Redescobrindo sua Bíblia

ANDRÉ COELHO

REDESCOBRINDO SUA

De Gênesis a Apocalipse, uma análise objetiva de cada livro da Bíblia para você conhecer, aplicar e ensinar as verdades contidas na Palavra de Deus

Prefácio

RUSSELL SHEDD

3ªEDIÇÃORevistaeAmpliada

Redescobrindo Sua Bíblia

Copyright © 2012 - André Coelho de Oliveira

Copyright © 2015 - Geográfica Editora

Revisão

Taís Pereira

Angela Baptista

Projeto Gráfico da Diagramação

Inventus Criação e Comunincação

Redescobrindo Sua Bíblia

Copyright © 2012 por André Coelho de Oliveira

Projeto Gráfico da Capa Rick Szuecs

3a Edição • maio de 2015

Revisão • Taís Pereira

Projeto gráfico e capa • Inventus Criação e Comunicação

Esta obra foi impressa no Brasil com a qualidade de impressão e acabamento da Geográfica

Fotos capa: © shutterstock.com/Robert Marfin © istockphoto.com/STILLFX

Printed in Brazil

Qualquer comentário ou dúvidas sobre este produto escreva para: produtos@geograficaeditora.com.br

Impressão e acabamento • Gráfica DelRey

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)

1ª edição: 2012

2ª edição: 2014

3ª edição: 2015

C672 Coelho, André Redescobrindo sua Bíblia / André Coelho. 3. ed. revista e expandida. - Santo André: Geográfica, 2015.

496p. ; 16x23cm. ISBN 978-85-8064-077-9

É proibida a reprodução total ou parcial deste livro, sejam quais forem os meios empregados: digitais, eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros, sem permissão por escrito do autor.

CDU 22.07

Todos os direitos reservados pelo autor.

Catalogação na publicação: Leandro Augusto dos Santos Lima CRB 10/1273

Contatos e pedidos pelo e-mail andrecoelho@ymail.com

1. Bíblia. 2. Comentários. I. Título.

Ao Alfa e Ômega, o Princípio e Fim, o primeiro e o último, o que era, que é e que há de vir, o único que foi achado digno de tomar o livro da mão direita do Todo-Poderoso e de abrir-lhe os selos.

O seu nome é JESUS !

A ele seja o louvor, e a honra, e a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!

Prefácio

Prefácio

Este livro deve alegrar os corações de milhares de leitores que se identificam como cristãos evangélicos, mas que têm pouquíssima ideia do conteúdo do Livro sobre o qual a doutrina e a prática cristã se fundamentam. A Bíblia é o livro mais vendido no Brasil; mesmo assim, a maioria dos seus donos carece de um conhecimento rudimentar do Livro dos livros. Há pastores que nunca leram a Bíblia inteira. Este excelente livro deve servir para remediar esta ignorância da Palavra inspirada.

Este livro deve alegrar os corações de milhares de leitores que se identificam como cristãos evangélicos, mas que têm pouquíssima ideia do conteúdo do Livro sobre o qual a doutrina e a prática cristã se fundamentam. A Bíblia é o livro mais vendido no Brasil; mesmo assim, a maioria dos seus donos carece de um conhecimento rudimentar do Livro dos livros. Há pastores que nunca leram a Bíblia inteira. Este excelente livro deve servir para remediar esta ignorância da Palavra inspirada.

Como se pode esperar vencer o diabo sem conhecer a arma que Jesus usou para vencer o tentador? Como se pode formar líderes que defenderão a Igreja contra os ataques dos seus inimigos se não estiverem firmemente preparados para lutar biblicamente contra os desvios que assolam o Povo de Deus?

Como se pode esperar vencer o diabo sem conhecer a arma que Jesus usou para vencer o tentador? Como se pode formar líderes que defenderão a Igreja contra os ataques dos seus inimigos se não estiverem firmemente preparados para lutar biblicamente contra os desvios que assolam o Povo de Deus?

