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2.3. Pós- Modernismo
Autor: Jorge Amado
Vida: Filho de João Amado de Faria e de D. Eulália Leal, Jorge Amado de Faria nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, em Ferradas, distrito de Itabuna - Bahia. O casal teve mais três filhos: Jofre (1915), Joelson (1920) e James (1922).
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Com apenas dez meses, vê seu pai ser ferido numa tocaia dentro de sua própria fazenda. No ano seguinte uma epidemia de varíola obriga a família a deixar a fazenda e se estabelecer em Ilhéus. Em 1917 a família muda-se para a Fazenda Taranga, em Itajuípe, onde seu pai volta à lida na lavoura de cacau. Talvez por isso Jorge Amado foi o autor que traduziu de forma mais perfeita a Bahia, a terra do cacau, as mulheres brejeiras, a brasilidade, a cultura de um povo rico em personagens.
As principais características encontradas em suas obras são: a literatura ideológica de participação social, os; romances políticos e revolucionários e com humor extraído do cotidiano, o regionalismo baiano, a preocupação com os tipos marginalizados e a linguagem retrata o falar do povo.
Fonte: www.estantevirtual.com.br/livros/jorgeamado
Em 1943 é publicado “Terras do sem fim”, seu primeiro livro a ser vendido livremente após seis anos de censura. O romance, que faz parte do “Ciclo do Cacau”, trata da existência sofrida dos que vencem a mata, plantam, colhem e tratam os frutos além de retratar os imponentes coronéis do cacau, sua força e violência, na época da aventureira conquista da terra em São Jorge dos Ilhéus.
A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em fitas gravadas para cegos.
Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência, na Rua Alagoinhas, em 10 de agosto, dia em que completaria 89 anos.
CARACTERÍSTICAS
PRIMEIRA FASE:
a) Literatura ideológica de participação social; b) Romances políticos, revolucionários c) Fala da exploração dos trabalhadores e suas lutas políticas; d) A região cacaueira do sul da Bahia
SEGUNDA FASE:
a) Regionalismo baiano; b) O humor extraído do cotidiano; c) Uma narrativa que trata dos costumes da Bahia; d) Preocupação com os tipos marginalizados; e) A linguagem retrata o falar do povo.
Cacau de Cândido Portinari. Fonte: http://warburg.chaaunicamp.com.br/obras/view/11473
“As velhas beatas que rezavam a ‘São Jorge’ na igreja de Ilhéus costumavam dizer que o coronel Horácio, de Ferradas, tinha debaixo da sua cama, o diabo preso numa garrafa.
Como o prendera era uma história longa, que envolvia a venda da alma do coronel num dia de temporal.
E o diabo, feito servo obediente, atendia a todos os desejos de Horácio, aumentava-lhe a fortuna, ajudava-o contra os seus amigos. Mas um dia - e as velhas persignavam ao dizê-lo - Horácio morreria sem confissão e n diabo saindo da garrafa levaria a sua alma para as profundas dos infernos. Dessa história o coronel Horácio sabia e ria dela, uma daquelas suas risadas curtas e secas, que amedrontavam mais que mesmo os seus gritos nas manhãs de raiva.”
Terras do sem fim, de Jorge Amado.
Leitura Complementar: Retratos da Bahia de Jorge Amado
De todas as fases por que passou sua obra, algumas merecem destaque, como a que retrata a vida na região cacaueira de Ilhéus, caracterizando a opressão em que viviam os trabalhadores rurais em contraste com a situação dos grandes coronéis da região, enriquecidos pelo cultivo do cacau o "ouro negro". E a essa fase que pertence o romance que muitos críticos consideram sua obra-prima: Terras do sem-fim (1943).
Outra obra merecedora de atenção é Capitães da Areia (1937), que retrata a vida de um grupo de meninos de rua. Acompanhando o amor entre Dora e Pedro Bala, o líder do grupo, o narrador leva o leitor pelos becos e vielas de Salvador, pelos terreiros de candomblé, localizando no cenário urbano o que já havia registrado na região cacaueira.
