GAZETA VARGAS
Flagra
Bel Glezer
Bel Glezer
A praça é nossa?
Grades instaladas em 16 de maio
A
Um dos novos bancos, trazido em 3 de junho
EDESP não é conhecida por seu ambiente universitário, tipicamente descontraído. Os alunos da Rua Rocha não têm muitos ambientes dentro da faculdade onde podem sentar-se para relaxar ou pegar uma nesga de sol. Um dos “bancos” improvisados (esq.) nada mais era do que o ar-condicionado da biblioteca, cuja utilizaçao como banco fora proibida com a colocação de pequenas grades. Como protesto, alguns alunos levaram a questão ao novo diretor, Oscar Vilhena em sabatina realizada pelo CA. Na semana seguinte, a diretoria e a DO vieram ao local remover as grades e trazer dois grandes bancos de madeira para que os alunos pudessem se sentar confortavelmente, sem riscos de cair. ¤
Deborah Macret
EESP, né meu?
Notas de microeconomia terceiro semestre da EESP
P
arece piada, mas estas foram as notas da matéria de Microeconomia II da sala do terceiro semestre de economia da EESP-FGV. Pode parecer um tanto assustador, mas, para quem tem prova de Macroeconomia I com o piso de -5 (sim, -5!) a nota foi um sucesso ! A foto ficou famosa após rodar o Facebook dos alunos do terceiro semestre. ¤
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Editorial
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Expediente Edição Isabelle Glezer – Editora -Chefe - 5˚ Direito belglezer@gmail.com Redação Cindy Takahashi - 5º Direito cindy.scofano@hotmail.com Erica Miyamura - 3º AE ericamiyamura@gmail.com Felipe Yamada - 5˚ Economia felipeyamada10@gmail.com Flávia Cruz - 2º AE flaviabeatrizc@gmail.com Gesley Fernandes - 7˚ AP f.gesley@gmail.com João Lazzaro - 5˚ Economia jglazzaro@gmail.com João Maldos - 2º AE joao.maldos@gmail.com Luiz Lockmann - 4º AE luizfernandols91@gmail.com Mariana Pacetta - 5˚ Direito marianapacetta@gmail.com Mariana Miori - 5º Direito mariana.angelelli@gmail.com Marina Silva - 5º Direito marina.arsilva@gmail.com Colunista Daniel Fejgelman - 7˚Economia daniel.fejgelman@gmail.com Colaboradores Mariana Moreira - 5˚ AE marianam19@gmail.com Stefano Rastelli - 4º AE stefano.rastelli@gmail.com Paulo Eduardo Pacheco - 5º Direito pachecolpaulo@gmail.com Arte Breno Oliveira - 6˚AE brenofenrir@hotmail.com Gabriela Szini – 3˚ Economia gabrielaszini@gmail.com Larissa Marubayashi - 5º AE larissa.marubayashi@gmail.com Marina Simões – 3˚ AE marinaoh@gmail.com Institucional Pedro Veloso – Presidente Institucional - 5˚ AE pedrohenriqueveloso@hotmail.com Laurent W. Broering – 5˚ AE laurent_broering@hotmail.com Mariana Arosteguy - 5ºAE mari.arosteguy@gmail.com Capa Breno Oliveira - 6º AE brenofenrir@hotmail.com Conteúdo Online Leonardo Vergani - DiretordeConteúdoOnline-2˚AE vergani.leonardo@gmail.com Daniela Funaro - 5º Direito danifunaro@hotmail.com Impressão Quality Gráfica Tiragem 3000 exemplares
Os cães ladram e a caravana passa
É
chegado o fim do semestre, e com ele, as eleições para o Diretório Acadêmico. A Chapa Resgate assume o DA em condições decididamente melhores (o que não era exatamente difícil, dado o fim da gestão 2009-2010) do que a Acesso um ano atrás. Talvez o maior quórum das eleições do DAGV e a elaboração de um abaixoassinado pelo DA contra as novas medidas da biblioteca indiquem – antes tarde do que nunca – que talvez seja tempo de questionar a apatia do geveniano em relação à política interna. Finda a gestão Acesso, é tempo também de refletir sobre o que foi (ou deixou de ser) realizado durante este ano. Comparando o conteúdo programático-eleitoral da chapa com a realidade, procuramos elaborar um balanço da gestão, com o objetivo de identificar o que foi ou deixou de ser feito, com suas respectivas justificativas. Deve-se atentar para o fato de que, embora as justificativas oferecidas não tenham necessariamente sido aceitas pela redação crítica e combativa da Gazeta Vargas como válidas, ouvimos os dois lados e deixaremos que o leitor faça seu próprio julgamento enquanto representado. As principais demandas dos alunos foram atendidas? A pesquisa de opinião, buscou apurar como o aluno avalia a gestão passada, tentando entender, no fim das contas, o que significa ser representado pelo DAGV, e qual é, afinal, a percepção do aluno sobre a utilidade prática do Diretório. As opiniões reunidas nesta edição podem e devem ser utilizada para a Gestão Resgate, que se inicia no próximo semestre, como norte da visão do aluno sobre o DA. A utilidade prática do DA desenvolveu-se a ponto de tornar-se uma matéria indepen-
dente, sobre o passado e o funcionamento dos diretórios acadêmicos em São Paulo. Como se estruturam estes órgãos representativos? Em que diferem uns dos outros? Teria a política estudantil, neste mundo individualista, finalmente perdido seu contexto histórico de atividade? Por fim, uma seção da edição #88 é dedicada à análise crítica das chamadas “piadas de mau-gosto”, num aparente embalo das atuais discussões travadas na mídia sobre humor negro. Na realidade, o tema foi fruto da discussão gerada sobre um aluno fantasiado de membro da KKK nenhuma pessoa que foi à 31ª edição da Giovanna fantasiada de KKK, fato que passou praticamente desapercebido pela opinião pública. Incrível notar como este pequeno incidente levantou questões quasi-existenciais sobre nossos próprios posicionamentos em relação aos limites da liberdade de expressão. Reconhecendo a legitimidade deste debate, a Gazeta se mantém como fórum, aberto às divergentes opiniões. A liberdade está acima de qualquer outro valor? Ou existe um limite claro ao direito de se expressar? Qualquer que seja sua posição, ela estará representada no Contraponto. Não conformados, procuramos descobrir também como este tema tem se apresentado na realidade jurídica brasileira. O primeiro semestre de 2011 termina, enfim, em clima de extrema agitação: eleições no DAGV, novas restrições na biblioteca Karl A. Boedecker, novo diretor na EDESP – não faltam novidades interessantes à espera do engajamento (ou, no mínimo, do interesse) dos alunos. ¤
Isabelle Glezer
DISCLAIMER
A Gazeta Vargas não se responsabiliza por dados, informações e opiniões contidas em textos devidamente identificados e assinados por representantes de outras entidades estudantis, bem como nos textos publicados no Espaço Aberto submetidos e devidamente assinados por autor não presente no expediente desta edição. Todos os textos recebidos estão sujeitos a alterações de ordem léxico-gramatical e a sugestões de novos títulos. Por ser limitado o espaço de publicações, compete à Gazeta Vargas a escolha dos textos que melhor se enquadram na sua linha editorial, sendo recusados os textos muito destoantes acompanhados das devidas justificativas e eventuais sugestões de alterações. DIREITOS RESERVADOS — A Gazeta Vargas não autoriza reprodução de parte ou todo o conteúdo desta publicação.
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Curtas
Curtas da Gazeta #88 Após as eleições realizadas nos dias 25 e 26 de maio, a Chapa Resgate ganhou as eleições para o Diretório Acadêmico com 488 votos, derrubando suas concorrentes Energia e Identidade. As principais promessas da gestão são “restabelecer o caráter da entidade de canal de comunicação corpo discentediretoria” e a “volta” da cerveja ao DA. A Gazeta Vargas deseja boa sorte à nova Gestão.
Gioconda 44 Aconteceu no dia 21 de maio a edição 44 da Gioconda Venuta. Com o tema Mansão da Playboy, as expectativas para a festa estavam nas alturas. A famosa fila para ingressos chegou ao cúmulo do caos e desorganização, quando membros responsáveis pelas vendas foram “fisicamente agredidos”, conforme declaração emitida pelo DAGV, fazendo com que as vendas fossem canceladas pelo dia e adiadas para o dia seguinte, na quadra. A entrada de não-alunos também foi barrada, ensejando a atividade do mercado cambista pelos alunos.
Bill of Rights O Centro Acadêmico da EDESP comunicou seus associados sobre o projeto de elaboração de uma “Carta de Direitos” dos alunos. A “Bill of Rights”
Altos e Baixos Em alta
dos edespianos pretende ser um instrumento de solidificação de demandas discentes como um todo, estabelecendo compromissos formais de professores e da Instituição para com os alunos. As sugestões para o texto da carta podem ser enviadas ao CA até 10 de Agosto.
GV Jazz Aos ouvidos refinados desta Fundação, um novo projeto cultural fará parte da vida do aluno geveniano a partir do 2º semestre de 2011: o GV Jazz. Nascido de uma iniciativa do professor Samy Dana (EESP/EAESP), com o auxílio de alguns alunos, o projeto pretende integrar alunos, professores e funcionários das três escolas em discussões e prática da música. Segundo os membros da entidade, o nome GV Jazz foi escolhido por ser “o mais sexy”, não restringindo os demais gêneros musicais. Mais informações: gvjazz@fgv.br
semana.
Separados no nascimento
Quem costuma passar pela Biblioteca da EAESP já reparou nesse mais novo objeto de decoração da mesinha do Seu Osvaldo. Batizado de “Junior”, o boneco é uma miniatura do personagem Carl Fredricksen do filme Up! Altas Aventuras, da Disney Pixar, feito em homenagem ao funcionário da Biblioteca. Muitas fotos do boneco já foram feitas pelos alunos, com direito até a publicação no Facebook. Quem ainda não viu, vale à pena conferir!
Prof. Marconi Uma das vantagens que a EESP alardeia em relação a seus concorrentes é o fato de esta ser uma escola pequena, onde é possível que professores e alunos tenham uma relação mais próxima. Esse fato chegou a novos extremos na turma do 5º semestre, para a qual o coordenador da graduação, Nelson Marconi, tem ministrado aulas de três matérias diferentes, todos os dias da
Na mesma
Erica Miyamura
Eleições DAGV
Seu Oswaldo e Karl
Em baixa
»» Cambismo Gioconda
»» Restrição ao Lounge Citibank
»» Dominique Strauss-Kahn
»» Metrô em Higienópolis
»» Reforma da fachada
»» Palocci
»» Preços Florescer do Vale
»» Violência urbana
»» SMS
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Cartas
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Opinião do Leitor Gazeta #87
Comentários extraídos do site da Gazeta Vargas Trabalho voluntário Pegadinha do malandro essa “estra- MAIS RÍDICILO o DA pode ficar! Vai reler na FGV e suas tégia” de horas complementares. Não as Gazetas que você diz que leu, SE LIGA! vou nem entrar no mérito do status PS: Busca mais informaçoes também contradições
There’s no free lunch. “A estratégia da escola é reduzir o custo do crédito. Ao dar créditos pelo trabalho “voluntário” ela terceiriza o custo daquele crédito pelo qual pagamos no nosso curso que, afinal, nada mais é do que um dimploma certificando que vc fez 240 créditos reconhecidos pela Fundação. Quando eram obrigatórios 4 desses créditos a escola liberava dois horários de sala por semestre. Agora que são 10, são 5 horários... Outro ponto é o trabalho voluntário a troca de créditos não é voluntário, é remunerado. Mais ainda, quem é remunerado não é nem quem presta o trabalho, mas a própria fundação, pois os seus créditos já estão comprados e foi ela quem evitou de ter o custo para internalizar esses créditos.
gerado por isso, mas dá jogo essa discussão.” Fábio Krauss
Entrevista com Julio D’Amore “Estou no 9º semestre, e vivenciei a reforma da graduação e da governança da Escola. Como pode um candidato à Presidência do DA, confundir Reforma da Governança, QUE FOI AONDE O CARLOS IVAN PÔS O DEDO NA ESCOLA?! Com Reforma da Graduação, que não tem nada a ver com o Carlos Ivan, e sim com a opinião que o Mercado de Trabalho tinha sobre os alunos que saiam da EAESP. Sinceramente, aguardo uma correção rápida deste cidadão, afinal isto só mostra o quão medíocre esta eleição esta, e o quão
Embaixador do Irã
Daily Star Lebanon
No último dia 2, o CPDOC promoveu, nas dependências da EESP, a palestra Iran’s role as a regional power, realizada pelo embaixador Mohsen Shaterzadeh. Este discorreu sobre a situação atual da economia e sociedade iranianas, e também respondeu perguntas dos presentes, sem evitar polêmicas (como a questão do desrespeito aos direitos humanos que, para ele, não passa de propaganda americana) ou frases de efeito, como “Israel é um câncer no Oriente Médio”, que causaram bastante impacto nos presentes. ¤
Embaixador Mohsen Shaterzadeh
sobre a grade de Administração, Psico I(Fundamentos da Psicologia para Administração) está no mesmo semestre que tem Sociologia e Filosofia e Ética! Psico II(Processos Psicológicos da Relação Homem-Trabalho) está no mesmo semestre que tem Gestão de Pessoas. SE LIGA [2]. Pronto, agora você se expressa para explicar estas suas gafes?! Pedro, 9º semestre
Notas #87 “A professora Maria Tereza Leme Fleury não pertence mais ao Conselho Curador da FIA e seu currículo Lattes já foi atualizado. Atenciosamente e obrigada” Patrícia Perim F. Santos - Gerente de Comunicação e Marketing
Wilton Bussab
A
Gazeta Vargas lamenta o falecimento do Professor Wilton de Oliveira Bussab, vítima de câncer. Um dos professores mais antigos da FGV, foi vice-diretor acadêmico da EAESP, tendo se dedicado por 40 anos à Fundação. Sua perda não será apenas sentida por toda a Comunidade GV, incluindo alunos, ex-alunos, docentes e funcionários. A Estatística no Brasil perde um de seus nomes mais importantes, um dos responsáveis pela formulação do primeiro curso da disciplina no IME-USP, outrora inexistente no país. Autor de inúmeros livros, é quase impossível que um aluno geveniano não tenha utilizado ao menos seu livro de Cálculo ou mesmo de Estatística. Era conhecido por sua energia, bom humor e humildade, além da genialidade na área das Ciências Exatas. ¤
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Opinião
Humor Negro É possível restringir o humor? Octavio Barros
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urante as últimas décadas o humor se transformou diversas vezes, se adaptando aos gostos da sociedade e se destacando por sua irreverência. A arte de Chaplin, ainda no cinema mudo, serve como um bom exemplo de ousadia que o humor protagonizou: numa época em que a liberdade de expressão era restrita, um personagem criticava, a partir de gestos simbólicos, diversos âmbitos da sociedade. E com o passar dos anos, esse espectro crítico do humor se manteve, e se adaptou à maior liberdade de expressão obtida com o desenvolvimento das sociedades, passando a ser apresentado de diversas formas: peças teatrais, shows de stand-up comedy, programas televisivos, e até postagens em redes de relacionamento online, como Videologs e o Twitter – e estas têm gerado diversas polêmicas recentemente. Rafinha Bastos (considerado a personalidade mais influente do Twitter) e seu colega de profissão Danilo Gentili têm feito uso destes mecanismos para apresentarem citações consideradas cada vez mais ofensivas, e que têm sido alvo de muitas críticas e discussões. E este tipo de humor tem sido adotado por Rafinha também em seu novo show de stand-up: “A Arte do Insulto”. No espetáculo, como o próprio nome propõe, o comediante “insulta” diversos grupos ao proclamar piadas consideradas por muitos como anti-éticas. Dentre os insultos, vale o destaque para a seguinte passagem do show na qual o autor comenta sobre mulheres estupradas: “Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia... Tá reclamando do quê? Deveria dar graças
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a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço.” Essa é, provavelmente, a frase mais debatida por fãs e críticos do humorista. Há o grupo daqueles que o defendem, e que dizem que o objetivo real do autor não é de ofender aos grupos que cita, mas sim de fazer com que seu público se divirta com algo que há muito já é dito às escuras – afinal, quem nunca ouviu tal frase pelo menos uma vez? – mas que muitos temem em colocar publicamente, pois seriam julgados como imorais. Talvez a intenção do autor não seja de ofender, posto que isso só o traria inimigos, mas sim de tentar mostrar através de um humor chocante que os membros da sociedade se preocupam muito em julgar o que é dito por cada indivíduo gastando tempo com isso, enquanto poderiam melhor empregá-lo e simplesmente ignorar aquilo que não é interessante. O próprio humorista apresenta esta postura (desligada da opinião alheia) ao não se alterar com comentários e críticas feitas às suas palavras indelicadas – ele permanece com suas frases fortes e não se desculpa por seus dizeres, por mais graves que sejam. E este é o ponto que causa fúria em seus opositores. Este grupo, contrariamente ao outro, acredita que o artista extrapola limites ao fazer este tipo de humor, e afirma que ele só permanece com tais atitudes por nunca ter passado por nenhuma das situações que cita ou ter sofrido com elas. Segundo os defensores dessa visão, Rafinha, seus colegas de profissão e seu público são imorais e deveriam ser punidos por não respeitarem diferenças e dificuldades de terceiros.