O autor, Pr. André Coelho, teve a feliz inspiração de preparar uma obra que pode ajudar a corrigir esta triste situação. Agora, você tem em mãos, um livro repleto de informações detalhadas e panorâmicas, para iniciantes e estudiosos, para alunos e professores da Bíblia. Não conheço outro livro, em português, que demonstre tanta criatividade na transmissão de tão amplo conhecimento da Bíblia e de maneira tão fácil de assimilar. Somente folhear o livro confirmará a minha opinião sobre a singular qualidade didática deste estudo panorâmico da Bíblia.

O autor, Pr. André Coelho, teve a feliz inspiração de preparar uma obra que pode ajudar a corrigir esta triste situação. Agora, você tem em mãos, um livro repleto de informações detalhadas e panorâmicas, para iniciantes e estudiosos, para alunos e professores da Bíblia. Não conheço outro livro, em português, que demonstre tanta criatividade na transmissão de tão amplo conhecimento da Bíblia e de maneira tão fácil de assimilar. Somente folhear o livro confirmará a minha opinião sobre a singular qualidade didática deste estudo panorâmico da Bíblia.

Além dos incontáveis fatos relacionados com a origem, autoria e conteúdo, acompanhados de quadros, mapas e outros meios de ensino, o autor aproveitou a oportunidade para passar algumas lições

Além dos incontáveis fatos relacionados com a origem, autoria e conteúdo, acompanhados de quadros, mapas e outros meios de ensino, o autor aproveitou a oportunidade para passar algumas lições

interpretativas baseadas nas histórias do Antigo Testamento. Tipologia é o termo usado para fazer a ligação entre a Antiga Aliança e a Nova. O autor de Hebreus reconheceu elos que fornecem figuras na Lei que apontam para antítipos no Novo Testamento. Mesmo que alguns não concordem que os autores, necessariamente, entenderam que leis e eventos preveem realidades espirituais, não é possível negar a existência de profecias que somente se cumpriram na vinda de Cristo, a Figura central da Bíblia.

Quero oferecer os meus parabéns ao Pr. André Coelho pelas muitas qualidades e informações deste manual. Recomendo a leitores, professores, curiosos e a todos os que se sentem carentes de um conhecimento do Livro que mais influenciou nossa civilização ocidental, bem como ser a fonte de nossa fé e esperança eterna!

A Deus toda a glória!

Russell Shedd Ph.D.

Introdução

O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimentoi [...]

Oseias 4:6a

Esta chocante declaração do profeta Oseias, escrita há vários séculos, descreve adequadamente a realidade em que o povo de Deus se encontra nos dias de hoje. Em poucos momentos da história, este versículo foi tão real quanto na atualidade. Vivemos um momento, em que os resultados, as emoções e as experiências pessoais são valorizados acima de tudo. Temos colocado de lado o conhecimento das Sagradas Escrituras, para a nossa própria ruína. Já foi dito que, nem um coração puro e nem intenções corretas nos livram do erro, mas apenas e tão somente a verdade.

Não são muitos os cristãos que já leram a Bíblia por completo.

E, dentre estes, um número menor ainda a leu repetidas vezes. Contudo, um conhecimento fragmentado (ou mesmo completo, porém superficial) da Palavra de Deus não nos livrará do engano. Podemos observar isso, de maneira bem evidente, quando vemos Satanás citando as Escrituras em sua 2ª tentação contra o Filho de Deus no deserto (Mt 4:5-7). Naquela ocasião, o diabo tentou ludibriar Jesus valendo-se da Palavra de Deus, porém citando-a parcialmente e fora de contexto. A resposta magistral de nosso Senhor nos revela a importância deste conhecimento amplo e correto do Livro Sagrado:

i Todas as citações e expressões bíblicas foram extraídas da versão Revista e Atualizada da Tradução de João Ferreira de Almeida publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil, exceto quando outra fonte for indicada.

“Também está escrito...” (Mt 4:7). Sem o conhecimento do “também está escrito”, corremos o risco de sermos enganados com argumentos aparentemente religiosos, como ocorre frequentemente nas seitas e em algumas religiões. Portanto, conhecer passagens famosas e capítulos importantes da Bíblia não é suficiente para nos livrar de erros, mas somente o conhecimento das Escrituras Sagradas em sua totalidade. Sem este conhecimento, seremos facilmente enredados por raciocínios que têm um apelo, não grosseiro e pecaminoso, mas religioso e piedoso.

