O Divino Jogo do Amor - Roberto Saul

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O DIVINO JOGO DO AMOR UM ROMANCE COM O INFINITO

ROBERTO SAUL


ROBERTO SAUL

O DIVINO JOGO DO AMOR UM ROMANCE COM O INFINITO


Para Simone Serena e calma, mas ás vezes e determinada esconde uma profunda sabedoria. Tive o privilégio de ela ser minha irmã e companheira espiritual. Não poderia receber melhor presente.


SUMÁRIO Apresentação

7

Introdução

11

A história de um romance

16

O paradoxo entre o real e o irreal

21

A consciência consciente de si mesma

25

A jornada interior

32

A necessidade do silêncio

48

O divino jogo do amor

59

Amor, Sexo & Relacionamento

64

Os poderes e mistérios da mente

85

O agora é o momento que nunca termina

96

O amor do Ser

120

Vivendo no país das maravilhas

169

Importantes afirmações

174

Sugestões de livros e filmes

189


APRESENTAÇÃO


Podemos

entender nossa vida como sendo uma grande viagem. Saímos a

muito tempo de casa, em busca de novas experiências e aventuras. Nessa viagem acabamos nos identificando com estas experiências e experimentamos muitos papéis, que nos causam muitas emoções e sentimentos. Nos identificamos com este mundo de violência, onde impera a separação, a divisão, a competição.

Acreditando nesses valores ditos “realistas”, nos tornamos distantes de Deus e da nossa verdadeira identidade. Só podemos considerar tudo isso como sendo um mundo irreal, se entendermos que o nosso mundo de fato é o quântico-espiritual. Nesse sentido, podemos dizer que a vida que levamos, apenas voltada para a materialidade dos fatos do dia a dia, paradoxalmente, é uma vida mergulhada num mundo de ilusões. Parece que esquecemos da nossa verdadeira origem como Ser. Biblicamente sabemos que somos Filho de um Criador, o que nos torna Co-criadores, ou seja, a extensão da Criação. Sabemos também que o Criador é só Amor, consequentemente sendo qualificados como a extensão do Pai, deveríamos estar vivendo apenas o Amor.

Sempre gosto de fazer a analogia com a Biologia: Se você tem uma semente de laranja, o fruto só pode ser laranja. Se nós como co-criadores temos essa semente Amor, alguns dizem a “Centelha Divina”, eu te pergunto: Qual seriam seus frutos? Será que poderíamos colher mais o AMOR? Tudo que temos colhido em nossas vidas, e que não seja o Amor, são frutos de nossas mentes mergulhadas no equívoco de uma falsa identidade. Mergulhados num mundo de ilusões, num mundo de papéis, só poderíamos colher inverdades e a escassez, responsáveis pelas frequentes queixas das pessoas de insatisfação pessoal, e da sensação de vazio na vida. Identificados com esse mundo ilusório passamos a nos separar ainda mais do próximo, e de Deus criando relações predatórias.

No momento em que nos desconectamos da Fonte, é como se passássemos a hibernar, num sono profundo, mergulhados na materialidade dos fatos do dia a dia que erroneamente consideramos nossa vida real. Esquecemos do nosso verdadeiro eu, e a partir desse esquecimento não temos mais conseguido viver na plenitude do nosso Ser, ou seja, na paz, no amor, na misericórdia, na unidade com o próximo e com o Pai.

Ao contrário, vivemos correndo em busca de relações que nos venham suprir essa sensação de vazio e desânimo. O mundo por muito tempo nos fez acreditar que felicidade e riqueza se encontravam fora de nós. Mas tudo que temos encontrado fora de nós, acabou nos tornando mais infelizes e doentes. E isso tem nos feito questionar sobre esse mundo. Chegamos a um tamanho equívoco, ao atribuir que esta vida que nós criamos, fosse um castigo de Deus. Estamos tão mergulhados nesse mundo de ilusões, que perdemos a consciência de que a Fonte é constituída de uma única energia, que é o Amor, o Perdão, a Paz. Não tem como gerar outra energia além da sua essência. Todas essas experiências que temos vivido nesse mundo da materialidade, têm possibilitado para alguns buscar o conhecimento, para poderem fazer novas escolhas no futuro. Eu diria que estes estão voltando para casa, para o Ser Verdadeiro, que é um ser ilimitado, um ser de Paz.


Admirei o filme “O Segredo” em que num dado momento, um dos protagonistas afirma que “Nós estamos vivendo na melhor época”.

A princípio fiquei pensativo, mas depois de muita reflexão, fiquei feliz, pois assimilei essa frase na consciência do meu SER. Tendo acesso hoje, ao verdadeiro conhecimento, seja através de manuscritos perdidos no tempo e agora encontrados, seja pelos novos caminhos que se abrem na Ciência através da Física Quântica. O que sinto é que estamos tendo a oportunidade de fazer novas escolhas através de uma nova consciência. Eu diria que estamos voltando para casa, porque estamos nos tornando mais conscientes de quem realmente nós somos, e naturalmente fazendo novas escolhas.

Ao Querido Amigo Roberto Saul, é com muita gratidão que recebi seu convite de estar fazendo parte da sua obra inspirada do seu ser mais profundo: Sua Alma. Muitos livros tem sido publicados, mas suas obras têm deixado várias indicações, de como podemos voltar para casa. De como podemos começar a escolher o Amor ao invés da dor. Que o conteúdo desse “Romance com o Infinito”, possa nos afastar das ilusões, e olharmos para o que é Real, como você tão bem explicou no capítulo: Vivendo no País das maravilhas, inspirado no filme de “Alice no País das Maravilhas”, vemos que ela vai em busca do seu sonho, e do mundo real.

Que o “Divino Jogo do Amor”, possa inspirar a todos a realizarem seus sonhos mais secretos como Alma, como um Filho do Criador. Que as ideias contidas nessa obra lhe inspire a semear o Amor, pois essa é a nossa verdadeira Natureza. O verdadeiro sonho.

Marcos Adriano Infantozzi Terapeuta e Consultor Máster em PNL Ativista quantico Fundador do Cine Clube VisãoUNA Facilitador de Um Curso em Milagres


Quando amamos, nunca procuramos limitar ou restringir de qualquer modo aquele que amamos. A liberdade é a essência do amor. O amor diz: O que eu desejo para você é o que você deseja para si mesmo. O amor jamais diz não. Por este motivo, os verdadeiros mestres não fazem outra coisa senão caminhar pelo mundo e devolvendo as pessoas a si mesmas Neale Donald Walsch



Nações crescem apenas para cair. Reis constroem monumentos poderosos, só para se transformarem em poeira. A glória escapa como uma sombra. Todas essas coisas possuem as sementes da morte dentro delas. Apenas um pensamento pode resistir, apenas a verdade pode crescer e prosperar, e uma verdade nunca pode ser morta, passa em segredo do coração de um homem para outro, é dado como o leite é dado ao filho pela mãe. Um homem não pode ser julgado pela cor da sua pele, por suas rugas, suas joias ou por seus triunfos. Mas apenas pelo amor que possui em seu coração. Temos somente um senhor Deus que está em todos nós. Apenas esta verdade é imortal e nesta verdade todos os homens são iguais. Nenhum homem é exclusivo. XIII séculos antes de Cristo Pelo faraó Akhnaton.


INTRODUÇÂO


Você já notou o rosto radiante de uma criança, pura e inocente e quase sempre com o sorriso nos lábios, até mesmo quando acaba de chorar alguns minutos atrás, mas volta a brincar novamente como se nada tivesse acontecido? Você já viu uma criança que não gosta de brincar, ou se divertir? Assim é o nosso “Ser”, quando vive totalmente no presente. O “Ser”* adora brincar. Faz parte de sua natureza. Assim como um ator criativo, ele adora interpretar diversos papeis. Ás vezes ele é o mocinho, ás vezes ele é o bandido e muitas vezes ele é apenas um simples figurante. Mas isto não importa. Se ele será famoso ou desconhecido, se ele vai ganhar ou perder, isto não tem a menor importância. Comecei a escrever o texto deste livro no início do mês de março de 2010. Lembro-me que estava um tanto temeroso, pois estava como que recomeçando minha vida profissional, agora como escritor em tempo integral. É verdade que já tinha escrito alguns livros, inclusive o primeiro desta trilogia “O Divino jogo do Ser”. O que aprendi neste período é que a partir do momento em que você começa a se adaptar a mudança, surge um novo capítulo em sua vida, e sem saber explicar, as circunstâncias e seus relacionamentos começam a se encaixar, e deslumbrado você vê ordem e beleza mesmo dentro do caos e da dor. Confesso que tive que tomar coragem e fôlego para estar disposto a brincar novamente de escritor. Não para transmitir novas informações “estamos saturados de informações”, mas apenas com o propósito de lembrá-los novamente quem somos nós. Eu sei que muitas vezes, esquecemos o nosso verdadeiro eu, e isto é muito natural. Somos constantemente seduzidos pelo mundo externo e sem nos darmos conta esquecemos do jogo, e nos envolvemos novamente com as situações. Surge o medo, as expectativas e as frustrações e acabamos sofrendo as suas consequências. Mas nós não vamos desistir. Como em um jogo de esconde-esconde temos que descobrir onde está escondido o “Ser” e recuperar novamente a nossa plenitude. Posso afirmar com absoluta certeza que neste divino jogo, a nossa vitória já está garantida. Todos sabemos que para que o jogo possa ser apaixonante e empolgante e sobretudo convincente, se faz necessário que o jogador esqueça temporariamente que está jogando, para se deixar levar pelas surpresas e pelas imprevisibilidades. Para quem já leu o primeiro livro da trilogia, sabe que este foi o tema central e que tinha por objetivo, demonstrar que todos os nossos altos e baixos da vida fazem parte do jogo, e que por mais trágico que as circunstâncias possam aparentar, tudo não passa de uma simples brincadeira. Nada é grave, nada é sério como muitas vezes imaginamos a não ser que como numa espécie de amnésia, o jogador se identifique com o poder de maya*, e esqueça da sua verdadeira identidade. Assim todo sofrimento neste mundo, ocorre devido a ilusão que sentimos, quando esquecemos da nossa realeza e pensamos que somos pobres seres, abandonados neste pequeno planeta azul. Como mencionei no meu livro anterior, a filosofia hindú descreve este jogo com o nome de “Lila”*, que significa brincadeira. Quando o jogo chega ao fim, percebemos com clareza, que tudo não passou de uma empolgante aventura repleta de suspense, e surpresas. Quando isto acontece os hindús dão o nome de iluminação e num nível que a nossa mente é ainda incapaz de entender, somos os criadores do jogo.


Surpreendente não é? O iluminado é apenas o jogador que saiu do mundo das ilusões, ele não transformou o mundo, porque o mundo não se transforma. O mundo nos parece real, mas ele é apenas um sonho. Somente um iluminado pode se transformar, ou melhor dizendo, ele volta a ser ele mesmo. Assim o jogo termina quando o jogador torna-se ele mesmo a essência do jogo. Como cada um de nós vê o mundo de acordo com a sua consciência, quanto maior for este nível, mais despertos e centrados estaremos. Lembre-se de que a beleza não está apenas nos olhos físicos de quem as vê, mas está na beleza interior do nosso “Ser”. Utilizo no decorrer deste livro, a palavra Deus, de acordo com a interpretação de quase todos os mestres, quando cito seus ensinamentos. Particularmente prefiro a palavra “Ser” que possui um conceito mais aberto, desvinculado de conceitos religiosos, que distorceram com o passar do tempo o seu profundo e verdadeiro significado. É só uma questão semântica, ambas aparecem, mas isto não representa nenhuma contradição entre elas. Neste segundo volume, que tem por subtítulo “Um romance com o infinito" abordo o sentimento de amor que todos nós temos, e ansiamos em dar e receber. A palavra amor é um sentimento hoje tão confundido com apego, que o ego o utiliza como sua principal característica. Um estado de consciência hoje tão distante da verdade que perdeu seu real significado. O verdadeiro amor abordado neste livro, é o amor pelo “Ser”, pela vida, pela natureza, pelas pessoas de forma incondicional. A bem aventurança de existir e participar desta estupenda experiência humana. Pergunto-me sempre: Quem sou eu? qual o propósito da minha vida? Até que ponto minha vida pode fazer uma diferença? A verdade é que o amor é uma energia tão poderosa que desafia qualquer tentativa de defini-la em palavras. Embora existem milhares de livros escritos ao longo dos milênios sobre o amor, nunca foi possível descrever com absoluta exatidão a infinita influência desta poderosa força que impregna todo o universo, e que está em cada um de nós quando permitimos abrir o nosso coração. No belíssimo filme de Frank Capra “A felicidade não se compra”, que se tornou ao longo do tempo um verdadeiro clássico, é um emocionante exemplo. O seu título em inglês é “Esta é uma vida maravilhosa” É a história de um homem que atormentado por estar passando por uma grande adversidade, é salvo por um anjo quando estava a beira do suicídio. Numa tentativa de ajudá-lo a viver, mostra-lhe como a cidade e as pessoas onde morava seriam diferentes se ele não tivesse nascido. “Estaria faltando você, e você faria uma grande diferença no mundo.” Sempre me lembro do dia em que assisti o filme pela primeira vez. Eu já tinha assistido alguns filmes deste genial e incomparável diretor, mas não tinha visto “A felicidade não se compra,” considerado pela crítica, como um dos seus melhores filmes. Então tinha que ter paciência, e torcer para que algum dia reprisassem a cópia em algum cineclube ou na TV. Naquela época estava surgindo no Brasil os primeiros videocassetes em VHS, e algumas vídeo-locadoras, o que foi sem dúvida uma revolução. Então num sábado de manhã folhando o jornal, meu coração começou a bater mais forte quando me deparei na seção de lazer e entretenimento, que o clube SESC de Interlagos iria passar o filme as 15 h. daquele dia. Claro, não pensei duas vezes. Cancelei o meu programa de sábado, e lá fui eu na maior expectativa. Pensei que o filme seria projetado numa tela de cinema, mas foi num simples televisor que tive que assistir o filme, e legendado em espanhol. Mesmo assim a história foi tão empolgante que quando o filme terminou, lágrimas escorriam pela minha face, e chorei como uma criança. A seguir caminhando pelos jardins do clube, me senti envolvido por um estado de profundo encantamento. Nenhum filme havia me causado tanta emoção como esse. Em seu início pensei que seria apenas mais um filme natalino, mas aos poucos a história toma outro rumo e foi impossível não se envolver com os personagens. Sem dúvida uma inesquecível produção da era de ouro de Hollywood. Dizem que o famoso diretor Steven Spielberg antes de iniciar um novo filme, ele o assiste mais uma vez para inspirá-lo. Hoje tenho o filme em DVD, e sempre que o revejo ainda sinto a


mesma emoção. Se você não o assistiu, insisto para que o veja. Espero que ele possa também inspirá-lo para investir mais em si próprio e redescobrir o que sempre soube em um nível mais profundo.

