Edição 87

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Flagra

Bota fora:

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Crédito: Isabelle Glezer

bota fora do fim do ano passado (10/12/2010) não teve um final feliz para muitos gevenianos. O evento, organizado pelo DA e pela Atlética tem como apelo ser um momento em que os estudantes podem aliviar as conhecidas tensões vividas no final do semestre. No entanto, devido a problemas na organização, vários alunos não conseguiram entrar na festa e saíram ainda mais irritados e revoltados. Se a intenção era botar para fora, eles conseguiram. ¤

Mariana Moreira Alunos na fila para entrar na festa

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Editorial

www.gazetavargas.org

Expediente Edição

Isabelle Glezer – Editora -Chefe - 5˚ Direito belglezer@gmail.com

Redação

Daniela Funaro - 5º Direito danifunaro@hotmail.com

Felipe Yamada - 5˚ Economia

felipeyamada10@gmail.com

Flávio Ciabattoni - 3˚ AE

flaviolima_91@hotmail.com

Luto

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uma ocasião em que palavras são absolutamente inócuas, não iremos relatar o ocorrido e sequer temos a pretensão de descrever a dor de uma perda irreparável. A Gazeta Vargas lamenta profundamente o falecimento do aluno Júlio César Grimm Bakri, vítima de um ataque violento ocorrido no dia 23 de fevereiro de 2011, e deseja uma pronta recuperação ao aluno Christopher Akiocha Tominaga. Oferecemos toda nossa solidariedade às famílias e amigos. ¤

Gesley Fernandes - 7˚ AP f.gesley@gmail.com

João Lazzaro - 5˚ Economia jglazzaro@gmail.com

Mariana Pacetta - 5˚ Direito

marianapacetta@gmail.com

Marina Silva - 5º Direito

marina.arsilva@gmail.com

Rafael Cossi - 5º Direto

rafaelcossi@gmail.com

Thais Canina - 3º Economia thacanina@gmail.com

Colunista

Daniel Fejgelman - 7˚Economia daniel.fejgelman@gmail.com

Arte

Mariana Moreira – Diretora de Arte - 5˚ AE marianam19@gmail.com

Breno Oliveira - 6˚AE

brenofenrir@hotmail.com

Gabriela Szini – 3˚ Economia gabrielaszini@gmail.com

Marina Simões – 3˚ AE

marinaoh@gmail.com

Institucional

Pedro Veloso – Presidente Institucional - 5˚ AE pedrohenriqueveloso@hotmail.com

Henrique Sznirer – 7˚ Economia sznirer@gmail.com

Laurent W. Broering – 5˚ AE

laurent_broering@hotmail.com

Mariana Arosteguy - 5ºAE

mari.arosteguy@gmail.com

Rosa Lima - 5ºAE

rosa.souzalima@gmail.com

Capa

Gabriela Szini – 3˚ Economia gabrielaszini@gmail.com

Conteúdo Online

Leonardo Vergani - DiretordeConteúdoOnline- 2˚AE vergani.leonardo@gmail.com

Impressão

Quality Gráfica

Tiragem

3000 exemplares

Contraponto

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ma despretensiosa notícia é enviada pelo grupo de e-mails da Gazeta, informando o primeiro lugar da EDESP em aprovações na OAB. Nossos economistas, por força do hábito, põem-se a questionar a amostra, a dispersão, a média, o desvio padrão e os demais dados estatísticos das manchetes. O departamento jurídico, de orgulho ferido, enche-se de autoridade e mergulha de cabeça na polêmica, levantando problemas do ensino jurídico no Brasil. Eis que já estamos completamente imersos em uma discussão infindável sobre a qualidade da prova, sua necessidade para exercer a advocacia no Brasil, a erradicação dos advogados e a litigância pro se. Mas não se trata de uma bate-boca exclusivamente jurídico. Afinal, a partir de 2010, para colação de grau, os ingressantes do curso de Economia da FGV deverão ser aprovados na prova da ANPEC com nota superior à mediana. São medidas como estas, discutidas na edição #87, que retomam debates quanto ao valor e à utilidade de nossos diplomas. Por que gastar tanto com educação superior? O que é feito com todo este dinheiro? Será que o fato de estudarmos em uma instituição particular exime seus gestores de gerir seus gastos com mais responsabilidade e transparência? Emblemática atividade gazeteira, o contraponto não busca respostas categóricas a estes dilemas. Consiste na humilde tentativa de conciliar o estado de natureza brutal das discussões políticas com argumentos construídos a partir de informação e educação. Para respondê-las efetivamente, são necessários debates que efetivamente ultrapassem o papel, vociferados mundo afora, sem prepotências nem superficialidades. As exaustivas discussões sobre o acompanhamento acadêmico do geveniano desencadearam a busca por matérias que refletissem a necessidade de atividades desconexas dos estudos, como a prática de esportes, trabalho voluntário, desempenho em dinâmicas de grupo, ou até mesmo palestras como as Jornadas Impertinentes, focadas em gestão reflexiva. A falta de tempo crônica faz com que negligenciemos estas experiências, tão importantes quanto um quadro de honra. Afinal, o que você faz fora da GV? ¤

Isabelle Glezer

DISCLAIMER

A Gazeta Vargas não se responsabiliza por dados, informações e opiniões contidas em textos devidamente identificados e assinados por representantes de outras entidades estudantis, bem como nos textos publicados no Espaço Aberto submetidos e devidamente assinados por autor não presente no expediente desta edição. Todos os textos recebidos estão sujeitos a alterações de ordem léxico-gramatical e a sugestões de novos títulos. Por ser limitado o espaço de publicações, compete à Gazeta Vargas a escolha dos textos que melhor se enquadram na sua linha editorial, sendo recusados os textos muito destoantes acompanhados das devidas justificativas e eventuais sugestões de alterações. DIREITOS RESERVADOS — A Gazeta Vargas não autoriza reprodução de parte ou todo o conteúdo desta publicação.

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Curtas

Curtas da Gazeta #87 “Florescer do Vale”

E a reforma?

Como todas as mudanças na infraestrutura da EDESP, a substituição da franquia do Rockafé pela Florescer do Vale ocorreu a toque de caixa durante as férias de verão. Impulsionada por uma pesquisa online conduzida com os alunos, a troca teria sido motivada pela insatisfação dos alunos com a falta de variedade e a falta de um serviço de almoço. A nova instalação, embora sirva apetitosas tortinhas de limão e morango (R$ 5,90 cada), coxinhas de catupiry e sucos naturais, ainda não conta com o prometido almoço self-service, reivindicado pelos alunos. O preço é bem salgado, mas, em compensação, todos cartões de crédito são aceitos.

Devido a um corte orçamentário no patrocínio da FGV, a reforma do 1º andar foi novamente postergada. O projeto de reforma estrutural (quebra e construção de paredes, revestimento, encanamento e todos bastidores) teria sido orçado para R$ 550 mil, mas teve suas verbas cortadas para apenas R$ 50 mil. Com este dinheiro, o DAGV comprou 14 novos sofás, 55 mesas e 110 cadeiras. O DAGV já está em busca de novos patrocinadores para a reforma, tais como Santander, Ambev e Microsoft. Entretanto, tudo indica que a reforma será empurrada para a próxima gestão.

Multa Inflacionada

A graduação da EAESP ganhou mais uma concorrente este ano: a FIA (Fundação Instituto de Administração), instituição criada e gerida por professores da FEA, realizou em dezembro seu primeiro vestibular para o curso de administração de empresas, cuja mensalidade é de R$1970. A iniciativa da FIA causou grande polêmica entre os feanos, já que o objetivo original da Fundação seria promover atividades de apoio acadêmico à faculdade, e não concorrer com a mesma. Aparentemente, a professora Maria Tereza Fleury teria envolvimento nessa iniciativa; segundo seu currículo Lattes, esta é membro pleno do conselho da FIA.

Mesmo com todos os e-mails lembrando a data de devolução dos livros alugados na biblioteca Karl A. Boedecker, os mais esquecidos vez ou outra acabam pagando pelo atraso de uma obra retirada. A partir de agora, este atraso pode custar caro. Pode ir preparando o bolso, geveniano, pois a nova multa aprovada pela Diretoria de Operações é de R$ 5,00 por dia de atraso. A Gazeta Vargas aproveita o ensejo para manifestar sua indignação com a medida e cobrar um posicionamento da DO.

Altos e Baixos Em alta

Concorrência

Na mesma

Márcio Holland no Governo Dilma

O economista Márcio Holland, professor e coordenador de pós-graduação acadêmica da EESP, é o novo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Doutor em Economia pela Unicamp, Holland é conhecido por suas posições econômicas heterodoxas, sendo defensor da famigerada tese da “doença holandesa”, bastante popular entre economistas EESPianos. Seu substituto na coordenação é o professor Pedro Valls.

Ó céus, ó vida... Universitários reclamões, uni-vos! O perfil @fgvdadepressao, seguindo a onda de outros perfis “depressivos” no Twitter como os do Mackenzie (900 seguidores), USP (3.000 seguidores) e ESPM (500 seguidores), com apenas um mês de vigência conquistou mais de 200 “insatisfeitos” com a faculdade. A ferramenta consiste em fazer reclamações randômicas sobre o funcionamento das instalações ou a (falta de) vida universitária. Os seguidores deste perfil no Twitter também podem enviar colaborações e serem retwitados. @fgvdadepressao: “Amanhã tem cervejada na GV. As mulheres de São Paulo vão estar na da ESPM”.

Em baixa

»» Chuvas em SP

»» Restrição ao Lounge Citibank

»» Muammar Kaddafi

»» Preços Rockafé

»» Reforma da fachada

»» Energia Nuclear

»» @fgvdadepressao (Twitter)

»» Extradição de Battisti

»» Orkut

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Curtas

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Opinião do Leitor Gazeta #86 Comentários extraídos do site da Gazeta Vargas Autonomia Gazeta Herald Ademais, adorei a matéria e a edição da vontade está linda! Ótima diagramação!”

“Achei a matéria muito bem escrita! Concordo e compreendo todos os pontos apresentados. No entanto, acredito ser um erro da escola partir do pressuposto de que todos os professores dêem o mesmo curso, uma vez que muitas matérias não são unificadas e até mesmo conteúdo cobrado nas provas pode variar de um professor para outro. Na minha opinião, não permitir que o aluno tenha acesso aos professores no momento da matrícula é “tampar o sol com a peneira” e não soluciona o problema da divergência dos cursos ministrados por diferentes professores.

Larissa Marubayashi

“Só para não esquecer...” “Como é do conhecimento de todos que participaram do economíadas ’10, nós, gevenianos que optaram pelo alojamento, enfrentamos alguns problemas. Entretanto, identifiquei-me MUITO com o artigo de 2004.Também fui como bixo, membro da bateria, e nossa… Foi a melhor experiência da minha vida. Realmente: há coisas que nunca mudam!” Luiz Carlos Alves Junior

Homenagem

“Muito interessante essa nova seção da Gazeta! Uma crítica bem humorada aos acontecimentos relacionados a GV e as atualidades. Parabéns pela edição!!!” Murillo Seelent

Mi casa, su casa? “Apesar da boa idéia, a casa do CA parece uma idéia falida. Os eventos parecem essenciais para que a casa “pegue”. Esperamos que com o tempo a gestão tenha bom senso para analisar objetivamente a viabilidade financeira da casa.” Fernando Sant’Anna

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Crédito: Breno de Oliveira

a sexta-feira do dia 25 de fevereiro, os alunos das três escolas da FGV mobilizaramse através do Facebook para vestiremse de branco em homenagem ao aluno Júlio César Grimm Bakri e protesto contra a inaceitável violência de que fora vítima. Em uma comovente cerimônia, professores e amigos de Júlio pronunciaram-se sobre o ocorrido, oferecendo palavras de apoio à família, que também estava presente. ¤

Diretora da EAESP em homenagem ao aluno Júlio César Grimm Bakri

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Opinião

Trabalho Voluntário na FGV e Suas Contradições A Geração Y

Marina Simões Flávio Lima

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modelo de sociedade na qual a geração Y (nascida a partir de 1980 ) cresceu, apresenta uma lógica que difere completamente das anteriores. Isso fez com que surgissem novos desafios para as empresas ao contratar essa mão de obra. A modernidade vivida pela geração Y se tornou tão inflada que superou a si mesma, criando, o que pode ser chamado de pós-modernismo. Essa geração é obrigada a ter um comportamento competitivo que extrapola os limites da razão: a pressão para passar nos vestibulares, tirar as melhores notas e conseguir um estágio toma horas de estudo e quase todo o tempo do aluno, tornando-o alheio ao mundo ao seu redor. Segundo Ademar Bueno, coordenador do CooperaGV (órgão responsável pelo voluntariado na FGV), devido a competitividade exarcebada criada pelo vestibular, o aluno ao entrar na faculdade, chega “desvirtuado”, desprendido de seus valores morais e éticos adquiridos durante a formação. A faculdade procura então refrear esta competitividade por meio de iniciativas como o “trote sustentável”, onde os alunos são incentivados a cooperar entre por meio de atividades de preservação do espaço social, como por exemplo, limpar as ruas nos arredores da faculdade. Atualmente, as empresas estão buscando novos perfis para o mercado. Além da competitividade, elas procuram profissionais que saibam também trabalhar em equipe e que possuam valores e amor por sua carreira.

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Uma maneira de criar esses valores é ser voluntário. A ONU caracteriza o trabalho voluntário como o ato de “dedicar parte do tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou de outros campos...”. Percebe-se, portanto, que ser voluntário não se restringe apenas a ações de assistência a pessoas carentes, como muitos podem pensar. Por exemplo, na FGV, podemos considerar todas as entidades como prestadoras de trabalhos voluntários, bem como todas as outras atividades oferecidas como complementares dentro da escola. Porém, as atividades de caráter socioambiental são as mais valorizadas, pois contribuiriam para o desenvolvimento de uma consciência cidadã no aluno. Na EAESP é obrigatório que o aluno realize 30 horas desse tipo de atividade, na EESP esse número baixou para 10 horas. Porém, essa obrigatoriedade do voluntariado, a “boa imagem” gerada no currículo, ou também a maneira “fácil” de obter créditos, pode fazer com que o aluno se inscreva sem nenhum motivo altruísta. Porém, pode ocorrer que durante a prestação do serviço, o aluno, ao ver o resultado deste trabalho, percebe que está vivendo uma experiência de aprendizado e que está construindo algo satisfatório tanto para ele próprio, quanto para a comunidade. E mesmo que as mudanças no próprio agente não o torne mais altruísta, o benefício gerado na comunidade tornará o seu trabalho válido. Porém, essa estratégia adotada pela escola - de oferecer como recompensa os créditos de atividades complementares para incentivar os alunos a realizar o voluntariado - apresenta severas contradições: uma ação que deveria ser realizada de maneira espontânea, incitada pelo

simples exercício da cidadania, torna-se, de certa forma, compulsória. Assim, é muito fácil que o significado de tal ação se perca, já que se distorce a percepção das pessoas sobre o porquê de elas realizarem trabalho voluntário. O voluntariado, assim como grande parte das ações na vida pós-moderna, passa a ser carregado, também, pela inércia. Não se faz mais trabalho voluntário pelo fato de ser algo importante na construção do indivíduo ético e moral. Faz-se por ser algo necessário para que se tenha sucesso profissional. Assim, pode acontecer de passar despercebida por aquele que realizou voluntariado a dimensão da importância de sua ação, tanto para os outros, quanto, principalmente, para ele próprio, como indivíduo. Posteriormente, sem ter consciência disso, torna-se cada vez mais difícil que ele volte a realizar o voluntariado, quando não houver um estímulo como o de obter créditos. Desse ponto de vista, torna-se um tanto pessimista a perspectiva para o futuro. Quando o aluno finalmente se formar, tendo obtido suficientes créditos de atividades complementares, e entrar para o mercado de trabalho, não só terá menos estímulos para realizar o trabalho voluntário, pois não haverá recompensas tão atrativas, como estará sujeito a uma pressão infinitamente maior: deverá ser ainda mais rápido na tomada de decisões, pois seu tempo será cada vez mais escasso. A inércia que carrega suas ações haverá de se intensificar: o pensamento, essencial para a construção de um sujeito moral e ético se tornará cada vez mais desprendido da ação efetiva para a construção de uma sociedade justa. E a lógica distorcida do pós-modernismo se intensificará. ¤


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Promenade

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A outra face da Cidade Maravilhosa Laurent Broering João Lazzaro

