Apoio:
A edição 97 da Gazeta Vargas chega, neste primeiro semestre de 2018, atenta a tudo o que coloca-se entre e ao redor dos alunos, professores e funcionários da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Em ano de Eleições Gerais no Brasil e de Copa do Mundo, a entidade busca, leitor, mirar a dinâmica da FGV e ir além dela, como é de seu missão institucional de representar e ser o canal de diálogo e debate entre as gvnianas e os gvnianos de todas as formas que dispuser. A revista em suas mãos é resultado de um semestre inteiro cheio de prazos, dedicação e vontade de entregar, no final de tudo, o melhor. É com esse trabalho que a Gazeta renova-se em cada novo ciclo que inicia, enquanto acompanha alunos e alunas, professores e funcionários da Fundação. Posso escrever, agora como editor-chefe, que estou imensamente agradecido e orgulhoso pelo empenho dessa Equipe ao longo dos últimos meses. Posso escrever, agora, em nome de toda equipe, que, mais uma vez, entregamos nosso trabalho para você com a maior alegria e sentimento de dever cumprido. No próximo semestre, é mais um ciclo que se inicia e que a Gazeta aguarda para crescer ainda mais.
Pedro Forbes de Queiroz Ferreira Editor-chefe
EXPEDIENTE
Diretor-Presidente:
Diretora-Administrativa:
Editor-Chefe:
Felipe Bandeira de Mello
Luiza Mendonรงa
Pedro Forbes de Queiroz Ferreira
Institucional:
Giovana Cavalca
Giulia Cebrian
Arte (capa e encarte):
Alice Rodrigues 6
Giuliana Paro
Gazeta Vargas • Edição 97• Junho de 2018
Redação:
Camila Merino
Fernanda Sabino
Laura Mastroianni Kirsztajn
Carolina Zweig
Gabriel dos Anjos
Mariana Leite
Dominique Mattos
Gabriel Freitas
Victor Coutinho
Tiragem: 200 cópias • Design gráfico: Laura Klink Ilustrações Internas: Tamara Klink• Contato: gazetavargasfgv@gmail.com Direitos reservados: a Gazeta Vargas não autoriza reprodução de parte ou de todo do conteúdo desta publicação.
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Reprodução: Bob Stolen
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Gazeta Vargas • Edição 97• Junho de 2018
SOBRE QUEM VEM DE FORA Camila Merino e Pedro Forbes.
“Eu acho que meus sonhos se tornarão realidade aqui, se Deus quiser, contanto que busquemos nossos sonhos, nosso futuro e nossa felicidade”. É assim que responde Ahmad Hasan, sírio de Aleppo e costureiro, quando perguntado a respeito das esperanças que guarda para realizar em sua nova casa: a cidade de São Paulo. Tais esperanças nem são tão elaboradas ou muito difíceis de imaginar: uma vida boa, feliz e segura para sua família e algum emprego em uma lavanderia ou alfaiate para ele e o amigo com o qual manteve uma parceria de doze anos de trabalho na Síria. Ahmad, seu amigo e sua família são, como tantos outros, sírios e sírias que abandonaram suas casas, seus empregos, suas escolas, seus parentes e seus planos de vida para tentar a sorte em qualquer outro país que não estivesse sendo destruído por uma guerra tão cruel, assassina e, até agora, sem qualquer perspectiva de desfecho.
Muito se fala, atualmente, sobre esse grupo cada vez mais crescente da população mundial: o dos refugiados. De acordo com o ACNUR - Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados - qualquer pessoa que tenha escapado por razões de perseguição, conflito armado ou catástrofes naturais e humanitárias, como definido no art. 1º, seção A da Convenção da ONU relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951. Está claro que o tema dos refugiados nunca foi, realmente, novo: durante o século passado, milhões de pessoas deslocaram-se de seus países de origem em razão das múltiplas guerras contabilizadas durante o período, regimes totalitários e persecutórios à opiniões políticas divergentes e situações de calamidade pública e sintomáticas. Atualmente, contudo, esse número nunca foi tão assustador: são 65,4 milhões de pessoas fugidas de suas casas para a tentativa de reconstrução de suas vidas em países estrangeiros, segundo o último relatório divulgado pela ONU, no ano passado. Estima-se que a metade desse todo seja de crianças. 9
Reprodução: Massimo Sestini
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Nos últimos anos, a grande maioria dos novos refugiados no mundo são de nacionalidade síria, como Ahmad, fugidos da Guerra Civil no país entre forças opositoras ao governo de Bashar Al-Assad, o Exército sírio e grupos jihadistas com células espalhadas pelo território sírio, como o Estado Islâmico. Ao redor do globo, existem ainda diversos focos de emigração de massas refugiadas de situações calamitosas e alarmantes: o Haiti, após o terremoto devastador em 2010 com epicentro nas cercanias de Porto Príncipe; o Iraque e o Iêmen, com os conflitos internos ocorridos nos dois países em decorrência da atuação de grupos jihadistas e levantes insurgentes ao poder estatal, respectivamente; países africanos como República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Burundi, Sudão do Sul, Serra Leoa, Somália, Líbia, Mali, Costa do Marfim e o norte da Nigéria; as regiões demarcadas como palestinas; a Cisjordânia; o Paquistão e o Mianmar, com conflitos étnicos; e a Venezuela, diante do colapso da estrutura estatal e da economia do país. Em 84% das situações, os fugidos desses focos de êxodo buscam refúgio em países em desenvolvimento, o que representa um desafio para as autoridades desses Estados em promover a integração desse fluxo de recém-chegados à sociedade organizada. Nesse contexto, a crise dos refugiados assume proporções ainda mais gravosas, como ressaltou o então Alto Comissário da ONU para Refugiados e atual Secretário Geral da Organização, António Guterres, no livro Suportando o Exílio: “O problema de situações prolongadas com refugiados atingiu proporções enormes. De acordo com recentes estatísticas do ACNUR, cerca de seis milhões de pessoas (excluindo o caso especial de mais de quatro milhões de refugiados palestinos) estão agora vivendo no exílio por cinco anos ou mais. Mais de 30 situações [do tipo] ocorrem em todo o mundo, a grande maioria delas em países da Ásia e da África, que estão se esforçando para atender às necessidades de seus próprios cidadãos.”
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Reprodução: Caritas Europa
Diante dessa emergência mundial, o Brasil de pronto inseriu-se no contexto da crise dos refugiados como país capaz de receber pessoas dos mais diversos cantos do mundo. Reconhecido pela pluralidade étnica e cultural, já era esperado que nossa pátria fosse um dos berços no acolhimento caloroso desses imigrantes; uma vez que assim já foi considerada pelo próprio ACNUR como pioneira na causa, sendo a Convenção de 1951 ratificada pelo Brasil antes dos vizinhos do Cone Sul. Dispositivos legais que vão além dos documentos emitidos pela Organização das Nações Unidas são fundamentais para compreender o posicionamento do país à frente dessa situação: a “Lei da Migração”, promulgada em 2017, é um reflexo evidente da preocupação legal para com os a ela subordinados, regularizando a entrada e permanência e estendendo - ou pelo menos tentando estender - direitos fundamentais como os de liberdade e dignidade previstos pela Constituição Federal aos migrantes, emigrantes e apátridas. Ademais, organizações como a Cáritas Brasileira e Portas Abertas são exemplos de um suporte mais prático que o promovido pela legislação. Como pontuado por Amanda Areias , designer gráfica envolvida com o Instituto Adus e responsável por lecionar a língua portuguesa para um grupo de refugiados, ao ser questionada sobre a atenção que o Poder Público dá acerca dessa questão supracitada, 12
“o Estado falha na integração dessas pessoas na sociedade”. Dessa forma, faz-se essencial que instituições independentes colaborem com a inserção social e integração dos imigrantes, o que corrobora para expandir o leque de oportunidades que a eles deve ser garantido como é, em tese, aos cidadãos brasileiros. Entretanto, nem tudo são flores. Apesar da assistência dessas entidades e da tentativa do Poder Legislativo de resgatar direitos fundamentais aos refugiados, ainda há um longo percurso a ser traçado: as poucas instituições não conseguem alocar todos, demandando que o Estado colabore no suprimento de tal demanda. O alto preço da moradia atrelado ao elevado custo de vida em uma das maiores capitais do país submete-os a situações de vulnerabilidade, o que envolve a submissão deles a condições péssimas de trabalho, além do fato de que a necessidade de uma graduação para conseguir exercer um emprego bem remunerado é inerente ao mercado de trabalho, prejudicando aqueles que não possuem consigo toda a documentação essencial. Existem, porém, diversas críticas pertinentes à Lei da Migração que não podem ser desconsideradas diante do contexto pré-estabelecido. A despeito da intenção do compilado de leis, o decreto é deficitário e contraditório, em algumas partes, às
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questões previamente postas pelo regulamento do ACNUR. A alusão ao imigrante como “clandestino” e a competência dada ao Ministério do Trabalho como órgão responsável pelo deferimento de vistos temporários são provas vivas de que um decreto que deveria facilitar a entrada de refugiados pode, na verdade, dificultá-la, se não houver detalhamento de como essas medidas serão realizadas na prática, com a eficiência e atenção que merecem. Isso só demonstra que a regulamentação e inserção social dessas pessoas terá de vencer, ainda, inúmeros obstáculos. Para mais e diretamente associado ao teor preconceituoso previamente exposto, Amanda pontua que a imagem do imigrante ainda é ligada ao perigo. Tal visão deturpada que correlaciona o “novo” e o que vem “de fora” ao conceito de “estranho” pode ser uma alusão histórica ao pensamento que via os estrangeiros como “bárbaros” na Idade Média: a diferença, contudo, é que não cabe na sociedade contemporânea fomentar um racismo irracional e não fundamentado. A xenofobia no Brasil infelizmente continua sendo fator limitante e impeditivo para muitos dos que aqui adentram. Do espaço privado ao público, dizeres e atitudes repugnantes fazem com que o povo que vem em busca de uma melhoria de vida sofra com linhas de raciocínios pífias e retrógradas, sentindo na pele um ódio gratuíto, como o ocorrido em meados do
ano passado com Mohamed Ali, refugiado sírio que foi agredido verbalmente por gritos que o mandavam deixar o país. Porém, há também bons exemplos de recepção por aqui. Ahmad, que teve aulas de português no Instituto Adus, relata que tem sido muito bem recebido desde que chegou ao Brasil, em 2016, e que gosta bastante do país e de sua gente: “para nós, como refugiados, é possível que o sorriso que os brasileiros enfrentam seja em si uma ajuda. Acredite em mim!”. É preciso que os demais estrangeiros que aqui chegam sejam tão bem recebidos quanto Ahmad, sendo todos integrados a nossa sociedade de uma forma saudável e que torne as imagens de um passado ruim apenas, realmente, imagens. Amanda salienta que os refugiados não precisam de pena ou dó, mas de oportunidades: essa é mais uma tarefa que o Brasil precisará responder a altura para os tempos atuais e futuros.
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O OUTRO LADO DA BELA VISTA Laura Mastroianni Kirsztajn
O que é a Bela Vista pra você? Um nome chique pra “Bixiga”? O local onde fica a Fundação? Um lugar para encontrar seus amigos? Ou aquela região que você visita para retirar os certificados que falta validar? Muitos de nós só conhecemos uma versão parcial da Bela Vista: uma que é ou gira em torno da nossa faculdade e, por isso, fechamos os olhos para uma perspectiva mais completa do local em que estudamos e visitamos cinco dias por semana. Nossas salas de aula, o fumódromo e a calçada da GV passam a impressão de serem o mundo ou, pelo menos, o começo dele. Depois disso, subimos e chegamos na Paulista - outro mundo bem parecido com esse da GV. A verdade é que, bem ao nosso lado, tem muita coisa acontecendo. Em meio aos trabalhos, à nossa realidade - a de uma faculdade frequentada majoritariamente por pessoas da elite paulistana -, à falta de tempo e ao curto caminho que fazemos externamente às salas de aula, passa verdadeiramente despercebida a vida que existe fora desse mundinho. 14
Parece que as paredes dos prédios da GV não abafam só o som do trânsito lá fora. Abafam toda uma situação social gritante. Nós discutimos em aula a desigualdade em termos acadêmicos enquanto ao nosso lado a manifestação concreta daquilo está acontecendo. Muitos carregam um orgulho imenso no fato de estudarem na GV. Isso não é problema. Mas, quando vemos na Fundação um meio para formar potenciais grandes juristas, administradores e economistas, nós olhamos para quem? A quem servirá toda essa grandeza, experiência e habilidade? Passamos no vestibular e a nossa realidade transforma-se numa frequente presença na Bela Vista. É aqui que aprendemos, crescemos, desenvolvemos e criamos. Tiramos tanta coisa daqui. Nesse microcosmo de São Paulo, pesquisas e análises nascem. Somos os acadêmicos da 9 de Julho, porque é aqui onde permanecemos fisicamente até nos formarmos.
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Não ouso dizer que devemos algo à Bela Vista. Acho que isso seria um exagero, apenas devido ao som soar rude e, já que, de fato - algo, todos nós devemos. O que pretendo apontar é a grande hipocrisia que vivemos cotidianamente. Queremos mudar o mundo? Pois antes, ao menos, deveríamos começar logo depois de passar pela porta da GV. Os problemas da população local urgem, gritam, e é inadmissível que vivamos nestes artificialismo e plasticidade em nosso contato com eles. Na Bela Vista, parece que temos os alunos da GV e o povo da comunidade. Grupos distintos e que só se misturam nas calçadas e ruas e, às vezes, nos comércios. O nosso contato não pode mais ser artificial. Não pode terminar na formatura. Talvez nem todos tenham uma visão idealizada da finalidade da sua formação acadêmica, mas eis a minha: o que eu posso fazer que não mantenha a inércia, que não perpetue o silêncio? O que posso fazer que vai significar, além de mim, da minha família e dos meus amigos? Como que, eu, sendo um simples humano, posso ultrapassar as supostas limitações que ser esse mero indivíduo indivíduo me traz? Se estou aqui, se eu sou capaz, por que eu não faço nada? Por que aprendo? Para quem eu aprendo? Quem precisa de mim? Diante de todos esses questionamentos, fiquei me perguntando qual seria o segundo passo que poderia ser feito nessa reflexão. Pensei que um dos diversos déficits que possuímos é o de informação. Não sabemos porque não vemos. Agora, e se soubermos, será que veremos? Não sei. Mesmo assim, custo em tentar fazer você querer ver. O Outro Lado da Bela Vista está logo aqui, continue lendo. Para isso, foram entrevistados dois membros da Área Social do Centro Acadêmico do Direito da GV, a Julia Garcia e o Matias Falcone, que forneceram todas as informações que aqui eu transmito. Não obstante, eles trouxeram ótimas críticas de algo com o que tomaram contato. 15
O Outro Lado da Bela Vista é, dentro muitas outras coisas, o que se segue: As Creches Na Rua Itapeva, 66, temos o CEI BELA VISTA. Trata-se de uma creche conveniada que existe há mais de 40 anos, com os mesmos funcionários há décadas. Ao redor dela que a comunidade local se desenvolveu. O destaque é a conexão da família com o que ocorre na creche, gerando uma positiva relação entre pais, alunos e professores. O problema é que, neste ano, por determinação da Prefeitura, o CEI foi fechado. Parte da motivação foi alguns problemas na entidade mantenedora, mas o essencial foi a exigência da Prefeitura de um mínimo de 70 crianças por creche conveniada, sendo que na CEI BELA VISTA havia apenas 50. Por isso, o convênio foi encerrado, de modo que um cálculo meramente financeiro fosse colocado acima de um juízo humanitário e central na identidade e desenvolvimento da população local. Trata-se de um imenso investimento humano que vinha sendo desenvolvido há mais de 40 anos bloqueado em nome de uma burocracia que termina por impedir uma identificação transparente do raciocínio que a motiva. Com isso foi rompido um processo de desenvolvimento das crianças que já estavam no curso, afastando-as de seus amigos, pessoas conhecidas e professores, com quem já desenvolveram laços. Ademais, tais crianças foram realocadas ou privadas de uma vaga em outras creches já lotadas.
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Em 2017 o Conexão Social considerou fazer projetos continuados pela CEI, uma vez que é ao lado da GV e teria uma boa adesão dos alunos. Havia também planos de fazer o mesmo em 2018, porém o foco, no momento, é resolver a presente situação que conta com muita imprevisibilidade e insegurança. Outro local que cabe a nós estudantes da GV olharmos é o Centro Educacional Dom Orione, na Rua Doutor Luís Barreto, 319. O Trote Solidário de 2018 foi realizado nessa escola e a intenção é dar continuidade a esse projeto. Ademais, existe o Serviço de Assistência Social à Família (SASF), localizado na Rua Treze de Maio, 361, onde o PRO BONO realiza mutirões jurídicos com frequência.
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População em Situação de Rua Durante a gestão Dória, as pessoas em situação de rua que ficavam na calçada da Praça Quatorze Bis foram realocadas para debaixo do viaduto, escondidas por tapumes colocados pela Prefeitura. Eram 50 pessoas que, juntas, montaram barracos de madeira e desenvolveram uma comunidade com regras e organização próprias.
Hoje em dia, há poucas aglomerações numerosas de pessoas em situação de rua na Bela Vista. Aquelas que existem são grupos pequenos que migram com frequência, dificilmente permanecendo no mesmo lugar. Isso dificulta ações continuadas para auxiliálos, por isso, vem-se tentando fazer o possível por meio das doações e arrecadações.
Foi nesse local que alunos do Direito entregaram doações resultantes de um dos projetos de coleta na GV. Naquela ocasião, também conversaram com a população, elaborando uma lista de demandas jurídicas.
Com a chegada do inverno, o Conexão Social e o CA pretendem realizar uma campanha de doação de agasalhos, especialmente envolvendo os prédios da Rua Rocha. A região central, que inclui a Avenida Paulista e a Bela Vista, teve casos de pessoas em situação de rua que morreram em virtude do frio. A meta aqui não é apenas ajudar, mas também trazer atenção a esse grande problema.
