Conteúdo para provas 1ªsérie 2ºbimestre 2015

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Filosofia – 1a série – Volume 1

SItUAçãO DE APRENDIzAgEM 4 ÁREAS DA FIlOSOFIA para observação e comparação de hipóteses); humanos (conflitos sociais e políticos que impedem ou retardam algumas descobertas).

2. Proposta de conceito de Epistemologia Epistemologia (também chamada Teoria da Ciência) é uma parte da Filosofia da Ciência que está relacionada à natureza do conhecimento científico e seus grandes problemas, entre os quais: como, e em que condições é possível conhecer? Existe a certeza absoluta do conhecimento? Se existe, como, e em que condições? Quais são as características do conhecimento dentre as Ciências Naturais, as Ciências Humanas e as Ciências Formais?

Epistemologia 1. Questões introdutórias a) Nós devemos confiar na Ciência? Escreva três motivos que comprovem sua opinião.

Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência – CLE/Unicamp. Disponível em: <http://www. unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2007/ ju375pag05.html>. Acesso em: 12 jul. 2013.

Os exemplos são maneiras de aproximar a teoria da vida dos alunos. A Ciência não explica tudo. Ela tem limites, mas é o conhecimento mais adequado desenvolvido pela razão humana para tentar resolver os seus problemas. Só é científico o conhecimento que garante a sua validade.

3. Texto de apoio

b) Quem faz a Ciência? Como se forma um cientista?

Em primeiro lugar, é preciso saber formular problemas. E, digam o que disserem, na vida científica, os problemas não se formulam de modo espontâneo. É justamente esse sentido do problema que caracteriza o verdadeiro espírito científico. Para o espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico.

A Ciência é produzida por pesquisadores em diferentes campos do conhecimento. No Brasil, a produção científica é predominantemente produzida nas universidades e em centros de pesquisas associados a indústrias. A localização social do sujeito da Ciência convida a refletir sobre ela como uma atividade humana capaz de grandes proezas e de erros.

c) A Ciência é importante? Por quê?

BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 18.

A produção científica é importante quando beneficia a humanidade. A Filosofia discute, inclusive, duas questões diretamente associadas à importância da Ciência: uma diz respeito ao acesso desigual aos benefícios científicos e a outra refere-se ao fato de que nem toda a produção científica

Teoria do Conhecimento

é favorável à humanidade.

d) A Ciência tem limites? Quais?

1. Questões introdutórias

Os limites da Ciência são os conhecimentos racionais e expe-

a) O que é conhecer?

rimentais (empíricos), pois, fora deles, a Ciência nada pode

Criar uma representação, a mais próxima possível, da realidade.

afirmar. Alguns limites: tecnológicos (aparelhos insuficientes

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b) Como podemos conhecer?

o bem é, às vezes, algo difícil, mas melhora nossas relações

Podemos conhecer quando realizamos atividades intelectuais

de convivência.

sobre nossas sensações e sobre as ideias que nos informam.

2. Proposta de conceito de Ética

2. Proposta de conceito de Teoria do Conhecimento

Ética é uma investigação sobre os princípios que motivam, justificam ou orientam as ações humanas, refletindo sobre os fundamentos dos valores sociais e historicamente construídos.

A Teoria do Conhecimento é uma investigação sobre as diversas maneiras pelas quais podemos conhecer as coisas e as relações que os conhecimentos podem estabelecer ou estabelecem. Por exemplo, memória, expe­riências dos sentidos, analogias, reflexão, realidade, imaginação e outros. O seu problema principal é como o sujeito se relaciona com o objeto de conhecimento.

3. Texto de apoio Agora, algo como felicidade, acima de tudo, é dado como algo em si; por isso nós sempre a escolhemos por si mesmo e nunca por outro motivo, enquanto honra, prazer, razão e todas as virtudes são escolhidas em função de si mesmas (pois se nada resultasse delas ainda assim deveríamos escolher todas), mas também as escolhemos em função da felicidade, julgando que por meio de todas elas seremos felizes. Felicidade, por outro lado, não é escolhida por ninguém em função das demais virtudes e, em geral, por nenhuma outra razão que não ela própria.

3. Texto de apoio Conhecer uma realidade é, no sentido usual da palavra “conhecer”, tomar conceitos já feitos, dosá-los, e combiná-los em conjunto até que se encontre um equivalente prático do real. BERGSON, Henri. O pensamento e o movente. Tradução Bento Prado Neto. São Paulo: Martins Fontes, 2006. (Tópicos).

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/ texto/mc000011.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2013. Tradução Eloisa Pires.

Ética 1. Questões introdutórias

Política

a) Como saber qual é a melhor atitude a ser tomada?

1. Questões introdutórias a) Quais são as melhores leis?

Existem várias maneiras de se tentar fazer o bem, mas para encontrar a maneira mais adequada precisamos, sempre,

As melhores leis são aquelas que beneficiam todos, permi-

treinar a nossa reflexão racional, pois há situações em que

tem a construção da liberdade no convívio com o outro e

uma atitude mal pensada pode trazer prejuízo para nós e para

são conhecidas por todos. Cada lei deve levar em considera-

muitas outras pessoas.

ção as necessidades das pessoas.

O bem é algo a ser construído para podermos enfrentar

b) Como podemos conviver com as outras pessoas sem violência?

os problemas que encontramos na sociedade ou em nós

Podemos conviver com outras pessoas sem violência agindo

mesmos. Pensar em boas atitudes é lutar contra os sofrimentos que, eventualmente, enfrentamos. É certo que fazer

de maneira sensata em todas as dimensões. A maneira sen-

b) Qual é a importância de se fazer o bem?

sata de agir consiste, em primeiro lugar, em escolher os

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Filosofia – 1a série – Volume 1

2. Proposta de conceito de Filosofia da História

governantes que se preocupem, sinceramente, com a educação e que demonstrem sensibilidade em relação às necessidades das pessoas e à qualidade de vida em geral.

Filosofia da História é uma área de investigação da Filosofia, que se preocupa com a relação dos homens com o tempo, com seus processos culturais e sociais. Além disso, preocupa-se com o significado do desenvolvimento das sociedades e da racionalidade.

2. Proposta de conceito de Política Política é a investigação filosófica sobre qual é o melhor governo, o que é justiça e como deve ser o comportamento das pessoas em suas relações de convivência.