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omo alguns sabem, os alunos da FGV-SP podem fazer uma eletiva no Rio de Janeiro graças a uma parceria das três escolas com o CPDOC. O curso “História do Brasil Republicano” tem duração de duas semanas em janeiro e oferece uma visão de como o país foi formado sob diferentes perspectivas, além de ser uma oportunidade de conhecer o Rio e todas as suas belezas. Neste verão não foi diferente, e cerca de 40 alunos viajaram para a Cidade Maravilhosa às custas da Fundação. Em meio a aulas, passeios e festas, no entanto, um grupo decidiu trocar, por conta e risco, um sábado de praia na Barra por uma visita ao Complexo do Alemão. O convite para isso foi feito pelo Coronel Barros, do 26º Batalhão de Infantaria Pára-quedista e então comandante das tropas de ocupação do Exército. Quando chegamos ao quartel improvisado no pé do morro, Barros explicou como estava a situação da operação e contou que seu objetivo nela era poder “resgatar a cidadania de pessoas que foram durante anos excluídas pelo Estado em seus direitos mais básicos de serem brasileiros”, afinal, antes da ocupação eram os traficantes que impunham as leis do lugar. O Cel. Barros fez questão de nos acompanhar durante a visita e de trazer mais oito soldados armados consigo. Diversas patrulhas do Exército podiam ser vistas pelo caminho – os militares estavam realmente por toda parte. Na mídia, porém, há relatos de que em alguns casos

essa presença foi abusiva, havendo denúncias de corrupção e arrombamentos desde o início da ocupação. Felizmente foi possível perceber que isso não é nem de longe a regra, o número de denúncias vem caindo e a maioria da população aprova atualmente a operação1. Manter esquinas e ruelas vigiadas, no entanto, não era o único papel dessas patrulhas. Sua principal função no morro era a de restabelecer a figura da Lei no local. Cada motoqueiro que passava sem capacete, por exemplo, o Exército parava e exigia que colocassem o equipamento, como manda a legislação. Em contraste, nos tempos do tráfico era proibido usá-los para facilitar a identificação por parte dos traficantes de quem passasse. As ruas eram estreitas, confusas e muito sujas, lembravam às vezes um labirinto. Os poucos carros que tentavam trafegar ainda tinham que disputar lugar com as inúmeras Kombis que faziam as vezes de transporte público do morro. Numa dessas lotações, a propósito, o cobrador não tinha mais do que nove anos. Apesar das mudanças, muito teria que ser feito para instaurar a ordem por lá. Podiam-se ver esgotos escorrendo de algumas calhas e alguns lixões a céu aberto, onde animais como cachorros, ratos e até cavalos se alimentavam. Em toda parte crianças brincavam sem dar a menor importância para a realidade que as cercavam, ao passo que seus pais raramente estavam por perto e as deixavam na rua até altas horas da madrugada. Um quadro difícil, complementado pelo fato de termos 1.  Segundo dado da FGV de fevereiro de 2011 sobre a percepção dos moradores do conjunto de favelas da zona norte do Rio de Janeiro sobre a operação militar

Crédito: Laurent Borenig

Um dia no Alemão

visto apenas duas escolas durante nosso trajeto. Contudo, ar-condicionado em algumas casas e muitos gatos de luz, internet e TV a cabo sugeriam que o padrão de vida de certas pessoas era maior do que se podia imaginar. Os bailes funk, apesar de agora precisarem de permissão para acontecer, continuavam existindo, assim como as partidas de futebol. Impossível não notar também que a maior parte dos bares existentes em cada e toda esquina passavam o dia inteiro cheios. A evidente embriaguez das pessoas por quem passávamos, inclusive, talvez tenha sido um dos motivos pelo qual fomos confundidos tantas vezes com gringos. No fim do percurso, foi possível ouvir uma menina comentar: “nossa, a favela tá tão chique que até turista tá vindo aqui!”. Se para ela a vida estava tão mais amena agora, o que vimos foi uma situação de claro descaso e abandono com aquela população. O primeiro passo foi dado, mas ainda há muito que ser feito. Só quando houver infraestrutura e educação para todos é que o morro poderá se tornar de fato um lugar “chique”. Nossos agradecimentos ao Cel. Barros e ao 26° Batalhão pela incomensurável oportunidade e a presteza com que nos trataram. Gostaríamos também de parabenizar pelo excelente trabalho e a incansável disposição que foram preponderantes para que 73% da população aprovem a ocupação. ¤

Alunos da FGV no morro do Alemão

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Gazeteando

O fim da lentidão? O ensino de métodos alternativos de solução de disputas pode pôr fim a antigos problemas da Justiça brasileira Felipe Yamada

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rocessos abandonados em pilhas empoeiradas, corrupção, funcionários pouco afeitos ao trabalho, lentidão: o Judiciário Brasileiro transmite uma imagem de ineficiência crônica, como se não estivesse verdadeiramente a serviço dos cidadãos. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, em todas as instâncias judiciais há atualmente 86,6 milhões de processos em tramitação, dos quais 25,5 milhões foram recebidos em 2009. Todos devem ser julgadas por um dos 16,1 mil magistrados do país. Ou seja, cada um tem para si “apenas” 5379 processos, devendo solucionar cerca de 1562 por ano apenas para não acumular ações, levando em conta a mesma taxa de ingresso. Considerando os 60 dias de férias anuais de que gozam os magistrados, além dos inúmeros recessos, horário de trabalho frouxo e da burocracia, é fácil entender as dificuldades do Judiciário. Por isso, nos últimos anos, têm ganhado força no Brasil alguns métodos extrajudiciais de resolução de conflitos. Na última década, por exemplo, difundiu-se o serviço de mediação de disputas, no qual as partes são incentivadas a alcançar um acordo com a ajuda de um mediador neutro indicado através de consenso. Os resultados não possuem caráter mandatório: o cumprimento dos acordos depende da aceitação das partes. Segundo o professor Diego Faleck, da Direito GV, a mediação era inicialmente utilizada apenas para casos envolvendo direito de Família, além de algumas pequenas causas. Posteriormente, iniciou-se a aplicação da técnica na área empresarial. No entanto, apesar de algumas iniciativas pioneiras (como a da EDESP, que incluiu como matéria obrigatória da gra-

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duação uma disciplina sobre técnicas de mediação), ainda existe resistência à adoção deste instrumento por parte dos advogados. Uma cultura jurídica voltada à judicialização de conflitos, aliada à falta de atualização profissional de grande parte dos bachareis neste país e à exploração de assimetrias de informação para induzir litígios com o objetivo de elevar seus ganhos são fatores que explicam esse fenômeno, lembra o professor Faleck. Outro método de solução extrajudicial também tem ganhado força é a arbitragem. Regulamentada em 1996, esta pode ser utilizada para a solução de quaisquer im-

Em todas as instâncias judiciais há atualmente 86,6 milhões de processos em tramitação, dos quais 25,5 milhões foram recebidos em 2009

passes referentes a direitos patrimoniais disponíveis. Se as partes se comprometerem previamente a submeter seus conflitos à arbitragem ou optam pela solução extrajudicial após o surgimento de controvérsia, dá-se início ao procedimento. Estas devem indicar um número ímpar de árbitros imparciais e independentes que, observando princípios jurídicos como equidade de tratamento e amplo direito de manifestação, devem estabelecer uma solução para a disputa. A arbitragem ainda permite, ao contrário do Judiciário, que regras formais

do Direito sejam contornadas, considerando as especificidades técnicas de cada caso. Surgiram no país diversas instituições que congregam árbitros para realizar tal tarefa. Uma destas, inclusive, pertence à FGV-Rio. Por levar em conta aspectos técnicos e ouvir especialistas em cada caso, a arbitragem tende a tornar as sentenças mais justas e adequadas à realidade. Outra vantagem é o sigilo – enquanto as ações judiciais são públicas, o conhecimento sobre os termos do acordo corre em segredo. Adicionalmente, as partes podem convencionar a lei aplicável: brasileira ou alguma outra mais moderna e específica, além de possibilitar a aplicação de costumes em vez de regras fixas. Ou seja, em comparação com uma ação judicial, a arbitragem reduz enormemente os custos de transação relacionados à disputa. Os métodos alternativos de resolução de disputas geram, ainda, soluções mais rápidas. Como ilustração, Faleck lembra de dois acidentes aéreos no país: o do Fokker-100 da TAM em 1996 e o do Airbus da mesma empresa, em 2007. Enquanto, Em 1996, optou-se pela via judicial para o estabelecimento de indenizações, em 2007, o Ministério da Justiça estabeleceu um sistema de resolução de disputas que concilia elementos de mediação e arbitragem. No primeiro, cerca de 30% das famílias ainda não foram indenizadas. Já no acidente de três anos atrás, este número aproxima-se de zero. Se a solução alternativa de disputas apresenta tantas vantagens em relação à judicialização, cabe questionar se as faculdades de Direito têm acompanhado os novos tempos. Na USP (São Francisco), por exemplo, existe um grupo de estudos sobre métodos de mediação e arbitragem. Ao longo de um ano são realizadas discussões e exposições teóricas, bem como algumas simulações de resolução de problemas, além de visitas de observação a sessões reais. Alguns alunos participam de competições nacionais e internacionais relacionadas ao assunto. Para a estudante Carolina Mattias, do 3º ano, que fez parte desse grupo de estudos, este “é um jeito de a faculdade proporcionar aos alunos mais informações sobre esses métodos, já


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EDESP

“Sally e Tom começaram a namorar há dois anos. Ela, portadora do HIV, sempre tomou todas as precauções para protegê-lo, embora nunca lhe tivesse contado sobre a doença. Há seis meses resolveram terminar o relacionamento. Sentindo-se culpada, Sally enviou um email contando que era soropositiva e que havia a possibilidade de ter transmitido a doença durante o relacionamento. Você deve se preparar para uma reunião com os advogados de Tom (que realizou exames e informou ter contraído a doença) para negociar um acordo extrajudicial. Leve em conta que, embora Sally sinta-se extremamente culpada, mal tem dinheiro para seu próprio tratamento e deve ainda deixar alguns bens para seu filho menor.” No caso simplificado acima, os alunos da EDESP se dividem entre os advogados de Tom e Sally para negociar um acordo com base nas informações gerais e confidenciais divulgadas a cada um. Após uma semana de preparo, encontram-se para negociar uma solução com base na teoria e nas técnicas de negociação ensinadas em aula. Além de oferecer, na graduação, disciplinas obrigatórias de arbitragem e técnicas de negociação e mediação, estas ainda se fazem presentes em diversas outras matérias. A escola também envia, anualmente, quatro alunos para a competição de mediação promovida pela International Chamber of Commerce. A última edição ocorreu no começo de fevereiro em Paris. Giorgia Nagalli, aluna do 3º ano e uma das selecionadas para a competição de 2011, explica que, o diferencial da Direito GV, criada “para suprir lacunas do ensino jurídico nacional”, está justamente na grande ênfase dada aos métodos de resolução alternativa de conflitos. Isto é, a escola buscaria romper as resistências do meio jurídico por meio da difusão de uma cultura de negociação. A competição da ICC da qual Giorgia

participou (juntamente com os alunos Felipe Silva do 5º ano e Klaus Rilke, do 2º) é uma das formas pelas quais a instituição busca eliminar este paradigma do Direito no país. O evento conta com cerca de 50 equipes, que podem ter entre 2 e 4 membros, vindas dos mais diversos países. Estas enfrentam-se, duas a duas, representando partes conflitantes em

bras de contrato, disputas sobre patentes e royalties, entre outros. Durante as simulações, Giorgia explica que se quebra o estereótipo do advogado: não é esperado que vomitem sobre a longos monólogos sobre doutrina ou jurisprudência, ou façam discursos exaltados e teatrais; na verdade, a postura adotada deve demonstrar a identificação dos principais

Crédito: Giorgia Nagalli

que não há uma matéria obrigatória sobre temas que acabam sendo mencionados superficialmente em apenas uma aula de Direito Processual”

O time da EDESP na CCI em Paris, com o professor Faleck casos fictícios previamente apresentados. Em cada rodada, participam apenas 2 membros de cada equipe; um representando o advogado e outro, o cliente. Embora tenha apenas cinco anos de existência, a EDESP possui um histórico de desempenho destacado, já acumulando um 1º e um 3º lugares, e tendo sido eliminada nas oitavas-de-final em 2011. Para que pudesse participar dessa competição, o quarteto de advogados passou por um processo seletivo com entrevista e simulação de negociação. Uma vez escolhidos, os alunos passaram a frequentar treinamentos semanais. Semanalmente, o professor Faleck conduziu encontros nos quais houve mediações simuladas e exposições teóricas, além de estudos detalhados sobre casos em que o time trabalhou em Paris. Estes pertenciam a diversos ramos do Direito, geralmente ligados a questões como que-

pontos de interesse do mesmo em relação ao lado defendido, sendo a teoria jurídica apenas uma base que confere força à argumentação. Para Giorgia, a EDESP apresenta uma formação diferenciada em resolução alternativa de conflitos, treinando o aluno para identificar problemas e conduzir adequadamente eventuais negociações. Além disso, a participação na competição, segundo a aluna, “aprofunda conhecimentos de mediação, proporciona oportunidade para a prática internacional em alto nível e confere uma visão mais prática e concreta à aplicação do Direito, além de ser um diferencial de currículo”. Marina Silva, do 3º ano, que participou do evento em 2010, concorda: “aprendi muito sobre maneiras eficientes de se conduzir uma negociação, além de ter estabelecido contato com vários outros profissionais e estudantes, de diversas partes do mundo”. ¤

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Todos os caminhos levam a Roma? Pensadas para trazer a reflexão ao fenômeno administrativo, fugindo do padrão EAESP, as Jornadas Impertinentes continuam esse semestre.

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m evento que destoe da tríade intercâmbio-carreira-celebridade é raro. Uma série deles então pode ser considerada um cisne negro. Na contramão da vinda do ilustre secretário do Tesouro Americano, Timothy Geithner, há quem se proponha a discutir a crise financeira sobre outro prisma. Não sob o viés de um modelo notadamente falido, mas com o olhar atento e afiado na busca de outros rumos. Dentro dessa perspectiva emergem as Jornadas Impertinentes, que como o próprio nome ressalta, enquanto jornada remete mais ao processo que a solução. Remete a busca, por vezes árdua, mas sempre impertinente frente ao paradigma vigente de modelo mental. Atentar contra o que está pronto, estabelecido e consolidado é uma tarefa desafiadora. Fazê-lo é sempre enriquecedor. Vale a pena conferir o ciclo. Para saber mais sobre o ciclo de palestras, entrevistamos o professor Rafael Alcadipani, professor do departamento ADM da linha de Estudos Organizacionais. Gazeta Vargas: O que motivou o surgimento das Jornadas Impertinentes? Rafael Alcadipani: Em primeiro lugar eu gostaria de expressar toda minha admiração pelo trabalho da Gazeta Vargas que eu acho ser um trabalho muito importante que vem acontecendo ao longo dos anos nessa Escola. As Jornadas Impertinentes estão sendo organizadas pelo departamento

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ADM junto o departamento FSJ. Fundamentalmente, a ideia surgiu a partir de um almoço no Clube dos Professores onde estava eu, a professora Rosa Maria Vieira, o professor Paulo Barsotti e o professor Daniel Andrade onde comentávamos sobre a tradição que a EAESP tem – e sempre teve – de ter uma visão que eu não chamaria de crítica, mas reflexiva sobre o fenômeno administrativo. Crédito: http:www.fgv.br/eaesp/curriculo/dol_mini_curriculum.asp?num_func=1601&cd_idioma=1

Pedro Henrique Veloso

Professor Rafael Alcadipani

Essa escola sempre se pautou, diferentemente das outras escolas de ponta de Administração desse país, por ter uma visão reflexiva do fenômeno administrativo. E isso deu um grande diferencial para ela. Deu e continua nos dando um grande diferencial de mercado. O aluno da GV é um cara que vem como arrogante, e concordo ter uma

boa dose disso, mas também é um cara que costuma ser crítico, costuma não aceitar o mundo na forma em que ele é. A Escola hoje tem muitos trabalhos na área de Sustentabilidade, na área de Ética empresarial, e sempre viu existir uma tradição sociológica muito forte aqui dentro principalmente nas figuras do professor Maurício Tragtenberg, do professor Fernando Prestes Motta e do professor Rámon Garcia que eram pessoas muito reflexivas e muito críticas. Além disso, a Escola tem a tradição de ter sociólogos, filósofos e psicólogos com uma visão crítica. Por que ter uma visão como essa é importante? É importante porque faz com que os alunos não aceitem o mundo como ele é, e muitas vezes queriam transformar o mundo para melhor. A EAESP é uma escola que é líder nacional, uma escola que ajuda a construir esse país. E ter essa visão alternativa, distintiva, eu acho que é o que sempre a diferenciou e o que vai continuar diferenciando ela no mercado. Dessa forma, o evento foi pensado para celebrar essa tradição da escola, para dar mais impulso a essa visão que a gente tem em sala de aula de uma maneira mais coordenada e ordenada, trazendo os alunos para pensar assuntos que irão afetar suas vidas de maneira decisiva. GV: A perspectiva do evento seria então trazer a tradição reflexiva da EAESP e o impacto seria afetar a forma como os alunos pensam a Administração? RA: Acho que a escola nunca deixou de ser crítica, nem reflexiva. Acho que essa tradição se faz presente nas salas de aula com inúmeros professores que têm essa visão. E a intenção seria organizar diversas conversas que nós sabemos que ocorre de um lado e de outro, a questão seria mais organizar dentro de temas. Para os alunos, a intenção é fazer com que eles pensem. Uma coisa é você entrar no mercado de trabalho achando que vai ganhar um milhão de dólares e que a vida é só alegria. Pode ser que você até ganhe seu um milhão de dólares, mas existem questões humanas a