A pergunta cabível neste momento é: existe realmente um limite para o humor, ou tudo é válido para se atingir a graça e extrair risos do público, podendo-se considerar atitudes mais agressivas como parte da irreverência e ousadia do artista? O efeito do humor varia de acordo com o público que o atende e do contexto em que é inserido, posto que trabalha com o psicológico dos indivíduos ao fazer com que compartilhem percepções da realidade nos mais diversos temas. Busca-se encontrar fatores do cotidiano que passam, muitas vezes, despercebidos, mas que são ímpares e que podem ser muito divertidos se analisados sob uma visão mais despretensiosa. Deve-se considerar que o público que decide ir a um espetáculo de standup comedy denominado “A Arte do Insulto” está disposto a se divertir, naquele momento, com os mais variados tipos de ofensas, não se preocupando com a ética (ou falta dela) envolvida nas piadas. Não há, portanto, um ambiente proibitivo para colocações deste gênero nesta situação. O contexto pode ser considerado, portanto, como um limitador: uma piada pode ser extremamente divertida se dita em ocasião propícia, enquanto que pode ser desagradável quando mal colocada. Entretanto, o próprio contexto é muito oscilante, tornando difícil o julgamento ético dos limites do humor. E também não se pode dizer que o contexto é o único determinante da moral ou da ética do humor. As percepções individuais também são parte integrante do julgamento, e estas não podem ser medidas ou padronizadas. Por isso, sempre haverá os que aceitam e os que negam o humor seja ele qual for. Estes supostos limites variarão com o passar do tempo – como vem ocorrendo há anos – e o humor manter-se-á os desafiando, na tentativa de mostrar através de suas diversas faces, o quão hipócrita e mesquinha a sociedade que o oprime consegue ser. ¤
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Opinião
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Elite edespiana
“EDESP não é para a elite, mas quer formar a elite” Mariana Beira Pacetta
O
s alunos da FGV estão pagando caro por sua educação universitária. Em 2011, as mensalidades das Escolas de administração, economia e direito sofreram reajustes que variaram entre 4,5 e 10%. Com a atualização dos valores, neste ano um ingressante na EAESP deverá desembolsar, mensalmente, 2531 reais; na EESP, 2227 reais, e na EDESP, 3562 reais. As novas mensalidades têm repercutido entre os estudantes. Gevenianos das três escolas se irmanam não apenas nos bolsos doídos, mas também nas preocupações com o impacto que um ensino superior tão dispendioso pode trazer à própria FGV. A EDESP talvez seja o caso mais emblemático. Apesar da pouca idade, a Escola já é a faculdade de direito mais cara do país. Em 2008, a despesa mensal arcada pelas famílias dos EDESPianos era de 2750 reais. Contratualmente, as mensalidades devem passar por reajuste anual medido pelo IGP-M. Com a inflação sob controle, a série histórica do índice estabilizou-se em taxas médias de cerca de 10% ao ano. Ainda assim, o reajuste pelo IGP-M aplicado às mensalidades da EDESP tem feito os valores multiplicaremse para além do razoável. Neste ano, pais e alunos foram surpreendidos com o novo valor de 3562 reais, o equivalente a quase sete salários mínimos nacionais. Essas inquietações despontaram com força entre os alunos de direito durante a sabatina com o novo diretor da EDESP, Oscar Vilhena Viera. O que justificaria os valores desmedidos das mensalidades da DireitoGV? Segundo explicara Oscar, os custos da EDESP alinham-se aos custos médios de outras faculdades de direito, como FAAP e PUC. A diferença, no nosso caso, está no currículo em período integral, que prevê maior quantidade de horas/aulas. Por outro lado, a origem dos recursos que mantém a escola
explica parte do problema. Apenas 30% do orçamento da EDESP provém da graduação, ao passo que 60% é obtido através dos cursos especializantes oferecidos pela Escola, o GV Law. O restante do orçamento é complementado pela própria Fundação. No balanço final, segundo Oscar, as contas da EDESP não fecham. Uma possível saída para lidar com o nosso déficit estaria em ampliar os cursos do GV Law a fim de incrementar as receitas. Ainda assim, as mensalidades elevadas continuarão como um impasse incontornável enquanto a EDESP mantiver turmas de alunos reduzidas. É pensando nisso que o novo diretor da escola defende o projeto de expansão da graduação. Para Oscar, turmas maiores trariam economia de escala e permitiriam que a grade curricular pudesse ser mais flexibilizada. O ponto que talvez mais aflija os EDESPianos é o impacto que um curso tão dispendioso tem para o próprio corpo discente. É impossível negar que as mensalidades da escola são um componente de exclusão social. Indagado sobre essa questão, Oscar reconhece que as altas mensalidades favorecem a elitização da escola. Para amenizar esse problema, a EDESP também adere ao programa do Fundo de Bolsas retornáveis da FGV. Em seu site, a Direito-GV informa que atualmente 30% dos alunos da graduação fazem uso do financiamento retornável do fundo de bolsas e destaca que “a FGV tem orgulho de assegurar que a falta de recursos financeiros nunca foi e nem será impedimento para poder estudar na FGV-SP”. É claro que cabem ressalvas ao discurso da Fundação. Na prática, famílias economicamente desfavorecidas vêem-se desincentivadas a aderir a um contrato de financiamento que lhes renderá uma dívida de quase 250 mil reais ao fim de cinco anos. Como se não bastasse esse montante, as cláusulas contratuais são particularmente
severas. Em caso de desistência do curso, transferência ou jubilamento, o aluno é obrigado a quitar a dívida acumulada em um prazo de cinco dias úteis. Enquanto a tão aguardada redução das mensalidades não vem, a preocupação dos alunos concentra-se nos seus progressivos aumentos. Ainda que os reajustes se dêem dentro dos parâmetros legais, não deixam de ser desmedidos. Mais curioso é notar que o procedimento de reajustes se processa de maneira diferente nas escolas da FGV. No ano passado, representantes da EAESP reuniram-se junto ao corpo discente, fixando em 4,5% o reajuste a ser aplicado em 2011. Segundo nota do coordenador de graduação da EAESP, Chico Aranha, “o índice aplicado, bastante inferior aos índices de inflação geral do país, reflete o esforço da Escola em controlar seus custos de forma a colaborar com as famílias na viabilização de um ensino superior de qualidade”. O que impede que a EDESP, assim como a Escola de Administração, se sensibilize com o planejamento orçamentário das famílias de seus alunos? E por que os alunos não poderiam tomar parte na definição dos novos valores? Segundo o departamento Financeiro da Direito-GV, uma vez que a Escola adota os critérios legais para aplicação do reajuste, não há representação discente na definição do valor das mensalidades. Essa, no entanto, é uma explicação no mínimo insuficiente. Conformar o reajuste das mensalidades aos parâmetros legais não implica excluir a representação discente, haja visto o exemplo da EAESP, que também se sujeita à lei e, ainda assim, permite a participação dos alunos na definição do reajuste. A verdade é que se as mensalidades seguirem a trajetória ascendente de elevações em torno de 10% ao ano, muito em breve, cursar a Direito-GV se tornará inviável até mesmo para os alunos de famílias mais abastadas. E essa realidade lastimável parece ameaçar os planos do professor Oscar para a EDESP, que, em suas palavras, não deve destinar-se para a elite, mas sim para formar a elite não só financeira como intelectual do país.¤
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Pesquisa de Opinião: Como foi a Gestão Acesso?
Entrevistados respondem suas impressões sobre a gestão 2010-2011 Você se considera João Maldos cia-se a pesquisa. Érica Miyamura Os alunos não se sentem conrepresentado frente Isabelle Glezer fortáveis falando da Gestão a FGV pelo DA? Mariana Moreira
O
que primeiro surpreende ao ser realizada a pesquisa é o quanto nossos colegas não desejam participar. Apesar de deixar-se claro que é uma pesquisa importante para termos uma noção (mais do que) estatística das percepções dos alunos sobre a gestão anterior, a gestão que segue e sobre o DAGV
Acesso. A percepção inicial é que desconhecem ou o que foi a Gestão Acesso ou o que o DA fez nos últimos semestres. As perguntas que respondem com mais prontidão são sobre as conquistas e, mesmo aqueles que admitem não terem seguido as ações do DA de perto, sobre as queixas da Gestão Acesso. Talvez sejam realmente as mais fáceis de responder, já que as falhas e conquistas são bem vi-
Qual foi a maior conquista da Gestão Acesso para o DAGV? Festas e eventos em geral (14%)
Cartões de débito Getulinho (31%)
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mandas são ouvidas. Ao juntar esses dois fatos quase opostos, pode-se concluir que existem demandas não atendidas pelo DA dentro da Fundação, e que estas são necessárias para que o aluno sinta-se representado. Mas quais seriam essas demandas? E como atendê-las, se nem os próprios demandantes se mostram interessados? Para concluir essa análise, cabe aqui o outro lado da história. É bem conhecida a pressão constante de trabalhos, provas, estágios, iniciações científicas, entre
Reestruturação interna DA (3%)
O DA te proporciona alguma vantagem?
Reforma do xerox e dos sofás (48%)
Sim (43%)
Maior contato com a diretoria (4%)
em geral, a pergunta que sempre aparece é “vai demorar muito?”. Já são os primeiros indícios de que o papel do DA na nossa querida Fundação não é mais defender os interesses estudantis – já que nem os estudantes parecem entender quais são seus interesses e que eles podem ser defendidos. Passado esse obstáculo inicial, já que a pesquisa não toma mais do que 5 minutos de seu tempo, ini-
Não (82%) Sim (18%)
síveis, é só ir fisicamente até o DA e notar os sofás novos – você já tem uma conquista para responder – ou conversar com alguém sobre alguma festa – você já tem uma queixa a fazer. Nota-se também que a maioria dos alunos, mesmo não aparentando grande interesse em sua representatividade dentro da GV, não se sente representada pelo DAGV e não sente que suas de-
Não (57%)
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Qual a sua principal queixa sobre a atual gestão do DA?
outras atividades acadêmicas da FGV, necessárias para obter-se uma posição de prestígio no mercado. Com tudo isso em mente, como se pode esperar que o aluno, já com altos níveis de estresse e uma cabeça cheia de preocupações, tenha tempo ou paciência para procurar ser realmente ativo na defesa de seus interesses, sejam eles de mais eventos gevenianos ou representação frente à diretoria. Porém, talvez ao confiar à coordenação e à diretoria que sua passagem pela GV não tenha grandes atritos com o corpo docente o aluno esteja se enganando, e assim criando um problema maior para o futuro: sem representação estudantil, depende-se da boa fé e compreensão daqueles que foram estudantes muitos anos antes de nós para atender (ou deixar que sejam atendidos) tais interesses estudantis. Pela pesquisa realizada com os alunos, percebe-se um nível geral de insatisfação com a atuação
meiro andar quando o assunto é o legado da gestão Acesso. A maioria dos alunos entrevistados alega que os sofás e os cartões no Getulinho representam conquistas Falta de transparência (38%) condizentes com seus interesses de representados. Quando perguntados sobre o papel do DAGV, os alunos, em igual proporção Revisão do modelo de avaliação respondem “representatividade perante a FGV” e “Festas e Even(11%) tos em geral”. Um dado curioso é que a vasta maioria dos alunos afirma, no coPoucas palestras (12%) meço do questionário, não conhecer os projetos da gestão Acesso, mas sente-se pronta para afirmar, ao final da pesquisa, que os dirigentes não se ativeram aos projetos de sua carta-programa. Festas e eventos em geral (26%) Por fim, a pesquisa mostrou-se uma ferramenta útil para compreReforma no primeiro andar ender o que o aluno pensa sobre (13%) o DA. Entretanto, concluímos que do DAGV no sentido de defender é papel das próprias gestões reseus interesses. Esta insatisfação alizar pesquisas de opinião com e sentimento de não-represen- os alunos, de modo a direcionar tatividade é notadamente mais os projetos conforme a demanda. acentuada entre os alunos de eco- Seja no sentido de festas ou de nomia. palestras. O importante é manter Por outro lado, o aluno entre- a sintonia com os alunos, e não vistado parece prestar mais aten- manter distância atrás de uma ção aos “ativos corpóreos” do pri- porta de vidro. ¤
Qualvocê acredita ser o papel do DA? Representatividade perante a FGV (29%)
Promover festas e eventos em geral (21%)
Atenção para as demandas dos alunos (28%) Outros (22%)
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Matéria Central
Gestão Acesso (2010-2011) O que foi feito em um ano, o que não foi, e por que Felipe Yamada Isabelle Glezer João Lazzaro
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uando a gestão Acesso venceu as eleições de junho de 2010 para o Diretório Acadêmico, em meio a confusões eleitorais e uma campanha atormentada pela concorrência com cinco FBKs, o clima era de tensão. A gestão Interação havia terminado seu mandato cindida e desacreditada1, após escândalos políticos que deram ao nosso humilde Diretório um ar de importância desproporcional a sua dimensão.