Além disso, a sensualidade brasileira aparece em todas as obras de Jorge Amado. Povoadas de morenas como Gabriela, Tieta e Tereza Batista, suas narrativas falam de um amor mundano, altamente erotizado.
A partir da publicação de Gabriela, cravo e canela (1958), a ficção de Jorge Amado afasta-se das questões sociais para concentrar-se na construção de tipos humanos, explorando cada vez mais o tema do amor. Essa nova tendência de suas obras garantiu ao autor a continuidade de seu imenso sucesso popular.
(Literatura – tempos, leitores e leituras. Maria Luiza M. Abaurre e Marcela Pontara)
2.3. Pós-Modernismo
CONTEXTO
3ª FASE MODERNISTA
O ano de 1945 é marcado pelo fim da 2ª Guerra Mundial. No Brasil, Getúlio Vargas é deposto e volta a se reeleger em 50. Em 1955 é eleito Juscelino Kubitschek, devido as suas mudanças na economia brasileira, o processo inflacionário se agravaria cada vez mais. Após seu governo e a renúncia de Jânio Quadros (61), o país ficaria mais de vinte anos sem escolher o presidente (ditadura militar). Nos anos 80, houve o processo de redemocratização - Tancredo Neves, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso. Podemos dizer que em todos esses anos o país passou por várias crises: repressão, inflação, salários baixos, planos econômicos e greves.
CARACTERÍSTICAS
Alguns historiadores de nossa literatura preferem chamar esta terceira fase de Pós-Modernismo, reservando o nome Modernismo apenas para as duas primeiras fases. A partir desse momento surgem várias tendências tanto na prosa quando na poesia, que podemos esquematizar da seguinte maneira:
A POESIA – A GERAÇÃO DE 45
Muitos poetas de fases anteriores ainda estavam em plena produção literária quando um grupo novo, que se autodenominou "geração de 45", fez sua estreia. Esse grupo caracterizou-se pela rejeição dos valores modernistas da primeira fase - como o verso livre, a irreverência, o poema-piada. Para os poetas desse grupo, a poesia tinha se vulgarizado e deveria retomar o rigor formal, expressar-se num vocabulário mais erudito, abrirse para uma temática mais universal e seguir regras de metrificação mais rigorosas. O grande nome que surge com essa geração é o de João Cabral de Melo Neto. A partir de 1960 novas tendências vão configurar no cenário da poesia brasileira.
Morte e Vida Severina
Autor: João Cabral de Melo Neto
Vida: João Cabral de Melo Neto (9 de janeiro de 1920, Recife — 9 de outubro de 1999, Rio de Janeiro) foi um poeta e diplomata brasileiro. Pertencia a uma das mais tradicionais famílias do Pernambuco, sendo irmão do historiador Evaldo Cabral de Mello e primo do poeta Manuel
Fonte: www.escritas.org/pt/ joao-cabral-de-melo-neto Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre. Conhecida pelo rigor estético de seus versos, avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, a obra poética de João Cabral foi justamente reconhecida por laureações como o Prêmio Camões (mais importante premiação da literatura em língua portuguesa) em 1990, o Neustadt International Prize for Literature em 1992 e o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana em 1994. Além de poeta, viajou pelo mundo inteiro em seu ofício como diplomata. Dos inúmeros países que conheceu, nutriu especial afeição pela Espanha, em especial a região de Sevilha, fonte de inspiração para muitos de seus versos, muitas vezes comparada a Recife. A primeira cidade onde serviu foi Barcelona, na década de 1940, quando conheceu grandes amigos como o pintor Juan Miró e o poeta Joan Brossa. Autor de Morte e Vida Severina (poema musicado por Chico Buarque), João Cabral foi também membro da Academia Brasileira de Letras. Cena 1 - Monólogo no qual Severino se apresenta e se iguala a tantos outros Severinos:
- O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, Que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; Como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mas isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia. por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias’? Vejamos; é o Severino da Maria do Zacarias. lá da serra da Costela, limites da Paraíba. [...] E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte Severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). [...]