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www.gazetavargas.org serem consideradas. A que preço você vai ganhar esse um milhão de dólares? Que preço a sua vida - não só sua vida mas também o que está em volta de você – vai pagar pra você poder ganhar esse um milhão de dólares? E eu insisto e percebo aqui na escola, uma coisa bastante interessante. Por mais que exista essa ideia do aluno da GV como alienado, eu percebo que tem um grupo significativo de alunos que são reflexivos, que pensam, que às vezes se incomodam com o mundo da gestão. O mundo da Administração esteve em crise no ano passado. A crise financeira global mostrou que o modelo vigente é bastante complicado e tem consequências nefastas. Assim, a nossa ideia era abrir esse fórum, abrir a possibilidade do diálogo, da conversa, da reflexão. E a EAESP tem um fator que considero muito favorável que é o fato de que todos os diferentes pontos de vista acontecem aqui dentro. Não é uma escola de esquerda, nem de direita. Nem de centro. É uma escola que tem todas as matizes políticas, as visões de mundo de pessoas conservadoras e de pessoas alternativas. Essa é a riqueza da EAESP. Na medida em que você estiver exposto a diferentes pontos de vista sobre o fenômeno administrativo, você vai poder escolher qual é a melhor visão para a sua vida. Portanto, nossa intenção é mostrar para o aluno um lado que contrabalanceia um pouco o discurso padrão. Eu acho que às vezes, a Administração se transforma em um discurso sem conteúdo, sem substância, exposta de maneira irrefletida. Queremos fazer as pessoas questionar, refletir. GV: Já ocorreram 3 edições das Jornadas e como você percebe a repercussão desse evento dentro da FGV? E externamente, na Academia de uma maneira mais ampla, existe algum reflexo? RA: Eu considero que as Jornadas tiveram um número razoável de participantes, dado que as pessoas não recebem nada para ver, ficando na média

de 30 a 35 alunos por evento. Os alunos que foram voltaram, vários deles gostaram. Iremos continuar com os eventos no 1º semestre de 2011. Já externamente, eu enviei a chama-

A que preço você vai ganhar esse um milhão de dólares? da do evento para várias pessoas que conheço. E o evento foi muito elogiado por pessoas de outras escolas. Mas ainda estão restritos ao público interno da FGV. Muito embora nossa vontade seja no futuro fazer algo para fora. GV: E esse tema da Impertinência na Gestão, como você vê ele em um contexto mais amplo, não somente na FGV, mas no contexto da Administração? RA: Em termos acadêmicos, estritamente falando, ele é muito forte. Temos uma presença muito forte de estudos críticos. Eu mesmo participo da Academy of Management, a principal associação acadêmica no mundo. Eu e a professora Maria José Tonelli participamos do comitê científico da divisão de estudos críticos. No meio acadêmico, a Impertinência na Gestão é uma temática altamente reconhecida e posta em discussão. Hoje em dia vários artigos são publicados reconhecendo a importância que o professor Maurício Tragtenberg e do professor Fernando Prestes Motta tiveram para a Administração. Em relação ao mercado, acho que ainda falta ter muita reflexão sobre esse tema. Hoje, as pessoas fazem gestão e fazem administração de maneira impensada. Poucas pessoas estão pensando nas consequências humanas, nas consequências para o meio ambiente. Está tudo de pernas pro ar. Falta à Gestão refletir e pensar. A Gestão precisa se reinventar. É engraçado, em um curso que eu dava para

executivos havia uma aula chamada “O lado obscuro das empresas” e era interessante notar que, ao contrário do que as pessoas pensam, os executivos querem refletir sobre esse tema porque ele é o primeiro a sentir essas consequências na pele. Carga de trabalho excessivo, assédio moral, assédio sexual, suicídio. Questões seríssimas que estão colocadas e que precisam ser debatidas. O objetivo das Jornadas é trazer essas coisas à tona. GV: Para finalizar, gostaria que você comentasse sobre a fronteira do debate referente à Impertinência da Gestão atualmente e como você as possibilidades de mudança do modelo vigente. RA: Acho que durante muito tempo as pessoas imaginavam que haveria uma grande revolução e que tudo iria mudar. Isso não aconteceu e creio ser muito pouco provável que aconteça. A mudança, a meu ver, é a consciência que cada um deve ter de que pode tentar atingir, de maneira ética e consciente, seus objetivos, respeitando os limites. É um trabalho de formiguinha. Eu sempre brinco no meu curso de Organizações que se eu conseguir fazer 3 ou 4 alunos saiam mudados, pensando de uma forma diferente, fazendo gestão de outra forma, já está ótimo. Os executivos de multinacionais tem toda possibilidade de fazer um trabalho decente, sério e digno, em termos das pessoas e do mundo em volta dele. Existem várias pessoas fazendo isso. A ideia é aumentar. Sou bastante otimista em relação a essa mudança. O mundo não aceita mais coisas que aceitava no passado. Na década de 70, nem se ouvia falar em assédio moral. Hoje em dia, já se ouve falar. Pode-se argumentar que é um blá-blá-blá todo esse discurso de responsabilidade social e sustentabilidade. Em parte pode ser verdade, mas existem empresas que de fato estão pensando, por exemplo, em formas alternativas de energia porque perceberam que não existe outra possibilidade. As coisas estão melhorando. ¤

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You Fix the Budget! Matéria interativa do New York Times permite ao internauta elaborar um plano orçamentário para as contas públicas e compartilhá-lo online Isabelle Glezer

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Crédito: James Montgomery Flagg

oje você é responsável pelas finanças do país. Algumas de suas opções têm mais poupança de curto prazo e outras de longo prazo. Quando você fechar o orçamento de 2015 e 2030, você terminou. Faça seu próprio plano, depois compartilhe-o”. Este trecho livremente traduzido encabeça uma matéria realizada pelo New York Times no final do ano passado, intitulada “You Fix the Budget!”, disponível no próprio site do jornal1. Em sua versão online, a matéria dá acesso a um programa em flash (não muito diferente de aplicativos do Facebook), organizado de modo a permitir que o navegante literalmente conserte o orçamento público e faça as contas baterem, seja por meio de corte de gastos ou aumento de impostos.

Uma redução de 30 mil soldados no Afeganistão, pode salvar 169 bilhões até 2030 O orçamento se subdivide nas seguintes categorias: programas domésticos e ajuda internacional, militar, saúde, seguridade social, impostos existentes, novos impostos e reforma fiscal. Cada uma das categorias pos1.  Disponível em: http://www.nytimes.com/interactive/2010/11/13/weekinreview/deficits-graphic. html

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sui decisões como “aumentar a idade de aposentadoria para 68 anos”, cujo impacto no orçamento é brevemente explicado, assim como o total de economia no curto e no longo prazo. À medida que a brincadeira se desenvolve, as dimensões do problema vão se intensificando. Criticar as pessoas responsáveis pelo orçamento real passa a ser mais difícil, já que nós, enquanto Estado, apresentamos uma notável tendência a aumentar os impostos, pois eles são... nossa renda. Eis que finalmente é muito mais fácil fazer as contas baterem ganhando mais do que gastando menos – ressalvadas as extensas e não-empíricas (embora teoricamente plausíveis) discussões econômicas quanto à relação entre aumento de impostos e redução de arrecadação, dispostas na famosa Curva de Lafer. O orçamento colaborativo nada mais é do que uma ferramenta que faz uso inteligente das mídias sociais e da infinidade da internet: o próprio título carrega em si a humildade de quem tem certeza de que existe uma solução melhor em algum lugar, e que uma pessoa não carrega em si as respostas para um balanço perfeito. Até mesmo porque as escolhas refletem a orientação política do tomador de decisão. Isto significa que um republicano é muito mais propenso a cortar impostos em geral sem, por exemplo, cortar gastos com as tropas no Oriente Médio – quando um corte de 100 para 60 mil soldados no Afeganistão até 2015 representaria uma economia de 149 bilhões de dólares até 2030. Já um democrata seria mais propenso a aumentar impostos

e aumentar a cobertura dos planos de saúde públicos. A própria matéria, do colunista de economia do NYT, David Leonhardt, explica que republicanos e democratas poderiam chegar a uma grande barganha e eliminar até um terço do déficit americano através cortes em programas sociais e em isenções fiscais para famílias com renda anual superior a U$ 250 mil (implementadas no governo Bush). O “quebra-cabeça”, como é chamado por Leonhardt, teve colaboração do painel do déficit do Governo, congressistas e analistas orçamentários de direita, esquerda e centro. O resultado é esta ferramenta online cujo objetivo, segundo o autor, é ajudar o leitor a julgar as diferentes propostas de combate ao déficit que estão aparecendo. Trata-se de uma experiência realista justamente por superar o debate “impostos versus gastos” em sua forma mais simplificada e maniqueísta. Com números e informações em maios profundidade é possível discutir quanto os impostos devem aumentar ou diminuir e os gastos, cortados. Não se trata de uma ferramenta maniqueísta de republicanos contra democratas, mas de análise concreta de dados e a possibilidade de um consenso. Várias lições podem ser ensinadas a partir desta experiência com as contas nacionais. Primeiro, e mais importante, é de que é muito fácil criticar quando você não é aquele que está tendo o trabalho de fazer os números baterem. Segundo: se você não está contente com a economia do governo, forneça uma solução melhor (e realista!) para o problema em vez de levantar cartazes em protesto contra a reforma do plano de saúde. Por fim, trata-se de trazer a uma realidade palpável a dimensão de um problema que está longe de se resolver de uma forma satisfatória a todos. Quem elaborará um desses programas para o orçamento do Brasil? Aguardemos. ¤


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#CampusParty

Relato de uma campuseira de primeira viagem

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o dia 17 até o dia 23 de janeiro deste ano, aconteceu em São Paulo a 4ª edição da Campus Party Brasil. O evento que começou na Espanha em 1997 e que já conta com edições em outros vários países como México (no décimo quinto ano) e Colômbia (no quarto ano). Além disso, em 2012, os Estados Unidos terão a sua primeira edição do evento “com robôs assassinos e viagens espaciais”, como diria Ben Hammersley, editor da revista Wired UK e presidente da Campus Party USA, em uma conversa com os campuseiros. Assim, no dia 17, ao meio-dia uma enorme fila já se formava no portão do Centro de Exposições Imigrantes, apesar dos apelos do organizador do evento para que as pessoas chegassem mais tarde. A espera na fila durou nove horas, tempo suficiente para bater um bom papo com um grupo de palestrantes de astronomia, mas no final lá estava eu com o meu cartão de acesso á área de acampamento e à tenda, lugar onde haveria as palestras e apresentações. No primeiro dia pude ter uma boa noção do que me esperava naquela semana: em doze palcos diferentes (divididos por área: Ciência, Criatividade, Inovação, Entretenimento Digital e um Palco Principal) já estavam acontecendo palestras, debates e apresentações simultaneamente, o jeito era organizar bem a agenda. Além disso, por toda parte haviam ícones do chamado Nerd Pride, incontáveis produtos do Mario, camisetas do Sheldon do The Big Bang Theory e também pessoas improvisando uma roupa de cavaleiro jedi com um roupão e um sabre de luz de plástico. Agora eu precisava achar um lugar para ficar em uma das mesas que foram colocadas no meio do centro de exposi-

ções, com tomadas e cabos para acesso á internet. Fui achar um espaço perto do palco de robótica, ao meu lado um grupo montava um robozinho para uma competição.

Crédito: Marina Simões

Marina Simões

Quebra do recorde mundial: maior número de pessoas usando roupões de banho Era difícil escolher quais palestras assistir, mesmo quando era possível organizar uma “agenda” no site do evento, havia muitas palestras interessantes no mesmo horário. Havia palestras sobre redes sociais, design, música, astronomia, robótica, jogos, desenvolvimento, debates com web-celebridades, com políticos, competições, concursos e mais, mas no fundo elas mostravam como a tecnologia estava presente na nossa vida e como ela havia afetado todas as áreas do conhecimento. Não importava o horário, a tenda continuava cheia. Após o encerramento oficial das atividades do dia, grupos organizavam apresentações de stand-up comedy e sessões de cinema nos palcos. Além das várias pessoas que varavam a noite nos computadores e de guerras de papel. Também é interessante notar que muitas coisas que aconteceram na Campus Party (talvez as mais divertidas),

partiram dos próprio campuseiros: fosse as tentativas de realizar flashmobs, como por exemplo, o maior número de pessoas cantando Bohemian Rhapsody (que fracassou) ou o maior número de pessoas usando roupões de banho (que deu certo, aliás, foi tão bem sucedida, que nós quebramos o recorde mundial. EPIC WIN!). Ou também os protestos contra a queda de energia ou a chuva que começou a entrar na tenda, tudo isso planejado na hora, via Twitter e sem perder o humor. A grande expectativa agora era para ver os convidados especiais da Campus Party: em frente a uma multidão falaram Al Gore e Tim Berners Lee, o criador da internet, sobre a importância da mobilização e da necessidade da internet ser livre de controle. Kul Wadhwa, diretor gerente e “ninja” da Wikipedia, Jon “Maddog” Hall, diretor executivo da Linux, e Steve “Woz” Wozniak, co-fundador da Apple, e que eu tive a oportunidade de conseguir um autógrafo. Nessas palestras, se você não fosse rápido, era impossível chegar perto do palco: meia hora antes, as cadeiras destinadas à palestra já tinham sido ocupadas. O jeito era pegar as cadeiras das mesas dos computadores (azar de quem tinha deixado o lugar vago naquela hora!), ou ficar em pé mesmo, atrás da multidão. Apesar de todos os imprevistos, das filas, dos cafés-da-manhã perdidos, dos apagões e das goteiras que surgiram durante o temporal, a Campus Party foi uma experiência única, uma ótima oportunidade de aprendizado, pois foi um ambiente no quais várias pessoas de idades, gostos e formações diferentes estavam lá para conhecer e aprender uma com as outras. Os verdadeiros “nerds”, como disseram os blogueiros do “Jovem Nerd”, que fizeram uma palestra sobre o nesta edição, não são as pessoas que consomem a “cultura pop nerd”, mas sim as pessoas que aproveitam toda essa mania, ou vontade de aprender e usam uma oportunidade como essa e esse conhecimento para construir algo que revolucione o mundo. ¤

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Quem guardará os guardiões? Em novembro, alunos foram convidados para a auto-sabatina da atual gestão do DAGV Isabelle Glezer

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intenção da atual gestão do DAGV de realizar uma sabatina (no final do semestre passado) foi, com certeza, louvável. Prática consolidada dos países desenvolvidos, as coletivas de imprensa são uma oportunidade de entrevistar governantes sem qualquer conhecimento prévio das perguntas a serem realizadas pelos repórteres. É uma atitude que requer coragem, e pelo menos indica não só uma postura de accountability, como também tendência a uma gestão mais transparente e colaborativa. Pois bem, os cartazes eram abundantes: qualquer aluno aleatoriamente abordado saberia informar a data, o local e horário do evento. Por que então compareceram somente treze gatos pingados (dos quais oito eram membros da Gazeta Vargas) na sala 704, reservada especialmente pelo DA? A imagem austera de todos membros da atual gestão alinhados em frente ao banner do DA, segurando microfones e aguardando seus espectadores murchou frente ao baixo quórum, que sequer preenchia uma das dez fileiras de carteiras. É fato consumado que os gevenianos representados pelo Diretório Acadêmico só demonstram interesse pelas atividades desenvolvidas, desde que estas sejam festas que começam com a letra “G”. Tirando a excelência em bebidas alcóolicas e atrações, as expectativas em relação à gestão do Diretório são relativamente baixas. O que não impediu a chapa de formular uma Carta Programa de vinte e cinco páginas, repleta de

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ambiciosos projetos – alguns dos quais até foram implementados – para a gestão 2010-2011.