3. Texto de apoio 3. Texto de apoio Não houve, portanto, um tempo em que nada fizeste, porque o próprio tempo foi feito por ti. E não há um tempo eterno contigo, porque tu és estável, e se o tempo fosse estável não seria tempo. O que é realmente o tempo? Quem poderia explicá-lo de modo fácil e breve? Quem poderia captar o seu conceito, para exprimi-lo em palavras? No entanto, que assunto mais familiar e mais conhecido em nossas conversações? Sem dúvida, nós o compreendemos quando dele falamos, e compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. Por conseguinte, o que é o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se quero explicá-lo a quem me pergunta, então não sei. No entanto, posso dizer com segurança que não existiria um tempo passado, se nada passasse; e não existiria um tempo futuro, se nada devesse vir; e não haveria o tempo presente se nada existisse. De que modo existem esses dois tempos – passado e futuro –, uma vez que o passado não mais existe e o futuro ainda não existe? E quanto ao presente, se permanecesse sempre presente e não se tornasse passado, não seria mais tempo, mas eternidade. Portanto, se o presente, para ser tempo, deve tornar-se passado, como poderemos dizer que existe, uma vez que a sua razão de ser é a mesma pela qual deixará de existir? Daí não podemos falar verdadeiramente da existência do tempo, senão enquanto tende a não existir.

De resto, se o primeiro dever do homem de Estado é conhecer a constituição, que, considerada geralmente como a melhor, possa estender-se à maior parte das cidades, é preciso confessar que na maioria das vezes os teóricos políticos, mesmo dando provas de grande talento, se equivocaram em pontos capitais; porque não basta imaginar um governo perfeito; é necessário, sobretudo, um governo praticável, que possa ser facilmente aplicado em todos os Estados. ARISTÓTELES. Política. Disponível em: <http://www. dominiopublico.gov.br/download/texto/bk000426.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2013. Tradução Maria Lucia de Oliveira Marques.

Filosofia da História 1. Questões introdutórias a) O que é o tempo? Responder o que é o tempo é uma das questões mais difíceis do nosso intelecto e da própria Filosofia. Em geral, dizemos que tempo é o meio no qual se desenrolam os acontecimentos e o lugar das possibilidades.

b) O que é história humana? A história humana pode ter vários significados. Em geral, ela

SANTO AGOSTINHO. Confissões. Tradução Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 2002. p. 342-343.

é pensada como passado, desejo de futuro, tradições, compreensão das relações sociais no tempo e no espaço e como objeto de investigação da História.

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Estética 1. Questões introdutórias a) Quais são os critérios para identificarmos uma obra de arte? Os critérios são historicamente definidos, isto é, cada cultura valida critérios para a sua produção artística.

b) Existe um padrão de beleza universal válido para todas as culturas? Assim como a arte, a beleza depende de valores culturais e históricos para ser definida, por isso, não se pode falar em um único padrão válido para toda a humanidade.

2. Proposta de conceito de Estética A estética tem como temas o estudo dos critérios e problemas sobre processos de criação artística. Problematiza os valores estéticos e as relações entre forma e conteúdo, bem como a importância da arte para as sociedades humanas.

3. Texto de apoio Pode-se também pensar em uma perfeição estética, que contenha o fundamento de uma satisfação subjetivamente universal, isto é, a beleza: o que agrada os sentidos na intuição e, precisamente por isso, pode ser o objeto de uma satisfação universal. KANT, Immanuel. Manual dos cursos de Lógica Geral. Tradução Fausto Castilho. 2. ed. bilíngue. Campinas: Editora da Unicamp; Uberlândia: Edufu, 2003. p. 75-77.

Metafísica de Aristóteles No conjunto de obras denominado Metafísica, Aristóteles buscou investigar o “ser enquanto ser”. Significa que buscou compreender o que tornava as coisas o que elas são. Nesse sentido, as características das coisas apenas nos mostram como as coisas estão, mas não definem ou determinam o que elas são. É preciso investigar as condições que fazem as coisas existirem, aquilo que determina “o que” elas são e aquilo que determina “como” são.

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Em sua metafísica, Aristóteles fala acerca dos primeiros princípios. Os primeiros princípios dizem respeito aos princípios lógicos, a saber: o princípio de identidade, da não contradição e do terceiro excluído. O princípio de identidade é autoevidente e determina que uma proposição é sempre igual a ela. Disto pode-se afirmar que A=A. O princípio da não contradição afirma que uma proposição não pode, ao mesmo tempo, ser falsa e verdadeira. Não se pode propor que um triângulo possui e não possui três lados, por exemplo. O princípio do terceiro excluído afirma que ou uma proposição é verdadeira ou é falsa, e não há uma terceira opção viável. Tais princípios, deste modo, garantem as condições que asseguram a realidade das coisas. Além dos princípios, de acordo com Aristóteles, existem quatro causas fundamentais que também são condições necessárias para que as coisas existam. As causas são: material, formal, eficiente e final. A causa material é a matéria da qual é feita a essência das coisas. A causa formal diz respeito à forma da essência. A causa eficiente é aquela que explica como a matéria recebeu determinada forma. A causa final é aquela que determina a finalidade das coisas existirem e serem como são. Para compreender a conceituação das causas, pode-se pensar numa pedra que rola a montanha. A causa material é o minério da pedra, a causa formal é a inclinação da montanha, a causa eficiente é o empurrão feito na pedra e a causa final é a vontade da pedra de atingir o nível mais baixo. Assim, os primeiros princípios e as quatro causas são as condições básicas para que as coisas existam e possam ser conhecidas. Disto, Aristóteles investiga sobre “o que” as coisas são. Nesse ponto, visa superar a ideia de seus antecessores, principalmente Platão, que afirmava que a essência das coisas está num mundo inteligível. Para Aristóteles, a essência das coisas está nas próprias coisas e não separada num mundo das formas e ideias perfeitas, isto é, a essência está na substância. A substância, para ele, é a fusão da matéria com a forma. Uma escultura de madeira, por exemplo, é a fusão da madeira (matéria) com o projeto do artesão (forma). A partir dessa concepção, era ainda necessário que Aristóteles desse conta do problema do movimento, pois a substância possui a matéria – que está em constante movimento (transformação) – e a forma (que é imóvel). Para superar tal problema, ele usa a ideia de potência e ato. As substâncias possuem potencial para aquilo que ocorre com elas. Pode-se dizer que a gasolina, por exemplo, é inflamável. Significa afirmar que ela possui potencial para pegar fogo, porém é preciso pelo menos uma faísca para que a potência se torne realidade, ato. Com isto, a metafísica de Aristóteles visa mostrar que o Estar em movimento possui mais importância do que o Ser imóvel de Platão. 06/11/13 17:07


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Epistemologia

Leitura e análise de texto Epistemologia (também chamada Teoria da Ciência) é uma parte da Filosofia da Ciência que está relacionada à natureza do conhecimento científico e seus grandes problemas, entre os quais: como, e em que condições é possível conhecer? Existe a certeza absoluta do conhecimento? Se existe, como, e em que condições? Quais são as características do conhecimento dentre as Ciências Naturais, as Ciências Humanas e as Ciências Formais? Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência – CLE/Unicamp. Disponível em: <http://www.unicamp.br/ unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2007/ju375pag05.html>. Acesso em: 12 jul. 2013.

