esquecimento e seletividade de fatos. Sou um pouco cético com relação à história, porque não é produto de uma superioridade natural. Nesses dias saiu n’O Estado de São Paulo que 33% dos brasileiros não comem o suficiente. Governo Lula, Fome Zero, milagre econômico, o Brasil vai para o Conselho de Segurança da ONU, Copa do Mundo, Olimpíadas, uma potência, e 33% não comem o suficiente. No Nordeste a porcentagem chega a quase 50%. Que tipo de tradição é essa? Ao mesmo tempo o Brasil diz: agora não somos um país do terceiro mundo, estamos no primeiro. É a construção de uma história. Provavelmente daqui a cem anos esse um terço da população que não come direito vai estar esquecida e o Lula será lembrado e glorificado pela sua fé”gestão brilhante...” GV - O passado está repleto de eventos e rupturas que assombram pelo contraste que representam com os valores de hoje em dia. São golpes de Estado
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sangrentos, assaltos a cidades inteiras, genocídios entre outros. Há também, hoje em dia, inúmeras iniciativas que visam preservar a memória dessas atrocidades, a fim de evitar que se repitam, notoriamente com relação ao Holocausto. Preservar a história, por si só, é uma maneira de evitar que ela se repita? DD – O filósofo francês Alain Badiou tem uma teoria que diz o seguinte, simplificando muito: na nossa vida, ou na vida dos grupos, acontecem alguns eventos que são marcantes. Então o resto da vida da pessoa fica marcado por aquele evento: há uma fidelidade a ele e nos atuamos no sentido de manter-se fieis àquele evento do passado (fidélité à l’Evènement). A Revolução Francesa certamente tem uma enorme importância para o mundo e também para mim. Mas o que eu almocei ontem, não tem. Assim, algumas pessoas, grupos ou países, valorizam certos eventos e esquecem ou ocultam outros. Por um lado, portanto, temos o evento e a fidelidade ao evento. A isso podemos acrescentar um segundo elemento filosófico. Hegel diz: a História pode nos ensinar e nos ensina. A história nos ensina: entender o passado e lembrar permite que algo ruim não se repita. Se você ler a história, se, usando o seu exemplo, estudar tudo aquilo que aconteceu na Europa no decorrer da segunda guerra mundial, se informar com detalhes sobre as atrocidades, suas causas e as pessoas envolvidas, isso pode contribuir sim para que esses horrores nunca mais aconteçam. Nesse sentido, a história ensina. No entanto, o ser humano tem tantos interesses que não vai aprender pela história, não vai aprender porque não quer aprender, diz Hegel continuando seu raciocínio. Ditadura é uma coisa boa? Faça uma pesquisa de opinião. A população em sua esmagadora maioria, no mundo inteiro, julga a ditadura uma coisa ruim. Agora por que com certeza nos
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Entrevista: Dimitri Dimoulis próximos dez anos haverá muitos golpes de Estado no mundo? Porque o valor educativo da história é muito limitado. Há outros fatores que influenciam. Por que já aconteceu uma vez o Holocausto? Será que os alemães não sabiam que o antissemitismo e a perseguição de pessoas com base em sua origem ou crença é uma coisa horrível? Claro que sabiam! É bom matar a esposa? Não. Alguém discorda? Não. Mas todo fim de semana alguém em São Paulo mata a esposa. Leia as estatísticas. O valor educativo da história é grande. Nos ensina, mostra consequências terríveis de certos atos, que com grande regularidade vão se reproduzir porque existe algum interesse nisso. Alguém na semana que vem vai novamente matar a esposa. Essa pessoa sempre soube e continua sabendo que é errado fazer isso e um dia mata a esposa. Devemos ser muito pessimistas sobre o valor educativo da experiência passada.
Por que já aconteceu uma vez o Holocausto? Será que os alemães não sabiam que o antissemitismo e a perseguição de pessoas é uma coisa horrível? Claro que sabiam!
GV - Há alguns anos houve uma ampla e rápida reestruturação da governança da FGV, com a redução da democracia na gestão das escolas em prol de mais “eficiência”. Hoje, no entanto, a atual estrutura está sedimentada entre os alunos, e o debate inexiste em torno disso, sugerindo que um pequeno número de anos é suficiente para a con-
solidação de uma nova realidade numa instituição como a FGV. Qual é o poder da presidência da FGV de causar rupturas definitivas na história da Fundação e quais são os perigos desse poder? DD – Dois anos atrás os professores foram perguntados se poderia ser servida bebida alcoólica no Espaço Bohemia [atual Clube dos Professores]. Houve uma troca de e-mails por muito tempo e praticamente todos os professores diziam que era bom que houvesse a venda de bebida alcoólica, sendo seu consumo muito esporádico e moderado. Pessoalmente, acho que não é uma boa ideia beber no espaço de trabalho, mas após essa troca de emails saí de férias em janeiro tendo certeza de que continuaria a venda de bebidas alcoólicas no restaurante. Fui ao restaurante em fevereiro e vi que não havia. É um exemplo caricatural que passa um recado. Houve a ideia de consultar todo mundo, tivemos uma quase unanimidade de professores a favor da venda de bebida alcoólica e de repente a FGV decide: “não vai ter mais”. Isso é uma ruptura. Nessa ruptura, aquele que diz “eu sou tradicional” indica que possui também o poder de mudar. Há explicação dessa mudança e do desrespeito à maioria: Já que foi proibido que os alunos bebam, tem que proibir aos professores também, até para dar um exemplo. Excelente argumento. Mas se houve um verdadeiro plebiscito, bem ou mal, teria que seguir. Nesse caso, em nome da tradição, houve uma ruptura, ignorando o imperativo democrático. E logo em seguida vem o esquecimento. Daqui a dez anos os alunos terão mudado por completo, o corpo docente sofrerá muitas alterações, ninguém vai estar lembrado daquilo que ocorreu. Se em 2020 alguém entrar no ex-Espaço Boemia com uma cerveja na mão todos dirão que é uma pessoa desajustada que ignora as “tradições” acadêmicas consumindo álcool em um estabelecimento de ensino e pesquisa.
Entrevista: Dimitri Dimoulis
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Voltando à sua pergunta. Existe esse risco de alguém modificar todo o cenário e transformar uma escola no seu contrário. Mas pensemos, apesar de ser um pouco ingênuo o que vou falar: as pessoas que chegaram aos cargos de direção de uma escola tradicional certamente compartilham da maioria dos valores, e nós deveríamos confiar nelas. É uma forma de pensamento que não dá muita garantia, mas a ideia da tradição é exatamente essa. Este é o elemento mais conservador da tradição: se um aluno que questiona decisões da FGV conversar com o presidente da Fundação ele dirá: “mas você acha que eu destruiria a tradição de mais de meio século?” É um argumento forte: “Aqueles que votaram em mim e que estão acompanhando minha gestão nunca vão permitir uma ruptura com a tradição”. O que falta na realidade é um debate político contínuo sobre valores, tradições e decisões. Falar em alguns eventos sensibiliza as pessoas, e as faz pensar. GV - Acreditando que o debate em torno de certas rupturas históricas seja um caminho para a construção de um ambiente intelectual salutar e moralmente admirável, a Gazeta Vargas decidiu voltar a tocar na atual edição a questão da democracia na EAESP. Na própria academia o debate polarizou-se entre os que priorizassem eficiência e os que priorizassem democracia na gestão da organização. O professor BresserPereira afirmou que “usa-se o modelo democrático para dirigir o país, não organizações”. No entanto, trinta anos antes, o professor Maurício Tragtenberg preconizava justamente o oposto: que a Academia somente teria a perder com a redução da participação dos alunos e professores na gestão de organizações. Como o senhor se posiciona a respeito desse debate? DD - As universidades surgiram na Idade Média na Europa como corporações administradas por alunos, o que faz muito sentido. O professor
é um funcionário contratado como técnico para ensinar aos alunos: eles são os que querem aprender e tem o maior interesse em que a Universidade seja bem administrada, garantindo a qualidade do ensino. Assim, antes de pensar a democracia e nas suas vantagens e desvantagens, me parece que temos que refletir sobre esse ponto: quem deve mandar? Os alunos. No hospital quem manda? Os médicos? Não. O poder público, que representa os usuários, e é quem administra os hospitais. É claro que ele deve consultar os médicos sobre o tipo de aparelhos a serem comprado. Vamos também confiar no diagnóstico do médico, como o aluno tem que confiar no professor. Mas quem disse que um excelente cirurgião tem capacidade de criar e administrar um hospital? A não ser que o médico queira ganhar dinheiro e se transforme num capitalista. Mas aí não atua como médico, mas como empresário. Não quero ser demagógico, mas para
Não colocaria o debate entre eficiência versus democracia, mas chamo a atenção para as especificidades da universidade: alunos ou professores? Eu voto pelos alunos. mim é um contra-senso histórico uma universidade ser administrada por professores. Nesse sentido a ideia de democracia universitária não seria a representação paritária. Houve um movimento mundial em que os professores se apoderaram das universidades. Foi uma queda de braço
entre alunos e professores em que os alunos perderam. Vamos pensar melhor sobre isso. O segundo aspecto é a ideia de universidade como empresa, em que os empresários mandam. Um outro contra-senso terrível para mim. O saber universitário deveria estar fora do comércio, não deveria ser produto. A Constituição da Grécia proíbe qualquer universidade privada. Não colocaria o debate entre eficiência versus democracia, povo contra a elite, mas chamo a atenção para as especificidades da universidade: alunos ou professores? Eu voto pelos alunos. Empresários ou poder público? Eu voto pelo poder público. Conheço excelentes universidades privadas assim como excelentes hospitais-empresas, mas isso não me parece invalidar a objeção de princípio que estamos discutindo aqui. Falando em lições da história e tradição, vou dar um exemplo. O Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, conhecido como CACO, é uma organização muito poderosa. Os alunos conseguiram mandar embora o Diretor, fizeram uma verdadeira revolução na qualidade do ensino. Houve um processo em que os professores foram passivos e os alunos reformularam em dez anos toda a faculdade. Os estudantes só conseguem participação na medida em que eles vão adquirir esse poder aos poucos, com contínuas lutas. Temos aqui o oposto da tradição. Estamos diante de uma ruptura que também pode se inspirar em elementos do passado. O que vocês querem fazer no Centro acadêmico? Qual é a missão da Gazeta Vargas? Devem encontrar na tradição estudantil e acadêmica elementos inspiradores. Os alunos se identificam com alguma tradição e tentam sozinhos conquistar uma parcela do poder universitário. Criando sua própria tradição através da seleção de elementos e de conflitos.¤
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História Esquecida
Getulitarismo e Crítica
As demissões de professores na FGV-SP repercutem hoje? Alípio Ferreira Erica Miyamura Flavio Lima
Por que preservar