As reais falhas no sistema de avaliação só foram compreendidas pela gestão no decurso do tempo Com exceção das cinco FBKs, o discurso das chapas não mudava. Chavões como “vamos aproximar o aluno do DA” eram repetidos à exaustão, entremeados por super trunfos da politicagem, como “transparência”, “representatividade” e “comprometimento” – ainda assim, a chapa Acesso se elegeu com promessas pontuais permeando uma carta-programa de 25 páginas. Dentre elas, pode-se citar: a introdução da reavaliação, a reforma do primeiro andar, a criação de um CA de economia, a polêmica reforma estatutária e a volta dos surreais e quintais. A finalidade desta matéria é justamente fazer um balanço da gestão 1. Tema exaustivamente tratado nas edições 83, 84 e 85 da Gazeta Vargas.
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Acesso, apurando quais projetos foram ou não concluídos – e porquê. Que também sirva de norte para a gestão Resgate, que assume o Diretório prometendo mundo e fundos, como uma verificação empírica dos sucessos e falhas do DA em relação a suas limitações frente à FGV.
Acadêmico (AP e AE) Em relação às vice-presidências acadêmicas de Administração (de Empresas e Pública), diversas promessas podem ser encontradas na carta-programa. Algumas das mais importantes eram: revisão do modelo de avaliações dos alunos (para que passassem ser mais frequentes e cobrassem conhecimentos aplicados), revitalização da Câmara Discente do DA, reformulação da avaliação de professores (que passaria a ocorrer no meio do semestre, para que eventuais problemas fossem solucionados com as aulas ainda em curso), estímulo à concessão de bolsas de pesquisa acadêmica e produção de uma coleção de casos voltados à realidade brasileira, realização de palestras com profissionais renomados e introdução o sistema de reaval na EAESP. Dentre todas essas promessas, quais delas foram efetivamente cumpridas? Muito poucas, na verdade. Mas por que isso aconteceu? Em entrevista à Gazeta Vargas, o presidente do DAGV, Caio Occhini, reconheceu que, em relação ao aspecto acadêmico do Diretório, “falhamos, porque mudanças acadêmicas demoram, [como] reclamações de professores, mudanças de grade e afins”. Em relação à promessa de implantar a reaval, Caio disse que isso foi proposto à Coordenadoria, mas a ideia foi recusada pela impossibilidade de implantação num cenário em que, numa mesma
matéria, professores diferentes estabeleciam livremente critérios de avaliação. Assim, o DA não insistiu mais no assunto. Ou seja, a reaval não foi implementada porque o diretório não fez sua lição de casa antes de prometer fazer isso. As reais falhas no sistema de avaliação só foram compreendidas pela gestão no decurso do tempo: “cada professor dá uma avaliação diferente em matérias comuns, o que indica que há uma falha de avaliação na escola. Por isto a reaval não pode ser implementada. Ela só pode ser implementada no momento em que não se está diferenciando os alunos pelos professores”, relatou Caio em entrevista à Gazeta. Para o presidente, o baixo número de promessas cumpridas justifica-se pois, quando a carta-programa foi elaborada, os membros da chapa não conheciam o contexto e as limitações para a ação do DA: “(...)isso é uma coisa que faz parte – o tipo de informação que você tem antes de depois e entrar: quais são os processos que a escola está passando no momento”.
Eventos Para a diretora de eventos, Karina Lozano, as maiores conquistas da gestão Acesso dizem respeito à reestruturação interna do Diretório, a qual trouxe muitos benefícios que o aluno não vê, como a organização financeira e jurídica. A gestão foi focada em recobrar a credibilidade perante à FGV, adquirindo um caráter mais institucionalizado, de Departamento – até então inédito. O aluno, para Karina, não perceberia o valor destas conquistas, mas apenas coisas físicas como os sofás e mesas. Neste sentido a parte interna da gestão teria sido privilegiada em detrimento dos interesses do aluno.
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www.gazetavargas.org Karina aponta como uma de suas maiores conquistas na área de eventos a substituição da consultora de eventos B2 pela produtora Mandi. Esta mudança foi apontada como um ponto positivo, pois o serviço anterior era extremamente fechado e pouco negociável, minando a autonomia do grupo de eventos. Hoje, todos os pontos das festas são discutidos e negociados (sem comissão por parte da Mandi), barateando o preço dos serviços, ainda que a produtora cobre mais pelo serviço em geral. O lucro da última Gioconda está estimado em R$ 15 mil. Uma das principais falhas da gestão teria sido a falta de transparência: “caso tivéssemos investido mais em comunicação com os alunos, a organização interna poderia ter seu valor percebido pelo aluno”, afirma Karina. Outro problema marcante para a realização de eventos e palestras foi a dificuldade em identificar o perfil do aluno. Esta indefinição tornou a busca por eventos mais trabalhosa, pois a previsão da equipe de eventos sobre quais palestras atrairiam público tornou-se falha. No que diz respeito aos eventos “menores”, como os extintos Surreais e Quintais, assim como as prometidas cervejadas interfaculdades – Karina justifica que houve, além de problemas de calendário durante toda a gestão, uma perda de motivação para realizar estes eventos diante de tantas críticas recebidas, ressaltando o problema de falta de mão-de-obra para organizar estes eventos, tanto que nunca antes foram contratadas pessoas para servir bebida em cervejada.
Projetos A carta-programa da Chapa Acesso também é farta em promessas na área da diretoria de projetos: seriam realizadas iniciativas como um programa de alfabetização solidária, ciclos de palestras temáticas, debatas políticos, feiras do livro e apresentações de stand-up comedy, além da realização dos conhecidos Cine GV e FestGV.
Estes dois últimos realmente (Cine e Fest) ocorreram, com mais força até no segundo semestre, apesar de alguns problemas de organização envolvendo a contratação das bebidas para o Fest, que só foram solucionados de última hora. Os cines foram razoavelmente frequentes e a divulgação foi boa. Mas por que os outros eventos ficaram apenas no papel?
Os membros da chapa não conheciam o contexto e as limitações para a ação do DA Novamente, de acordo com o DAGV, foram feitas tentativas de viabilizar tais eventos “tentamos marcar palestras com os presidenciáveis em 2010”, declarou o VP acadêmico de Economia, Heitor Bravi, num relatório de prestação de contas disponibilizado aos alunos da EESP há cerca de um mês. Além disso, os diretores do DA reconheceram problemas práticos na implementação desse aspecto da cartaprograma: não seria fácil identificar as demandas e reais interesses dos alunos por eventos e, por isso, pouco teria sido realizado. Ouvir isso do Diretório Acadêmico é, no mínimo, muito curioso: como a organização constituída para representar os alunos e cujos integrantes são diretamente eleitos pelos mesmos não consegue saber o que pensam seus representados? E por que a chapa prometeu realizações cujo cumprimento era, no mínimo, improvável (como era o caso do debate com candidatos à presidência)?
Administrativo Talvez uma das áreas que entre para a história da gestão Acesso como bem sucedida seja, no fim das contas, a área administrativa (responsável por “tudo que acontece no primeiro andar”2). Isto se deve ao fato de que estas são as mudanças mais visíveis aos alunos. Segundo Karina Lozano, Diretora de Eventos, o aluno não percebe toda a reestruturação interna pela qual o DA passou, em relação à organização de contas, contratos, funcionários, etc. Mas qualquer aluno pode perceber o sofá os as mesas novas, o ar-condicionado ou o advento dos cartões de débito no Getulinho. As promessas eram pontuais: Reforma do Xerox, “Manutenção do Primeiro Andar”, Recursos Humanos e Grife. De acordo com o Diretor Administrativo, Stefano Rastelli, a reforma do xerox talvez seja encarada pelos alunos como maior conquista da gestão, ou pelo menos a mais tangível. Houve uma preocupação em contratar funcionários novos, melhorar o equipamento, bem como o mecanismo de envio de arquivos para impressão. Também foi refeita toda a estrutura de cabos do primeiro andar. Em relação à tão esperada e falada reforma, um impasse: faltou dinheiro. Conforme publicado na Gazeta Vargas #87, o orçamento planejado para a reforma foi de mais de R$ 1 milhão para R$ 500 mil, mas não havia patrocínio, e tampouco um “plano B” caso o dinheiro não viesse, afirmou Stefano. Não obstante, as restrições orçamentárias do DA eram desconhecidas até a posse. Os sofás e mesas foram pagos com dinheiro da FGV, e não do DA, numa manobra que contornou a proibição da compra de mobília: a DO só poderia gastar com infraestrutura. Por fim, um ponto positivo, que provavelmente terá seu valor percebido para o aluno, foi a introdução dos cartões de crédito (festas) e débito (Getulinho) – este último gerando um significativo aumento na receita de vendas do restaurante, e, consequentemente, do repasse ao DA. 2. Carta-programa da chapa Acesso (2010)
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Financeiro A atual gestão assumiu o DAGV em uma situação financeira complicada. O diretório possui alguns processos que diminuem a possibilidade de utilizar seus recursos. Trata-se de problemas antigos e de difícil solução, como o das famigeradas fotos da Giovanna de 2002 em que uma das pessoas que nelas está iniciou um processo e não aceita forma alguma de acordo. Porém, segundo André Loverbeck, diretor financeiro, um destes processos já foi resolvido, se tratava de um arquiteto que protestava um cheque de 2003 que ainda não havia sido pago. O DA deu muita importância para a relação com os funcionários, segundo André os serviços como Xerox, Getulinho e secretaria do DA estão mais caros, porem melhores e mais humanos. Outra evolução teria sido a utilização de cartões para pagamentos de convites de festas. A gestão Acesso prometia, em sua carta programa, a divulgação do jornal “Presença” e, com ele, a publicação das DRE’s. O problema é que, neste semestre, nenhum novo exemplar do jornal chegou às mãos dos alunos, logo, até o fechamento desta edição da Gazeta Vargas, não há DRE’s publicadas este semestre. Assim, não há como o aluno saber se o DA está fazendo bom uso de seu dinheiro. Loverbeck também informou à Gazeta como estão as contas do diretório atualmente. O DAGV possui uma quantia de cerca de 220 mil reais investidos. Segundo ele, o DA também possui, como caixa, cerca de 200 mil reais. Esta soma é utilizada para o pagamento adiantado de despesas para viabilizar o acontecimento de festas como Gioconda, Giovanna e cervejadas. Estas últimas não ocorreram em maior numero, segundo André, por causa de um esforço físico demasiado que estas demandariam e também um pouco de “má-vontade”.
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Matéria Central Presidência Em entrevista à Gazeta Vargas, o presidente do DAGV Caio Occhini, falou sobre os principais acertos e erros da Acesso. Em sua visão, a maior conquista de sua gestão teria sido a melhoria do relacionamento do DA com a diretora Maria Tereza Fleury e com a coordenação da escola em geral, mas admite em contrapartida que a própria escola
A maior conquista de sua gestão Acesso teria sido a melhoria do relacionamento do DA com a diretora Maria Tereza Fleury já buscava esta aproximação. Para Caio, o relacionamento com a escola foi um ponto chave da gestão, aumentando a credibilidade do DA, que estava destruída no início da gestão. Esta proximidade, no entanto, não serviu como plataforma para expor os interesses dos alunos, mas para estabelecer uma comunicação clara: “Há uma confiança no DA por parte da escola, de que o DA pode gerar informações importantes para a escola saber como se portar em relação aos alunos”, afirma. Neste sentido, Caio atribuiu um caráter de transição a sua gestão: “Até que ponto valia a pena ser enfático em relação a mudanças, se a escola a qualquer momento pode dizer não? É mais fácil criar esta credibilidade com a escola, mostrar que estamos entendendo os problemas e propondo soluções, para então poder defender os interesses dos alunos. Devido à gestão anterior, a atual não tinha credibilidade para peitar a escola”.
Cabe aqui questionar alguns pontos sobre o papel da presidência em um órgão tão pequeno e atribulado quanto o DA: em que medida deve ser preservada a autonomia das diretorias quando os planos falham, e o que realmente foi conquistado através de tanto contato com a presidência. Se não houve um “plano B” para o patrocínio da reforma, houve cobrança por parte do presidente? Deviam os diretores reportarem-se a alguma entidade superior? Caio afirma que optou por preservar a autonomia dos diretores no que diz respeito aos projetos pelos quais eram responsáveis. Esta medida, elogiável do ponto de vista da separação dos poderes, pode ter tornado a gestão um pouco anárquica e ilhada: ainda que os diretores pulassem de uma área para outra (devido à falta de colaboradores), a sensação é de que, quando as coisas apertaram, ainda em episódios pontuais, faltou um líder para fazer as relações públicas e apaziguar os ânimos.