Promessas e polêmicas Uma das principais críticas levantadas pela Gazeta Vargas ao DAGV foi de que muitas promessas foram feitas pela gestão, na esperança de abraçarem o mundo. Aquele velho e conhecido discurso de “aproximar os alunos do DA” pode até ser bem intencionado (e é!), mas às vezes parece que o DA simplesmente esquece quem é seu público. Ele realmente quer se aproximar do DA? Será que os alunos realmente acreditam que a atuação do DA pode melhorar problemas em relação à faculdade? Uma das promessas feitas pela Chapa para a gestão 2010-2011 era de desenvolver um sistema de colocação profissional para os alunos de Economia, visando suprir as falhas do atual sistema – em que a secretaria simplesmente encaminha aos alunos as vagas disponíveis nas empresas. O projeto, que ocupa mais de uma página da Carta Programa, foi deixado de lado, a partir das promessas de que EESP se estruturaria para implementar um método mais eficiente de alocação de vagas de estágio. Enquanto concorria pelo DAGV, a Chapa Acesso prometeu em sua plataforma a “introdução do sistema de reaval”. Trata-se de uma inovação que certamente evitaria muitas DP’s, conforme vige nas escolas de Direito e Economia: alunos com média final entre 4 e 5,9 têm o direito de fazer uma prova adicional no final das férias para tentar recuperar a

nota. Evidente que não se trata de um projeto que depende da proatividade do DA –deve ser discutido junto à coordenadoria de graduação – mas tampouco de sua inércia. A Chapa Acesso também alegou em sua Carta Programa que uma das atribuições do Presidente seria o constante contato com os presidentes das demais entidades estudantis dentro e fora da FGV, alegando a possibilidade de parcerias para a realização de palestras e eventos, troca de know-how e modelos de gestão. Esta “política de aproximação” já foi alvo de críticas por parte da Gazeta1, quando questionamos a utilização de politicagens como doação de entradas na cervejada da GV para o CA da ESPM visando uma maior aproximação entre as gestões para futuras parcerias. O alcance político destas práticas em especial, além de altamente duvidoso, é mantido somente em virtude de uma tradição de boa vizinhança entre os representantes dos diretórios das demais faculdades. No entanto, a atual gestão fez progresso em relação a alguns projetos elencados na Carta, tais como o CineGV Debate, a Feira de Livros, o Fest GV, a Noite Cultural e o Trote Sustentável. Porém, trata-se de uma simples questão de oferta e demanda: ainda que o DA tenha vontade de implementar uma infinidade de projetos sócio-culturais, seus representados querem Giocondas regadas a Cirôc, Ketel One e muito Black Label. Alguns dos problemas que recepcionaram a atual gestão no início do semestre passado ainda persistem: uma ação de indenização por danos morais por fotos tiradas em uma Giovanna vem tirando o sono e o dinheiro do DA com advogados desde 2003 – o processo foi passado de gestão para gestão desde então. Por falta de patrocínio, a reforma do 1º andar ficou para a próxima – mas pelo menos conseguimos os sofás novos! O Rockafé ainda não aceita cartões de crédito/débito e na EAESP é DP direto. Afinal, algum trabalho tem que ser deixado para a próxima gestão, a ser eleita em junho. ¤ 1.  Publicado na edição #86


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Continuidade? Chapa RG assume Centro Acadêmico sem concorrência Mariana Beira Pacetta

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em mesmo um farto banquete de esfihas do Habbib´s foi capaz de seduzir os edespianos até a Rua Itapeva, onde no fim do semestre passado ocorreu na casa do CA o único debate entre as chapas candidatas à gestão 2011 do Centro Acadêmico Direito GV. Com quórum inferior a 50 alunos, o evento foi mais um bate-papo bem humorado do que um confronto de posicionamentos políticos, sobretudo em razão da configuração da corrida eleitoral: assim como no ano passado, apenas uma chapa “oficial” disputava os votos dos associados, enquanto às demais coube a tare-

A Chapa Injeção deixou aos membros da RG muitas conquistas, mas também um legado árduo. fa de trazer comicidade ao sufrágio edespiano. Ainda que a campanha deste ano estivesse decidida desde o princípio, o CA não se furtou a cumprir com os rituais do processo democrático de renovação política. Uma Comissão Eleitoral foi composta para mediar o debate entre Chapa RG e seus “adversários” da Chapa Olim. A concorrente mais espirituosa da competição, a Chapa Nilton Melo, derrotada por 4 anos seguidos, não deu seu ar da graça no evento matinal, mas fez

a diversão dos alunos com sua plataforma “Tema a Fenda”1. O grupo de alunos para quem discursaram o agora já empossado presidente do Centro Acadêmico, José Cyrillo Neto, e seus companheiros, ouviu o compromisso por um incremento da representação discente, bandeira sempre muito bem recebida em uma faculdade administrada um tanto autocraticamente demais. O balanço final da eleição ocorrida em dezembro passado foi animador: 124 estudantes compareceram à urna, número próximo à metade dos associados. A Chapa Olim conquistou 23 simpatizantes, a Gato Mestre, sequer conhecida pela maioria dos estudantes, conseguiu 8 votos, enquanto os 90 restantes ficaram com a RG.

O que vem por aí... As eleições do ano passado ocorreram em um momento particularmente importante para a Edesp. 2010 foi o fim de um ciclo: a primeira turma de formandos enfim entrou no mercado de trabalho , a Escola despediu-se do seu até então único diretor, Ary Osvaldo Mattos Filho, e o CA talvez tenha tido, a despeito de inevitáveis tropeços, a mais frutífera de todas as suas gestões. A Chapa Injeção deixou aos membros da RG muitas conquistas, mas também um legado árduo. A nova sede do Centro Acadêmico saiu do papel graças a determinação dos membros em concretizar a antiga demanda dos alunos por um espaço próprio onde pudessem socializar. A viabilização do projeto da “Casa”, no entanto, deixou o caixa do CA 1.  http://sonhosdeteresao.blogspot.com/2010/11/ eu-me-tornei-um-liberal-apesar-da-chuva.html

ao menos 1/6 mais magro que um ano atrás e, ainda assim, o sobrado da rua Itapeva não está livre do risco de tornar-se um grande elefante branco. Embora os alunos nutram carinho pela Casa, ninguém nega que seu destino e sua sustentabilidade financeira permanecem incertos. Esse impasse ocupará boa dose do tempo e do trabalho da Chapa RG ao longo do ano. A caçula das baladas gevenianas também promete seus dissabores para a nova gestão. A sensual Guinevére vem firmando-se no cenário festivo universitário, mas padece com a baixa adesão dos edespianos. Compreendendo esses e outros desafios à vista, os recém-eleitos dirigentes do CA construíram sua plataforma em torno da identidade e coesão do corpo de alunos da Edesp. Entre seus objetivos mais notáveis está fomentar uma cultura de participação política entre os alunos, promover maior integração com as entidades estudantis da GV e captar recursos a fim de restaurar a saúde financeira do Centro Acadêmico. A carta de propostas elaborada pela chapa, entretanto, foi econômica no detalhamento de como tudo isso seria feito. Pouco pode ser esclarecido na única página recheada de bulletpoints que circulou à época das eleições. O estranhamento dos estudantes com tamanho laconismo não gerou grande eco; essa indiferença dos associados por quase tudo o que liga o Centro Acadêmico talvez seja a maior indicação de como é urgente o aprimoramento do envolvimento político dento Edesp. Torçamos para que esta e as futuras gestões entendam que os alunos são tanto mais conscientes quando críticos, e portanto, a cobrança constante e ferrenha- e por vezes injusta- não deve ser temida. Ao contrário, pode ser a maior prova de as coisas estejam caminhando no rumo certo. ¤

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Na “festa da democracia” edespiana professores são avaliados pelos alunos por meio de debates. Marina Silva

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uito se especula sobre o “recente” curso de Direito da GV, sua credibilidade no mercado e o segredo de seu sucesso. Alguns atribuem este sucesso a um acompanhamento quase paternal de seus alunos, os quais protagonizam diálogos socráticos e são vítimas de sobrecarga de leitura e trabalho. Há, porém, um atributo peculiar do curso que raramente é citado: o Grupo Focal. O Grupo Focal é parte integrante de um processo de avaliação dos professores pelos alunos realizados por uma empresa terceirizada em parceria com a EDESP. A avaliação é composta por três etapas: grupo focal, questionário individual anônimo e legitimação. Na primeira, cada turma elege dez representantes, os quais discutem a atuação dos professores, atribuindo-lhes notas de 1 (ruim) a 4 (ótimo) nos seguintes critérios: a) domínio do conteúdo, b) planejamento, c) metodologia de ensino e d) relacionamento com os alunos. No segundo todos os alunos da turma preenchem, individualmente, um questionário que recorre aos mesmos critérios do grupo focal. Na legitimação, os dados colhidos são apresentados à turma e devem ser ratificados por no mínimo 80% dos integrantes da mesma. Visando garantir uma melhor compreensão sobre o que os alunos realmente pensam em relação aos professores, os debates da fase de legitimação buscam o consenso (ou, pelo menos, uma tendência evidente nos pontos levantados), para que juntos, os alunos exponham as razões que os levam a dar boas ou más notas aos professores. Os formulários buscam analisar a percep-

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ção individual de cada aluno, de modo a ouvir todos e elaborar uma média das notas fornecidas. E a legitimação visa garantir que a opinião expressada no grupo focal condiz com o restante da turma. Como qualquer avaliação, o Grupo Focal está longe de ser perfeito. A escala de avaliação varia apenas de 0 a 4, o que muitas vezes leva a professores com habilidades didáticas muito diferentes a terem a mesma nota. Além disso, os debates tendem a se focar em aspectos pessoais dos docentes em vez de seus métodos de ensino, o que além de ser pouco produtivo, acaba gerando debates demasiadamente acalorados entre poucos alunos e afastando o restante da turma do debate. Outro problema deste método de avaliação é que, ainda que exista dever de sigilo por parte da empresa que coleta a opinião dos alunos, uma avaliação final ratificada pela sala é invariavelmente publicada aos docentes. Desta forma, por mais honestas que sejam as colocações feitas, há um filtro entre o que é pensado e dito. As turmas possuem receios de expressar algumas opiniões legitimas por medo de represália posterior pelo professor, que pode ocorrer por meio de alterações na forma de tratamento dos alunos daquela turma. As avaliações provenientes do grupo focal buscam coibir a permanência de “professores-estrela” com cadeiras na faculdade apenas por prestígio pessoal ao invés de capacidade profissional. Além disso, por ser justificada, a avaliação permite que os professores se aprimorem. O método de avaliação docente no Direito difere bastante das demais escolas: na EAESP, são distribuídos for-

Crédito: http:ibl12.com.br/2010/11/procura-se/

Grupo Focal

mulários para avaliar os professores, enquanto que na EESP a avaliação é realizada por reuniões e relatórios periódicos dos representantes discentes junto à direção e os coordenadores da escola, bem como através de um questionário postado no Aluno Online todo final de semestre, ao qual todos os estudantes têm acesso. Essas formas de avaliação não possuem o mesmo retorno que o grupo focal, uma vez que não são tão específicas. No entanto, exportação do Grupo Focal às demais escolas possui algumas limitações: além de se tratar de um método avaliativo custoso, é necessário um grupo pequeno de alunos para viabilizar debates produtivos. O debate entre os alunos e a possibilidade de se apontar, especificamente, os pontos positivos e negativos de cada professor garante um panorama mais preciso do docente a ser fornecido à faculdade. No entanto, a responsabilidade por uma avaliação precisa não depende apenas do método avaliativo escolhido. Para que esta seja eficiente é necessário um grupo de alunos reflexivos, com maturidade suficiente para diferenciar a personalidade do professor do papel por ele desempenhado em sala de aula, assim como maturidade para compreender que a importância da avaliação do docente supera qualquer retaliação que possa vir a ocorrer. ¤

Avaliação de docente tercerizada na EDESP


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O fim da Comissão de Biblioteca Alípio Ferreira

Representante Discente (2009-10) Comissão de Biblioteca biblioteca da FGV- SP leva o nome de um dos fundadores da EAESP, Karl A. Boedecker, que veio da Michigan State University para ajudar a fundar a primeira escola de administração do Brasil em 1954. Ela é provavelmente um dos departamentos da Fundação que mais sejam usados e melhor funcionam. No entanto, nem por isso não há problemas, e nem por isso não há conflitos entre seus usuários e os administradores. Para acessar e responder a esses problemas e conflitos, havia a Comissão de Biblioteca, um fórum deliberativo que era regulado por um regimento escrito em 1984. Dela participavam funcionários da biblioteca, professores de todos os departamentos da EAESP e alunos de graduação e pós. A eleição do representante discente da graduação ficava a cargo do DAGV. A Comissão de Biblioteca, apesar de sua importância como fórum de discussão e decisão, reuniu-se pela última vez em 2002. Desde lá os cargos eram ocupados nominalmente sem serem exercidos. Em agosto de 2009, fui eleito em Câmara Discente para ser representante discente na Comissão, e quando me apresentei à gerência da Biblioteca, fui recebido com certa surpresa. A atual gerente, Marina Vaz, confessou que a Comissão não era mais acionada há muito tempo, e que sequer conhecia os atuais membros. Começamos a nos reunir com frequência, e nessas reuniões discutíamos algums projetos de melhoria das atividades da biblioteca. Tanto Marina Vaz quanto Elenice Madeira, bibliotecária supervisora, participavam das reuniões e eram extremamente abertas a discus-

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sões e a mudanças. Dessas nossas conversas saiu, por exemplo, a permissão a alunos de graduação de alugar revistas semanais na biblioteca. Mas o tema delicado era a reativação da Comissão de Biblioteca, e a reformulação do estatuto: como Marina Vaz bem observara à época, era preciso incluir professores e alunos das novas escolas (EESP e EDESP). O tema da reativação da Comissão e a reformulação de seu estatuto fugia do poder decisório de nossas reuniões informais. Portanto foi acionada a Diretoria de Operações (DO), coordenada pelo professor Carlos Copia. Nessa época reuni-me com o gerente Edison Fidalgo, da DO, responsável pela biblioteca, e todos estávamos convencidos de que era necessário reativar uma instituição importante (que existia no papel) e também reformular seu estatuto. No entanto, ali encerrava também minha participa­ção nesse processo. As seguintes negociações e discussões foram realizadas na DO, e embora eu tenha solicitado permissão para acompanhá-las, em geral mal recebia resposta. O processo de destruição da

A comissão era de um estilo de governança obsoleto à GV antiga Comissão para criação de uma outra ocorreu sem que os membros ou mesmo as escolas estivessem cientes: foi tudo decidido entre o professor Copia e mais três ou quatro. Naturalmente nãp gerou o menor constrangimento, pois partia-se da lógica segundo a qual uma vez que o Estatuto da EAESP foi desvalidado por decisão do presidente

Carlos Ivan em 2007, o que estava debaixo desse estatuto também não tinha valor. Mas no lugar daquela reformulação que incluiria professores e alunos do Direito e Economia na Comissão, os constituintes reunidos tiveram uma ideia melhor. Em agosto de 2010 fui informado da nova natureza da Comissão de Biblioteca. Dela participarão somente cinco membros: a gerente da biblioteca, um membro indicado pela DO (presidente da Comissão), e um representante docente de cada escola. A representação discente foi excluída, apesar de ter sido um representante dos alunos que solicitou e colaborou com esse processo. Essa mudança é sintomática e previsível: a comissão era um esqueleto de um estilo de governança que é obsoleto à Fundação, que incluía alunos e professores na tomada de decisão. O novo documento, portanto, ajusta a direção da biblioteca à governança vertical da Fundação. No caso, quem manda é o professor Copia, que segundo o estatuto que fez e aprovou , é também o responsável por quaisquer emendas. Além disso, apesar de ser improvável haver muita divergência entre os membros da Comissão sobre os temas a serem deliberados, os autores do estatuto montaram uma bancada que lhes desse sempre maioria: o indicado da DO, o da EAESP e a gerente da biblioteca. Esse desenho institucional não deveria ter sido aceito pelas novas escolas. Apesar da previsibildiade das medidas, ainda assombra a disposição dos dirigentes da Fundação em reduzir o poder de outras instâncias de interferir nos rumos da FGV. O medo da “ineficiência” de se permitir que alunos, professores e funcionários eventualmente se oponham à decisão de diretores já se transformou na imprudência – para não dizer tolice – de excluir estes cada vez mais do processo decisório. Mister Boedecker talvez aprovasse as atuais medidas, mas certamente arregalaria os olhos de ver como mudou a Escola que criou. ¤

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A OAB É NECESSARIA PARA O DOS MALES, O MENOR Isabelle Glezer