Se o Novo Testamento não está esquecido, o mesmo não se pode afirmar em relação ao Antigo Testamento. Muitos chegam mesmo a ensinar que não é necessário o seu estudo, pois sua realidade já passou e Nova Aliança foi estabelecida entre Deus e os homens. Porém, esta é uma verdade apenas parcial. Tais “mestres” se esquecem de que os cristãos do Novo Testamento, em sua maioria, possuíam apenas o Antigo Testamento como base para sua fé. O apóstolo Paulo chegou mesmo a dizer que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16,17). A “Escritura” a que o apóstolo está se referindo é exatamente o Antigo Testamento, que sempre foi e ainda é útil para capacitar o homem de Deus. O próprio Jesus disse que a “Escritura” (novamente se referindo apenas ao Antigo Testamento) “não pode falhar” (Jo 10:35). Ele se valeu dela para derrotar seu adversário, citando, em sua tentação no deserto (Mt 4), repetidas vezes, o livro de Deuteronômio.

Prosseguindo com a leitura das palavras do profeta Oseias, podemos ver a imensa responsabilidade dos líderes do povo de Deus:

[...] Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.

Oseias 4:6b

Se o conhecimento das Escrituras é necessário a todo cristão, quanto mais aos líderes do rebanho do Senhor! A declaração do profeta não somente revela o motivo pelo qual os cristãos são derrotados, mas também é uma séria advertência aos ministros da Palavra (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres). A estes foi concedido um grande privilégio e uma enorme responsabilidade: estudar e ensinar a Bíblia. Caso não façam isso, de maneira zelosa, as consequências serão desastrosas, não somente para os que estão debaixo de sua liderança, mas, em especial, para o próprio líder e sua família. Portanto, aqueles, a quem foram confiados os oráculos de Deus, devem se dedicar intensa e constantemente ao estudo das Escrituras para que sejam capacitados a conduzir o rebanho de Deus e a nutrir seus liderados com alimento puro e de qualidade.

Tendo em vista o propósito de auxiliar tanto o povo de Deus, quanto seus líderes espirituais, na compreensão das Escrituras, é que me propus a colocar, nas páginas seguintes, o resultado de muito tempo de estudos. Apesar de saber que vários panoramas bíblicos já foram escritos e publicados, tenho observado que, ou são extensos e de difícil compreensão, ou reduzidos e não oferecem muitos recursos. O meu objetivo é preencher a lacuna, que creio existir entre estes dois extremos; isto é, fazer uma análise breve de cada livro da Bíblia, mas que seja, ao mesmo tempo, rica, não omitindo pontos importantes para uma correta interpretação e compreensão das Sagradas Escrituras. Devo também confessar que esta obra, em grande parte, é fruto de pesquisa e compilação do trabalho de muitos gigantes espirituais da história da Igreja. Pouca coisa é fruto de revelação pessoal, pois o meu objetivo não é acrescentar algo novo e inédito, mas reunir, de maneira didática, todo o vasto depósito que tem sido armazenado no Corpo de Cristo através dos séculos.

Como incentivo final para o estudo da Palavra de Deus, deixo registrado aqui o segredo infalível para uma vida cristã plena e vitoriosa:

Não cesses de falar deste Livro da Lei, antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto

nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido. (Js 1:8)

Bem-aventurado o homem que [...] o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. (Sl 1:1-3)

N’Aquele, que é chamado de “o Verbo de Deus”, André Coelho

Belo Horizonte, novembro de 2012

1

Introdução à BíBliA

A Bíblia é um livro único. Apesar de ser um dos mais antigos e combatidos do mundo, sempre foi e continua a ser um best-seller. É o livro mais traduzido, mais publicado, mais vendido, mais lido, mais citado, o mais importante na civilização ocidental e o que mais influência tem exercido em toda a história da humanidade1.

A palavra “Bíblia” vem do grego “biblos” que significa “livros”. Portanto, a Bíblia não é somente um livro, mas uma pequena biblioteca composta por 66 livros, escritos por 40 autores diferentes, com formações e origens diversas, em várias línguas e locais, ao longo de aproximadamente 1500 anos. Nela encontramos os mais variados estilos literários: biografias, leis, ética, ciência, história, canções, poesia, filosofia, profecia, doutrina e revelação. Apesar de tão variada autoria, origem e conteúdo, este livro apresenta uma extraordinária coerência e uma unidade temática divina.