Fruto desse contato surgiu uma parceria entre CA e Conexão Social para o projeto “Não Te Vi Na GV”, que visa relatar histórias das pessoas daquela comunidade para conscientizar os alunos e buscar ajuda. Outro projeto era uma parceria com o Instituto PRO BONO para realizar um mutirão jurídico no local. No entanto, pouco antes de ele ser concretizado, a polícia retirou os moradores da Quatorze Bis. Ainda há pouca informação quanto para onde eles foram levados, apenas se sabe que alguns foram para centros de acolhimento.
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Nice Cópias
Centros de Acolhida a Pessoas em Situação de Rua: Tendo em vista o projeto de doação de roupas de frio para o inverno, Julia e Matias me informaram dos principais pontos para os quais eles vão arrecadar. Os centros de acolhida mais próximos são os seguintes: Casa Brigadeiro (mulheres) Avenida Brigadeiro Luis 1645/1647 - Bela Vista
Antônio,
Um local que chama sim atenção dos alunos do Direito é a Nice Cópias, gráfica na qual grande parte dos alunos imprime seus trabalhos e leituras para as aulas. É um dos poucos pontos nos quais há de fato um contato mais próximo com uma população que não se restringe às pessoas da GV. Um “sistema” que vinha sendo convencionado entre a Nice Cópias e os alunos da GV era deixar que aqueles que não pudessem pagar naquele momento colocassem o valor da dívida e o nome em uma comanda. O problema é que muitos continuaram acumulando essa dívida e nunca pagaram-a. Em razão disso, Área Social do CA está auxiliando a dona do local, a Sra. Nice, a realizar a cobrança de dívidas dos alunos inadimplentes da GV. Os prejuízos passam da casa das centenas, e muitos que nem mais estudam na Fundação continuam devendo.
Tel.: 3251-0402 / 3262-0765
Espaço de Convivência Bela Vista Rua Santo Antônio, 800/820 Tel.: 3129-8551
Lygia Jardim Rua São Domingos, 39/51 - Bela Vista Tel: 3242-7601 / 3106-0737 / 31010659
Centro de Acolhida Imigrantes Bela Vista Rua Japurá, 234 - Bela Vista Tel: 3112-0074
Centro de Acolhida Cambuci Rua Vicente de Carvalho, 80 - Bela Vista Tel: 3289-2755
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Objetivos Julia e Matias disseram que o objetivo da gestão atual é aumentar a consciência social dos alunos, principalmente sobre o que está ao redor deles, que é a Bela Vista. Almeja-se que os alunos reconheçam a existência de realidades sociais muito diferentes da deles, possam impacta-las de alguma forma e construam-se assim como pessoas responsáveis. Outro objetivo é estimular a consolidação da cultura da doação na EDESP. A doação é capaz de nos indicar a intensidade do sentimento coletivo dentro de uma sociedade ou grupo. Não se restringe ao ato de ajudar alguém que se encontre em situação vulnerável, mas significa também uma possível transformação social. Em 2018, o CA promoveu campanhas de arrecadação para refugiados venezuelanos e as famílias vítimas do incêndio que resultou no desabamento de uma ocupação no centro de São Paulo. O próximo projeto de doação consiste na arrecadação de roupas de frio e cobertores, destinados aos moradores de rua do Bairro da Bela Vista, a partir do contato com as casas de acolhimento.
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CONCURSO DE FOTOGRAFIA 2018 Premiada: Manuela Genovese Pedro
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A Gazeta Vargas resolveu inovar e mostrar um pouquinho quais são as outras habilidades dos nossos alunos. O concurso de fotografia contou com 18 fotos enviadas pelos alunos da Fundação e mais de 220 respostas. A campeã é a aluna do 3º semestre da Direito GV, Manuela Genovese Pedro, que deu seu depoimento sobre a foto: “Você gosta de liberdade? Essa pergunta não poderia ter aparecido em hora tão condizente quanto no momento em que a fotografei. Com 17 anos, no
primeiro semestre da faculdade, tendo acabado de sair de casa, eu sabia que estava experimentando uma sensação nova ao sair por aí conhecendo minha nova cidade e o que existe em torno dela, Tudo tão diferente de onde eu venho. Foi então que me dei conta que essa sensação, na realidade, era mesmo de liberdade. Algo que provoca tantas emoções misturadas, que até hoje não consigo responder à pergunta da foto com apenas um “sim” ou “não”. Mas uma coisa é certa: não viveria mais sem ela”.
Parabéns, Manuela!!!
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A COPA DO MUNDO NÃO ACABA ESSE ANO Laura Mastroianni Kirsztajn
TORCIDA: substantivo feminino A palavra “torcida”, tão comum no linguajar futebolístico, surgiu graças às mulheres que desde os primórdios do esporte estiveram presentes nos estádios de futebol. Elas, diante da intensidade do jogo, torciam suas luvas, e foi pela paixão feminina que nasceu aquilo que torna o nosso futebol tão especial. No entanto, diversas barreiras existiram para que elas saíssem da torcida e entrassem em campo. Por muito tempo a prática de futebol por mulheres foi considerada prejudicial à saúde. O decreto lei n. 3.199/1941, em seu artigo 54, estabelecia: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”. Diante disso, o Conselho Nacional de Desportos (CND) baixava recomendações de ordem médica que desaconselhavam a prática de “esportes de esforços intensos e contatos violentos” às mulheres.
Em 1940, um amistoso entre cariocas e paulistas no Pacaembu causou grande polêmica na imprensa. Seu anúncio incomodou diversos grupos da sociedade, chegando ao ponto de enviarem uma carta ao presidente Getúlio Vargas com os seguintes dizeres: “Refiro-me, Senhor Presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar esse esporte violento sem afetar seriamente, o equilíbrio fisiológico das suas funções orgânicas, devido à natureza que a dispôs a ser mãe. (…) E, neste crescendo, dentro de um ano é provável que, em todo o Brasil, estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol, ou seja: 200 núcleos destroçadores da saúde de 2.200 futuras mães, que, além do mais, ficarão presas de uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes”
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Esporte Clube Radar A ditadura militar tornou expressa a proibição por meio da Deliberação n. 7: “Não é permitida a prática feminina de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo, halterofilismo e beisebol”. Somente em 1981 tal deliberação foi revogada, mas as barreiras para a profissionalização continuavam de pé. A revogação da deliberação de 1941 se deu em 1979, o que foi seguido da criação das primeiras ligas femininas no Brasil. O Esporte Clube Radar, formado em Copacabana, foi a primeira potência do futebol feminino, tendo suas jogadoras formado grande parte das seleções brasileiras que surgiriam. Somente em 1988 foi criada pela CBF a primeira seleção brasileira de futebol feminino, a qual logo venceu um campeonato mundial chamado Women’s Cup of Spain. A primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino foi realizada em 1991 na China. Depois, nas Olimpíadas de 1996 em Atlanta, o futebol feminino foi incluído como modalidade.
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Competições de Futebol Feminino Ainda que muito pouco divulgados, o futebol feminino nacional já teve diversas competições e torneios, tais quais a Taça Brasil de Futebol Feminino, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro (“Brasileirão”), bem como a Taça Libertadores da América, que conta com a participação de clubes brasileiros. Um dos campeonatos mais tradicionais do futebol feminino brasileiro foi a Taça Brasil de Futebol Feminino, realizada de 1983 a 2007, que foi encerrada com a criação da Copa do Brasil. O clube com mais títulos é o Radar, com sete vitórias, seguido de Saad e Vasco da Gama, com três, e Portuguesa, Sul América, Botucatu, São Paulo, Santos, Independente e Santa Isabel, com um título cada um. A Copa do Brasil de Futebol Feminino teve sua primeira edição em 2007, mas em 2017 foi encerrada para que a CBF “focasse” mais no Campeonato Brasileiro, que passaria a ter duas divisões. A sua disputa seguia o sistema “mata-mata”, e o clube vencedor poderia participar da Copa Libertadores. São José e Santos são os clubes com mais títulos, dois, enquanto Foz Cataratas, Ferroviárias, Kindermann, Corinthians/Audax, Duque de Caxias e Saad contam com um título cada. O Campeonato Brasileiro, organizado desde 2013 pela CBF, está atualmente em sua quinta edição. Por meio desse campeonato que se define o representante brasileiro da Copa Libertadores da América. Até hoje os clubes que já conquistaram títulos no Brasileirão Feminino são Rio Preto, Centro Olímpico, Ferroviária, Santos e Flamengo, enquanto São José, Corinthians e Kindermann já obtiveram vice-campeonato.
Notícias recentes mostram que o futebol feminino nacional está há nove meses sem uma competição, o que gera grande ociosidade e perdas no treinamento das atletas. Como já exposto, até 2016 a CBF era responsável por organizar a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro, porém optou por extinguir o primeiro, adicionando uma nova divisão ao Brasileirão - a Série A2 -, o que fez os clubes concentrarem a sua campanha num período muito específico do ano, enquanto passam meses sem qualquer atividade e divulgação. Questiona-se o quão benéfico foi esse corte, ainda mais quando pensamos que, numa realidade totalmente distinta, temos o futebol masculino com esses dois campeonatos nacionais e muitos outros. Aliás, é interessante olhar a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) da CBF de dezembro de 2016 e 2015, o mais recente disponibilizado em seu site, que mostra os custos com a seleção feminina (que é contabilizado juntamente aos das seleções de base) em comparação com a masculina, bem como os custos de contribuição ao fomento do futebol nas competições. Nesses custos com competições, destacam-se os gastos direcionados à Copa do Brasil Feminina ao lado dos gastos com competições masculinas:
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Por fim, temos a Copa Libertadores da América de Futebol Feminino, que ocorre desde 2009, com clubes brasileiros como São José, Santos, Audax e Ferroviária reunindo um total de sete títulos. Os únicos clubes não-tupiniquins a conquistarem títulos foram o ColoColo (Chile) e o Sportivo Limpeño (Paraguai). A maior artilheira de todas as edições é a brasileira Cristiane, que marcou 15 gols em 2009, pelo Santos, e 8 gols em 2012, pelo São José. 26
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Os grandes clubes do futebol masculino 2019: ano de Copa do Mundo são femininos também? Todo fim de Copa (masculina) é a mesma Uma nova regulamentação da Conmebol exige que todos os times participantes das próximas edições da Libertadores e da Copa Sul-Americana (masculinas) tenham equipes femininas ativas. Até o momento, nem metade dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro se adequou a essa determinação que valerá a partir de 2019. Apenas oito grandes clubes do futebol masculino têm representação na categoria adulta do futebol feminino: Atlético Mineiro, Corinthians, Flamengo, Grêmio, Internacional, Sport, Vitória e Santos. O São Paulo tem apenas um elenco sub-16, mas garante que em pouco tempo terá constituído sua equipe principal.
sensação de tristeza e nostalgia dos momentos que marcaram o cotidiano de todos os brasileiros, até daqueles que não gostam do esporte. O que predomina é a ansiedade de esperar mais quatro anos para o próximo Mundial, mas, o que poucos sabem, é que todos esses sentimentos podem voltar rapidinho: a Copa do Mundo de Futebol Feminino ocorre um ano depois! Antes, cabe recapitular para aqueles que nunca acompanharam esse evento: os países que já sediaram a Copa nessas sete edições são China (duas
vezes), Suécia, Estados Unidos (duas vezes seguidas), Alemanha e Canadá. A seleção com mais títulos é a dos Estados Unidos, com 3, seguida da Alemanha, com 2, e a Noruega e o Japão, com 1 cada uma. O Brasil participou de todas a edições, com um vicecampeonato em 2007 e um terceiro lugar em 1999. Atualmente, é a melhor equipe da América do Sul, com o oitavo lugar no ranking da FIFA. A maior artilheira da Copa do Mundo de Futebol Feminino é a Marta, grande símbolo do futebol feminino não só no Brasil como no mundo, com um total de 15 gols. Foi finalista doze vezes do prêmio de Melhor do Mundo da FIFA, saindo vencedora cinco vezes. Atualmente ela defende o Orlando Pride, dos EUA.
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CALENDĂ RIO COPA DO MUNDO 2019
ABERTURA
OITAVAS DE FINAL
Parc des Princes - Paris
07/06/19
Valenciennes
22/06/19
Le Havre
23/06/19
Reims
24/06/19
Paris
25/06/19
Rennes Grenoble Nice Montpellier
QUARTAS DE FINAL
Valenciennes
27/06/19
Le Havre
28/06/19
Paris
29/06/19
Rennes
SEMIFINAIS
Lyon
02/07/19 03/07/19
FINAIS
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Lyon
07/07/19
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A seleção conta também com outra jogadora muito marcante, a Formiga (Paris Saint- Germain, França), que é a pessoa que mais defendeu a seleção brasileira, seja masculina, seja feminina, em toda a história: jogou mais de 151 partidas em 22 anos de seleção, disputando 6 Copas! Depois de ter se aposentado da seleção em virtude da súbita demissão da primeira técnica mulher da equipe feminina, Cristiane (Changchun FC, China) retornou a pedidos do atual técnico Vadão, permitindo que fosse formada novamente para a Copa América de 2018 a grande parceria CristianeMarta que tantas vitórias já deu para o Brasil.
Das convocadas para a Copa América, jogam no Brasil a goleira Bárbara, do Kindermann, a goleira Letícia Izidoro e a atacante Millene Karine, do Corinthians, a atacante Raquel, do Ferroviária, e a goleira Aline, que faz parte da equipe formada pela CBF. No dia 19 de abril deste ano, a seleção brasileira venceu a Argentina por 3 x 0 na Copa América de Futebol Feminino, realizada no Chile, o que garantiu sua vaga para a Copa do Mundo de 2019, cujo país sede será a França. No domingo, 22 de abril, a seleção conquistou seu heptacampeonato na competição, com 100% de aproveitamento: 7 jogos, 7 vitórias, 31 gols e 2 gols sofridos. A única edição que o Brasil não venceu foi a de 2006, na qual a Argentina foi campeã. Essa vitória também conquistou a vaga para as Olimpíadas de Tóquio de 2020. Os direitos de transmissão da Copa de 2019 foram comprados pela SporTV, ou seja, para aqueles que tiverem interesse em acompanhar o evento de maior magnitude do futebol feminino, só mesmo através de um canal de televisão por assinatura.
O brasileiro ama futebol, ou só o futebol masculino? Diante de todos os desafios já enfrentados pelas mulheres no futebol, o grande obstáculo que ainda se coloca é a falta de apoio financeiro dos clubes, da CBF e da pouca presença de torcedores nos principais campeonatos por elas disputados, isso sem contar a falta de divulgação na mídia e de transmissão em TV aberta. O brasileiro sempre afirmou com orgulho que é o país do futebol, e que é esse o seu amor, mas todo esse carinho parece ter sido reservado apenas à face masculina desse esporte. Enquanto ser jogador significa ascensão social para aqueles que atingem os principais clubes, em virtude da profissionalização, o futebol feminino nacional ainda é amador e boa parte de suas praticantes não podem se dedicar exclusivamente ao esporte para garantir seu sustento. Quando não se pode migrar para jogar em clubes no exterior, como é o caso das jogadoras brasileiras mais bem remuneradas, enxergar no futebol uma profissão é um sonho distante. Um dos primeiros passos para mudar essa realidade é lembrar que 2019 também é ano de Copa, e torcer para elas com a mesma paixão de 2018.
E a GV? Não é só de seleções e clubes que se faz o futebol. Esse esporte faz parte da infância, adolescência e vida universitária de muitos, e justamente por isso que, quando buscamos entender o futebol feminino e os desafios por ele enfrentados, devemos olhar para a nossa própria situação. Tendo em vista esse fator, reuni depoimentos de 14 integrantes e ex-integrantes da equipe de futebol feminino da FGV para que possamos entender o nosso lado nessa construção do esporte.