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xame da Ordem. Tema recorrente nos debates acadêmicos e jurídicos travados no Brasil, cujo teor exige algumas ressalvas iniciais, com cuidados para que a discussão não se desvirtue. O que se discute propriamente é a necessidade de uma avaliação externa aos bachareis de Direito para o exercício da advocacia. Esta necessidade não pode ser pensada em abstrato (como em um modelo econômico), ainda porque existem variações da OAB no mundo afora: barreiras à entrada no mercado . Dado o panorama atual do ensino jurídico brasileiro: segundo o Conselho Nacional de Justiça, há mais faculdades de Direito no Brasil do que no resto do mundo junto: 1240 contra 1100. O exame da Ordem, aplicado três vezes ao ano, teve, em 2010, uma reprovação recorde de 88%. Os liberais mais ouriçados revoltamse com a tutela excessiva do Estado. “Caso alguém queira pagar menos pelos serviços de um bacharel de Direito que não passou na OAB, haveria uma alocação mais eficiente de recursos, diminuindo o desemprego”, afirmam, convictos. Exceto que não se trata de um mercado de maçãs ou bananas, mas de profissionais que lidam com os direitos, deveres e liberdades dos cidadãos, sendo necessário um elevado grau de proficiência. Naturalmente o mercado seleciona os melhores profissionais, da mesma forma que as barreiras ao exercício da advocacia aumentam o desemprego entre os bachareis de Direito, mas não se trata de um mercado livre. No mesmo sentido, a aprovação no Exame da Ordem não é garantia de que o indivíduo será um bom advogado – são muito mais relevantes a experiência profissional e outras qualidades

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pessoais. A prova serve como garantia de que o advogado tem, em tese, a qualificação mínima necessária para defender seu cliente na Justiça sem coloca-lo em risco. Com a proliferação de faculdades de Direito desprovidas de fiscalização rígida do MEC (cujos parâmetros de avaliação variam e as punições vão desde o corte de vagas até o fechamento da faculdade)

O mercado também seria mais eficiente se pudéssemos comercializar órgãos , faz-se necessária uma avaliação básica padronizada para assegurar a formação dos bachareis de Direito no exercício da advocacia. E este é um dos pontos mais delicados da discussão: o duplo papel do diploma no sistema social e educacional brasileiro. Se, por um lado, o diploma é um atestado de qualificação profissional para o exercício de determinada profissão que requer técnica e estudo, ao ensino superior também é atribuída uma função social, dando destaque ao bacharel em sua comunidade. Devido ao enorme impacto social do fechamento de uma universidade que não atende seus parâmetros, o MEC não está fazendo sua parte em impedir a proliferação dos cursos de Direito no país. E a OAB hoje exerce função que não é essencialmente sua, fazendo a triagem dos profissionais, por meio de uma prova unificada que avalia habilidades básicas de qualquer curso de Direito, e não a conduta ético-moral do candidato. O professor Marcelo Cometti, coordenador do cursinho preparatório para

a OAB CJDJ afirmou em entrevista ao Estado: “O exame exigia uma boa leitura, raciocínio lógico e a capacidade de relacionar os conhecimentos.” Isto é, a reprovação alta não diz respeito apenas aos cursos de Direito: “O resultado é, sim, reflexo do despreparo do candidato, mas o problema não se limita aos cursos de graduação. O que falta são habilidades básicas”. Segundo o professor da Direito GV, Sidnei Amendoeira Jr., a OAB tornou-se fundamental, pois estamos diante de um sério problema de “estelionato educacional ”, já que as faculdades prometem aptidão para advogar e não entregam. Para Amendoeira, o problema seria muito mais embaixo, já que existem faculdades onde estudam analfabetos funcionais. O estudante bem preparado pode fazer a prova até três vezes e validá-la antes de sequer se formar. Insistir na desregulamentação do mercado é criar um ambiente economicamente eficiente, mas juridicamente ineficaz, arriscado e danoso. Nenhuma liberdade, assim como nenhum direito, é absoluta. O mercado também seria mais eficiente se pudéssemos comercializar órgãos, já que há pessoas com rins sobrando para vender e pessoas dispostas a pagar por eles. Mas “barreiras ao livre mercado” funcionam para defender escolhas constitucionais de outras liberdades e garantias civis, como a ampla defesa e o devido processo legal. O que pode – e deve – ser discutido ad nauseam é a qualidade da prova, a superação das barreiras qualitativas de qualquer prova como meio adequado para avaliar o conhecimento de um bacharel. Nenhuma prova é capaz de avaliar por completo a aptidão do candidato, mas isso não significa que não devem existir provas. Dos males, o menor. ¤


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EXERCÍCIO DA ADVOCACIA? CORPORATIVISMO, RENTISMO E A OAB Felipe Yamada

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a Itália fascista, Mussolini implementou a chamada “sociedade corporativa”. Esta foi um sistema de organização social que se baseou na segregação de papeis sociais entre os indivíduos. Ou seja, a sociedade dividiu-se em diversos grupos criados ou influenciados pelo Estado, gerando assim uma infinidade de corporações de ofício, de modo a eliminar a concorrência e a garantir o controle, por parte das lideranças corporativas, sobre todos os demais indivíduos. A derrota daquele país na guerra, felizmente, aboliu tal sistema de praticamente todos os mercados. No mundo jurídico brasileiro (e até mesmo em alguns outros países ), porém, ainda há resquícios de tal estrutura: para que um graduado em Direito atue profissionalmente, este deve ser admitido na “corporação” jurídica, através de sua aprovação no famigerado exame da OAB. E por que este sistema ainda hoje persiste? A resposta é clara: os advogados constituem aquilo que a literatura política moderna chama de “grupo de interesse”. Ou seja, estes representam uma classe minoritária que, todavia, possui forte coesão interna e, assim, consegue coordenar-se de modo a extrair da sociedade mais recursos do que aqueles a que teria direito em situações normais. Nesse contexto, o exame da OAB é utilizado por tais indivíduos como instrumento de exercício de poder de mercado, representando uma barreira à entrada de novos ofertantes de serviços de advocacia. Abaixo, são apresentados alguns argumentos que são utilizados (com boas ou

más intenções) pelos defensores do teste, bem como alguns comentários: “Ah, mas a finalidade da prova é impedir que maus advogados causem problemas à sociedade”, diriam os defensores do exame de Ordem. Uma rápida visita ao mundo real destroi rapidamente tamanho despropósito. O sistema jurídico brasileiro, moldado e operado pelos ditos “melhores e mais capacitados bachareis do país” é um desastre quase que completo; o Judiciário, perdulário e ineficiente, demora anos para solucionar as controvérsias mais simples, há uma cultura de judicialização de conflitos e muitos recursos são desperdiçados com litigâncias inteiramente desnecessárias. Ou seja, a prova da OAB não seleciona os profissionais mais habilitados. Sua finalidade única e exclusiva é manter uma reserva de mercado aos indivíduos já atuantes neste. “Ah, mas sem o Exame, haveria na sociedade muitos maus advogados oportunistas, que explorariam seus clientes a partir de uma má-fé deliberada” Ora, não há motivo razoável para supor que um aprovado na prova da Ordem seja menos propenso a tais atitudes antiéticas. Por acaso este é um teste de bons costumes? Consegue medir, de algum modo, a solidez de caráter dos formandos? Se tal suposição fosse verdadeira, seria mais correto que a prova fosse preparada pelo Vaticano, e não pela FGV... “Ah, mas os advogados exercem um papel social extremamente relevante e, portanto, deve existir alguma forma de seleção exógena dos participantes do mercado”. Dentre todos, este é, de longe, o argumento mais despropositado, pois pressupõe que os juristas possuem uma posição superior

na sociedade, constituindo uma espécie de casta inacessível às massas. Fundamentalmente, não existe nada que torne um advogado superior a um economista, administrador, ou até mesmo a um pedreiro: todos os profissionais exercem funções de relevância social e, numa sociedade interconectada como a moderna, são estritamente dependentes uns dos outros. Não há razões para supor que alguns cidadãos devam ser mais privilegiados do que outros. Ou seja, não é difícil perceber que os principais argumentos utilizados pelos defensores de barreiras à entrada neste mercado de trabalho são inteiramente desprovidos de consistência lógica e empírica. Dessa maneira, a única conclusão possível é aquela a que o economista William Niskanen chegou, em seu artigo Bureaucracy and representative government, publicado em 1971: burocratas (tomados aqui em seu sentido mais amplo, o qual inclui membros de organismos paraestatais como a OAB) trabalham não para gerar o bem-estar coletivo, como ingenuamente pensam alguns. O objetivo destes, na realidade, é explorar assimetrias de informação e imperfeições contratuais de modo a extrair da sociedade o máximo de recursos possíveis. Muitas vezes (como no presente caso), isso não é ilegal. Mas certamente pode-se questionar: a quem serve o exame de Ordem? Certamente, não à sociedade. Nossos nobres bachareis agradecem. ¤

O exame da OAB é utilizado pelos advogados como instrumento de exercício de poder de mercado 21


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Obrigatoriedade da Anpec Gabriela Szini Thais Canina

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Anpec (Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia) reúne atualmente 20 centros de excelência acadêmica de diversos Estados do Brasil. Uma das atividades da Anpec consiste na realização de um exame nacional para a seleção dos ingressantes nos programas de mestrado. Basicamente, funciona assim: a pessoa que deseja fazer um mestrado acadêmico em algum centro de excelência deve prestar a prova da Anpec, nesta prova os alunos serão ranqueados. Com este ranking, as instituições escolhem os alunos que poderão fazer o seu programa de mestrado. A PUC-Rio, por exemplo, só aceita em seu programa os primeiros 40 colocados na Anpec. Isso tudo que foi dito não é nenhuma novidade. A novidade é que, para os ingressantes no curso de graduação em economia da EESP-FGV a partir de 2010 a prova da Anpec será obrigatória. Foram criadas duas disciplinas de quatro créditos cada uma, uma no quinto semestre e a outra no sexto semestre que consistem em uma preparação para a realização do exame da Anpec, e como prova final destas disciplinas os alunos terão de fazer o próprio exame, como treineiros. Como o exame é realizado somente uma vez ao ano, na “primeira disciplina” a nota final consistirá em simulados da Anpec, ao passo que a segunda disciplina terá como nota final tanto simulados quanto o próprio exame. O exame tem como base seis provas: Cálculo, Estatística, Microeconomia, Macroeconomia, Economia Brasileira e Inglês. Como os estudantes de economia só têm a disciplina de Economia Brasileira no sétimo semestre, eles não terão de fazer somente esta prova. Es-

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tas disciplinas serão como quaisquer outras, com direito à segunda chamada, reavaliação, dependência, e ainda, como qualquer outra, se o aluno, enquanto estiver fazendo a sua DP fechar com média menor que 6, é jubilado. Segundo o coordenador do curso, Nelson Marconi, o intuito de tornar o exame da Anpec obrigatório é o de ter uma avaliação externa do curso. A diretoria e coordenação gostariam de ter uma avaliação externa e acharam que nada melhor do que ter como tal o considerado melhor exame já existente (já que a prova do ENADE é considerada muito simples). “Os alunos que obtiveram um bom desempenho ao longo do curso - principalmente nas disciplinas de Microeconomia, Macroeconomia, Cálculo, e Estatística - não terão grandes dificuldades com as provas”, afirmou Marconi. Ainda, foi questionado se, pela prova ser ao final do sexto semestre (período em que os alunos costumam procurar estágio), não atrapalharia os planos dos alunos com estágios, pois a Anpec tem fama de ser uma prova que requer muito estudo. O coordenador, diante desta questão, disse que o intuito maior da escola não é o estágio e sim, a carreira dos alunos, – mostrando ainda mais que, talvez a EESP não queira que seus alunos se voltem somente para o mercado de trabalho, como também para a área acadêmica das ciências econômicas - e ainda, ainda reafirmou que os alunos que se saíram bem até então, irão se sair bem na Anpec também, não atrapalhando portanto, nenhum plano em relação aos estágios. A obrigatoriedade da Anpec gerou um grande desconforto para muitos alunos da EESP, dentre eles o aluno já formado, Heitor Bravi, vice-presidente de economia do DA. Heitor cita que no último ENADE realizado, os alunos que cursavam naquela época o primei-

ro ano de Economia foram melhor na prova do que os alunos que cursavam o último ano, sugerindo portanto, uma involução (mas essa involução não necessariamente ocorreu, uma vez que a maior parte dos alunos do último ano estavam mais preocupados e empenhados com assuntos ligados à estágio e mercado de trabalho), e que talvez esta medida de tornar a Anpec obrigatória seria no fundo para motivar os alunos e fazer com que os mesmos levassem mais a sério a prova. Mas será que esta seria a melhor medida? Além disso, Heitor põe a seguinte questão: supondo que um aluno tenha um desempenho brilhante na faculdade, mas que fique nervoso ao realizar uma prova de grande porte como a Anpec, então só por conta disso o aluno não poderia pegar seu diploma ? (lembrando que, se o aluno pegar DP linha da matéria da Anpec, ele seria jubilado, como ocorre em qualquer disciplina). E ainda, um aluno brilhante em determinada área, como por exemplo Finanças, pode não passar na prova da Anpec pois esta prova só abrange as áreas de Macroeconomia, Microeconomia, Economia Brasileira, Cálculo e Estatística. A questão central ligada a essa obrigatoriedade seria : Qual a real necessidade de uma avaliação externa, já que segundo o coordenador do curso este é o motivo da obrigatoriedade ? Quando perguntado sobre determinado assunto, o coordenador, até o fechamento dessa edição da Gazeta Vargas não se pronunciou. O que se pode concluir é que seria importante para os alunos de Economia, que terão de cursar estas disciplinas, se unirem e procurarem a diretoria para entender direito como funcionará esse processo, e entender o porquê dessa medida, além de procurar uma saída satisfatória para ambos os lados. ¤


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Dinâmicas de Grupo Pedro Beraldo

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uando falamos em dinâmica de grupo, do que nos lembramos? “Quebra-gelo”, Apresentação pessoal, resolução de casos, e algum tipo de encerramento. Para muitos, também sinônimo de “frustração”. No momento em que nos inscrevemos num processo seletivo, somos defrontados com o perfil buscado pela organização. Uma lista bem pasteurizada, com palavras sempre muito bonitas - “As Virtudes Pétreas do Mundo Corporativo” (doravante apenas VPMC). Dinamismo, Pró-atividade, Foco em resultados, capacidade de trabalhar em grupo, Liderança (???)... Somos acometidos por um turbilhão de ansiedade e angústia, acompanhado por altas expectativas profissionais. “Será que eu tenho todas essas qualidades?” - pensa nosso Candidato Genérico. O fato é que, indiferentemente se o candidato tem estas qualidades em si, ele sabe que precisa de alguma forma transparece-las aos olhos daqueles que serão seus avaliadores. Júlio César (não o goleiro) diria, numa adaptação nossa, “Ao candidato não basta ser honesto, deve parecer honesto”. ...E então uma dúzia de jovens é divida nuns dois grupos para realizar uma atividade em geral sem resposta certa. A maioria com foco total nas VPMC. Alguns perdidos pensando no que há para jantar. Está armado um verdadeiro circo. “Pró-atividade” torna-se uma urgência para falar primeiro, antes dos demais, e por vezes interrompendo colegas. “Dinamismo” é deformado em uma obstinação pela concretização das próprias ideias. Na tempestividade das características precedentes, curiosamente “Foco em

resultados” é simples e puramente negligenciado. São raros os casos em que há algum tipo de recompensa a quem se preocupa com o produto final da discussão e com a qualidade intrínseca deste produto. “Capacidade de trabalhar em grupo” é demonstrada como a habilidade de passar a palavra ao colega, cuja opinião, devidamente escutada pelo “interlocutoradversário”, será: a) Ignorada; b) Contraposta imediatamente, lançando mão do que acabou de falar (comportamento também conhecido informalmente como teimosia); c) Anexada ao conteúdo do trabalho sem verificação de conteúdo e/ou coerência com o resto do que foi elaborado, a título de ter certeza que todos participaram. ... E chegamos ao nosso filet mignon das VPMC: LIDERANÇA. O autor deste texto fica particularmente impressionado a cada dinâmica de grupo que participa, pois tantos são os líderes que há neste mundo corporativo, que ele ainda está para encontrar quem há para ser liderado! Bem alto (afinal, os avaliadores tem de ouvir!) é recorrente um tal de: - “Por favor, *olha o crachá do participante* José, você poderia pegar um Flip-chart para nós passarmos a apresentação?”. Tradução: - “José, você já deu seu pitaco no caso, pode fazer algo por mim e ir pegar aquele trambolho?”. Também ocorre o famoso: - “Maria, você e o Benedito podem ir fazendo a parte da relação com investidores?”. Tradução: - “Maria e Benedito, vocês estão quietos aí, podem ir fazendo esta parte menos importante enquanto a gente discute o Caso?”.