Divisões Da BíBlia

A Bíblia está dividida em duas partes principais chamadas de “Testamentos”: o Antigo e o Novo. O Antigo é composto por 39 livros e o Novo por 27. A palavra “Testamento” pode ser mais bem traduzida como “Aliança”, ou seja, um pacto/contrato solene entre duas partes, nas quais há privilégios e obrigações de cada lado. O Antigo Testamento apresenta a Aliança que Deus fez com um homem

(Abraão) e sua descendência. O Novo Testamento diz respeito à Nova

Aliança que Deus fez com todas as pessoas que creem em Jesus Cristo como o Unigênito Filho de Deus2. O Antigo Testamento conta a história de uma nação (Israel) e o Novo conta a história de um homem (Jesus Cristo). A nação foi estabelecida e protegida por Deus para que dela, este homem viesse ao mundo3.

antigo Testamento

39 livros (3/4 da Bíblia)

(abrange um período de aproximadamente 4000 anos)

Novo Testamento

27 livros (1/4 da Bíblia) (abrange um período de aproximadamente 100 anos)

Essas duas partes são distintas, mas estão “organicamente” unidas e são interdependentes, de tal forma a comporem uma única história e a falarem de um mesmo tema. O que o Antigo Testamento começa, o Novo Testamento termina. O Novo está contido no Antigo e o Antigo está explicado no Novo4. O Antigo Testamento revela quem realmente somos (pecadores); o Novo mostra o que podemos nos tornar (santos). A ênfase no Antigo é o fazer, no Novo é o ser. No Antigo Testamento, o homem busca a Deus; no Novo, Deus busca o homem5. O Antigo Testamento começa com Deus (Gn 1:1); o Novo começa com Cristo (Mt 1:1)6.

O anseio do Antigo Testamento pode ser expresso nas seguintes palavras: “Ah! Se eu soubesse onde o poderia achar!” (Jó 23:3).

O Novo Testamento revela a plena realização desta busca: “Felipe encontrou a Natanael e disse-lhe: Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno” (Jo 1:45)7.

Assim, vemos que o tema central de toda a Bíblia é a pessoa e obra Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o Messias prometido, o Filho de Deus encarnado. O Antigo Testamento prepara e prediz a primeira vinda de Jesus a este mundo. O Novo Testamento relata seu nascimento, vida, morte, ressurreição, ascensão e a continuidade de sua obra por meio do Espírito Santo que foi enviado do céu. Além disso, anuncia também o seu retorno, isto é, sua segunda vinda em glória, e

seu reinado sobre toda a terra. Segundo Alistair Beggi “no Antigo Testamento temos Jesus profetizado; nos evangelhos, temos Jesus revelado; em Atos, temos Jesus anunciado; nas epístolas, temos Jesus sendo explicado; e no Apocalipse, temos Jesus sendo esperado8”.

Além desta divisão básica da Bíblia em duas partes, há outras formas de dividi-la. O pastor batista Scroggieii descreve a Bíblia como o drama de redenção da humanidade, assim como em uma peça teatral, que é composta por uma introdução, primeiro ato, intervalo, segundo ato e epílogo.

A introdução são os onze primeiros capítulos da Bíblia (Gn 1-11) que nos falam da história primitiva da raça humana; o primeiro ato vai de Gênesis 12 até o final do Antigo Testamento (Malaquias 4) e seus temas principais são a história do povo escolhido e a Lei de Moisés; o intervalo é o período de aproximadamente 400 anos entre o Antigo e o Novo Testamento, período em que Deus silencia e muda todo o “cenário” mundial para que algo novo entre em cena; o segundo ato se inicia em Mateus 1 e termina na epístola de Judas, tendo como temas principais a graça de Jesus Cristo e a história da Igreja; e o epílogo é o livro de Apocalipse, em que temos a consumação de todas as coisas9:

Introdução

A história primitiva da raça humana

Gênesis 1 a 11

1º Ato

A história de Abraão e seus descendentes e a Lei de Moisés

De Gênesis 12 a Malaquias 4

Intervalo (entre testamentos)