O “Ser” magnífico e sublime que você é. Nunca esqueço, quando depois que publiquei O Divino jogo do “Ser”, uma grande amiga me disse: “Eu sempre tive muita vontade de escrever um livro, mas agora não preciso mais, você já o escreveu para mim”. Com estas palavras, recebi o melhor presente que um autor podia ganhar. No entanto, não pude me conter, e algo dentro de mim, sentiu a necessidade de escrever este segundo livro para clarear ainda mais a luz que brilha em nossos corações. Se somos atraídos para amar, é porque simplesmente Deus é amor. Como no primeiro volume, vamos notar como a linguagem racional é inábil para comunicar conceitos que transcendem o método lógico de pensar e falar. Mais uma vez tentarei superar um pouco estes limites para poder aos poucos abrir os olhos, talvez ainda não totalmente preparados, para que você possa relembrar que somos todos seres multidimencionais, cuja linguagem universal é o amor. Quero enfatizar que não escrevo como alguém que superou o caminho e despertou, mas alguém que ainda está engatinhando, pesquisando e meditando por um bom tempo. Já tropecei e passei por momentos de escuridão, angustia, dor, tristeza que foram companheiros por um bom tempo, mas também como tudo está em constante mutação, tive também momentos de alegria e plenitude. Apenas uma advertência. Não tente colocar todo o universo dentro de uma taça de vinho, porque com certeza você terá uma tremenda ressaca. Deve beber aos poucos, um gole de cada vez. Haverá talvez uma ligeira embriaguês no início, mas aos poucos começará a sentir o seu sabor e seu efeito extasiante, e sem você perceber, irá se tornar cada vez mais apaixonado, não podendo mais viver sem a companhia do único e verdadeiro amor que pode saciar a sua real sede de plenitude. É por isso, que mesmo um livro não passa de um mapa, e mesmo estudando-o cuidadosamente, jamais nos oferecerá a verdadeira visão do panorama completo e tampouco a emoção de uma autêntica viagem virtual. No entanto ele vale como um estímulo para empreender esta viagem até aquela terra encantada que está dentro de nós, e que somente você e mais ninguém poderá percorrer e descobrir. Existe um antigo provérbio persa que diz: “Olhe para o céu para encontrar a lua, não para seu simples reflexo no lago”. O propósito deste livro, possui a mesma metáfora. Ele é em seu início mais como olhar para o lago, mas o meu sincero desejo é que ele possa aos poucos inspirá-lo a contemplar a lua diretamente. Sentir vivencialmente que somos seres atemporais, e que só existe o amor. Não existe outra coisa. Este amor pode sofrer distorções pelas miragens da mente, mas jamais pode ser extinto. Ele não possui forma, nem cor, nem sabor, nem aroma, nem substância. Ele é um sentimento de unicidade. Somos todos um; não existe nenhuma separação; não existe eu, e nem o outro. São apenas sonhos criados por maya*. Sugiro que leia este livro com muita calma, e medite em seus ensinamentos a cada capítulo. Se for necessário releia mais de uma vez, porque sempre surge uma outra forma de entender e interpretar determinados trechos. Tenho certeza que quando estiver com a mente certa, no momento certo, e silenciosamente vigilante, a voz do ego irá se aquietar, e a voz do “Ser” irá


predominar. Neste estado, onde nada pode ser acrescentado e nada pode ser retirado, então todos os seus desejos e temores serão apaziguados. Não poderia deixar de reverenciar a todos os mestres de todas as correntes filosóficas, cujos ensinamentos permeiam várias páginas deste livro, e a todas as pessoas e amigos que compartilham comigo suas vidas, para a experiência libertadora do despertar.

Prepare-se para a mais importante viagem que vale a pena fazer. Uma viagem de auto-descoberta.

*Maya – Ilusã *”Ser”- A pura consciência Divina que habita em seu interior. *Lila - Jogo Divino.


A HISTÓRIA DE UM ROMANCE


O amor verdadeiro não muda. Ele existe independentemente da forma pela qual é expressa. A fonte desse amor eterno, onipresente e sem forma está dentro de você. É aí que você deve depositar a sua fé, pois esse amor é mais certo do que qualquer outra coisa que você conhecerá. Depois que isso estiver bem firme no seu coração, você nunca mais precisará buscar a felicidade fora de si mesmo. Paul Ferrini


A percepção de que Deus, a vida, o absoluto, o “Ser”, me ama de forma incondicional e que este amor me unifica com o todo, não sentindo mais nenhuma limitação, me proporciona a verdadeira segurança e a união mais íntima que se possa ter. Uma intimidade que não é fugaz, instável e transitória, mas uma energia amorosa que preenche o meu coração. Ele é o único amor que vale a pena sentir. Ele é a fonte da água viva que nunca seca, e que sacia a sua sede como tão bem Jesus ensinou através de uma singela e simples parábola. Este amor se manifesta de forma constante através da minha alegria, prazeres, lágrimas, dores, sucesso e fracassos. Somente quando o falso eu (ego) é despojado do seu papel, permitimos que um espaço vazio possa surgir, sem desejos ou expectativas. Porque por mais que possamos desejar mais e mais, jamais será suficiente para preencher a única e absoluta riqueza que já somos neste exato momento. Começa aqui a verdadeira história de um eterno romance que com certeza todos irão se apaixonar. Enquanto procuro fora de mim este amor através de realizações, posses ou pessoas, com certeza eles terão um valor relativo, dependendo das circunstâncias externas. Isso irá sem dúvida preencher o vazio que sentimos em nossa alma, no entanto sabemos por experiência que as probabilidades de se perpetuarem são um tanto remotas. Elas terminam, e acabamos nos decepcionando, dando-nos a sensação que este vazio se tornou ainda maior. Isto não quer dizer que devemos nos isolar e não criar nenhum vínculo afetivo, mas ter consciência que este tipo de relacionamento que ocorre quase sempre de forma condicional, não poderá se sustentar por muito tempo. Existe uma linda história que exemplifica muito bem esta verdade. Conta-se que o sábio Yajnavalkya quando resolveu renunciar a tudo, para levar uma vida de monge, reuniu suas duas esposas, para repartir entre elas os seus bens. A primeira aceitou de boa vontade a sua parte, enquanto a segunda de nome Maitreyi não se contentou com a doação, disse ela: --- Quando eu deixar este mundo o que farei com todas estas riquezas se não poderei levar?Assim prefiro estar contigo para que possa me ensinar tua sabedoria e levar comigo as verdadeiras riquezas. Yajnavalkya respondeu com muita alegria em seu coração: --- Vou-te expor estes conhecimentos, que com o tempo você irá assimilar. Preste atenção: em verdade não é pelo amor que um esposo é caro, mas pelo amor que ele tem pelo seu próprio “Ser” ---Não é pelo amor dela que uma esposa é cara, mas pelo amor que ela tem pelo seu “Ser”. ---Não é pelo amor dos filhos, mas pelo amor do “Ser”. ---Não é pelo amor que algum objeto é caro, mas pelo amor do “Ser”. ---É o Ser que é preciso olhar exclusivamente. Assim dentro desta profunda verdade, podemos perceber que todas as atrações, todos os laços afetivos estão intrinsecamente voltados ao divino, mas que também se manifestam em todas as


outras coisas. Desta forma, nada impede que se possa amar uma pessoa, porque compreendemos que nosso bem amado não é outro senão o “Ser”, e que afinal o um está em tudo e tudo está nele. Isto significa, em outras palavras, que o relacionamento com o “Ser” habita em cada um de nós. Assim amar uma pessoa é em verdade amar o “Ser” divino que se encontra o tempo todo em nosso interior. Pode parecer paradoxal, mas não saber ou esquecer esta verdade é como um peixe nadando em busca de água ou como um homem mendigando um pão, sem se dar conta que possui em seu bolso, dinheiro suficiente para comprar uma padaria. Não é de se surpreender que vamos encontrar esta constante paixão pelo “Ser” em todos os autênticos mestres da humanidade. Cada um deles a expressou de acordo com seus sentimentos e na cultura em que vivia, seja em palavras ou ações. Alguns foram venerados, outros foram banidos, muitos foram crucificados e talvez a maior parte deles ignorados. No entanto, como não se identificavam com o mundo das formas*, nada poderia perturbar a paz, o amor e a serenidade em que viviam. Muito pelo contrário tentaram com muita compaixão elucidar os homens em buscar em primeiro lugar o reino dos céus (O Ser amoroso que está em nós) porque todas as outras coisas lhe seriam dadas por acréscimo. E mais do que isto, todos os mestres são unanimes quando afirmam que nem é necessário buscar o “Ser”. Temos a ilusão que ele esta longe de nós, mas na verdade como tão sabiamente disse Alan Watts: “Deus está mais próximo de nós, do que nós mesmos”. Reflita um pouco nisto. Se você não possuísse o “Ser” neste momento presente, e tentasse alcançá-lo como se tenta enlaçar um cavalo selvagem, existe sempre a possibilidade de que possa perdê-lo novamente. Será que vale a pena, tantos esforços por aquilo que não possui permanência? Você já possui o “Ser”, entretanto não está consciente desta verdade. Quando a mente está vazia, tranquila, e silenciosa, as condições de sentir o “Ser” serão maiores. Esta serenidade floresce quando não estamos mais atrelados ao vir a ser, ou seja, vivendo com pensamentos voltados para o futuro que acreditamos que irá nos completar. E o paradoxo é que somente quando desistimos de esperar pelo futuro, sentimos o “Ser” que está sempre no presente. Como ele está fora do tempo psicológico, isto significa viver totalmente o agora. E esta sensação interior é de tal magnitude que dificilmente poderíamos fazer uma ideia dela antes de termos passado por esta experiência. A primeira impressão que se tem em face desta afirmação é que se trata de algo fantástico, quase sobrenatural. Entretanto, constatamos que o “Ser” é o que há de mais real em nós, e que nada mais é que a nossa verdadeira natureza. Estar realmente convencido desta verdade fortalece a nossa fé e começamos a nos dar conta que o seu valor é muito maior do que tudo que poderíamos imaginar. Assim o caminho em direção ao “Ser” é um caminho que manda jogar fora todos os entulhos que estão em sua mente para ela se esvaziar. É um caminho que se parece mais como um ato de despir-se do que ao ato de vestir-se. O nosso equívoco tem sido o de amarmos precisamente aquilo que em nós tem sido a causa de confusão e sofrimento, tratando um ladrão (ego) como se fosse nosso filho. Assim é necessário desmascarar o ladrão e abandonar tudo aquilo que não nos pertence e que em nossa ilusão julgávamos que era o nosso “Ser”. Esta sensação que está faltando algo em você não tem nada a ver com o mundo exterior. Esta sensação de vazio, de inquietude e tristeza irão continuar a te incomodar em maior ou menor grau sempre com o propósito de estimular o seu crescimento interior, e não existe nenhum meio de eliminá-lo. Mesmo que tente se desviar deste sentimento através dos caminhos alternativos, mesmo assim ela permanece, porque ela é intrínseca a sua verdadeira natureza. Somente quando se sentir preenchido, então você sente


que se tornou o que era determinado a ser. “O “Ser” Divino que você sempre foi”. Da mesma forma que uma semente floresce e se torna uma bela flor, da qual era destinada a se tornar. Adoro uma poética afirmação de Yogananda outro grande mestre hindu, quando disse em uma de suas palestras: “ A humanidade está empenhada em uma eterna busca daquele “algo mais” que segundo se espera, vai nos trazer felicidade completa e sem fim. Para as almas que procuram e encontraram Deus, a busca terminou: “Ele é esse algo a mais”. Outra história que não poderia deixar de relatar, porque demonstra esta ansiosa busca em encontrar o grande amor de nossa vida, se encontra numa antiga escritura hindú. Devemos entender é claro que a história é apenas uma alegoria, mas que demonstra com clareza e até de forma humorística porque esquecemos quem somos. Era uma vez dois demônios que aterrorizavam os céus. Até mesmo o maior de todos os Devas*, sentia-se impotente diante deles. Assustado, foi se refugiar aos pés do senhor Vishnu*, ele analisou a situação e através do seu poder, percebeu que só poderiam ser eliminados um pelo outro, pois eram irmãos e se gostavam muito. Assim Vishnu, transformou-se numa bela e encantadora mulher e adotou o nome de Mohini. Agora super sexy e extremamente sedutora se apresentou diante deles. O primeiro demônio falou: --- Case comigo. O segundo disse: --- Não. Case comigo. Mohini contemplou as duas criaturas e disse: --- Não posso casar com os dois. Desposarei aquele que for o mais forte e poderoso. Prontamente os dois decidiram lutar. Durante dias e noites perdurou a batalha. Mas finalmente os dois demônios caíram exaustos aos pés de Mohini. Realizada a tarefa, Mohini cometeu então um erro fatal. Olhou para si mesma num lago que se encontrava ao lado e pensou: --- Que linda mulher eu sou. Não admira que aqueles monstros queriam a minha mão Inebriada pela sua beleza, ela se pôs a vagar contemplando seu reflexo em todo o lago. Em pouco tempo ela esqueceu sua verdadeira identidade. Acreditando que era Mohini e sentindo-se tão bela, achou que merecia um marido. Assim se aproximou do grande senhor Shiva e ofereceu-se como sua esposa. Shiva concordou em desposá-la contanto que Brahma o criador realizasse a cerimônia. Mas quando se aproximaram de Brahma a venerável divindade ficou aturdida e disse a Mohini: --- Você não pode desposar Shiva --- Por que não? Perguntou Mohini --- Porque você é Vishnu. Do mesmo modo que Vishnu, nós somos o “Ser”, contudo devido a nossa identificação equivocada com o nosso corpo e nossa mente, pensamos que somos uma bela mulher, um talentoso escritor, um grande e bem sucedido executivo, um simples lavador de pratos ou uma mãe solteira cuidando de seus três filhos. Você pode ficar surpreso e perguntar como pode acontecer essa


transformação, este esquecimento? E aqui estamos mais uma vez, diante de um grande paradoxo. Como Deus pode esquecer a sua divindade e tornar-se um ser humano ? Segundo entendimento espiritual dos grandes mestres da Yoga, Chiti ou o “Ser” contrai-se e transforma-se na mente. Devido a essa contração ele se torna uma pessoa comum, sujeita a limitações. Segundo Swami Muktananda* o “Ser” limitando seus poderes torna-se você e eu. No entanto, mesmo quando se transforma em nós, Deus continua a ser Deus, assim como Mohini continua a ser Vishnu ou como um bracelete de ouro continua a ser ouro, ou como um ator interpretando seja qual for o personagem, continua a ser um ator. É importante frisar que ter apenas um conhecimento intelectual sobre a verdade do “Ser”, não refresca muita coisa. Vamos continuar lavando pratos, administrando a nossa empresa ou cuidando dos nossos três filhos. A verdade não pode ser transferível. Você tem que prová-la por si próprio. Frequentar uma organização religiosa, pode te trazer uma paz relativa. Mas a verdadeira religião, é tudo aquilo que irá levá-lo a suprema bem aventurança, esteja onde você estiver. É por isso que os Upanishads* dizem: Neti Neti – isso, nem aquilo, o que significa que o que for que você saiba, você não é isso; e seja o que for que você não saiba, você também não é isso. Saber o que você é em toda a sua totalidade, não é possível a nível intelectual. Seria como tentar observar a imensidão do cosmos, através de uma simples luneta. É impossível possuir um total conhecimento de si mesmo, porque seja o que for que você saiba, ele é visto pela mente limitada. Ele é apenas um conceito, uma ideia. O “Ser” é o verdadeiro conhecedor, enquanto o conhecimento é apenas um pensamento do que você acredita ser. Tentar procurar pelo “Ser” através da mente, é acreditar que ele está perdido. Ela não pode ser perdida porque ela é a sua própria existência. É como um peixe procurando pela água, enquanto está o tempo todo mergulhado nela. Por estar procurando, o buscador sonha que pode alcançá-lo. Esquecemos que em essência somos seres imutáveis, apesar de todos os inconstantes estados mentais que experimentamos. Existe apenas uma coisa que sempre permanece imutável o “Ser” que não precisa ser procurado. Mesmo soterrada por falsos valores, e ilusórias crenças, ela permanece em sua absoluta plenitude. Nesta unicidade não há nenhuma oposição, nenhum conflito. Assim por mais inteligente que um homem seja, ele não é mensurável. O “Ser” vai muito além de qualquer tentativa de classificação. Você pode receber de presente uma bela maçã. Você pode estar cercado por dezenas de maçãs. Mas você estará perdendo tempo e a oportunidade que teriam lhe dado o sabor da verdade, se você tivesse ao menos dado uma pequena mordida em uma delas. E com a rapidez de um relâmpago, despertar do seu sonho e reconhecer o “Ser” que você já é. E assim, começa esta história de amor. A história de um eterno romance.