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odos os dias, quando os gevenianos vão pegar seus pratos-feitos no deck do restaurante Getulio, passam em frente ao que é uma relíquia da história da EAESP. Pregada na parede, uma discreta placa ostenta um texto do célebre professor Maurício Tragtenberg. Nele, denuncia-se uma tendência ao esvaziamento da reflexão e da crítica na Academia, a qual estaria se tornando um “cemitério de vivos”, na expressão de Lima Barreto. Curiosamente, apesar das numerosas visitas àquele canto do Getulinho e da visibilidade de que a placa dispõe, ela cumpre de fato muito mais uma função decorativa do que um convite à reflexão. Teria sido esta placa idealizada simplesmente para finalidade estética? Provavelmente, esse não era bem o objetivo do DAGV e do Rockafé. Depois de almoçar seu PF e ir pagar sua continha, o aluno passa os olhos sobre fotos dos momentos mais informais e descontraídos da vida de nosso glorioso patrono, Getulio Vargas. Teria esse aluno algum posicionamento sobre a escolha dessas imagens para ornarem o restaurante? Uma vez paga sua conta, nosso querido aluno pega um cafezinho “na faixa” e umas 7-Belos de troco, e se dirige a uma tradicional partida de pebolas no espaço do Diretório Acadêmico Getulio Vargas, que até a década de 1984 ainda se intitulava Centro Acadêmico Administração de Empresas... Será que nosso aluno pimpão possui algum posicio-
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namento sobre a mudança do nome do Diretório e a escolha do patrono? São 13h05! Nosso protagonista corre para sua aula de Mat Fin na sala 603, a sala do Bandeirantes. O que nosso aluno pensa sobre patrocínios em salas de aula? Os alunos da Faculdade de Direito da USP parecem não gostar muito da ideia... Caso nosso aluno serelepe jamais tenha pensado bulhufas a respeito,
Parece que a EAESP sempre foi como é atualmente. Quatro anos é longo prazo na graduação. espera-se que, com esta edição da Gazeta Vargas, ele mude sua postura. Mas afinal, por que alguém deveria se dar ao trabalho de pensar sobre essas coisas? Por que preservar a história? Há iniciativas de preservação da história dentro da Fundação Getulio Vargas, como por exemplo, alguns livros comemorativos publicados (50 anos da EAESP, e “A construção de um sonho”, sobre os 10 anos da idealização da Escola de Direito). No entanto, a reflexão sobre alguns eventos e rupturas da história da Fundação não é mantida acesa. Mais do que isso, os alunos são feitos atores passivos da história, interpretando-a como um mero registro de acontecimentos de uma determinada época que já não se inserem em sua realidade. A Gazeta Vargas se propõe a ser o espaço de debate, crítica e reflexão sobre certas rupturas em que houve
embate de valores e ideias. Alguns eventos, em especial a onda de demissões que assolou a EAESP em 2006, foram tratados com extensão e propriedade ao longo de suas edições. Registraram as manifestações que ocorreram naquela época, e os debates que cercaram esse tema. No entanto, passados quatro anos, a história se esqueceu. Para o aluno de graduação, que fica aproximadamente quatro anos na escola, não há parâmetros para comparação – os alunos que presenciam as transições de hoje já não são os que sentirão as mudanças de amanhã. Parece que a EAESP sempre foi como é atualmente. Quatro anos é longo prazo na graduação. Demissões: a história relegada ao esquecimento Aconteceu em fevereiro de 2006. A notícia da sumária demissão de quinze professores de carreira da EAESP e de um da EDESP causou rebuliço nos corredores da faculdade. Não, não se tratava de um mero “corte de pessoal” típico de uma empresa qualquer: a “lista” de dispensados abarcava renomados docentes, incluídos coordenadores de centros de estudo e orientadores de programas de mestrado e doutorado. Entretanto, segundo relatos da época, o motivo de indignação maior deveu-se à carência de esclarecimentos por parte da Diretoria e, principalmente, da não-divulgação dos critérios adotados no processo de demissão, gerando especulações a respeito do caráter arbitrário e até político da mesma. A contrapartida veio com a publicação da Gazeta #62, que trazia uma seleção especial de reportagens com vistas à elucidação dos fatos por trás de algumas das demissões. Foi evidenciado, por exemplo, que o afas-
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História Esquecida
gazetavargas@gvmail.br um pronunciamento à Folha de S. Paulo, no qual questionava a Direção quanto à demissão de seus colegas. Em meio a acusações de articulação política e ameaça à liberdade de expressão, os alunos foram às ruas e fecharam a Nove de Julho, numa manifestação com direito a spray de pimenta e cacetetes de policiais. O DAGV, sentindo o peso da representação discente, marcou uma Assembleia Geral de Alunos, na tentativa de cobrar da Escola a convocação de uma Congregação, o órgão máximo deliberativo da EAESP. Ao final da Assembleia, os alunos, em cena fúnebre, depositaram quase mil rosas brancas em frente à sala da Diretoria, em um último ato de homenagem àqueles que se foram. O que motivou tanto as demissões quanto as reações espalhafatosas de
Foto: scielop.br
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tamento do renomado Prof. Marcelo Neves, da EDESP, esteve vinculada a uma negativa da Diretoria em lhe conceder uma licença de 11 dias para um importante evento na Alemanha – o professor foi convidado a ser observador das eleições nacionais, mas para isso teria que se ausentar de suas responsabilidades docentes. Aparentemente, o fato de o docente ter tentado solucionar seu impasse com a Escola por “vias externas” (ou seja, contatos de influência) teria sido visto como “desrespeito à hierarquia interna da Fundação”, condição suficiente para sua demissão.1 Expondo os meios pouco democráticos em que se deram esta e outras demissões, a edição também contou com depoimentos visivelmente contrários às mesmas, caso emblemático sendo o do Prof. Michael Paul
Bresser: “Usa-se o modelo democrático para dirigir o país, não organizações”
Tragtenberg: “A simples presença discente em colegiados é fator de sua moralização”
Zeitlin, ex-diretor da EAESP. Na contracapa da revista, foi publicado um manifesto conjunto dos alunos de graduação e pós, funcionários, entidades e até mesmo ex-alunos, clamava pela democracia e ética na Fundação. E há quem diga que gevenianos capitalistas não são muito afeitos a manifestos... A mobilização maior, entretanto, viria com o anúncio da saída em fevereiro de 2006 do Prof. Zeitlin, dispensado pouco depois de realizar
professores e alunos foi uma manobra da Presidência da Fundação no sentido de reformular a gestão da FGV. O processo conhecido como “Repensar a Governança” tinha a visão de que havia um trade-off entre a eficiência e a democracia na gestão de organizações, e que naquele momento, convinha privilegiar a busca pela eficiência. Após o mal-estar causado pelas demissões, o professor Luis Carlos Bresser-Pereira enviou à professora Maria Rita Loureiro Durand um e-mail em que lamentava a truculência da diretoria da EAESP
1. Para maiores detalhes consultar a edição #62 da Gazeta Vargas, disponível para empréstimo na Biblioteca Karl A. Boedecker
nas demissões, mas reconhecia e endossava a finalidade do processo de reformulação da governança. No email, que está publicado em seu website2, o professor afirma: “Eu não acredito que se possam administrar de forma eficiente organizações, inclusive organizações de ensino superior, adotando-se um modelo de organização e gestão ‘democrático’. Não é isto o que ensinamos a nossos alunos. Usa-se o modelo democrático para dirigir o país, não organizações.” Consoante às palavras do exministro, o presidente da Fundação, Carlos Ivan (o Terrível) outorgou um novo regimento para a Escola de Administração de Empresas de São Paulo. No novo estatuto, mudaram tanto a maneira de se eleger o diretor (agora eleito por meio de um search committee) quanto a forma de deliberação acerca de questões importantes: antes a Congregação, composta por alunos, professores e funcionários, era o órgão máximo deliberativo, mas foi tirado do protagonismo político pelo novo regimento, além de ver reduzida a participação dos alunos e extinta a dos funcionários. O nosso aluno do primeiro parágrafo, estudante de AP na EAESP, estará satisfeito com a gestão da Escola? Que ele saiba que nem sempre foi assim. Um dia o aluno possuía representação discente através da Congregação e do Diretório Acadêmico, e hoje estes quase não passam de uma instituição pró-forma e um organizador de eventos. Que ele saiba também que o professor Bresser possui um contraponto na Academia quanto a suas posições de gestão de organizações (especialmente Escolas), como o texto do professor Tragtenberg sugere. Ao classificar de “delinquência acadêmica” a falta de crítica e reflexão na Academia, que se torna cada vez mais tecnicista, o professor anuncia: “A alternativa é a criação de canais de participação real de profes2 . h t t p : // w w w . b r e s s e r p e r e i r a . o r g . b r / papers/2006/06.3.ACriseDaEaesp.pdf
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sores, estudantes e funcionários no meio universitário, que oponham-se à esclerose burocrática da instituição. (...) A participação discente não constitui um remédio mágico aos males acima apontados, porém a experiência demonstrou que a simples presença discente em colegiados é fator de sua moralização.” Catorze dos dezoito docentes demitidos (16 em janeiro, o professor Zeitlin em fevereiro e o professor Norberto Torres, outro “insubordinado”, em 2008) entraram na Justiça contra a Fundação Getulio Vargas (os outros dois compuseram acordo). Muitos desses processos ainda estão em andamento (o professor Zeitlin foi reintegrado em 2008), e os professores são cuidadosos ao falarem do assunto. Um dos professores demitidos, que preferiu não se identificar para não comprometer o processo judicial que ainda corre, fez o seguinte desabafo à Gazeta Vargas recentemente: “A FGV tem utilizado todos os recursos, sempre de baixo nível, para ir jogando as ações das demissões irregulares que fez para frente. Seria inimaginável, há alguns anos atrás, pensar em uma FGV agindo desta forma, mas é típico de quem sabe que está muito errado.” Os jovens da nação A exclusão dos alunos do processo político na FGV repercutiu na força do Diretório Acadêmico Getulio Vargas com os alunos que representa. Traçando um panorama das gestões do DAGV desde 2007 até 2010, é nítido o declínio do nível de poder político e de mobilização da entidade estudantil. Durante a gestão 2005-2006 (Decisão), ocorreu a demissão do professor Michael Zeitlin. Aproveitando que o 1º andar estava cheio devido à cervejada que ocorria naquele 9 de março de 2006, os membros do Diretório mobilizaram os alunos para interditar a avenida Nove de Julho (por uns dez minutos, mas mesmo assim). A Gazeta Vargas publicou uma edição
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História Esquecida especial, impressa na xérox (#62,5) em que o presidente do DAGV, Fernando Oshima, dá um depoimento chamado “Pra não dizer que não falei das flores”, em referência às centenas de flores depositadas em frente à porta da Diretoria da EAESP após a manifestação. As gestões seguintes (Atitude! e Contato) seguiram fazendo firme oposição ao aviltamento do regimento antigo da EAESP, assim como à imposição da “Polaca”, o regimento outorgado pela Presidência. No entanto, a perda de espaço político na Fundação ocorria a olhos vistos. Logo após a indicação da nova diretora da EAESP, Maria Tereza Leme Fleury, no segundo semestre de 2008, foi proibido o consumo de cervejas nas dependências da Fundação. A gestão em exercício, Impacto!, pregou cartazes nas mesas do 1º andar e tentou negociar a volta da bebida, sem sucesso. Talvez o único resulta-
O ‘Repensar’ via um trade-off entre eficiência e democracia, e que naquele momento, convinha privilegiar a busca pela eficiência.