2º Ato

A Graça de Jesus Cristo e a história da Igreja

De Mateus 1 a Judas

Epílogo A consumação de todas as coisas apocalipse

Outra forma de se dividir a Bíblia é: (1) da criação até a entrada do pecado no mundo (Gn 1,2); (2) desde a entrada do pecado até a sua completa remoção (Gn 3 a Ap 20); e (3) a consumação do

i Alistair Begg é pastor senior da Igreja Cleveland’s Parkside em Bainbridge, Ohio, Estados Unidos e autor de diversos livros.

ii William Graham Scroggie (1877-1958), inglês, famoso escritor do século XX, autor de diversos livros a respeito das Sagradas Escrituras.

eterno propósito de Deus sem a presença do pecado (Ap 21,22).

Portanto, se quisermos conhecer qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus10, basta ler os dois primeiros e os dois últimos capítulos da Bíblia, pois, nestes quatro capítulos, o pecado não está presente. O que está entre estes dois extremos é um grande parêntesis no plano de Deus, manchado pelo pecado, e de como o Todo-Poderoso resolveu este terrível problema. A grande maravilha que podemos perceber é que Deus, mesmo no meio do imenso estrago causado pelo pecado, prossegue com seus propósitos e, por meio do homem pecador (agora redimido), consegue realizar, com êxito, todo o seu plano eterno. Realmente podemos nos valer das palavras de Jó: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado (42:2).

Princípio sem PECADO

Gênesis 1 e 2

Grande parêntesis com a presença do PECADO (suas consequências e solução)

Gênesis 3 a Apocalipse 20

Final sem PECADO

Apocalipse 21 e 22

Finalmente, podemos também dividir a Bíblia como o relato de três histórias principais: (1) de Adão a Abraão, temos a história da raça humana; (2) de Abraão a Cristo, a história do povo escolhido; e (3) de Cristo em diante, a história da igreja11:

De Adão a Abraão

História da raça humana

Gênesis 1 a 11

De Abraão a Cristo História do povo escolhido

Gênesis 12 a Malaquias 4

De Cristo em diante

História da Igreja

Mateus 1 a apocalipse 22

2

Introdução ao Antigo testAmento

Personagens principais ADÃO / ABRAÃO / MOISÉS / DAVI

locais principais ÉDEN / EGITO / SINAI / CANAÃ / JERUSALÉM

Palavra-chave LEI

Tema A História de Israel

versículo-chave

Hebreus 1:1 Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, [...]

O Antigo Testamento é o nome que os cristãos dão à primeira parte da Bíblia e é formado pelos livros de Gênesis a Malaquias. Estes livros compõem as Escrituras Sagradas do povo judeu, a “Bíblia Hebraica”. É uma pequena biblioteca composta por 39 livros (929 capítulos / 23.147 versículos1), escrito em Hebraico (em sua maior parte) e Aramaico (apenas 11 capítulosi), abrangendo mais de 4.000 anos de história. O Antigo Testamento se inicia com a criação do universo pelas mãos de Deus, prossegue descrevendo os feitos do Eterno no e por meio de seu povo escolhido e termina com o retorno do povo de Israel do cativeiro na Babilônia (cerca de 400 anos antes do nascimento de Jesus)2. O tema principal é a

i Os trechos em aramaico no Antigo Testamento são os seguintes: Ed 4:8 a 6:18 / Ed 7:12-26 / Jr 10:11 / Dn 2:4 a 7:28.

Antiga Aliança que Deus, por meio dos patriarcas e de Moisés, fez com seu povo escolhido (Israel).

No início da história da Igreja, as Escrituras do Antigo Testamento eram os únicos textos sagrados que Jesus e os cristãos possuíam.

O Novo Testamento declara, repetidas vezes, sua inspiração divina: Jo 10:35 / 2Tm 3:16,17 / Hb 1:1 / 2Pe 1:19-21.