Em primeiro lugar, é preciso saber formular problemas. E, digam o que disserem, na vida científica, os problemas não se formulam de modo espontâneo. É justamente esse sentido do problema que caracteriza o verdadeiro espírito científico. Para o espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico. BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 18.

Conhecer uma realidade é, no sentido usual da palavra “conhecer”, tomar conceitos já feitos, dosá-los, e combiná-los em conjunto até que se encontre um equivalente prático do real. BERGSON, Henri. O pensamento e o movente. Tradução Bento Prado Neto. São Paulo: Martins Fontes, 2006. (Tópicos).

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1. Após a leitura dos textos, debata com seus colegas e responda às questões a seguir: a) Nós devemos confiar na Ciência? Escreva três motivos que comprovem sua opinião. A Ciência não explica tudo. Ela tem limites, mas é o conhecimento mais adequado desenvolvido pela razão humana para tentar resolver os seus problemas. Só é científico o conhecimento que garante a sua validade. b) Quem faz a Ciência? Como se forma um cientista? A Ciência é produzida por pesquisadores em diferentes cam-pos do conhecimento. No Brasil, a produção científica é pre-dominantemente produzida nas universidades e em centros de pesquisas associados a indústrias. A localização social do sujeito da Ciência convida a refletir sobre ela como uma ati-vidade humana capaz de grandes proezas e de erros.

c) A Ciência é importante? Por quê? A produção científica é importante quando beneficia a humanidade. A Filosofia discute, inclusive, duas questões diretamente associadas à importância da Ciência: uma diz respeito ao acesso desigual aos benefícios científicos e a outra refere-se ao fato de que nem toda a produção científica é favorável à humanidade.

d) A Ciência tem limites? Quais? Os limites da Ciência são os conhecimentos racionais e expe-rimentais (empíricos), pois, fora deles, a Ciência nada pode afirmar. Alguns limites: tecnológicos (aparelhos insuficientes para observação e comparação de hipóteses); humanos (conflitos sociais e políticos que impedem ou retardam algu-mas descobertas). 2. Leia os textos apresentados e discuta as seguintes questões: a) O que é conhecer? b) Como podemos conhecer?

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Metafísica de Aristóteles 4 causas 10 categorias No conjunto de obras denominado Metafísica, Aristóteles buscou investigar o “ser enquanto ser”. Significa que buscou compreender o que tornava as coisas o que elas são. Nesse sentido, as características das coisas apenas nos mostram como as coisas estão, mas não definem ou determinam o que elas são. É preciso investigar as condições que fazem as coisas existirem, aquilo que determina “o que” elas são e aquilo que determina “como” são. Em sua metafísica, Aristóteles fala acerca dos primeiros princípios. Os primeiros princípios dizem respeito aos princípios lógicos, a saber: o princípio de identidade, da não contradição e do terceiro excluído. O princípio de identidade é autoevidente e determina que uma proposição é sempre igual a ela. Disto pode-se afirmar que A=A. O princípio da não contradição afirma que uma proposição não pode, ao mesmo tempo, ser falsa e verdadeira. Não se pode propor que um triângulo possui e não possui três lados, por exemplo. O princípio do terceiro excluído afirma que ou uma proposição é verdadeira ou é falsa, e não há uma terceira opção viável. Tais princípios, deste modo, garantem as condições que asseguram a realidade das coisas. Além dos princípios, de acordo com Aristóteles, existem quatro causas fundamentais que também são condições necessárias para que as coisas existam. As causas são: material, formal, eficiente e final. A causa material é a matéria da qual é feita a essência das coisas. A causa formal diz respeito à forma da essência. A causa eficiente é aquela que explica como a matéria recebeu determinada forma. A causa final é aquela que determina a finalidade das coisas existirem e serem como são. Para compreender a conceituação das causas, pode-se pensar numa pedra que rola a montanha. A causa material é o minério da pedra, a causa formal é a inclinação da montanha, a causa eficiente é o empurrão feito na pedra e a causa final é a vontade da pedra de atingir o nível mais baixo. Assim, os primeiros princípios e as quatro causas são as condições básicas para que as coisas existam e possam ser conhecidas. Disto, Aristóteles investiga sobre “o que” as coisas são. Nesse ponto, visa superar a ideia de seus antecessores, principalmente Platão, que afirmava que a essência das coisas está num mundo inteligível. Para Aristóteles, a essência das coisas está nas próprias coisas e não separada num mundo das formas e ideias perfeitas, isto é, a essência está na substância. A substância, para ele, é a fusão da matéria com a forma. Uma escultura de madeira, por exemplo, é a fusão da madeira (matéria) com o projeto do artesão (forma). A partir dessa concepção, era ainda necessário que Aristóteles desse conta do problema do movimento, pois a substância possui a matéria – que está em constante movimento (transformação) – e a forma (que é imóvel). Para superar tal problema, ele usa a ideia de potência e ato. As substâncias possuem potencial para aquilo que ocorre com elas. Pode-se dizer que a gasolina, por exemplo, é inflamável. Significa afirmar que ela possui potencial para pegar fogo, porém é preciso pelo menos uma faísca para que a potência se torne realidade, ato. Com isto, a metafísica de Aristóteles visa mostrar que o Estar em movimento possui mais importância do que o Ser imóvel de Platão.

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4 Causas do SER Quadro sobre a investigação do ser das coisas

As quatro causas da existência das coisas ou os fundamentos

o que você quer saber o que é?

Lápis

Qual é a causa material? (de que é feito?)

O lápis é feito de madeira e grafite.

Qual é a causa formal? (Qual é a forma?)

O lápis é cilíndrico e é pontiagudo em uma das extremidades.