Numa dinâmica de grupo, espera-se que alguém se destaque como líder. No entanto, nas poucas horas que a constituem, a única forma de liderança passível de ser demonstrada com alguma recorrência é a carismática. Há excelentes líderes que não se destacam por seu carisma, mas por sua competência gerencial de fato, que engloba muitos outros fatores impossíveis de se esperar que sejam demonstrados com alguma consistência numas poucas horas, num grupo totalmente novo! Acaba que Liderança se torna uma competição de carisma!? Algo como um Big Brother RH... O candidato busca ser um profissional valioso para a empresa, mitigando o efeito negativo de suas deficiências. Ele abaixa a guarda e se expõe, em busca de uma perspectiva “de fora”. Frequentemente, não bastasse passar dias inteiros em função do processo seletivo (cada vez mais longo), o candidato é ultrajado com uma resposta totalmente sem objetividade, como “Você não contribuiu para a discussão” ou “Sentimos que faltou em você a iniciativa para manifestar o que você pensa” (versão mais complexa e igualmente inútil). Não é possível que alguém tenha a pretensão nos fazer acreditar que observar 10 pessoas por umas 4 horas não permitisse a qualquer profissional qualificado e sério elaborar algum comentário mais útil e digno do que o mencionado acima. Leitor, você vai passar anos na faculdade, se dedicando também a seus projetos pessoais e extracurriculares que vai colocar bonitinho no seu curriculum, e como se tivesse caído de paraquedas, vai ser medido com uma régua bem torta e pesado com uma balança desregulada. Seria ótimo se, além do diploma de Administração de Empresas, um cidadão não precisasse também de um bacharelado em Artes Cênicas. ¤

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Finanças sem Truques Bernardo Guimarães,

professor da EESP-FGV e da LSE omo ganhar dinheiro no mercado financeiro? Há no mercado uma miríade de livros, profissionais e gurus que ensinam maneiras de se ganhar na bolsa de valores, truques para se sair vitorioso nesse mercado. Quais os caminhos que levam ao sucesso? Muitos esperam que nós, professores de economia, tenhamos uma boa resposta para essa pergunta. Entretanto, depois de tanto estudar economia, o que se aprende é que conseguir prever para que lado vai o mercado, conseguir maior retorno sem aumentar o risco, é bem mais difícil que parece. Mas entender os motivos dessas dificuldades é muito importante para aqueles que querem investir seu dinheiro ou tentar uma carreira no mercado financeiro. E afinal, por que é tão difícil prever a trajetória de preços de ativos? Os especialistas conseguem prever, com bom grau de precisão, o movimento das taxas de juros, do produto e do nível de investimento de diversos países. Por que esse conhecimento não nos habilita a prever a trajetória dos preços nas bolsas de valores e acertar o momento de comprar ou vender? Resposta: porque informação conhecida é incorporada nos preços. Se todos sabemos que uma certa empresa irá vender muito mais no ano que vem, os detentores de suas ações e os potenciais compradores considerarão essa informação em suas decisões de compra ou venda. Da mesma maneira, as previsões sobre o PIB e as próximas ações do Banco Central já estão incorporadas nos preços dos ativos. Dizendo o mesmo de outra maneira, não é possível que todo mundo espere um aumento ou uma redução significativa de um preço de uma ação ou da taxa de câmbio, pois se todo mundo acha que o preço vai subir, os detentores da ação não tem motivos para vender ao preço vigente, e os compradores melhoram suas ofertas de compra. Assim, antes de sair qualquer negócio, o preço já subiu.

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Está bem, não é possível lucrar com informações conhecidas por todos. Mas e se alguns participantes tem informações mais precisas que outros? É possível transformar essa vantagem informacional em lucros nas apostas? Suponhamos que nós passemos nossos dias analisando os impactos da crise financeira na Hungria enquanto você pouco conheça daquele país, e de tempos em tempos leia alguma coisa a respeito nos jornais. Suponhamos também que parte das nossas previsões sobre a economia da Hungria não esteja incorporada nos preços, por não ser do conhecimento de outros. Temos então que, em média, nós acertaremos mais que você sobre os rumos da taxa de câmbio e das ações de empresas da Hungria. Nesse caso, podemos nós ganhar dinheiro às suas custas, vendendo ativos húngaros para você quando o preço tende a cair e comprando quando o preço tende a subir? Se você é racional, a resposta é não. Se você sabe que estamos bem informados sobre os rumos dos preços, se nós queremos comprar a um dado preço, é porque este tende a subir – e, portanto, para você, não vale a pena vender. Se queremos vender, é porque o preço tende a cair, não vale a pena para você comprar. Assim, você escolhe não negociar papéis da Hungria conosco. Esse argumento pode ser generalizado de várias maneiras e pode ser resumido da seguinte forma: para que um agente bem informado (chamemos este de “esperto”) ganhe dinheiro no mercado financeiro às custas de um agente pouco informado (chamemos este de “pato”), é necessário que o “pato” pense que é “esperto”. Se não pensar assim, o “pato” não fica apostando com o “esperto”. O argumento vai ainda mais longe. Note que para sair uma aposta, é preciso que tanto o “pato” quanto o “esperto” se julguem “espertos”. Assim, se mesmo sabendo que queremos te vender a moeda húngara você continua querendo comprá-la, nós aprendemos que não só você tem informação

diferente da nossa, mas também que você pensa que somos “patos”. Se em última instância nós damos a mesma importância às informações que foram colhidas por nós e por você, nós só gostaríamos de apostar com você se você não quisesse apostar conosco na ponta contrária – e como ninguém é obrigado a apostar, nesse caso não saem apostas. Esses resultados são conhecidos em economia como no-trade theorems (teoremas de ausência de negócios). Os argumentos se baseiam fundamentalmente em um teorema de Robert Aumann, publicado em 1974, que lhe rendeu o prêmio Nobel em 2005. Até hoje, ninguém ganhou o Prêmio Nobel com um truque para ganhar dinheiro na bolsa. Quando pensamos em comprar um carro usado, sempre queremos saber porque o dono quer vender. No caso de ativos financeiros, sempre que você comprar, lembre-se que há alguém que quis vender e ninguém mais que quis comprar a um preço maior. Talvez alguns vendedores precisem do dinheiro – por exemplo, uma empresa pode precisar vender os dólares advindos de um grande volume exportado, mesmo que o mercado acredite que o preço tenda a subir. Talvez haja muitos “patos” se julgando “espertos” no mercado. Talvez alguns truques para ganhar dinheiro no mercado realmente funcionem. Ou talvez, o “pato” seja você, o comprador. Como ganhar dinheiro no mercado financeiro? Com sorte, se ganha muito, e a sorte vem com frequência. Muito bom, mas com a mesma frequência vem o azar, e consequentemente as perdas. Em média, se ganha um pouco, e um pouco mais se o apetite para o risco é maior. Ir além disso e acertar nas apostas é difícil, não só porque os preços dos ativos incorporam as informações disponíveis sobre o futuro, mas também porque em cada aposta realizada há duas pessoas achando que vão ganhar, sendo a soma dos ganhos necessariamente zero. ¤


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Por uma formação interdisciplinar para o comércio global Vera Thorstensen

Professora da EESP vera.thorstensen@fgv.br O papel do Brasil vem crescendo no cenário da economia internacional. Os dados comerciais e econômicos demonstram que o País está em um momento de desenvolvimento acelerado, com o mercado interno em expansão, e que, atualmente é um exportador de produtos agrícolas de maior valor agregado, bem como de diversificada pauta de produtos industriais. Diante da atual conjuntura, o Centro do Comércio Global e Investimento (CCGI) visa reunir estudantes e profissionais provenientes de diversas áreas acadêmicas e, por intermédio do estudo multidisciplinar, prepará-los para o mercado, com ênfase no estudo da regulação comercial global. Deve-se entender, nesse contexto, que as atividades ligadas ao comércio internacional compreendem não só exportação e importação de bens, mas também uma ampla gama de serviços que abrangem setores como o financeiro, telecomunicação, transporte, construção, turismo, bem como serviços profissionais. A expansão de tais atividades está interligada e depende de uma série de políticas nacionais que refletem determinantes de ordem internacional como investimentos, propriedade intelectual, concorrência, meio-ambiente e mudança climática, da mesma forma que direitos trabalhistas e direitos humanos. Esta é visão integrada do comércio internacional que constitui o cerne do Centro. O CCGI foi criado em 15 de setembro de 2010 pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Dois

são os seus principais objetivos: o de formar especialistas na área do comércio internacional, e o de realizar pesquisas sobre o comércio internacional e o investimento. O primeiro objetivo é o de criação de uma nova geração de especialistas na área do comércio internacional e do investimento, integrando estudantes de Economia, Direito e Administração de Empresas, bem como a criação de um foro de discussão entre governo, empresários e acadêmicos sobre as questões mais prementes de governança global que afetam o comércio internacional. O segundo objetivo é o de fazer pesquisa na área da regulação do comércio internacional e do investimento em seus diferentes sistemas, por intermédio de um corte metodológico diferenciado: o sistema multilateral incluindo a Organização Mundial do Comércio (OMC) e demais organizações internacionais relacionadas ao comércio; os sistemas regionais e bilaterais centrados nos grandes pólos econômicos; os sistemas nacionais, incluindo as políticas de comércio, estruturas e instrumentos dos principais parceiros do comércio internacional; e o sistema do Brasil englobando política, estrutura e instrumentos do comércio internacional. Finalmente, analisar e avaliar os impactos de tais regras para os interesses brasileiros. Dentro da estrutura do CCGI, vários projetos estão em andamento. De particular interesse para os alunos, há o GVTrade, grupo aberto à participação dos alunos das escolas de Economia, Direito e Administração, que se reúne semanalmente para discutir os temas ligados ao

No GV trade alunos das três escolas se reunem semanalmente para discutirem temos ligados sobre o comérico exterior comércio. Para os encontros é recomendada leitura de textos, na sua maioria, do próprio site da OMC e os conceitos são discutidos. O conhecimento e o domínio dos diferentes níveis de regulação do comércio internacional, bem como a aplicação das regras pelos principais atores do comércio, são elemento indispensável não só para os formuladores da regulação do comércio no Brasil, mas também para os seus mais relevantes agentes, as empresas. O CCGI pretende dar uma visão moderna ao comércio internacional, não só como instrumento do processo de desenvolvimento social e econômico do País, mas também como instrumento de seu engajamento em cumprir compromissos internacionais, sejam eles relacionados ao meio ambiente e ao clima, ao trabalho decente, à segurança alimentar ou à eliminação da pobreza, ou seja, como instrumento de desenvolvimento econômico sustentável. Esta ponte entre as três disciplinas, assim como o estudo das diferentes estruturas de regulação do comércio são fundamentais para a formação de um novo quadro de pesquisadores e profissionais na área de comércio. Além de se tratar de uma demanda de mercado, a abordagem multi-sistêmica oferece ferramentas para o entendimento das articulações jurídicoeconômicas e de Política de Comércio Exterior do Brasil. O CCGI tem por missão suprir essa lacuna, em um momento em que o Brasil está construindo seu protagonismo no cenário internacional. ¤

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Mens sana in corpore sano Rafael Cossi

Crédito: Gabriela Szini

Os pais sempre dizem aos filhos pequenos que devem cumprir com as suas obrigações para depois brincar. É uma questão de prioridades que é passada entre gerações e um dogma da sociedade moderna: Primeiro as obrigações, depois o divertimento. Felizmente, para as crianças, há tempo suficiente tanto para a lição de casa quanto para as brincadeiras de rua. À medida que crescemos, entretanto, as obrigações se tornam maiores e mais numerosas e o tempo que sobra, o subestimado “tempo livre”, como oposto ao tempo de estudo ou de trabalho, fica cada vez menor. Não por acaso, segundo dados do Ministério da Saúde, apenas 14,7% da população brasileira pratica exercícios físicos regularmente e 16,4% pode ser considerada sedentária. A parcela de sedentários sobe para 35%, quando considerados os ex-alunos de onze dos colégios particulares mais renomados da capital paulista entrevistados pela Folha. A falta de tempo para uma rotina saudável cresce em todas as classes sociais, ascendências e faixas etárias. E isso nos leva até você, geveniano. A verdade é que, para cumprir satisfatoriamente com todas as suas obrigações, o aluno da Fundação Getúlio Vargas está fadado ao sedentarismo e à má alimentação que minam a qualidade de seu cotidiano. As aulas

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começam cedo e terminam tarde, as eventuais janelas são em sua maioria curtas demais para ir ao clube ou à academia e a infra-estrutura oferecida às centenas de alunos que freqüentam a fundação, nesse ponto, limita-se a uma quadra poliesportiva no pátio da Escola de Administração (a qual, nada obstante, está freqüentemente vazia). Como se não bastasse, o aluno leva para casa pilhas de trabalhos para fazer e textos para ler, obrigações as quais, se devidamente cumpridas, raramente deixam tempo para um jantar tranqüilo. O que dizer então do estudante que não mora com os pais e que, sem muito tempo nem conhecimento para cozinhar, acaba se rendendo à comida industrializada ou a um delivery qualquer. Mas o que botamos dentro de nosso corpo e as atividades que lhe dedicamos nos definem: determinam nosso humor, nossa disposição, nossa sociabilidade. Nossos órgãos, músculos, sentidos, movimentos e até nosso raciocínio são constituídos e abastecidos pelos elementos que ingerimos e funcionam melhor com um corpo bem condicionado. Por isso, nossa qualidade de vida está diretamente ligada ao que comemos e como nos exercitamos. Acredito que tudo aquilo que é milenar tem algo a nos ensinar. Se um hábito é praticado por um povo há centenas ou milhares de anos, deve promover algum benefício, ter alguma razão de ser. Há milênios, muito antes de a sociedade ocidental afundar em um período de trevas e renascer, o ser humano já havia descoberto um elemento simples que hoje se revela cada vez mais essencial em nossas vidas: o equilíbrio. Os Gymnasius da Grécia Antiga, onde os homens se reuniam para pensar e praticar esportes, pregavam a harmonia entre as aptidões físicas e mentais do homem. Mens

sana in corpore sano: o provérbio latino, no primeiro século do homem depois de Cristo, pregava esse equilíbrio. Hoje em dia, servem de exemplo para o mundo as melhores universidades americanas, nas quais o esporte chega a ser tão decisivo para a seleção dos alunos quanto o desempenho escolar. Mas como alcançar o equilíbrio sem nos prejudicarmos nessa exigente instituição em que escolhemos estudar? O aluno da FGV que se propor a uma vida saudável inevitavelmente se deparará com dias em que será impossível cumprir com todos os seus compromissos. Exercitar-se ou estudar mais? Ao contrário do que nos prescreve a moral, muitas vezes será mais adequado escolher a primeira opção. Ocorre que, ao invés de antagônicos, como nos fizeram crer, a saúde e o bom desempenho acadêmico podem caminhar lado a lado. Segundo um estudo recente da Universidade de Illinois, a prática de atividades físicas, seja a realizada em esportes coletivos, individuais ou simplesmente na academia, está, na verdade, diretamente ligada ao bom desempenho escolar. Esse tipo de atividade desenvolve a mente, a capacidade de decisão e a capacidade de aprendizagem. Alunos que praticam atividades físicas regularmente, na média, possuem notas mais altas que alunos sedentários. Portanto, é hora de um renascimento das nossas prioridades. A Atlética começa agora uma nova gestão. Nós, da GV, como membros de uma instituição acadêmica, podemos nos mobilizar para que tenha mais adeptos, locais de treino mais acessíveis, seja mais profissional e mais valorizada. Como alunos, fica o convite a valorizarmos mais nosso corpo, nossa mente, a harmonia e a saúde de nosso cotidiano, ainda que isso implique em estudar menos – E, de quebra, quem sabe melhorarmos nossas notas. ¤


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Coluna de Tecnologia

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New gadget news

O “Playstation Phone”

No início de 2011, a Apple lançou a sua loja virtual de aplicativos para computadores Mac, a App Store, permitindo aos usuários com a versão Snow Leopard fazerem downloads e rodarem aplicativos assim como no iPhone e iPad. A App Store reúne uma grande variedade de aplicativos para a maioria das necessidades, além de programas que antes seriam comprados a parte, como o iLife, Apperture 3 dentre outros que agora estão facilmente acessíveis. A App Store foi uma ótima jogada da Apple por incentivar a criação de aplicações para Mac. Antes da loja virtual, a pequena variedade de aplicativos era uma fraqueza contra o Windows. Além disso, a App Store aproxima a experiência dos tablets aos notebooks e ajuda a conquistar consumidores indecisos.