do dessa pequena mobilização tenha sido a extensão do consumo de alcoólicos também aos professores, no antigo Espaço Bohemia (hoje Clube dos Professores). Com a recente crise ocorrida no DAGV, que rachou a gestão Interação, será muito difícil recuperar o capital político e o poder de mobilizar alunos. Isso se reflete muito nos resultados das últimas eleições, em que a vitória foi definida por uma diferença de somente dezesseis votos e a FBK (no caso, FBKKK,
chapa que historicamente instiga o debate de maneira sardônica, sem pretensões reais de vitória), atingiu uma marca recorde de mais de cem votos - aproximadamente 15% do total Assim como a gestão da Escola não foi sempre como hoje, a falta de expressão política do Diretório Acadêmico é também uma característica conjuntural: não foi sempre assim. Há poucos anos – embora, como dito, quatro anos seja longo prazo para aluno de graduação – a atuação do DAGV na faculdade era bastante diversa. Não é à toa que,ironicamente, a imagem atual do DA serve como metonímia precisa do perfil geral dos gevenianos: resignados e indiferentes. Seria intencional o encaminhamento dos alunos em direção à resignação? O debate permite que o posicionamento crítico seja fundamentado em melhores premissas. Assim, é essencial que se promova a permuta de valores e opiniões pessoais se o objetivo for o combate a essa “apatia”, à resignação. É recorrente na Fundação que haja um debate durante as aulas? Ou a matéria nos é entregue com pragmática eficiência? A preservação da história incita a formação de questionamentos, na medida em que demonstra que o passado não é constituído por uma linha contínua de sucessões, mas sim de rupturas iniciadas pelo homem com vistas à alteração de determinado status quo , o que fornece a perspectiva de que a realidade é alterável. Assim, a homeopática preservação da história na FGV vai em encontro com a conveniente manutenção de um ambiente de resignação ao mundo. Compra-se a realidade, com todas as possíveis acepções do termo. Mas afinal, isso não seria positivo, considerando que quanto menos questionador o administrador de empresas, mais eficiente o seu trabalho? Sábio Taylor... ¤
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Radiografia FGV
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O que está em jogo no tribunal Depois de três anos, processos envolvendo FGV podem voltar a andar Fernando Fagá Pedro Henrique Veloso
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equipe da Gazeta Vargas vem levantando novas informações sobre processo judicial envolvendo a FGV Projetos, a PRODAM(Companhia de Processamentos de Dados de São Paulo) e a prefeitura de São Paulo, que vem se arrastando a algumas edições. Esse processo é referente a uma licitação concedida à FGV, contratada por notória especialização em serviços de informática, para modernizar o sistema de “escola on-line” do ensino municipal. Nesse caso, a FGV foi acusada pelo Ministério Público (MP) de subcontratar ilicitamente uma empresa de informática de Belo Horizonte, a Auge. Após algumas idas ao Ministério Público, ao Fórum da Fazenda Pública, conversa com um especialista e tentativas de contato com as partes envolvidas, a reportagem da Gazeta Vargas levantou novas informações. Obtivemos dados que apontam uma constante suspeita do MP sobre os contratos envolvendo a FGV e a prefeitura. Primeiro conseguimos acesso a partes de um processo e uma petição inicial, da qual se desmembraram 7 processos tendo como um dos réus a FGV. Procuramos as partes envolvidas que, mais uma vez, silenciaram. Estes processos têm perspectiva de voltar a andar depois de três anos parados, frente à aprovação da quebra do sigilo total do Instituto Florestan Fernandes (IFF). Essa figura, que ainda não havia sido citada ao leitor, consta na petição como sendo um instituto fundado pelo PT, que contava com membros do partido em seus quadros na época do
ocorrido. Ou seja, durante os anos de gestão da prefeita Marta Suplicy, que, na época, também era presidente deste instituto. Atualmente, essa organização não existe mais. Segundo uma carta publicada no seu site na internet (http: www.iff.org.br/iff/) o instituto passou por transtornos operacionais, financeiros e mesmo políticos. Algo inusitado para um instituto criado para modernizar a gestão pública. O Ministério Público moveu uma ação contra a FGV, o Instituto Florestan Fernandes e um dos secretários da ges-
As ações contra a FGV, o IFF e um secretário da gestão Marta, exigem o ressarcimento de verbas aos cofres públicos.
tão Marta e algumas outras empresas, exigindo o ressarcimento de verbas aos cofres públicos. Na visão do MP ocorre o seguinte: primeiramente, a FGV Projetos é contratada por meio de sua notória especialização. Essa notória especialização é ilegal dado que serviços de consultoria similares poderiam ser prestados por outras instituições como FIA e FIPE. Entretanto, há um debate jurídico a esse respeito. A lei de licitações e contratos, nº 8666/93, prevê casos de contratação sem licitação, em seus artigos 24
e 25. Dois deles têm como objeto instituições dedicadas ao desenvolvimento institucional e à contração de serviços singulares, enquadrando uma série de fundações. O IFF diz que tudo foi feito conforme a lei, que o Ministério Público errou ao acusá-los, que os contratos visavam o bem da sociedade e que essa instituição nunca possuiu vínculos políticos.
Controvérsias jurídicas Sucede a isso então o debate entre a tese da “unicidade” e a da “singularidade”. No campo do direito administrativo, segundo explicou à Gazeta Vargas o professor Carlos Ari Sunfeld, há um posicionamento geral de órgãos públicos reguladores de buscar o questionamento de licitações regidas sob a égide da notória especialização. Afirmam que esta deve ocorrer somente quando houver um ofertante único daquele tipo de bem ou serviço: esta é a tese da unicidade. A tese da singularidade, que normalmente é apoiada nos tribunais, diz que a contração por notória especialização deve ocorrer quando há singularidade do serviço contratado pelo poder público. Essa singularidade é decorrente da inexistência de termos objetivos de comparação entre diversas ofertas. Por exemplo, como comparar, somente por meio do preço, a qualidade e confiabilidade de um hospital? Seria recomendável olhar somente para o preço para essa tomada de decisão? Tal singularidade permite aos gestores públicos contratar serviços mais confiáveis em detrimento de outros de menor custo. Portanto, pode-se, segundo essa tese, aceitar a notória especialização da FGV Projetos, especialmente porque as consultorias realizam trabalhos de cunho intelectual. Nesse caso, a singularidade do serviço devido à falta de termo objetivo de contratação é facilmente defendida, segundo o professor Carlos Ari. Há um segundo ponto no processo que é ainda mais polêmico, nesse caso, assim como no processo abordado nas edições anteriores: a terceirização de
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mais que haja necessidade de subcontratação de serviços de terceiros, o MP criou suspeitas sobre o vínculo entre a FGV Projetos, a prefeitura de São Paulo os consultores e empresas terceirizadas. Daí, um dos motivos da dúvida suscitada pelo MP sobre a legalidade do contrato. Os terceirizados nesses processos, segundo consta na petição, aparentam possuir vínculos políticos e/ou pessoais ainda não completamente elucidados com as partes envolvidas, que não colaboram para a rejeição da hipótese de uso impróprio dos recursos públicos. Muitos dos consultores elencados nestes autos pertencem ao Instituto Florestan Fernandes, alguns são inclusive advogados de políticos do PT. Há, entre os consultores em um dos processos, a mãe de um membro do IFF e uma integrante do conselho editorial de uma revista (Teorias e Debates), fundada pelo PT. Em um dos contratos, no valor de R$ 3.648.260,87, tendo como contratante o ex-Secretário Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico, com o objeto de “Prestação de serviços de consultoria visando o desenvolvimento do sistema de apoio ao atendimento (SAA) para a praça de atendimento de finanças e desenvolvimento econômico”, o MP levantou dúvida sobre todos os quatro
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trabalhos. Um serviço de consultoria por vezes é de longa duração e considerável complexidade. Assim, é recorrente a necessidade de subcontratar partes do serviço para outras empresas/consultores de modo a auxiliar na execução do projeto. A cessão dos recursos de licitações é ilícita se ocorrer em bloco, isto é, se todo o serviço envolvido na licitação for repassado em sua totalidade para terceiros. No caso de transferência em pequenas partes não haveria, a priori, problemas, pois o dinheiro poderia estar sendo usado para contratar o serviço de especialistas, normalmente, para suporte em tópicos bem específicos. Desse modo, a contratação de consultores terceirizados, como os vinculados ao IFF, ou de empresas de tecnologia, como a Auge (de Belo Horizonte, subcontratada pela FGV no caso da PRODAM), nada teriam de ilícito. A irregularidade teria ocorrido se a FGV tivesse emprestado o seu nome para conseguir a dispensa das licitações e repassado o serviço na íntegra para outras instituições. Nos contratos aos quais tivemos acesso, o MP apontou algumas evidências que podem indicar que os projetos não foram feitos da forma mais impessoal possível. Por mais que a FGV Projetos seja notoriamente especializada e por
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A greve do judiciário atrapalhou a Gazeta Vargas