Conclusão? Se é que esta matéria pode ter uma conclusão, seria de que a gestão Acesso focouse quase exclusivamente na organização interna do DA. Ainda que estas mudanças tenham trazido benefícios ao aluno, a sensação para quem está de fora da diretoria é de que foram trazidos apenas alguns benefícios pontuais, corpóreos. Ainda que a gestão tenha conseguido um bom relacionamento com a diretoria, este relacionamento não teria trazido benefícios palpáveis aos alunos, isto é, condizentes com suas demandas, como por exemplo, a reavaliação. No fim das contas, cabe ao próprio aluno fazer uma avaliação realista de como o DA é dirigido, ponderando as promessas de salvar o mundo feitas à época da eleição com o choque de realidade frente às dificuldades reais de administrá-lo. O Diretório, enquanto protótipo de governo, é uma via de duas mãos: enquanto seus dirigentes não podem se eximir da responsabilidade de buscar a demanda dos alunos, estes, por sua vez, tampouco deveriam omitir-se na cobrança. ¤
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conversou com os alunos e com a diretoria, apresentou alguns argumentos favoráveis e contrários, e espera conseguir conciliar a opinião dos próprios alunos, Uma breve análise da atuação da gestão pois segundo Heitor, “existem posições Acesso na Escola de Economia de São Paulo adversas. E eu preciso entender estas João Lazzaro sicamente da escola”, afirmou Heitor em posições para articulá-las. Mas como entrevista à Gazeta Vargas. eles [os alunos] vão tomar esta decisão em todos sabem que o DAGV O próprio Heitor, em entrevista, nos se eles nem sabem do que se trata?” Esta não representa apenas os alu- disse que esta distância foi um fator discussão, porém, ainda está longe de nos da escola de administração. complicador de sua gestão, mas que sem- acabar. Enquanto os futuros advogados prefe- pre tentou supera-la de diversas maneiFoi aventada a possibilidade de se riram criar uma representação discente ras: “poderia ter falado muito mais com criar um centro acadêmico para os aluprópria, quando criada a nova escola, os eles do que eu falei, mas não por isso eu nos de economia, alguns eespianos economistas foram acolhidos pelo já an- deixei de procurar manter o contato”. mostravam-se empolgados e apoiavam tigo e tradicional Diretório Acadêmico O DAGV não fez, até o momento ne- a causa na época das eleições do ano pasGetulio Vargas. nhum evento destinado aos alunos de sado. O DAGV e o CA direito também se Assim, é função do DA organizar economia, como uma semana de econo- mostraram solidários com a iniciativa eventos, palestras, festas para não só mia. A última edição do evento foi reali- e até mesmo um estatuto chegou a ser para os alunos de administração mas zada em 2009 ainda na gestão de Vitor formulado. No entanto, segundo Heitambém para os de economia. O Vice- Agnello da Gestão Impacto. Vale lembrar, tor, o projeto deixou de contar com toda Presidente acadêmico deveria, também, também, que um evento de economia aquela empolgação inicial, faltando genser o responsável por ouvir as demandas não agrada apeenas aos que estudam te para tocar o projeto, que teve que ser dos alunos, apresentá-las à diretoria e especificamente esta área, o tema influi abandonado. lutar para que elas sejam atendidas. O muito na vida dos administradores, não O VP de economia, recentemente, VP deveria ser presença constante nas tem chamado os alunos de economias salas de Maria Tereza Fleury e Francisco para reuniões e está se fazendo mais Aranha, o mesmo deve ocorrer com seus presente entre os alunos. Um grupo de análogos da EESP, Yoshiaki Nakano e Facebook tem sido utilizado com tal fim. Nelson Marconi. Porém, o DAGV tem Mesmo formado agora Heitor esta se esrealmente representado sua minoria? forçando mais para ouvir os alunos. Ele A atual gestão assumiu um DA em espera conseguir, antes do fim da gescrise: metade da diretoria anterior hatão, realizar um evento e fechar a gestão via renunciado devido a uma série de “com chave de ouro”. problemas envolvendo a organização Por fim, Heitor se definiu como sendo das festas. Não foi diferente com o VP 60% porta-voz dos interesses dos alunos de economia. Heliton Scheidt renunciou e 40% defensor destes interesses: “O que deixando, por pelo menos um semestre, eu poderia fazer seria agregar as opiniHeitor Bravi manteve contato com os futuos alunos de economia sem nenhuma ões dos alunos e levar à coordenação – ros economistas via Facebook representação oficial no diretório acadêser um porta-voz. Ser um porta-voz, só mico. à toa que eles sofrem tanto ao tentar que enviesado pela opinião dos alunos”. Nesta situação conturbada que Heitor aprender apenas o básico da micro e da Isso porque ele estaria distante e se preBravi, na época aluno do oitavo e ultimo macroeconomia. ocupou mais em tentar ouvir o que os semestre do curso de economia, foi eleiA gestão apresentou, também, di- alunos pensavam e levar para a diretoria, to pela chapa Acesso. Uma das princi- versos aspectos positivos. Começou-se fazendo o inverso também. pais propostas da chapa era aumentar uma discussão sobre a obrigatoriedade Talvez, esta tenha sido a principal cao contato do aluno com o DAGV. Mis- da ANPEC (exame de seleção para pós racterística da gestão Acesso como um são um pouco custosa para alguém que graduação em economia, como explica- todo, o presidente Caio Occhini diz ter estagiava e terminara a gestão sendo já do na edição #87 da Gazeta Vargas), esta sido importante a reconstrução do diáloformado: “Eu não achava que fosse ser questão é tão vital para os alunos de go diretoria e DA, para depois sim comediferente, eu deixei claro durante a elei- economia quanto a padronização das çar uma luta pelos interesses dos alunos. ção que eu era uma pessoa para sair fi- notas é para os de administração. Heitor Na economia não foi diferente. ¤ Fonte: Iconspedia
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O que se espera de um diretório acadêmico? Flávia Cruz João Maldos Marina Silva
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ndré Salem, João Pedro e Julio D’Amore, candidatos à presidência do DA pelas chapas Resgate, Identidade e Energia, respectivamente, ao serem perguntados sobre como enxergam a participação política do aluno da FGV-SP, formam um coro: o engajamento político não é um traço marcante do geveniano. Os estudantes que assistem às eleições para o DAGV de 2011 presenciam uma situação bem diferente do que um dia já foi a representação política estudantil, cujo ano emblemático não só no Brasil, mas em todo o mundo, é 1968. Formava-se um cenário de guerra na Rua Maria Antônia. De um lado, estudantes da USP, que lutavam contra a ditadura militar. Do outro, estudantes de orientação fascista. Entre discursos inflamados contra e pró a ditadura, paus e pedras voavam. Eram cerca de 5 mil estudantes, unidos em suas respectivas causas, com suas visões políticas divergentes, mas unidos. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, acontecia a passeata dos Cem Mil, cujo estopim havia sido a morte do estudante secundarista Edson Luís pela polícia militar do Rio de Janeiro. A participação política dos universitários conheceu uma potência que foi capaz de modificar a história e produzir personagens que se tornaram figuras relevantes para o cenário político nacional. O passado do movimento estudantil pode nos mostrar muito sobre o poder de influência que os estudantes podem ter, mesmo dentro de um cenário histórico completamente diferente. As figuras centrais desses momentos eram os Centros Acadêmicos. Or-
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ganizações de grande importância histórica que defendiam os interesses estudantis em primeiro lugar. Éramos unidos por uma causa: uma educação de qualidade e para todos. Tais objetivos hoje parecem distantes, é verdade. A voz unida que antes gritava “unidos, jamais serão vencidos” hoje quase cessou. Os DAs e CAs são cada vez mais enfraquecido frente à diretoria, tomando para si a bandeira de oferecer benefícios aos estudantes. Por um lado, isso é ótimo: quem não curte uma boa Gioconda? Por outro lado, como faremos no dia que precisarmos defender nossos interesses, e ignorarem nossos abaixo-assinados? Se um dia formos reprovados injustamente? Se não existirem as figuras historicamente boas para os estudantes na Coordenadoria?
Como faremos? A história da UNE e suas transformações ilustram bem os rumos que a representação estudantil tomou. A União Nacional dos Estudantes nasceu em 1937, período de instabilidade política no país. Com o golpe de 1964, a ditadura militar recém instalada tratou de intervir no movimento e este foi posto na ilegalidade com o decreto do AI-5. Mesmo proibida, a UNE continuou organizando encontros. A prisão de milhares de estudantes no Congresso de Ibiúna, ocorrida em 1969, deixa claro que a movimentação estudantil estava decidida a defender as causas em que estava engajada, resistindo ao endurecimento da repressão. Os anos 70 foram marcados pela coerção política das organizações estudantis, que foram brutalmente desarticuladas. Quando novos ares sopravam na política nacional, e os militares en-
Rua Maria Antônia
Estadão
DA Lato Sensu
saiavam uma retomada à democracia, representada pela eleição do general Ernesto Geisel, os estudantes mostravam ainda alguma coesão, e no fim da década, através da articulação de passeatas e mobilizações, a bandeira da liberdade democrática unia o discurso dos universitários. “Lenta e gradualmente”, as estruturas de organização dos estudantes foram sendo reconstruídas, à moda da abertura política que aconteceu no Brasil.
Mesmo analisando-se a história da mobilização estudantil principalmente sob o ponto de vista da situação brasileira, a reivindicação dos universitários foi um fenômeno de escala mundial. Nos Estados Unidos, a movimentação estudantil relacionava-se com a causa do combate ao racismo, com o direito dos gays, com o feminismo, com a luta por maior liberdade individual e política e ainda com a resistência à guerra do Vietnã. A Universidade da Califórnia em Berkeley, uma das mais importantes do mundo, foi palco de manifestações de estudantes norte-americanos que exigiam o direito de poder realizar atividades políticas dentro do campus, em favor da liberdade de expressão. A França também assistiu à mobilização estudantil. O país foi cenário do episódio que ficou conhecido como Maio de 1968. Universitários franceses chegaram a construir trincheiras dentro de Paris em confrontos contra a polícia. Os estudantes inflaram a oposição ao governo do general Charles de Gaulle, e a renomada Sorbonne foi tomada . O movimento se espalhou pela Europa, onde na Espanha, Alemanha Ocidental
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Atualmente a ditadura acabou, o inimigo foi derrotado e os estudantes se engajaram em outra luta: o sucesso pessoal taduais estudantis, os diretórios acadêmicos, e a União Nacional dos Estudantes, representam talvez o principal legado deixado por esse passado histórico de luta política articulada no movimento estudantil da década de 60. São estruturas organizacionais que já fizeram muito sentido para a mobilização, interação e comunicação entre os estudantes de várias partes do país. Os diretórios acadêmicos atuam à sombra dessa memória e têm em mãos os mesmos mecanismos de atuação para lidar com outros tipos de problemas, com outras demandas dos universitários, em uma situação bastante diferente daquelas vivida pela geração que protagonizou o movimento de resistência à ditadura. Atualmente a ditadura acabou, o inimigo foi derrotado e os estudantes se engajaram em outra luta; o sucesso pessoal. Da década de 70 para cá o número de estudantes era de algumas centenas de milhares, passando para cerca de um milhão e meio. O aumento do número de universitários no país é com certeza uma grande conquista para o Brasil. Positividade que não se reflete no meio acadêmico.
O aumento da concorrência no mercado de trabalho torna o estudante mais centrado em si mesmo e em sua preparação acadêmica. Não há tempo para se preocupar com problemas abstratos da sociedade atual quando há prova na próxima semana, um estágio no fim do dia e um trabalho para entregar. Quando se dispõe a ter algum tempo livre os estudantes preferem utiliza-lo de forma mais proveitosa para si mesmo, seja indo a uma festa, um barzinho com os amigos ou para Gioconda, Baile do XI e Mackbixos. Isso sem contar os milhares de universitários que não possuem o privilégio de fazer uma faculdade integral, tendo que dividir seu tempo entre a faculdade e o emprego. O aumento do número de estudantes gera outro fenômeno, a difusão de interesses. Com perfis diversos, os estudantes não são mais capazes de se organizar. Aqui não se fala dos alunos da FGV ou da ESPM, mas sim de todos os universitários do Brasil. Na década de 70, o movimento organizado dos estudantes apenas possuía força devido à união destes. Lógico que existiam diferenças, mas estas eram facilmente dividas entre aqueles a favor e aqueles contra a ditadura. Podendo os dois grupos facilmente se dividir e se enfrentar. Atualmente com a multiplicidade de interesses que presenciamos, e a diversidade de estudantes presentes no ensino superior fica impossível dividir as faculdades em grupos separados. Existem aqueles que concordam com o sistema de quotas e com o voto distrital, já outros discordam do sistema de quotas e concordam com o voto distrital, assim como aqueles que fazem o contrário e os outros que não concordam com nada disso. Como pode-se ver com apenas dois temas é possível ter quatro posições diferentes, imagine agora se colocarmos mais dez temas polêmicos. As festas são o único tema que une, indubitavelmente, os estudantes. Isso nos leva à situação atual, onde os CAs e
DAs estão se preocupando apenas em realizar eventos, adquirindo estes proporções cada vez maiores. O caso das filas para a compra da ultima Gioconda é exemplo disso, mas não é evento isolado. Festas para cinco mil pessoas são comuns, competindo o DA de uma faculdade com a outra para que a festa
Capa da revista Newsweek de maio de 1968: manifestações estudantis na Columbia University
Newsweek
e Itália, por exemplo, também aconteceram manifestações. A liberdade de expressão, a melhora do ensino, a reivindicação política, talvez pelo seu caráter abrangente, se tornaram anseios comuns do movimento estudantil que se desdobrou em outros setores da sociedade, articulando-se com o movimento operário, como no caso francês. Os diretórios centrais, as uniões es-
deste seja melhor. A competição também é interna, sendo os DA das faculdades obrigados a fazer uma festa melhor que a anterior a fim de satisfazer os alunos. Em um mundo extremamente individualista, os estudantes preocupamse apenas com suas notas. E que além disso não possui qualquer inimigo, apenas umas dezenas de causas a serem defendidas. A organização estudantil perdeu tanta força que não é mais capaz de se politizar sequer para defender os interesses dos alunos referentes à faculdade. Tendo como único ponto de convergência indiscutível a necessidade de boas festas, não possui o DA e o CA atualmente qualquer opção se não focar suas atenções para isso. O interesse do aluno é suficientemente bem representado com uma boa Gioconda, Festa do Lúcio, Baile do XI, dentre outros. ¤
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Mochilas na biblioteca Larissa Marubayashi
A
proibição-relâmpago da entrada de diversos itens na biblioteca deu o que falar nas últimas semanas. O incômodo de ter que levar folhas, laptop, cabos, calculadora, etc., nas mãos exigiu dos alunos novas competências: equilíbrio e paciência. Inconformados com o trabalho redobrado, muitos alunos largavam suas malas pelo corredor ou simplesmente deixaram de frequentar nossa querida Boedecker, melhor amiga de alguns nos momentos de desespero pré-provas. A Biblioteca Karl A. Boedecker responde à FGV-SP e é dirigida por uma Comissão responsável pelas questões referentes à política de acervo e serviços. A Comissão atualmente conta com um professor representante de cada escola (EAESP, EESP e EDESP),
além da gerente da biblioteca e o presidente da Comissão, indicado pela Diretoria de Operações (DO)1. Até agosto de 2010, a Comissão era composta por funcionários da biblioteca, professores de todos os departamentos da EAESP e representantes discentes da graduação e pós-graduação. A mudança da composição se deu porque a antiga Comissão estava obsoleta e ineficiente, uma vez que os cargos eram apenas delegados nominalmen1. Vide Gazeta Vargas #87
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te e não eram executados. Apesar de a iniciativa de reativação da Comissão ter sido do então representante discente de graduação Alípio Ferreira, a reformulação foi feita pelo DO sem qualquer participação dos alunos e, como resultado, a representação discente foi excluída da nova composição.
Novas regras? De acordo com o regimento da biblioteca, a entrada com mochilas e pastas sempre foi proibida, incluídos cases de laptop e fichários com zíper entrariam nesta última categoria. No entanto, segundo o bibliotecário Julio Flavio Correia Marinho, a BKAB passou a ser complacente com a entrada de mochilas mediante o aumento do uso de laptops e periféricos por parte dos alunos ao longo do tempo. Todavia, segundo ele, estava sendo encontrada muita comida lá dentro e isso estaria prejudicando o acervo. Era corriqueiro achar mesas molhadas e livros engordurados e os próprios alunos estavam reclamando disto. Entretanto, ressalta-se que as “novas” regras não estavam sendo válidas para os alunos de mestrado e doutorado, que detêm armário no terceiro andar, evitando que lotassem os armários da portaria. Ao que Diogo Azevedo, VP acadêmico de AE, informou a Gazeta Vargas, foi encontrado um aluno com uma garrafa de 2L de Coca-Cola sendo este o ápice do desrespeito do aluno e, em vez de puni-lo individualmente, optou-se pelo seguimento à risca do regimento em vigor.