Aguarde mais emoções no próximo capítulo. você ficará surpreendido! *Forma - Mundo material. *Devas - Um Ser iluminado. *Vishnu - Um Ser de luz da mais alta hierarquia espiritual. *Swani Muktananda - Mestre da linhagem de Siddha yoga *Upanishads - Texto esotérico hindu que expõe a metafísica do não dualismo.


O PARADOXO ENTRE O REAL E O IRREAL


O infinito está aqui, mas a mente finita o encobre. A eternidade é agora, mas a mente, presa no tempo, vivendo o fugaz a esconde. A paz é aqui e agora, mas a mente ansiosa não me permite alcançá-la. A liberdade absoluta já é, mas a mente se escraviza ao sentimento do eu e do meu. A vida universal sou eu, mas a mente me ilude com o que apenas aparento ser, e assim não alcanço o que realmente Eu sou. Hermógenes


Num importante versículo do Upanishad , o discípulo dirigindo-se ao guru, diz sob a forma de *

oração: “Do irreal conduza-nos ao real, das trevas conduza-nos à luz, da morte conduza-nos a imortalidade”. Este versículo demonstra a necessidade de não sermos mais ludibriados pelas aparências, e despertar para o puro conhecimento. A realidade imutável. Temos a sensação de que o mundo em que vivemos é como um véu na nossa frente que nos impede de ver quem somos nós. Quando trilhamos o caminho do autoconhecimento sentimos com mais intensidade este mesmo anseio. Como sair deste nosso sono hipnótico? Como parar de nos debatermos no transitório e no perecível? O que é a realidade? O que é real? O mundo é real? Quem sou eu? A primeira percepção que devemos ter, é estarmos conscientes que os nossos sentidos são muito enganadores e quase sempre voltados para o mundo externo. Somos constantemente dominados pelo ego (falso eu), sentimos incontáveis desejos devido a sensação de carência, nutrimos expectativas e temores, e somos o tempo todo arrastados como num vendaval ao passado ou ao futuro, deixando de viver o momento. Como administrar e escapar desta difícil e desafiadora situação? Hoje sabemos através da física quântica que nada é sólido como os objetos aparentam ser. A matéria é constituída de vibrações em constante mutação. Um campo energético que nasce e que se dissolve em frações de segundos; e nada escapa a esta regra universal. Tudo que consideramos matéria é em realidade espaço vazio. Hoje sabemos que os núcleos dos átomos contêm mais de 99,9% da massa, e se fosse possível comprimir a matéria até que os núcleos se tocassem então o tamanho do nosso planeta ficaria do tamanho de uma bola de futebol. E mesmo assim está bola nada mais seria que vibrações projetadas pela consciência, como um projetor projetando imagens numa tela. Para tentar compreender este aparente paradoxo entre o que é real e irreal, acho necessário apresentar a situação de outra forma. Ou seja, enumerar todos os atributos que não podem ser desmentidos e que sejam dotados de uma realidade estável e permanente. Creio que você já está intuindo a resposta. Sem dúvida somente o “Ser” responde a todas estas questões. Segundo “Um “Curso em Milagres*”. “Nada real pode ser ameaçado, Nada irreal existe “Nisto está a paz de Deus.” A revelação que Um Curso em Milagres nos dá, desfaz a nossa ilusão, porque explica que o real não possui oposto, não possui início e não tem fim. Simplesmente é. Enquanto que o mundo dos sentidos é o mundo do tempo, da mudança, dos inícios e dos fins. É o mundo do nascimento e da morte, fundado na crença da escassez, da perda, e da separação.


A ideia de que estou separado do mundo, é a base de toda a amargura, do ódio, da tristeza e do desânimo. Pensar que estou separado da vida é intensificar o sentimento de desamparo e de sofrimento. Como podemos definir o real? Será que cheirar, ver, ouvir, é real ou são simplesmente sinais elétricos que são interpretados pelo cérebro? No mundo de vigília, vivemos em um mundo de sonhos. Explicado de outra forma, tudo que um dia nasceu irá se dissolver. A vida é um sonho. Um jogo fascinante de imagens e de luzes a tremular na imensa tela do universo.

Um universo virtual Eu imagino que você esteja se sentindo um pouco como Alice, entrando pela toca do coelho. Eu vejo em seus olhos. Você tem o olhar de um homem que aceita o que vê, porque está esperando acordar. Ironicamente, não deixa de ser verdade. Vou te dizer por que está aqui. Você sabe de algo. Não consegue explicar o que é, mas você sente. Você sentiu a vida inteira. Há algo errado com o mundo. Você não sabe o que é, mas há como um zumbido na sua cabeça, te enlouquecendo. Foi este sentimento que te trouxe até mim. Você sabe do que estou falando? Você deseja saber, o que ela é? Ela está em todo lugar. A nossa volta. Mesmo agora nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga a sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai a igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos, para que você não visse a verdade. E sabe qual é a verdade? A verdade é que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para sua mente. Infelizmente é impossível dizer o que é, você tem que ver por si mesmo. Esta é a sua última chance. Depois não há como voltar. Se tomar a pílula azul, a história acaba e você acordará na sua cama, acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha, ficará no país das maravilhas e eu te mostrarei até onde vai à toca do coelho. A primeira impressão que se tem, é que acabamos de ler parte de um texto sagrado um tanto hermético, talvez uma milenar escritura hindu ou até mesmo alucinações de um homem drogado. Mero engano. Trata-se de um dos diálogos mais profundos do filme Matrix. O que para muitos pode ter passado apenas como um filme de ficção, com estupendos efeitos especiais é provavelmente um dos filmes mais espirituais realizado nas últimas décadas, dirigido e produzido pelos irmãos Wachowsky. Eles conseguiram transpor para o cinema, com muita criatividade a condição humana e sua jornada em direção de si mesmo. Caso você não tenha se dado conta de sua mensagem, insisto para que o reveja, agora com esta nova visão. Matrix é em resumo um sistema que você mesmo construiu em sua própria mente ao longo do tempo em que foi condicionado por regras, crenças, tabus e que inconscientemente controla sua vida. É como se fosse uma venda colocada diante de seus olhos, para acreditar que o mundo é real e para que você não saiba quem você é. Segundo o escritor e terapeuta Rasul: Matrix é uma das mais reveladoras expressões da Philosophia Perennis. Um filme realmente estonteante. Uma verdadeira e comovente canção de amor à vida, aos seus infinitos jogos e brincadeiras.


Em outras palavras o que de fato mais atormentava Neo, o personagem principal, era a verdade mais importante que ele queria descobrir. “Quem sou eu?” No final do filme a jornada do herói é salva através do poder do amor. O amor pela vida, o amor pelo “Ser”, o amor por Deus. Ele era o escolhido, assim como todos nós somos. E esta é a parte mais sagrada e apaixonante do filme “O amor sempre vence”. E como uma espécie de ressurreição, ele renasce em vida, mas agora consciente dos seus poderes ilimitados. É mestre do tempo, se sente imortal, nada mais o afeta, nenhuma arma pode feri-lo, e como um guerreiro vitorioso, ele se torna um imperador desapegado. Através de sua sabedoria divina, destrói completamente os adversários das trevas que na verdade representam as ilusões e limitações em que vivia anteriormente. E como no filme “ A bela adormecida” de Walt Disney, Neo é despertado pelo beijo da mulher apaixonada, quebrando assim o feitiço da matrix. O filme termina com uma citação profética, quando Neo desperta das ilusões e recupera o seu poder. Estas foram em resumo suas últimas palavras: “Eu sei que você está aí. Sei que está com medo das mudanças. Eu não conheço o futuro. Eu não sei como isto vai acabar, eu vim aqui te dizer como vai começar. Um mundo sem regras e controle, sem limites e sem fronteiras. Um mundo onde tudo é possível. Para onde vamos daqui, é uma escolha que deixo para você”. É surpreendente, como estas palavras fazem eco, e confirma os ensinamentos de Sai Baba, um dos mais amados mestres deste século. Ele nos revela que o mundo aparente, seus objetos animados e inanimados, o panorama cósmico, tempo e espaço, nascimento, morte, apego e libertação são ilusões criadas pela mente. Tudo é sem realidade independente, e nada realmente existe, exceto Deus. Seria como se a escuridão tivesse existência própria. Se a escuridão fosse real, então mesmo que acendesse uma pequena vela, ela iria resistir. Mas ela não possui existência independente. Ela é apenas a ausência de luz. Sim. Podemos despertar do sonho do mundo, que é sustentado por nós, por acreditarmos em sua realidade. Podemos despertar para a presença do nosso “Ser” infinitamente atraente, sempre feliz e então tomar consciência com o maior assombro de que “não somos dois”. Eu sou ele. Sou a realidade brilhante. Não há ignorância. Não há tempo. Não há nascimento nem morte. Assim quando alguém deixa o corpo, parece que ocorreu uma separação. Porém isto é uma ilusão. Não existe separação porque todos nós estamos interconectados. O que de fato acontece, não é da pessoa da qual ela aparentemente se separou que a entristece, mas sim pela falta que sente por estar distanciada do seu “Ser” (Deus) Nós não percebemos esta conexão porque ela é inconsciente. Mas quando o homem compreende que toda criação, nada mais é que um simples e temporário jogo, adquire então a consciência que nada existe além do seu próprio “Ser.” No livro “Um Curso em milagres”, vamos encontrar um texto que confirma esta verdade: ...A morte é o sonho central do qual brotam todas as ilusões. Não é loucura pensar na vida como nascimento, envelhecimento, perda de vitalidade e morte no final?.....A “realidade” da morte está firmemente enraizada na crença, segundo a qual, o Filho de Deus é um corpo. E, se Deus tivesse criado corpos, a morte, certamente, seria real. Mas Deus não seria amoroso. A princípio podemos nos chocar e até duvidar desta afirmação. No entanto esta é a nossa realidade neste mundo de sonhos. O corpo pode ser belo ou feio, doente ou saudável, mas são todos a mesma coisa, porque nenhum deles é verdadeiro. E não há da mesma forma nenhuma diferença entre


doença e morte. Segundo mestres ascensionados eles confirmam que são apenas níveis diferentes de pensar. Viver no mundo da dualidade nos faz acreditar que estamos separados da fonte (Deus). Enquanto estivermos adormecidos e hipnotizados pela aparente solidez da matéria, e acreditando em todas estas inverdades, estaremos acreditando na separação, e fazendo distinções entre um corpo e outro, entre o rico e o pobre, e assim por diante, sem nos darmos conta que tudo que vemos e interpretamos é apenas uma projeção. Nada é real. Não existe realmente um universo no tempo e no espaço.. Ele só parece ser desta maneira. Isto não quer dizer que há algo de errado em experimentar que você é um corpo e que este mundo nos parece muito real, pois obviamente esta é a nossa experiência. No entanto ele é uma experiência falsa. Ela não é verdadeira. É muito parecido com um filme. E não é por ser um filme que deixaremos de interagir em sua história e sentir as mais diversas emoções. Quem não se comoveu ou até chorou em certos filmes dramáticos? Ou em filmes de suspense ou terror, onde algumas vezes tivemos que fechar os olhos vencidos pelo medo? Ou em outros que nos encantaram e nos deixaram inebriados pelas suas nobres verdades. Assim da mesma forma, acontece quando neste aparente mundo nos emocionamos e ficamos encantados ou amedrontados, vivendo intensamente o roteiro que nos foi programado. Sim, sem dúvida que estes sentimentos são reais, seja quando estivermos assistindo um filme ou quando estivermos sonhando neste ilusório mundo. Não podemos negar este fato. No entanto tudo é uma projeção. Não é a realidade do nosso Ser. Quando lemos sobre a vida dos mestres iluminados, ou convivendo com um deles, podemos ver que mesmo sendo ignorados, desrespeitados, elogiados, agredidos ou até mesmo crucificados, para eles isso nada representa. O mestre se comporta como um bom ator que sabe que tudo que está ocorrendo no set de filmagem é de mentirinha. É muito diferente de alguém que sabe disso apenas intelectualmente. No entanto entender este conhecimento e estar de fato convicto desta verdade, já representa um semi-despertar. As projeções se tornam menos dolorosas e gradativamente desaparecem quando surge a verdadeira iluminação. Quando Despertamos de todas essas ilusões, teremos certeza que jamais em momento algum saímos do nosso lar. As fantasias do corpo são postas de lado, e não será mais necessário retornar para este mundo de sonhos. Então sentiremos que somos um com Deus como a nossa verdadeira realidade. O corpo nada mais é do que um complexo instrumento de aprendizagem. Depois de cumprir com sua missão ele aparentemente é enterrado ou cremado, porque na verdade ele nunca existiu. Permanece o “Ser”. “Absoluto, Perfeito e atemporal”.

No próximo capítulo, a consciência se apaixonada por si mesma.

*Upanishad - texto esotérico hindu. *Um Curso em Milagres - Livro editado sob influência espiritual, pela psicóloga Helen Shucman. É um programa de psicoterapia, para obter paz interior e despertar o nosso “Ser.”


A CONSCIÊNCIA CONSCIENTE DE SI MESMA


O mundo em que vivemos é um jogo da consciência universal. É o passatempo lúdico do Ser. Embora se manifeste através de inumeráveis condições e formas, nunca perde sua pureza. Nada existe, salvo o absoluto. Apenas você existe. Por sua própria vontade ele se torna o universo dentro do seu próprio Ser. Swami Muktananda


Com certeza você em algum momento de sua vida, deve-ter se apaixonado por alguém. Não é mesmo? Que emoção você sentiu? Acredito que deve ter sido arrebatador, principalmente se ele foi correspondido. Tudo em sua volta se tornou belo e atraente. O mundo passou a ser muito mais colorido e nos sentimos muito mais vivos e vibrantes. Eu me lembro, como se fosse ontem, quando me apaixonei pela primeira vez. Conhecer e ter um vínculo afetivo com outra pessoa foi para mim arrebatador. Embora não tenha durado muito tempo, quando o amor acontece jamais esquecemos o sentimento unificador da relação. No início achamos que isto vai durar para sempre. No entanto é impossível perpetuar este amor no estado comum de consciência em que nos encontramos. O amor só se torna possível, quando sabemos vivenciar, que somos o próprio amor. Assim o amor não é a questão principal. Sua consciência é a questão principal. Assim não existe a ilusão de quem ama e tampouco aquele que é amado. Quando a consciência se torna consciente de si mesma então só existe o amor. Então você fica preenchido e nada te falta. A carência simplesmente desaparece. Provavelmente esta seja a razão da obsessão que sentimos pelo sexo e o erotismo em nossos dias, porque mesmo não existindo um vínculo mais profundo de amor, pelo menos ele nos proporciona alívio e uma sensação de unificação, mesmo que temporariamente. Como uma espécie de narcótico ele diminui a nossa ansiedade do vazio que constantemente nos invade. No entanto não podemos permanecer no vazio por muito tempo. Ele é muito devastador. Por isto quando nos defrontamos com o vazio, queremos logo preenchê-lo. Com certeza o que mais nos aproxima do nosso “Ser”, são os relacionamentos afetivos*. Isto acontece porque quando estamos apaixonados, sentimos que queremos estar tão próximos um do outro, como se não existissem duas pessoas. Existe um intenso desejo de fundir-se com o outro, sem limites, até que sobre apenas o amor. Somos levados a acreditar que será impossível alcançar este estado senão com outra pessoa. Se você se lembrar das vezes em que esteve apaixonado, certamente lembrará que a outra pessoa era um verdadeiro encanto, a pessoa ideal e por isso se apaixonou. No entanto quando a paixão termina, e isso ocorre hoje com maior frequência, não sabemos exatamente o que aconteceu. Ficamos estonteados, e parece que o feitiço terminou. Isto não significa que a outra pessoa não tivesse os seus valores. O que na verdade acontece, é que inconscientemente ignoramos os nossos próprios valores, e o ego acaba achando uma brecha para nos dominar. Projetamos as nossas ilusões sobre o outro, e assim, podemos dizer que no fundo era pela nossa própria essência que estávamos apaixonados. Apaixonamo-nos, porque na intimidade da nossa relação deixamos o nosso “Ser” se expandir. E quando isto acontece o ego diminui a sua interferência. Porque quando há amor, há entrega. O ego é sempre contra o “Ser”. E não podia ser diferente, porque através da luminosidade do “Ser” o ego simplesmente começa a se ofuscar, e perde o seu poder. Isso nos torna conscientes que ninguém pode ser a razão da nossa felicidade. Em nossos relacionamentos algumas pessoas podem nos inspirar, mas só você é a única razão.