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consultores elencados para o projeto. Todos vinculados ao Instituto Florestan Fernandes ou ao Sampa.Org (instituição ligada ao IFF, sediado no mesmo prédio e andar). Isso incluiu a tesoureira desse instituto, Maria Theresa MacNevin Egger Moellwald, que responde pelo Instituto juntamente com a sua presidente, Maria Teresa Augusti. Em um outro contrato de valor semelhante, com o objeto de “prestação de serviços técnicos especializados de Consultoria e assessoria para a implementação e consolidação de novos processos e mecanismos diretos de atendimento ao contribuinte” foram elencados 6 consultores. Os 4 mesmos do anterior, um outro membro do IFF e um advogado que advogou para ex-prefeitos petistas de Santo André perante a justiça eleitoral em 2000. Daí vem uma pergunta a qual não conseguimos sanar por meio da nossa pesquisa: essas pessoas afinal, são ou não são contratadas regularmente pela FGV Projetos? O trabalho foi realmente terceirizado completamente para pessoas que não possuem vínculo algum com a FGV Projetos? A equipe da Gazeta Vargas buscou todas as partes, mas nenhuma quis dar declarações e praticamente todas as informações que foram utilizadas nesse texto constam nos autos dos processos. Essa pesquisa foi interrompida por uma greve no Judiciário que forçou o Fórum da Fazenda Pública, onde estão arquivados os processos, a fechar as portas indefinidamente. Os contratos analisados somam R$ 12.815.461,87 . Desse valor, mais de 4 milhões foram repassados para consultores, o que não é anormal. Porém, é sabido que o MP contestou mais licitações do que as aqui citadas. O que importa nesses casos é, em suma, quem são esses consultores, quem são os terceirizados e quais serviços exatamente eles prestaram. Devido a morosidade do Judiciário, é capaz que esse processo, que já se arrasta há anos, ainda demore para ser apurado. ¤
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Nota do Instituto Florestan Fernandes à Gazeta Vargas: Prezados Senhores, A respeito das ações do Ministério Público envolvendo a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Instituto Florestan Fernandes (IFF), propostas a partir de denúncias “absolutamente infundadas e equivocadas” veiculadas em jornal à época da campanha eleitoral de 2004, gostaríamos de registrar que: 1) Diferentemente do que sugerem as ações, a destinação de recursos para o IFF mediante contratos, no âmbito de convênios de cooperação técnica e científica com instituições como a FGV e a Fundep e conhecida e pode ser verificada por qualquer um. Resultaram em benefícios concretos para a modernização administrativa de políticas de assistência social, a melhoria do atendimento ao cidadão e a elaboração de planos
Lembrando... Alípio Ferreira Não é de hoje que a FGV se encontra envolvida com escândalos de desvio de dinheiro público. O caso da Prodam – explicado nas últimas três edições da Gazeta Vargas – é um exemplo até que bastante bem comportado. Em 2003 a revista IstoÉ publicou uma matéria que denunciava um esquema de corrupção envolvendo professores da FGV, em que a Fundação subcontratava empresas de terceiros – empresas de propriedade de professores da Fundação – em consultorias prestadas ao setor público. Dessa forma, consultores liga-
diretores em São Paulo. Todos os trabalhos do IFF no âmbito desses contratos foram conferidos e validados por essas instituições, de notória reputação e seriedade. 2) Aquilo que as ações traduzem como “triangulação” corresponde a uma relação contratual absolutamente corriqueira, regular e transparente entre organizações privadas com histórico de excelência na condução de projetos de interesse público. E natural que instituições como a FGV ou a Fundep agreguem a expertise de outras organizações parceiras, como o IFF, para melhor executar aspectos específicos de seus projetos. 3) O IFF não possui nenhum vinculo institucional com partidos políticos. Eventual simpatia ou militância política de pessoas que também atuam como seus consultores ou associados não constitui nem pode ser tomada como indício de “irregularidades”, e direito individual. A lista completa dos consultores que executaram os serviços mediante contratação de FGV ou FUNDEP, bem como a relação dos pagamentos por eles recebidos, foram devidamente entregues ao Ministério
Público, o que demonstra a transparência e responsabilidade do IFF no manejo dos recursos que administra. 5) O IFF lamenta o tratamento superficial e equivocado dado a instituição e profissionais sérios e competentes, causando-lhes danos irreparáveis. Essa situação já havia levado a inviabilidade de celebração de novas parcerias e contratos, por parte do IFF, com instituições públicas e privadas, a partir das denuncias publicadas. Mais recentemente, em 2009, forçou a total paralisação das atividades da organização e a formulação de um pedido judicial de insolvência, a fim de assegurar o respeito às prerrogativas de seus credores. A sociedade civil deixou de contar, assim, com uma de suas organizações mais legítimas na discussão e implementação de soluções inovadoras no âmbito o tema do aprimoramento da gestão publica brasileira como competência estratégica. 5) Está indicado no site www.iff. org.br : Respondem pela Direção do IFF, Maria Teresa Augusti e Maria Thereza M. Egger Moellwald, por decisão da Assembleia dos Associados em 2009. ¤
dos à FGV, que costuma ser contratada pelo Estado brasileiro sem licitação sob o argumento de “notória especialização”, conseguiam engrossar sua renda terceirizando o projeto solicitado à FGV para suas próprias empresas. Os casos de contratação da FGV por notória especialização são abundantes: para a Copa de 2014, o Ministério do Turismo contratou a FGV para “formular, implantar e monitorar pesquisas e metodologias de planejamento estratégico de turismo para a Copa do Mundo no Brasil” pela bagatela de R$4,6 milhões de reais,
SP, junho de 2010.
INSTITUTO FLORESTAN FERNANDES
segundo o site Contas Abertas. A Gazeta Vargas #80 dedicou uma extensa matéria para discutir a contratação, também sem licitação, da FGV para uma reforma administrativa no Senado Federal, que não deu em nada e vai começar de novo. No entanto, não tomamos conhecimento de nenhuma condenação da Fundação por esses casos, que aparentemente ocorreram todos dentro da lei. ¤
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O Fundo de Bolsas Um alívio financeiro aos alunos da FGV João Lazzaro
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FGV é, sem dúvidas, uma das faculdades mais conceituadas do país. Seja na área da administração, do direito e da economia, a FGV se pretende a ser o melhor curso do país. Para tal, são contratados os melhores professores e os melhores métodos de ensino e aprendizagem são aplicados, sem contar as vultosas quantias investidas em pesquisas. Fato que os alunos reconhecem, não é à toa que seu vestibular é concorrido. Porém, tanta qualidade tem um custo, e alto, aos bolsos dos alunos. Com mensalidades superiores a dois mil reais, um curso de graduação na FGV não sai por menos de R$96.000,00. Valor muito superior ao que a maioria dos brasileiros pode pagar. Foi pensando nisso que a FGV criou, em 1965, o fundo de bolsas, destinado aos alunos da graduação. Na realidade, trata-se de um financiamento, em que o aluno recebe um desconto na mensalidade, que pode chegar até a 100%, e deve reembolsar o fundo após o 5º ano de ingresso no curso, sem juros, apenas corrigido pela inflação. Hoje, o financiamento não é mais a única forma de auxilio concedido, existindo também as seguintes bolsas: material, transporte, moradia e alimentação. Vale ressaltar que o aluno deverá ressarcir todas estas bolsas, sendo que a única bolsa realmente concedida pela FGV é aquela obtida por mérito, ou aquela fornecida a casos excepcionais de alunos em condição sócio-econômica realmente complicada. O modelo criado pela FGV foi pioneiro e inovador. Desde então, alunos com grandes potenciais puderam se formar com maior facilidade. Pois, para a FGV, a dificuldade financeira poderia vir a atrapalhar o rendimento dos alunos.
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O modelo é hoje utilizado por diversas outras faculdades. A fundação Estudar, que concede bolsas meritocráticas, também se baseou no modelo da FGV e apesar de não haver a obrigatoriedade do reembolso, isto está implícito. Para se utilizar do fundo de bolsas o aluno deve, a cada inicio de semestre, enviar à comissão cópias do imposto de renda da família e uma carta explicando o porquê da necessidade do financiamento. Os critérios para a concessão, segundo o presidente do fundo de bolsas
Há relatos de que o fundo já foi concedido a pessoas cujos pais tiveram seus bens bloqueados pela justiça, filhos que brigaram com os pais e até mesmo a gripe eqüina já foi motivo para a concessão da EAESP, Profº Roberto Cardoso, são determinados por uma comissão composta pelo presidente da Associação Ex-GV, os coordenadores dos cursos de graduação, alguns professores designados a isso e o presidente do DAGV. A comissão leva em consideração a situação financeira de toda a família do requerente. Notas não são critérios para a concessão dos financiamentos, apesar de Cardoso dizer que é de “bom tom” pelo menos não ficar de dependências. Ter baixa renda não é o único motivo pelo qual o fundo é concedido: há relatos de que o fundo já foi concedido a pessoas cujos pais tiveram seus
bens bloqueados pela justiça, filhos que brigaram com os pais e até mesmo a gripe eqüina já foi motivo para a concessão. O fundo começou com uma doação inicial de aproximadamente um milhão de dólares e desde então, se mantém com doações de empresas, empresários e ex-alunos, além do reembolso obrigatório. Como a demanda pelo fundo é flutuante, há períodos em que ele é deficitário, tendo que se valer de recursos da FGV, e outros em que há sobra de recursos - neste caso o excedente é aplicado. O fundo de bolsas, apesar de ser utilizado por cerca de 17% dos alunos e ser aprovado pela maioria, também é alvo de reclamações. Aqueles que solicitaram bolsas alimentação, moradia ou transporte, reclamam do atraso do depósito destas, uma vez que o pedido é feito no semestre anterior e eles só vêm a receber no meio do semestre. Segundo Cardoso, estas reclamações não são de seu conhecimento, pois, toda a parte financeira é de responsabilidade do departamento financeiro da FGV, localizado no Rio de Janeiro - o que é feito aqui é somente a triagem dos alunos que devem recebê-lo ou não. Tem se notado um leve aumento na taxa de inadimplência do fundo. Porém, nada muito significativo, pois, para a maioria dos alunos que se utilizaram do fundo, é um orgulho pagar, afinal foi graças a ele que puderam se formar e pagar a faculdade Por fim, conclui-se que o fundo é uma boa forma que a FGV descobriu para captar bons alunos, não sendo somente um benefício para a fundação, mas também, para os alunos, que podem ficar tranqüilos que, caso venham a ter algum problema financeiro, isto não será motivo para abandonar a faculdade. Segundo o site da EESP “nenhum aluno deixou de estudar na FGV por falta de recursos financeiros”. Não conseguimos averiguar a veracidade desta informação, mas com certeza muita gente conseguiu se formar graças ao fundo de bolsas. ¤
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Gacetada!