Ligando os pontos No entanto, é interessante perceber que tais regras são reativadas a partir do momento em que a repre-
sentação discente é excluída do órgão em questão. Além disso, a proibição chama atenção pela sua inexplicabilidade, irrazoabilidade e ineficiência. Quem quiser entrar com um chocolate escondido no bolso vai longe e quem quiser roubar um livro (por mais infeliz que seja esta decisão), irá roubá-lo de outra forma. O VP Acadêmico do DAGV já mencionado, Diogo Azevedo, tomou a iniciativa de fazer um abaixo assinado dos alunos visando retornar à antiga política. O projeto, comandado por Diogo, contava com assinaturas de todas as classes até o 5º semestre. No dia 30 de maio de 2011, foi realizada uma reunião com a Comissão de Biblioteca, o DAGV, o CAGV, a Gazeta Vargas e o coordenador de administração, Francisco Aranha, para determinar quais seriam as alterações no atual regulamento da biblioteca. Concordou-se pela liberação das mochilas, pastas e afins na biblioteca e na rigidez no tratamento do aluno caso seja encontrado dentro da biblioteca com bebidas ou comidas. As penalidades serão decididas pela Comissão, sem a participação dos discentes presentes. O assunto da volta da representação discente na Comissão foi desviado sem qualquer resposta. O desacato aos funcionários da biblioteca foi apresentado como um agravante. O LEPI também não permite a entrada com comida e, ninguém come nas salas. O fato é que a fiscalização é muito mais efetiva. Por que o aluno respeita os bedeis da escola e não os da biblioteca? Apesar de algumas incoerências da Comissão, as atitudes tomadas são compreensíveis. É apenas triste depender do bom senso de alguns, para que não sejam realizados piqueniques dentro da biblioteca. ¤
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Multa Absurda Marina Roriz
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ma grande mudança ocorrida no ano foi o aumento da multa da biblioteca, antes era de R$1,00 por dia, agora R$5,00. Alguns alunos não se importaram, acreditando que a multa é razoável e eficiente para diminuir os atrasos dos livros. Outros, por sua vez, não entenderam o aumento, considerando ele absurdo. Para analisar a questão, passamos a pesquisar como funciona bibliotecas de outras faculdades. A biblioteca da FEA e da São Francisco, em vez de aplicarem multa para atrasos na devolução de livros, instituíram uma pena de suspensão. Em ambas, o atraso implica na suspensão de empréstimo por um
período correspondente ao dobro do tempo do atraso. Identificamos também quais multas eram utilizadas em outras escolas, que talvez, seriam mais “parecidas” com a FGV. Descobrimos que a ESPM, o INSPER e o Mackenzie cobram R$3,00 por dia atraso, um pouco a mais que a metade do preço cobrada pela nossa escola. Enquanto isso, na ESPM, no Mackenzie e na Biblioteca da Faculdade de Direito da UPS, por exemplo, também não é permitido a entrada de bolsas, pastas e sacolas. Cabe a nós alunos perguntarmos se realmente é justificável valor de R$5,00 de multa. Uma aluna do segundo ano da EDESP deve R$125,00 a biblioteca. Ela alugou 5 livros, que deveriam ser devolvidos na véspera
do feriado da semana santa. O email da biblioteca lembrando a data devolução não chegou, e já havia passado 5 dias da data. Outra pergunta que vem a nossa mente, então, é qual a destinação deste dinheiro. A Biblioteca do Insper, diferente da FGV, indica em seu site que parte do dinheiro da multa arrecadada é utilizado na compra de livros que serão doados durante o trote da cidadania. Na faculdade de direito, por sua vez, não é incomum ver alunos recorrendo a outras bibliotecas, devido a falta de títulos na Biblioteca Karl A. Boedecker (BKAB). Perguntamos se essa multa não seria, então, em razão da insuficiência da própria biblioteca, não podendo, assim, o aluno ser mais prejudicado com esse valor exorbitante da multa. ¤
Qual a função da multa? Octavio Barros
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unir algum delito de forma que o agente que o cometeu seja inibido de realizá-lo novamente. O aumento no valor da multa aplicada pela biblioteca aos alunos que permanecem com os livros além do prazo permitido tem o objetivo de tornar essa inibição mais efetiva. Ainda que muitos dos alunos contrários à elevação insistam que a multa tem finalidade arrecadatória, sabese que o único propósito da medida é de punir os atrasos nas devoluções de forma mais efetiva. Ocorre que o valor de R$1,00 por dia a mais com o livro funcionava mais como uma taxa de empréstimo ao aluno do que como uma penalização. A taxa de R$5,00 torna mais
custosa a escolha de permanecer com o livro além do prazo, e faz com que os indivíduos avaliem melhor a situação. O aluno que antes considerava que sairia muito mais barato atrasar o retorno dos livros do que adquirir um exemplar, agora não quer mais perder dinheiro por mera negligência. A mudança atendeu tão bem a seu propósito que gerou diversas reclamações entre os alunos opostos à elevação, comprovando que agora está valendo menos a pena arcar com os gastos maiores decorrentes de atrasos. Aqueles que discordam da decisão tomada na Biblioteca Karl A. Boedecker (BKAB) argumentam que penalizações que suspendem o direito do indivíduo de alugar, como as aplicadas em outras bibliotecas de universidades paulistas, seriam
mais justas. A verdade é que uma alteração deste gênero é tão mais severa que provavelmente geraria mais debates do que a elevação do valor da multa, uma vez que o intuito da multa não é arrecadar dinheiro, mas simplesmente incentivar a devolução pontual dos empréstimos. É evidente que o aumento pode vir a prejudicar aqueles que porventura sejam impossibilitados de realizar a devolução por motivos de força maior. Entretanto, o mesmo problema se verificaria com a suspensão de empréstimos. Cabe ao aluno da Fundação compreender que os casos mais frequentes são aqueles de alunos que simplesmente não devolvem os livros por comodidade, dado o baixo custo de oportunidade, e não por inviabilidade. ¤
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Contraponto
EXISTE ALGUM LIMITE PARA Fantasia de Liberdade Marina Silva
D
urante as duas ultimas Giovannas, perdido entre as milhares de fantasias presentes, encontrava-se uma fantasia de membro da Ku Klux Klan. A fantasia foi condenada por alguns, e não notada por muitos. Primeiro há aqueles que defendem que trata-se de apologia ao movimento. Ao vestir um traje polemico em uma festa a fantasia onde as pessoas estão mais preocupadas com o open bar do que com questões ideológicas, acho difícil que alguém tenha levado aquilo a sério e se influenciado pelos ideais racistas da Ku Klux Klan, que diga-se de passagem não foram sequer mencionados. Dificilmente a fantasia reflete uma posição pessoal, pessoas escolhem suas roupas por diversos motivos, dentre eles o de fugir do ordinário. Acho difícil que meninos que se vestem de meninas em tais festas estejam defendendo o movimento homossexual, não que não devessem, mas simplesmente esse não é o objetivo. Uma festa é ambiente de descontração, onde as pessoas vão para se divertir e não para expor e discutir posições ideológicas. A liberdade de expressão é uma das maiores conquistas do Brasil na redemocratização, a possibilidade de defendermos nossas idéias mesmo que estas estejam contra o que os demais acreditam é o que define uma sociedade livre. Supondo que a fantasia realmente represente uma posição ideológica, ausente qualquer dano concreto à sociedade, uma vez que este não praticou qualquer ato violento contra negros, não há justificativa para se restringir o direito de expressar-se. Não discordo que as idéias do movimento propagado
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pela KKK são um retrocesso para a sociedade atual, mas de qualquer forma merecem o direito de serem expressas. Basear-se no fato de que o movimento era violento e ameaçava a vida de negros, simplesmente não é suficiente, uma vez que tais atos não foram praticados. Acreditar que as idéias da KKK são absurdas e um retrocesso, é uma opinião pessoal, e não representa justificativa suficiente para impedir que um individuo se expresse. Sob pena de novas idéias serem reprimidas, e voltarmos aos períodos de censura. Peguemos um exemplo para ilustrar a situação. O assassinato pode ser “justificado” por meio de legítima defesa, não se restringindo apenas ao direito a vida. Com base nisso é possível que alguém que matou outro para proteger sua propriedade não tenha cometido infração legal. Isso nos permite estabelecer, no mínimo, uma equiparação entre direito de propriedade e a vida de outra pessoa. Com base nesse raciocínio é possível defender o fim do movimento comunista, uma vez que este visa a extinção da propriedade, bem tão valioso quanto a vida. Não havendo sequer diferenças entre aqueles que defendem o retorno da Ku Klux Klan e os que defendem direitos iguais entre os membros de um mesmo país. O problema de impedir a fantasia de KKK não está relacionado diretamente com uma necessidade de permitir a propagação destes ideais, mas sim com a necessidade de se permitir a propagação de qualquer ideal. Adotado uma perspectiva mais realista e coerente com a situação, removo o caráter ideológico da fantasia e suponho que o objetivo desta era ser engraçada. O que nos leva a questão: Qual é a graça? A FGV é uma faculdade
elitista, onde para entrar não apenas deve-se estudado em uma boa escola como deve-se ser capaz de arcar com o preço da faculdade. Infelizmente ainda vivemos em um país com resquícios da escravidão, onde o negro dificilmente consegue alcançar padrões econômicos que lhe proporcione uma educação de qualidade no ensino médio e seja capaz de arcar com os valores da faculdade. Falar que o negro brasileiro é, em sua maioria, pobre não é preconceito, mas sim constatação de fato. Essa situação é lamentável e deveria ser alterada, mas isso é uma discussão diferente que foge ao escopo do texto. Como consequência da ausência de população negra na FGV, isso se transfere também para as festas da faculdade. A presença de alguém fantasia de Ku Klux Klan em uma festa com pessoas brancas pode representar uma série de coisas, dentre as quais evidenciar a homogeneidade racial dos membros da festa e da faculdade. Com certeza uma festa da FGV é um local no qual um membro da KKK se sentiria à vontade, poderia ser vista, inclusive como o ideal de faculdade. O humor visa fazer rir, e para isso utiliza-se de situações do cotidiano, deturpando-as. Ou então, por meio do exagero ou de sair do comum visa trazer assuntos importantes. A fantasia de KKK em uma festa da GV enquadrase perfeitamente na situação descrita, uma vez que traz a tona a discussão da homogeneidade racial da faculdade. Não há qualquer duvida quanto a legitimidade para se utilizar fantasias polemicas, tanto por uma defesa à liberdade de expressão, quanto pela possibilidade de humor que esta pode representar. Se você simplesmente não entendeu a piada, o problema não está no proprietário da fantasia. ¤
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A LIBERDADE DE EXPRESSÃO? Brincando de ser diferente Gesley Fernandes
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ena 1: Você está na Giovanna, trajando sua bela fantasia, com a qual gastou toda sua criatividade, e chegando lá, papo vai e vem, e seu colega, que faz trabalho em grupo contigo, entrega as coisas no prazo, cumprimenta e troca ideia com os bedeis, gente boa mesmo, tá fantasiado de Hitler. Porra! É engraçado você pensa, e ri do bigodinho. Mas peraí! Você chegou agora, ainda não tá bêbado, e pensa caraio, sou judeu/ negro/ cigano/ homossexual, e Hitler matou muito da minha gente! – será que fica tão engraçado? Cena 2: Você está na Giovanna, trajando sua bela fantasia, com a qual gastou toda sua criatividade, e chegando lá, papo vai e vem, e seu colega, que faz trabalho em grupo contigo, entrega as coisas no prazo, cumprimenta e troca ideia com os bedéis, gente boa mesmo, tá fantasiado de Ku Klux Klan, Você ri? Pois é isso aconteceu. E aí, qual o limite entre a piada e o desrespeito? Quantos estudantes negros da graduação da FGV-SP se ofenderiam? Algum professor negro da FGV-SP se ofenderia? Dizem que o brasileiro é um povo que vive com a diversidade por natureza, e que tem no humor uma de suas qualidades. Mas e quando esse encobre verdades inconvenientes, como a não diversidade da FGV-SP, onde estão os negros aqui para se ofenderem? Se a fantasia fosse Hitler com certeza a ala judaica da iria se manifestar. Como dizia Voltaire, “posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei
até a morte o direito de você dizêlas”, ou seja o direito de dizer o que se pensa deve ser defendido até o limite. Mas e quando se chega no limite de se homenagear um grupo que pressupõe a eliminação do outro, do diferente? Pode-se dizer que o jovem que fez isso não o fez de maldade, que apenas queria tirar “onda”, mas onde iria parar essa brincadeira? E se outro resolve tirar onda de Hitler, Osama bin Laden, Stálin, Che Guevara, opa complico, todos mataram muita gente, mas alguns são heróis para uma parcela da população. Como em uma sociedade global, multirracial e diversa podemos nos portar sem sermos moralistas e sejamos respeitosos para com o que é diferente de nós? Porque o DAGV proibiu usar camisetas de times nacionais e ao chegar alguém fantasiado de KKK, ficam sem reação? Tem uma frase de um blog1, que nos ensina que em um mundo plural “se um grupo que costuma ser discriminado pede pra ser tratado de certa forma, ele merece ser ouvido. Se eu posso, através da escolha das minhas palavras, impedir que um grupo continue sendo marginalizado, eu vou tomar cuidado. Vale o esforço”. Todos que quiserem ser capazes de atuar globalmente devem ter em mente seus preconceitos, que todos temos, mas não se entregar ao desejo de tirar uma “onda” a qualquer preço. Piada boa tem hora e lugar. Com certeza alguns alunos não devem ter achado a menor graça da fantasia desse estudante. Assim, o estudante vestido de Ku Klux Klan não está apenas sendo engraçado; está sim, sendo ou não inten1. http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2011/05/ politicamente-incorreto-nao-e.html?spref=fb
cional, utilizando de uma das piores formas de ofender outro ser humano, que é pressupor que o outro vale menos e merece o desrespeito. Mesmo a FGV sendo uma organização pensada nos moldes de homens brancos e ocidentais, alguns devem ter se sentido extremamente ofendidos, sentido que sua escola pode ser melhor do que “brincalhão” quis mostrar. Quando alguém (consciente ou inconsciente) age de forma a homenagear um grupo que pressupõe a eliminação do outro, deve ter o direito à palavra garantida a todo custo? Deve ser entendido que apenas como uma brincadeira o que esse estudante da FGV-SP (uma instituição eminentemente branca) fez? Hoje ele ri da piada que ele fez, todos acham que não tem muito problema, amanhã é um bando de jovens de famílias ricas que atacam outros seres humanos em plena avenida Paulista com lâmpadas, só porque eles optaram por algo diferente. Brecht escreveu algo que nos faz refletir até onde posso permitir a “brincadeira” com o diferente de mim e o cuidado para com o outro, que uma sociedade global pede: “Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável. Depois agarraram uns desempregados. Mas como tenho meu emprego, também não me importei. Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo”. ¤
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Entrevista
Com que roupa eu vou? Entre o real e o imaginário na escolha de uma fantasia
A
escolha da vestimenta apropriada não é tarefa mobilizadora apenas do universo feminino. Homens e mulheres preocupam-se, minimamente, com a adequação de sua roupa a determinados locais e ocasiões, tendo em vista que o traje compõe o conjunto “quem sou” e o conjunto “o que vim dizer”. Para o gvniano, a tarefa diária é abrir o guardarroupa, adentrar no “quem sou” e partir para a faculdade, carregando a tira colo “o que vim dizer”. Extraordinariamente, “o que vim dizer” é chamado a figurar como ator principal na escolha das fantasias para a Giovana. A fantasia é um modo particular de se vestir, uma figura de linguagem, por meio da qual se pode contar uma história, relembrar um acontecimento, manifestar-se de algum modo. Nesse contexto do lúdico e fantasioso, torna-se especialmente difícil distinguir qual dos componentes do eu está verdadeiramente representado. Recentemente, um aluno da EAESP decidiu caracterizar-se como membro da Ku Klux Klan, organização declaradamente racista, a qual tinha como princípio e fim a supremacia branca e o protestantismo e que teve seu auge durante o século XIX nos Estados Unidos. A vasta maioria dos convidados não se incomodou com tal caracterização, outros sequer notaram a fantasia. No entanto, alguns alunos se sentiram incomodados com a situação, na medida em que, ao se tornar pública, a caracterização como membro da KKK permite que sejam suscitadas duas grandes indagações: a fantasia representava “quem sou” ou apenas “o que vim dizer”? Ainda que
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represente “o que vim dizer”, haveria um choque de direitos constitucionalmente garantidos, quer sejam, a liberdade de expressão e a igualdade, no sentido de não discriminação? Respostas à primeira indagação são essencialmente subjetivas e correspondem a um julgamento que o texto não pretende abordar. Quanto à segunda pergunta, algumas considerações objetivas podem elucidar o tema.