Afinal o que tudo isto significa? Significa que o ego ainda continua interferindo, porque ainda não estávamos preparados para suportar a nossa expansão, o nosso próprio brilho. No entanto não é necessário existir outra pessoa para sentir esta sensação de união. Mas para a maioria das pessoas, elas acreditam que precisam de alguém, porque sempre foi a única forma conhecida de se sentir amado e protegido. Mas o que na verdade mais importa quer estejamos nos relacionando ou não, é descobrir os bloqueios que nos impedem de sentir a nossa verdadeira essência. E na medida em que nos expandimos, isto é quando reconhecemos os nossos valores, o nosso próprio brilho, então o nosso objetivo não será apenas ser um engenheiro ou um jardineiro ou simplesmente uma dona de casa. O nosso objetivo mais importante será o reconhecimento e a conexão com o “Ser”, que esteve sempre presente. Este é o propósito principal de nossa existência. Brian Greene, numa citação feita em seu livro “O universo Elegante” diz: “Conforme formos elevando nossa consciência, chegará o dia em que apreciaremos totalmente não apenas a existência de nossos campos energéticos pessoais e nossas capacidades paranormais, mas também as facetas multidimensionais e a natureza de nosso ser, e compreenderemos também a nossa conexão com o Universo”. Podemos ainda completar essa afirmação com as palavras do físico quântico, Amit Gosmani quando diz em seu estupendo livro “O universo autoconsciente”: “Nosso universo como vemos é “autoconsciente”, e é a própria consciência que cria o que chamamos de mundo material”. Talvez isto seja fácil de ser entendido, mas muito difícil de ser vivenciado porque se você não estiver de fato unificado com o “Ser” ou com os caminhos alternativos, então um grande vazio será sentido. É como estar com um pé em cada canoa. É difícil prever o que pode acontecer. Talvez o vazio te leve em direção ao “Ser” ou aos caminhos alternativos. Permanecer no vazio por muito tempo é muito devastador. E é por esta razão que a maioria das pessoas, vivem através dos caminhos alternativos. Mas quando você alcança a plenitude, não intelectualmente, mas vivencialmente reconhece quem você é: ”O “Ser” indivisível, supremo e absoluto. Você pode até interagir com os caminhos alternativos, mas isto não vai fazer nenhuma diferença”. Talvez, sabemos por intuição que isto é verdade, mas temos que admitir que ele ainda não é sentido totalmente em nosso coração. Embora o nosso amor esteja brilhando neste momento, nuvens escuras obscurecem o azul do céu. Mas se cultivarmos o silêncio e a quietude, eles podem nos trazer uma suave brisa de ar, que podem afastar as nuvens negras do céu. Então o nosso amor volta a se irradiar, e como os raios do sol, a nossa essência volta a brilhar. Amar o nosso próprio “Ser”, é o nosso maior e eterno romance. E quando você estiver conectado com este amor, sentirá este mesmo amor também no outro e também no mundo exterior. Esta é a verdadeira liberdade. O “Ser” não é separado da vida, ele é a própria vida. É muito mais como um dançarino que se torna a própria dança. Entretanto, enquanto estivermos adormecidos e hipnotizados pelo mundo das formas, iremos fatalmente tropeçar aqui e ali, sempre em busca da paz, da felicidade e do amor. Podemos conseguir até certo ponto um relativo sucesso, e como expliquei no "Divino jogo do Ser"*, existem os caminhos alternativos que temporariamente nos proporciona momentos de felicidade. Uma boa promoção, o nascimento de um filho, uma viagem maravilhosa. Tudo isto é desejável, mas devemos ter consciência que elas não duram para sempre. Como a nossa mente é ladina e em grande parte nutrida pelo ego, ele nos estimula a trilhar este caminho, mas que nada irá nos trazer a não ser decepções e sofrimentos. Sentimos quase o tempo todo que está faltando alguma coisa que acreditamos que finalmente irá nos completar. Talvez uma nova casa, um novo emprego, mais dinheiro, uma nova namorada etc... Os desejos são infinitos. O


mais surpreendente é que somos levados a pensar e a acreditar que a vida é assim. Lembre-se: tudo que você conquista você se entedia, e o paradoxo é que tudo que você não tem, você o deseja. Porque temos este comportamento? Porque somos tão obcecados por todas estas coisas? Porque buscamos continuamente o prazer, a fama e o sucesso? Segundo os grandes mestres a resposta, é porque todos estes desejos tentam substituir a nossa natureza inata, e esquecemos onde encontrála. Estar consciente de sua própria consciência significa que podemos encontrar onde ela pode estar. Ela pode estar apenas num único lugar: "Em nosso interior". Não no interior do nosso físico biológico que faz parte do mundo das formas, mas em nossa essência. Segundo Swami Muktananda: “Há um mundo sublime que vale a pena conhecer. Comparado à visão deste mundo interior, o mundo exterior não é nada. Você não é apenas o que pensa que é; o nosso Ser é sublime e magnífico, muito mais do que você imagina”. Com esta afirmação, ficamos um tanto confusos porque ao longo de toda a nossa vida, sempre fomos levados a acreditar no mundo das formas e que somente ela poderia nos proporcionar a felicidade tão desejada. Mas é exatamente o contrário que acontece. Jamais o mundo das formas poderá nos proporcionar a felicidade completa. Ele é efêmero, e limitado. Tentar manter ou prolongar as situações, objetos ou pessoas do jeito que nós gostaríamos, é lutar contra o vento. Estará em constante frustração, ao invés de aceitar o momento presente, seja qual for a forma em que ele se apresente. Somente através do silêncio da mente, quando desligamos o botão eliminando o congestionamento dos pensamentos, podemos trafegar tranquilamente em direção da nossa essência. Podemos nos perguntar; como podemos desligar este botão? Que instrumentos podemos utilizar para conseguirmos esta proeza? Somente através da prática da meditação constante, a auto observação, a prática do perdão e do amor incondicional, podem nos levar em direção da nossa imensa e incalculável fortuna. Da mesma forma quando nos apaixonamos, fazemos tudo para conquistar o nosso amor, assim devemos proceder quando nos apaixonamos pelo nosso “Ser”. Contudo devo alertar que esta trajetória no início não é fácil "Quem falou que é fácil?" Mas também esta trajetória é difícil. ”Quem falou que é difícil? Isto parece mais como um Koan* do zen budismo, mas na verdade as duas afirmações são verdadeiras. Se pensarmos que é difícil será difícil, mas se acreditarmos que é fácil será fácil. Mas não importa o quanto possa ser doloroso no início. Afinal você se sente num mundo estranho e desconhecido, mas como um aspirador no final ele retira as suas ilusões e por detrás deste confronto, por detrás da ansiedade e da angustia, surgirá a maior benção "A lembrança de si". A verdade é que o nosso “Ser”, não precisa ser criado. Nós somos o “Ser”. Ele está lá presente para ser reconhecido. Tudo que existe está vivo. É a pura consciência de um eterno jogo que pretende se ver a si mesmo, da mesma forma que o oceano se reconhece em cada gota d'água. Ele é a testemunha sempre presente que vivencia todos os nossos estados. No sono, nos sonhos e no estado da vigília. No entanto no estado de vigília somos levados a acreditar que estamos acordados, mas na verdade continuamos sonhando. A diferença está em nossa mente. Quando sonhamos sua duração é mais curta, mas no estado de vigília ela se prolonga um pouco mais. Quando desejamos despertar destes sonhos, sentimos por intuição um poder que nos dirige. A consciência se torna consciente de si mesma. Então chega o momento em que cansados em procurar a felicidade no mundo das formas, começamos a sentir cada vez mais a necessidade de algo que seja mais elevado, de algo que seja mais substancial e que possa nos proporcionar a verdadeira alegria e a paz que tanto ansiamos. Ela tem que ser vivenciada, porque até as mais sábias declarações não são difíceis de compreender. Citações como: Não existe um eu, Deus é amor, nós somos o “Ser”, são apenas meras descrições de uma verdade. Mas esta verdade não pode ser encontrada nas palavras,


que são ideias verbalizadas, conceitos e abstrações da mente. Ela só pode ser encontrada no silêncio. Ela é a sua profunda e autêntica natureza. O que impede de vê-la é esta densa camada de entulhos de lembranças e pensamentos turbulentos, que como um vendaval de desejos e expectativas, obscurece a luz de nossa bem-aventurança. Como tão sabiamente disse o mestre Rumi*: “Durante muito tempo eu batia na porta – quando ela se abriu eu descobri que estava batendo por dentro” Se de fato estivermos atentos e compreendermos o profundo significado das palavras do mestre Rumi, então podemos afirmar que a conexão com o nosso “Ser” não é algo que iremos descobrir após uma longa caminhada através do tempo, lendo centenas de livros, ou adquirindo mais informações. É imprescindível perceber que nada existe lá fora. Toda a nossa riqueza está dentro. O exterior pode somente nos estimular. Então perguntamos a nós mesmos: ---porque continuamos batendo na porta? Sentimos muita dificuldade em aceitar isso, porque o ego acredita que temos que fazer muitas coisas, precisamos de tempo. No entanto como já vimos e não custa repetir, o tempo é algo que poderá nos conduzir a muitos lugares, menos ao “Ser”. Assim não existe nenhum caminho que poderá nos levar ao “Ser”, nada temos que fazer e nem em ir à parte alguma. Não pode ser encontrado no passado nem no futuro. Como podemos ir ao “Ser”, se nós já somos o “Ser”? É como um cão tentando morder sua própria cauda, pensando que é algo fora de si. Ou como procurar por um óculos, mas que está sempre em nosso rosto. No entanto como já constatamos, até de forma humorística, o cão se cansa de dar voltas e mais voltas, até se dar conta que a cauda faz parte do seu próprio corpo. Quanto aos homens às vezes eles também precisam de tempo, para perceberem que seus óculos estavam o tempo todo diante do próprio nariz. Quando pensei que estava finalizando este capítulo, vejo na minha caixa dos meus e-mails uma declaração que me deixou deveras impressionado. Não me recordo quem foi que a mandou, mas não pude esquecer a sua bela mensagem. Assim resolvi que ele fecharia com chave de ouro este capítulo. Era uma entrevista com uma criança de quatro anos de nome Jenny. Quando perguntaram para ela o que podia falar sobre o amor. Ela disse: --- Existem dois tipos de amor. O nosso amor e o amor de Deus. Mas o amor de Deus junta os dois. Através de sua pureza, expressou em poucas palavras uma profunda verdade.

Quando a consciência estiver consciente de si mesma, sentimos o amor com mais intensidade

*O Divino jogo do “Ser”- capítulo “A importância dos relacionamentos. *Koan - História aparentemente paradoxal, destinada a fazer cessar os pensamentos compulsivos. *Rumi - Poeta e teólogo sufi do século XIII.


A JORNADA INTERIOR


Na consciência cósmica, ficamos cientes de que não somos o corpo físico, nem mesmo a mente, nem todos os papéis que desempenhamos. Somos a testemunha silenciosa, e uma sensação de liberdade e alívio resulta dessa percepção. Deepak Chopra


Trilhar a nossa jornada interior, é um caminho para descobrir novas e surpreendentes terras, plenas de surpresas, momentos extasiantes, mas também de dificuldades e angustias. Isto é assim, porque como mencionei nos capítulos anteriores vivemos num mudo dual, e consequentemente isso envolve o despertar de energias até então adormecidas. Existem quatro situações muito sugestivas, que definem a condição humana. Para um pássaro é o vento. Para uma árvore é a terra. Para o peixe é a água, mas para o homem é o encontro consigo mesmo. Entretanto, o homem se identifica muito mais com o ego do que com o “Ser”. Com isto surge conflitos e sofrimentos sempre que reagimos para qualquer tipo de emoção. Percebemos então que esta é a estratégia do ego para manter o seu sistema em ação. Somente o perdão poderá libertá-lo deste domínio. Hoje muitas pessoas até mesmo não demonstrando grande interesse pela espiritualidade, buscam um trabalho de interiorização, mas não sabem como começar, e desconhecem o que se poderia chamar de um trabalho psicológico de auto-conhecimento. Reconhecem que o mundo de fato é transitório e efêmero, e que não é fácil se desvencilhar dele. Mas também sentem a necessidade cada vez mais intensa de se conhecerem e não mais permanecer escravos de seus pensamentos quase sempre turbulentos, e conflitantes. As questões que frequentemente muitas pessoas fazem, é como iniciar a jornada interior? Acho desnecessário dizer para quem já possui uma certa base de autoconhecimento espiritual, que não resolve mudar de ambiente, se enclausurar num mosteiro ou abrir mão de bens materiais que você aparentemente pensa possuir neste mundo de sonhos. Porque se desistir de algo, estará atribuindo realidade a ilusões e portanto estará sob a influência da irrealidade do sacrifício, e que o ego quer a todo custo nos convencer. Assim recomendo sempre que for possível procurar uma cidade ou local tranquilo de preferência próximo da natureza. Sempre um ambiente mais calmo, longe de ruídos, irá contribuir sem dúvida para desacelerar os nossos pensamentos compulsivos, que dominam sem trégua a nossa mente. Quando sentimos no fundo de nossa alma, esta necessidade urgente de auto-transformação, então estamos preparados para esta grande jornada. Recomendo sempre procurar fazer parte de um grupo que também possuam os mesmos objetivos, e se for possível ter o privilégio de encontrar um guru (mestre) realizado. Pelo fato de já ter trilhado o caminho, ele seria de enorme ajuda, nos inspirando e ensinando. Portanto, considero o relacionamento com um mestre de fundamental importância para não se perder no caminho. Sem um mestre, um homem sozinho não consegue verse a si mesmo, e não será motivado a se esforçar o suficiente, considerando que temos sempre a tendência da lei do menor esforço. Sem o conhecimento de si mesmo, o homem não pode ser livre, e permanecerá escravo das circunstâncias. O verdadeiro mestre nada ensina, mas cria condições através da auto-investigação para você reconhecer a sua própria verdade. O ego é como um muro de concreto que impede o reconhecimento de sua verdadeira identidade. O mestre não derruba o muro, mas fornece os instrumentos necessários para você mesmo derrubá-lo. Somente quando o ego é afastado, você pode se desvencilhar de sua suposta (história) seja ela boa ou ruim, e voltar a ser aquilo que sempre foi. Quando esta verdade se incorporara totalmente em seu “Ser” então se dá