Cristo no antigo Testamento

Conforme palavras do próprio Jesus, a sua Pessoa pode ser encontrada de muitas formas (em tipos, figuras e símbolos) representada no Antigo Testamento:

A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. (Lc 24:44)

Em Gênesis, Jesus é visto como o “descendente da mulher” que ferirá a cabeça da serpente (3:15); em Êxodo, ele é representado pelo “cordeiro pascal” que foi morto para nos salvar (12:3-13); em Levítico, o “novilho sem defeito oferecido como oferta pelo pecado” para fazer expiação pelas nossas almas (4:3); em Números, a “rocha que foi ferida” para dessedentar o povo escolhido (20:11); em Deuteronômio, o “profeta” que haveria de vir a este mundo (18:15,18); em Josué, o “príncipe do exército do SENHOR” que nos garante a vitória em nossas batalhas (5:14); em Juízes, o “Anjo do SENHOR” que levanta libertadores para seu povo (6:11-24); em Rute, o “resgatador” divino de nossas vidas (3:9); nos livros de Samuel, o “rei” escolhido por Deus que fará toda a vontade divina (1Sm 16:1); nos livros de Reis, o verdadeiro “herdeiro do trono de Davi” (1Rs 2:12); nos livros de Crônicas, o Deus fiel que cumpre a promessa de manter sempre um “descendente de Davi no trono” (2Cr 21:7); em Esdras, o “escriba versado” , aquele que ensina ao povo a lei de Deus (7:6,10); em Neemias, o “reparador e edificador” de nossas vidas em ruínas (2:3-5); em Ester, a “providência divina” que nos livra da morte (4:14); em Jó, o “Redentor que vive”, a nossa esperança no meio da tribulação (19:25);

em Salmos, o “pastor” que nos guia aos pastos verdejantes (23:1,2); em Provérbios, a “sabedoria” personificada (8:1-36); em Eclesiastes, o “Pregador” que nos ensina que tudo é vaidade, exceto o temor a Deus (12:9-14); em Cantares, o “amado” que estende sobre nós seu estandarte de amor (2:4); em Isaías, o “Servo” sofredor que justificará a muitos levando sobre si as iniquidades deles (53:11); em Jeremias, o “Renovo” que reinará e executará juízo e justiça na terra (23:5); em Lamentações, o que nos “consola” no meio da desolação (3:22-33); em Ezequiel, a “figura semelhante a homem” que está assentado no trono celestial (1:26-28); em Daniel, o “quarto homem” andando no meio do fogo (3:25); em Oseias, o “esposo” traído que busca de volta sua mulher infiel (3:1), ou seja, Aquele que nos aceita mesmo depois de o termos abandonado; em Joel, a “salvação” de todo o que o invocar (2:32); em Amós, o “fogo consumidor” que julgará os ímpios (1:4,7,10,12,14); em Obadias, aquele que “derruba” os inimigos do povo de Deus (v.4); em Jonas, o Deus da “segunda chance” (3:1); em Miqueias, o “Rei” que vai adiante de seu povo abrindo caminho (2:13); em Naum, a “fortaleza no dia da angústia” (1:7); em Habacuque, a “Rocha” da nossa salvação (1:12 / 3:18); em Sofonias, o “Rei” que está no meio do seu povo (3:17), poderoso para salvar; em Ageu, o que “abala o céu e a terra” para encher de glória a sua casa (2:6,7); em Zacarias, o “Rei” justo, salvador e humilde que vem montado em um jumentinho (9:9); e em Malaquias, o “Mensageiro da Aliança” (3:1).

Segundo Thomas Adamsii, “Cristo é o resumo de toda a Bíblia, profetizado, tipificado, prefigurado, exibido, demonstrado, presente em cada folha, quase em cada linha, sendo as Escrituras, por assim dizer, como as faixas que envolveram o menino Jesus”3.

Divisões do antigo Testamento

Os livros do Antigo Testamento da Bíblia Protestante não estão organizados em ordem cronológica, mas tematicamente, e podem ser divididos em quatro partes principais: LEI, HISTÓRIA, SABEDORIA e PROFECIA.

ii Thomas Adams (1583-1652) nasceu na Inglaterra, foi um conceituado pregador calvinista, também chamado “o Shakespeare dos puritanos”.

Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio

Josué Juízes

Rute

1 e 2 Samuel

1 e 2 Reis

1 e 2 Crônicas

Esdras

Neemias Ester

Jó

Salmos

Provérbios

Eclesiastes

Cantares

Isaías / Jeremias

Lamentações

Ezequiel / Daniel

Oseias / Joel / Amós

Obadias / Jonas

Miqueias / Naum

Habacuque

Sofonias / Ageu

Zacarias / Malaquias

Porém, na Bíblia Hebraica, a divisão é diferente4:

Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio

Josué / Juízes / Samuel

Reisiv/ Isaías / Jeremias

Ezequiel / Os Dozev

impérios Mundiais dos tempos Bíblicos

Salmos / Provérbios / Jó

Cantares / Rute

Lamentações / Eclesiastes

Ester / Daniel

Esdras-Neemias / Crônicas

A história do povo de Deus, no Antigo Testamento, desenvolve-se paralelamente à ascensão e queda de vários impérios mundiais. Para uma compreensão mais adequada da narrativa bíblica, é necessário conhecermos esses impérios e sua época de domínio5:

iii Em Lc 24:44 esta 3ª parte é chamada de “Salmos”, pois este livro é o primeiro desta divisão.

iv Os livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis são chamados de “Profetas Anteriores”.

v Os livros de Isaías, Jeremias, Ezequiel e “Os Doze” são chamados de “Profetas Posteriores”.

O Livro “Os Doze” se refere ao conjunto dos doze profetas menores: Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Império Egípcio (capital: Mênfis/Tebas) - 2000 a 1200 a.C.

Residência e cativeiro do povo escolhido por 430 anos.

Império Assírio (capital: Nínive) - 1080 a 620 a.C.

Conquistou e deportou as 10 tribos do norte (Israel) em 722 a.C.

Império Babilônico (capital: Babilônia) - 620 a 537 a.C.

Invadiu as duas tribos do sul (Judá) e destruiu Jerusalém em 586 a.C., tendo levado cativo o povo judeu para a Babilônia por 70 anos.

Império Persa (capital: Susã) - 537 a 333 a.C.

Permitiu a volta dos judeus para a terra prometida e a reedificação de Jerusalém.

Império Grego (capital: Atenas) - 333 a 64 a.C.

Período intertestamentário. Seu legado cultural foi o helenismo.

Império Romano (capital: Roma) - 63 a.C. a 636 d.C.

Período intertestamentário e de todo o Novo Testamento.

Graficamente, podemos visualizar estes impérios em sua sequencia e extensão cronológica, da seguinte forma:

Cronologia do antigo Testamento

Cronologicamente, o Antigo Testamento se inicia em Gênesis e termina no livro de Neemias. Portanto, os livros das duas primeiras partes (LEI e HISTÓRIA) estão dispostos como um relato histórico contínuo (com algumas exceçõesvi). A terceira parte (SABEDORIA) está agrupada tematicamente e pertence à época de apogeuvii da nação

vi As exceções são: (1) O livro de Rute está inserido dentro da história de Juízes (livro anterior); (2) Os dois livros de Crônicas são um resumo seletivo desde Gênesis até o livro anterior (2Rs); (3) O livro de Ester está inserido historicamente dentro do livro de Esdras. vii Com a exceção do livro de Jó, que está situado na época dos patriarcas, no livro de Gênesis.

de Israel. A quarta parte (PROFECIA) reúne os escritos proféticos e se encaixa, em sua maior parteviii, na época em que a nação foi dividida em duas (Israel e Judá).

Portanto, as quatro partes do Antigo Testamento estão dispostas cronologicamente da seguinte maneira:

Diferenças de forma e conteúdo do antigo Testamento

Os livros do Antigo Testamento da Bíblia Protestante são os mesmos da Bíblia Hebraica. Porém, quanto à forma, na Bíblia Hebraica, o Antigo Testamento é composto por 24 livros e na Bíblia Protestante há 39 livros. Esta diferença de 15 livros é devido à divisão de alguns livros da Bíblia Hebraica para a Bíblia Protestante:

Bíblia Hebraica Bíblia Protestante

Samuel → 1Samuel / 2Samuel

Reis → 1Reis / 2Reis

Crônicas → 1Crônicas / 2Crônicas

Esdras → Esdras / Neemias

Os Doze Profetas → Oseias / Joel / Amós / Obadias

Jonas / Miqueias / Naum / Habacuque

Sofonias / Ageu / Zacarias / Malaquias

viii Os 3 últimos livros proféticos (Ag / Zc / Ml) estão situados após o cativeiro na Babilônia.