Fonte imagem: Free Republic
Cindy Takahashi
Racismo? O artigo 20 da Lei 7716/89 tipifica como crime a prática, a indução ou a incitação da discriminação ou do preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, sob pena de reclusão de um a três anos e multa. Não há, portanto, na legislação nacional a descrição exata do que seja o racismo. Para dificultar ainda mais, a Constituição Federal elenca em um mesmo artigo o direito à igualdade e o direito à liberdade de expressão, de modo que, para a configuração de crime de discriminação racial, a discussão sobre liberdade de expressão não pode ser afastada. Em entrevista realizada com Marta Machado, Professora de Direito Penal da EDESP, foi salientada a questão da tipicidade aberta do racismo, ou seja, o fato de a lei não descrever minimamente quais seriam as condutas ou os elementos presentes nessas condutas que se configurariam como uma prática racista. Em sua opinião, o crime de racismo, pela lei, seria a prática do
racismo, cabendo aos tribunais brasileiros delimitarem, em cada conduta, a configuração desse crime. Assim, afirma que o cenário é de indefinição e de disputa pelo que seja racismo no país, de modo a não haver uma resposta certa. Nesse sentido, a utilização de uma fantasia que remeta a uma organização racista pode se tornar alvo de grande discussão jurídica, especialmente por discutir os limites da liberdade de expressão do fantasiado. Além dessa abordagem jurídica, a discussão ético-moral do tema também é permitida e a Professora Marta ressalta que, muitas vezes, pode ser até mais importante que a discussão jurídica. Isso porque, a discriminação racial é algo relativo à vontade e ao pensamento de cada indivíduo, de modo que nem sempre a pena se mostra como remédio mais eficaz. É necessária uma reflexão pessoal, que englobe juízos principiológicos e consequencialistas, antes da realização de cada ação. Não é objetivo desse texto a apresentação de qualquer julgamento quanto à caracterização escolhida pelo aluno. O que se pretende é mostrar que, como membros inseridos em uma sociedade, nossos atos podem atingir outras pessoas e causar polêmicas e calorosas discussões, as quais, às vezes, sequer cogitamos. Exemplo disso foi a repercussão internacional da fantasia nazista utilizada pelo príncipe britânico Harry. Por tudo isso, decidir “com que roupa eu vou” é algo muito mais dinâmico e socialmente relevante do que se imagina. Sua fantasia pode mostrar o “que vim dizer”, “quem sou”, mas também, o que vão dizer e onde vou parar. ¤
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Girl Power, Black Power Como a Disney retornou a suas raízes através da releitura do famoso conto de fadas da Princesa e o Sapo
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ste texto é para a maioria das gevenianas (assumindo aqui o preconceito indiscriminado que apenas meninas assistem filmes de princesas da Disney), que não devem ter assistido o filme A Princesa e o Sapo (2008) – pois somos da era em que os desenhos animados eram feitos à mão, como os gloriosos A Bela e a Fera (1991), A Pequena Sereia (1989) e O Rei Leão (1994). Com A Princesa e o Sapo, os estúdios da Disney retornam a suas origens de desenhos feitos à mão e trilhas sonoras cativantes. Nesta releitura clássica, a primeira princesa negra (ops, afro-americana – considerando, é claro, que Jasmine é árabe, Pocahontas é índia e Esmeralda, cigana) da Disney, é uma garota esforçada e workaholic. Tiana só pensa em trabalhar em seus dois empregos para juntar dinheiro e finalmente conseguir abrir seu próprio restaurante, pois seu pai a ensinou desde criança que não se deve fazer pedidos a estrelas, pois eles só te levam até metade do caminho. O “príncipe encantado” é um fanfarrão cujo dinheiro fora cortado pelos pais, restando como alternativa para manter sua vida boêmia: 1) casar-se com uma garota rica ou 2) trabalhar. O príncipe Naveen vai então para New Orleans em busca de uma garota abastada para sustentá-lo, mas é transformado em sapo por um mago voodoo, muito comum na cidade. Tiana relutantemente beija-o (fantasiada de princesa em uma festa), e acaba transformada em sapo também. A história não para por aí. Transformados em sapos, Tiana e Naveen embarcam numa aventura pelos pântanos da Louisiana, entram em contato
com a cultura cajun, muito particular e pouco conhecida nos EUA. Em virtude da colonização francesa, o interior de New Orleans herdou o sotaque puxado, misturado com a tradição culinária dos escravos africanos, a qual não é muito diferente da baiana – extremamente apimentada. Um jornal estrategicamente filmado no início do filme indica a eleição do Presidente Woodrow Wilson, situando o momento histórico do filme, o qual
Crédito: Sidney Morning Herald
Isabelle Glezer Mariana Miori
Feminismo e Jazz em New Orleans foi marcado pelo início do movimento feminista nos EUA (culminando com a conquista do direito de voto pelas mulheres em 1919). Contextualizando, a história se passa nos anos 20, era do jazz, em New Orleans – locação que tem sido interpretada como forma de homenagem à cidade, devastada pelo Furacão Katrina em 2005. Não obstante, o filme foi lançado no final de 2009, ano da posse de Barack Obama – o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Pode-se esperar muito do filme desde o início. Mas a narrativa ainda surpreende, pois é um balde de água fria e realismo para as pequenas espectadoras. Enquanto aspirantes a princesas, crescemos ouvindo músicas como So-
meday My Prince Will Come ou When You Wish Upon A Star. A mensagem: fique sentada, feito uma dondoca, esperando pelo seu príncipe encantado – que eventualmente irá chegar. Tiana resolve fazer sozinha com que seus sonhos se realizem. A mensagem: lute, vá atrás dos seus sonhos, trabalhe muito para que eles se realizem. Como consequência, Tiana é uma workaholic anacrônica. Sua mãe (dublada por Oprah Winfrey) faz as vezes de fada madrinha e é quem se certifica para que sua filha não perca “o que é importante de vista” – quer que a filha seja feliz com um marido e tenha filhos. Independente e geniosa como jamais se viu uma princesa da Disney, Tiana somente aprende a relaxar na companhia de Naveen – quem, por sua vez, aprende a trabalhar com Tiana. Este filme mágico, no entanto, também foi duramente criticado por alguns aspectos da narrativa, como por exemplo o fato de a primeira e única princesa negra passar mais de a metade do filme como um sapo verde, e não como mulher. Ou o fato de que o seu par não é exatamente negro, mas europeu. Isto sem falar na má-representação da religião Voudon (voodoo) pelo mago ruim e pela feiticeira boa. Tami Harris, jornalista do Huffington Post escreveu: “o fundamento do voodoo não é o feitiço (o que chama mais atenção para quem está de fora), mas a fé monoteísta, a crença dos santos e nos espíritos e um foco em valores morais como a caridade e o respeito aos idosos”. Enquanto fábula, a história carrega em si uma moral a ser ensinada para as crianças, integrando sua formação. É no mínimo interessante, com nossa bagagem educacional e cultural, observar esta evolução ao longo dos anos. ¤
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Política Interna
Sob nova direção
perguntas curiosas e “irrespondíveis”, como, por exemplo, a elaboração de um balanço sobre a educação jurídica no mundo e no Brasil. Para o recém-escolhido Diretor, o sigilo da seleção foi atencioso com os candidatos, para que não incorressem com o ônus da derrota – ele próprio teve que mentir quando questionado por colegas e alunos se estava concorrendo. Sem saber quais, nem quantos eram seus concorrentes, Oscar sabia apenas que eram muitos e “muito diferentes” O edital para o processo seletivo para a Direção foi publicado em setembro do ano passado, e tinha algumas peculiaridades: nos termos do próprio edital, as informações enviadas pelos candidatos para o processo seletivo seriam mantidas em sigilo, e apenas o Comitê de Seleção terá acesso a elas. Ademais, o candidato deveria, entre outros requisitos, integridade pessoal e profissional e “espírito inovador”. Na primeira fase, os candidatos deveriam enviar seus currículos, e na segunda, apresentar um “plano de gestão”, o qual deveria conter um plano de diretrizes para que a Direito GV seja uma instituição de referência nacional e internacional em educação e pesquisa jurídica. Por fim, os três últimos candidatos selecionados pelo Comitê seriam submetidos à escolha pelo presidente do Conselho Diretor da FGV.
Em mesa redonda e sabatina, novo diretor da EDESP fala sobre seu plano de gestão com alunos e funcionários
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e a Escola de Direito de São Paulo fosse a Apple, este seria o momento em que seus acionistas estariam receosos e apreensivos quanto a seu futuro: nosso Steve Jobs, o fundador e ex-Diretor Ary Oswaldo Mattos Filho, está deixando o comando da Escola onze anos após sua fundação e consolidação no mercado e na Academia. Seu sucessor é o professor Oscar Vilhena Vieira, graduado em Direito pela PUC, com mestrado pela Columbia Law School, doutorado em Ciências Políticas pela USP e pós-doutorado em Brazilian Studies pela Universidade de Oxford. Oscar começou sua carreira como Procurador do Estado de São Paulo, dirigiu o ILANUD (instituto da ONU para prevenção do crime e tratamento da delinquência) e fundou a ONG Conectas, relacionada a direitos humanos e voltada para a produção de pesquisas e amicus curiae1 para o STF. Também participou da fundação da EDESP, há onze anos. Fazendo jus ao método socrático e à pequenez edespiana, o novo diretor Oscar Vilhena sentou-se em mesa redonda no miúdo auditório do 2º subsolo da Rua Rocha, com alunos e funcionários na manhã do dia 20 de abril para apresentar seu plano de gestão e responder dúvidas. Cerca de 70 pessoas compareceram, em sua maioria professores e pesquisadores do GV Law, com alguns funcionários e alunos da graduação. Atrasado e ofegante, Oscar justi1. Instituto processual americano, em que terceiros são chamados a participar de uma ação com o fim de auxiliar a tomada de decisão pela corte.
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ficou-se: “o elevador está quebrado e tive que descer dez andares correndo!”, provocando risos. Fazendo a ressalva de que possivelmente não teria todas as respostas, o novo diretor teve a intenção de clarear algumas informações e desinformações que os edespiano tinham a respeito do processo seletivo e seu plano de gestão.
Processo Seletivo A mudança de direção nas escolas da FGV sempre foi um processo essencialmente interno. De alguns anos para cá, o processo passou a centralizar-se junto à Presidência no
Plano de Gestão Crédito: Dineito GV
Isabelle Glezer Luiz Lockmann
Oscar Vilhena, novo diretor da EDESP Rio. O candidato que quisesse dirigir a EDESP deveria, além de ser fluente em inglês, apresentar seu currículo para triagem: dos trinta e seis inscritos, nove foram selecionados para apresentar um projeto de gestão. A proposta de projeto continha algumas
Dentro de uma perspectiva de melhoria interna do curso, Oscar Vilhena fundamentou seu plano de gestão tanto na internacionalização aprofundada da Escola quanto na garantia em fornecer conhecimento profundo em qualquer área de interesse do aluno. Apesar de parecer um contrassenso à primeira vista entre ambiente externo e interno à EDESP, é possível dizer que, dentro do plano de gestão, não serão feitas mudanças na forma como a qual o curso é veiculado.
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www.gazetavargas.org Oscar entende estarmos num movimento perceptível em que algumas escolas ao redor do mundo não mais se vêem como dedicadas ao ensino do Direito com vistas à atuação exclusivamente no local em que são formadas. Este processo de internacionalização se iniciou nos anos 80 na Europa, com o Instituto de Empresas de Madrid, estendendo-se para a NYU nos Estados Unidos (que seria considerada uma escola de direito global) e a Universidade de Cingapura (a qual seria uma ponte entre Ocidente e Oriente) Oscar quer garantir a aprendizagem do aluno em todos os níveis de interesse, mantendo a ideia de um curso de graduação que reflita a excelência que o mercado busca em qualquer área, tanto pública quanto privada. A ampliação da internacionalização seria feita a partir de um contato mais amplo da nova diretoria com parceiros externos. Importante ressaltar que a EDESP já nasceu com vasto contato internacional, a exemplo da parceria única com a Harvard Law School e a operacionalização do curso para o recebimento de alunos intercambistas.
Men$alidade Outro fator importante, angustiante ao aluno edespiano, foi mencionado por Oscar em palestras de apresentação: a mensalidade. Embora o curso não tenha perspectivas para uma redução no valor da mensalidade no curto prazo, o prof. Oscar afirmou que outros meios estão sendo considerados para amenizar o problema. 30% do orçamento da escola vem do pagamento de alunos da graduação e mestrado (relativamente poucos), 60% vem dos alunos do GV Law, e o restante vem da própria Fundação. A arrecadação por intermédio das mensalidades não consegue cobrir o alto custo dos prédios da EDESP. EDESP Na palestra de abril, o prof. Oscar afirmou que a escola, ainda com estes valores astronômicos, não se paga.