conta que o ego jamais existiu. É o fim do medo, é o fim da dualidade, é o fim do sofrimento. Só sobra o AMOR. Uma afirmação oportuna do famoso mitólogo Joseph Campbell, explica brilhantemente a importância de um mestre: “O místico, dotado de talentos inatos, e seguindo a instrução de um mestre, entra na água e descobre que sabe nadar; o esquizofrênico, por sua vez, despreparado, sem orientação e sem dotes, entra nela, ou mergulha voluntariamente, mas pode acabar se afogando”. Portanto um verdadeiro mestre, reconhece que o discípulo possui também o mesmo potencial. A mesma essência Divina. Por isso com humildade ele assume a posição de aluno, permitindo assim criar um clima de maior descontração e aproximidade, para facilitar a compreensão de seus ensinamentos e orientações. Não é possível alcançar o “Ser”, apenas lendo, ouvindo ou pensando a respeito. Para obter a verdadeira transformação você tem que encontrar um homem que conhece, e que já trilhou o caminho. Você pode aprender a tocar piano sozinho, mas com o auxílio de um pianista será mais fácil e muito mais rápido. E quando finalmente você se reconectar com seu “Ser”, ouvirá por si mesmo a melodia que irá preencher o seu coração de amor. Se estiver preparado, certamente o mestre te encontrará, e se muitas vezes pegar no seu pé, é porque percebe que não se esforçou o bastante. Se de fato quero me transformar não irei escolher um mestre complacente, ou egocêntrico. Vamos querer alguém que puxe as nossas orelhas carinhosamente para nos encorajar ao máximo. Poderemos reclamar, e muitas vezes seremos tentados à desistir, mas no íntimo sabemos que esta é a disciplina necessária para alcançarmos o nosso objetivo. Se de fato queremos despertar e não mais permitir que nossa mente (ego) tenha domínio sobre nós, então devemos escolher relacionamentos que nos forçam a ir além dos nossos limites. Isto me lembra uma história, até muito engraçada que Gurdjieff* costumava relatar a seus alunos, e que comprova a importância do guru, para nos orientar nesta jornada interior "Você está na prisão. Tudo o que pode desejar é escapar. Mas como escapar? É preciso cavar um túnel sob as muralhas. Um homem só, não poderá fazê-lo.Mas suponha que sejam dez ou vinte e que trabalham em rodízio, ajudando-se uns aos outros, podem terminar o túnel e evadir-se. Além disso, ninguém pode escapar da prisão sem ajuda daqueles que já escaparam. Só eles podem nos dizer de que modo é praticável a evasão e fazer chegar aos cativos às ferramentas, as limas e todos os instrumentos que lhes forem necessários. Um prisioneiro isolado não pode encontrar esses homens livres, nem entrar em contato com eles. Cada prisioneiro, portanto pode encontrar um dia sua oportunidade de evasão, com a condição, de que tenha consciência de estar na prisão. Porque enquanto um homem não compreender isso, enquanto acreditar que é livre, que oportunidade poderia ter?Ninguém pode pela força ajudar a libertar um homem que não queira ser livre, que deseja exatamente o contrário”. Na verdade pode acontecer que por ter ficado tão acostumado a viver na prisão, não tem coragem suficiente de abandoná-la. Afinal ela te oferece de certa forma segurança e proteção. Mas lembre-se sempre que é o seu medo de se libertar é a causa de sua prisão. Gosto muito de uma definição de Ram Dess que exemplifica com outras palavras esta mesma situação, quando disse em uma de suas palestras que o ego é uma prisão. “Para poder conhecer a verdade de nossa natureza divina, nós não devemos ficar preocupados em mudar a mobília da nossa cela, mas sim em derrubar as paredes e portas, para deixar entrar a luz que está sempre presente”. De fato a vida do homem dominado pelo ego, nada mais é senão rotina; uma existência viciada por hábitos adquiridos. Não existe nenhuma liberdade em sua ação. Vive a existência como um


sonâmbulo, porque tudo que ele faz é automático; trabalha, passeia, se alimenta, dorme. Toda esta rotina lhe oferece certa segurança e despreocupação, e assim dedica a sua vida, apenas o tempo suficiente para seguir uma trajetória traçada, que até pode ser prevista pelo seu modo habitual de viver. Mas chega o momento em que cansado de sua situação, cansado de sua rotina, começa a se dar conta que não pode mais continuar nesta repetitiva trajetória. Então é invadido por uma angústia e um mal estar insuportável como consequência de estar vivendo no irreal. São sintomas de alerta, e quando se intensificam, quando a verdade de sua vida, fica exposto bem diante dos seus olhos, então pode surgir as condições de despertar e se libertar desta escravidão. Mas o que mais me surpreendeu, em relação ao necessário esforço que devemos fazer para nos darmos conta de nossa situação, foi uma revelação de Marianne Williamson, considerada uma das maiores divulgadoras do “Um Curso em Milagres”, quando em um de seus livros disse muito abertamente: “Depois de ler o curso durante três décadas e ter dado mais de mil palestras, saí de uma meditação e pensei “Não sou uma instrutora avançada do curso, mas uma estudante avançada”. Não estou citando isso para desencorajar ninguém, mas acreditar que você irá se iluminar em pouco tempo, não é sonhar, mas estar em delírio mental. Acreditar que trilhar o caminho espiritual é fácil, com certeza revela que você ainda está engatinhando. Começando a dar os primeiros passos. Tudo isto me faz lembrar de um filme chamado “O Homem de Alcatraz”. Talvez o melhor filme sobre a lei da prisão já realizado, baseado numa história verídica ocorrida no ano de 1909, e interpretado magistralmente por Burt Lancaster. Por não ter permitido a entrada de um homem, que queria ter um encontro com seu irmão numa cafeteria, o guarda foi esfaqueado e morreu no local. Por este crime, Robert Stroud o verdadeiro nome do homicida foi condenado a enforcamento. Mas posteriormente o julgamento foi anulado e substituído por uma sentença de confinamento solitário para o resto de sua vida. Apesar de ter apenas um nível escolar incompleto, e sem ter nenhuma chance de adquirir liberdade condicional, a sua salvação de certa forma veio do céu, na forma de um pardal ferido. Robert, começa a cuidar do seu novo companheiro e a partir de então, ele acaba se tornando com o passar dos anos um ornitólogo de renome mundial. Assim com o poder de curar os pássaros que ele encontrava no pátio do seu isolamento, descobre o poder de curar a si mesmo. Esta história demonstra que mesmo estando preso fisicamente, ninguém pode aprisionar o “Ser”. E o contrário também é verdadeiro. Você pode estar solto no mundo, ter um bom destaque social, fama riqueza , prestígio, e no entanto a sua mente pode estar tão presa por preconceitos e ilusões, que é como estar confinado, tanto quanto Robert Stroud. No entanto as portas da prisão sempre estão abertas. É você mesmo que cria a prisão. Você é o juiz, o prisioneiro e o carcereiro. Somente você pode se libertar. Existe uma surpreendente frase de Yang Chu, sábio chinês, que no século IV AC já dizia: “Nunca por um momento provamos do vinho estonteante da liberdade. Estamos verdadeiramente presos, como se estivéssemos no fundo de um calabouço, atados a cadeias”. Queremos estar livres da nossa condição de confusão, para não viver acorrentados em nosso sofrimento. No entanto, não percebemos que é precisamente nosso desnorteado estado mental que nos mantêm prisioneiros. Outro acontecimento que foi extremamente marcante para mim, foi quando se deu um golpe de estado por uma facção do exército egípcio país onde nasci, e onde passei grande parte da minha


infância. Naquele tempo o Egito era uma monarquia, porém com a intervenção militar ocorrida em 1955, o rei Farouk foi deposto, liderado pelo general Nagib, mas que logo foi substituído pelo coronel Nasser que governou o país como presidente em 1956. A recusa no financiamento por parte das potências ocidentais para a construção da represa de Assuã, levou o presidente Nasser a fechar o porto de Eliat, e nacionalizar o canal de Suez. Isto gerou uma intervenção militar por parte da França, do Reino Unido e de Israel. Sem entrar em detalhes históricos e políticos, toda esta turbulência, fez com que minha família não tivesse mais condições de permanecer no Egito. Pelo fato de termos nacionalidade francesa, o governo em represália, começou a expulsar os estrangeiros, e muitos deles no prazo máximo de vinte e quatro horas. Resolvemos então, diante desta crítica situação, imigrar para o Brasil. Tinha na ocasião 11 anos, e era o ano de 1958 , data marcante para o Brasil, pois foi quando ganhou a primeira copa mundial de futebol. Após ter aprendido a falar o português e me adaptar com os costumes do novo país, ocorreu um fato bastante significativo e que mudou o rumo de minha vida. Sem saber porque, comecei a sentir em meu íntimo uma intensa necessidade pelo autoconhecimento e pela espiritualidade. Foi assim que comecei a freqüentar vários centros espirituais, li as obras do gurdjieff, Kardek, krishnamurti, Paul Brunton e muitos outros autores que me proporcionaram muitos ensinamentos, e ampliaram consideravelmente a minha visão de mundo. Hoje, já com mais de 50 anos vivendo no Brasil, muitas pessoas me perguntam, como consigo ser um homem calmo, feliz e cada vez mais apaixonado pela vida. Então respondo que na verdade tudo começou, graças ao que apreendi não apenas através dos mestres já citados, mas principalmente através de um simples carpinteiro, humilde e desprendido, que conheci em 1961. É claro que muitos ficam surpresos principalmente quando descrevo que seu nome é “Jesus”. Alguns levantam as sobrancelhas e arregalam os olhos, outros ficam um tanto céticos, mas muitos não escondem a curiosidade, e querem saber como isto poderia ter acontecido. Então conto detalhadamente como foi este inesperado ou talvez planejado encontro. Pode parecer um tanto estranho, mas isso ocorreu numa tarde ensolarada de um sábado quando fui convidado por um amigo, para passear ao longo da rua Augusta, quase no centro de São Paulo. Era a rua das paqueras daquele tempo, e era comum o comercio encerrar suas atividades após as 14 horas. Como adolescentes, estávamos fascinados pelo nosso despertar sexual, e as mulheres exerciam em nós uma grande fascinação. Depois de termos abordado várias garotas, infelizmente não tivemos nenhum sucesso, provavelmente pela falta de experiência, e também por aparentarmos menos idade do que tínhamos. Afinal quem iria se interessar por dois magros e desengonçados moleques de 14 anos. Mas sempre com uma gota de esperança continuamos perambulando pela calçada um tanto decepcionados, e para passarmos o tempo acabamos entrando numa longa galeria. Foi aí que de repente, reparei debaixo de uma porta de ferro de uma das lojas, um livrinho meio amassado, cujo título era "O evangelho de São João". De formação judaica fiquei receoso de me apoderar dele, pois o segundo testamento não é considerado e nem estudado pela religião judaica. Mas a curiosidade foi maior, e o coloquei rapidamente em meu bolso. À noite já em meu quarto, retirei o livrinho e comecei a lê-lo com certa ansiedade. Como todos sabem, o evangelho de São João faz parte dos quatro evangelhos oficializados pela igreja católica e que descrevem a vida de Jesus. Simplesmente não consegui parar de ler. Lembro-me que lágrimas de felicidade e júbilo escorriam do meu rosto, frente aos sublimes ensinamentos, descritos de forma tão simples e profundas. Senti que finalmente encontrei uma alma que compartilhava comigo dos mesmos sentimentos. Minha identificação foi instantânea, Ali estava escrito tudo que eu sentia e pensava da vida. Lembro-me que achei tão estranho, que a vida e os ensinamentos de Jesus, não fizessem parte da religião judaica, considerando que além de Jesus ser judeu por descendência, os seus ensinamentos na minha opinião, constituem o néctar do judaísmo.


Mas como sabemos, isto infelizmente não ocorreu por interesses políticos e também porque o povo judeu não estava preparado para tamanha transformação. No judaísmo as leis bíblicas eram impostas com muita rigidez e punições. Enquanto Jesus tentava espiritualizar o homem, através do amor e do perdão, e deixando bem claro que não veio para destruir as leis da religião judaica, mas para cumpri-las, isto não aconteceu, por serem naquela época duas realidades irreconciliáveis. É claro que Jesus sabia que seus ensinamentos não seriam aceitos, pois não faziam parte das regras do jogo dominante. (Olho por olho, dente por dente) Ele sabia que suas palavras não seriam compreendidas pois colocava de ponta cabeça os ensinamentos tradicionais, e com certeza esta nova conduta deve ter sido uma chocante confrontação com a milenar tradição judaica, e até para seus próprios discípulos. Ele já antevia que sua vida seria penosa e que sua cruz seria um tanto pesada. No entanto plantou com muito amor e humildade as sementes da sabedoria. Foi por esta razão que ele disse : “Tudo há de passar, mas as minhas palavras não passarão”. Esta afirmação demonstra que ele sabia que tudo que é irreal é impermanente e passará por serem ilusões, apenas sombras. Mas o que é real é eterno, e por ser eterno permanece para sempre. Embora estejamos ainda longe de uma verdadeira civilização, e poucos os que seguem os seus ensinamentos, podemos entretanto notar que nunca se falou tanto de Jesus, e nunca houve tantos livros, palestras e filmes como nos dias de hoje sobre ele. Parece que estamos começando a entender melhor a sua eterna mensagem, e podemos perceber embora de forma homeopática que as regras estão mudando. Aliás terão que mudar, pois as estruturas morais e políticas vigentes, não conseguirão suportar esta insustentável condição social e ambiental que se tornou totalmente insana e disfuncional, para a sobrevivência humana. Seguir dogmaticamente uma política, uma moral ou uma crença religiosa, acaba inibindo as possibilidades de progredir, em razão de interesses econômicos, preconceitos, tabus e temerosos em mudar toda uma tradição milenar. Em outras palavras, uma profunda amnésia espiritual se apoderou em consequência de nossa identificação com o mundo das formas, mas que estamos aos poucos começando a vislumbrar o início de uma grande transformação. Mas dando prosseguimento em minha busca espiritual, tive o privilégio de conhecer pessoalmente o mestre Sri Maha Krishna Swami, que muito me impressionou pelo seu modo simples e sereno de ensinar e pela energia que irradiava em torno de sua presença. Ainda me lembro do meu primeiro encontro quando apareceu no salão onde eu o aguardava, e foi sentar-se por sobre uma almofada toda estampada com desenhos hindus. Acomodou-se em posição de lótus, com os olhos semi- abertos, permaneceu em silêncio durante certo tempo, e senti uma grande emoção por estar na presença de quem foi discípulo direto do iluminado Sri Ramana que eu já conhecia através dos livros de Paul Brunton. O próprio Sri Maha também escreveu vários livros entre eles "Ramana meu mestre", onde descreve toda a convivência e aprendizado que teve com ele. Com o passar do tempo comecei a freqüentar várias escolas e centros esotéricos, e não parei de ler tudo que abordava temas espirituais. Nesta época, início dos anos 60, era uma grande dificuldade encontrar livros que tratassem destes assuntos. Confesso que era um rato de livrarias e tinha que ter muita paciência para descobrir alguma novidade. Em comparação, hoje os livros de yoga, meditação, auto-ajuda, medicina holística e livros psicografados, ocupam lugar de destaque nas livrarias e são os mais vendidos. Com certeza este segmento irá permanecer por muito tempo. Hoje a difusão de conhecimentos, sejam científicas, psicológicas ou espirituais estão tendo muito maior divulgação, através dos mais variados e sofisticados meios de comunicação a nível global, e podemos constatar a importância de autores


contemporâneos como ; Eckhart Tolle, Matthieu Ricard, Paramahansa Yogananda, Brian Weiss, Marianne Williamson, Deepak Chopra, Wayne Dyer, Augusto Cury, Zibia Gaspareto, Ohso, Hermógenes, Dalai Lama, Neale Donald Walsch, só para citar os mais famosos, que viraram verdadeiros Best Sellers com milhares de livros vendidos e traduzidos em todo mundo. Só o livro de Eckhart Tolle "O poder do agora" teve mais de 20 milhões de livros vendidos e traduzidos em mais de 33 idiomas, além de filmes como “Quem somos nós, O Segredo, Matrix, O poder além da vida”, e muitos outros que viraram sucessos internacionais. Tudo isso é muito positivo, pois demonstra que as pessoas estão ficando famintas por alimentar suas almas. O que antigamente era pouco discutido e até considerado um tabu intelectual, hoje ele é discutido abertamente sem nenhum temor. Cientistas que antes receavam divulgar suas pesquisas, hoje esta barreira pertence ao passado. Porque tudo isto está acontecendo de forma tão rápida nos dias de hoje? O que realmente o ser humano mais precisa neste momento? Apenas duas coisas: “Auto-conhecimento e amor.” As outras necessidades acabarão acontecendo de forma natural, devido a elevação vibracional a nível planetário. Não poderia deixar de mencionar, a minha terapeuta e amiga Vaneide, quando ao passar por algumas adversidades que me afetaram emocionalmente, me indicou muito gentilmente a Brahma Kumaris, que passei a frequentar com assiduidade. A Brahma Kumaris* é uma organização internacional sem fins lucrativos, que tem por objetivo a revalorização do ser humano para a construção de um mundo melhor. Ela foi fundada em 1936 na Índia e está presente com escolas em mais de 130 países. Agradeço de coração a todos os seus dirigentes e professores, em especial a Armando e Flávia Rodrigues que através de suas inspiradoras palestras me proporcionaram muitos insights.