CARACTERÍSTICAS
a) objetividade na constatação da realidade e do cotidiano; b) poesia pensada, racional; c) utiliza uma linguagem enxuta, concisa, parecida com o falar do sertanejo; d) preocupação com a estética, com a arquitetura da poesia. e) poesia metalinguística; f) a educação pela pedra – criação poética – fruto do trabalho e do esforço – prática.
Fonte: http://virusdaarte.net/portinari-enterro-na-rede.
Educação pela pedra
Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, frequentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de poética, sua carnadura concreta; a de economia, seu adensar-se compacta: lições da pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse, não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra; lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma.
Tecendo a Manhã
1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.
2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.
A PROSA INTIMISTA
A Prosa Intimista segue a linha da sondagem psicológica inaugurada na segunda fase modernista. Esse tipo de narrativa apresenta personagens mergulhados em seu mundo interior. Destacam-se Clarice Lispector (consolida esse tipo de narrativa), Autran Dourado (Ópera dos Mortos), Lygia Fagundes Telles, Lya Luft, Nélida Piñon (Tebas do meu coração).
Autora: Clarice Lispector
Vida: Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família em direção à América.
Publicado em 1960, Laços de Família é um dos pontos máximos da prosa de Clarice Lispector, talvez o supra-sumo de seus contos. As narrativas dessa obra usam constantemente o fluxo de consciência, por meio do qual conhecemos o universo mais íntimo das personagens. É um expediente que autoriza sua literatura a ser chamada ora de psicológica, ora de introspectiva.
Suas personagens são sempre flagradas no momento em que, a partir do cotidiano banal, alcançam o lado misterioso, inusitado, diferente da existência humana, mesmo que não consigam entendê-lo. No fim, acabamos nos deparando com histórias de exteriorização do oculto, em que o protagonista termina buscando, nos elementos exteriores, o seu interior. Ou seja, a busca da identidade passa pela busca do outro, seja humano, animal ou objeto.
Clarice morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu 57° aniversário vitimada por uma súbita obstrução intestinal, de origem desconhecida que, depois, veio-se a saber, ter sido motivada por um adenocarcinoma de ovário irreversível.
CARACTERÍSTICAS
a) o intimismo; b) o questionamento do ser; c) o romance e o conto introspectivo, ambíguo; d) afasta-se da sociedade em crise e retrata o indivíduo, sua consciência e inconsciência; e) a linguagem valoriza a palavra, explora os significados;
Leitura Complementar:
A Hora Da Estrela
Publicado em 1977, pouco antes de a autora morrer, A hora da estrela é a única de suas obras que enfatiza aspectos da realidade objetiva e manifesta uma intenção explicitamente social, embora não seja esta a dimensão mais valiosa do texto. O relato é construído por duas camadas que se interligam de maneira contínua:
a) A camada do narrador: Rodrigo S.M., o primeiro narrador masculino na obra de Clarice, atormenta-se ao escrever uma novela sobre uma jovem nordestina. Ele questiona o tempo inteiro o seu próprio modo de narrar, o seu estilo, a sua capacidade de compreender Macabéa, moça de extração sócio-cultural inferior. Simultaneamente, tenta desvelar o jogo complicado que o seu texto empreende entre a ficção e a realidade. Em última instância, o que ele procura é desvendar o significado da literatura e da existência.
b) A camada de Macabéa: é o registro da medíocre trajetória no Rio de Janeiro de uma alagoana de 19 anos, moradora de um quarto de pensão que divide com quatro balconistas das Lojas Americanas. Macabéa é moça raquítica, feia, solitária e morrinhenta, além de ser uma datilógrafa de segunda categoria. Alienada, sonsa, adora ouvir a Rádio Relógio, coleciona pequenos anúncios num álbum e gostaria de ser artista de cinema. Trata-se de uma jovem sem qualquer tipo de vida interior, sem futuro e com um passado inexpressivo, quase cretina.
