”Há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós conseguiremos, jovens amigxs, não é verdade?” Rosa Luxemburgo
Apresentação da Campanha de Mulheres - DCE UFES O Diretório Central de Estudantes da UFES (DCE/UFES)
A Campanha foi formulada em
de
cima de cinco eixos temáticos:
de
Violência Doméstica, Violência
questionar algumas lógicas,
Sexual, Política e participação das
transformar algumas práticas
Mulheres, Assistência Estudantil
e fortaceler as mulheres na
e Trabalho, e Padrões e Autono-
universidade.
mia do Corpo, para que não
planejou
a
Campanha
Mulheres
com
objetivo
Os motivos para sua elaboração são inúmeros, devido às
deixemos de debater nenhuma manifestação da opressão.
denúncias de trotes universitá-
Com a realização da ”Semana
rios machistas na UFES e em
da Mulher” no mês de agosto,
outras Instituições de Ensino
entre os dias 22 e 26, esse será o
Superior,
e
início das atividades durante o
agridem as mulheres estudan-
semestre que têm como objetivo
tes em situações que fazem
discutir a opressão de gênero,
alusão à exploração de sua
para que possamos sair da
sexualidade,
formulação teórica para a atua-
que
humilham
bem
como
às
denúncias de casos de abuso
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sidades.
ção cotidiana.
sexual, estupro e coerção de
Esperamos que as atividades
mulheres nas dependências das
e esse material ajudem a escla-
Universidades. Ou ainda, por
recer como poderíamos tornar a
causa da reprodução de valores
vida das mulheres mais digna e
machistas nas mais diversas
modificar o quadro de preconcei-
áreas do conhecimento acadê-
to, discriminação e opressão
mico, e pelos episódios de assé-
contra as mulheres, visando
dio moral de mulheres trabalha-
diminuir as desigualdades entre
doras e estudantes nas Univer-
os sexos.
Não se cale, a violência doméstica não pode ser um segredo No Brasil, de cada 5 mulheres, 3 já sofreram algum tipo de violência e 70% das agressões acontecem no espaço doméstico. Segundo o Anuário das Mulheres Brasileiras 2011, 25,9% das mulheres agredidas foram vítimas de seus cônjuges ou ex-cônjuges, 28% das que são assassinadas morrem em casa. Central de
Ligue 180 Atendimento à mulher
As mulheres toleram a violência porque são educadas de maneira diferenciada em relação aos homens. O menino, em geral, é incentivado a assumir um papel ativo, dominador, a não sentir medo, a ser racional. A menina costuma aprender, desde cedo, o papel de submissa, passiva, sentimental. Nossa sociedade mantém uma educação sexista, onde as características ”masculinas” continuam a ser mais valorizadas que as do ”feminino”. Os homens se sentem muitas vezes no direito de impor sua vontade e até mesmo “disciplinar” o sexo feminino, pois a opressão de gênero é naturalizada. Apesar dos progressos, ainda é difícil para muitas mulheres denunciar a violência que sofrem, em especial em casa. Sentem-se emocional e financeiramente ligadas ao agressor, sentem-se culpadas e envergonhadas, acreditam que ”ele vai mudar”. As etapas são as mesmas: começa com as ofensas e gritos; depois vem a agressão física; em seguida, as desculpas e juras de amor, seguidas da reconciliação. Estudos demonstram que o ciclo se repete: tensão, agressão cada vez mais violenta, pedido de perdão, pazes, tensão. Muitas vezes esta espiral de violência termina com o assassinato da mulher, por isso, é preciso interrompê-la com firmeza na primeira oportunidade.
Mais Informações
Após muita luta do movimento feminista, as mulheres
leimariadapenha.com tiveram uma grande vitória no âmbito jurídico com aprovação da Lei Maria da Penha, legislação que as defende de qualquer dano moral, psicológico, físico ou patrimonial. Porém, sua implantação encontra dificuldades, pois o governo não tem vontade política suficiente e não financia todas as necessidades do combate à violência e à cultura de medo imposta às mulheres.