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Grande parte das jogadoras começou a jogar futebol logo na infância, dos 3 aos 11 anos. A principal influência foram os pais, irmãos, primos, vizinhos e amigos que jogavam e gostavam de futebol, mas a escola e os clubes também serviram de incentivo para que muitas delas se interessassem pelo esporte. Além disso, figuras femininas que já praticavam futebol há mais tempo serviram de inspiração:
“Comecei a jogar futebol no clube quando tinha em era ‘coisa de menino’. Os meninos tinham 5 quadras, torno de 10 ou 11 anos. Fui motivada em grande parte enquanto as meninas tinham 1, e olhe lá. Eles jogavam pela minha melhor amiga da época, que nasceu com de tudo, nós ficávamos sempre na queimada ou vôlei uma bola no pé e jogava pra caramba e acabou me (e handball, às vezes). Outro episódio que me marcou arrastando. Também fui motivada pelo sonho de virar foi quando fui no parque com um amigo e pedimos goleira e ganhar as antigas luvas do meu pai. No final, para jogar numa quadra cheia de moleques de uns 12 passo longe do gol e as luvas ele anos pra baixo. Eles riram falando deu pro meu irmão, mas acabei que eu seria "café com leite" e me apaixonando pelo futebol “Eu nunca vou esquecer não precisaria seguir todas as - de salão, society e campo - e regras do jogo (eles não falaram quando minha professora nada pro meu amigo). No final, valeu (muito) a pena!” de educação física ficou não apenas cumpri as regras A maioria relatou ter sofrido como ganhei de todos eles, só brava porque eu sugeri preconceito por ser mulher raiva. A melhor sensação foi que as meninas jogassem de e praticar futebol. Isso é ouvir: ‘é, ela joga bem mesmo, evidenciado desde a infância futebol na aula e ela disse não é café com leite’.” até atualmente, na GV, como que era ‘coisa de menino’. foi exposto especialmente nos “Já me envolvi em DIVERSAS relatos destas duas jogadoras: brigas por conta do futebol. Na escola, os meninos só me deixavam jogar no dia em “Eu nunca vou esquecer quando minha professora que a quadra era da nossa sala se eu passasse antes de educação física ficou brava porque eu sugeri que na cantina pra comprar o lanche deles. Mesmo assim, as meninas jogassem futebol na aula e ela disse que quando fazia o ‘exigido’, chegava lá e era diminuída 30
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e muitas vezes humilhada, além de me sentir mega Uma ex-aluna da GV e veterana do futebol feminino desconfortável por ser a única menina jogando. As da Fundação, Marina Albuquerque, comenta a brigas continuaram no time do condomínio onde evolução do futebol feminino dentro e fora da nossa morava, quando, ainda a única menina a treinar, o faculdade: técnico não me colocava nos jogos e, se colocava, o “Felizmente, o futebol feminino vem ganhando outro time fazia questão de menosprezar e provocar. maior visibilidade na Fundação desde 2013.2, quando As brigas continuaram ainda na faculdade onde, entrei. Essa mudança aconteceu principalmente no mesmo que em menor medida, muito tive que ouvir sobre ‘mas ELAS vão jogar com A GENTE no final de 2014, quando o time conquistou 3 títulos campeonato?’ ou ‘a gente promete que pega leve importantes (Vice Série B NDU, Campeãs InterU e Vice InterU Madness). Contudo, essa visibilidade veio junto com vocês’, muitas vezes, ainda, dos que eu considerava “Mas ELAS vão com a ascensão do Futfem, o que não deveria ser uma condição necessária para o apoio. bons amigos. Na verdade, jogar com A GENTE Inclusive, acredito que a torcida como um todo acho que o pior não é nem o no campeonato?” tem um poder imensurável de motivar um time, que escutamos, na maioria tanto na hora do jogo como durante todo o das vezes: é não ser escutada. Porque por algum motivo - que nunca vai ser o fato de processo de preparação. A visibilidade não deve ser você ser mulher, claro - sua opinião sobre futebol não dada apenas nos momentos de glória, e sim levar vai ser tão valorizada, tão relevante, tão conhecedora qualquer time que seja até esses momentos. quanto a do amiguinho. Você sempre vai pontuar O mesmo pode ser dito a respeito da seleção mais no Cartola por sorte. Na mesa com os amigos brasileira feminina, que acabou de ser campeã do seu pai falando sobre as Copas do Mundo, não pela sétima vez da Copa América, contudo, apenas vão nem olhar na tua cara até que você vomite um o resultado final é divulgado. A seleção brasileira número suficiente de dados futebolísticos, nomes de feminina é um dos melhores times do mundo e jogadores e cite jogadas históricas e marcantes para menos divulgados. Hoje em dia, a melhor forma de provar que, apesar de mulher, acompanha o futebol. se acompanhar é através do Instagram, páginas Acho que vão sempre olhar pro nosso meião e nossa voltadas 100% para o futebol feminino ou pelo perfil chuteira e perguntar: ‘tão indo jogar vôlei?’. Acho que das próprias atletas. No caso da Copa América, era vamos sempre ouvir ‘até que ela joga bem... pra uma possível assistir aos jogos apenas pela página chilena menina’ quando formos jogar com os coleguinhas. no Facebook (apenas a final foi na página da CBF, e Mas vamos continuar vestindo o meião e a chuteira e ainda assim com imagens fornecidas pela França). vamos continuar jogando.” 31
Na GV, ter atletas como a Renata Melo e Giulia Romero "bastaram" para dar destaque à modalidade, pois elas se sobressaem no nível universitário. Mas na seleção brasileira, nomes como Marta, Formiga, Cristiane e Rosana parecem não ser suficientes para dar um aporte financeiro e uma visibilidade um pouco maior, mas ainda nem perto do que elas merecem!” Questionadas quanto à existência de alguma disparidade com o futebol masculino da FGV, pouco foi identificado além de uma menor presença da torcida nos jogos e o fato de haver apenas uma modalidade no futebol feminino - o futsal - enquanto o masculino tem duas modalidades, contando com futebol de campo. No entanto, acredita-se que a inexistência de uma segunda modalidade se deve à falta de quórum para a formação de um time. As principais conquistas alcançadas pelas mais recentes equipes do futfem da FGV são o ouro no NDU Série A, um dos mais importantes campeonatos universitários, no primeiro semestre de 2017; o vicecampeonato no NDU Série A, no segundo semestre de 2016; o primeiro lugar do InterU, em 2014; o vicecampeonato do Inter-U Madness, em 2014; e o vicecampeonato do Economíadas. Conforme exposto por uma das jogadoras: 32
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“A nossa maior conquista dentro de quadra foi a conquista do ouro do campeonato NDU Série A no primeiro semestre de 2017. Já em relação ao esporte em geral, acredito que crescemos muito como time, já passamos por épocas em que tínhamos apenas 7/8 meninas treinando. Apesar disso, nunca desistimos, o que nos coloca onde estamos hoje, com um time em formação, mas com bastante gente nova e com garra pra jogar.”
Por fim, o fato de fazer parte da equipe de futebol trouxe vários ganhos que vão além dos campeonatos e do aperfeiçoamento das habilidades técnicas, como destaca a aluna de Administração Pública, Sofia Schapira: “Fazer parte do futebol feminino da FGV foi com certeza minha melhor escolha dentro da faculdade! Fiz grandes amigas e vivi momentos que eu vou guardar para minha vida toda! Com certeza eu cresci e aprendi muito nesses últimos anos, principalmente no que diz respeito a trabalhar em grupo, comprometimento e em me preparar para atingir objetivos.” Ainda sem um calendário definido,, os jogos do segundo semestre do NDU estarão disponíveis no site https://www.ndu.net.br/ , com as datas, o local e as atléticas envolvidas. Não perca de vista o talento das nossas jogadoras! Como dito logo no início desse texto, a torcida é um elemento essencial do nosso futebol, é através do público que podemos concretizar alguma mudança na realidade das jogadores da FGV e, indo além disso, do Brasil como um todo. A dedicação e o talento elas já têm, agora só falta o apoio e o respeito.
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O QUE SIGNIFICA SER DONO DO PRÓPRIO CORPO? Gabriel Freitas Alves dos Santos
Debates como o do aborto, o da regulamentação da prostituição e o da barriga de aluguel têm um ponto em comum. Curiosamente, este ponto de encontro é raramente levantado nos debates sobre esses temas. Aliás, vocês já pararam para pensar em qual seria o ponto central desses debates? Talvez o direito ao próprio corpo? Ou será a capacidade de dispor do corpo? Julgo que pode ser uma combinação das duas, mas essa combinação tem um sentido um pouco diferente da simples junção. A meu ver, a centralidade desses debates, o ponto comum entre eles, é a discussão do significado de ser dono do próprio corpo.
portanto, defende que os limites de ter controle sobre o que acontece com seu corpo dependem da vontade do proprietário.
Já adianto que não tenho autoridade e nem conhecimento suficiente para assumir uma posição e oferecer uma resposta satisfatória para a premissa levantada. Entretanto, vou tentar apresentar um debate entre feministas igualmente reconhecidas que defendem lados opostos. São elas Martha Nussbaum e Andrea Dworkin, sendo que esta defende que o corpo não deve ser entendido como uma propriedade (fugindo ao controle do indivíduo), enquanto aquela integra o quadro das ditas feministas liberais e,
- A questão central dos limites do domínio sobre o próprio corpo é a imunidade. Não acredito, portanto, que tenhamos de fato um direito ao próprio corpo, pois afirmar que temos direito a algo implica atribuir um dever a este algo. E qual seria o dever de um direito ao próprio corpo? Poderia se falar no dever de respeitar a vida, mas este não seria o dever do direito à vida? Não vejo um dever óbvio que corresponda a um suposto direito ao próprio corpo.
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Embora não seja tarefa fácil, tentarei simular um debate fictício entre essas duas personalidades para tornar a leitura mais lúdica. Vale dizer que o debate expressa somente as ideias centrais das autoras, sendo que alguns argumentos não foram de fato utilizados por elas. As regras são simples: uma fala inicial, uma réplica (Nussbaum) e uma tréplica (Dworkin). Iniciaremos com Andrea Dworkin:
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Nesse sentido, não acredito que seja adequado o termo “direito ao próprio corpo”. O mais correto seria talvez uma ideia de liberdade e certamente uma de imunidade. Contudo, tratar o corpo como uma liberdade não me parece correto, bem como a classificação “direito”. Quando utilizamos o conceito de liberdade estamos passando uma ideia de ausência de limites, o que não pode e não deve ser verdade. Devem existir limites ao domínio sobre o próprio corpo e isso por duas razões: o corpo é parte integrante da pessoa humana e ele não pode ser tratado como um simples objeto. No que tange ao primeiro ponto, não acredito que possamos entender o corpo como algo que foge à própria pessoa, mas sim como uma parte da personalidade desta. Não há como conceber um ser humano sem corpo, pois este faz parte de nossa espécie. Ele é um elemento distintivo e também o responsável pelo exercício das ditas típicas capacidades humanas. Sem o corpo um ser humano não poderia raciocinar, porque raciocinamos devido ao nosso cérebro e às inúmeras conexões sinápticas que temos. Em igual sentido, não podemos simplesmente não raciocinar, já que nosso corpo funciona como uma unidade, ou seja, ele não exerce separadamente cada uma de suas funções, mas sim as exerce simultaneamente. Portanto, o corpo só pode ser entendido como uma unidade e como parte integrante do que convencionamos chamar de pessoa humana. Visto que sem o corpo uma pessoa não poderia ser uma pessoa, vou passar para o segundo ponto de análise. A sociedade contemporânea tem fortes tradições em suas raízes. Tradições que a meu ver são pouco benéficas para uma concepção verdadeira de justiça. Contudo, como o recorte temático é bem específico, vou analisar apenas uma das tradições, a herança cultural machista. O perigo dessa tradição, já exaustivamente discutido em debates sérios, é justamente uma ideia de objetificação. Nela a mulher é vista como um mero objeto sexual, perdendo sua identidade como uma pessoa humana. O ponto mais curioso é que na maioria dos casos ela nem percebe
que está dando de barato sua personalidade em prol da consolidação de valores totalmente incompatíveis com um senso adequado de justiça. Exemplo disso é a indústria pornográfica, na qual a mulher simplesmente consente com a gravação de uma relação sexual com uma pessoa que ela não conhece em sua intimidade e que será posteriormente comercializada para outras pessoas que escapam mais ainda a seu conhecimento. E tudo isso para que? Para ser ainda mais estigmatizada pela sociedade sendo tratada como uma pessoa pouco virtuosa. Essa indústria só fere a dignidade da mulher, mas o que fazem as pessoas que aderiram a este setor? Defendem a liberdade de disposição do próprio corpo, defendem essa objetificação massiva e isso porque essas mulheres estão sob o domínio de uma tradição que faz com que elas aceitem a ideia de que seu corpo pode ser reduzido à condição de um mero objeto. Mas vejam que tratar um corpo como um mero objeto implica afirmar que a própria pessoa é um objeto, já que, como visto, o corpo é uma parte integrante da pessoa humana. Nesse sentido, não entendo que o corpo deva ser entendido como uma liberdade, pois tal defesa implica tratá-lo como um objeto e, portanto, a pessoa será objetificada. Logo, resta uma vertente de entendimento, a imunidade. Esta é a mais adequada, porque não pressupõe necessariamente o entendimento de que se possa dispor indiscriminadamente de seu corpo, mas sim de que se pode impedir que os outros se utilizem inadvertidamente daquilo que compõe a sua personalidade. Portanto, concluindo, devo dizer que não existe um direito ao próprio corpo, mas sim uma imunidade ao próprio corpo, de modo que ninguém pode interferir no corpo alheio. Vale ressaltar que a disposição indiscriminada do próprio corpo revela uma objetificação da pessoa humana e, por isso, deve ser impedida por constituir uma afronta ao senso de justiça. Fonte: https://academiamedica.com.br/blog/autonomia-dopaciente-em-fim-de-vida
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Passemos agora para a fala de Martha Nussbaum: — Meu entendimento será expresso de maneira um pouco mais concisa. Em primeiro lugar, existem vários tipos de objetificação, alguns certamente ruins e outros que podem ser bons. Portanto, não podemos simplesmente taxar a disposição do próprio corpo como algo ruim. Não devemos nos esquecer de que a possibilidade de dispor de seu próprio corpo é um exercício de vontade da pessoa humana. Existe de fato uma raiz machista tradicionalista que pode se internalizar na sociedade e comandar algumas atitudes, mas não podemos dizer que todas as pessoas são controladas por tal raiz. E, se tirarmos os direitos de pessoas que agem segundo o imperativo da razão de autodeterminarem sua vida estaremos indo de encontro à dignidade da pessoa humana. Devo dizer que também trabalhar a ideia de vontade é trabalhar com a ideia de autonomia, sendo que esta exige limites. Não falo, portanto, na inexistência de limites para a disposição do próprio corpo, mas sim no estabelecimento de parâmetros para impedir um possível caos total. A meu ver, um limite justo seria aquele em que não há um impedimento de fazer, mas que estabelece algumas regras. Por exemplo, se analisarmos o caso da pornografia, podemos falar em um grupo de atrizes que fazem isso por pertencer a uma classe de pessoas consideradas vulneráveis, e, nesse sentido, que não estão necessariamente 36
exercendo a profissão por manifestação da vontade, mas sim por necessidade. Contudo, não é porque uma parcela, ainda que majoritária, está sendo incapaz de agir autonomamente que devemos extinguir o setor. Muito pelo contrário, devemos criar uma maneira de fazer com que as pessoas que estão no ramo estejam lá por quererem estar e não por precisarem estar. Proibir é sempre um problema, pois abre espaço para a marginalidade e, dessa maneira, o prejuízo acabará sendo muito pior. Tomem por exemplo de novo a indústria pornográfica. Ela é um mercado que atualmente vive o estado de economia ultraliberal, porque tem seu campo de atuação estendido pela internet. As atrizes foram transformadas em máquinas capitalistas, as produtoras exercem um rufianismo abusivo, as práticas sexuais se tornaram mais agressivas, as atrizes não ganham a empatia das pessoas. Não é uma situação positiva, é justamente o oposto. Logo, faz sentido começarmos a pensar em maneiras de permitir a prática para não impedir as pessoas de exercerem sua autonomia, mas ao mesmo tempo estabelecermos alguns limites que impeçam o total caos vivenciado pela indústria pornográfica. E assim, independentemente de haver ou não um direito ao próprio corpo, devem existir limites para a disposição do corpo e este é o império da razão. Fonte: http://www.esquerdadiario.com.br/Sobre-o-direito-aocorpo-ao-parto-e-ao-aborto
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Como Dworkin iniciou a fala, a réplica será de Nussbaum: — Na réplica eu vou abordar um pouco mais dos vários tipos de objetificação e tentarei ser mais responsiva. Acima de tudo, devo dizer que não discordo em grande medida de sua colocação Andrea. De fato, o processo de objetificação pode constituir um problema, mas também pode ser a solução para tal. Temos formas expressas de tratar pessoas como objetos —posso citar duas para não me alongar muito, como negar a autonomia e tratar alguém como uma propriedade (ownership). Mas também pode ser algo bom quanto a “o sentir” em uma relação sexual. Tiro essa ideia de D.H. Lawrence, quem a chama de “conhecimento de sangue”, pois a pessoa precisaria abdicar um pouco da razão e apelar à emoção para atingir tal estado. Nesse sentido, é plausível pensar que uma deformação do desejo, não está apenas na hierarquia social, mas sim no puritanismo e na repressão da experiência erótica da mulher. O conceito de objetificação é complexo e exige uma análise das esferas de autonomia, exploração e comodificação. Não podemos, portanto, levantar a bola da objetificação e ignorar a existência de uma interação com outros conceitos. A questão fundamental aqui é o estabelecimento desses limites segundo uma interação entre diferentes conceitos e situações, para que não sejam proibidas práticas que estejam sujeitas à vontade da pessoa humana.
Passemos então para a tréplica de Dworkin: — Bom, prometo ser mais breve em minha tréplica. Não acredito que a questão da herança histórica de uma cultura machista seja irrelevante, mesmo quando analisamos a ideia de manifestação de vontade da pessoa humana. Acredito, com isso, que o conceito de dignidade deva ser entendido como o não tratamento de uma pessoa como um objeto, mas sim como uma pessoa, da mesma forma que tal concepção se insere na ideia de imunidade quanto ao outro interferir em um corpo que não é dele. Logo, a pessoa deve apenas evitar que o outro interfira num corpo que não é dele, mas não podendo dispor indiscriminadamente daquilo que julga ser seu, já que tal ato gera uma subtração de personalidade e, portanto, é uma afronta à dignidade do ser humano. Logo, o limite de ser dono do próprio corpo é poder impedir que alguém trate seu corpo como um objeto, o que não lhe permite tratá-lo também como um.
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Encerrado o debate fictício, devo dizer que, independentemente do convencimento quanto a um lado ser mais forte do que o outro, o mais importante é a reflexão sobre quais são os limites de ser dono do próprio corpo, pois os debates que envolvem o direito ao próprio corpo partem desse pressuposto. O problema está no fato de que pouco se discute o significado de se afirmar como dono do seu próprio corpo e, assim, os debates do aborto, da regulamentação da prostituição e tantos outros ficam travados em um ponto em que não se pode passar apenas por vias de argumentação. Por exemplo: a criança que está para nascer tem seu direito à vida assegurado pelo ordenamento jurídico. Mas a mãe tem o direito de escolher gestar ou não? Como eu posso tirar uma conclusão de que essa afirmação é válida ou não? Acho que a resposta está no fato de dizer o que significa, no limite, ser dono do próprio corpo. Logo, se ser dono do próprio corpo significa poder ter o controle sobre tudo aquilo que está dentro dele, a mãe deve ter o direito a não gestar. Agora, se ser dono do próprio corpo não significa ter o controle total daquilo que está nele, a mãe não deveria ter o direito de não gestar. Percebe-se que a utilização dessa premissa pode facilitar a discussão com um recorte temático mais específico, mesmo porque quando determinamos a premissa de análise já estamos determinando o caminho argumentativo que será tomado. Independentemente da concepção adotada, definir se o aborto deve ser crime ou não, se a regulamentação da prostituição deve ser feita ou não ou até se a barriga de aluguel deve ser permitida ou não, fica mais fácil. Com isso acredito que deva ser desenvolvido neste país um debate mais forte sobre o que significa ser dono do próprio corpo, uma vez que esse debate é ainda muito incipiente no Brasil. Basta notar que os nomes utilizados aqui são de duas renomadas feministas estadunidenses.