Quanto ao conteúdo, algumas versões antigas da Bíblia (Septuagintaix e Vulgatax) incluem, no Antigo Testamento, alguns livros que não se encontram na Bíblia Hebraica de Israel e nem na Bíblia Protestante6. A Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja

Ortodoxa Grega os aceitam e os chamam de “Deuterocanônicos”, isto é, pertencentes a um “segundo cânonxi”, sendo que os Protestantes os chamam de “apócrifosxii”. Todos estes livros foram escritos no período intertestamentário e são os seguintes:

1º Esdras

Judite Tobias

Livros de Macabeus

Oração de Manassés

Sabedoria de Salomão

Eclesiástico

Baruque

Acréscimos a Daniel Acréscimos a Ester

Carta de Jeremias

Salmos de Salomãoxiii

ix Tradução do Antigo Testamento para o grego, realizada em Alexandria (no Egito) em aproximadamente 200 a.C., para atender aos judeus que haviam se espalhado por todo o mundo mediterrâneo. Muitos destes judeus já não conheciam o hebraico, mas somente o grego. O nome “Septuaginta” em latim significa “setenta”, pois, segundo a tradição, setenta estudiosos realizaram esta tradução. Ela foi a primeira de todas as traduções da Bíblia. Praticamente todas as citações no Novo Testamento de trechos do Antigo Testamento foram retiradas da Septuaginta (MILLER, 2006, p.49)

x Tradução da Bíblia para o latim (língua oficial do Império Romano), realizada por Jerônimo, em 405 d.C., para atender os cristãos da época, que não conheciam nem o hebraico do Antigo Testamento, nem o grego do Novo Testamento. Ela recebeu este nome por ter sido traduzida para a língua comum (ou vulgar - de onde vem a palavra latina “vulgata”) dos cristãos da época. Foi a Bíblia oficial da Igreja Católica Apostólica Romana por mais de 1500 anos.

xi A palavra “cânon” tem o significado de “padrão de medida” ou “referência” e é usada para designar a lista oficial de livros considerados como autênticos, sagrados e divinamente inspirados, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento.

xii A palavra “apócrifo” que, em grego, significa “oculto”, com o passar do tempo, adquiriu o sentido de “sem autenticidade” ou “falso”, ou seja, que não eram divinamente inspirados. Estes livros foram escritos no chamado “período intertestamentário” (400 a 6 a.C.).

xiii Considerado como livro “Pseudepígrafo”, palavra que significa “falso autor”, ou seja, que foi escrito por alguém, mas sua autoria foi atribuída a outra pessoa, geralmente algum autor importante, com o objetivo de dar credibilidade à obra.

Este livro deve alegrar os corações de milhares de leitores que se identificam como cristãos evangélicos, mas que têm pouquíssima ideia do conteúdo do Livro sobre o qual a doutrina e a prática cristã se fundamentam. A Bíblia é o livro mais vendido no Brasil; mesmo assim, a maioria dos seus donos carece de um conhecimento rudimentar do Livro dos livros.

Russell Shedd Ph.D.

Agora, você tem em mãos, um livro repleto de informações detalhadas e panorâmicas, para iniciantes e estudiosos, para alunos e professores da Bíblia. Não conheço outro livro, em português, que demonstre tanta criatividade na transmissão de tão amplo conhecimento da Bíblia e de maneira tão fácil de assimilar. Somente folhear o livro confirmará a minha opinião sobre a singular qualidade didática deste estudo panorâmico da Bíblia.

Além dos incontáveis fatos relacionados com a origem, autoria e conteúdo, acompanhados de quadros, mapas e outros meios de ensino, o autor aproveitou a oportunidade para passar algumas lições interpretativas baseadas nas histórias do Antigo Testamento.

Quero oferecer os meus parabéns ao Pr. André Coelho pelas muitas qualidades e informações deste manual. Recomendado a leitores, professores, curiosos e a todos os que se sentem carentes de um conhecimento do Livro que mais influenciou nossa civilização ocidental!

ISBN: 978-85-8064-077-9

páginas em papel offset 75 gr/m2