No próximo capítulo, o romance continua, mas agora mais calmo sereno e silencioso

*Gurdjieff - místico, filósofo e psicólogo – 1871-1949. *Brahma Kumaris - WWW.bkumaris.com.br


A NECESSIDADE DO SILÊNCIO


A verdade não é acumulativa; deve ser percebida e Compreendida momento a momento. A pessoa que acumula, sejam conhecimentos, seja posses ou ideias é incapaz de ver a verdade, e a mente que acumula está presa ao tempo, e por consequência não pode conhecer o atemporal. A mente precisa estar vazia para receber o eterno. Krishnamurti


Sem som, sem pensamentos, sem nada a fazer. Apenas existir, talvez sentir suavemente sua

respiração. Você seria capaz de permanecer em total silêncio por apenas dois minutos? Nada é mais angustiante para uma pessoa inquieta e ansiosa do que passar por esta experiência, e até mesmo para uma pessoa considerada normal dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade. Teoricamente quando se pensa sobre isso, parece que vai ser fácil e até prazeroso. Afinal, durante dois minutos estarei sem problemas, sem preocupações. Seria como estar dormindo. Experimente. No entanto, na prática não é fácil. Não é como estar dormindo. Pelo contrário, neste pequeno espaço de tempo surgirão dezenas de pensamentos de todo tipo, e irá sentir muita dificuldade em controlá-los. Você não vai saber nem mesmo como eles aparecem e desaparecem. Nesta experiência, se prestar bem atenção poderá se dar conta, o quanto os seus pensamentos te dominam, sem você perceber. Bem, quando o assunto é meditação, em quase todos os livros sempre é mencionado uma história bastante divertida sobre a dificuldade em meditar. Para não fugir a regra, irei incluí-la neste capítulo, porque exemplifica o nosso descontrole mental. Um homem foi procurar um mestre, para ensiná-lo a meditar. Depois que ouviu os grandes benefícios da saúde que a meditação proporciona ao corpo e a mente, o mestre com muita serenidade lhe disse para procurar um local silencioso, sentar em posição de lótus, com a coluna ereta, se concentrar em sua respiração e não pensar em nada. O homem ouviu atentamente as explicações e achou que não seria difícil. Mas antes do homem se retirar, o mestre o chamou e lhe disse: “ Outra coisa muito importante que quase me esqueci de mencionar, em hipótese alguma, no tempo em que estiver meditando, não pense em macacos.” Macacos, refletiu o homem! Achando tão estranho esta recomendação. Eu jamais pensei em macacos. Bem. Acho que você já adivinhou o que aconteceu ao pobre homem. No dia seguinte ele foi procurar o mestre e extremamente envergonhado e sonolento lhe disse: “Mestre. O que você fez comigo? Passei a noite inteira pensando em macacos”. Este é um bom exemplo, porque o macaco é o próprio retrato da inconstância e da oscilação, mas com treinamento ele pode ser adestrado. Da mesma forma a mente que é inconstante pode ser controlada pela prática da meditação e do desapego. Administrar os pensamentos que aparentemente parece ser fácil, é um dos maiores desafios. O grande paradoxo é que quanto mais você tentar dominá-los mais eles se fortificam. Por esta razão os mestres sempre recomendam não lutar contra eles. Deixe-os virem. Procure não lhes dar importância e eles desaparecerão da mesma forma como surgiram. Meditar é como se fosse uma morte (a morte das ilusões é claro). Meditar significa se afastar gradualmente do ego e se dissolver no todo. Poeticamente falando, é um romance com o infinito. No início é muito importante tentar testemunhar os pensamentos de forma desapegada. Do contrário


você pode se perder nos labirintos da mente. Quando isso acontece eles tentam dar credibilidade a toda a memória acumulada, criando histórias como num sonho. Eles sempre possuem a tendência de julgar atacando ou justificando. Estar consciente deste devaneio mental, fará com que ele gradualmente desapareça. Aqui devemos ressaltar um ponto importante, porque quase sempre quando se fala sobre meditação, acreditamos que é pensar sobre algo. Constatamos em nosso dia a dia que somos estimulados para pensar quase o tempo todo, mas os mestres nos recomendam exatamente o contrário. O estado livre de pensamentos possui mais consciência e não menos. Pensar nos impedem de vivenciarmos a felicidade e o poder da nossa essência. É claro que na vida prática é necessário pensar, mas para atingir a experiência direta da luz da realidade suprema, os pensamentos reduzem a nossa visão e ocultam o Ser. Como já descrevi a meditação é estar sem pensamentos, porque qualquer pensamento é sempre lembranças sobre o passado ou expectativas sobre o futuro. A meditação é estar no aqui-agora. É estar no reino do silêncio, da paz, da serenidade. Quando estamos neste estado de quietude, a nossa conexão com o nosso verdadeiro eu torna-se possível. Quando meditamos, saímos das ondas da superfície dos pensamentos e emoções e mergulhamos no puro silêncio do espaço infinito. O propósito da meditação é conseguir conviver pacificamente entre duas dimensões. O mundo do “Ser” e o mundo das formas, sem que haja nenhum conflito ou desequilíbrio entre os dois. A prática da meditação não precisa necessariamente de um local especial, podemos meditar em qualquer lugar. Em contato com a natureza, alguns minutos no trabalho ou em nosso lar. Afinal não podemos fugir de nós mesmos, porque se enfrentamos algum problema, com certeza ele estará conosco em qualquer lugar em que estivermos. No entanto para quem está começando, recomendo que a meditação seja feita em grupo, num local específico e num horário determinado. É importante entender que meditar tendo pensamentos positivos, amorosos e de fé em Deus, não deixa de ser benéfico. De fato você se sente revigorado, mais leve, e de bem consigo mesmo. A sua respiração se normaliza e a mente se acalma e isto é muito saudável para quem se inicia nesta jornada. Porém como já enfatizei a verdadeira meta da meditação é nos afastar de todos os pensamentos, sejam elas quais forem. Estar no absoluto silêncio é permitir o verdadeiro desabrochar do “Ser”. Estudos recentes, comprovam que a meditação pode alterar a estrutura e a atividade do celebro, e que essas alterações afetam positivamente o bem estar. (O que hoje é chamado de Neuroplasticidade) A vida é uma grande aventura e o silêncio é o seu ápice. Entrar no desconhecido, no mistério, é permitir se entregar para a existência. Nesta entrega o amor floresce, o ego deixa de interferir, e as portas da verdade conseguem se abrir. “Aquietai-vos, e sabeis que sou Deus.” ( Salmo 46:10 ) Quando estamos envolvidos pelo turbilhão de pensamentos que invadem a mente, o ego tem a tendência de sempre interferir, e perdemos a nossa paz. Mas o “Ser” é nosso eu verdadeiro e possui maior potencialidade em revelar-se quando estamos em silêncio. A solitude e a meditação são práticas indispensáveis para despertar a nossa verdadeira identidade. No entanto tudo isto deve ser feito na medida certa. É como quando você quer fortalecer seus músculos. Se tentar levantar 100 kilos de uma só vez sem estar preparado, só ira retardar o seu progresso. Todo este processo é necessário, porque se o sonho da separação terminasse subitamente, seria aterrador demais para poder suportar. O despertar deve ser gradual, do mesmo modo quando você desperta de um sonho. O mundo das formas é muito convincente, e um despertar súbito não seria aconselhável.


Existe uma história de um homem que desejando parar de sofrer foi procurar um mestre que pudesse ajudá-lo:

---Mestre! Disse ele: ---Se meditar cinco horas por dia, quanto tempo irei levar para atingir a iluminação? O mestre respondeu: ---Provavelmente atingirá a iluminação em quinze anos. O homem então achou que seria muito tempo, então voltou a perguntar: ---Mestre, e se meditar dez horas por dia quanto tempo levarei pra me iluminar? O mestre sorriu e respondeu: ---Se meditar dez horas talvez possa atingir a iluminação em vinte anos. Surpreso por esta estranha resposta, perguntou: ---Mas mestre, porque levarei mais tempo? O mestre respondeu: ---O esforço desmedido não irá adiantar, porque se meditar dez horas você irá se cansar. Atingir a iluminação não é questão de esforço nem de tempo, mas as vezes temos que fazer esforços e também precisamos do tempo. A grande lição do mestre foi para explicar, que o único motivo pela qual precisamos do tempo e de esforço, é porque não estamos ainda preparados para compreender e sentir que na verdade já somos o “Ser” e ele não precisa de esforço e nem de tempo. Ele é atemporal. Porém na maioria das vezes precisamos de tempo para compreender esta verdade. Se você parar por um momento e tentar se observar, verá que compulsivamente você vai sempre tentar se manter ocupado fazendo alguma coisa. Qualquer coisa. Aonde ir? O que fazer? Se estiver no escritório estará ocupado fazendo cálculos ou frustrado por não ter efetuado uma venda importante, reclamando, pensando, escrevendo, almoçando, conversando, comprando, fofocando, nem se for para tomar mais uma xícara de café ou mastigar um tablete de chocolate. Em casa você estará lendo o jornal, jantando, bebendo, discutindo, telefonando, transando, assistindo o telejornal e mesmo dormindo, seus pensamentos se transformam em sonhos ou pesadelos. Ou como tão sabiamente se expressou o filósofo Francês Blaise Pascal. “Todos os problemas do homem derivam do fato de que ele não é capaz de ficar sentado sozinho, em silêncio, num aposento”. Se você estiver me acompanhando atentamente, você terá que concordar que a verdade não precisa ser falada ou escrita. Ela já está em seu coração. Porém se tiver ocupações e preocupações, será muito difícil estar em silêncio. Você estará preenchido. Porém preenchido de tensão e ansiedade. O grande paradoxo é que embora este preenchimento proporcione um relativo bem estar porque afasta a mente da raiz do problema, por outro lado, não lhe permite um espaço silencioso que você deveria reservar para ter um encontro consigo próprio. Não se pode alcançar este elevado estado de consciência, apenas fortalecendo o intelecto, adquirindo mais informações. Esta tentativa será inútil. O despertar ou “Samadhi” não pode se manifestar nos estreitos limites da mente, pois a sua característica justamente é a transcendência de todos os níveis mentais. Mas o ego muito astuto vai te persuadir como sempre, e muito preocupado irá lhe perguntar:Porque sofrer e sentir esta sensação de vazio? Que história é esta de não pensar em nada? A vida não é fácil, você tem que lutar para conquistar o seu lugar ao sol. Aonde isto irá te levar? Certamente


na direção da pobreza, da falência e você terá um sentimento de inutilidade. Em suma você será considerado um homem fracassado, simplesmente um homem comum. Estas serão as palavras do ego que até poderão lhe dar a impressão de serem coerentes para quem vive no mundo do ter. Ninguém quer ser comum. Mas o engano é que ser especial é muito comum e não condiz com a verdade do “Ser”, É exatamente o contrário que acontece. Ser um homem comum é ser um homem muito especial. Parece um paradoxo, no entanto a questão é clara. O próprio fato de desejar ser especial, já demonstra que não se alcançou o estado do “Ser”. Assim existem duas maneiras de se decepcionar: ser um homem especial ou ser um homem comum, tudo irá depender com qual perspectiva olhamos o mundo. Muitas vezes, dependendo das circunstâncias, não podemos fazer grandes coisas, mas se fizermos pequenas coisas com amor, serão grandes coisas. Ser um homem especial é quando fazemos as coisas com amor e humildade aqui e agora. Jamais no futuro. No entanto se nos aprofundarmos mais nesta questão, iremos constatar até com certa surpresa que o ego não está totalmente enganado, ele tem um fundo de verdade. Todas estas sensações como tão bem ele descreveu se farão sentir, pelo menos no começo, porque você não pode esquecer que ficou sob o seu domínio durante longo tempo. Mas não importa o quanto possa ser doloroso se desvencilhar do ego. Se começar a suspeitar que está realmente adormecido e sonhando, aos poucos o “Ser” retirará as suas ilusões e pesadelos, e por detrás deste confronto, por detrás desta angústia, você acordará e surgirá a maior benção: “A lembrança de si” O “Ser” perfeito, maravilhoso e eterno que você é. Você não precisará de preenchimento. Porque pela sua verdadeira natureza você já é um “Ser” perfeito como Deus te criou. Você já é um Buda. Entretanto durante esse processo, as vezes quando estiver no meio da jornada, dependendo do seu estágio espiritual, poderá sentir dúvidas, apreensões, desânimo, ansiedade tristeza, que irão causar perturbações físicas. Você se sentirá como um peixe fora d’água, e perplexo se questionará com certa revolta, aparentemente justificável: --- O que vim fazer neste planeta? Porque tenho que passar por tudo isso? Talvez pela primeira vez você se dará conta que está só. Este reconhecimento a princípio é doloroso. É a dor da alma que se sente fragmentada. Até então estávamos vivendo adormecidos num mundo de ilusão. Faço parte de uma família, tenho filhos, sou respeitado, vivo confortavelmente etc... No entanto todas estas ideias não irão mais te satisfazer. Estará se dando conta que não correspondem mais ao que verdadeiramente você é. Como já descrevi, quando vivenciar a realidade do “Ser” gradativamente todo esta ilusão desaparece. E de repente sem saber como, pode acontecer que um simples empurrãozinho seja suficiente para levá-lo a iluminação. É como um monjolo. Em seu recipiente ele vai aos poucos acumulando água até atingir a sua borda, ele ainda permanece imóvel, mas com apenas uma gotinha a mais, ele muda de posição e repentinamente se inclina e trasborda toda a água, que tinha armazenado. O Poder do Shaktipat Talvez você desconhece o poder de shaktipat. Talvez nunca ouviu falar, ou nunca leu a respeito. No entanto é importante saber sobre esta energia que percorre todos os chakras do nosso corpo sutil. O que vem a ser o Shaktipat? Se você tiver um mestre, e todos nós temos um mestre nesta ou em outra dimensão, ele pode através de sua visão intuitiva reconhecer o seu estágio e com um simples olhar, um pensamento, um toque ou um mantra, consegue ativar o Shaktipat que é a energia Kundalínica que se encontra em todos nós enroscada no chakra Muladhara, o centro energético localizado na base da coluna. Quando ativado através de um mestre iluminado, esta