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É preciso ensinar os homens a respeitar, e não as mulheres a temer! Dentre as diversas formas de violência cometidas contra as mulheres, a violência sexual é uma das mais cruéis. Consideradas culpadas, em muitos casos, pelo abuso sexual, as mulheres são as maiores vítimas desse crime. Muitas sofrem a violência sexual dentro de suas casas, vítimas de parentes próximos, o que dificulta a denúncia. Por vezes a violência tem caráter corretivo, como acontece quando é cometida em crianças ou mulheres lésbicas. O estupro corretivo é uma prática machista e homofóbica que mulheres lésbicas e bissexuais sofrem, porque homens acham ter o direito de violentar com intenção de ”corrigir” uma orientação sexual que não aceitam. Porém, essa escolha é somente delas, que podem exprimir e gozar sua sexualidade quando, como e com quem quiserem. Não existem vadias e nem santas, as mulheres são feitas de diversas facetas que as fazem diferentes entre si, com maneiras diferentes de viver sua sexualidade. Todxs merecem ser tratados com respeito, a expressão ”se dar ao respeito” é uma desculpa usada para culpar as vítimas, tirando o foco da real culpa, que é do agressor. Por isso, é preciso ensinar os homens a respeitar, não as mulheres a viver com medo de sair às ruas, de exibir o corpo, de sentir tesão.
"No Brasil, a média de denúncias de violência sexual é de dez a 15% por cento dos casos. Muitas ainda não se sentem seguras em denunciar e silenciam o crime."
As pessoas não podem ser censuradas, mas devem respeitar. A liberdade de expressão não exime a responsabilidade pelo pronunciamento: comentários e piadas vêm carregados de outros valores, muitas vezes reproduzindo uma opressão. Logo, denuncie qualquer discriminação ou violência machista no primeiro instante, para que as outras mulheres sintam-se fortalecidas a fazer o mesmo e romper o silêncio.
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Política e participação das mulheres Historicamente o papel da mulher está relacionado com os espaços privados, sua função era exercer tarefas como a manutenção e cuidado dos filhos, enquanto os espaços públicos eram ocupados apenas pelos homens. Isso as tornava invisíveis e submissas, e superamos esses papéis após muita luta das mulheres que não se submetiam às restrições. A emancipação das mulheres implica numa questão concreta e quantitativa de acesso a espaços políticos, é necessário garantir seu acesso e representação. Mesmo que as mulheres estejam modificando esse quadro sendo protagonistas politicamente, esses casos não devem ser exceções. Haver poucas mulheres nos espaços representativos não é uma coincidência: são ambientes que exigem atitudes ríspidas, e elas não participam por não se sentirem à vontade. Isso se deve a uma naturalização ideológica de que mulheres são frágeis, e por isso não podem disputar com os homens, que muitas vezes utilizam, ao invés dos debates e
da consistência argumentativa sólida, recursos como intimidação, ofensas e grosserias. É necessário desconstruir a visão de que mulheres são naturalmente frágeis e incapazes, pois essa é uma tática de dominação para reproduzir a opressão de gênero. Um instrumento importante é a auto-organização, pois possibilita que entre iguais possam quebrar barreiras de expressão as quais são submetidas desde a infância. Tendo como função empoderar as mulheres, ajuda a formulação coletiva, para que se sintam capazes de expor pensamentos em qualquer espaço. A atual conjuntura brasileira, que tem uma mulher ocupando o cargo mais importante na política, não deve ocultar as dificuldades enfrentadas pelas brasileiras. É necessário que mulheres ocupem instâncias políticas para formularem em favor de todas. Devemos lutar para que cada vez mais mulheres atuem politicamente, somente assim poderemos superar a desigualdade e combater o machismo vigente na sociedade.