Qual é a causa eficiente, ou quem une a forma com a matéria? (Quem fez?)

O operador da máquina de fazer lápis.

Qual é a causa final? (Por que foi feito?)

Para escrever e poder apagar depois, se for necessário.

Quadro 4.

Depois de conhecer as quatro causas das coisas, ou fundamentos, o alienígena superinteligente conseguiu entender o que era um lápis, o que não seria possível apenas vendo um ou ouvindo você falar somente da utilidade, da forma ou da matéria.

Agora que você explicou a proposta, peça aos alunos que repitam o exercício, aplicando-o na explicação de outros “seres”, como aqueles apresentados no quadro a seguir. Note que são apenas exemplos e que o aluno pode se propor a investigar outras coisas, de acordo com a sua experiência individual.

Quadro sobre a investigação do ser das coisas

As quatro causas da existência das coisas ou os fundamentos

O que você quer saber o que é?

Eu mesmo

O amor

O estudo

Qual é a causa material? (De que é feito?)

Carne, ossos, sangue...

Gestos, carinho, compreensão, amizade, ajuda...

Leituras, exercícios, dedicação, descobertas, paciência...

Qual é a causa formal? (Qual é a forma?)

Alma.

Desejo de estar junto e fazer o outro feliz.

Desenvolvimento.

Qual é a causa eficiente, ou quem une a forma com a matéria? (Quem fez?)

Meu pai e minha mãe.

O conhecimento do outro.

O aluno.

Qual é a causa final? (Por que foi feito?)

Fui feito para me desenvolver e ser feliz.

Para ajudar o outro a ser feliz.

Para aprender e crescer, como ser humano, em busca da felicidade.

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10 Categorias do SER Substância

Constituída de matéria e forma.

Lápis (madeira e grafite, em forma de cilindro).

Qualidade

Qualidades e defeitos.

O lápis é vermelho e bonito, mas está difícil de apontar, porque a grafite não está bem centralizada e a ponta quebra a cada tentativa.

Quantos? Muito ou pouco?

Pouco: apenas um.

Como ele é em relação às outras coisas?

Ele é mais comprido do que a borracha e escreve menos forte do que a caneta.

O que ele faz?

Serve para desenhar, escrever ou apagar palavras e números.

Como ele se desgasta?

Ele se desgasta sendo apontado, pelo uso e pela umidade, que pode apodrecê-lo.

Onde ele está? Em que lugar fica, em geral, ou onde está agora?

Ele está na sala de aula, mas, em geral, podemos encontrá-lo em papelarias e escritórios.

Tempo

Quando e quanto tempo?

Hoje.

Posse

O que ele possui?

Possui borracha na extremidade.

Como ele está ou fica?

Deitado.

Quantidade Relação Ação Passividade Onde

Posição

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Os princípios da Lógica

Lógica é o estudo sistemático do pensamento dedutivo, que permite construir argumentos corretos nas ciências naturais, nas ciências humanas e nas ciências formais, possibilitando também distinguir os argumentos corretos dos incorretos.

Princípio do do terceiro excluído O último princípio é o do terceiro excluído: uma vez que afirmamos alguma coisa sobre um ser, só podemos dizer se ele “é” aquilo que afirmamos ou se ele “não é” aquilo que afirmamos. Não há outra resposta: o que nós falamos sobre o lápis, em cada uma das categorias, é ou não é; não há outra saída.

Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência – CLE/Unicamp. Disponível em: <http://www. unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2007/ ju375pag05.html>. Acesso em: 12 jul. 2013.

Princípio da Identidade O primeiro princípio da razão, é o princípio da identidade, de acordo com o qual um ser é sempre idêntico a ele mesmo. O primeiro lápis só é igual a ele mesmo, não é lógico? O lápis em questão só pode ser o lápis em questão.

identificar as contradições Para permitir a visualização do conteúdo, que está no Caderno do Aluno, você deverá identificar as contradições.

Princípio da Não Contradição O segundo princípio da razão, o princípio da não contradição: os seres não podem “ser” e “não ser” sob as mesmas condições. No caso do lápis, pode- se dizer que, se afirmarmos uma coisa sobre ele, não podemos dizer o contrário. Não podemos negar uma categoria que foi falada sobre o lápis. Por exemplo, se dissemos que o lápis é amarelo, ele pode ser tudo e até ter outras cores, mas – para não haver contradições – não podemos dizer que ele não é amarelo.

Figura 1.

Quando afirmamos algo, nós dizemos uma premissa – no caso, “todas as estrelas do quadro têm cinco pontas”. O exercício solicita que o aluno marque com X as afirmações que desobedecem a alguns destes princípios: ao princípio da identidade, ao princípio da não contradição e ao princípio do terceiro excluído.

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Outras afirmações a respeito da premissa

Princípio da identidade

Princípio da não contradição

Todas as estrelas do quadro não têm cinco pontas.

X

Todas as estrelas do quadro às vezes têm e às vezes não têm cinco pontas. Todas as estrelas do quadro não são iguais a elas mesmas.

Princípio do terceiro excluído

X

X

Quadro 7.

Exercício

Com base na Figura 2. Baseando-se novamente na afirmação “todas as figuras do quadro têm a forma de estrela”, lembre-se de que deverá avaliar cada item com base somente na afirmação principal, sem levar em conta a realidade do que está exposto na lousa. Apontar as afirmações que não têm a ver com a afirmação principal.

Na sequência aos exercícios para introduzir conceitos e fundamentos da Lógica, reproduza na lousa o quadro a seguir (Figura 2).

a) ( X ) todas as figuras do mundo têm a forma de estrela. Figura 2.

b) ( ) Só há figuras em forma de estrela no quadro anterior.

A lógica não trata de realidades, mas sim de afirmações. A preocupação dela é fazer que nossas falas não contenham contradições. Por isso, é preciso dissociar a realidade das palavras. Se alguém afirmar que “todas as figuras do quadro têm a forma de estrela”, a preocupação da lógica será com a afirmação e não com a realidade. Mas, por que isso? A lógica tem de ajudar a organizar o pensamento. Assim, quando um cientista descobre algo, ele tem de falar sobre sua descoberta de forma racional e clara; do contrário, será impossível compreendê-lo.

c) ( X ) três figuras do quadro anterior não têm a forma de estrela. d) ( X ) As figuras do mundo inteiro não têm a forma de estrela. e) ( X ) todas as estrelas são figuras deste quadro. f) ( ) No quadro anterior, não deve haver figuras que não tenham forma de estrela. g) ( X ) Não existem figuras em forma de estrela fora do quadro. h) ( ) todas as figuras do quadro têm a forma de estrela.