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A FGV sabe jogar Banco Imobiliário? Novidades com o Hospital Matarazzo
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campus da FGV-SP é um tanto incomum quando comparado com o de outras faculdades. A separação física das escolas, com a ligação entre elas sendo feita em uma área não cercada é no mínimo inusitada quando visitamos ou conversamos com conhecidos de USP, PUC ou Mackenzie. Para esses alunos, ter o campus de suas faculdades marcado pela vastidão de uma área horizontal é algo interessante. É possível interagir mais facilmente com gente de diferentes cursos e ter uma sensação de liberdade maior ao não ter seu deslocamento pautado pelo vai e vem dos tumultuados elevadores, infindáveis degraus ou estreitos corredores. Há, por outro lado, um ponto questionável que seria a segurança. É aparente que a segurança de um prédio vertical é mais fácil de ser feita que a de um largo campus. Para nós, alunos da FGV-SP, sobram as consequências da disposição do arranjo físico verticalizado e isolacionista da FGV-SP, que todos bem conhecemos. O lotado primeiro andar, com seu visual quase idílico, é o tradicional ponto de encontro dos alunos das EAESP. No prédio de Economia, a confraternização ocorre no térreo, próxima a entrada do prédio ou nos bancos na parte de trás do mesmo andar. Já na EDESP, o lugar recém-eleito é a nova sede do Centro Acadêmico – a casa do CA - na Rua Itapeva. Mas, e se os futuros advogados, economistas e administradores se encontrassem em um lugar só? Obviamente a atual fragmentação física da FGV-SP torna esse evento um tanto quanto dispendioso para os alunos
tanto em termos de tempo quanto de calorias. Uma possível saída para o atual entrave seria a unificação das escolas em um mesmo campus viabilizada pelo uso do terreno do Hospital Matarazzo, um velho desejo da FGV-SP.
O cobiçado imóvel vizinho
hospital-matarazzo.blogspot.com/
Pedro Henrique Veloso
Mas o que impede? Conforme consta no blog da campanha para resgate do hospital, hospitalmatarazzo.blogspot.com, a história do hospital remete a vontade de abastadas famílias italianas da cidade que desejavam criar um centro de saúde de qualidade para os menos favorecidos. O conde Francisco Matarazzo catalisou o processo e em 1904 foi aberta a primeira ala. O hospital chegou a ser reconhecido como a melhor maternidade da América do Sul e foi abrigo também do primeiro banco de sangue do Estado de São Paulo. Entretanto, por falta de recursos, o hospital foi fechado em 1993 e vendido para a PREVI em 1996 por 68 milhões de reais na época. Somados 23 milhões relativos a pagamento de credores que ameaçavam ir a Justiça, o negócio custou a PREVI – Caixa de Previdência dos funcionários do Banco do
Brasil - R$183 milhões em valores atualizados. Diante das diversas notícias surgidas em tempos recentes na mídia sobre a venda do hospital para um sem número de donos, a Gazeta contatou a PREVI para ficar a par das negociações. Entretanto, o simples fato de fazer GV, diferente do que muitos pensam, não abriu todas as portas para nós. A assessoria de imprensa da instituição disse que não poderia dar nenhuma informação pois as negociações correm sob sigilo comercial. Em um primeiro instante, foi noticiado que o terreno do hospital havia sido comprado pela PUC-SP, que pretenderia utilizar parte do espaço como campus. Entretanto, dias após essa primeira notícia, surgiu um novo fato noticiado pela Folha de São Paulo que o terreno haveria sido na verdade adquirido por um fundo pouco conhecido, o fundo WWI, com supostas ligações com os Emirados Árabes. Em seu site, o fundo diz atuar com foco nos mercados brasileiros de infra-estrutura, imobiliário, energia, energias renováveis e tecnologias. Nas notícias, em momento algum, aparece o nome da FGV veiculado junto às negociações do terreno. Quem ri por último, ri melhor? A fim de saber a posição da FGV-SP sobre o andamento das negociações, a Gazeta Vargas procurou a Diretoria de Operações, que preferiu não se pronunciar a respeito do assunto. Entretanto, a vice-diretora da EAESP, Maria José Tonelli, em visita as salas para comentar as mais recentes conquistas acadêmicas da Escola, foi indagada por um aluno sobre o fato da FGV ter ou não feito uma proposta pelo terreno. Ela comentou brevemente que a FGV havia feito uma proposta para a PREVI. Resta, por enquanto, aguardar o desfecho do caso. Sem dúvida alguma, os interesses são muitos e aptos a ir não se sabe até onde, em termos financeiros e políticos, para arcar com o jogo – jogado com os dados da fortuna e o peso da influência - e conquistar esse terreno. ¤
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Coluna de Tecnologia
Lançamentos do Estado da arte Daniel Fejgelman
O último mês esteve cheio de eventos para apresentar os lançamentos em serviços e tecnologias voltados aos consumidores finais. A Apple fez o lançamento do seu iPhone 4G, a Google mostrou a Google TV e foram apresentados vários tablets na feira de tecnologia Computex 2010, com destaque para aqueles com sistema operacional Android.
A reinvenção do iPhone... O celular apresentado nas mãos de Steve Jobs fascinou os seguidores da maçãzinha ao introduzir mudanças radicais no modelo que praticamente não foi alterado, desde seu lançamento em 2007. A nova versão, o iPhone 4G, que apesar do nome não possibilita o uso de internet 4G, está cheia de novidades como a bateria maior duração e o processador mais potente. As mudanças mais radicais, no entanto, vieram da tela que teve sua resolução duplicada (o que quadruplicou a densidade de pixels) e do novo serviço de vídeo-chamadas, apelidado de Facetime e que funciona apenas entre iPhones 4G e somente quando conectados a uma rede WiFi. A apresentação só não foi mais emocionante porque, semanas antes, um prototipo do aparelho foi encontrado pela imprensa internacional e suas fotos aparecem no site “gizmodo.com”. Segundo relatos não oficiais, um funcionario descuidado da Apple teria perdido o aparelho em um botiquim no Vale do
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Silício. Para piorar a situação para a Apple, a sede do site gizmodo foi invadida por policiais que levaram servidores e revistaram o local atrás do celular. Certamente um episódio triste para os seguidores da marca e para a liberdade de imprensa.
Google TV... Diferentemente do previsto, o cinema não morreu com a invenção das fitas de vídeo e, pelo contrário, incorporou novas tecnologias digitais, melhorou sua definição e, atualmente, ofereçe experiências realistas em 3D. A TV certemente não irá perecer, mas seu formato deve mudar significativamente nos próximos anos, ao menos no mercado americano. TVs que acessam a internet já são realidade, mas o conceito introduzido pela Google se pretende mais completo e abrangente. A idéia é oferecer um sinal de televisão de alta definição transmitido via web oferecendo o acesso a diversos canais de distribuição de conteúdo como a Netflix e a Amazon. Resumindo a idéia: Será possível ver qualquer conteúdo pago e gratuito fazendo uma simples pesquisa google na sua TV.
Ebooks nacionais... O conceito de livro digital é antigo e a venda de aparelhos para lêlos que não cansam a vista também não é de hoje, apesar de tudo, o mercado nacional agora parece estar preparado para receber essa velhanovidade. O primeiro modelo a ser vendido no Brasil é da marca Cooler,
comercializado pela Gato Sabido, uma loja virtual cujo catálogo internacional de livros já apresenta mais de 100.000 obras. Nos próximos meses, teremos um grande player entrando no mercado nacional, a Positivo, que divulgou fotos de seu protótipo chamado (alpha). O leitor terá uma tela de 6 polegadas, sensível ao toque e com 2GB de armazenamento e será montado no Brasil. Se a ideia emplacar,ele irá alavancar a indústria de livros nacional, uma vez que os ebooks incentivam a competição, reduzem os preços, fomentam o surgimrnto de escritores independentes, além de trazer mais facilidades aos leitores.
Android em novo corpo... Segundo uma pesquisa realizada pela empresa AdMob em todo o mundo, foi identificado que no Brasil já existem mais de 2000 iPads. O número surpreendente indica a aceitação do produto pelo mercado que hoje é composto, em sua maioria, por usuarios que querem deixar seus notebooks em casa e andar com um display touch de 700 gramas, vulgo iPad. Para os geeks, viciados em tecnologia,que não aguentam mais ouvir falar de Apple, temos uma boa notícia: Recentemente foram lançados alguns tablets para Windows 7, Linux e Android. Os dois primeiros são para viciados em computador e que precisam instalar programas sem abrir mão da mobilidade que um tablet traz. Já aqueles que apresentam o sistema operacional Android vem para competir diretamente com o iPad e devem rodar todos os aplicativos do Android Market. Em breve, aguardamos que a Google lance um pacote para desenvolverdores criarem aplicativos otimizados para as telas grandes dos tablets. ¤
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Coluna do RK
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Tiros nos pés, no peito, na cabeça...
Culpados e inocentes entre israelenses e árabes Rafael Kasinski
Ao invés de respostas, perguntas. Talvez esse seja por ora um caminho mais produtivo, já que poucos questionam temas elementares. Por exemplo: A inépcia política dos árabes é tão grande que o melhor que eles hoje conseguem fazer é embarcar junto à uma irresponsabilíssima provocação do governo turco aos israelenses? São os governos árabes tão incapazes de acertarem sobre algo que não sua própria mediocridade que assistirão passivamente à Turquia cinicamente assumir o posto de salvadora dos palestinos? São os palestinos tão inábeis e fissurados que não serão capazes de se unir porque acham que a revolta do mundo para com Israel eleva-se à estatura de uma arma? Os palestinos certamente não são apenas vítimas, pois se só isso fossem, não passariam, como tantos acham, de animais. São, isso sim, seres humanos, e como seres humanos, cometem erros e acertos, têm sucessos e fracassos. O patronato da Turquia certamente não figura como sucesso, dado o terrorismo de estado que ela pratica contra os curdos há décadas. Ou os palestinos não enxergam nos curdos situação similar à sua? A tristeza que nos acomete quando vemos o sofrimento imposto aos palestinos, tanto por Israel e seus Adoradores (ISA) quanto pelos árabes, é, no entanto, unidimensional? Ele vem apenas da brutalidade do vizinho-irmão e de injustiças his-
tóricas? E a vitimização? Como já observou Tony Judt, entre outros, a vitimização palestina é uma das características que os aproxima dos sionistas. E essa vitimização não é à toa e nem pouca coisa: Israel foi fundado não só após a ONU cometer erros grosseiros e históricos, mas também na base da limpeza étnica1. Mas tal vitimização ajuda? Ela põe comida sobre a mesa? Ela traz paz? Talvez ISA ajudem a responder a essa pergunta.