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Concluindo, não objetivava com esse texto apresentar uma solução para essa discussão, mas tão somente evidenciar os benefícios que dar um passo para trás e analisar a real questão pode trazer. Não acredito que exista a priori um lado vencedor, mas sim há dois lados com argumentos fortes e igualmente coerentes. Dito isso, encerro deixando o ônus de escolher uma posição com vocês.
* Gostaria de agradecer à professora da Escola de Economia de São Paulo, Lilian Furquim de Campos Andrade por ter me ajudado na definição do tema e por ter indicado bibliografias que foram a base para este texto.
Para se aprofundar um pouco mais neste debate ver: NUSSBAUM, Martha C.. Sex and Social Justice. New York: Oxford University Press, 2000,pgs 213-239. Against the Male Flood: censorship, pornography and equality, A. Dworkin. Harv Women'S Law J 8, 1-25. Spring 1985. (http://heinonline.org/HOL/ LandingPage?handle=hein.journals/ hwlj8&div=5&id=&page=) Pornocracy — documentário dirigido por Eloisa Becht e disponível em Netflix.
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GERALDINOS, ARQUIBALDOS E O FUTEBOL NO BRASIL Pedro Forbes de Queiroz Ferreira
Na cabeça do povo, o Brasil é o país do futebol, goste você ou não do jogo de bola. Apesar do campeonato nacional boicotado anualmente pela Confederação organizadora, dos casos de corrupção entre os cartolas, do futebol por vezes sofrível frente ao brilho endinheirado das ligas estrangeiras transmitidas pela televisão a cabo e da tabela entre Ozil e Khedira naquele fatídico dia, nosso país respira e transpira futebol. É pentacampeão mundial, celeiro de absurdas hordas de craques e terra de gente apaixonada por um ofício que não deixa ninguém mais rico e muitas vezes parece ser até ingrato: torcer. E pode acreditar, leitor, é muito torcedor por aí. É verdade que, Brasil afora, é mais fácil encontrar estádio vazio, às vezes quase até às moscas, que as arquibancadas lotadas e cheias de gente maluca berrando até perder a voz em pleno domingo de sol a pino e picolé a cinco reais. Não adianta, futebol é das massas e para as massas. É o assunto da segunda-feira de manhã, é tema para menino e menina, pobre e rico, criança e velho. Há quem não goste - sabe-se lá como, mas há -, mas não há quem negue: futebol é para todo mundo que se deixa envolver por ele - mas por quê, afinal?
De acordo com o historiador e professor da FGV-SP, Bernardo Buarque de Hollanda, o futebol aproxima-se muito do espetáculo por combinar o prazer da prática esportiva e de assistir a uma partida, relembrando aspectos de festa popular, circo e tradições culturais mais longevas. Nas palavras do professor, “a dinâmica coletiva do torcer – palavra sui generis em língua portuguesa, aliás, diferente de ‘fan’ ou de ‘supporter’, do original inglês – criou um atrativo decisivo, que alavancou a popularidade do futebol, o erguimento de grandes estádios, o crescimento correspondente de interesses econômicos, sociais, políticos e midiáticos em seu entorno”. Já Gustavo Altman, estudante da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e um dos realizadores do documentário “Adeus, Geral”, que aborda o fenômeno da elitização do futebol brasileiro, pontua que o esporte é um meio pelo qual quem se envolve por ele demonstra sentimentos: “como se explicar o fato de torcer por um time que não ganha nada há anos? É um sinal de fidelidade - assim como aguentar as gozações dos rivais e torcer por uma equipe pequena, mesmo sabendo que ela nunca ganhará um título importante”. 39
Desse torcer, nada é mais marcante na realidade do jogo de bola praticado no Brasil que a festa protagonizada pelos geraldinos e arquibaldos. Esses foram os termos usados pelo jornalista Washington Rodrigues para descrever os frequentadores da antiga e mitológica geral do velho Estádio do Maracanã e que, nos dias atuais, parecem ter tomado chá de sumiço. Se é o futebol tão reflexo aos fenômenos e transformações em uma sociedade, é consequência lógica deste raciocínio que no esporte também estará representada a desigualdade social típica e gritante do caso brasileiro. Para Gustavo, há dois aspectos de análise do “muro social” a partir do futebol como objeto: o da renda, com a elitização promovida com mais força desde o ano de 2007, quando houve anúncio do país como sede da última Copa do Mundo e o abandono de um modelo de estádio em favor de modernização de inspiração europeia; e as limitações impostas diretamente às torcidas em si por parte das autoridades. Desse primeiro aspecto, a relação é lógica: diante das reformas e construções de estádios para o Mundial no país, o ingresso encareceu como forma de geração de receita para os clubes que receberam as arenas como legado do megaevento de quatro anos atrás: o pretexto é o conforto destinado às famílias, agora com cadeiras em todos os lugares; restaurantes
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e lanchonetes com cardápios exclusivos; megastores temáticas; e outros elementos que desvirtuaram a imagem do estádio daquela presente na memória coletiva do torcedor comum - este, o mais afetado por essas mudanças, que por mais suntuosas e atrativas que sejam, restringem seu acesso a quem pode pagar pelo bilhete de entrada. “Comum é aquele que não está ligado a nenhuma torcida organizada, mas que junta seus poucos ganhos do mês para conseguir levar sua família ao estádio. Esse é o tipo de torcedor que está sendo afastado dos estádios. A Geral era um dos poucos lugares no Brasil que permitia a essas pessoas a ida ao estádio”, coloca Gustavo. Esse fator excludente surge ainda mais intenso se particularizado à realidade das mulheres torcedoras as geraldinas e arquibaldas do Brasil. “Ser torcedora é passar, constantemente, por testes e provações para reafirmar que você gosta do esporte, que você entende, que acompanha e que não está no estádio para analisar a beleza dos jogadores ou para arranjar um namorado. Além disso, ser uma torcedora de futebol implica em ser assediada no caminho ou dentro de um estádio, ouvir cantadas e propostas absurdas, ser objetificada caso queira ir ao jogo usando um short (mesmo que faça um calor de 40 graus). É ter que resistir diariamente para torcer e acompanhar seu time de coração” - é o que escrevem as responsáveis
A antiga geral do Maracanã
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Fim do jejum corintiano em 1977 - GazetaPress)
pelo blog ~dibradoras, no ar desde 2015, sendo formado por quatro fanáticas pelo jogo de bola: a publicitária Angélica Souza, a designer Nayara Perone e as jornalistas Renata Mendonça e Roberta Cardoso. Segundo as blogueiras, a elitização experimentada pelo futebol nos últimos anos é ainda mais cruel com as mulheres por segregar o público por renda: e, no Brasil, a desigualdade salarial entre os gêneros é pulsante e real, com elas chegando a receber até 38% menos que eles para a mesma função remunerada, conforme aponta pesquisa realizada pela Catho e mencionada pelas entrevistadas. Gustavo é enfático em dizer que modernização não é sinônimo de elitização. A implementação de planos de sócio-torcedor são um bom exemplo de facilitador modernizante e reduzem o preço normal dos ingressos para aqueles que se inscrevem nos programas disponibilizados. Diversos clubes já adotam esse modelo como fonte de renda substancial, como o América Mineiro e o Internacional: “mas isso seguiu à risca a ideia de clientelização do torcedor. O sócio torcedor, como é feito hoje, não passa da formulação de uma relação de consumidor entre os clubes e a torcida. A solução não pode ser essa. Como achar correto a restrição da venda dos ingressos para uma partida de futebol à internet? E quem não consegue acessar, faz como?”.
O professor Bernardo Buarque de Hollanda observa que o advento das novas arenas construídas para a Copa, além das erguidas por Grêmio e Palmeiras, anunciam claramente o novo projeto para o futebol brasileiro: “com o advento da televisão, e com sua onipresença nas transmissões de campeonatos no século XXI, a quantidade de pessoas dentro do estádio torna-se menos importante. Sendo assim, mais vale um estádio privado de pequeno-médio porte, dotado de tecnologia de segurança, de assentos individualizados e de ‘conforto’, do que um estádio público (Pacaembu, Maracanã, Mineirão) de grande porte, com instalações vetustas e ‘multidões perigosas’. Com tal mudança, a relação oferta e demanda, seguida da adoção do plano sóciotorcedor, ocasiona a elevação do preço dos ingressos e, por via de consequência, a elitização do público frequentador”. As dibradoras, por sua vez, enxergam que, cedo ou tarde, os clubes deverão rever a forma como estabelecem os preços se algum dia quiserem lotar seus estádios ou arenas - podendo configurar um modelo misto de distribuição alocativa e que albergue todas as classes sociais para assistir uma partida. As políticas para atrair o público feminino às arquibancadas são, segundo elas, praticamente inexistentes, ou, se algum clube as mantêm, ineficazes: “até hoje, os clubes de futebol não fazem qualquer ação específica pensando no público 41
feminino, a não ser para o dia da mulher. Às vésperas do 8 de março, eles sempre fazem alguma ação, distribuem ingressos de jogos para as mulheres, entregam flores, dão algum desconto ou fazem alguma homenagem. Mas fora desta data, os clubes ainda não têm qualquer estratégia para atrair mais as mulheres. O São Paulo neste ano começou uma iniciativa interessante para dar desconto em táxis para mulheres irem aos jogos com segurança e abriram também grupos de discussão com torcedoras para entender como podem tornar o futebol um ambiente mais inclusivo para elas. Pode ser um começo”. A renda arrecadada com a venda de ingressos não representa para os clubes a fonte mais importante a ser exaurida como acréscimo às receitas totais em verdade, todos os clubes brasileiros dependem exclusivamente das cotas de televisão e dos acordos de patrocínio que celebram. Por vezes, inclusive, o barateamento dos ingressos revelouse mais lucrativo por encher estádios com grandes capacidades, como a experiência do Cruzeiro no início deste ano, em que obteve a renda triplicada ao período equivalente ao do ano passado a partir da redução de preços dos bilhetes.
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E para situar-se na contracorrente da elitização em progresso, o professor Bernardo Buarque de Hollanda afirma que seria preciso fazer oposição ao projeto de quem sustenta o futebol brasileiro financeiramente e deseja alcançar o standard europeu. O estágio de dependência financeira dos clubes é tamanha que qualquer resistência é mínima e em curto período de tempo revertida. Quanto às torcidas em si, é premente tocarmos em um assunto próprio da morfologia sociológica do esporte bretão em nosso país: as chamadas torcidas organizadas - afetadas não apenas pela elitização, mas por ações diretas da autoridade e da mídia perante suas atividades. O diagnóstico das dibradoras é simples. Há uma inexplicada generalização da torcida organizada como promotora de violência e cúmplice do crime não se sustenta: primeiro, porque são essas organizações as que melhor reproduzem as festas nas arquibancadas, devolvendo o futebol às suas essências; segundo, que por mais que as ações das polícias e do Ministério Público ao longo dos anos tenham sido inúmeras, o efeito concreto de redução das brigas foi escasso. Bernardo Buarque de Hollanda concorda, sendo as organizadas caracterizadas, portanto, como casos
Festa tricolor pela conquista da Copa Sulamericana, em 2012
de polícia - e mais especificamente, da Polícia Militar -, estando as ações sempre a reboque de uma tragédia, sem qualquer medida pensada como meio de prevenção antes que elas ocorram. O professor assim pontua: “em suma, determinados momentos, punições são necessárias, mas se não vierem acompanhadas de outras medidas redundarão em fracasso. Essas mesmas medidas, aplicadas no eixo Rio-São Paulo no decênio de 1990, não funcionaram a longo prazo. Não existem receitas, há de se analisar caso a caso. O sociólogo Maurício Murad prescreve três ações graduais: reprimir a curto prazo; prevenir, a médio; e reeducar na longa duração. Há de se ampliar o raio de responsáveis: torcida não pode ser apenas um caso de polícia; federação e clubes também têm suas responsabilidades”. As blogueiras e o professor concordam que a implementação da torcida única nos clássicos locais é uma medida sintomática da própria esteira conservadora ao qual o país se encontra, representando, inclusive, uma espécie de “judicialização” da dinâmica das torcidas, como se observa no campo político brasileiro atualmente - se a polícia é inábil e ineficiente, que se atue pelos devidos canais jurídicos. Apesar de os conflitos entre torcidas reduzirem desde 2011, ano em que proibiu-se duas
torcidas nos dérbis do Estado de São Paulo, essa medida ainda não resolve o conflito entre integrantes da mesma torcida, em uma luta pelo poder interna que é comum a quase todas as organizadas. Bernardo Buarque de Hollanda inclusive ressalta a criação, em 2014, da ANATORG, a Associação Nacional das Torcidas Organizadas, em Belo Horizonte por 76 associações torcedoras de todo o Brasil. A ANATORG pode funcionar como ente representativo das massas organizadas perante as autoridades para que, junto aos clubes e às federações, busquem soluções viáveis para a problemática das organizadas e suas atividades. A dinâmica do futebol, como é possível concluir, é calcada por meandros nem sempre à primeira vista visíveis a quem enxerga o esporte como mero jogo de bola. É muito mais que isso, na verdade. Por ser um meio tão sensível às realidades, é preciso sempre estar atento a como as perspectivas a respeito de nossa sociedade se veem refletidas pelo futebol, talvez o maior símbolo cultural do país - e compreender melhor nossa própria historicidade.
QUIETOS: TIMIDEZ E INTROVERSÃO NA GV Victor Coutinho Ramalho
Um relato pessoal:
“Porque você está bravo, Victor?” Essa era a pergunta padrão que sempre me dirigiam, quando eu era criança, em todo encontro ou festa de família. Ela tinha lá suas variações: às vezes era “triste” em lugar de “bravo”, ou então algum tio persistente tentava uma gracinha para ver se eu me “animava”. Eu nunca entendia o motivo daquelas perguntas e sempre ficava sem graça, porque na verdade acho que eles também não me entendiam: eu não estava bravo, triste ou desanimado, eu só estava quieto. E sempre estive assim, “na minha”, fechado com meus próprios pensamentos, não porque eu arrogantemente desprezasse o contato com as outras pessoas, mas simplesmente porque esse é o meu estado natural, da mesma forma que a natureza de algumas pessoas é estar sempre conversando e interagindo com outros. Eu sou só um daqueles que se volta para o seu interior, ou seja, um introvertido.
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Não que eu também não seja um pouco tímido, eu sou - e se agora você está confuso com os termos, caro leitor ou leitora, não se preocupe, logo à frente teremos uma pausa para definirmos melhor essas duas categorias que, acredite, são diferentes. Por enquanto, podemos definir com alguma segurança que o introvertido é quem “se volta para dentro” e o tímido é quem possui certo grau de medo de ser julgado ou humilhado ao interagir socialmente. Assim, como eu dizia, tenho algo de ambos na minha personalidade e isso é causa de certos problemas numa sociedade que costuma enaltecer os que se relacionam bem socialmente. Esses problemas mencionados são algo de que tomei especial consciência durante a idade escolar, porque via certas coisas diferentes na maior parte das outras crianças. Elas se conheciam muito bem umas às outras, tinham muitos amigos e, o que era assustador, conversavam o tempo todo! Já eu, por outro lado, estava calado a maior parte do tempo, o que obviamente sempre me rendeu pouquíssimos amigos. Sempre me parecia uma diferença absurda que houvesse pessoas se tornando praticamente irmãs em alguns dias enquanto eu levava meses para desenvolver uma amizade. Mais do que isso, esse relativo isolamento social também me rendia, vez ou outra, a aparência de um arrogante que, por supostamente se sentir superior aos seus pares, não interagia com eles, o que era uma ideia equivocada, mas difícil de desmentir.
Portanto, é por ser quem eu sou que considero importante discutir sobre essas pessoas, seus problemas e qualidades, porque geralmente elas preferem não falar de si, ou nem falar nada mesmo. Além disso, não melhora em nada a situação vivermos numa organização social que mal os compreende e se equivoca sobre os traços de suas personalidades. Quando revejo meu passado, não culpo de todo aqueles tios e suas perguntas. É impossível achar más intenções na preocupação deles com aquela criança isolada. No entanto, o fato é que eles estavam despreparados para lidar com essa questão e precisavam entender que o tímido ou o introvertido, enquanto variações no espectro das personalidades, não precisam ser forçados a se igualar às outras pessoas, mas antes devem ser levados a se desenvolver em todas as suas potencialidades do jeito que são e, se de fato suas vidas forem prejudicadas por seus traços de personalidade, então precisam ser ensinados a superá-los apenas na medida do prejuízo causado.
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Um relato profissional Esses comportamentos dizem respeito a nossa personalidade e, nesse campo, a diversidade é gigantesca. São muitos os tipos de pessoas, tantos e tão variados que, muitas vezes, confundimos os termos e categorias. Mas, quando falamos de aspectos como timidez e introversão, é muito importante saber o que exatamente significa cada uma dessas palavras, já que elas guardam diferenças entre si. Para isso, entrevistei a Fabíola Serpa, Doutora em Psicologia Clínica pela USP e Diretora do INTERAC - Instituto de Terapia Comportamental de São José dos Campos. PERGUNTA: Começando pelo básico, qual a diferença entre os termos "timidez" e "introversão"? Quais são as características de cada tipo de pessoa? FABÍOLA: “O termo timidez descreve uma característica pessoal que pode ser situacional ou crônica, relacionada a comportamentos pouco habilidosos socialmente, associados a sentimentos e pensamentos de inadequação, desconforto e tendência de esquiva de contextos de interação. Uma pessoa tímida, em muitos casos, também é introvertida, ou seja, passa a maior parte do tempo em contato com seu mundo interno, dialogando [mais] consigo mesma do que com o mundo a sua volta.” P: Como se desenvolvem essas qualidades nas pessoas? Tem a ver com genética ou há outros fatores aí? F: “A genética pode ditar tendências, que serão ou não manifestadas de acordo com o ambiente em que a pessoa se desenvolve. Em muitas famílias há modelos que são perpetuados, não tanto pela genética mas pela modelagem de comportamentos. Contextos em que os filhos são estimulados desde cedo a conviver e interagir adequadamente com 46
pessoas diferentes provavelmente tornarão menos prováveis comportamentos tímidos e introvertidos.” P: Até que ponto a nossa sociedade prejudica pessoas introvertidas ao evidenciar líderes, cobrar que todo mundo seja bem relacionado etc? F: “O fato de nossa sociedade valorizar comportamentos socialmente adequados e mais extrovertidos pode promover dois tipos de consequências para pessoas introvertidas: 1) Desafiá-las a vencer suas dificuldades, sair da "zona de conforto" e conquistar posições de liderança, se isso as motivar; 2) Sinalizar que é preciso muito esforço para vencer as dificuldades e ser bem sucedido socialmente e, assim, criar ocasião para que busquem carreiras em que não precisem se relacionar com pessoas, mesmo que tenham que abrir mão de sonhos. O que cada um fará vai depender de sua história de resiliência e autoconfiança.” P: Uma pessoa tímida necessariamente tem um problema? Ou seja, esse aspecto da personalidade dela precisa ser mudado? F: “A timidez não pode ser encarada como doença, mas pode se tornar um problema se impedir uma pessoa de atingir seus objetivos pessoais ou profissionais. Na maior parte dos casos é necessário algum investimento em mudança para que não haja prejuízos nesses objetivos. Muitas vezes apenas conscientizar-se do que é preciso mudar já possibilita trilhar um novo caminho, mas há casos em que uma intervenção psicológica ou psiquiátrica pode ser importante para que mudanças ocorram efetivamente.” Agora que temos algumas definições mais sólidas, podemos enfim considerar de que forma toda essa discussão pode ser situada no meio social da nossa FGV.