Novos tablets Para concorrer com o iPad as grandes fabricantes de smartphones, Motorola e Samsung estão fazendo o lançamento de seus tablets com o sistema operacional Android da Google em sua versão otimizada para tablets. O Xoom é a versão da Motorola e o Galaxy Tab 10.1 (não confundir com o Galaxy Tab) é a versão da Samsung para os tablets de segunda geração que estão aí para competir com o iPad 2. Ambos contam com uma tela de maior definição que a do iPad, processador de 1GHz dual core e câmeras frontais e traseiras (o Xoom com 5 megapixels e o Galaxy Tab 10.1 com 8 megapixels). Mas a cereja do bolo fica para a versão otimizada do Android (sistema operacional) para tablets completamen-

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App Store para Mac

Tablets da Samsung com sistema operacional Google te diferente do sistema para celulares.

“Dois é melhor do que um” Com esse slogan a Apple quebrou o monopólio americano das vendas de iPhone e permitiu que além da AT&T, a Verizon também fizesse a comercialização do iPhone 4. Esse passo atende às inúmeras reclamações sobre o serviço da operadora AT&T e também evidencia a preocupação com a crescente popularidade do sistema Android.

Durante o mais aclamado evento esportivo do ano, o Super Bowl, foi ao ar a propaganda do novo celular da Sony voltado aos game-maníacos. O Xperia Play rodará o sistema Android e terá uma loja virtual de jogos Playstation. O novo produto pretende suprir o mercado de jogos para celulares cuja demanda crescente fez grandes estúdios de jogos produzirem para a plataformas móveis como a EA Games dentre outros.

iPad 2 Exatamente como um iPod Touch de Itu o iPad 2 foi lançado quarta feira dia 2 de março. O lançamento já era aguardado para uma data próxima e o conteúdo não gerou grande surpresa.

Crédito: Imagem de divulgação

Daniel Fejgelman

Nokia No inicio de Fevereiro, a Nokia, a maior fabricante de celulares do mundo, anunciou que fará uma parceria com a Microsoft para equipar seus celulares com o sistema operacional Windows Phone 7. A mudança poderá ser vista em alguns meses e atende aos anseios dos fãs da fabricante finlandesa para abandonar o ultrapassado Symbian (marco dos dias de glória da Nokia). A falta de inovação da marca levou a uma drástica perda de Market Share de telefonia móvel nos últimos anos e a praticamente inexistente parcela de “Smartphones touch”.

Agora com câmera O iPad 2 é um terço mais fino, conta com duas câmeras para vídeo sem grande resolução, o novo processador é dual core e a tela é basicamente a mesma (nada de retina display para os mais afoitos). O ponto forte está na redução de tamanho e de peso ainda que de 80 gramas para a versão mais leve além da atualização de software para o iOS 4.3 e melhoria significante dos gráficos. ¤

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Iniciação Científica

Crueldade contra animais, utilitarismo e moral Isabel Arbex

Aluna do 6º semestre da EDESP. s limites utilitaristas na relação moral entre homens e animais e sua relevância para a formulação e compreensão do tratamento jurídico de políticas públicas no Brasil. Você leu as palavras em itálico e teve a impressão de que, na verdade, não leu nada? Eis o título do meu recém-nascido projeto de iniciação científica. A elaboração do projeto foi quase questão de vida ou morte. Havia tantos assuntos, tantos debates e tanto interesse. Foi quando meu orientador, Ronaldo Macedo Jr., deu a dica de ouro: escolha um tema que te desperte paixão. A dica foi fundamental, de modo que cheguei a dois possíveis temas: a questão da desigualdade entre ricos e pobres e a questão do tratamento moral aos animais. A segunda dica, também fundamental: faça uma espécie de mapa com ideias, temas de interesse e questionamentos interessantes. Cheguei à conclusão que, por ser vegetariana há cinco anos e fã de carteirinha de todas as espécies de animais, com certeza o tema que me desperta mais interesse seria o relacionado com os animais. Como a pesquisa era minha, eu mesma deveria propor as perguntas cujas respostas pretendia encontrar, apresentando também os meios com os quais eu conseguiria chegar a algum resultado. Nós, alunos, não estamos acostumados a propor perguntas às quais, a priori, não temos respostas. Eu ia dormir e acordava pensando nisso. Li muitos textos de muitos autores, por sugestão do orientador, para conseguir ter uma ideia mais clara do que eu queria. Aliás, esta foi outra sugestão indispensável: antes de propor um projeto

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ao Comitê, pesquise bastante, leia mais do que acha que deve e reflita. É um processo que só depende de você e da sua iniciativa. Por isso a primeira dica era de escolher um tema que despertasse paixão. E foi através deste último processo que consegui delimitar as perguntas, as possíveis respostas, o trajeto a ser percorrido, os autores da bibliografia, a hipótese e – o grande desafio – o que isso tudo agrega à produção acadêmica nacional. Meu projeto pretende

A primeira dica é escolher um tema que desperte paixão

abordar o debate entre Peter Singer e Bernard Williams. Singer, reconhecido utilitarista, argumenta em defesa dos animais fazendo um levantamento de argumentos de natureza moral. A igualdade, por exemplo, fundamentase no princípio da igual consideração dos interesses (não podendo se restringir apenas aos seres humanos). Assim, Singer critica a indústria de produção e consumo de carne atual, fazendo um cálculo utilitarista. Grosso modo, o autor apresenta sintética e comparativamente os “prós e contras” do atual contexto da indústria da carne, concluindo que o sofrimento gerado não compensa o bem estar. Bernard Williams, crítico do utilitarismo, apresentará argumentos contrários à teoria apresentada por Singer. Vistos como “falhas” do utilitarismo, os argumentos levantados por Williams podem sugerir, num primeiro momento, limites à teoria de Singer.

Busquei estudar como alguns fatos atuais – constatações científicas relativas à alimentação humana (necessidade de ingestão de proteína animal) e o problema da fome são dois exemplos – influenciam políticas públicas adotadas pelo Estado brasileiro. São analisados aspectos econômicos, políticos, sociais e morais. Neste contexto, o debate entre Williams e Singer é fundamental, pois expõe os pontos de divergência moral e ressalta falhas e limites da teoria utilitarista na aplicação deste tipo de política pública. As políticas públicas nacionais relativas à agropecuária, como incentivos e restrições, são parte fundamental do objeto de estudo: analisar como a teoria utilitarista, seus limites e falhas, dialogam com a formulação de políticas públicas neste contexto. O estudo irá analisar, por fim, como os valores do plano moral irão influenciar diretamente o plano econômico, político e social diante da formulação destas políticas públicas. Se até agora eu só falei como o processo foi difícil e cansativo, tenho agora a obrigação de dizer que encontrar essas respostas e conseguir criar um projeto do meu interesse, com a minha cara, foi uma verdadeira conquista acadêmica, profissional e, sobretudo, pessoal. Superei um desafio que lá no início, conversando Coordenador de Pesquisas, parecia impossível. O projeto tem sido presente 24/7 e cada nova etapa do cronograma, que eu mesma montei, é seguida de outra sensação de conquista. E ainda devo dizer que a escolha do orientador foi fundamental. Se não fosse pelo interesse e paciência, além da didática e disposição do professor Ronaldo Macedo Jr., certamente eu ainda estaria na escolha do tema até hoje. ¤


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A morte do homem vitruviano Luiz Fernando Lockmann e Souza

Aluno do 3º semestre EAESP

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o longo de sua vida Leonardo Da Vinci buscou incansavelmente o estado de perfeição. Quer seja física, intelectual ou artística, o gênio procurou conceber de alguma forma essa concepção tanto em sua vida terrena quanto em seus trabalhos. Entretanto, infelizmente, nunca conseguiu criar de fato um único ponto de perfeição pura até meados de 1490, quando criou, após muito trabalho o desenho do Homem Vitruviano. Símbolo de perfeição física, matemática, estética e métrica o Homem Vitruviano por muitos seria considerado a opus Magnum de Da Vinci. Contudo, no fim de sua vida Leonardo questionaria seu trabalho do ponto de vista da perfeição, uma vez que um único trabalho não denotaria a pureza que este procurava. O Homem Vitruviano seria considerado, por ele, uma das formas de se atingir a perfeição de espirito, corpo e mente. Da Vinci no fim da vida concebe a ideia do universalismo idealizado pelo Homem Vitruviano, onde o ser humano deveria buscar a perfeição e conhecimento em todos os ramos possíveis da vida. Utilizando da premissa de Da Vinci, seguramente posso dizer que a perfeição ou a sua proximidade é possível através da universalidade. Mas então qual é o problema que enxergamos hoje tanto na fundação quando na sociedade brasileira? Resposta: a morte do Homem Vitruviano. Esse falecimento existe

na mente da maioria dos tais chamados seres pensantes e foi feito de modo com que ao invés de ocorrer uma abertura de opinião, ocorresse um afunilamento. Em outras palavras, ou invés de se procurar conhecer e entender diversos assuntos de varias áreas da ciência e sociedade, hoje tem-se uma especialização de funções. A realidade atual nos impulsiona a procura de ações que agregam para o trabalho puramente, fazendo com que o publico rejeite a ideia de busca infinita pelo conhecimento. Da Vinci nos ensinaria que na verdade tudo agrega; tudo indica ao caminho da perfeição e a felicidade, bastando sentir prazer nas atividades que se desempenha.

A morte do universalidade? O que ocorre hoje é a simples reinvenção do conceito da especialização, onde o ser pensante deve dominar somente aquela função a si designada. As consequências são as mais diversas: alienação, senso critico pobre, discussões fracas en-

tre muitas outras. Digo exatamente que tudo agrega e tudo auxilia na famosa tomada de decisão tanto no trabalho quanto na vida pessoal. Não estou de forma alguma cultuando a vagabundagem como alguns podem pensar, simplesmente indicando que as respostas podem estar presentes em diversos lugares. Aconselho a todos a serem universalistas; saiam, se divirtam, vejam filmes, leiam livros, passeiem, estudem. Não se tornem as pontas da curva normal entre a alienação completa e a bitolagem desperada. Sejam originais em suas escolhas, mantendo o senso critico sempre. Pode parecer um tanto quanto pessimismo de minha parte dizer que o universalismo morreu. Mas só analisando no microcosmo da faculdade já localizo que em grande parte isso ocorreu. O Homem Virtruviano morreu e o Super aluno e o matou... Aos caros sobreviventes virtuosos e medianos digo que há a esperança caso se acredite nela. Da Vinci foi considerado um dos homens mais dignos ao termo “gênio da história”. Tudo que ele fez foi se concentrar naquilo que ele sentia prazer e extrair disso o melhor possível. Sair da onda generalizada parece um desafio e tanto para o ser humano. Contudo, pessoalmente acho mais interessante e recompensante morrer universalista do que viver um especialista medíocre e sem prospectos. Para mim o Homem Vitruviano não está morto, mas caso eu o matar um dia, pode ter certeza que minha mente irá lentamente morrer ao longo dos meus próximos e afunilados anos. ¤

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Aos desavisados Como as expectativas de um bixo ao entrar na GV podem ser destruídas André Savastano

Ex-aluno da EAESP e estudante de publicidade á 11 semestres eu entrava pela primeira vez na GV já imaginando quando ganharia meu primeiro milhão, mas com o fim do primeiro semestre vieram as primeiras DPs e com elas, uma certeza: eu não estava fazendo o que realmente gostaria de fazer. Depois de pensar por muito tempo, decidi falar com meus pais e minha mãe surtou. Como poderia alguém querer abandonar a tão renomada FGV? E para fazer publicidade? Isso dá dinheiro? Minha mãe procurou saber tudo o que a FGV pesquisa/ensina/publica/estuda sobre publicidade e propaganda e descobriu a minha mãe GVniana – professora Martha Savastano. Também ligou para o professor Renato Ferreira, amigo de infância dela, e que me ajudou muito dentro da faculdade. Se a Martha foi minha mãe GVniana, meu pai foi o Renato. Depois de uma conversa com os professores e de me assustar com o susto da minha mãe, decidi ficar e me envolver mais. Entrei para a Gazeta como redator e depois passei a buscar anunciantes, acumulando as duas funções. Passava o tempo todo entre DA e aquário. Ainda assim não gostava muito e decidi procurar mais. Conheci o NPP e, depois de conversar com a tutora da minha sala, Susana Pereira, fiquei sabendo que seu marido, o professor Luís Henrique Pereira, queria orientar algum aluno em um projeto sobre estratégias mercadológicas de exportação de carne bovina – algo que me interessava muito. Falei com ele, começamos o projeto, escrevemos a monografia, publicamos um artigo. Foi ótimo, pesquisei bastante, aprendi muito, fa-

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zia algo que me interessava, mas infelizmente durou só um ano e depois disso, continuando sem gostar do curso, eu achava que era tarde demais para abandonar e fazer outra graduação. Por isso, fui procurar mais alguma coisa dentro da GV que pudesse me interessar. Me matriculei na disciplina de Marketing Esportivo, do professor Marco Aurélio Klein, e no fim do semestre estava trabalhando com ele na Federação Paulista de Futebol. Foi mais um ano inteiro fazendo algo que eu gostava muito,

Como poderia alguém querer abandonar a tão renomada FGV? E para fazer publicidade? indo a todos os jogos dos grandes times aqui de São Paulo e até mesmo ao Rio de Janeiro para trabalhar no Maracanã. Foi uma experiência incrível. Mas ainda assim, raramente ia às aulas e, consequentemente, só tirava notas baixas. Parecia que a cada semestre, minha habilidade de acumular DPs aumentava. Eu continuava insatisfeito com a escola. Não foi por falta de tentativas, eu acho. Nos meus últimos semestres, tentei me matricular mais em matérias relacionadas com publicidade. Minha trilha foi voltada para Marketing. Mas não adiantou. Finanças I e Macroeconomia estavam no meio do caminho entre o meu primeiro dia de aula, em 2005, e o meu diploma, em 2009. Se fosse para voltar no tempo, eu só mudaria as colas. Talvez eu começasse a colar, já que muita gente faz isso na

maior cara de pau e nunca fiquei sabendo de ninguém que tenha tido sérios problemas por ter sido pego colando. Mas tirando a parte das colas, não tenho arrependimentos. Posso dizer que tentei, da minha maneira, claro, sem estudar absolutamente nada, mas buscando me envolver de quase todos os modos possíveis. Acho até que meus dias na GV foram longos. Afinal, foram oito semestres de muito descaso e vagabundagem. Mas também foram oito semestres em que conheci muita gente interessante. Muitos amigos, muitos professores ótimos, muitas palestras boas, muitas oportunidades. A verdade a ser dita sobre a GV é que ela te abre muitas portas, e de todos os tipos. Outra verdade é que você tem que esquecer algumas noites de sono antes da prova de Microeconomia e na véspera da entrega do trabalho de Finanças I. Mas se você realmente gosta, dizem, é muito bom. Não sei o que aconteceu, talvez eu tenha dormido demais na véspera da entrega do trabalho de Finanças I, mas fiz essa disciplina cinco vezes (ou quatro?) e não passei. Terminei sendo jubilado, fiquei um ano sem fazer nada, pensando na vida, e decidi que o que eu queria mesmo, o que eu sempre quis, era fazer publicidade. Convenci meus pais e, embora tenha entrado no meio de 2010, já estou no terceiro semestre. Tenho que agradecer a GV por isso. Por todas as matérias que tive aqui, consegui eliminar um semestre na ESPM. Tenho que agradecer também a todos os professores citados no texto, já que eles nunca desistiram de tentar me manter aqui dentro. E tenho também que avisar você, bicho, que não importa se esta é a melhor escola da América Latina. Você deveria estar fazendo o que realmente gosta e, caso não esteja, saiba que no fim a FGV cobra de você e você não vai conseguir entregar o que ela quer. Se você está aqui pelo nome da escola, pelo glamour envolvido em dizer que faz GV, você vai sair daqui antes do planejado, ou pior, muito depois. ¤


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Heitor Dias Bravi

Formando da turma de 2010 da EESP arece ter sido ontem. Sala nova, algumas caras conhecidas; a maioria, desconhecidas. Alguns dias depois, as primeiras trocas de conversas, preferências sendo reveladas, as primeiras aulas. Infinidade de assuntos: o time que torce, o filme que curte, a cerveja que aprecia. Cerveja? Showkito’s - só para continuar o papo. Mais algumas aulas, a primeira Giovanna (sensacional), as primeiras provas parciais; a primeira Gioconda (um despautério) e a tentativa de recuperação da média nas provas finais, além das possíveis primeiras reavais - as quais jamais esqueceremos. Isso sem mencionar os jogos... Ah! as Economíadas... valem todos os 360 dias de espera, sem dúvidas! Já que não há outra saída, a estratégia-ótima é, portanto, conciliar a vida social com o desempenho acadêmico... como? “Colar é arte; DP faz parte”: média 6,0 vira nota 10,0 e, quando nos damos conta, lá se foi a noite em claro estudando, a semana inteira de provas finais, o primeiro semestre. E o segundo. E o terceiro. E o quarto... Mas as coisas não acontecem tão rápido assim: é claro que teremos churrascos, tanto dos bixos (burros?) quanto dos formandos (também conhecidos por survivors) - além dos churrascos da sala, cervejadas, Guinevères (a festa de Direito que vale a visita), baladas, bares, jantares, mais Showkito’s... Chegamos ao quinto semestre e, caso você tenha suas aulas regulares na Itapeva 432, já é permitido estagiar; na Itapeva 474 e na Rocha 233, somente dois semestres depois. Há quem prefira estagiar e há, também, os que preferem adiantar algumas matérias eletivas e/ou DPs fazendo créditos extras nos semestres. Via de regra, há também aqueles que continuam no bar ou na sinuca do 1º andar.