A razão mais frequentemente usada para desculpar qualquer ação israelense, seja ela limpeza étnica, desrespeito às leis internacionais, ou o uso indiscriminado de bombardeios contra alvos civis2, são os crimes perpetrados pelos alemães durante sua época nazista, comumente conhecido como Holocausto. Particularmente marcantes para mui1. Ver Pappe, Ilan. The Ethnic Cleansing of Palestine. Oneworld: Oxford, 2006. A operação para expulsar os Palestinos foi o Plan Dalet. Segundo o autor, tal projeto de expulsão continua até os dias de hoje. Pappe, aliás, faz parte da geração dos Novos Historiadores israelenses que, através do trabalho de acadêmicos como Benny Morris, Avi Shlaim e outros, vem desmistificando a história de Israel desde os anos 80. Infelizmente, raros árabes fazem o mesmo desde então para com suas histórias. 2. Só a Comissão MacBride, que investigou a invasão do Líbano por Israel em 1982, já é atordoante.
tos são os crimes cometidos contra judeus onde os nazistas, em meio a delírios de grandeza e alucinações a respeito de vastas conspirações sobre a eminente tomada do mundo pelos judeus, resolveram que seria proveitoso exterminá-los todos. Foram os nazistas a culminação de séculos de um comportamento antijudeu europeu – e particularmente alemão-violento e virulento, e as imagens que surgiram ao final da Segunda Guerra Mundial, que mostravam os campos recém libertados por soldados aliados, eram brutais. O que, então, fazem Israel e seus Adoradores, usando a memória destas milhões de pessoas -judias ou não - como razão para que Israel tenha carta branca para fazer o que bem entende?! Isso não é apenas um descalabro à memória dos que sofreram nas mãos dos nazistas: isso é o auge, o ápice do cinismo! Isso torna o mais-do-que-real sofrimento de palestinos, libaneses e tantos outros em mero obstáculo retórico. E o que fazem tantos árabes, persas e afins, caminhando destemidos ao mesmo destino retórico torpe?! O que fazem tantos odiadores de Israel pensarem que o sofrimento imposto aos palestinos vale o que grupos como Hamas e Hezbollah pregam e praticam? A história, por mais recente e trágica, vale a negação de uma realidade tal como a existência de Israel? Ora, não está lá ele, o Estado em questão? Não há nele civis, gente, pessoas? Às vezes, quando há breves silêncios entre as inépcias e os cinismos dos habitantes do Oriente Médio e das potências Ocidentais correlatas, pergunto-me: haverá Israel depois de exterminados os sonhos (e os próprios) Palestinos? Haverá Palestina após a destruição de Israel (e os próprios israelenses)? Duvido. Vamos todos nós termos que pagar para ver? Se depender de Irã, EUA, Turquia, Israel... ¤
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SeuEspaço-Empreendedorismo
Instituto Tellus Marina Amaral Emygdio Neto Felipe Salto Germano Guimarães
São formados pela FGV-SP e fundadores do Instituto Tellus
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izem que a nossa geração é ansiosa por mudanças de todos os tipos – econômicas, políticas, sociais, culturais, ambientais – que é responsável, preocupada com os problemas e desafios do mundo e, ao mesmo tempo, segura de que o homem tem o poder e a criatividade para solucioná-los. Falam que somos movidos por valores como engajamento, responsabilidade cívica e colaboração. Nossa geração também é considerada aberta, com pensamento empreendedor, que abraça a inovação e a tecnologia, que é pragmática, que quer crescer e fazer agora, mas não fazer qualquer coisa, pois busca no que faz um sentido maior, uma contribuição para além de si. Provavelmente essas características geracionais estão presentes em nós, em maior ou menor grau, e nos tornaram mais propensos a empreender. No entanto, foi a busca por encontrar um caminho que aliasse a paixão (o que nos move), o talento (o que sabemos fazer), a consciência (o que acreditamos que temos que fazer) e a necessidade (o que o mundo precisa), o fator determinante para que nós, quatro amigos formados na Fundação Getúlio Vargas, resolvêssemos criar a iniciativa apresentada neste espaço. Porém, o que fazer quando a paixão é Governo? Se o que você quer fazer de sua vida é mudar o país da perspectiva do Governo, como montar um negócio quando
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o problema – oportunidade com o qual o grupo queria trabalhar - é a incapacidade do Estado brasileiro em realizar uma série de reformas, em alocar e priorizar os recursos, bem como atuar de forma a atender às demandas da população? E o distanciamento entre sociedade, política e governo? Parecem desafios complexos e grandes demais e faziam-nos ter questionamentos, tais como: será que é possível fazer algo de efetivo para lidar com essas nossas inquietações e insatisfações em relação ao Governo? Quais são as iniciativas que saem da discussão para focar na ação, que não são simplesmente “mais do mesmo”? Conscientes do desafio de trabalhar com Governo, cada um com
Durante o processo, ficou bastante claro para nós a necessidade de mudarmos a imagem que se tem do Governo um histórico de quatro anos de experiências pessoais e profissionais relacionadas ao setor público, o grupo se uniu pela crença de que, para se ter um Governo diferente, é preciso mudar a maneira como enxergamos e nos relacionamos com ele, a fim de que seja possível inovar e formar uma rede de pessoas que queiram pensar a administração pública “fora da caixa”. Por mais que o objetivo final da iniciativa estivesse muito claro, de 2008 a 2009, passamos por um ano repleto de conversas com
muitas pessoas, reflexões, trabalho, escolhas, pesquisa, análise e visitas a organizações que pudessem nos inspirar na Europa e nos Estados Unidos, de angústia por querer começar a agir mesmo sem saber ao certo como, e de construção e reconstrução do projeto. Este período foi fundamental para que encontrássemos o papel da organização e o formato das iniciativas para que, por meios delas, pudéssemos contribuir efetivamente para um Estado mais dinâmico, eficiente, inovador, transparente e próximo, responsivo e representativo, capaz de inspirar jovens de nossa geração a serem agentes de transformação dentro do Governo. Durante o processo, ficou bastante claro para nós a necessidade de mudarmos a imagem que se tem do Governo e, para tanto, tomamos para nós o desafio de simplificar a linguagem usada no meio público, de forma a tornála mais leve, acessível e atraente. Ademais, desafiamo-nos a construir uma marca que remetesse à inovação, criatividade, abertura e transparência, a fim de começar a dar uma “cara” diferente para temas ligados a Governo. Decidimos mudar não só a linguagem e os canais, mas também, a perspectiva sobre a qual se fala do país, dando enfoque às soluções já existentes e que estão dando certo para determinada questão pública. Assim, partimos de iniciativas pontuais que pudessem ser expandidas, ao invés de focarmos nos inúmeros problemas e desafios com os quais já sabemos que o Brasil ou o Estado têm que lidar - afinal, apesar de existirem projetos inovadores e promissores, muitos ficam restritos a sua própria localidade de origem. A disseminação dessas soluções já existentes e dessa imagem de
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gazetavargas@gvmail.br um Governo diferente é essencial para atrairmos jovens (novas idéias, novo espírito) para a área pública. Afinal, só vamos inspirar nossa geração a fazer parte da construção de um Governo ideal para o futuro se mostrarmos o mesmo como sendo um campo de possibilidade, como uma organização desafiadora, em que o potencial de impacto é enorme e em que é possível, SIM, fazer mudanças e se ter uma carreira. A partir dessas constatações e reflexões, surgiu em 2010, o Tellus, organização sem fins lucrativos, suprapartidária, que trabalha com inovação (disseminação e desenvolvimento de soluções inovadoras para Governo) e contribui para a formação de uma nova geração de líderes públicos e de uma comunidade política de pessoas que busquem uma administração pública diferente.
Se, por um lado o desafio de encontrar a forma de atuação da organização foi superado, agora temos o de garantir sua sustentabilidade financeira, além de fazer com que os projetos do Tellus realmente sejam capazes de inspirar jovens a atuarem no Governo, de forma a levarem mudanças e inovações ao Estado e estimular a formação de uma rede de pessoas que queiram construir um novo Governo e uma nova Política. O trabalho e os desafios não acabam nunca. No entanto, de nossa trajetória até aqui, pudemos tirar algumas lições que, com certeza, servirão daqui para frente e em outras iniciativas empreendedoras. Brilho no Olho: as pessoas compram o que você acredita antes de o que você faz Sonhar alto e acreditar que é possível
Muita dedicação, trabalho, perseverança e clareza de valores e de onde se quer chegar União, sintonia, transparência e sinceridade entre o grupo. Um deve ser fonte de inspiração e de segurança do outro. Ir para fora: conversar, conhecer pessoas e experiências diferentes, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir e ouvir. Cultivar a rede de relacionamentos e conseguir padrinhos e coachs para o projeto Identificar oportunidades e estruturá-las em projetos, dar a cara para bater e botar para fazer Tentar, tentar, ter paciência e não desistir se o grupo de empreendedores e pessoas relevantes para o negócio realmente acreditam na viabilidade do negócio “Lá, onde meu talento se encontra com a minha paixão, está o meu caminho para contribuir com um mundo melhor”. ¤
EstamosNoMeioda Revolução! Dany Simon
Aluno do oitavo semestre de Economia e idealista Na segunda-feira 12 de abril a Carta Capital lançou um suplemento verde em um evento no Tuca, teatro da Puc. O evento trouxe grandes nomes da sustentabilidade, como Marina Silva, senadora e pré-candidata à presidência, Luiz Gonzaga Beluzzo, economista, Ladislau Dowbor, também economista, Tasso Azevedo, do Ministério do Meio Ambiente, Guto Quintella da Vale e Linda Murasawa, do Santander, empresas que patrocinaram o evento. Marina Silva discursou cerca de uma hora. Falou bastante sobre o desafio que o Brasil enfrenta na
transição para uma economia de baixo carbono. Fez um breve histórico acerca do problema das mudanças climáticas, causadas pelo
Há uma mudança no modelo de desenvolvimento aumento das emissões globais de gases de efeito estufa causadas pelo homem. Lembrou das responsabilidades dos países desenvolvidos e em desenvolvimento na resolução desta questão. Como consta no Protocolo de Quioto, lembrou que há “responsabilidades comuns
porém diferenciadas”. A senadora insistiu na necessidade de haver um diálogo, que por sua vez deve ser entre empresários, sociedade civil e governo. O Brasil deve aproveitar as oportunidades nesta questão, que são muitas, principalmente na geração de energia, com largas vantagens comparativas, e se atentar aos riscos. Uma frase que proferiu e vale ser repetida é que o Brasil tem “responsabilidade política e dever ético de atuar”. Deve também proporcionar um “constrangimento” ético, criando uma estrutura de regulação. É importante ressaltar que está havendo aqui e no mundo uma mudança no modelo de desenvolvimento, onde posso opinar que é