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Um relato comunitário
O ambiente gvniano tem seus lados bons e ruins, muitas vezes facilmente identificáveis. Contudo, a pressão que faz sobre os alunos com certeza deve ser posta em cheque e discutida a fundo: será apenas um estímulo salutar ao desenvolvimento interpessoal ou será uma barreira nada saudável na vida de quem não se encaixa nesse modelo de aluno buscado? A resposta, penso eu, está numa mistura dos dois extremos, justamente porque acredito haver situações que são nada mais que uma oportunidade de superação para os tímidos ou introvertidos e outras que realmente derivam de um viés social supervalorizador da extroversão. Para os fins dessa avaliação, nada mais justo que eu procurasse respostas na própria comunidade da escola, o que eu fiz por meio de uma breve pesquisa com um formulário. Cabe aqui alguns avisos: essa pesquisa foi realizada de modo um tanto quanto informal e carece de metodologia científica. Assim, os dados coletados devem ser vistos como indícios e não como alguma sólida e inquestionável conclusão, mesmo porque a amostragem de respostas em cada curso da GV foi bastante variada. A estrutura do formulário era simples: na primeira parte, havia algumas afirmações e o participante deveria indicar, numa escala de 1 a 5, o quanto aquilo era real sobre ele (sendo 1 equivalente à discordância completa e 5 à concordância completa). Na segunda parte, fiz perguntas a respeito de festas, participação em sala de aula, amizades e trabalhos em grupo, tentando descobrir se as pessoas tinham dificuldade ou facilidade para lidar com cada uma dessas situações. Nessa segunda etapa, havia tanto algumas respostas prontas quanto um espaço para colocar as
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próprias respostas. Uma das coisas mais interessantes que vi ao analisar a primeira parte foi a diferença na prática entre as personalidades tímidas e introvertidas. Cerca de 9,5% respondeu 4 ou 5 em todas as afirmações que buscavam identificar os tímidos, ao passo que cerca de 11,9% respondeu 4 ou 5 naquelas que visavam aos introvertidos (embora eu creia que as porcentagens sejam maiores, optei por analisar apenas respostas tão altas quanto 4 ou 5 para ter maior certeza de que tais pessoas realmente são tímidas ou introvertidas; essas pessoas, contudo, provavelmente são fortemente tímidas ou introvertidas e, assim, pode haver outras pessoas com traços mais leves dessas personalidades que meu método de análise não identificou). O importante é: as categorias, embora possam coincidir (como foi colocado pela Dra. Serpa) não são necessariamente coincidentes! Alguns tímidos tinham respostas que os colocavam como pessoas extrovertidas, ao passo que alguns introvertidos certamente podiam ser identificados como não tímidos. Além disso, tive especial interesse nas respostas 48
da segunda parte da pesquisa, em virtude das visões pessoais ali contidas e da identidade que formei com as inúmeras pessoas anônimas que tinham problemas semelhantes aos meus. A começar pela sala de aula, muita gente indicou que possuía dificuldade de participar, por medo ou vergonha de falar algo errado, ser julgado pelos outros etc. Umas das respostas redigidas me cativou a atenção: o participante relatava que se sentia sufocado pela imposição excessiva de si que outros fazem, levantando suas mãos de um modo que denota egoísmo e silenciamento dos colegas. Embora o comentário viesse do curso de Administração Pública, essa postura também é cotidiana no de Direito, o que converte a ânsia de alguns para se pronunciar na supressão ainda maior daqueles que, naturalmente, já sentem maior dificuldade em fazê-lo. Há, nesse ponto, um importante debate de gênero a ser explorado, haja vista a considerável liberdade que, nesse ambiente acadêmico, os homens costumam sentir para se expressarem, enquanto muitas mulheres se sentem reprimidas. Essa é, no entanto, uma discussão a que não darei continuidade aqui, por não ser o foco do texto nem o meu lugar de fala.
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No mesmo sentido, pude também perceber na pesquisa que há um bom número de pessoas que têm problemas para trabalhar em grupo, demoram em fazer novos amigos e possuem pouca afinidade com festas. Este último aspecto é outro ponto revelador, pois mostra que há quem simplesmente não goste de festas e prefira outras atividades. Novamente, havia uma resposta muito significativa: uma pessoa relatou que até gostava de certas situações, mas que, em virtude da convivência social, era julgada quando preferia não ir a festas. Este julgamento é, a meu ver, a prova máxima da incompreensão social comumente dirigida a pessoas tímidas ou introvertidas. A sociedade constrói seus ideais de sucesso em cima da superexploração de certos padrões e discursos tais como meritocracia, networking, “pensar fora da caixa” e tantos outros chavões que, pessoalmente, considero desprezíveis. É nesse âmbito que condeno a evidência em que são postos os comportamentos extrovertidos, pois são estabelecidos como os únicos aceitáveis e forçam os indivíduos que não se encaixam a se enquadrar nessa concepção. Por outro lado, é obviamente importante não ser radical: devese valorizar o esforço pessoal, ainda que inferir que a
sociedade se funda no mérito seja um absurdo, bem como são importantes as redes de contatos, ainda que relacionamentos baseados em falsidade visando somente ao “networking” me pareçam algo venenoso. A consideração final que faço é a de que timidez e introversão, enquanto aspectos da personalidade, devem ser aceitas como parte de quem somos e, nesse sentido, precisam ser trabalhadas apenas nos pontos em que nos atrapalham o bem-estar, a convivência com quem amamos e o nosso desenvolvimento pessoal e profissional. E nesses casos, não há nada de errado em buscar ajuda de amigos, professores e de psicólogos. De resto, não espere a sociedade que tais pessoas se adaptem aos seus desígnios: é ela que, desde o princípio, está incapaz de lidar com a multiplicidade de pessoas existente.
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PROBLEMATIZAÇÃO EM SALA DE AULA Carolina Zweig
Em 2013, a Escola de Economia de São Paulo adotou a metodologia Problem Based Learning (PBL) quase que integralmente em suas salas de aula. Foi reorganizado a estrutura das aulas para muito além que apenas a disposição das mesas: a programação da aula agora consiste basicamente em pautar uma lista de metas de aprendizagem e permitir que os alunos se proponham a alcançar-las. Mas o que isso tem de inovador?
Fonte: http://eesp.fgv.br/en/noticias/fgveesp-inova-curso-de-economiae-e-destaque-na-midia-nacional
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Sobre os professores O primeiro choque para muitos bixos quando começa o semestre na EESP é que nessa metodologia tira-se do professor o pedestal e até mesmo o poder de fala. Sentados todos em forma retangular, pode tornar-se difícil identificar quem é o professor nessa situação de aparente igualdade de tratamento. No entanto, a figura do professor ganhou a responsabilidade de certificar que todos compreendam os conceitos chave - fato medido por meio de sua participação na discussão - e de dar em todo encontro um feedback para os alunos sobre o seu desempenho. Este último é talvez o mais importante, pois é o que permite melhorias exponenciais no decorrer de um semestre na postura do aluno. O professor líder da matéria, apesar de pautar o curso por meio de um workbook, não possui mais o monopólio da aula. Os professores tutores (que não são responsáveis por preparar o curso) ganharam, em relação ao professor líder, certa autonomia na condução e avaliação da classe. Cada sala (A, B, C, D, E, etc) traça caminhos quase paralelos, com diferenças a depender do estilo do professor: algumas características como a exigência, rigidez, paciência e prestatividade podem impactar tanto o desempenho quanto a avaliação de cada aluno. Logo, a expressão dos alunos ainda é limitada pelo professores - mas de maneira variada a depender da sala. Sobre os alunos Apesar de descrever situações que poderiam levar ao caos, não é por meio de uma anarquia que a escola propõe o ensino - e sim na rotatividade da autoridade. Para cada problema (que costuma corresponder à algum tópico importante da matéria), um aluno é designado líder (deve mediar a discussão) e outro é designado secretário (deve registrar e organizar o brainstorming). O aluno ganha também a responsabilidade de se informar e se preparar para o próximo encontro - o que não é tão simples e trivial para todos. Por que? Por que as pessoas diferem entre si.
O que me deparo em uma sala de aula comum da graduação de Economia são jovens que - na medida em que suas individualidades lhes permite - possuem e expõem suas distintas facilidades e dificuldades. Em outras palavras, aqueles que talvez vieram de um ambiente de educação democrática, horizontal, construtivista e participativa demonstram, no mínimo, menos desconforto na exposição exigida no cotidiano universitário - pois a participação em sala de aula é um pré-requisito para não pegar DP. Já quem tem um histórico de ensino conteudista, enciclopédico, hierarquizado e passivo pode parecer na aula um elefante em uma loja de porcelanas. Alguns desses elefantes parecem - por sorte ou azar - terem sido dotados de delicadeza, agilidade ou mesmo capacidade de adaptação. Assim eles se camuflam, apesar do seu desafio ser possivelmente muito mais difícil - será que eles está sendo proporcionalmente recompensado? Intuitivamente deveríamos incluir a autonomia e a responsabilidade como variáveis dependentes das origens escolares, mas essas sofrem uma grande influência familiar também. Mistura-se nos tutoriais essa grande variedade de pessoas, de idades e origens, todas em um mesmo saco. É exigido que leiam e participem igualmente - independente de suas diferentes facilidades e preparação para essas atividades. E então atribuise uma nota para o desempenho em sala de aula, que mais tarde será um multiplicador da nota de prova. Essa nota parece que funciona apenas quando esquecemos da sua existência: aprendemos melhor quando estamos falando e contribuindo para a discussão por interesse - e não por pressão acadêmica. Gostaria de chamar a atenção que quando falo de “ganhar responsabilidade” no decorrer deste artigo posso estar exagerando. Até que ponto podemos usar esse termo para uma atitude que tem como maior incentivo a nota? De fato, a nota de participação foi estabelecida para exigir contribuição para as discussões em sala e carrega, portanto, a ideia de que ninguém o faria por própria espontânea vontade. 51
Sobre as aulas Outra questão interessante à respeito das aulas da EESP é a fragmentação do conteúdo. Além de usar papers como bibliografia, por vezes em detrimento de um tradicional livro didático, dividimos os assuntos em pequenos itens no decorrer do curso. Começase cada tutorial com a conclusão e o encerramento do assunto discutido na aula anterior, e nos últimos momentos da aula levanta-se questionamentos a respeito do assunto que está por vir. É novamente um desafio para os que estão acostumados com um ensino generalista e enciclopédico, pois exige-se que se entenda quase que a totalidade de fatores, detalhes e demonstrações de um determinado assunto - e não apenas uma apanhada geral de conceitos. Há para cada tutorial uma bibliografia sugerida para atingir as metas de aprendizagem - que muitas vezes se considera necessária e suficiente. Condena-se então o excesso, o exagero, qualquer conhecimento alien à fonte por pecar no quesito objetividade. Aparece neste momento um embate entre o ser sucinto e o ser aberto a diversas fontes de conhecimento - mais algumas capacidades que foram desenvolvidas de maneira heterogênea no Ensino Básico e Médio. Sobre a EESP Porém a pedagogia não está apenas nos meios, está também nos fins. Preciso então me perguntar: para que serve uma instituição de Ensino Superior? Cada uma terá a sua resposta e muitas delas não serão “Para desenvolver habilidades de comunicação e liderança” como o método PBL propõe. Apesar de não saber transmitir com precisão a resposta que a Fundação Getúlio Vargas teria, encontro nos questionamentos diários dos alunos pistas do que ela não teria: “Por quê não há Bolsa por necessidade 52
econômica? Por quê não há diversidade racial, social e de gênero na comunidade EESP? Por quê não existe um espaço de convivência nas dependências da faculdade? Por quê os eventos do Diretório Acadêmico não transbordam para este lado do muro? Por quê não há janelas ou estão sempre fechadas?”. As provocações incessantes não surpreendem, pois se há algo que se transmite de maneira eficiente na EESP é a problematização. A dúvida que me fica quando discorro sobre isso é: até que ponto podemos chamar isso de inovação? Sim, o curso foi transformado em um ambiente de relações horizontais com construção coletiva e participativa de conhecimento. Talvez o que causa as altíssimas taxas de evasão seja o protocolo da organização da aula e a quantificação do desempenho em uma nota multiplicadora, que parecem mais bem medidas conservadoras de uma educação altamente hierarquizada. Consciente da importância das características acadêmicas e burocráticas, gostaria de me ater principalmente à relevância dos aspectos sociais a serem considerados para poder chamar a Escola de Economia de São Paulo de inovadora. Me pergunto o que poderia ser feito para que se aprecie adequadamente o valor dos diferentes indivíduos que a graduação abriga - suas personalidades, seus costumes, seus valores e suas fontes - e os que ela não abriga de jeito nenhum. Este segundo aspecto certamente transcende os limites da sala de aula: a inexistência de Bolsas de Estudo é um exemplo de que ainda há o que ser feito em nome de uma turma com diversidade suficiente para provocar discussões ainda mais ricas.
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é designado líder (deve mediar a discussão) e outro é designado secretário (deve registrar e organizar o brainstorming). O aluno ganha também a responsabilidade de se informar e se preparar para o próximo encontro - o que não é tão simples e trivial para todos. Por que? Por que as pessoas diferem entre si. O que me deparo em uma sala de aula comum da graduação de Economia são jovens que - na medida em que suas individualidades lhes permite - possuem e expõem suas distintas facilidades e dificuldades. Em outras palavras, aqueles que talvez vieram de um ambiente de educação democrática, horizontal, construtivista e participativa demonstram, no mínimo, menos desconforto na exposição exigida no cotidiano universitário - pois a participação em sala de aula é um pré-requisito para não pegar DP. Já quem tem um histórico de ensino conteudista, enciclopédico, hierarquizado e passivo pode parecer na aula um elefante em uma loja de porcelanas. Alguns desses elefantes parecem - por sorte ou azar - terem sido dotados de delicadeza, agilidade ou mesmo capacidade de adaptação. Assim eles se camuflam, apesar do seu desafio ser possivelmente muito mais difícil - será que eles está sendo proporcionalmente recompensado? Intuitivamente deveríamos incluir a autonomia e a responsabilidade como variáveis dependentes das origens escolares, mas essas sofrem uma grande influência familiar também.
Mistura-se nos tutoriais essa grande variedade de pessoas, de idades e origens, todas em um mesmo saco. É exigido que leiam e participem igualmente - independente de suas diferentes facilidades e preparação para essas atividades. E então atribuise uma nota para o desempenho em sala de aula, que mais tarde será um multiplicador da nota de prova. Essa nota parece que funciona apenas quando esquecemos da sua existência: aprendemos melhor quando estamos falando e contribuindo para a discussão por interesse - e não por pressão acadêmica. Gostaria de chamar a atenção que quando falo de “ganhar responsabilidade” no decorrer deste artigo posso estar exagerando. Até que ponto podemos usar esse termo para uma atitude que tem como maior incentivo a nota? De fato, a nota de participação foi estabelecida para exigir contribuição para as discussões em sala e carrega, portanto, a ideia de que ninguém o faria por própria espontânea vontade.
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ESPORTE E PERTENCIMENTO Fernanda Sabino
Segundo o dicionário de Direitos Humanos, o sentimento de pertencimento se dá pela crença subjetiva numa origem comum que une distintos indivíduos. Estes, pensam em si mesmos como membros de uma coletividade que expressa valores, receios e pretensões. Dialogar com esse sentimento é imergir no contexto dos esportes e em como os mesmos podem ser instrumentos que acabam por reforçar a sensação de pertencimento, implicando desse modo na construção do cidadão e, principalmente, da sua identidade.
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Sabemos que o esporte pode ser considerado um mecanismo de inclusão na esfera social, uma vez que estimula o sentimento de pertencimento a um determinado grupo e promove a capacidade de um indivíduo de relacionar com outrem. Sendo algo enraizado na cultura brasileira - o que de certa forma nos deu até mesmo a reputação de “país do futebol” -, o esporte é reconhecido como um exercício próprio da cidadania e que contribui diretamente na integração social, melhorando também a qualidade de vida de quem o tem em sua rotina. Para o judoca e medalhista olímpico Flávio Canto, “os jovens se vêem atraídos pelo esporte e é a partir desta relação que é possível trabalhar com questões imprescindíveis para a formação humana como a coragem, determinação e a solidariedade”. Podemos ver então que o esporte é um instrumento que permite a autodescoberta, o aumento da autoconfiança, bem como pode ser um meio poderoso de mobilização, por reunir pessoas de diferentes crenças, culturas e origens étnico raciais.
Para a aluna e atleta Stella Ferreira da EDESP - FGV, mesmo com sua breve participação nos jogos, o sentimento de estar no time foi prazeroso. “Independente de estar de fato jogando ou não, no final é como se fosse tudo ou nada e, se você ama a sua faculdade, seu esporte e seu time, tudo se torna mais incrível. Ganhar um jogo é emocionante, mas perder é custoso. Perdemos contra a PUCCAMP em um jogo que atrasou e começou 1:30 da manhã, com um total de 10 torcedores, namorados e namoradas basicamente (risos).” De qualquer forma, Stella diz que valeu a experiência e que o time voltou com muita mais garra de São Carlos.