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Autonomia das Mulheres: Trabalho e Universidade Devido à definição de papéis historicamente construídos entre homens e mulheres existe uma divisão sexual do trabalho, como se houvesse diferença ”natural” entre suas capacidades. Nesta organização desigual do trabalho, à mulher caberiam tarefas privadas, como o cuidado com a casa e os filhos, e aos homens as tarefas públicas, como o trabalho assalariado, a política e a vida pública em geral. Ao entrar no mercado de trabalho e passar a realizar tarefas antes postas como ”masculinas”, o mesmo não ocorreu com os homens, afazeres domésticos e educação dxs filhxs continuam sendo majoritariamente das mulheres. Com isso, acumulam uma dupla jornada, são exploradas como trabalhadoras e como donas-de-casa, pois o trabalho doméstico não é reconhecido. Hoje 27,5% dos lares brasileiros têm uma mulher como principal provedora de recursos financeiros, no entanto, 96% dos lares que residem mulheres, uma mulher é a principal responsável pelos afazeres domésticos. Atualmente
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70% dos pobres no mundo são mulheres – realidade cruel do capitalismo que se apóia no machismo. As profissões ditas “femininas”, geralmente ligadas ao cuidado, têm sua importância diminuída, pois são consideradas mais fáceis, tentando referenciar a crendice que mulheres são menos capazes que homens. Na Universidade, é necessária assistência estudantil específica para mulheres que garanta sua permanência, como amparo médico específico, espaço universitário seguro e iluminado, onde mulheres não vivam com medo de serem assaltadas ou sofrerem violências. Por isso, creches e escolas universitárias devem dar condições de qualidade para que filhxs de estudantes não impossibilitem sua estadia na universidade. Essas preocupações devem ser de responsabilidade da administração da Universidade, para que não se reproduza valores machistas e dêem condições reais de que as mulheres continuem estudando para superar suas condições de trabalho explorador e conquistem sua autonomia.
A Ditadura da Beleza e a autonomia dos corpos A mídia veicula certos valores do que seria ”belo” para uma mulher. Esse padrão cobra estarmos desse ou daquele jeito, encaixando as mulheres em uma identidade fútil, estúpida, frágil e sem capacidade política. Elas são cobradas para serem perfeitas principalmente sob a perspectiva da exploração de seus corpos pelo desejo masculino. Essa ”Na natureza, nada é tentativa de padronizá-las como objetos diminui perfeito, e tudo é perfeito. As árvores suas capacidades intelectuais é o mito da perfeição, podem ser retorcidas, na prática transformado em uma ditadura da beleza.
vergadas de modos estranhos, e ainda assim são belas.” Alice Walker
A cobrança incessante torna impossível a realização das mulheres, pois estão sempre impelidas a procurar defeitos em sua forma física, sua formação intelectual, em sua personalidade ou sua relação familiar, dificultando sua a autoconfiança. Esses valores do que é ser mulher perpassam outras opressões, estimulando mulheres negras, gordas, pobres e que rompem com padrões sexuais e de gênero a se sentirem infelizes e com a autoestima baixa por não estarem dentro de um padrão estético. Não é possível alcançar o mito da perfeição, pois sempre haverá uma cobrança nova, deixando-as paranóicas com seu corpo, sua roupa, seu cabelo, suas atitudes, deixando-as inseguras simplesmente por serem mulheres. É preciso questionar isso, não se submeter aos padrões e, principalmente, não se limitar a agir de determinada maneira se preocupando com que a sociedade pensa. As mulheres precisam ter autonomia sobre seus corpos, modificá-los, movê-los, é decisão delas, somente elas têm o direito de opinar seu destino. Tem total direito a escolher quando e como vivem sua sexualidade, por exemplo, se desejam ser mães ou não. Historicamente essa decisão foi relegada aos grupos que estavam no poder, como homens ou religiões, mas, isso precisa ser decidido somente por elas e ninguém mais. A escolha de uma também não deve ser o castigo de todas as outras, e por isso a autonomia de cada uma. OBS: Usamos o "x" no material para não fazer distinção de gênero e contemplar a todxs!
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“Você sabe o que é feminismo? É acreditar que mulheres têm os mesmos direitos que homens e merecem as mesmas oportunidades. Ser feminista é lutar pela igualdade, e superar a opressão. Ser feminista é lutar contra o machismo e o patriarcado. E, principalmente, é acreditar que as mulheres merecem uma vida digna, e que temos força para modificar a nossa realidade. Juntas somos mais fortes!”