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Após tanto tempo, já são notáveis algumas mudanças dentro das salas: as famosas “panelinhas” já estão formadas e as diferenças nas preferências têm um poder muito grande sobre as pessoas com as quais você escolhe conversar mais, ou menos. Diferenças à parte, tudo se resolve (afinal de contas, ainda estamos no quinto semestre...). Eis que, na ordem natural dos fatos, chega o sexto semestre e aí sim nos damos conta que já estamos nos 30’ do segundo tempo: falta pouco pra acabar, com possibilidades de uma prorrogação e, eventualmente, a cobrança de pênalties. Talvez fosse possível terminar no tempo regulamentar, mas a emoção de se provar merecedor do título ainda que no meio de adversidades após os noventa minutos é tão enorme quanto liquidar o adversário antes de o árbitro apontar o centro de campo e pedir a bola – com a diferença que seu time ficou mais tempo em campo. A partir deste ponto, com TCCs e Monografias já encaminhadas, as visitas à gloriosa Fundação vão se tornando cada vez mais esparsas e, com a sala original dividida entre as diversas eletivas oferecidas em diferentes horários, só restam as matérias obrigatórias pra tentar encontrar as pessoas que iniciaram a jornada junto com você – isso quando elas comparecem à aula... Com o último ano batendo à porta, são poucos os remanescentes: há quem tenha ido cursar algum intercâmbio, ou tenha “sido saído” da Escola ou tenha realmente optado pela prorrogação (ou tenha sido induzido a prorrogar). Daí a opção pela escolha de “matérias eletivas viabilizadoras da formatura”, as tradicionais ‘várzeas’ – pelas quais somos gratos aos nossos veteranos pelas brilhantes indicações.

Crédito: Gabriela Szini

Só Acaba Quando Termina

Sim, senhoras e senhores, estamos chegando ao fim: últimas provas e últimas festas dentro da GV para os ingressantes do começo de 2007 que optaram não ir pra prorrogação. Sem dúvidas, nossa passagem pela Fundação foi memorável: desde os tempos em que o 1º andar realmente pertencia aos alunos (com o tradicional ‘suco de cevada’ e o carteado vespertinos, passando pela Gincana dos Bixos e a “Surreal – cerveja a um real”) até a maior crise financeira internacional já vista desde 1929, além de fatos completamente inesperados como o óbito da Dercy Gonçalves, do Michael Jackson e do Enéas (56!); isso sem contar, mais recentemente, a eleição do nobre deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva para compor o nosso Parlamento... Enfim, preferências a parte, fato é que se chega ao final de quatro quintos do período de validade da carteirinha com a sensação de dever cumprido. Academicamente bem-preparados (será?), sobra-nos os bons momentos e experiências que passamos junto aos amigos que levaremos para o resto de nossas vidas. Um dia, quem sabe, todos os alunos que decidiram permanecer em campo vão entender o acerto da sua decisão; afinal de contas, “no fim tudo dá certo; se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”. Sábias palavras, Sr. Fernando Sabino... ¤

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Crônica

Estratégia de volta para casa

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ra uma terça-feira, 17 horas e 23 minutos. Estava eu esperando o ônibus no ponto ao lado do metrô, entre a Rua Itapeva e a Rua Pamplona. O ponto lotado fazia jus ao horário. Passavam ônibus de todas as cores (todos vazios), menos aquele que eu esperava. Quando finalmente avisto o glorioso verde escuro, destino Pompéia, já me posiciono estrategicamente em um local que espero ser exatamente onde abrirá a porta, ao mesmo tempo em que outros fazem o mesmo. Infelizmente, minha previsão falha e o veículo para longe de onde calculei, me levando a ter que esperar outras pessoas entrarem. Consigo felizmente subir no coletivo. Agora chega a hora de usar o cérebro: tenho que decidir onde sentar. Analisando o cenário, ônibus mais ou menos vazio, mas com previsão de lotar, já caminho em direção à catraca, almejando um lugar próximo à porta e sem companhia ao lado (2 lugares para uma pessoa é mais confortável do que somente 1). Passo pela parte da frente do ônibus, que costuma ser dominada por pessoas da terceira idade, já com o bilhete único na mão, e após passar pela catraca, caminho calmamente em direção a um assento vazio razoavelmente próximo à porta de saída. Dado que o ônibus prontamente lotará, é bom me situar em um lugar que me possibilite uma saída tranquila quando chegar a meu ponto, sem ter que “empurrar” muita gente. Porém, uma mulher aparentemente apressada me pede licença para passar a minha frente. Pensando que ela pretende descer ao próximo ponto, gentilmente dou espaço para ela passar. Porém, a pilantra vai e se acomoda exatamente

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no banco em que eu planejava sentar. Enfurecido, me aproximo da mulher planejando vingança (quem sabe uma esbarrada) que é prontamente esquecida com a liberação de um assento duplo ao meu lado. Sento-me estrategicamente no banco ao lado do corredor, criando assim um desincentivo para que outros sentem ao meu lado (já que a pessoa terá que pedir licença e passar no pequeno espaço entre eu e o banco da frente para se sentar ao meu lado, daquela situação linda em que a pessoa praticamente deve se esfregar em você). Crédito: http:anjoip.blogspot.com/2010/03/ecom-profunda-revolta-que-escrevo-esse.html

Clóvis Stefano

Autismo coletivo. É nesta ocasião que ocorre o máximo do autismo coletivo. Todas as pessoas estão em seus respectivos mundos, sem qualquer interação com o mundo externo. Eu, inclusive, me junto a este ritual. Olho cada pessoa que passa, analisando-a. “De onde será que esta pessoa vem?” “Quantos anos ela deve ter?” “O que é isso na bochecha dela?”, penso. De repente, avisto uma mulher, 1,70 de altura, aproximadamente 20 anos, corpo formoso e rosto angelical. Bom, não costumo gostar que pessoas se sentem ao meu lado, mas para ela abro uma exceção. Infelizmente, ela resolve sentarse em outro lugar. “Que pena”. Quando, de repente, avisto meu maior temor: um semi-conhecido chato. O semi-conhecido chato é uma pessoa que não te conhece muito bem, mas age como se te

conhecesse há anos. “Ele não morava na zona sul?”. Mas parece que certas pessoas são capazes de fazer qualquer coisa para te importunar. Abaixei-me disfarçadamente, de modo a me esconder. Felizmente, ele se sentou em um local à frente, sem ter me visto. Chegamos então a um ponto da Avenida Dr. Arnaldo. Este é o ponto menos desejado do trajeto, pois, além de subir gente até lotar o ônibus, ainda sobram pessoas na porta que não conseguem entender que não há mais espaço nenhum. Elas seguram o ônibus até desistirem (o que é difícil) ou até conseguirem subir, mesmo que para isso tenham que empurrar um monte de gente. Eu já não tinha esperanças de manter meu grau de liberdade (o assento livre ao meu lado), então já me conformo com a cessão do espaço, torcendo para que alguma pessoa agradável venha a se sentar ao lado. Logicamente (a Lei de Murphy nunca falha), um homem obeso para e pede licença para sentar-se ao meu lado, me espremendo contra o braço do assento. Não há o que fazer. Meu ponto já é o próximo, então já me preparo para me levantar e me livrar deste ambiente terrivelmente desconfortável e quente. É nessa hora que agradeço a mim mesmo por ter escolhido um lugar próximo à saída. Ao que as pessoas descem, já me levanto e posiciono-me próximo à porta, com uma mão apoiada no corrimão e a outra já preparada para apertar o botão. São momentos de angústia. Cada segundo parece eterno, e o que parecia próximo, nunca chega. Finalmente, avisto o meu ponto, ao que o ônibus vai lentamente parando. A porta abre, e sou o primeiro a descer, sentindo o choque térmico entre um ambiente caloroso e o frio da rua. O sufoco finalmente chega a seu fim. Olho para trás, vejo aquele amontoado de gente que me acompanhava no trajeto, todos sem espaço para mover um músculo, e penso “Ganhei de vocês! Estou livre disto!”. Só me esqueço que terei que passar pela mesma situação no dia seguinte. ¤


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Do pó viemos ao pó retornaremos

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mundo dehoje funciona de acordocom uma lógica que favorece cadavezmais a competitititividade e onde nãose pode parar por sequer um minuto ou seus competidores se favorecerão e a gente deixará deganhar ddddddinheiro e por estranho que possaparecer issomuitas vezes envolve o consumode substâncias ou seja aquele que consumiralgum tipo de substância que opermita ficarmais atento e pensarmais rápido automatimatimaticamente teráuma vantagem competitiva em relação aos outros ademais é inegável que a cafeína já seja utilizada pormuitos mas a cocaína ainda é um território inexplorado possivelmente pelofato de ser ilegal masque pode certamente ajudar o indivíduo que a usa a realizar todasas suas obrigações e ainda ir além. Postoque muitas empresasjá realizam atividades ilegais emseu funcionamento interno nãovejo nenhumotivo peloqual a cocaína devaser proibida peloEstado sendoque condiz tãobem com arealidade naqual nos inserimos eque podeajudar a nossa civilização aatingir níveis de cccccrescimentoeconômico sem precedentes basta portanto retirar das cabeças das pessoas o preconceito quetêm emrelação a essadroga e fazercomque o conservadorismo deumavezportodas deixe de impedir a melhoriadas condições gerais de vidada população quehoje trabalha em umritmo lentíssimo devidoà preguiça naturaldo serhumano à vadiagem notrabalho e a umajuventude de maconheiros vagabundos quenão querem trabalhar e preferemtrocar a ação porum pensamento semobjetivoprático eque é completatatamente contraproducente. ¤

Flávio Lima

O que realmente acontece em um trabalho em grupo Uma alma caridosa faz o trabalho inteiro, põe o nome de todos e ainda tem que ouvir críticas dos membros, que não fizeram nada

O grupo realiza um tratado no início do semestre em que cada um é responsável pela entrega de um trabalho

gro.sagravatezag.www

Todo o grupo se reúne para discutir o tema e elaborar o trabalho, que é feito em conjunto O grupo discute, briga e para de se falar. Cada um faz o que entende, contribuindo para um trabalho esquizofrênico

Todos discutem o que cada um vai apresentar, cinco minutos antes da aula

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The Gazeta Herald Conjuntivite Após surto de conjuntivite diagnosticado entre os alunos da EAESP, a grife Marc Jacobs fechou contrato com a Diretoria de Operações para comercializar óculos de sol. Os acessórios terão desenhos exclusivos feitos pelo próprio Marc. “Estou lisonjeado com a oportunidade de business aqui na FGV”, confessa o designer “é um privilégio poder fazer essa linha e ajudar os futuros CEOs do Brasil e do mundo neste momento de tanta comoção”. A faixa de preços dos óculos vai de R$ 1.000,00 a R$ 5.000,00. Lady Gaga, fã de Jacobs, já afirmou em seu site que irá passar na FGV para conferir os modelos durante sua turnê pelo Brasil.

#WINNING! Charlie Sheen fará palestra sobre técnicas de negociação para alunos da FGV

Recém despedido da série Two and a Half Men por assuntos pessoais, problemas com drogas, álcool e críticas ferrenhas à produção, Charlie Sheen realizará palestras motivacionais na FGV para ensinar como sua atitude o tornou um verdadeiro vencedor. Sheen, esgotou em 18 minutos todos os ingressos para sua misteriosa turnê “My violent torpedo of truth” sem revelar o conteúdo das apresentações.

Dieta Após sua polêmica e chorosa saída do Cortinthians, o jogador Ronaldo afirmou que finalmente vai fazer uma

dieta para perder uns quilinhos a mais. Em entrevista ao Gazeta Herald, o Fenômeno afirmou que pretende almoçar pelo menos três vezes por semana no restaurante Getulinho: “A comida é tão ruim que não vou comer mais do que 200g!”.

Feng Shui em desequilíbrio no DAGV Apesar do aviso veiculado pelo Diretório Acadêmico sobre a chegada dos novos sofás no 1º andar, a arrumação já foi totalmente arruinada pelos alunos, destruindo toda o Feng Shui do ambiente. Segundo profissionais do ramo, o desequilíbrio em determinado ambiente pode causar ansiedade, problemas de concentração e financeiros, dores no corpo e até mesmo calvície.

O presidente americano Barack Obama inclui a Gazeta Vargas na sua lista de periódicos preferidos

O ex-presidente Lula lê a última edição da Gazeta Vargas, preocupado com o resultado da pesquisa de opinião

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Cyberstalker1, eu? Vamos ser honestos? Todos nós damos uma fuçadinha inocente nos perfis alheios. Fuçadinha, note, como eufemismo para as intermináveis horas investigando gostos, atividades, fotos e mensagens de outras pessoas em redes sociais, como se fossemos os próprios agentes da CIA. O fenômeno ao qual me refiro, naturalmente, alude a uma profissão quase tão antiga quanto a prostituição: a investigação particular. Antes, ser detetive era uma profissão que requeria talento, habilidade, discrição! Hoje as informações são dadas de bandeja. Que tédio! Pense como era difícil investigar a vida de alguém sem um Google? Grampear telefones, abrir correspondências, persegui-las nas ruas à margem da legalidade...Hoje, com uma simples busca, temos uma miríade de informações a nosso dispor, dentro da lei. Ou quase. Tudo começou, mais ou menos, com nosso velho Orkut. Pessoas normais checavam seus scraps, a atividade em suas comunidades prediletas, as atualizações nos álbuns dos outros e davam logout. Simples. Outras, checavam os scrapbooks, álbuns e comunidades alheias. Ah, quando víamos um scrap suspeito que alguém deixou para nosso perseguido? Até parece que você nunca entrou no perfil do outro para ver o resto da conversa! O Orkut se complicou um pouco com aquele maldito fuçômetro implementado em meados de 2006. Para cyberstalkers inteligentes como nós, isto nunca foi um empecilho. Dominamos, em horas, a arte de desativar o fuçômetro – afinal o bom stalker nunca pode ser visto – mas ativávamos novamente em tempo de checar quem estava fuçando o nosso. Stalkers mais ferinos criavam perfis fake para fuçar livremente o perfil dos outros, até que o Orkut se tocou e implementou configurações de privacidade. O Facebook, vamos admitir, foi uma mão na roda. Agora não precisamos mais entrar freneticamente no perfil das pessoas para conferir as atualizações: recebemos um relatório extenso em nossa página inicial com as atualizações, que se dividem em “mais importantes” e “mais recentes”. Para mim, cyberstalker semi-profissional, o newsfeed não é suficiente. Tenho que entrar no perfil das pessoas desejadas e checar a atividade delas individualmente: é o meio mais eficaz de garantir que não estou deixando passar informações importantes como 1) quais posts foram “curtidos”, 2) o que os outros postaram e 3) quais os resultados nos quizzes (muito, muito importante). Mas, em termos de cyberstalking, nenhuma rede social se compara com o Twitter. Vamos lá, os perseguidos fazer todo o trabalho por você! Você os “segue”, e eles próprios atualizam com o que estão fazendo. A única coisa é que você perde no Twitter são os @replies para as pessoas que você não segue em comum. Tirando isso, é uma espécie muito perturbadora de auto-perseguição que não me agrada muito. Por isso não uso como método válido de stalking. Odeio seguir pessoas que usam o Twitter como diário. É nessas que a gente percebe o quanto nossas vidas são entediantes: sono, fome, trânsito, fome, sono. O mais engraçado são os post de “estou estudando”. Jura? Ou você está mentindo para você mesmo, pois obviamente não está estudando, mas twitando; ou você está tentando intimidar seus colegas através da impressão de que você está estudando e eles que estão vagabundeando no Twitter. Minha vasta experiência com cyberstalking me permitiu concluir que, conforme a infame comunidade: “no orkut, todo mundo é rico, bonito, inteligente e popular”. É uma questão de etiqueta cibernética. Acho que vou voltar para as escutas telefônicas... 1. Stalking: expressão da língua inglesa que pode ser livremente traduzida como “assédio obsessivo”

Postado por Ana Inevg às 02:34 em 18/03/2011



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