O Economíadas, competição que tem como objetivo integrar faculdades de administração e economia, todo ano vem com times mais fortes, torcidas maiores e disputas cada vez mais fascinantes. A emoção de ver sua faculdade em campo e o prazer de aproveitar as festas e todos os momentos de alegria durante os quatro dias são sensações que chegam a ser inexplicáveis. Os treinos que começam desde janeiro, a definição da cidade sede, cada detalhe é importante e move a faculdade para um fim: ganhar o então troféu do Econo, aproveitando cada segundo dessa única experiência. Se partimos do pressuposto de que o esporte pode se constituir como uma ferramenta de pertencimento, nada mais justo do que analisar esse fato a luz do Economíadas. Em 2017, depois de 27 anos, vimos a nossa Fundação ganhar o seu tão almejado troféu. Após 26 edições, a Atlética da FGV conquistou seu primeiro título geral no campeonato. Para quem comparece às festas e participa ativamente da torcida em todos os jogos, o sentimento de “viver o econo” difere da pessoa que, além disso tudo, também é atleta. Os árduos treinos, a pressão de carregar o nome da sua faculdade nas partidas, a rotina extasiada porém exaustiva, tem como consequência um sentimento muito mais intenso.
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Já para Felipe Pozeli, atualmente cursando o quarto semestre de Administração de Empresas, a questão do pertencimento dentro do basquete - esporte que também praticava antes de entrar na gv - o fez ganhar amizades e aprender muito além da quadra: “Um lugar em que desenvolvi muitas habilidades como liderança, perseverança e etc. Na gv era diferente, fiquei mais motivado para jogar. Percebi que as pessoas não treinavam por obrigação, mas porque gostavam.” Além disso, o atleta conta que participou das edições de 2016 e 2017. Em 2016, foi com intuito de aproveitar mais as festas, já no segundo, com o propósito de jogar, torcer e trabalhar mais na organização das festas e da tenta - uma vez que fazia parte da Atlética -. “Gostei mais da vez que fui para jogar, é muito gratificante sacrificar a festa em prol de algo maior. A sensação de entrar na quadra é surreal, você passa a ver os atletas como família: todos dão o máximo pelo próximo.” Para ele, o Economíadas possui dois lados: festas e jogos e, na sua opinião, a gv consegue juntar bem essas duas faces. “Deu para aproveitar. Apesar de eu gostar muito das festas, estar presente em um jogo emocionante é inexplicável.” Felipe conta um pouco da sensação de ganhar o primeiro Economíadas ano passado: “Foi incrível, sem palavras. Pude participar de perto e percebi que lá, seja durante uma festa ou principalmente em um jogo, você esquece dos problemas da faculdade, você
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só pensa em ver o seu time vencer e torcer o máximo por ele. Ver essas pessoas que possuem um amor muito grande pela faculdade faz você querer dar o seu melhor para ganhar. Vi inúmeros amigos chorando; uma imagem clara para mim foi do ex vice presidente da Atlética Pedro Rossi, que, logo depois do título do conquistado de vôlei feminino, ficou aos prantos. O cara vivia a atlética, ver ele realizando esse sonho foi incrível.” Em síntese, os valores de convivência que o esporte oferece - solidariedade, resiliência, empatia, compromisso, coragem, entre tantos outros - reforçam o significado do sentimento de pertencimento. Tal sentimento, imprescindível na formação de um ambiente positivo em qualquer grupo, faz com que relações tornem-se mais significativas, sejam elas dentro de um clube ou faculdade e até mesmo em jogos universitários. A emoção de um campeonato só pode ser de fato vingada se, no final, você tem com quem partilhar os melhores momentos.
“O grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar.” - Sócrates
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ELEIÇÕES DE 2018
QUAL O PERFIL ELEITORAL DO ALUNO DA GV? Giovana Cavalca e Laura Mastroianni Kirsztajn
No dia 20 de abril, a Gazeta criou um formulário que foi disponibilizado por vários meios, especialmente pelas redes sociais, para os alunos da FGV responderem em qual candidato votariam para Presidente do Brasil. Diante do cenário político do momento, dividimos o questionamento em duas possibilidades: eleições com ou sem Lula, para que fosse possível estipular melhor possíveis mudanças que ocorreriam em eleições sem o ex-presidente. Captamos as respostas até o dia 28 de abril, quando o formulário foi encerrado, com cerca de 396 respostas. A partir disso, desenvolvemos gráficos objetivando uma aproximada visão de qual seria o perfil de eleitor do aluno da FGV, bem como os perfis do aluno de cada curso da Fundação. Foi dada a possibilidade de o aluno que preenchesse o formulário colocasse o próprio e-mail para entrarmos em contato. Portanto, traçamos algumas questões
em resposta aos alunos que mostraram interesse em discutir e falar sobre suas opções para as eleições de 2018. Alguns dos alunos optaram pelo anonimato na disponibilização de suas respostas nas entrevistas. Nem todos os candidatos puderam ser representados em virtude da falta de resposta ou de manifestação dos alunos que os escolheram.
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Candidato: João Amoêdo - Novo
Candidato: João Amoêdo - Novo
Aluno: Rafael Priolli
Curso: Direito
Curso: Direito 1. Como você conheceu o seu candidato? 1. Como você conheceu o seu candidato? Internet.
Pelas propagandas, rede social e entrevistas em jornais/rádios.
2. Por qual razão você pretende votar em 2. Por qual razão você pretende votar em seu candidato nas eleições de 2018? seu candidato nas eleições de 2018? Pelas ideias liberais do candidato.
3. Tem alguma proposta feita pelo seu candidato que você gostaria de destacar ou que foi crucial para que você o escolhesse? A economia de recursos de gabinete demonstrada pelos candidatos do partido, o processo seletivo que os candidatos devem passar, dentre outras coisas. O que me atraiu foi, principalmente, as novas ideias em relação ao processo de candidatura, os valores do partido, etc.
Creio ser um candidato honesto e sincero, de fato compactua com as ideias que prega, além de ser um dos poucos políticos atuais que mais se encaixam na minha ideologia. Porém tenho uma certa descrença com o meio político (principalmente após o desastre que foi a realidade em vista da minha expectativa com o João Dória).
3. Tem alguma proposta feita pelo seu candidato que você gostaria de destacar ou que foi crucial para que você o escolhesse?
Já era inclinado a concordar com as ideias deste espectro político. A FGV me fez refletir sobre questões políticas para que formasse minha opinião de maneira melhor.
Privatização é um ideal deles, porém não tenho certeza se há um plano exato de privatização de alguma empresa em especial ainda, sei que o João já deu entrevist falando sobre privatização de ministérios, liberação da maconha, desburocratização (novamente, não sei se há um projeto específico de alguma lei ou serviço), a favor do porte de armas, fiim do fundo partidário e muitas outras.
4. Você se identifica com alguma ideologia política? Qual?
4. O seu curso na FGV influenciou de alguma forma a sua escolha?
Sim. Liberal.
Não, pelo menos por ora.
3. O seu curso na FGV influenciou de alguma forma a sua escolha?
5. Você se identifica com alguma ideologia política? Qual? Liberalismo (econômico e político) e libertarianismo. Autores: Hans-Hermann Hoppe, Ludwig von Mises, Milton Friedman, Murray Morthbard etc.
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Gazeta Vargas • Edição 97• Junho de 2018
Candidato: Lula/cenário sem Lula voto: nulo Curso: Direito
Candidato: Sem candidato Aluno: Frederico Pinto de Souza Curso: Direito
1. Por que você gostaria de votar no Lula? 1. Por qual razão você ainda não decidiu o seu voto para as eleições de 2018? Lula é o líder social mais popular de toda a história do Brasil. Sua inserção na classe trabalhadora nunca foi alcançada por nenhum outro governante; nem mesmo pelo “pai dos pobres”.
Diante disso, sua eleição é a forma de o povo retomar o controle do Poder Executivo, que lhe foi tirado com o Golpe de 2016. Somente a eleição de Lula é capaz de fazer voltar a democracia ao país. Ele é hoje o candidato mais popular nas pesquisas eleitorais. Como justificar a proibição de que o povo o eleja? Que é democracia senão a expressão da vontade do povo? Por isso meu voto é em Lula; porque ele é a chave para a retomada da democracia.
2. Por que você prefere votar nulo num cenário de eleições sem Lula? Votaria nulo por entender serem as eleições sem Lula uma maquiagem para uma nova fase do Golpe de 2016; uma renovação de suas energias.
3. O seu curso na FGV influenciou de alguma forma a sua escolha? De maneira nenhuma. Na GV não se discute o fim da democracia e os rumos que o país tem tomado.
5. Você se identifica com alguma ideologia política? Qual? Sou comunista trotskista, filiado ao Partido da Causa Operária - PCO.
Há alguns motivos para eu ainda não ter decidido meu voto. Além do fato de que os candidatos ainda não estarem confirmados, não é possível saber quais projetos de governo eles pretendem instituir. Isso gera uma incerteza que não me permite escolher um candidato. Há também o fato de que as chapas e coligações ainda não foram totalmente delineadas, esse fator dificulta ainda mais a escolha.
2. Qual tem sido seu principal empecilho para tomar essa decisão? O principal empecilho é a incerteza quanto às chapas, coligações e equipes que acompanharão os candidatos presidenciáveis, além da clareza dos projetos de governo.
3. O seu curso na FGV influenciou de alguma forma essa escolha? Se há uma coisa que aprendi nos primeiros meses do curso de Direito da FGV, é que se eu quiser ter uma opinião consolidada preciso saber muito bem defendê-la. Além disso, aprendi quanta diferença um mandato pode fazer para os rumos do país, assim, a consciência no voto é imprescindível. Se não há, portanto, nem a certeza de quem irá compor a chapa dos presidenciáveis, como posso dizer em qual deles votarei?
4. Você se identifica com alguma ideologia política? Qual? Considero-me liberal, mas não liberal aos moldes brasileiro que defende somente a liberdade econômica e é conservador em aspectos que não tangem a economia.
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Candidato: Marina Silva - Rede Aluno: ÍTalo Falviano Curso: Economia 1. Como você conheceu a sua candidata? 5. Você se identifica com alguma Só ouvi sobre a Marina durante as eleições de 2014. ideologia política? Qual? Buscando informações sobre ela, como candidata, compreendi melhor seu percurso político.
2. Por qual razão você pretende votar em sua candidata nas eleições de 2018? Sem querer que isso soe como propaganda, a Marina parece representar mudanças na administração pública. Claro que o PSB e sua coligação não são de forma alguma um sinal de mudança ou novidades, mas, ao menos, a Marina apresenta boas propostas, o que balanceia a minha decisão.
3. Tem alguma proposta feita pelo sua candidata que você gostaria de destacar ou que foi crucial para que você a escolhesse? A principal proposta da Marina Silva, para mim, de viés econômico, é a autonomia do Banco Central. Do meu ponto de vista, quanto maior a independência do setor financeiro, maiores as chances de, como alguns professores da FGV dizem, “destravar o brasil”.
4. O seu curso na FGV influenciou de alguma forma a sua escolha? Sim. Apesar de pesquisar, em 2014, sobre a candidata e suas propostas, confesso que não me senti muito atraído pela Marina e votei em outro candidato. No entanto, agora vejo, tanto por maior amadurecimento quanto compreensão do comportamento do SFN, que suas propostas têm uma importância um tanto quanto incompreendida.
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Eu gostaria de me assumir como liberal, mas temo que isso pode ter uma conotação negativa no cenário brasileiro. Não por causa da ideologia, mas por causa dos que dizem defendê-la. Mas, sim, defendendo autonomia do setor financeiro, menor intromissão do setor público no mercado, enxugamento do funcionalismo público…
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Candidato: Marina Silva - Rede Aluno: Christopher Loureiro Kapáz Curso: Administração Pública 1. Como você conheceu sua candidata? Já tinha ouvido falar dela desde as eleições de 2010. No entanto, foi somente em 2014, ano de eleições presidenciais e que eu estava no meu 3º ano do Ensino Médio, que eu tomei mais conhecimento sobre a Marina. Isso ocorreu, pois o professor da disciplina de “Ética e Cidadania” da minha escola apresentou um pouco os programas dos candidatos à Presidente e a história pessoal de vida deles. Eu lembro de ter ficado encantado com a história de luta da Marina.
3. Tem alguma proposta feita pela sua candidata que você gostaria de destacar ou que foi crucial para que você a escolhesse? Não há ainda o programa de governo da Marina, mas acho que a Reforma da Previdência mencionada na questão seria uma dessas propostas.
4. O seu curso na FGV influenciou de 2. Por qual razão você pretende votar em alguma forma a sua escolha? sua candidata nas eleições de 2018? Influenciou no sentido de eu dar a devida importância Pretendo votar na Marina pois acredito que ela é uma candidata íntegra, que valoriza um desenvolvimento econômico voltado na sustentabilidade ambiental, o combate a corrupção, a transparência, a participação social, a proteção aos direitos das minorias, entre outros fatores. Acredito também que ela tem o potencial de formar uma boa equipe para a gestão da Educação, Saúde, Segurança Pública, etc. O discurso dela é consistente nos últimos anos, algo raro na política nacional. Além disso, acho essencial ocorrer uma Reforma da Previdência na próxima gestão, e ela já declarou que iria promover isso, com um processo de discussão entre os vários atores. A Reforma não seria estabelecida de cima para baixo e não seria tão traumatizante quanto àquela proposta pelo Presidente Michel Temer. Outro fator para eu votar na Marina é que eu gosto do partido dela, a REDE. Acredito que o partido tem bons quadros para a política.
à equipe de um candidato ou candidata e não somente a ele ou ela.
5. Você se identifica com alguma ideologia política? Qual? Sim. Me considero de centro-esquerda.
A princípio eu vou votar na Marina, mas estou sujeito a mudar o meu voto dependendo da equipe que a Marina formar, dos candidatos que concorrerem e do programa de governo deles. Assim, acredito que posso mudar o meu voto para o Joaquim Barbosa (PSB), Fernando Haddad (PT) ou Ciro Gomes (PDT), dependendo desses fatores.
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Candidato: Lula/Cenário sem Lula: Ciro Gomes
Candidato: Henrique Meirelles MDB
Curso: Administração Pública
Aluno: Victor Hugo Calvin Curso: Economia
1. Por que você gostaria de votar no Lula? 1. Como você conheceu o seu candidato? Acredito que, apesar dos diversos problemas e insuficiências de seu governo, acredito que o seu mandato foi extremamente importante na redução da pobreza no Brasil. Além disso, acredito que neste momento de crise, a experiência é muito importante e Lula tem isso de sobra.
Já conhecia de notícias quando ele era Presidente do Banco Central no governo Lula; depois que entrei no curso de Economia e no Mercado Financeiro, era comum ouvir sobre o Meireles, não só politicamente, mas da sua bem-sucedida carreira no Mercado Financeiro. Além é claro da recente atuação dele à frente do Ministério da Fazenda.
2. Qual a razão de você ter escolhido esse 2. Por qual razão você pretende votar em candidato no caso de eleições sem Lula? seu candidato nas eleições de 2018? Suas posições macroeconômicas e sua capacidade de diálogo com diversas tradições de pensamento, à esquerda e à direita, me deixam muito interessado no Ciro Gomes. Mas o principal motivo é a sua opinião quanto à necessidade de desenvolvimento do Brasil através de estratégias de combate à desindustrialização e de indução ao desenvolvimento industrial e a diversificação industrial.
3. Tem alguma proposta feita pelo seu candidato que você gostaria de destacar ou que foi crucial para que você o escolhesse? Não há proposta específica. É um conjunto de pensamentos e posições sobre o Brasil que me interessam.
4. O seu curso na FGV influenciou de alguma forma a sua escolha? Sim, muito. Antes de cursar Administração Pública, conhecia Ciro Gomes e as suas posições mas não as compreendia verdadeiramente, algo que só fui capaz de fazer na faculdade, com as aulas e os colegas.
5. Você se identifica com alguma ideologia política? Qual? Sim, minha orientação política é à esquerda.
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Acredito que qualificação e resultados são o que deve ser avaliado ao se escolher alguém com tanto poder. Meirelles passou pelas melhores e mais renomadas instituições de ensino, desde a POLI-USP até a Harvard Business School. Juntamente a isso, Meirelles foi o único brasileiro a presidir uma instituição financeira americana, o Bank of Boston além de cargos elevados em várias outras companhias admiráveis como Lazard, KKR, J&F e Azul. Além disso, Meirelles entrou na política sendo o Deputado Federal mais votado de Goiás, em 2002, cargo que não assumiu por aceitar o convite do expresidente Lula para comandar o Banco Central; vale lembrar que a nomeação de Meirelles foi o que levou o mercado a dar um voto de confiança em Lula. Meirelles foi um dos melhores Presidentes do Banco Central, cumprindo suas metas e segurando o país em meio à crise de 2008. Agora, como Ministro da Fazenda, Meirelles pegou o país na pior recessão em 100 anos e nos levou de volta ao crescimento, inflação controlada (indicação de Goldfajn) e volta da confiança do investidor. Vale lembrar que Lula e Palocci, a quem Meirelles respondia, estão presos e Temer acumula denúncias, enquanto Meirelles nunca teve seu nome citado em escândalos, nem mesmo como Presidente da J&F. Outra coisa importante é ver a capacidade de articulação política de um executivo que participou do governo Lula, está hoje no partido rival e mesmo assim conseguiu aprovar reformas importantes no
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Congresso para a volta do crescimento, ou seja, ele reúne competência, honestidade e articulação política, sendo assim o candidato ideal
3. Tem alguma proposta feita pelo seu candidato que você gostaria de destacar ou que foi crucial para que você o escolhesse? Como começou recentemente sua pré-campanha, Meirelles não anunciou detalhadamente suas propostas, mas já manifestou a importância da continuidade das reformas na Economia (Previdência, Trabalhista, Gastos...) e tem opiniões favoráveis a uma abertura comercial e facilitação do ambiente de negócios. Responsabilidade fiscal e segurança para o investidor são pautas muito defendidas por ele e que são extremamente necessárias para que o Brasil avance
5. Você se identifica com alguma ideologia política? Qual? Sou um economista ortodoxo, acredito em validação empírica e debate nos dados. Essa análise me levou a defender um modelo de economia de livre mercado com o Estado intervindo somente para sanar as falhas de mercado. Sou a favor da liberalização das drogas, prostituição, aborto, e casamento gay, além de maior liberdade econômica, mas ainda não possuo opinião formada sobre liberalização de armas, dada a falta de consenso na literatura. Acredito que as pessoas devem ser livres para perseguirem seus sonhos e que o governo tem um papel de garantir um jogo justo com oportunidades para todos, mas não deve proteger a indústria nem qualquer outro setor de competição e deve acima de tudo garantir a liberdade e meios de prosperidade
4. O seu curso na FGV influenciou de alguma forma a sua escolha? Sim, como aluno de Economia tive contato com modelos macro, micro, papers, seminários e exposição a diversas teorias, e quando se analisa de forma empírica, salta aos olhos que as propostas do Meirelles são o que o país precisa para sair do ciclo vicioso e obter um crescimento sustentável
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Candidato: Lula - PT/ Cenário sem Lula: Candidato indicado pelo PT Aluno: Matias Falcone Curso: Direito 1. Por que você gostaria de votar no Lula?