No transcurso da história, Macabéa arruma um namorado, também nordestino, o metalúrgico Olímpico de Jesus, só que este, apesar de inculto e grosseiro, sonha em integrar-se ao Sul, ascender socialmente e até tornar-se deputado. Percebendo os limites gerais de Macabéa, (“Ela era incompetente para a vida”, diz o narrador), Olímpico troca-a por Glória, estenógrafa, loira oxigenada e amiga de sua ex-namorada.
Aconselhado pela própria Glória, Macabéa procura uma cartomante, Madame Carlota, antiga prostituta e cafetina. Esta, sinceramente horrorizada com a vida que a moça levava, resolve animá-la com a perspectiva de um futuro sorridente, profetizando que a nordestina encontraria um estrangeiro alourado de “olhos azuis ou verdes ou castanhos ou pretos”, muito rico e com quem se casaria. Macabéa que “nunca tinha tido coragem de ter esperança”, sai feliz da consulta, pois “a cartomante lhe decretara sentença de vida”. Porém, ao atravessar a rua distraidamente é atropelada por uma Mercedes amarela. Cai no chão, agoniza e diz sua última frase, em aparência enigmática: “Quanto ao futuro”. Várias pessoas observam a moribunda. Alguém pousa junto ao corpo uma vela acesa. Desta maneira, Macabéa alcança, com a própria morte, a sua hora de estrela.
(Curso de Literatura Brasileira de Sérgius Gonzaga)
A PROSA REGIONALISTA
Ora mantendo-se na linha do nosso regionalismo da segunda geração, ora incorporando inovações desencadeadas pela obra de Guimarães Rosa, destacam-se inúmeros escritores que pesquisam a realidade do espaço e do homem rural brasileiro. Outros autores: Mário Palmério (O Chapadão do Bugre, Vila dos Confins); Bernardo Éllis (O Tronco); Ariano Suassuna (A pedra do reino); José Cândido de Carvalho (O Coronel e o Lobisomem); Adonias Filho (Corpo Vivo).
Autor: Guimarães Rosa
Vida: João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) a 27 de junho de 1908 e era o primeiro dos seis filhos de D. Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa e de Florduardo Pinto Rosa, mais conhecido por “seu Fulô” comerciante, juiz-de-paz, caçador de onças e contador de estórias. Obra publicada em 1962, reúne 21 contos. Trata-se do primeiro conjunto de histórias compactas a seguir a linha do conto tradicional, daí o “Primeiras” do título. O escritos acrescenta, logo após, o termo estória, tomando-o emprestado do inglês, em oposição ao termo História, designando algo mais próximo da invenção, ficção.
No volume, aborda as diferentes faces do gênero: a psicológica, a fantástica, a autobiográfica, a anedótica, a satírica, vazadas em diferentes tons: o cômico, o trágico,
Fonte: www.pensador.com/ o patético, o lírico, o sarcástico, o erudito, o popular. As estórias captam episódios autor/guimaraes_rosa/ aparentemente banais. As ocorrências farejadas através dos protagonistas transformam-se de uma espécie de milagre que surge do nada, do que não se vê, como diz o próprio Guimarães Rosa; “Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”. Este milagre pode ser então, responsável pela poesia extraída dos fatos mais corriqueiros, pela beleza de pensar no cotidiano e não apenas vivê-lo, pelo amor que se pode ter pelas coisas da terra, pelo homem simples, pelo mistério da vida. Dos “causos” narrados brotam encanto e magia frutos da sensibilidade de um poeta deslumbrado com a paisagem natural e/ou recriada de Minas Gerais.
CARACTERÍSTICAS
a) nova perspectiva do regionalismo; b) revalorização da linguagem (neologismos), a fala do sertanejo, suas expressões, suas particularidades; c) o misticismo e a transcendência do sertão; d) reinvenção do sertão “o sertão é o mundo”; e) temática universalizante. f) a simbologia (o conto descrito através de desenhos);