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a) Esta resposta deve ser assinalada porque a premissa não fala sobre figuras do mundo, mas apenas das que estão no quadro. b) Esta não deve ser assinalada porque esta premissa concorda com a anterior. c) A terceira deve ser assinalada porque, apesar de termos várias figuras no quadro que não têm a forma de estrela, a premissa diz que todas as figuras têm essa forma. O que vale para a Lógica é a premissa, e não a realidade. d) A quarta resposta deve ser assinalada porque as figuras que estão no quadro fazem parte do grupo de todas as figuras que têm a forma de estrela. e) Esta resposta deve ser assinalada porque não se trata de estrelas, mas de figuras que têm a forma de estrelas. f) Esta não deve ser assinalada porque nem todas as figuras do quadro têm a forma de estrelas e, por isso, não existem figuras que tenham outras formas. g) Esta resposta deve ser assinalada baseando-se apenas na premissa; não se pode saber nada sobre o que está fora do quadro. h) A oitava e última resposta não deve ser assinalada porque corrobora a afirmação principal com exatidão.

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Filosofia da ciência Filosofia da ciência é a área da filosofia que pergunta sobre a ciência, de quais ideias parte, qual método usa, sobre qual fundamento e acerca de suas implicações. Apesar destes problemas gerais, muitos filósofos escreveram sobre algumas ciências particulares, como a física e a biologia. Não apenas se utiliza a filosofia para pensar sobre a ciência, como se utiliza resultados científicos para pensar a filosofia.

Hume levou o empirismo, isto é, a ideia de que todo o nosso conhecimento tem origem na experiência (nos cinco sentidos), até as últimas consequências. Para ele, se nosso conhecimento ocorre após a experiência significa que não podemos deduzir eventos futuros. Significa dizer que não há nada no mundo que garanta que as leis que regem o universo hoje serão as mesmas amanhã. Por mais que o homem observe há milênios o sol aparecer todos os dias, nada garante o seu aparecimento amanhã, e por isso a ciência não pode tomar suas conclusões como verdades absolutas.

Não existe determinada ciência que faça parte dos estudos da filosofia da ciência. As ciências naturais (ex.: biologia, química e física), formais (ex.: matemática, lógica e teoria dos sistemas), sociais (ex.: sociologia, antropologia e economia) e aplicadas (agronomia, arquitetura e engenharia) já foram objetos de estudos filosóficos.

No século XX, o filósofo austríaco, Karl Popper (1902-1994) criticou a forma de fazer ciência a partir da indução, o método defendido por Bacon. Para Popper, o método indutivo não garante a validade de suas conclusões. Afirmou isso, pois não é possível ter acesso a todos os fatos particulares para ser possível chegar a conclusões. Um cientista pode observar cisnes durante 20 anos e perceber que todos os cisnes observados são brancos, mas ele não pode concluir que “todos” os cisnes são brancos. Se ele concluir isto, bastará a existência de apenas um cisne negro para invalidar sua tese. Com isto, Popper defenderá que o papel da ciência é falsear as suas conclusões a partir do método dedutivo, partindo de conclusões universais para a verificação particular. O papel da ciência é verificar se suas conclusões são verdadeiras, tentando falseá-las com a experimentação.

Historicamente, já na Grécia Antiga se pensava sobre a ciência. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), por exemplo, escreveu sobre a origem da vida, afirmando a possibilidade de existir vida a partir de algo inanimado. A teoria da abiogênese (geração espontânea) que ele defendia perdurou por diversos séculos. Além da origem da vida, Aristóteles também se preocupou em elaborar um meio de estudar as espécies, sendo ele o primeiro a propor uma divisão do reino animal em categorias. No decorrer da história, a figura mais importante para a filosofia da ciência é Francis Bacon (15611626), filósofo inglês responsável pela base da ciência moderna, o método indutivo. A indução, método de a partir de fatos particulares chegar a conclusões universais, já existia, mas é Bacon o responsável por seu aprimoramento e divulgação.

Filipe Rangel Celeti Bacharel em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP

Após Bacon, muito se pensou e escreveu sobre a ciência, especialmente devido aos avanços e descobertas dos séculos seguintes. René Descartes desenvolveu seu método, houve as contribuições e discussões de Galileu Galilei, Isaac Newton, Gottfried Leibniz e outros. Deste aumento considerável de pensadores que detiveram tempo acerca do campo da filosofia da ciência pode-se escolher alguns para comentar suas importantes ideias. Entre eles, David Hume e Karl Popper.

Pesquisa Individual   

David Hume (1711-1776), filósofo escocês, criticou fortemente as bases da ciência e da filosofia. A partir do pensamento de John Locke (1632-1704),

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Ciência: conhecimento sistemático da natureza por meio de experimentações e de princípios delas obtidos. Termo científico: conceito utilizado em uma ciência para descrever ou abarcar um conjunto delimitado de fenômenos. Hipótese: formulação teórica a título de investigação que serve para orientar o conhecimento, mas que, para ser válida, deve ser confirmada por experimentos. Tese: formulação teórica que se encontra como pressuposto de uma ciência ou então que já foi devidamente confirmada pela experimentação e faz parte do conhecimento científico. Indução: formulação de leis pela análise e comparação de conhecimentos empíricos. Dedução: obtenção de conhecimentos pautando-se por uma tese devidamente demonstrada.


Filosofia – 1a série – Volume 1

SItUAçãO DE APRENDIzAgEM 5 INtRODUçãO À FIlOSOFIA DA CIêNCIA No segundo caso, o argumento não está completo: as duas afirmações (meu irmão respira e meu irmão é ser vivo) não permitem afirmar de forma generalizada que todos os homens respiram. O argumento é inválido, porque a conclusão toma por verdade apenas uma possibilidade: por mais verdadeiras que sejam as inferências, a conclusão pode não ser verdadeira.

Dedução e Indução Bloco 1: Todos os homens vivos respiram. Meu irmão é um homem vivo.