4. O seu curso na FGV influenciou de alguma forma a sua escolha?
Representa a classe trabalhadora que foi esquecida no processo reformista do governo de transição, que não nego que teve seus méritos. Tenho alinhamento ideológico com ele e com o partido. Mas conseguiu agradar também o setor financeiro, foi realista.
Sim. O curso de Direito na FGV me deu base para avaliar o Direito em si e a política com distanciamento crítico necessário para não ser tão influenciado pelo recorte midiático sensacionalista.
Bom articulador político, faz concessões e forma consenso, não é falso moralista e tem uma taxa de aliança com o legislativo muito alta. Durante seus mandatos fez boas escolhas económicas que levaram a períodos de estabilidade/prosperidade. Tirou o Brasil do mapa da fome por meio de programas de transferência, o que foi um dos maiores avanços em termos de justiça social já feitas pelo país. Melhor chance de uma reforma tributária efetiva.
2. Qual a razão de você ter escolhido esse candidato no caso de eleições sem Lula? Voto com o partido, então o candidato que o PT escolher, será o meu candidato. Suspeito que será o Haddad, quem eu considero mais que preparado para assumir a presidência.
3. Tem alguma proposta feita pelo seu candidato que você gostaria de destacar ou que foi crucial para que você o escolhesse? Considero que o conjunto da obra de Haddad sob a prefeitura de São Paulo foi muito positiva. Assumiu um projeto urbanístico arrojado e levou até final, o que mudou bastante o jeito que as pessoas interagem com a cidade. Tomou decisões por vezes contra majoritárias, como diminuir a velocidade das marginais. Mas isso foi em prol do interesse público primário, o que mostra sua capacidade de ser um forte estatista, a qual admiro muito. 64
5. Você se identifica com alguma ideologia política? Qual? Sim, me identifico com o comunismo.
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Candidato: Cristovam Buarque PPS Aluno: Felipe Tutida Takehara Curso: Direito 1. Como você conheceu o seu candidato? 4. O seu curso na FGV influenciou de Conheci através de programas de entrevistas e alguma forma a sua escolha? seminários disponibilizados na internet.
2. Por qual razão você pretende votar em seu candidato nas eleições de 2018? Pretendo votar nele, pois ele possui experiência política e acadêmica. É senador, já foi governador e Ministro da Educação. Obteve doutorado em economia na Sorbonne e foi reitor e professor da UnB. Tem reputação ilibada. É uma pessoa que conhece o país e tem ideais que eu considero muito importantes para o desenvolvimento do Brasil, como a construção de um sistema educacional verdadeiramente digno e o estabelecimento de uma economia eficiente.
3. Tem alguma proposta feita pelo seu candidato que você gostaria de destacar ou que foi crucial para que você o escolhesse?
Fiz a escolha antes de ingressar na Fundação, e não mudei minha opinião apesar da divulgação de novos candidatos e suas propostas.
5. Você se identifica com alguma ideologia política? Qual? Tenho afinidade com o pensamento político no qual o Estado regule a economia na medida em que produza a eficiência, e ao mesmo tempo distribua os recursos de maneira que todos tenham acesso à educação, saúde e segurança dignas; no qual o povo tem soberania e as liberdades individuais são garantidas. No espectro político, considero meu pensamento próximo do Liberal.
Buarque foi o “pai” do Bolsa-Escola, programa de transferência de renda que tinha como objetivo estimular crianças e jovens de baixa renda a frequentar regularmente a escola, e em contrapartida suas famílias receberiam uma renda determinada. Suas ideias no sentido de incrementar o sistema educacional – visando principalmente o ensino fundamental – e estabelecer uma economia eficiente – simplificando o sistema tributário, apesar de não serem propostas formais, são razões pelas quais eu o escolhi. É preciso dizer que Buarque não é o candidato oficial de seu partido (PPS), apenas demonstrou explicitamente que tem a intenção de se candidatar.
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ELETIVA DE TEATRO NA FGV Mariana Leite
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A eletiva de teatro oferecida na semana de imersão trouxe vários ensinamentos para os alunos e para a platéia, com a encenação da peça “Retrato de Família”, de Nelson Rodrigues. Como parte da platéia, tive acesso apenas aos resultados, então conversei com uma das participantes da eletiva e o aprendizado, segundo ela, redefiniu muitos conceitos. Venho, porém, destacar apenas um deles, atribuindo meu significado pessoal à experiência da aluna: a individualidade como autenticidade e a influência disso no cotidiano e na lógica de competitividade do aluno gvniano. A individualidade está presente
em todos, entretanto, nem sempre há espaço para a evidenciarmos. No caso de contextos em que há uma resposta certa, geralmente formal e acadêmica, o espaço é extremamente limitado. Isso nos leva, em certa medida, a uma busca pela padronização. Isso é explícito quando observamos que comparamos respostas com os colegas, quando temos dúvidas, e, no primeiro sinal de que sua resposta destoa do geral, já se nota que algo está errado, porque não há um padrão seguido por todos. Apesar desse cenário geral, a eletiva de teatro atribuiu funções diferentes a cada aluno. A partir disso, foi necessário que cada um desenvolvesse sua própria solução para as questões postas e, sem poder comparar com os outros, trouxesse à tona sua individualidade. Os resultados foram surpresas na apresentação da peça, uma vez que ficou clara, naquele momento, a autenticidade da exposição do aprendizado. Essa autenticidade foi observada na medida em que, para criar o ambiente e a encenação, não havia apenas uma “resposta certa”, então cada indivíduo buscou em suas experiências, conhecimentos, observações e ideias, formas de transformar algo que estava no papel em realidade.
Além disso, no contexto gvniano, comparações são parte do cotidiano, tanto em termos profissionais, quanto pessoais, mas focarei apenas em comparações de desempenho acadêmico. Essa comparação se estabelece na medida em que os alunos são avaliados pela mesma prova, portanto, com uma mesma métrica. A partir disso, a comparação de resultados traz cobranças, atendidas ou não, e a validação do desempenho é feita por cada um à sua maneira. Porém, nem todas as aulas na GV trazem esses parâmetros, tal como foi a experiência em questão. Para a eletiva de teatro, cada função foi única, seja na atuação, na direção ou na sonoplastia. Assim, não havia como focar no desempenho alheio para medir seu sucesso. Nesse sentido, sua medida passa a ser o seu melhor e as avaliações não esperam uma padronização de respostas, buscam apenas um desempenho no qual você traga resultados. Os seus resultados, originados a partir da experiência pessoal para desempenhar uma atribuição somente sua e na qual o seu sucesso não depende do quanto você se equipara aos outros ou os supera. Sendo assim, quando uma eletiva exige do aluno mais do que a reprodução de conceitos aprendidos em sala, sua contextualização e aplicação, o retorno à sua linha de raciocínio de acordo com sua individualidade se sobressai para a apresentação de soluções. Ademais, conforme isso ocorre, o foco no desempenho de seu próprio papel se sobrepõe à competitividade, uma vez que as métricas para comparação perdem a validade. Como resultado, o desempenho dos alunos não foi o melhor tendo como base um em relação ao outro, mas foi o melhor com base em suas próprias performances e seu contexto atual, desempenhando aquela tarefa específica e buscando embasamento em suas experiências.
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CANTINHO DA POESIA Gabriel Freitas e Victor Coutinho
HAIKAI é um tipo de poema de origem japonesa composto por três versos. Geralmente, o haikai tenta explorar uma questão parofunda com uma concisão absoluta. Introduzido no Brasil no século passado, foi sendo desenvolvido dentro dos estilos próprios de notáveis poetas, como Guilherme de Almeida, Millôr Fernandes e Paulo Leminski. Aqui em terras tupiniquins, a forma ganhou um pouco da sagacidade e do humor que são marcas do brasileiro. Para explorar um pouco mais essa composição estrangeira tão bem adaptada à língua portuguesa, decidimos experimentar um pouco com uns versos de composição própria.
Embate Acordo e dou fé Que o sono na luta Venceu o café.
Brasil e Argentina Jesus guarda três Maradona enlouquece Poisé, não deu pro Messi
Rá! E cai... De repente um susto! E o coração disparado Batendo no busto.
Um bom polonês Piszczek abre no Lewandowski Lewa lança pra Blaszczykowski MEU DEUS, chama o Wazowski
Esperamos que apreciem!
Linguagem Palavras na mente Misturadas, ordenadas Formam toda a gente
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10 CURIOSIDADES SOBRE BITCOIN Gabriel dos Anjos
Em 2008, surgiu um dos assuntos mais discutidos da segunda década do presente século: os bitcoins. As criptomoedas de natureza tão contestada por economistas, investidores, professores e opinadores de plantão têm ganhado bastante notoriedade no mundo econômico – especialmente nos últimos anos.
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A princípio, a moeda era associada a um ideal libertário: fazer frente ao sistema financeiro já estabelecido. Como ninguém jamais conheceu seu criador, o motivo da criação é um mistério. Vide aqui a importante relação com a Silk Road – um portal que concentrava, majoritariamente, vendas ilegais através do bitcoin. A moeda, com o passar dos anos e com as melhorias na segurança, ganhou popularidade e caiu nas graças de investidores e leigos que queriam um dinheiro fácil. As legislações do mundo, despreparadas, não previram absolutamente nenhum dos movimentos dos operadores da moeda e, até hoje, países se confundem e embaraçam para tentar regular esse ativo/moeda/bolha/o que você entender. Pra essa edição a Gazeta preparou algumas curiosidades das bitcoins, dá uma olhada:
• Preço de bala: um ano após o lançamento da moeda, em 2010, o valor estimado da criptomoeda era de meros 4 cents em dólares. • Que fase, Hermanos: muitos argentinos, frente a crise inflacionária que assolou o país, utilizaram o bitcoin como reserva de moeda – afinal, era mais seguro manter ativos em bitcoin do que em Pesos argentinos. • Queria ser esquecido assim: o norueguês Kristoffer Koch investiu 17 libras em bitcoins e se esqueceu. Quando lembrou possuía 500.000 libras. • Vale mais que barras de ouro: em novembro de 2013, um bitcoin passou a valer mais que uma onça de ouro. Desde então, seu valor nunca mais foi menor! • Pros programadores: há cerca de 31.000 linhas de código por trás do bitcoin. • Se liga: 64% dos bitcoins existentes estão em contas intocadas desde a criação da moeda. • Tem pra todo mundo: 21 milhões é o número máximo de bitcoins que podem existir – pelo menos por enquanto. • Lesou: 78 milhões de dólares. Este é o valor convertido para dólares (em 2017) que um homem chamado James Howells perdeu ao jogar fora, acidentalmente, seu hard drive lotado de bitcoins. • Ao infinito e além: através da empresa Virgin Galactic, desde 2013, é possível ir até o espaço utilizando bitcoins. • Tá valendo: em 2017 a moeda ultrapassou a Disney e o McDonalds em valor de mercado. Vai segurando!
Vale ressaltar que o bitcoin é só um tipo de moeda e várias outras empresas já se lançaram nesse mercado com competidores bastante interessantes! Se interessou pela matéria? Varias entidades tem proporcionado eventos envolvendo o assunto, então fica atento nos próximos meses. Até a própria Fundação tem notado o interesse geral e a importância das criptomoedas como um todo. Vira e mexe surge uma eletiva falando sobre o assunto: fiquem atentos e atentas! 70
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A GRAMA DO ESTÁDIO VIZINHO NÃO É SEMPRE TÃO VERDE Carolina Zweig
Enquanto a Copa do Mundo se aproxima, é natural que o comportamento humano se transforme: aumenta exponencialmente a procura de camisetas da seleção, populariza-se tudo que for verde e amarelo, surge um campo gravitacional em volta de televisões de bares e emerge uma necessidade febril de colecionar retratos dos jogadores. Essas atitudes curiosas seriam incompreensíveis fora desses 28 dias de jogos e de algumas poucas semanas que os antecedem e sucedem. Graças à tradição e ao marketing, esse evento incentiva até mesmo os menos interessados em futebol a investirem tempo e dinheiro nesse carnaval esportivo. Mas além da indústria de bens de consumo do nosso próprio país, sabemos o que mais estamos financiando? Quem veio ver o 7 a 1 em 2014 injetou dinheiro na economia do país por meio do turismo sem pensar que fim esse capital levaria. Informar-se foi então o primeiro passo para questionar o que observaram aqui. O holofote sobre o país expôs, entre outras coisas, as obras públicas inacabadas que denunciam falhas estruturais no país. Não é necessária uma pesquisa muito aprofundada para identificar algumas das causas dessas carcaças de concreto nas cidades: desvios de dinheiro, corrupção e falta de planejamento. Os torcedores experienciaram também os problemas com os quais muitos brasileiros já estão familiarizados: a poluição, a desigualdade, a
insegurança, a discriminação… Graças ao evento futebolístico, críticas sociais sobre a realidade brasileira tiveram alcance mundial. Para uma maior conscientização a respeito do que está acontecendo no país que recebe a Copa do Mundo, o meio digital tem um papel fundamental. O rápido compartilhamento de notícias pelas redes sociais e pelas grandes empresas de comunicação é capaz de contribuir para muito mais que a divulgação de resultados. Quando chamam a atenção para outros aspectos além do futebol, cria-se a oportunidade para reivindicações e manifestações por parte da população local. E se durante uma viagem para ver os jogos, testemunhamos situações imorais e ilegítimas, também somos capazes de compartilhar na internet e trazer visibilidade ao problema em questão. Vamos então explorar ao máximo esse recurso para olhar para além dos estádios: que tal estudar a conjuntura atual da Rússia, país sede da Copa em 2018? Sendo a Fundação Getulio Vargas uma instituição educacional, devemos proporcionar espaços e momentos para reflexão sobre este evento: o que estamos incentivando e financiando durante a Copa do Mundo? Quem está se beneficiando com isso? Quais são as consequências para a população local? Somente assim podemos evitar passar a bola pra quem não está jogando limpo. 71
Foto: Folha de São Paulo
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O TEMPO QUE LEVA AO CENTRO DA REPÚBLICA Dominique do Vale de Mattos
Treze segundos: esse foi o tempo que levou para o edifício Wilton Paes de Almeida, localizado na República, com mais de 20 andares, se desmanchar como areia em um incêndio que paralisou em caos a cidade de São Paulo no dia 1º de maio. Alguns mortos e feridos severamente, muitos desalojados e uma imensidão de preocupados e curiosos fazem parte do desastre que, surpreendentemente, já era muito previsível para quem passava pelos arredores: bastava, de fato, um curto-circuito para levar as vigas abaixo e escancarar, de forma trágica, a antiga construção que os agentes públicos e a sociedade paulista precisam tomar responsabilidade: uma crise generalizada envolvendo entes federativos, habitação e ocupação urbana.
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Foto: Nacho Rodrigues /Reuters
Começando a discussão em ordem cronológica, temos a construção do prédio em si. Encomendado nos anos 60 pela União para ser a sede da Polícia Federal em SP, a construção possuía ares de modernismo e um design que chegou a ser chamado pela Veja São Paulo de “estilo Mad Men”. Foi também um prédio do Instituto de Previdência Social (INSS), até ser desocupado há mais de duas décadas. Até aí, temos um roteiro clichê dentro do extenso filme da cidade: era um dos mais de 480 imóveis voltados à prestação pública que estão sem uso do setor - ao mesmo tempo em que existia, em 2016, um gasto anual de R$1,6 bi em aluguéis de imóveis pelo governo federal. E é neste complexo contexto de desuso, gentrificação e marginalização dos espaços urbanos que as ocupações surgem como alternativa, resistência e auto organização na cidade. Para além do debate maniqueísta e falas de desserviço vindas de pessoas públicas, a moradia é, pela comunidade internacional e pela Constituição, um direito, e isso independe de que forma a sociedade irá garanti-lo - pública ou privada, com investimento público ou não. A luta pela moradia através dos 74
movimentos sociais é, portanto, uma consequência óbvia em uma cidade de desigualdades exorbitantes, acessos inexistentes e muros invisíveis. Desde o acontecido, a mídia mainstream se debruçou muito para explicar de alguma forma o fenômeno das ocupações: como se organizam, quem ocupa, por quê ocupa e, principalmente, o que leva famílias e indivíduos a usarem um espaço tão degradado e, por muitas vezes, insalubre e indigno? E é em torno desses questionamentos que se trava uma silenciosa batalha entre Prefeitura, União e movimentos de moradia em torno da posse de propriedade. Pode-se dizer que não foi diferente com o edifício do Largo do Paissandu. Desde a sua desocupação, o imóvel passou por um cansativo processo de “passaanel”: movimentos diferentes ocupando em variados momentos, promessa de centro cultural em parceria com governos europeus - projeto esse que nunca saiu do papel -, repasse da propriedade da União para a Prefeitura, tentativas de reintegração de posse que não deram certo e até mesmo uma licitação, somente em 2015, no valor de R$ 21 mi. A última tentativa também não deu certo. Inclusive, ninguém quis
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comprar o prédio, visto que precisaria de muito mais que 21 milhões de reais para ser restaurado e pronto para uso. E vários outros prédios e construções públicas convivem ou com a insalubridade e abandono, ou com a posse privada que cria instalações “inovadoras”, “chiques” e “alternativas” no Centro, sem necessariamente possuírem função pública ou coletiva. Questiona-se, de novo, quem ocupa. Treze segundos: esse foi o tempo necessário para reacender ostensivamente um debate urgente na Administração Pública e nas conversas de esquina da República. É o tempo necessário para olhar um prédio se destruindo e pessoas salvando umas às outras em um grande desespero. Visão essa que passa, de forma tímida, pelas catracas da FGV, que fica a menos de 3km do falecido edifício e que não
deixa de ser uma reflexo da construção da cidade - tão paulista, tão hierárquica, tão problemática. Por isso, a mobilização imediata é bem-vinda. O luto e a empatia são ferramentas poderosas e imprescindíveis. Contudo, é necessário que nós nos reconheçamos dentro dessa dinâmica, tanto como agentes de mudança quanto como perpetuadores da desigualdade, e que vejamos que a dimensão do incêndio não acaba no fato ela conta uma história, explica muitos problemas e nos força a discuti-los para além do ser só pessoa, em direção ao ser gestor, político e especialmente ao ser cidadão pleno, com acesso, participação e um lugar para viver.