Por isto, uma alternativa seria priorizar o GV Law como base de expansão de financiamento menos complicada. Outra opção seria aumentar a graduação, mas para tal teria que se pensar imediatamente em outro prédio, dadas as limitações físicas. O projeto de expansão é uma das promessas de gestão, mas para ser implementado num prazo de 4 ou 5 anos. O interesse em reduzir o custo para os alunos (Oscar faz questão de frisar de que não se trata de uma promessa) também guarda relação com as discussões ocorridas no último Seminário Anual de Planejamento, em Campos do Jordão, sobre a elitização da escola. O prof. Oscar indica que um vestibular que cobra conhecimentos em arte e uma mensalidade de R$ 3.600,00 elitizam sim, a escola. Mas esta elitização da scola não seria algo intrinsecamente ruim, pois não se fala em formar “quem está no topo da pirâmide da destruição do próximo” mas “uma elite dentro da missão institucional da FGV”, para que, nos moldes da missão da Fundação, sejam realizados feitos importantes e relevantes à sociedade. O prof. Oscar deu a entender, em sua palestra de apresentação, que o vestibular deve ser repensado para ser mais meritocrático, assim como o valor das mensalidades e a gestão do Fundo de Bolsas. Caso contrário, a EDESP será sempre uma escola excludente e uma elite financeira, ao invésem vez de intelectual.
Legado Para o novo diretor, seu emprego tem três principais atribuições: seduzir os melhores talentos (“Todo mundo deve invejar quem está dentro desta casa. O cara que dá aula em qualquer lugar deve querer trabalhar aqui”); conseguir muito dinheiro (“rodar bolsinha”, na terminologia utilizada pelo prof. Oscar), isto é, conseguir recursos para quem tem muito talento e queira participar desta empreitada e, por fim, modificar a Comissão de Vestibular, para torná-lo me-
nos elitista e mais meritocrático. Seu plano de gestão baseia-se no binômio internacionalização/inserção social. “Inserção social não é abrir uma defensoria pública na porta da EDESP, mas permitir que a atuação destes alunos gere algo que vá contribuir para o desenvolvimento brasileiro. Sei que é abstrato, mas este é um ponto central”, fala o diretor. A faculdade deve estar apta a contribuir social, política e economicamente para o desenvolvimento do país. Deve estar mais presente, realizar pesquisas mais instrumentais às politicas públicas, formar alunos capazes de operar os processos de desenvolvimento brasileiro, como verdadeiros “arquitetos institucionais”. Ary Oswaldo deixa um grande legado: contra todas as expectativas de mercado, abriu uma faculdade de Direito inovadora no Brasil, uma ousadia para a Academia brasileira, mas um avanço, tendo em vista as tendências dos maiores centros de excelência no mundo, que utilizam problem-based learning e o método socrático. “Não há grande inovação e parte disso já tem sido feito. Tivemos o privilégio de ter uma figura como o Prof. Ary Oswaldo e toda a equipe desde o início de 2000, para conceber uma escola fora do marco tradicional das escolas de Direito no Brasil e no mundo”. O novo diretor considera que seria “desastroso e irresponsável” destruir este legado. Demonstrou gratidão pela coragem de todos que aceitaram participar desta empreitada: “assumir depois do Ary é muito tranquilo, pois o estrutural já está pronto”, admite. “Por outro lado, pode ser sempre muito desastroso: depois do Mandela é sempre ladeira abaixo, mas, como não tenho problemas psicanalíticos e uma paternidade muito bem resolvida, tenho a impressão de que fundadores não são substituíveis. Temos ciclos. Temos um novo ciclo a partir do ciclo fundacional, e tenho orgulho de fazer parte destes dois ciclos”. ¤
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Novo Curso de AP: mudanças e premissas Um dossiê completo para atuais e futuros alunos Erica Miyamura Gesley Fernandes
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uase oito meses após a publicação da matéria a respeito da Reformulação do Curso de Administração Pública da FGV-EAESP (“Protagonismo”, Gazeta #86, seção Radiografia FGV), a Gazeta procurou o professor Fernando Abrucio (Departamento de Gestão Publica - GEP), com vistas a atualizar os (atuais e futuros) alunos e a sanar as eventuais dúvidas com relação ao tema. O docente, juntamente com os professores Marco Antônio Teixeira e Maria Rita Loureiro (ambos do GEP), é um dos principais nomes à frente do projeto de mudança. Foram levantados vários tópicos, tais como as principais mudanças, vestibular, ano de vigor, entre outros.
Por que reformular? O início do processo Questionado a respeito das motivações por trás da reformulação do curso, o prof. Abrucio enunciou três principais razões. A primeira seria a intenção da FGV em contribuir para a formação de grandes líderes de gestão pública, na medida em que a demanda por profissionais bem-preparados do setor estatal e do Terceiro Setor tem sido crescente. Em segundo lugar, o docente ressalta a importância destas lideranças, num contexto em que o país deve buscar melhorar suas políticas sociais, aumentar suas ações
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em infra-estrutura, ter bons órgãos reguladores, aprimorar a gestão dos grandes centros urbanos, áreas em que o Estado será fundamental. Por fim, o atual curso de AP não estaria satisfazendo os quesitos anteriores. “A área pública hoje é um adicional do curso, não é seu principal foco e a maioria dos alunos mostra-se desinteressada com relação ao tema”- fato já constatado pela ComunidadeGV. “Queremos jovens com vontade de
em três ou quatro anos. Nos últimos dois anos, o MEC foi consultado para se criar as diretrizes curriculares de AP; foi feita uma pesquisa de mercado e criado um projeto pedagógico juntamente com stakeholders (exalunos, muitos deles grandes formadores de opinião e atuantes na área pública), além da consulta de currículos de Escolas da Europa e Estados Unidos. Aparentemente, a recepção tem sido positiva: há estímulos da sociedade e de ONGs, além de fundações internacionais voltadas para a área pública. O projeto pedagógico está na última etapa de aprovação do MEC, com conclusão prevista para até o início do 2º semestre deste ano. Abrucio assegurou que o MEC possui boas perspectivas a respeito do novo curso.
Principais Mudanças e Vestibular AP não é GV? Alunos de AE, tremei: um curso promissor de AP a caminho... melhorar o Brasil e de assumir funções dinâmicas, e para isso daremos conhecimento para que eles sejam bons articuladores e tomadores de decisão”, disse Abrucio. A sugestão de reformulação, segundo o prof. Fernando, teria partido há cinco ou seis anos, tanto por parte da EAESP quanto por parte da FGV-Rio, quando a própria Fundação passou a repensar seu portfólio de cursos; o real consenso da proposta entre Escola e mantenedora veio
A proposta da reformulação é dar foco, de fato, à área pública – tanto que o mesmo será rebatizado como “Curso de Graduação em Administração Pública”, com vistas a deixar claro que se trata de outra graduação, e não uma simples habilitação do curso de Administração. Além disso, já é sabido por muitos que os vestibulares de AE e AP terão listas separadas. A princípio, o processo seletivo para o curso de Administração Pública ocorrerá uma vez ao ano, sendo o primeiro vestibular realizado ao final deste ano, com a composição da primeira turma já
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Política Interna
www.gazetavargas.org para o primeiro semestre de 2012. O exame de seleção será em moldes similares aos do atual vestibular de ADM: dividido em dois módulos, um objetivo e outro discursivo. A prova objetiva será de múltipla escolha, envolvendo questões de Matemática, Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Conhecimentos Gerais; já a discursiva contará questões de Conhecimentos Gerais, uma Redação em Língua Portuguesa e a novidade, que é uma dissertação sobre o Brasil contemporâneo. O curso foi dividido em “Semestres Bimestrais”, com disciplinas semestrais (contínuas, por todo o semestre) e bimestrais (somente na parte inicial/final de cada semestre). Segundo Abrucio, essa divisão teve a intenção de dar maior flexibilidade ao aluno para as Imersões e Conexões – atividades previstas pelo cur-
Queremos jovens com vontade de melhorar o Brasil e assumir funções dinâmicas
rículo. Nas Conexões, são propostos programas de estágio de inserção local e outro nacional, em conjunto com governos locais, dando enfoque ao aprendizado na prática, em proposta semelhante a do programa Conexão Local do GVpesquisa. A novidade fica por conta do Conexão Internacional, com intercâmbio com os Países do Eixo Sul-Sul (América Latina, China, Índia e África Portuguesa). Na grade curricular ainda foram incluídas Oficinas e disciplinas específicas, como “Sistema Político Brasileiro” e “Política Fiscal”, além de eletivas voltadas às áreas
de Educação, Saúde, Planejamento Urbano, Sustentabilidade e Inserção Internacional. Há, entretanto, disciplinas familiares ao curso de AE, como Matemática, Estatística, Microeconomia, Macroeconomia e Contabilidade, além de excelentes disciplinas complementares, como Direito Constitucional e Direito Internacional. Quanto ao estágio curricular obrigatório, haverá uma visível preocupação em vinculá-lo a projetos em que os alunos possam auxiliar as instituições, fazendo da pesquisa um estagio e validando-a como experiência profissional. No caso das Bolsas, estão previstas as concedidas pela própria Fundação, com a intenção de uma oferta de bolsas específicas para alunos advindos de escolas públicas. Nesse sentido, uma das principais aspirações do prof. Abrucio a respeito do novo curso é, em suas próprias palavras, “que a elite intelectual possa aprender a lidar com a diversidade”. A maior preocupação, entretanto, vem por parte dos alunos recémaprovados em AP, cuja turma será a última com currículo antigo. A respeito da questão, o professor assegura: “façam seu curso tranquilamente”, uma vez que o docente deu a entender que os eventuais prejuízos de conteúdo seriam sanados com equivalências para o curso novo. No plano formal, o professor Abrucio assumirá o cargo de Coordenador do Curso de Administração Pública, enquanto o professor Marco Teixeira será designado como Vice Coordenador. Atualmente, tanto a CG (Comissão de Graduação) quanto a Secretaria de ambos os cursos (AE e AP) é a mesma. A relação entre os dois cursos tem melhorado, segundo Abrucio, o que é propício, uma vez que há o projeto de eletivas abertas a todos os cursos – com mais eletivas comuns, haveria uma maior sinergia entre as Escolas, com mais duplas graduações.
Mercado de Trabalho e Perspectivas São inúmeras as possibilidades de atuação para o profissional do setor público, das quais cinco se destacam: carreiras de Estado nos três níveis de governo (Municipal, Estadual e Federal), fundações empresariais, partidos políticos, ONGs e Organismos Internacionais. Aparentemente as perspectivas são otimistas para o mercado de trabalho – o professor citou as carreiras de Estado e no Governo Federal como boa opção para aqueles que procuram estabilidade e segurança; já as OSCIPs, fundações empresariais e demais organismos públicos não estatais, possuem salários atraentes – somente a iniciativa privada é responsável por mais de 1 bilhão de reais por ano destinados à Educação. Segundo o docente, o curso de AP da EAESP também oferece boa base para os interessados na carreira política ou em organismos internacionais. Uma das áreas de maior escassez de mão-de-obra qualificada continua sendo, no entanto, as ONGs, cujos ambientes são mais heterogêneos entre si. Aos aspirantes a diplomata, por exemplo, o docente assegura que o aluno formado pelo novo curso de AP terá base tão boa quanto ou superior aos melhores candidatos para o renomado Instituto Rio Branco, ou seja, alunos formados em Direito ou Relações Internacionais. Quem sabe uma dupla graduação em AP e Direito pela FGV não tornaria a formação imbatível? Para delírio da nação geveniana, o professor também citou a média da margem salarial dos profissionais de área pública: De R$7000 a R$8000 em fundações empresariais e entre R$10.000 e R$12.000 para carreiras de Estado: “A tendência dos salários em AP, no longo prazo, é basicamente de aumentos e melhoria profissional”. De maneira geral, a carreira na área pública corresponde aos adjetivos: estável, seguro, atrativo e desafiador. Bons motivos para começar a dar maior importância aos concursos públicos, administradores... ¤
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Coluna de Tecnologia
A hora e a vez do tablet
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itinerante laboratório de testes da Gazeta Vargas, com sede na Fnac da paulista e subsidiárias na Fast Shop do shopping Higienópolis, testou, sem a menor exclusividade, os novíssimos itens tech de consumo disponíveis no mercado brasileiro.
Android
http:showmetech.com.br/wpcontent/uploads/2011/01/motorola-xoom-vs-apple-ipad-0.jpg
O Primeiro a ser testado foi o XOOM, tablet da Motorola (que em terras tupiniquins é chamado de Chum, Chon, Zum, Xssum e outras demonstrações de ecleticidade deste povo tão caliente). Este tab é o primeiro com o sistema Android do Google desenvolvido só para tablets, e esbanja recursos como aplicativos na tela inicial, notificações não-intrusivas e um bom gerenciamento de multitarefa. Fisicamente,
Duelo de titãs ele tem duas câmeras de até 5MP, processador dual-core e uma tela de maior definição que a do iPad. Para o sistema Android, todos os aplicativos para celular rodam normalmente nele sem a necessidade de baixar a versão especial para tablets. Mesmo assim, o mercado de conteúdo para o Android está correndo atrás da Apple e estimase que neste ritmo de expansão, ainda este ano, o número de aplicativos para Androids será maior do que os disponíveis na appstore da Apple.
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iPad
O segundo a ser testado foi o iPad 2 que, a partir do dia 27 de maio, começou a ser vendido no Brasil. Diferentemente do iPad 1, demorou muito menos tempo para ser “liberado” pela ANATEL e desembarcar de seus containers vindos da China. Para felicidade geral da nação, além da versão chinesa, está prevista uma versão “made in Brazilis” com insenção de imposto de importação e benefícios fiscais. Isso tudo graças a um investimento de US$ 12 bi diretamente da China para diminuir o preço brasileiro e atender a demanda local e regional. Com a produção brasileira e o pacote de incentivos a esse tipo de produto aprovado pelo governo, é estimada uma redução no preço de até 30%. Contudo, a venda dos iPad 2 “brasileiros” não tem uma previsão oficial de início de comercialização e o produto pode chegar às prateleiras, entre junho e novembro, de acordo com várias fontes não muito confiáveis. Para os leigos, o novo iPad não mudou nada, mas para os fanáticos a diferença é grande. O tablet foi redesenhado, ficando mais leve e um terço mais fino e traz também uma câmara frontal e traseira para fotos e vídeo chamadas. O processador foi trocado por um dualcore (famoso 2 em 1) e o desempenho gráfico, para os idolatrados joguinhos, melhorou em 9 vezes, segundo a Apple. Ainda sim, há quem diga que a maior mudança foi ter a versão branca e a capinha smart-cover que desliga o iPad e o posiciona para os modos digitação e modo YouTube.
Comparativo No comparativo entre o Xoom e o iPad, a editoria de tecnologia da Gazeta Vargas escolheu o iPad. Um dos motivos é a inconstância e vagarosida-
de do sistema Android, típico de um sistema muito novo. O ponto a favor do iPad 2 foi a disponibilidade de conteúdo como revistas, jornais, canais de televisão e muitos outros aplicativos visualmente mais agradáveis.
LapDock Para quem não quer nem um tablet nem um computador, a Motorola oferece uma opção meio inusitada: o lapdock – é uma carcaça de computador para http://portalitpop.blogspot.com/2011/04/motorola-atrix.html
Daniel Fejgelman
LapDock da Motorola você espetar o seu celular e que oferece apenas o browser de internet. Ele pode carregar o celular e apresenta duas entradas USB. O modelo foi muito elogiado por sua inovação, mas foi bastante criticado quanto ao seu preço e utilidade prática.