Para muitos filósofos, na Ciência, a dedução toma o seguinte sentido: temos um conhecimento teórico e por ele agimos, ou por ele conhecemos outras dimensões do mundo. Por exemplo, a lei da gravitação Universal de Isaac Newton diz que todos os corpos se atraem segundo uma força derivada de suas massas e sua distância. Desse modo, quando um objeto qualquer cai, na verdade, ele foi atraído pelo planeta. A massa do objeto é atraída pela massa do planeta. Portanto, ao soltar uma bolsa, ela será atraída pela força gravitacional da Terra.

Portanto, meu irmão respira.

Bloco 2: Meu irmão respira. Meu irmão é um homem vivo. Portanto, todos os homens vivos respiram.

1. Qual é a diferença entre os dois blocos de informações? 2. Apresente um exemplo de seu cotidiano no qual você pode utilizar dedução e indução.

Por dedução, podemos dizer que os objetos, como a bolsa, são atraídos pelo planeta; por isso, de alguma forma, acreditamos que tudo cai, porque sabemos que há uma Lei da gravidade e, com base nela, é possível prever um acontecimento. Além disso, ela é logicamente válida.

Depois do debate, peça aos alunos que escrevam suas respostas no Caderno. Verifique se alguns deles gostariam de apresentá-las, lendo sua resposta para a turma.

Comentário

A seguir, vamos refletir sobre a possibilidade de chegar a teorias e leis que valem tanto para a realidade como para a lógica; desse modo, será possível compreender melhor o que são indução e dedução.

Nas três primeiras frases, organizadas no bloco 1, temos um clássico exemplo de dedução válida, enquanto, nas frases do bloco 2, a dedução é inválida. Qual é a diferença? Para a lógica, a primeira situação é válida, não há nenhum problema, pois a conclusão depende das inferências e nada mais. Ela é analítica, depende apenas do que foi dito. Parte do universal para o particular.

Para complementar as atividades, no exercício a seguir, o aluno deve criar exemplos de indução e de dedução, de acordo com o modelo do quadro e completar as atividades que constam no Caderno do Aluno. Página 44

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Por uma visão crítica da ciência David Hume

ff Com a indução, parte-se do particular para o universal; esse conceito utiliza a generalização para criar leis e teorias científicas.

Filósofo David Hume foi um filósofo, historiador e ensaísta escocês que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Wikipédia Nascimento: 7 de maio de 1711, Escócia, Reino Unido Falecimento: 25 de agosto de 1776, Edimburgo, Reino Unido Educação: Universidade de Edimburgo Filiação: Joseph Home, Katherine Falconer

ff Com as leis e as teorias científicas, é possível, por meio da dedução, prever e explicar acontecimentos. A Ciência é uma atividade racional e, por isso, vale-se das regras da Lógica para fundamentar seus conhecimentos. No entanto, a indução não parte das regras lógicas para se legitimar. Ela parte da experiência. A experiên­cia pode parecer racional, mas não é, pois está envolvida com os sentidos, e não com o raciocínio. Peça que os alunos leiam o texto a seguir, presente no Caderno do Aluno na seção Leitura e análise de texto, sobre como David Hume propôs o problema, e que depois respondam às atividades relativas ao trecho apresentado.

Bertrand Russell

Matemático Bertrand Arthur William Russell, 3.º Conde Russell foi um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX. Em vários momentos na sua vida, ele se considerou um liberal, um socialista e um pacifista. Wikipédia Nascimento: 18 de maio de 1872, Trellech, Reino Unido Falecimento: 2 de fevereiro de 1970, Penrhyndeudraeth, Reino Unido Cônjuge: Edith Finch Russell (de 1952 a 1970), mais Filhos: Conrad Russell, 5th Earl Russell, Lady Katharine Tait, John Russell, 4th Earl Russell, Harriet Ruth Russell Filiação: John Russell, Viscount Amberley, Katharine Russell, Viscountess Amberley

Parte II 28. Mas nós ainda não atingimos algo minimamente satisfatório com relação à questão primeiramente proposta. Cada solução ainda levanta uma nova questão tão difícil quanto a que a precede, e nos leva a mais questionamentos. Quando se pergunta, Qual a natureza de todos nossos argumentos com relação a fatos reais?, a resposta adequada parece ser a que eles são baseados na relação de causa e efeito. Quando novamente se pergunta, Qual a fundamentação de todos os nossos argumentos e conclusões referentes a tal relação?, pode-se responder em uma só palavra: experiência. Mas se ainda quisermos dar continuidade a nosso humor investigativo, e perguntarmos Qual a fundamentação de todas as conclusões baseadas na experiência?, isso implicaria uma nova questão, que pode ser de mais difícil solução e explicação. Filósofos, que se dão ares de sabedoria e suficiência superiores, têm uma árdua tarefa quando encontram pessoas com disposição investigativa, que os empurram para fora de todos os cantos em que se recolhem, e que

f Com base na observação de grande número de experiências, por meio dos cinco sentidos, cria-se uma lei ou uma teoria. f Ao se repetirem as condições enunciadas nessa lei, pode-se prever um acontecimento. f Isso garantiria a objetividade do conhecimento científico, isto é, ele não dependeria da opinião das pessoas, mas poderia ser comprovado por todos os seres humanos.

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3. Por que Hume vê um problema na fundamentação das conclusões por meio da observação da experiência?

certamente trazem a eles algum dilema perigoso. O melhor expediente para prevenir essa confusão é sermos modestos em nossas pretensões; e até mesmo descobrir a dificuldade nós mesmos antes de esta nos ser direcionada. Desse modo, podemos fazer de nossa ignorância uma espécie de mérito.

Comentário sobre o texto Vamos rever o que é a indução, agora com um exemplo dado por Bertrand Russell.

HUME, David. An enquiry concerning human understanding. Essays and treatises on several subjects. p. 42. Disponível em: <http://goo.gl/b6NXkl>. Acesso em: 29 out. 2013. Tradução Eloisa Pires.

O texto a seguir, assim como as questões subsequentes, se encontram no Caderno do Aluno.

Exercício de leitura Certo peru foi alimentado, durante um ano, às 9 horas (dado). Ele criou, então, uma lei: sou alimentado todos os dias às 9 horas (teoria). Amanhã, às 9 horas, serei alimentado (previsão). No entanto, houve um problema com a previsão do peru, pois, no dia seguinte à sua previsão, ele foi degolado porque era véspera de Natal e ele seria servido na ceia.

As três questões a seguir estão presentes no Caderno do Aluno, logo após o texto citado de Hume. 1. Sublinhe, no texto, as palavras que você desconhece. Depois, investigue uma por uma e registre os significados na seção Meu vocabulário filosófico, disponível no final deste Caderno. 2. Com base no texto, responda às questões: a) Qual é a natureza de todos os nossos raciocínios sobre os fatos, segundo Hume?