energia atravessa todos os chakras* permitindo ao discípulo adquirir um vislumbre do “Divino Ser” que ele é. É preciso dizer que todo esse processo pode ocorrer também através da prática da meditação ou de exercícios de Hata-yoga, fazendo com que todos os chakras que são como rodas giratórias alcancem a velocidade correta e desta forma o organismo adquire saúde perfeita.Tudo isto ocorre no corpo sutil, de forma que não pode ser cientificamente visualizado, pois ele interpenetra o físico. Existem sete chakras principais, que também podem ser chamados de centros fundamentais de energia. Eles funcionam como válvulas que controlam e distribuem o fluxo de energia. Quando a energia de Shaktipat percorre todos os chakras ele encontra em seu caminho o que os hindús chamam de Sanskaras, que são impressões de ações ou pensamentos passados que permanecem no inconsciente, armazenados no canal central nervoso do corpo sutil, bloqueando o fluxo energético. O poder da Kundalini os elimina para que a energia possa fluir. Uma vez ativada, ela desbloqueia o chakra em desequilíbrio e o purifica por completo. Segundo a medicina tibetana, sensitivos ou médiuns videntes conseguem diagnosticar através da velocidade e das cores, se um dos chakras está em desequilíbrio e prever grande parte das doenças, até mesmo antes delas se manifestarem no corpo físico. Elizabeth Clare, estudiosa da espiritualidade moderna declara que os chakras atuam no nível sutil, mas afetam todos os aspectos da vida inclusive a vitalidade e o bem estar. Como estações transmissoras e receptoras de energia, eles fluem através de nós continuamente, nutrindo o corpo a mente e a alma. Quando a Shakti Kundalini é despertada, proporciona o êxtase do amor divino. Você sente, como se fosse um novo nascimento e o torna um amante de Deus, continuamente inebriado no êxtase do amor. Tudo isto não pode ser entendido pelo intelecto humano. Somente através da experiência. Entretanto em razão deste despertar, isto pode causar muitas alterações no organismo humano, muitas vezes confundido com distúrbios orgânicos. Nestes casos é importante o acompanhamento de um autêntico mestre, para nos orientar. Infelizmente a ciência médica, ainda tem um longo caminho a percorrer, para entender esta importante transmutação energética. Eu particularmente já passei por esta experiência e a descrevo mais detalhadamente no “Divino jogo do Ser”. Portanto acho desnecessário repeti-los novamente. O que poderia acrescentar, é que você se sente completo. É como recobrar a consciência depois de um desmaio. Você reconhece quem você é sentindo vibrações de frescor inundando todo o seu corpo. Isto ainda não é o verdadeiro despertar, mas são rápidos lampejos do “Ser”. Infelizmente as palavras por serem extremamente limitadas não conseguem transmitir este estado de consciência, e muitos mestres iluminados, quando questionados sobre o significado da iluminação, permanecem em silêncio. Para quem quiser adquirir um conhecimento mais aprofundado do processo Kundalínico, recomendo o livro “Kundalini de Gopi Krisha”, O jogo da consciência e O poder da Kundalini de Swami Mukatananda e Kriya Yoga, de Hariharananda. Estes livros irão lhe proporcionar noções básicas sobre o tema. Acho importante mencionar também, as diversas formas de como o “Ser” é levado na direção de si próprio ou em outras palavras, quais são as ocorrências que estimulam o “Ser” a se revelar. Existem duas formas que podem inicialmente dar a impressão de serem contraditórias, mas no final elas alcançam o mesmo resultado, embora por caminhos diferentes. A ilusória plenitude Uma das formas de estímulo para diminuir a sua carência, ocorre quando você se sente preenchido por valores materiais que mesmo que reconheça que são efêmeros e limitados, você não consegue abdicar deles. Isso ocorre porque sente que por mais que possa se preencher com mais


bens, mais fama, mais luxúria, mais divertimentos, isto não irá adiantar, não te proporcionarão a felicidade e a paz tão almejada. Você percebe que o exterior se modifica, mas o seu interior permanece o mesmo. Então, dependendo do seu desenvolvimento espiritual, você pode permanecer como está, levando uma vida comum, rotineira e acumulando mais valores externos como uma espécie de vício que se arraigou. No entanto após um certo tempo você começa a sentir uma grande angústia e tristeza se apoderando sobre si. Começa a perceber que tudo que tem não conseguem lhe proporcionar paz e serenidade. Muitas pessoas que se encontram nesta situação, podem recorrer ao álcool ou ao uso de drogas para aliviar esta sensação que os atormenta. Temos um exemplo disso, no filme “A roda da fortuna”, dirigido por Joel Coen. Para quem assistiu ao filme, existe uma sequência quando numa importante reunião onde toda a junta da diretoria é reunida para relatarem os lucros astronômicos que a empresa obteve no decorrer do ano, são surpreendidos no final por um ato no mínimo bizarro e inesperado por parte do diretor presidente, que sentado na ponta de uma longa mesa acende calmamente um charuto, sobe sobre a mesa e de repente começa a correr velozmente indo ao encontro de uma imensa janela que se estraçalha, fazendo-o cair do quatrigésimo andar do prédio. Naturalmente este é um caso extremo, mas não é tão incomum de acontecer, principalmente nos nossos dias. Recentemente não fiquei tão surpreso, quando li um artigo noticiando o encontro do Dalai Lama com um dos ministros de Portugal, que o convidou para lhe mostrar os grandes investimentos que eram feitos na modernização da cidade. Altos e modernos arranha-céus sendo construídos. O Dalai Lama parabenizou o ministro e perguntou-lhe, quais eram os investimentos que eram dedicados ao desenvolvimento interior do ser humano. O ministro não soube responder ou não entendeu a pergunta. “Porque se não for feito um investimento interior continuou a falar o Dalai Lama, a primeira coisa que o morador fará quando enfrentar alguma adversidade, será procurar a primeira janela do apartamento para se atirar”. Eu acho que não preciso comentar para quem já leu meus livros, a paixão que sinto pelo cinema. Considero o cinema a nova mitologia dos nossos dias, e não poderia deixar de citar mais outro filme pois tem muito a ver com a ilusória plenitude. Trata-se do “Cidadão Kane.” Aclamado pela crítica internacional como um dos dez melhores filmes de todos os tempos. Ele retrata a vida de uma criança de origem pobre, mas quando já adulto, acaba pela sua ambição desmedida se tornando um dos homens mais ricos e influente de sua época. Totalmente identificado pelo mundo das formas, consegue tudo que ele quer. Possui a maior rede de jornais do país e uma fortuna financeira incalculável. No entanto uma coisa ele não consegue comprar: o amor, a paz e a felicidade. Quando ele se defronta com este vazio interior, ele se isola e entra numa crise depressiva, como se tivessem tirado de suas mãos o seu brinquedo preferido. O filme foi realizado em 1940 e inovou a linguagem cinematográfica. Sua técnica, roteiro, montagem e efeitos especiais até hoje são surpreendentes, principalmente o seu profundo conteúdo filosófico. É considerado um clássico do cinema e tem um final inesperado e surpreendente. Tudo isto dirigido por um jovem de apenas 24 anos. Além de ser o diretor, foi o roteirista, o dialoguista e o ator principal. Seu nome : Orson Welles. Eu me lembro como se fosse hoje, quando o assisti pela primeira vez. Devia ter entre 17 ou 18 anos e foi numa projeção privada no auditório do jornal “ A Folha de são Paulo” localizado na avenida Líbero Badaró. A cópia estava em precárias condições e projetada por um único projetor de 16 mm. Portanto havia constantes interrupções para trocar as bobinas. O som era péssimo, e para dificultar, a legenda era em espanhol. Mesmo assim, quando o filme terminou, me causou um grande impacto emocional. Até mesmo hoje, quando o assisto novamente, no aconchego de casa em DVD e


agora totalmente remasterizado, sinto o mesmo deslumbramento. Um fiel retrato da condição humana, ainda adormecida e dominado pelo ego. A verdadeira plenitude No entanto a segunda forma mais saudável para quem se encontra num estado de conflito interior, deverá procurar se empenhar numa busca espiritual que lhe proporcionará efetivamente o despertar de sua consciência e a conexão com a sua verdadeira identidade. Naturalmente isto exigirá vontade, e muita disciplina. E lembre-se sempre, o tédio, a tristeza e a angustia só se manifestam quando você começa a se aproximar do seu despertar. Portanto, aceite-os, não lute contra eles, porque se trata de sinais positivos. Se você puder suportá-los, então pode ocorrer uma grande transformação. Sidarta Gautama, mais conhecido por Buda, que significa “O Desperto” passou por esta situação, e você pode estar também passando por ela. Isto pode a princípio nos dar uma imagem negativa, e um tanto pessimista da vida, o que não deixa de ter um fundo de verdade, afinal, a primeira nobre verdade que Buda percebeu é que a vida é sofrimento, mas também é o caminho para o despertar. É como uma espécie de parto. A dor pode ser quase insuportável, no entanto a futura mãe antevê que depois do nascimento, todo este sofrimento será esquecido e que não poderia ser evitado. Como vemos, embora sejam duas formas diferentes de plenitude, com direções, aparentemente contrárias, eles acabam nos levando para a mesma meta. Isto tudo só pode comprovar seja qual for a sua situação; ou onde você estiver, um chamado insistente te leva mais cedo ou mais tarde em direção ao seu destino, para lembrá-lo que você está apenas de passagem e que este mundo não é o seu verdadeiro lar. Afinal estamos todos neste planeta como turistas e estudantes ao mesmo tempo. Porventura você conhece alguém que sempre morou aqui para sempre? A média de nossa vida não ultrapassa os 80 anos, sendo assim, devemos fazer dela, tudo que possa lembrar a nossa grandeza, para despertar as nossas qualidades inatas. Outro grande exemplo é o de Francisco de Assis, hoje considerado um santo da igreja católica. Filho de um rico e bem sucedido comerciante da cidade de Assis, ele desfrutou de uma vida de opulência, rodeado de muitos amigos e admirado pela população da cidade, pela sua coragem, simpatia e generosidade. Quando surgiu a guerra, ele foi um dos primeiros a se alistar e a combater com destemor os inimigos, e a enfrentar com coragem, a violência que todo combate acarreta. No entanto, quando voltou vitorioso para a cidade, entrou em profunda depressão. Tanto sofrimento, mortes, mutilados, feridos, tudo por motivos fúteis devido a ganância, ambições, vaidades e prepotência de homens dominados pelo jogo do poder. Naquela época, a depressão era chamada de melancolia, tristeza profunda ou até mesmo de loucura. Todos os métodos terapêuticos da época foram utilizados para curá-lo, mas sem nenhum resultado positivo. Entretanto numa bela manhã ensolarada, quando todos pensavam que ele não resistiria à tamanha angústia e sofrimento, Francisco se levanta da cama, despertado pelo canto de um pássaro, e totalmente em êxtase, sente em seu interior uma felicidade incontrolável. Quem assistiu ao filme Irmão Sol, Irmã Lua, dirigido por Franco Zeffirelli, mostra Francisco perseguindo um pássaro por sobre o telhado, sob o olhar de espanto das pessoas que se sentiam temerosas com a dificuldade que Francisco tinha em equilibrar-se sobre as telhas. Não sei se isto ocorreu em realidade, mas Zeffirelli conseguiu de forma poética retratar esta súbita ressurreição. O que de fato ocorreu com Francisco, que de um estado profundo de depressão, fez o seu coração se encher de júbilo e felicidade? “O despertar do “Ser”. A partir deste dia Francisco não era mais o mesmo. Aprendeu a aceitar a censura, a crítica e a acusação silenciosamente e sem retaliação, ainda


que inverídicas e injustificáveis. Fundou depois a ordem dos Franciscanos e dedicou toda a sua vida, aos mais desamparados ensinando-os, amando-os, e praticando o verdadeiro cristianismo. Aqui podemos entender como “O Ser” escreve certo por linhas tortas, ou em outras palavras, mais uma das brincadeiras do Divino Jogo do Amor, para tornar o jogo cada vez mais empolgante, misterioso e imprevisível. Mas seja qual for a nossa situação, isto não quer dizer que devemos deixar de trabalhar ou fazer as coisas necessárias para nos preservar. Afinal, temos um corpo e devemos zelar por ele. Mas se você sentir em seu âmago que a sua vida não está te proporcionando alegria, quando você sente que está faltando algo que você não consegue definir, então está na hora de reservar um tempo para meditar, para se desligar dos pensamentos quase todos eles compulsivos e repetitivos que nos prendem ao mundo ilusório das formas. Devemos ser como uma semente que permanece em silêncio e quietude, para que a própria natureza faça desabrochar todo o seu potencial. Para a maioria das pessoas é muito difícil alcançar este estado e por isso é importante para quem começa a meditar, compreender inicialmente o que são os pensamentos e como lidar com a mente. Deve frequentar um centro de estudos, fortalecer o seu intelecto e aprender a meditar com mestres competentes e confiáveis. É importante elucidar aqui (e aí vai mais um paradoxo) que no fundo, tanto o ego, quanto o “Ser” nos direcionam rumo à felicidade. Pode a princípio causar surpresa esta afirmação e pode até nos deixar ainda mais confusos. No entanto existe uma diferença. O ego nos direciona aos caminhos alternativos que, como já constatamos nos preenchem e nos proporcionam momentos de felicidade e alguns insights de plenitude. Entretanto por serem pela sua própria natureza efêmeros e limitados não duram por muito tempo, nos causando decepções e sofrimentos. O “Ser”, ao contrário, nos direciona rumo a uma felicidade duradora. Embora já tenha abordado este tema no primeiro volume da trilogia, achei importante repeti-lo novamente porque em algumas palestras e entrevistas, muitas pessoas me fazem a mesma pergunta: ---Se o “Ser” possui todo este poder, se sou um Ser divino pela minha própria natureza, porque então continuo sofrendo ou passando por tantas adversidades? A resposta terá que ser respondida com outra pergunta: Como o “Ser” pode ficar carente ou infeliz, triste ou deprimido? Isto é simplesmente impossível de acontecer. Quem sofre ou passa por adversidades é o ego que se reflete no corpo. Ele possui a sua importância, pois é um termômetro, talvez um tanto severo, que nos mostra com exatidão a temperatura espiritual em que nos encontramos, ou seja, ele nos mostra os nossos erros, os nossos equívocos e nossas fraquezas e se não tomarmos as devidas providências, ele as somatiza em nosso corpo e pode ter certeza, ele não vai deixá-lo em paz, até você aprender as lições que na verdade você mesmo se impôs, mas no momento não tem consciência. Um dia desses estava lendo um dos livros de Osho, quando ele cita uma frase de Jean Paul Sartre* em que ele diz: “A vida é como uma criança que adormeceu em um trem e é acordado pelo cobrador que deseja checar a passagem, mas a criança não tem passagem, não sabe para onde está indo, e não tem dinheiro para pagá-la.” Embora eu pessoalmente não me identifico com seus pensamentos filosóficos, até que esta percepção de Sartre me surpreendeu. Ou seja, ele teve um insight da situação de angústia e de desespero que o homem se encontra. As pessoas não sabem quem são, não sabem para onde estão indo, e ignoram o verdadeiro propósito de suas vidas. Em outras palavras o homem se encontra