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uma mudança para melhor. Para isso precisa criar os incentivos corretos, sejam eles econômicos ou não. Parodiando uma psicanalista argentina, disse ainda que deve haver uma “desadaptação criativa”, indicando para uma sociedade com novos paradigmas, com um novo modo de consumir e de produzir. “No começo, a mudança é apenas um desvio” também aponta para este caminho de ruptura, onde aos poucos estes desvios começam a ser o padrão. Por fim, diz ainda que deve-se ter uma “visão antecipatória de mundo e país”, onde a visão de sustentabilidade tende a ser uma realidade no futuro. Conceitos como felicidade, bem-estar e riqueza devem ser repensados. Uma das variáveis que indica a saúde econômica de uma nação é o PIB. Contudo, este é apenas um indicador de crescimento, e não de desenvolvimento. Está preocupado com o aumento do consumo, aumento da riqueza, e não de uma maior distribuição de renda entre os cidadãos. É uma pena, mas a tendência é que este tipo de indicadores mude com o tempo. Após ela, falaram os empresários da Vale e do Santander. Linda Murasawa atentou para o papel das empresas perante os desafios do aquecimento global, dizendo que estas devem ter um papel proativo. Citou tambpem a Plataforma Empresas Pelo Clima, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, GVces, no qual ambas empre-
Maurits Coensllis Escher
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Seu Espaço sas fazem parte. Ladislau fez breve discurso, mas falou muito bem. Falou sobre os dez mandamentos que descreveu para este novo mundo. Por fim, Tasso atentou para o fato de que a Conferência de Copenhague não ter sido um fracasso como a mídia insiste. Esta faz parte de um processo no qual o mundo está passando, e que em breve virá um acordo internacional, que será traçado com base no que já está em andamento, e há muito sendo tri-
Há muito sendo feito no Brasil em termos de combate ao aquecimento global (...) e o mundo empresarial vem tomando consciência da seriedade deste tema
lhado pela sociedade civil, governos e empresas. Também lembrou do papel fundamental da adaptação ao novo cenário, que ao lado da mitigação se faz necessária. As mudanças climáticas causarão grandes impactos, e os agentes deverão se adaptar a um novo contexto. Após esta densa manhã de muito conteúdo saí bastante conten-
te. Há muito sendo feito no Brasil em termos de combate ao aquecimento global. Políticas estaduais e municipais estão se proliferando, organizações da sociedade civil mobilizam cada vez mais pessoas e o mundo empresarial vem tomando consciência da seriedade deste tema e atuando nas diversas frentes, como por exemplo pressionando o governo federal para a regulamentação da Política Nacional de Mudanças Climáticas. Para quem não sabe, esta prevê que o Brasil deverá reduzir suas emissões com base em uma projeção do que emitiria em 2020, ou seja, é completamente fictícia e manipulável. Metas claras são muito importantes. Parodiando o glorioso professor polonês Ignacy Sachs, estamos em meio a uma terceira grande revolução. A primeira foi a Revolução do Neolítico, quando o homem se sedentarizou. Depois veio a Revolução Industrial, onde os meios de produção sofreram enorme expansão. Estamos em meio a quebra de paradigmas e a criação de uma nova sociedade. Estamos mudando nosso modo de consumir. O consumo de uma sociedade reflete diretamente nela. Por que precisamos comer cerejas chilenas em meio ao inverno francês? Um novo modo de consumir, mais racional está por vir. Assim também está havendo uma mudança nos meios de produção, que aos poucos vão tornando-se mais verdes. Tudo isso colaborando para uma sociedade mais justa. Não estou aqui para defender nenhuma ideologia política. Não estou aqui para fazer campanha para partido nenhum. Quero apenas expressar minha felicidade ao poder constatar que a sociedade está caminhando lentamente para uma sociedade melhor, mais verde e mais justa… Tomara que eu esteja certo! ¤
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O Perigo nas Soluções Fáceis Bruno Barsanetti
Aluno do sexto semestre de Economia a última edição da Gazeta Vargas, o aluno Ismael Cavalcante escreveu um texto em que defendia um imposto sobre transações financeiras, o imposto “Robin Hood”. Baseado em um comentário de Dani Rodrik publicado no Valor Econômico, Cavalcante inicia seu argumento descrevendo, em cores vivas, a crise financeira recente. Para o autor, o sistema financeiro seria um circo, no qual “qualquer banco podia emprestar para qualquer um” e “qualquer um podia pegar dinheiro para comprar qualquer coisa”, simplesmente porque “ninguém estava prestando muita atenção”. É fácil perceber como essa justificativa, baseada no senso comum e em argumentos de autoridade, é fraca. Por exemplo: seria muito pior se os bancos não emprestassem para ninguém ou se o crédito só pudesse ser usado com uma finalidade específica. Com certeza, o setor financeiro não é eficiente, mas essa situação é provocada principalmente por problemas relacionados à (falta de) informação disponível para os agentes. Além disso, a atividade financeira é uma área na qual prestar atenção é essencial. Obviamente, os bancos poderiam ser mais bem regulados, mas o fato é que as mudanças necessárias têm de ser feitas após uma discussão séria e sensível, que analise cautelosamente as conseqüências das mudanças propostas. Infelizmente, conclusões precipitadas e soluções fáceis são muito comuns em praticamente qualquer decisão tomada na nossa sociedade. São prática freqüente tanto dos tribunais de jus-
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tiça como dos debates para as eleições do DA. Fazem com que aqueles que as propõem não pareçam incompetentes, evitando a inconveniência de ter que dizer que não sabem. O gestor de uma empresa que apresenta uma solução fácil em uma reunião, o professor que improvisa uma resposta quando tem de responder a uma pergunta difícil,
Se encontrar soluções para os problemas fosse tão fácil assim, então por que estudamos direito, administração ou economia? o político que promete qualquer coisa ao eleitor ou o jornalista que não é suficientemente rigoroso ao escrever uma reportagem são protegidos, com essa atitude, de terem que participar de uma discussão mais inteligente, desgastante e sem respostas claras. O prejuízo, por sua vez, recai sobre todos aqueles a quem a decisão afetará. Quem visitar o site da proposta defendida por Ismael Cavalcante (www. robinhoodtax.org) e ter o prazer de assistir a alguns dos vídeos que divulgam o imposto, verá como não há qualquer discussão séria sobre a idéia, com todo o argumento baseado em idéias simplistas e em um populismo de péssimo gosto, que incomodaria até mesmo Michael Moore. No entanto, os vídeos são bem-feitos e contam com atores famosos, como Ben Kingsley.
Se encontrar soluções para os problemas fosse tão fácil assim, então por que estudamos direito, administração ou economia? Por mais que o senso comum seja atraente, é nossa obrigação com a sociedade, que já nos deu tantos privilégios, fundamentar as nossas ações sobre um método coerente, buscando analisar seriamente cada problema e os efeitos das ações a serem tomadas. Não que não haja mérito na proposta de taxação das transações financeiras. O economista James Tobin, em 1978, propôs uma tarifa sobre a movimentação internacional de capitais. No entanto, para Tobin o problema principal não residia na ineficiência do sistema financeiro, mas na dificuldade com que os preços dos bens e os salários tinham em se ajustar às mudanças freqüentes dos preços dos ativos financeiros. Logo, a tarifa não atacaria a raiz do problema, mas reduziria as conseqüências desse desequilíbrio. Além disso, um imposto sobre transações financeiras também pode servir para corrigir outros desequilíbrios. De fato, o socorro aos bancos provocou o aumento dos gastos públicos, e esse imposto poderia financiar parte desse déficit. Contudo, é provável que essa medida resulte em maiores distorções, com recursos sendo redistribuídos dentro do sistema financeiro para bancos ineficientes e mais propensos a assumir riscos. Mesmo que a taxa seja aplicada somente sobre os bancos mais importantes, os “too big to fail” a própria classificação das instituições nessa categoria poderia gerar distorções significativas. Logo, o imposto por si só não é uma solução, embora possa ser um componente importante de um plano mais elaborado de regulação. A própria dificuldade de entender todas as relações dentro do sistema financeiro torna necessário um enorme esforço para propor as melhores políticas de regulação. Há, ainda, após toda a ajuda aos bancos, uma enorme urgência em encontrar soluções. Que sejam soluções inteligentes, por mais trabalho que isso traga. ¤
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O diálogo entre o economista e o administrador Diogo Bardal
É formado em Administração Pública só falar em gasto público que os economistas fazem alvoroço. Eu sei porque também sou estudante de economia. É como no conto de Hegel em Wer denkt abstrakt, (em português, Quem pensa abstratamente?) em que a vendedora ouve que seus ovos estão podres e logo responde: “Podre é você!” E então tudo mais ganha a cor dos ovos podres e não é possível mais dialogar. O aluno Vítor Augusto Possebom, na edição #84 da Gazeta Vargas, enviou resposta ao meu artigo da edição #83, O Inchaço da Máquina Pública. Primeiro, queria sintetizar os argumentos do Vítor que, para alguém que não acompanhou a edição passada, possa entender a que me refiro. Segundo Vítor, meu texto, que era basicamente um diálogo entre um administrador e um economista, apresentava a opinião de que o governo “deve proceder da forma como vem agindo”, ou seja, de que o governo deve continuar ampliando seus gastos. Ele discorda de que o governo deva proceder ‘da forma como vem agindo’ pois o Brasil tem uma elevada carga tributária e oferece serviços públicos de baixa qualidade. Então, os economistas têm razão em criticar o inchaço da máquina pública. Além disso, eu teria sugerido no texto que os economistas não se preocupariam com os ‘aspectos humanos’ no sistema econômico. Mas, segundo ele, eu ignoraria que há modelos de
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crescimento econômico que consideram o capital humano na função de produção, e, logo, minha afirmação seria falsa. Bem, sobre essas afirmações, gostaria de dizer que elas não tem nada a ver com o escopo do meu texto, e que Vitor está discutindo coisas completamente diferentes. Nesse sentido, ele não dialogou comigo e disse que podre era eu, por apoiar a farra fiscal. Mas como acredito no diálogo, vou esclarecer meus pensamentos: O governo deve continuar ampliando seus gastos? Essa é uma questão que certamente não era a do meu texto. Se Vitor quiser uma opinião sincera, eu acredito que o governo deva aumentar seus gastos quando isso é conveniente, e depois diminuir quando for oportuno. Quando é conveniente? Ora, isso quem diz é a análise da economia política. Mas um ano de recessão mundial parece-me um período conveniente para se fazer políticas anticíclicas... Mas como disse, minha questão era outra: gastos correntes elevados são ruins? Ora, do meu texto, depreendese que não necessariamente! A crença geral, em vez disso, é de que investir é bom mas contratar não. Eu argumento que isso é logicamente falso, uma vez que todo o investimento gera uma contrapartida de gastos correntes no futuro. Além disso, os gastos correntes são a alma do serviço público e por isso usei a imagem do Estado como um grande hospital. Veja, caro Vítor, são os desenvolvimentistas os primeiros a demonizar os gastos correntes e can-