Foto: Leonardo Benassatto/Reuters
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A SITUAÇÃO INDÍGENA NO BRASIL
A VISÃO DOS EXCLUÍDOS Giuliana Garcia Paro
Neste ano houve um marco histórico para além da Copa e das eleições. A população indígena, pela primeira vez na história, atingiu o número de 1 milhão desde a colonização. Representado pelo número de um milhão hoje, a matéria a seguir irá tratar da imagem do indígena que, em 1500, era representado pelo número de cinco milhões. Ultrapassando os mais complexos limites dos direitos humanos hoje no país, a situação indígena é claramente desmerecida em todos os âmbitos políticos e sociais. A construção da sociedade brasileira teve seu alicerce inicial na dita justa relação de superioridade dos europeus sobre aqueles que já se encontravam aqui. E assim o Brasil foi fruto de uma colonização respaldada no massacre humano e na cultura do esquecimento profundo.
construído a base do sangue e hoje muitos daqueles que passam pela sua história enxergam os índios como parte do passado, como um pedaço caricato cultural do país, superado e já vivido, jamais como parte do futuro. Essa visão dos “vencedores” ainda permeia o vocabulário de um Brasil que anula o fato de que povos indígenas ainda vivem, ainda resistem, ainda precisam lutar por seus direitos. E é isso que é necessário discutir neste dia 19 de abril. Existem inúmeras questões que não são tratadas como relevantes para o conhecimento do cidadão brasileiro, como se a presença dos indígenas já tivesse sido superada ao longo dos anos. Isso intensifica a noção de que o Brasil tem muito a oferecer para os índios, mas que a recíproca não é a mesma.
Até onde a literatura contemporânea relaciona o “descobrimento” do Brasil com o início da sua história? Até onde as relações sociais foram fundamentadas em metrópole e colônia, em colonizadores e colonizados ou em povos superiores e inferiores? A resposta é: até longe, muito longe. O Brasil foi um Estado pluriétnico
O Brasil é, sobretudo, uma nação imersa no desconhecimento da temática indígena e na história dos povos tradicionais do Brasil que são seu passado, sua história, sua descendência. Criou-se uma imagem de que os povos indígenas são todos iguais
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IBGE 1944
com uma generalização de suas características. Suas particularidades? Excluídas. Pouco se é sabido sobre os diversos grupos, línguas e costumes – porque os povos indígenas são, sim, extremamente heterogêneos. Além disso, a concepção de que os povos indígenas não podem se transformar ou aderir elementos da cultura ocidental - vestimentas ocidentais, tecnologias, moeda – permeia um posicionamento geral do país sobre a aculturaçãodo povo indígena. Assim, ao utilizar uma calça jeans, o índio não é mais tão índio. Esse termo é equivocado e mostra a tendência que ainda permanece na mentalidade brasileira de retirar os índios da sociedade, de excluí-los do presente, de deixa-los
“ÍNDIO” = UMA MERA RELAÇÃO COM O ESTADO
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O mapa histórico do IBGE a seguir traz uma representação de como a palavra “diversidade” fundamenta as etnias indígenas desde sempre. Construiu-se a imagem do “índio” para simplificar os povos e permitir que o Estado e a legislação conseguissem tratar dos assuntos indígenas de forma única. Essa simplificação, porém, é extremamente problemática na medida que contribui com a perpetuação da ignorância e desconhecimento do Brasil sobre seus povos originários. A palavra “Índio”, portanto, é a relação, e o reflexo da mesma, com centenas de povos e o Estado - nada mais. Não se pode afirmar que os povos indígenas se identificam com o termo ou o aceitam, mas é por meio dele que o Estado se relaciona com os indígenas. Vale ressaltar que o próprio termo surge, meramente, de um erro geográfico. Quando exploradores chegaram ao Brasil e pensaram que aqui se encontravam as terras preciosas da Índia, por assim denominaram aqueles que aqui já estavam: índios. Mas não existia, e não existe, uma única cultura, uma única língua, um único povo indígena vivendo no território brasileiro. A homogeneização originada por um nome ainda sustenta o senso comum que trata os índios como uma espécie diferente de nós.
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FUNAI: QUEM ELES SÃO? Em 1910, surgiu o primeiro órgão do Estado para lidar com os indígenas, o Serviço de Proteção ao Índio. O SPI fazia um trabalho de atração dos índios para a sociedade ocidental, reflexo de um entendimento de que se fossem integrados na sociedade, os indígenas deixariam de ser índios e o "problema" sumiria. Problema este que tem A FUNAI é criada em 1967 e atua durante a ditadura militar. Esse período é marcado de contatos forçados entre índios e nãoíndios, pois pretendia-se ocupar e usar o território ocupado por povos indígenas para a construção de grandes empreendimentos - estradas, hidrelétricas.
ministérios. No primeiro momento, a FUNAI estava atrelada ao Ministério da Defesa, passou então a ser do Ministério do Interior e é, hoje, autarquia do Ministério da Justiça. Tais transições demonstram o entendimento de diferentes governos sobre a questão nacional indígena, porém todas estão relacionadas à necessidade de se manter o território e a ordem.
Há uma mudança na forma do Estado se relacionar com os povos tradicionais a qual está atrelada à promulgação da Constituição Federal em 1988. O novo documento traz diversos novos direitos aos índios e os entende como sujeitos autônomos que não precisam de tutela do Estado, como previa o Estatuto do Índio de 1973. Essas transformações na percepção do Estado sobre os indígenas acompanharam também a trajetória da FUNAI como autarquia de diversos 79
A POLÍTICA DE DEMARCAÇÃO DE TERRAS ATUALMENTE: A política de demarcação de terras foi um avanço na democracia brasileira, mas ao mesmo tempo, um questionamento. Afinal, até que ponto foi preciso, através da legislação, decretar a necessidade de respeitar as terras indígenas? Até muito longe. A política de demarcação é dividida em seis principais fases e tem sua importância na garantia da terra e na relação dos povos tradicionais com o Estado. A política está moldada para assegurar que a terra demarcada garanta a reprodução física e cultural dos povos indígenas e que esses tenham o usufruto exclusivo da terra, como assegura a Constituição de 1988. A primeira fase consiste na qualificação das reivindicações por terras que chegam à FUNAI. Tratase de um estudo inicial, com base em documentos e mapas, sobre os povos indígenas e suas terras, de modo a ordenar as reivindicações em níveis de prioridade. Esse processo é demasiadamente judicializado, uma vez que existem diversos mandados judiciais exigindo a delimitação de determinadas terras. A FUNAI perde, então, o poder decisório. Definidas as reivindicações a serem atendidas, cria-se um Grupo Técnico responsável por realizar um estudo de natureza antropológica, sociológica, jurídica, ambiental, cartográfica e até etnohistórica. Esse estudo, feito a partir de experiências em campo 80
e de análises documentais, constrói os argumentos que comprovam a tradicionalidade da terra de acordo com o Artigo 231 da Constituição. Nesta etapa, é elaborada a delimitação do território adequada para o povo em questão, a considerar seus hábitos de vida e espaços simbólicos. Como resultado desse estudo - o qual pode se estender por dez anos -, é elaborado um relatório com informações minuciosas sobre o povo e sua região. Vale ressaltar que o tipo de trabalho durante essa etapa pode variar dependendo do tipo de reivindicação feita. Existem dois tipos possíveis: um requisito por TIs, que se trata de uma terra na qual o povo tem um vínculo tradicional e a conquista de sua posse pela União será feita a partir do anulamento de títulos dos não-índios que ocupam o local no momento. O segundo tipo seria a modalidade denominada Reserva Indígena (RI). Nesse caso é destinado aos povos que não tiveram o vínculo com uma terra específica comprovado, mas ainda necessitam de um espaço para viver. A RI, diferentemente da Terra Indígena (TI), é adquirida pelo Estado, ou seja, o título é comprado, e não anulado. A diferença entre TI e RI exige um levantamento fundiário distinto para cada área, que também faz parte da etapa de identificação e demarcação. No caso de TIs, o levantamento identifica o número
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de não-índios que serão retirados da terra após o processo. E, ao se tratar de Reservas Indígenas, é realizada uma avaliação do valor das terras a serem compradas pela União. O relatório final é encaminhado ao presidente da FUNAI que aprovará a delimitação da terra e a tornará pública com uma matéria no Diário Oficial da União. A partir desse momento, estados, municípios e demais interessados têm 90 dias para fazer contestações sobre o primeiro desenho da demarcação que serão respondidas pela FUNAI com base nas informações contidas nos relatórios e nas legislações relacionadas. Quando todas as contestações forem rebatidas de acordo com a lei, cabe então ao Ministro da Justiça decidir sobre a delimitação da TI em questão. Após tal decisão, a Terra ganha o status de declarada. E uma vez a terra declarada, os não-índios, que perderão a terra no local demarcado mais adiante no processo, não podem mais vendê-la.
O registro administrativo pode ser resumido como o cadastramento da TI homologada nos cartórios de imóveis dos municípios dentro da delimitação, enquanto a extrusão é a retirada dos não-índios da terra. Essa última parte inicia-se com uma avaliação feita em campo pela FUNAI sobre os valores das benfeitorias nas terras em que ocorrerá a remoção. As benfeitorias serão indenizadas pelo governo, ao passo que as terras terão seus títulos anulados passando a se tornar de posse da União, sem qualquer pagamento. É nesse estágio que o conflito fundiário se intensifica, dado que há uma disparidade do real valor da terra preço da terra mais valor das benfeitorias - e o que é pago pelo Estado - somente as benfeitorias.
A seguir, inicia-se a fase de demarcação física. A demarcação física propriamente dita é de operação de uma empresa especializada contratada pela autarquia. A TI pode ser, então, homologada pelo Presidente da República na forma de um decreto baseado no Relatório Técnico da TI. Após a homologação da TI, na FUNAI são iniciados dois processos simultâneos: o registro administrativo e a extrusão.
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POVOS ISOLADOS: QUEM SÃO?
OS CONFLITOS:
Por último, é importante destacar que existe uma diferença no processo de demarcação quando se trata de povos isolados ou derecente contato- povos que, em geral, optaram por não estabelecer contato com os não-índios, mesmo sabendo da existência de outras sociedades e da FUNAI. Nesses casos, é realizado um processo anterior ao da demarcação das demais terras. É preciso comprovar a existência do povo isolado para que o processo comece. Pois, ao contrário dos povos já contatados, existe um recurso chamado "restrição de uso" no caso dos índios isolados que garante a exclusividade da terra mesmo durante o processo. O contato é previsto em duas situações: quando os próprios indígenas o buscam, ou em caso de situação de risco para aqueles índios. Assim como no caso de povos já contatados, a FUNAI faz o constante monitoramento das TIs dos povos isolados.
Durante todo o processo, os grandes latifundiários buscam recursos no judiciário para a paralisia da demarcação, o que por si só acarreta em um alongamento do decurso à concretização das TIs. Neste estágio do processo, o perfil de não-índio que mais refuta a demarcação é, em sua maioria, de pequenos agricultores. Para eles, a remoção da terra pode significar a completa retirada de seus instrumentos de subsistência.
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Além disso, a paralisação do processo por recursos judiciais ocorre das mais diversas formas no decorrer de sua implementação, desde o período das contestações. No momento de contestações, o perfil daqueles que protestam é diverso, uma vez que qualquer cidadão que se sente afetado pela demarcação pode contestar. Mas pode-se inferir que a maioria das contestações é feita por proprietários de terra – grandes latifúndios ou pequenas fazendas.
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GAZETA INDICA
CHOQUE DE CULTURA Laura Mastroianni Kirsztajn
Achou que não ia ter Choque de Cultura na Gazeta? Achou errado, otário! Você provavelmente já ouviu falar sobre esse programa, ou ao menos se deparou com uma das suas várias frases de efeito e memes por aí na internet. Ele é produzido pelo grupo TV Quase e publicado no canal do youtube Omelete. A sua proposta é a realização de críticas e análises de filmes e séries famosos por motoristas, ou melhor, pilotos de van, que são os “maiores nomes do transporte alternativo”. Os quatro pilotos que compõem o programa são: Rogerinho do Ingá (Caito Mainier), piloto de uma sprinter vermelha e azul, Maurílio dos Anjos (Raul Chequer), piloto de uma kombi branca 84, Julinho da Van (Leandro Ramos), piloto de uma sprinter branca, e Renan (Daniel Furlan), piloto de uma towner azul-bebê. Rogerinho é o apresentador do programa, conhecido por várias frases de efeito “rudes” e por colocar a ordem nas coisas quando necessário (sempre). Maurílio é o famoso “palestrinha”, o piloto
que tem maior proximidade com o lado mais técnico e informado do cinema - trabalha frequentemente com transporte para produção de filmes, inclusive já auxiliou Tony Ramos -, justamente o grupo que o programa mais satiriza, e não é por menos que ele é alvo de piadas e tiradas.
“Você sabe o que é uma claquete? Sabe o que é um mapa de transporte? Você sabe o que é ir numa quebrada pra pegar um entorpecente pra um ator conseguir fazer uma cena?! Você não entende porra nenhuma de cinema!” - DOS ANJOS, Maurílio.
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Julinho é o mais direto e sincero do grupo, sendo por isso aquele que mais ataca Maurílio nas suas palestras infinitas. Por fim, Renan é um pai um tanto quanto diferenciado: ele frequentemente narra as desventuras do seu filho, seu “guerreirinho”, e é de grande inspiração para todos a capacidade de sobrevivência da criança. Renan é um personagem que carrega a essência do programa: todos os acontecimentos mais inacreditáveis já ocorreram com ele e seu filho, e isso é amplamente aceito no contexto de cada episódio. A discussão do cinema, que seria o tópico central, é mero cenário das mirabolantes histórias e perspectivas de vida que todos os pilotos compartilham. Tratase da plena naturalização do irreal e exagerado, do inacreditável que nos fascina. É justamente por isso que nenhum grande crítico de cinema pode opinar tão bem quanto os maiores nomes do transporte alternativo: somente os pilotos conseguem nos fazer rir - até quando ofendem nossos filmes favoritos - e observar o universo do cinema com menos peso e formalismo. A receita do sucesso do Choque foi preencher a vaga de um humor que faltava ao brasileiro. Vivemos um contexto de telespectadores cansados do velho humor ofensivo e ultrapassado, imparcial, porém parcial, e obviamente mascarado. Os produtores observaram bem essa realidade e trouxeram um humor assumidamente parcial - os pilotos não têm medo de ofender Ubers e as leis de trânsito, de odiar filmes clássicos e aclamados sem pestanejar -, sem preconceitos concretamente expostos, como aqueles trazidos no Pânico na TV -, e repletos de absurdos, coisas que tiram o telespectador da chata e repetitiva realidade de todos os outros canais e comentaristas. Como bônus, temos críticas diretas a certos comportamentos estereotipados do brasileiro, mas tudo com uma enorme leveza que pode sair despercebida para aqueles muito habituados a esse jeito de ser.
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É um programa que convive diretamente com a internet, e dela bebe, mas com uma combinação nada óbvia. Na internet encontramos nichos como o dos cinéfilos e críticos de cinema formados em Sessão da Tarde e Netflix. Todo mundo já se deparou com um desses no Facebook ou Twitter…. ou é um deles (oi!). A verdade é que, por mais que gostemos desse lado cult da vida, o programa nos mostrou que ainda mais divertido é poder zoar os grandes filmes, atores e ídolos - os intocáveis, jamais criticados, honoráveis -, porque a desmistificação torna tudo mais tangível. Nada melhor que abrasileirar a discussão de filmes do Kubrick e largar os termos técnicos, as análises complexas, para nos apegarmos aos absurdos que podem surgir de uma interpretação cômica, desprendida e fora do convencional. O formato também dialoga com a rotina de muitos jovens brasileiros: são episódios de cerca de 10 minutos de duração; dá para assisti-los depois das aulas, durante o café da manhã, almoço ou jantar, e em qualquer lugar, basta ter um dispositivo com acesso à internet. É nesse pouco tempo de duração que o ritmo empolgado e desmedido dos atores consegue quebrar o peso e a obviedade do cotidiano. Quanto mais episódios você assiste, mais da identidade do Choque lhe é incorporada, e quando você menos espera já é capaz de prever as reações e possíveis opiniões dos pilotos a cada um dos tópicos tratados. Felizmente nem tudo na vida tem que ser sério. Temos ao menos alguns minutos desse programa para trazer leveza e preocupações menos graves para o nosso dia a dia. Às vezes tudo o que nós precisamos é de uma boa discussão sobre o golpe que é ter um “filme do Harry Potter sem Harry Potter”, o fato de Velozes e Furiosos ser a melhor franquia do cinema, e os desafios de se alimentar da espuma do carro do Thor Batista quando ele entra num acidente com a sua van. Enfim, disso tudo se tira uma coisa: vale muito a tentativa de assistir ao CDC. Falo com tranquilidade.
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