Após a leitura do quadro com os alunos, você pode apresentar a eles a seguinte questão:

b) De acordo com Hume, qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios e conclusões sobre a relação de causa e efeito?

1. Por que a previsão do peru falhou? Leis e teorias são questionáveis ou, ao contrário, são verdades absolutas? Nada na natureza tem o dever de seguir nossas leis científicas. Por isso, se um dia o Sol se puser e, no outro, não amanhecer, o que impediria a ocorrência? Ora, as leis da natureza são as interpretações que fazemos dela. Cada princí­pio científico pode ser contrariado pela natureza porque não é

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Para trabalhar esses problemas com os alunos, você pode pedir a eles que observem as imagens a seguir, assim como as demais reproduzidas em seus Cadernos, e respondam à seguinte questão:

fundamentado pela razão, mas pela experiência. Nós prevemos alguns eventos como se fosse um hábito psicológico. Por exemplo, o que garante que, ao soltar um lápis, ele vai cair? A Lógica não pode garantir isso; afinal, ela trata de palavras e conhecimentos, e nunca da realidade. A experiência é sempre única, e a queda de um lápis não tem relação com a

2. Afirma-se, constantemente, que da observação das experiências tiramos os conhecimentos. Mas será que cada um de nós observa da mesma maneira? Será que nossa visão, nossa audição, nosso paladar, nosso tato e nosso olfato são iguais aos dos outros seres humanos? As pessoas podem observar uma mesma situação de modos diferentes. Analise as seguintes imagens e responda à questão: Quais são os limites da observação?

queda de outro. Em resumo, nada garante que o lápis vá cair. Por isso, quando consideramos a Ciência como uma garantia da verdade, temos uma visão acrítica dela.

Há, ainda, dois outros problemas que precisamos discutir a respeito da indução, como fundamento da Ciência. São eles:

© David Parker/SPL/Latinstock

© SPL/Latinstock

ff a observação como fonte objetiva; ff a relação teoria-experiência.

Figura 4 – O chão ou o teto?

Figura 5 – Plano ou ondulado?

Por meio deste exercício, espera-se que os alunos compreendam que as percepções que vêm dos sentidos não são as mesmas para todos, já que as pessoas podem observar uma mesma situação de formas diferentes.

vação, o cientista usa o vocabulário de uma teoria para expressar sua percepção. Por exemplo, para explicar a experiência de um livro que foi solto no solo, um físico poderia dizer, em sua observação, que a força gravitacional da massa do planeta Terra é que atraiu para ele, segundo sua distância, a massa do livro. Onde está a palavra “força” no ato de soltar um livro? E “atração”? Todas essas palavras estão na mente do cientista antes da experiência.

Enfim, a observação tem problemas em relação à objetividade da Ciência, e também com a crença de que dela derivam todas as teorias. Seria muito difícil acreditar que, quando um cientista realiza uma experiência, ele o faça partindo do nada. Ele tem muitas teorias anteriores à experiência, e, algumas vezes, é com base nelas que ele irá produzir a própria experiência a ser observada. Isso aparece principalmente quando, durante a obser-

Na vida cotidiana, podemos encontrar vários exemplos de percepções com vocabulário derivado de outras teorias. Por exemplo, se dissermos: “o vento empurrou o lixo

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para dentro da sala”, já apresentamos teorias. Inicialmente, que o lixo pode ser empurrado, e que o ato de ele entrar na sala foi em função de algo externo, uma vez que não seria capaz de entrar na sala sozinho: temos, aqui, uma teoria da inércia do lixo. Segundo, mesmo sem podermos ver, sabemos que o vento é capaz de movimentar outras coisas: temos, aqui, uma teoria da capacidade de o vento empurrar. Se, no cotidiano, temos teorias, seria absurdo imaginar que os cientistas gastariam montanhas de dinheiro para fazer pesquisas sem uma teoria prévia do que eles pretendem experimentar.

Exercício Realiza os exercícios do Caderno do Aluno - página 49 Observem pequenos fenômenos na sala de aula. Depois, peça que anotem esses fenôme-nos, como “o Sol atravessa o vidro e aquece a carteira”. Em seguida, procure levá-los a per-ceber as pequenas teorias que acompanham essa afirmação. Por exemplo, o Sol é quente e emite raios de calor; o vidro é transparente e permite a passagem de calor e de luz; a car-teira recebe calor e fica aquecida. Assim, por meio da percepção, do vocabulário de outras teorias e de inferências, é possível elaborar pequenas teorias. Nesse contexto, podemos afirmar que a Ciência é uma atividade humana que contempla, entre outros procedimentos, observações, interpretações e análises de fenô-menos (no exemplo mencionado, os raios solares que incidem verticalmente sobre um material sólido e transparente, atravessando-o e incidindo sobre objetos).

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O FALSIFICACIONISMO - KARL POPPER  Deve permitir a falsificabilidade; quanto mais, melhor;  Deve ser ousada, para conseguir progredir em busca de um conhecimento mais aprofundado sobre a realidade.

Para os falsificacionistas – entre os quais Karl Popper é um dos mais importantes –, o valor de um conhecimento científico não vem da observação de experiências, mas da possibilidade de a teoria ser contrariada, ou melhor, falseada. Em um primeiro momento, acreditava-se que a Ciência comportaria todas as verdades, com base na criação de teorias e leis que surgiriam pela observação de experiências – essa é a crença de indutivistas. Com a ideia de que a teoria precede a experiência, os falsificacionistas admitem que toda explicação científica é hipotética; no entanto, é o melhor que temos.

Teorias que não podem ser falseadas não são boas teorias. Por exemplo, se alguém disser que “o ladrão rouba”, não estará dizendo muita coisa sobre o mundo. Apesar de parecer clara, essa afirmação não pode ser falseada; afinal, está contida na palavra “ladrão” a ideia de que ela qualifica os seres que roubam. Ninguém precisa dizer “o ladrão rouba” para sabermos que ele rouba. É impossível contradizer essa afirmação, pois é completamente irracional pensarmos em um ladrão que não rouba.

Quanto mais uma teoria pode ser falseada, melhor seria ela. Por exemplo, ignorando a pressão atmosférica e outros fatores, se dissermos que “a água ferve a 100 graus Celsius”, qual é a contradição possível, ou melhor, o que tornaria falsa essa afirmação? A resposta seria: ao chegar a 100 graus Celsius, a água não ferveria, ou ferveria antes.