tar as belezas do investimento público do Estado-fábrica. Estou dizendo, em bom português, que esta dicotomia é burra. Mas meu colega Vitor não se contentou em confundir as bolas, ele colocou mais gente no samba: que feio eu dizer que os economistas não consideram o fator humano! Eles consideram sim, colocando uma letra “H” na função de produção dos modelos de desenvolvimento! Ah sim, o “H” é de “Humano”! Isso deve bastar, uma letrinha deve bastar... Bem, em relação a essas adaptações do modelo de Solow, e dos modelos de crescimento endógeno, eu poderia levantar muitas objeções que não caberiam neste espaço. Mas, para começo de conversa, eu não sei se é metodologicamente correto caracterizar uma economia por meio de uma função de produção agregada. Por exemplo, para construir as curvas de isoproduto, é necessário que a quantidade de capital seja independente dos salários e da taxa de lucro; também, o intercepto da curva só pode ser definido quando os preços relativos dos fatores são já dados; e H e K não podem ser agregados a menos que sejam considerados como homogêneos, o que é forçar a barra demais; enfim, são modelos que exigem muitas hipóteses ad hoc para suportar críticas de Sraffa e Robinson, e eu penso que devam ser abandonados de vez. Mas novamente, essa não era a questão que eu estava discutindo. Eu estava mais “pé no chão”, e dizia apenas que o tamanho da rubrica do investimento não é critério para dizer se o governo gasta bem. Vítor citou os números e disse que temos um desempenho pífio na educação, que não temos acesso a água potável, que morremos empoleirados nas favelas e prisões. Porque isso acontece? Não é por que pensamos, durante toda a república, o desenvolvimento do Brasil sob a ótica do concreto armado e do óleo de rícino? Estes ovos estão podres, meu caro Vítor... ¤
GAZETA VARGAS
Gazeta Várzea
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Misantropia
Ricardo Marchiori
U
ma boa técnica para se conviver com um sentimento intenso de misantropia é separar as pessoas em “pessoas que não me incomodam se eu conversar com elas por mais de 5 minutos” (alguns preferem chamá-las de “Amigos” para encurtar) e o Resto, divididos nas seguintes subclasses: Babacas, Imbecis, Otários, Burros e Medíocres. Por exemplo, considere aquela colega de classe que agora no final do semestre adora se martirizar e contar para todo mundo como “está quase bombando” e adora reclamar da “carga de leitura” mas é, entretanto, uma pessoa educada: isto faz dela uma Imbecil, mas caso você não se importa se as pessoas são minimamente educadas ou não, podese então considerá-la uma Babaca, ou ainda mais, uma Babaca Escrota (que é a adição de uma Imbecil com Babaca). Se além de tudo ela for burra, ela ainda é uma Babaca, mas é, por inferência lógica, uma Babaca Burra. Caso ela reconheça ser burra, ela é sincera mas isto não entra nesta equação que eu arbitra-
riamente inventei e ela continua sendo Burra. Para os confusos aviso que a lógica interna deste sistema de medição está sendo analisada e estudada pelos meus melhores assistentes, infelizmente alguns são Burros, e em média outros tantos se localizam no espectro entre Imbecis e Medíocres, podendo alguns, entretanto, serem Babacas. Quero ressaltar que este método na verdade tem mais o propósito de divertir os misantrópicos do que de fato ter alguma utilidade real, uma vez que todas as classificações são inofensivas, quando muito irritantes – exceto é claro a Vaca Escrota, espécie perigosíssimo pois sua natureza tende ao debate sem sentido e à uma lógica deturpada que busca mostrar que ela está sempre certa, irritando os mais misantrópicos ao ponto de muitos estarem atualmente presos por homicídio culposo (e por terem sido presos se tornaram, é claro, Imbecis na visão dos misantrópicos livres). É verdade que em algumas situações nos depararemos com pessoas cabíveis de serem consideradas “Inteligentes” mas é importante observar que após certa convivência e observação cuida-
dosa destes seres eles poderão infelizmente serem rebaixados a categoria de “Hipócritas”, a questão aqui é que quem considerar o outro hipócrita primeiro é o mais inteligente. Infelizmente acusar o outro de hipocrisia é pouco normal - a não ser que seja um debate, ainda mais quando o assunto são drogas ou ambientalismo – e assim nenhum destes seres saberá qual é de fato o mais inteligente, prevalecendo sempre a opinião óbvia de que cada um se considera pessoalmente mais esperto. Ressalto que no geral, independentemente de ser mais esperto ou não, é melhor qualificado na minha classificação aquele que reconhece que todo mundo é hipócrita, sabendo portanto que esse parâmetro não vale nada, então se você concordou com o parágrafo anterior você está em maus lençóis pois meus assistentes estão quebrando a cabeça procurando calcular em qual subgrupo você passou a infelizmente se encaixar (lembre-se que alguns são Burros, e em média outros tantos se localizam no espectro entre Imbecis e Medíocres, podendo alguns, entretanto, serem Babacas). Ah, e vale avisar que se a outra pessoa acabar te chamando de hipócrita como o intuito de te irritar a chance dela não ser uma hipócrita mas sim uma Escrota aumenta em 75%. ¤
GV Points, o teste mais esperado desse semestre!!! Dando continuidade ao teste dos GV Points... Qual das seguintes palavras e expressões você usou nas últimas 48 horas?
Estée Lauder +45 GV Points Pink +40 GV Points Eclair +35 GV Points Vallet +30 GV Points Miami +15 GV Points
Ubatuba -15 GV Points Farofa -30 GV Points Salchicha -35 GV Points Micareta -40 GV Points Edícula -45 GV Points Total
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GAZETA VARGAS
Gazeta Várzea
The Gazeta Herald Personae non gratae O município gaúcho de Getulio Vargas está para aprovar moção na Câmara de Vereadores declarando todos os membros da revista paulista Gazeta Vargas “personas non gratas” (sic) no município. A razão para a drástica decisão advém da publicação da edição #82 da revista, que segundo os cidadãos e representantes do poder público municipal, desrespeita a memória do memorável presidente. Cidadãos de Getulio Vargas promoveram no dia 5 de março uma queima de cinco mil exemplares da Gazeta Vargas no subúrbio da cidade, e os bombeiros tiveram que ser acionados. Segundo nota de um altíssimo oficial da Prefeitura da cidade, a publicação “phere a immagem de nosso patronno”. O mesmo oficial, que não quis se identificar, disse à Gazeta Vargas que julgou irresponsáveis e desproporcionais as comparações feitas com situações vivenciadas na Fundação Getulio Vargas. “Doutor Getulio jamais dissolveu a Congregação nem demitiu professores desafetos. Não era de seu feitio”, protesta.
Reajuste de aposentadoria Fontes infiltradas da Gazeta Vargas apuraram que tem havido uma forte mobilização de alguns professores para promover o reajuste do PDI. Argumentam que é injusto terem assinado o contrato de Desligamento Incentivado alguns meses antes do reajuste de 7,7% dado pelo presidente Lula aos aposentados. “Foi de máfé. Eles sabiam que haveria o reajuste”, afirmou um dos professores, que acabara de voltar de uma reunião em Brasília. Os professores planejam um protesto simbólico na Avenida Nove de Julho para chamar a atenção da Diretoria e fazer retroagir o que lhes é de direito. O reajuste aos aposentados foi sancionado no dia 15 de junho pelo presidente da República.
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Biblioteca revelará mistério A Biblioteca Karl A. Boedecker anunciou a uma comitiva de imprensa ontem que muito em breve anunciará o maior mistério que a ronda: o que significa o “A” de Karl A. Boedecker? Mistério insondável, assim como o “W” de George W. Bush ou a existência de acento em “Getúlio” Vargas. Segundo a Biblioteca, que tem sofrido muita pressão pela liberação da informação, o segredo será revelado após o término da Copa do Mundo, para dar maior visibilidade à notícia.
Parceria públicoprivada Numa demonstração de habilidade política ímpar, a empresa Itaipava acaba de fechar uma inédita parceria comercial. Depois de muito trabalho para convencer representantes da prefeitura de São Paulo a sentaremse numa mesa para negociar, os funcionários da empresa Itaipava conseguiram convencer o poder público a trocar o nome da rua onde se localiza a FGV de “Rua Itapeva” para “Rua ItaipavaTM”. Em troca, a partir do ano próximo, a Prefeitura poderá comprar cerveja a preços reduzidos para a realização de viagens de planejamento e integrações. A sacada da empresa é atingir também os alunos da Fundação Getulio Vargas e da PUC, que deverá se instalar no Hospital Matarazzo dentro em poucas horas.
Outlet da Abercrombie na ITCP Interessada em capitalizar-se, a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, ITCP, alugará seu espaço na FGV-EAESP durante os fins de semana para a instalação de um Outlet da empresa Abercrombie & Fitch USA. A empresa americana apurou que a EAESP é o local com maior concentração de clientes por sala de aula, e já vinha há cinco anos tentando se instalar na Fundação. A Abercrombie interessou-
se pelo trabalho de economia solidária promovido pela ITCP, e fez uma oferta agressiva pelo espaço. Cogita-se que a ITCP só não o vendeu completamente porque integrantes da Incubadora solicitaram “blindagem” ao presidente Lula, que afirmou que “deseja uma empresa brasileira forte, e não quer vendê-la”. A data coquetel de inauguração do espaço ainda não foi definido, mas sabe-se que contará com open de Veuve Clicquot, biscuit integral com berinjela crua, e a presença das mais badaladas blogueiras da cidade.
Teleférico ligará EDESP à EAESP Numa tentativa de integrar alunos das Escolas de Direito, Administração e Economia da FGV-SP, já foi aprovado na Escola de Direito o orçamento para a construção de um teleférico que conectará a Escola de Direito da Rua Rocha e a Escola de Administração, na Itapeva. Os alunos de Direito, que muitas vezes têm de subir até o prédio da EAESP, reivindicam o teleférico desde a fundação da Escola – reivindicação que é espertamente omitida do livro “A Construção de um Sonho”, publicação recente que conta a história da Escola. Os alunos se dizem fartos de ter que pegar táxis para subir a Itapeva ou então ter de pagar mensalidade em dois estacionamentos diferentes. “Mal vejo a hora de poder subir de teleférico”, disse Ana XXX, que não quis revelar seu sobrenome para evitar os paparazzi. Espera-se que a FGV será contratada por notória especialização para tocar a construção da obra.
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O ornitorrinco vai ao churrasco dos bixos... Gabriela Szini
e! m o n m u e d a is c e r p a: te r o a c s p a s Om t천e r s e g u s .b e l i d a n m a v g M s@ a g r a v a ga z e t 35
A
FGV antecipou o Vestibular para 24/outubro... ... e o CPV alterou seu calendário,
para nossos alunos não perderem conteúdos. Só o CPV reage às mudanças da FGV sem perder a qualidade. Avise seus amigos: Matrículas Abertas Início: 19 julho
Semi FGV Adm, Dir e Eco
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Locais: Consolação e Vila Olímpia Manhã: 7h00 às13h00 Tarde: 14h30 às 19h30 Veja no site o novo Calendário CPV
alunos CPV aprovados
na FGV 2009
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