Windows Tab? A Microsoft tenta mostrar que ainda está no jogo. E assim irá reformular seu Windows para rodar nos tablets antes que seus concorentes abocanhem ainda mais o mercado de computadores. Ela está reformulando seu sistema operacional para ficar o mais leve possível e rodar suavemente nos tablets, além de melhorar a interação touchscreen. A vantagem será ter um computador completo dentro do tablet com direito a progamas de Windows e conexões USB para pen drives e afins. ¤
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Crônica
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Uma tarde de espera O olhar de um entediado no estacionamento a uma selva inexplorada
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exta-feira à tarde e eu esperando no estacionamento para ir para minha humilde residência e entrar no belíssimo processo de procrastinação rotineiro das tarefas da próxima semana. Enquanto espero dar a minha hora, resolvi explorar a área para ver se o tempo passa mais de- pressa. É engraçado o quanto se pode enxergar somente passeando pelos corredores e observando o comportamento dos indivíduos na selva estudantil. Tudo é como se fosse um teatro encenado por personagens do dia-dia e existe de tudo um pouco: alunos conversando em pequenos guetos, alguns surtando por causa de provas, outros dormindo pelos cantos... Enfim várias situações. Resolvi me aprofundar mais na minha busca pelo avanço do tempo e adentrei cada vez mais nesse ambiente intrigante. Nas salas de aula vejo aquelas clássicas matracas que atrapalham até o momento de enlouquecimento, os bitolados amantes da fala do professor e alguns zumbis que vi rapidamente no estacionamento. O maestro da sinfonia é claro o professor que poda as suas crias falantes de cinco em cinco minutos, alicia o ego dos hiper-participativos e ainda tutela a entrada e saída de todos os indivíduos que respiram dentro da sala de aula. Nos adventos dos novos tempos, o controle de presença é high-tech para não deixar nenhum furador de sistema escapar. Professores mais clássicos ainda não abandonaram o tradicional papel de presença para formalizar esse panóptico tão perverso.
Esse grande aparato de tutelagem não acaba dentro da sala de aula, obviamente. Nos corredores, é claro, diversas câmeras observam o comportamento dos personagens rotineiros e gravam atitudes que se desviam do aceitável, dia após dia. Os maiores auxiliadores da segurança são os inspetoresbedéis cuja grande satisfação é relembrar aos alunos o comportamento adequado a ser executado nas dependências educacionais. Do outro lado do prédio, pode-se observar essa tutelagem nas entradas e saídas da biblioteca. Não é possível adentrar em seus muros impenetráveis com comidas, mochilas, computadores de mão entre outros objetos radioativos que podem destruir completamente o acervo intocável. O sistema de controle é digno de aeroporto americano pósataque terrorista, mas é claro que nossos amáveis personagens sempre têm uma artimanha para escapar dessas regras tolas (dica: usem os bolsos meninos... ainda não perceberam essa estratégia sutil!). De relance ainda capto mais controle na vida acadêmica na figura de uma Coordenação, de uma cantina com preços abusivos e baixa qualidade, de um sistema de punição para comportamentos
Private Preschool
Luiz Lockmann
desviantes, de uma área virtual acadêmica entre vários outros. Mas logo me cansei da estrutura e fui verificar como os alunos pensam. No intervalo ouço diversos assuntos intrigantes desde a derrota palmeirense, cores de unhas da moda, devaneios consumistas e o clássico almejo de salários estrondosos no futuro. Em meio a tudo isso, temos ainda os coleguinhas bitolados que resolveram comer algo na cantina para desestressar um pouco. Nesse momento de relaxamento, finalmente estes podem conversar tranquilamente sobre o que vai cair na próxima prova e como está tudo dificil, sem se preocupar. Volto um pouco para as salas de aula e vejo aquelas clássicas reclamações de prazos, de dificuldade, de número de provas e outros blablabla. Os professores mais bondosos estendem até a próxima quarta-feira as entregas de trabalho e o problema está resolvido. Alunos comemoram a possibilidade de fazer somente na véspera de terça... ufa!. Além disso, após o clamor popular, o bondoso mestre retira metade dos capítulos para a prova daqui a um mês para não estragar os meninos. Esse amor de pessoa, no fim da aula, é taxado por alguns de “várzea total” e por outros de “papai”. Agora se o professor tiver a ideias carrascas... meu Deus... os alunos se unem como nunca para reclamar com a babá Coordenação. Ironicamente existe um serviço de tutelagem especifico somente para atender essas demandas importantíssimas. Bom, depois de muitas andanças, minha hora finalmente chegou. Dou mais uma olhada na quadra razoavelmente vazia depois de um jogo tenso de futebol e sigo para meu carro. Com um timing perfeito meu irmão chega e se acomoda no banco de trás. Devido às cortesias sociais, mesmo conhecendo a sua monossilábica resposta, pergunto a ele: - Como foi na escola hoje? - Bem... – responde ele Tudo pronto finalmente e sigo para minha humilde residência só pensando no meu processo de procrastinação. ¤
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Humor
The Gazeta Herald Carta Aberta aos Alunos
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uito tem se especulado quanto à reforma do primeiro andar, então urge a necessidade de um posicionamento definitivo. Delinearei aqui minuciosamente em narrativa todos os aspectos da evolução da reforma, os contrapontos, as decisões e os resultados . Antes de tudo muito foi debatido acerca de seguir o exemplo de nossos colegas que ‘adevogam’ e externalizar a semicentenária entidade, porém após inúmeras divergências de local (desde a decadente Dubai até o soon-to-develop Haiti) e escassez de ilhas paradisíacas para serem compradas a fim de abrigar os membros, decidiu-se por manter o DA no prédio John Fitzgerald Kennedy. Decidido isso, demorou mais algumas semanas até que Oscar Niemeyer se posicionasse quanto ao nosso pedido de projetar a reforma a custo zero para ‘lembrar os bons tempos’ ao final das quais um vagaroso, mas definitivo ‘não’ emergiu. Entretanto, esse desapontamento não foi páreo para a motivação dos membros em ‘trocar essa joça’ e assim que se definiu o arquiteto a reestruturar nosso espaço, abriuse a sessão de brainstorming para ‘o DA do Amanhã’, e agora descrevo uma a uma as principais ideias. Aderindo a nova onda do ecologicamente correto, procuramos antes de tudo criar um DA autossuficiente em energia, substituindo então a ambientalmente ofensiva Xerox por uma usina de enriquecimento de urânio. Não só pelo fato de toda a energia produzida suprir as atividades do andar (e o excedente vendido ao resto da GV), mas também pelo fato de ser possível desenvolver armamento nuclear, acabando assim com a necessidade por advogados.
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Esse pedido encontrou dois obstáculos que acabaram inviabilizandoo. Primeiro, a atitude mesquinha do BNDES em negar o empréstimo de 4,5 bilhões de reais para o projeto e, segundo, a intervenção desaforada da ONU através da Agência Internacional de Energia Atômica. Em reunião do DAGV, o secretário geral Ban Ki-moon explicou com “Pô, falei que não pro Irã, se abrir pra vocês fode” (sic). O DAGV discorda da decisão e está, oficialmente, de mau. Mesmo assim, o inabalável espírito empreendedor do grupo de reforma superou essa derrota e, em gesto de afeto à sua irmã AAAGV, resolveu derrubar todas as paredes e pavimentar uma quadra de tênis (esporte defasado no Economíadas), mas a imposição da Fundação quanto à necessidade de se manter as colunas intactas desapontou a iniciativa. Alcançando finalmente um consenso quanto ao projeto, a DAGV buscou meios de captar recursos para reformar, e nesse momento a tão ausente sorte deu as caras quando recebemos um e-mail da esposa de um falecido ditador senegalês pedindo ajuda para transferir os bens da família ora congelados e, depositando 15 mil dólares no dia poderíamos resgatar 150 mil dólares em dois meses. Mesmo o prazo tendo estourado, estamos aguardando retorno da viúva e, nesse meio tempo, sistematicamente apostando na Mega Sena contando com nossa sorte. Mesmo assim, como uma entidade precavida vale por duas, resolvemos correr atrás de mecenas que pagassem nossa reforma em nome de parceria, porém a persistente e arroz-de-festa crise financeira atrapa-
lha a legitimidade de nossos planos. Foi com isso em mente que o DAGV, pioneiro, procurou ajuda de organizações guerrilheiras como as Forças Armadas da Colômbia (FARC) e Talibã, que demonstraram grande interesse na formação de parceria. Uma terceira via de captação de recursos pode ser a abertura do capital social da entidade e especulação de ações para inflá-las. As negociações vigentes dão um certo otimismo à entidade, mesmo ela abrindo mão de tantos benefícios ao aluno, ainda conseguiremos um primeiro andar ‘do caralho’. Em carta enviada à diretoria da Petrobrás, informamos a descoberta de reservas petrolíferas nos subterrâneos do auditório e o fato do prédio ser tombado impede qualquer ação da nacional aqui dentro. Assim, todos os já vendidos direitos de prospecção são nossos, e mesmo que futuramente haja inquérito quanto à extração do recurso, responderemos que “foi um engano, era apenas o mau cheiro do banheiro”. Paralelamente já incluímos o projeto de reforma no PAC 3, a ser lançado no início do governo Dilma. Mediante essa constelação de acontecimentos e estratégias minuciosamente traçadas, pode-se entender o porquê da reforma tomar tanto tempo. O alunato geveniano não é alguém comum. Assim como o presidente do Senado, José Sarney, divide a exclusiva classe dos especiais, então não faz sentido que uma obra não homenageie faraonicamente essa altivez. É condizente então que seus seiscentos e tantos metros quadrados sejam dignos de seu ar, com esculturas tiradas da Basílica de São Pedro e decoração planejada pelo próprio Valentino, além de Jardins Suspensos como na já grandiosa Babilônia. ¤
Diretório Acadêmico Getúlio Vargas
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Dia dos Namorados
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Dia dos Namorados está chegando, e com ele o mundo feminino se subdivide em três espécies: Aquelas que tem namorados lindose-perfeitos e acham que é obrigação das amigas solteiras ficar escutando detalhadamente todos os planos do dia, dando opiniões. Ex: Kate Middleton, Kristen Stewart. Aquelas tão autossuficientes que fazem até fotossíntese, que aderem ao Girl Power, não tem namorado e são adeptas do: “E daí se eu passar o dia dos namorados sem namorado? Eu também não passo o dia do índio com um índio, nem o dia da árvore com uma árvore”. Ex: Preta Gil, Maria Sharapova.
Aquelas que enxergam o dia 12 de junho como uma corrida contra o tempo para ganhar um bom presente. Ex: Stefany Brito e a futura mãe do Neymarzinho. Se você que está incluída na última categoria, aqui vão 10 dicas para achar o target perfeito para alcançar a vitória no dia 12: - Visual é tudo: preste atenção nas roupas, cabelo, pele. Cuidado para os muito arrumadinhos, pois há chances de eles jogarem para o outro time. - Peça uma carona e preste atenção no carro, que deve ser modelo 2010 ou 2011, 2009 no máááááximo. - Não foque no rapaz mais inteligente da sua sala, foque naquele que tem caci-
fe pra bancar as DPs. - Blackberry ou iPhone. Android é para nerds. - Bofe que não liga de pagar o último lote da Gioconda: é melhor pagar mais do que pegar fila. - Fique longe dos targets do Direito, pois eles conhecem o terror dos terrores: o acordo pré nupcial e o casamento com separação total de bens! - Almoço self-service só se for MASP ou America. - Toda festa é open-bar para o target. - Endereço de trabalho: Juscelino Kubitschek ou Faria Lima. Se não der certo, não se preocupe. Dia 13 de junho é dia de Santo Antonio, jogue suas mágoas nele! ¤
Invalidamos a eleição de 2011 por razões que serão abertas ao público com mais veemência que empregada de hotel nova iorquino. A eleição nos mostra três chapas, sendo duas compostas por bixos, que deveriam estar comprando cerveja ou passando em Cont I e não mexendo com ideologias sérias. A da tomadinha era mais apagada impossível e a chapa azulzinha, realmente, acho que Você, Você, Você não quer. Se o problema é falar de ideologia, anuncio ao menino da carta programa exatamente isso: nossa ideologia é baseada na filosofia FBKs anti-peleguismo. A oposição aos bixos não fica atrás, pois denuncio um roubo total de conceito das nobres FBKs, conceito este construído ao longo de anos de luta incansável. Liderados por personagem de quadrinhos, a chapa Manifesto Parte II: O Retorno deveria se envergonhar em associar os degenerados da bateria Tatu-bola com nobres ideologias marxista-comunistas de Adolf Hitler. O geveniano diferenciado não quer a volta da cerveja, mas sim retorno do Blue Label nas dependên-
cias do 1° andar. Arrasada pela não mobilização dos alunos para o embargo dessas eleições, a FBK anuncia de antemão sua candidatura em 2012. Nesse ano de acontecimentos caóticos a FBK proporá a criação do Comando Radical Ditatorial (CRD) com objetivo de conduzir a total aniquilação da organização conhecida como DAGV. Com nosso diretor de Privatizações buscaremos a venda das patentes de festinhas Giovanna e Gioconda. Depois de ganharmos uma margem de 45,5% destinada a suprir as demandas do auto comando das FBKs nas Ilhas Cayman, a instituição pelega verá o fim do seu mais cruel malefício: o Repasse. Finalmente em nome de todas as FBKs faço um apelo a você aluno babão que ainda não entendeu por que tem tanta gente que vem de camisas de cores primarias na FGV nos últimos dias. Agora você já conhece o nosso Manifesto de Acesso às ideias de Resgate a Energia da Identidade FBK. Nós estamos vivos, com sede de vingança e iremos derrubar o governo assim como houve o último Waterloo da Gestão Acesso... FBK’S WILL BE BACK! ¤
Tragédia Eleitoral Fernando Bacetto Kamostry
Anos de luta contra o peleguismo dentro da FGV foram reduzidos a pó nessa ultima eleição para o Diretório Acadêmico Getúlio Várzea. Somente pouco atentos perceberam que esta eleição faltava uma peça chave para se tornar legítima: seu melhor candidato FBK! Em nome de todas as FBKs asteriscos ad infinitum quero dizer o quão enojado os integrantes de tão nobre organização estão com a conduta pelega das chapas supostamente concorrentes ao fragmentado DAGV. A morte de um dos nossos mentores espírito-politico-econômico-sóciofinanceiro-ideológicos chocou em demasiado as FBKs. Mestre Osama Bin Laden foi brutalmente assassinado por pérfidos porcos capitalistas contrários aos valores morais dialéticos transfigurativos desse guia perpétuo. O conselho geral unificado, após a morte de companheiro Bin, declarou sete dias e meio de luto pelos ataques feitos aos guias, o que impossibilitou a candidatura.
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