Outro exemplo: se dissermos “é possível ter sorte no esporte”, também não diremos muita coisa. Não estamos sendo precisos, uma vez que muitas outras coisas são possíveis no esporte. A própria ideia de que algo é possível permite quase tudo, mas como medir a sorte ou saber que não foi o acaso? Essa frase serve tanto para perder quanto para ganhar, não é capaz de ser falseada. Pode ser a sorte de um time ou de outro; pode ser até mesmo a sorte dos dois, mas nunca deixará de ser sorte de alguém.

No momento em que uma teoria é falseada, o cientista tentará melhorá-la ou a abandonará. Mas, enquanto ela não é falseada, permanece seu valor explicativo. O fundamental é que tenhamos em mente o seu limite. As teorias têm de dizer algo bem objetivo sobre o mundo, para sermos capazes de conceber sua falsificabilidade.

Critérios para uma boa teoria  Tem de ser clara e precisa, não pode ser obscura nem deixar margem para várias interpretações. Quanto mais específica, melhor;

Realizar os exercícios página 51 – Caderno do Aluno Falseamentos possíveis        

Se soltar esta borracha, ela não cairá no chão, nem rolará para lado nenhum. Se soltar esta borracha, ela cairá para cima. Se soltar esta borracha, ela cairá para a parede. Se soltar esta borracha, ela ficará suspensa no ar. Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e rolará para a direita. Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e rolará para cima. Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e rolará para baixo. Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e não rolará.

Se soltar esta borracha, ela cairá no chão e desaparecerá.

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O PROGRESSO DA CIÊNCIA- THOMAS KUHN

ara os falsificacionistas, a Ciência progride pela tentativa de superação das teorias. Com base nas considerações de Alan Chalmers, no livro O que é Ciência afinal? Podemos pensar o progresso da Física segundo os falsificacionistas. O primeiro grande físico seria o filósofo Aristóteles. Sua teoria explicava por que os objetos caíam (para encontrar seu lugar natural) ou, também, como funcionava o sifão (a impossibilidade do vácuo). A física de Aristóteles foi falseada várias vezes. A física de Newton era capaz de explicar melhor do que a física de Aristóteles diversos fenômenos; por exemplo, a lei da gravidade era melhor que a teoria da Posição Natural, esta refutada há bastante tempo. No entanto, a física de Newton não explicava alguns fenômenos, como a órbita do planeta Mercúrio. A física de Albert Einstein, por sua vez, era capaz de explicar não só os pontos em que a física de Newton era bemsucedida, como o que foi refutado dessa teoria. Agora, os cientistas procuram ir além. A teoria de Einstein é melhor que a de Aristóteles e que a de Newton; no entanto, apesar de ser a melhor disponível, poderá ser superada um dia, pois o melhor que temos não é o definitivo.

O não científico na ciência Muitos filósofos se interessaram em pensar de forma crítica a Ciência, seus fundamentos, seus limites e seu progresso. Vamos discutir a reflexão de Thomas Kuhn a respeito da Ciência, vista por ele como uma construção histórica.

Em primeiro lugar, é importante salientar que a Ciência é uma atividade racional e humana. Como muitas outras, é influenciada por problemas humanos de natureza variada, como emocionais, políticos, linguísticos, sociais e religiosos. Kuhn percebeu que essas influências são inerentes à racionalidade humana e se propôs a pensar a Ciência com base nelas e de acordo com a seguinte linha de desenvolvimento: préCiência, Ciência normal, crise, revolução científica e nova Ciência normal. O conceito mais importante para Kuhn é o de paradigma, que é o modelo da Ciência normal. Durante um tempo, todos os cientistas procuram orientar suas pesquisas com base em um modelo, de maneira a preservar a verdade científica. O que não se encaixar nesse modelo será excluído; será considerado anomalia, mas isso também pode indicar que o cientista não aplicou corretamente o modelo e sua metodologia. Para Kuhn, o determinante das normas da Ciência é o paradigma aceito pelos cientistas. Mas, por motivos nem sempre racionais, os cientistas mudam de paradigma, após uma crise da Ciência normal, o que, em geral, é fundamentado na anomalia, isto é, quando a Ciência normal não consegue responder a alguns problemas, como a órbita de Mercúrio para a física newtoniana. Essa crise estende-se até uma revolução científica, quando a maneira de fazer Ciência muda completamente. Quando ocorre essa mudança, segundo Kuhn, chega-se a uma nova Ciência normal, praticada, a partir desse momento, de acordo com um novo paradigma. É preciso considerar que a racionalidade científica encontra problemas dentro e fora de seu espaço de ação. Dentro desse espaço são as anomalias e, fora dele, são as necessidades humanas da pesquisa científica. Instituições, empresas e governos procuram fazer que a Ciência seja orientada por seus interesses, não apenas por mera curiosidade.

THOMAS KUHN

Thomas Kuhn (1922-1996) foi um físico norte-americano e estudioso primordial no ramo da filosofia da ciência. Foi importante na medida que estabeleceu teorias que desconstruíam o paradigma objetivista da ciência. Nasceu em Cincinnati, Ohio. Ingressou na Universidade de Havard, onde fez curso de física. Desta faculdade, recebeu o título de mestre e doutor. Os trabalhos acadêmicos de Kuhn resultaram no livro “A Revolução Copernicana”, de 1954. Mas foi no livro "Estruturas da Revolução Científica”, (1962), que Kuhn estabeleceu suas ligações com a filosofia e ciências humanas. O livro foi reeditado em 1970 com algumas observações adicionais. As idéias de Kuhn iam na contramão do pensamento científico, de ordem positivista. O próprio físico admitiu certa vez que não comungava do pragmatismo exacerbado das ciências, nem tinha simpatia por pensadores como John Dewey e William James. Posteriormente, Kuhn aprofundou seu pensamento em livros como “Reconsiderando os paradigmas” (1974), “Teoria do Corpo Negro e Descontinuidade Quântica - 1894-1912”, (1979). O grande mérito de Kuhn foi apontar o caráter subjetivista da ciência, normalmente vista como puramente objetiva. Segundo ele, as teorias científicas estão sujeitas às questões e debates do meio social, dos interesses e das comunidades que as formulam. Por isso, Kuhn desenvolveu suas teorias usando um enfoque historicista. Kuhn morreu em 1996.

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