adormecido e com uma profunda amnésia espiritual. É até compreensível que Sartre pensasse assim, visto que possuía uma visão materialista e portanto viver não fazia o menor sentido, pois para ele tudo acabava na morte. De fato a vida é como viajar de trem, e obviamente ele se dirige para um determinado destino. Assim o seu principal propósito é servir de veículo para chegar a uma determinada estação. Isto não quer dizer que você não possa desfrutar do conforto que o trem lhe oferece; Cafeteria, restaurante a bordo, toilettes, ar condicionado e até fazer amizades com alguns passageiros. Tudo isso é muito positivo. No entanto não podemos nos apegar a estes confortos e esquecer que estamos temporariamente de passagem. Quando transcendemos a mente adquirimos uma visão espiritual, e muitas coisas começam a se encaixar e aos poucos muitas coisas começam a fazer sentido. Então você começa a entender certos mistérios e aceitar humildemente que muitos outros mistérios surgirão. É por isto que o Divino Jogo do Ser é fascinante. Tente imaginar que você é um ator, e escolheu interpretar um personagem que dentro da história, passa por inúmeras situações difíceis e pode até ter um desfecho trágico. Agora imagine se você no meio do filme, não gostando do papel que você mesmo escolheu, parasse de atuar e dirigindo-se ao diretor, você lhe dissesse cabisbaixo: --- Sinto muito, me desculpe, mas não vou mais continuar atuando neste filme. Afinal tudo não passa de uma ilusão. Portanto me retiro da produção. Adeus. Bem, no mínimo o diretor ficaria indignado, para não dizer revoltado com esta sua desistência. É claro que você possui livre arbítrio para optar por esta decisão, mesmo sabendo das consequências. Entretanto quando você acordar deste mundo de faz de conta, você vai rir de si mesmo, por ter levado tão a sério o seu personagem, e por acreditar que sua própria essência também fazia parte da ilusão. O que seria em outras palavras uma ilusão dentro de uma outra ilusão. Talvez, se houver um despertar, tentará reivindicar sua volta no filme. Você pode se perguntar; porque ele iria querer voltar? . É simples. É porque adquire consciência que a sua atuação irá lhe proporcionar riquíssimas experiências e um grande aprendizado não só em seu benefício, como também para todas as pessoas que irão assistir ao filme. Não devemos esquecer que embora estejamos interpretando com extremo realismo uma determinada cena, um ator reconhece a sua verdadeira identidade e sabe que tudo que está sendo interpretado é apenas um faz de conta, apenas um jogo. Quando o filme termina, ele volta a ser ele mesmo. Assim, independentemente dos vários papeis que interpretamos, sejam eles quais forem, existe um eu que permanece sempre igual e que não se deixa afetar por nada, pois a verdadeira riqueza, jamais desaparece. Já é sua. Porém se um ator se identificar com seu personagem e esquecer que é um ator, seria considerado no mínimo um pobre louco que perdeu o juízo. O “Ser” é atemporal e bem aventurado, e você possui este poder e deve reivindicá-lo neste momento. Por isso a grande importância do silêncio. Quando você sente este silêncio em sua mente, você se torna um observador desapegado, não se envolvendo no drama. Somente quando conseguir permanecer em solitude, o universo se tornará o seu império. Ele não precisará ser conquistado. Ao conhecer o “Ser”, você já o conquistou. Talvez agora as palavras de Jesus possam ser muito mais compreendidas quando ele disse a seus discípulos: “Bem aventurado é o solitário, porque encontrará o reino, por ter vindo dele, voltará lá novamente”. E para concluir este capítulo, aqui está um verdadeiro presente que o rei Milinda* nos brinda através de um diálogo que ele tem com seu mestre Nagasema, e que representa um Koan que serve como uma forma de mergulhar na intuição e transcender a mente pensante. Pode parecer um diálogo um tanto absurdo, porém em algum momento pode nos proporcionar um vislumbre do despertar.


“Posso te fazer uma pergunta? Disse o rei. Por favor, faça sua pergunta, disse Nagasema. Eu já perguntei. E eu já respondi. Mas o que você respondeu? Pergunta surpreso o rei. O que você perguntou? Questionou Nagasena. Ora, não perguntei nada, disse o rei. E eu não respondi nada “disse o mestre.”

No próximo capítulo, deixarei vocês todos apaixonados.

*Chakra- Os sete centros energéticos, ocultos na coluna vertebral e no célebro, que vitalizam o corpo físico e astral. *Jean Paul Sartre- filósofo e escritor francês. *- Milinda - Mestre budista, Governante do Reino Indo-grego – 150 a 130 A.C .


O divino jogo do amor


Meninos brincam todo dia com seus brinquedos longe da mãe. Mas quando a mãe chega, deixam de lado seus brinquedos e correm para junto dela com muita alegria. Assim também o homem está brincando neste mundo com seus brinquedos, que são os bens, as honras, a fama. Mas se ele deslumbrar a mãe divina dentro dele mesmo, não achará prazer em mais nada e se entregará ao amor eterno de Deus. Ramakrishna


Este

capítulo começa com uma pequena história. Desconheço o seu autor, mas vou

transcrevê-la porque representa de forma simples a infinita extensão de Deus. É uma analogia para tentar definir o indefinível, e de descrever o indescritível. “Um menino perguntou ao pai”: ---Qual é o tamanho de Deus? Então ao olhar para o céu, o pai avistou uma gaivota e perguntou ao filho ---Que tamanho tem esta gaivota? O menino respondeu: ---Pequena. Quase não dá para se ver. Então o pai o levou a beira mar e ao chegar na praia se aproximou bem perto de uma gaivota e perguntou: ---Filho e agora, qual é o tamanho desse. O menino respondeu: ---Puxa pai, esse é grande! O pai respondeu: ---Assim é Deus. O tamanho irá depender da distância em que estiver dele. Quanto mais perto, maior ele será na sua vida”. O amor é o nosso destino. Ele é como se entregar para a correnteza de um rio, que inexoravelmente irá facilitar o seu percurso e te levar de volta em direção ao mar (Deus) Embora você possa escolher nadar contra ele (ego), mais cedo ou mais tarde, ela irá fracassar. Haverá momentos em que depois de muitas tentativas infrutíferas, e penosas tempestades surgirá o reconhecimento em que a verdade irá prevalecer. Não existe outro caminho a não ser voltar para o amor. Ele faz parte intrínseca da nossa essência. Nadar contra a correnteza, só irá retardar o seu propósito, mas também pode ser o caminho escolhido para incorporar vivencialmente esta verdade, e estar totalmente convencido que nadar a favor da corrente, constitui o único caminho para desfazer a ilusão da separação. Assim é Deus. De forma que quando nos entregamos a corrente do seu amor, e adotamos o hábito de repetir o seu nome, e não importa o nome que você lhe dê, ele é suficiente para sentir sua grandeza e afastar as ilusões de nossa mente. A grande vantagem desta prática é que com o tempo, todas as nossas fraquezas começam a desaparecer, pois a luz da verdade anula todos os nossos medos. Assim sempre quando vamos ao seu encontro, sentimos em nosso coração a sua presença, como que acompanhando os nossos passos. Então o amor deixa de ser uma simples emoção, e se torna a verdade absoluta do nosso “Ser”. Certa vez um mestre perguntou a um discípulo: ---Você ama as pessoas? ---Amo apenas a Deus respondeu. ---Isto é insuficiente replicou o mestre. Passado muito tempo, o mestre formulou novamente a mesma pergunta. ---Não me pergunte, respondeu o discípulo com amplo sorriso. O mestre então podia sentir que ele entendeu que o amor era amplo demais para ser discutido. Este é o verdadeiro e puro amor, que não depende de nenhuma condição, e que não pode ser debatido, analisado, intelectualizado. Ele é o nosso “Ser” e um dia, quando este amor preencher totalmente seu coração você nem precisará pensar nele, porque você o encontrará em todo lugar. Existe uma bela história que ilustra os benefícios desta prática e nos demonstra que quando você inicia sua jornada interior, terá que atravessar ”o que é chamado a noite escura da alma”.


Um viajante se encontrava perdido numa grande floresta. No entanto dispunha apenas de uma pequena lanterna, cuja luminosidade não se estendia além de dois metros de distância. Quando começou a escurecer ele começou a ficar aflito e temeroso embora tivesse uma antiga trilha já um tanto desgastada que levava a uma pequena vila. Mas logo outro homem apareceu e perguntou-lhe sobre o seu problema. Após ouvi-lo com atenção lhe disse: ---O meu caminho é outro, mas uma lanterna que ilumina até dois metros adiante é suficiente para você chegar ao seu destino. A floresta é como o caminho escuro de nossa vida e a lanterna é o pequeno nome de Deus que é suficiente para passarmos com segurança pela floresta da vida, dando um passo de cada vez. Assim encontrar Deus é a única razão de estarmos aqui. Gosto muito das palavras de Yogananda que com tanta simplicidade e poesia explica a nossa condição: “A alegria divina é como milhões de alegrias terrenas enfaixadas em uma. Procurar a felicidade neste mundo é como pedir uma vela, quando se está na luz do sol. Diante dela as alegrias terrenas não passam de sombras.” Estas sombras que o mestre se referiu possuem muitos nomes. Alguns a chamam de ganância, luxúria, fama, prestígio, inveja, prepotência, vingança...Parece mais um mundo de loucos. Mas são poucos os que são loucos por Deus. O que acontece é que quando o homem se afasta das sombras e é iluminado pela luz do sol ele começa a sentir a sensação de estar vivendo em dois mundos simultaneamente. O mundo do “Ser” e o mundo das formas (maya)*.Pode ser um tanto perturbador no início como já expliquei no capítulo anterior. No entanto, na medida em que ele começa a permanecer mais tempo no estado do “Ser”, percebe que é apenas uma diferença de perspectiva. É como se você usasse óculos devido a sua miopia. Quando você os retira o mundo fica embaçado, mas quando volta a colocá-los a nitidez se restabelece, sem que com isso o mundo tenha mudado. Assim na verdade, o mundo das formas, o mundo no estado onírico é o “Ser”, visto através das lentes deformadas e fragmentárias dos limites da mente adormecida É a projeção da consciência, criando o mundo das formas, como se fosse um sofisticado holograma, onde tudo está interconectado. Enquanto que o “Ser” mesmo estando aparentemente num corpo pode participar do mundo onírico, ou seja, conversar, comer, brincar, ao mesmo tempo em que percebe a cada momento este gigantesco cenário como uma das materializações da consciência. De modo que para ele a diferença como verdade e ilusão é superada pela condição na qual se encontra, não existindo nenhum conflito entre os dois estados. Consegue reconhecer que todo este contraste e diversidade é a própria manifestação do “Divino jogo do Ser” e reconhece que todos os mais variados caminhos espirituais levam ao “Ser”. Muitos conseguem poderes extraordinários sobre a matéria, mas que são raramente utilizados a não ser em casos especiais. Outros também podem deixar o corpo no momento em que lhes forem mais conveniente e isso ocorre com total serenidade, paz e amor, pois sabem que o corpo é apenas uma vestimenta temporária, e que a vida não tem fim. Este parágrafo me transporta ao passado, e me faz recordar do meu primeiro confronto com a morte. Devia ter não mais do que sete anos, quando meus pais resolveram passar duas semanas de férias numa das pequenas cidades do litoral. Assim fui deixado aos cuidados dos meus avos paternos. Eles moravam no primeiro andar de um antigo prédio localizado bem no centro da cidade do Cairo/Egito e ficava numa das principais praças do centro chamada “Praça Suleiman Pasha”, nome de um oficial francês do exercito de Napoleão. Para me distrair, assim que voltava da escola, lembro-me


como se fosse hoje a alegria que sentia, quando minha avô me entregava uma caixa de madeira repleta de fichas de diversas cores que eram usadas em jogos de cartas. Ficava horas brincando com elas. Depois para variar, ficava debruçado na janela com vista para a praça, e me divertindo contando a quantidade de carros que passavam pelas avenidas transversais. Um dia porém aconteceu algo totalmente incomum. Estava sozinho no apartamento, pois minha avô tinha saído para fazer compras, quando para meu espanto vejo na praça guardas e policiais parando todo o transito. Aos poucos uma multidão de pessoas já ocupavam toda a avenida principal. Não demorou muito tempo para perceber que era um cortejo fúnebre quando avistei ao longe quatro homens carregando nas costas um caixão todo coberto por um pano preto. Na frente duas pessoas segurando um imenso quadro com o retrato de um homem que não me era desconhecido. Logo me dei conta que era o rosto de Anuar Yagdi, famoso e popular ator e diretor de cinema, idolatrado pelo povo egípcio. Soube mais tarde que tinha falecido por um problema renal. Isto durou cerca de uma hora, onde milhares de admiradores prestavam a última homenagem ao amado artista. Quando minha avô voltou, percebi em seu semblante uma certa tristeza pelo ocorrido, mas sem tocar no assunto, me beijou e me entregou amorosamente um sorvete de chocolate, pois sabia ser este o meu sabor preferido. Agradeci e perguntei-lhe o que era a morte. Ela abaixou a cabeça, ficou um tanto pensativa, e me explicou em poucas palavras que era o fim de uma vida, mas que depois sua alma se encontraria com Deus. Então fui para meu quarto um tanto pensativo, achando um tanto estranho esta sua simples explicação. Enquanto me deliciava e me lambuzava com o delicioso sabor do sorvete, tentei entender o que significava a morte, e quem seria este Deus que ela tinha mencionado um tanto vagamente. Mas não me dei por vencido, e na medida em que fui perguntando para vários adultos ao longo dos anos estas mesmas questões, me dei conta que ninguém conseguia me fornecer uma resposta clara e convincente. As explicações eram sempre nebulosas e muitas delas se contradiziam. Alguns eram céticos e acreditavam que simplesmente com a morte, a pessoa deixava de existir. Então para minha surpresa e indignação, não levei muito tempo para perceber que todos os adultos, incluindo padres, rabinos e até cientistas nada sabiam sobre a morte. Era um assunto tabu e pouco comentado. E o que mais me surpreendia era como o homem podia viver, sem ter o mínimo conhecimento do real propósito de sua vida e de seu destino. Nasciam, casavam, procriavam, trabalhavam sem se questionarem sobre estas importantes questões, sem lançar um olhar para o invisível. Ninguém sabia quem era, de onde veio, onde está e para onde vai. Apenas construíam igrejas, templos e mesquitas, nomeavam padres, rabinos e papas para cuidarem destes intrigantes mistérios. É claro que diante do desconhecido senti medo e insegurança, mas tudo me levou a suspeitar que este impacto que tive com a morte naquele dia, foi um dos acontecimentos que me conduziram ao longo dos anos em direção a espiritualidade. Com o passar do tempo, já adulto e radicado no Brasil, pude constatar aos poucos um grande avanço sobre este tema. Mentes brilhantes foram surgindo, e conseguiram através de sérias pesquisas superar o paradigma materialista graças aos avanços da física quântica, da psicologia transpessoal e sobretudo do intercâmbio que o ocidente teve com a profunda e milenar sabedoria oriental. Todas estas descobertas foram se alastrando a nível global, através da rapidez dos meios de comunicação, e tudo isto em menos de 50 anos. Hoje ao contrário, vamos encontrar muitos pesquisadores, médicos e cientistas, que estudam o que foi denominado EFCs (experiências fora do corpo) e EQM (experiências de quase morte) constatando que grande parte das pessoas que passam por essas extraordinárias experiências, relatam que a morte é uma ilusão e que o universo é um continuum multidimencional de energias sutis, habitado por imensuráveis tipos de seres. Quando alguns estabelecem contato mediúnico com eles, sentem


uma poderosa irradiação amorosa de tal magnitude que não conseguem descrever em palavras, o profundo amor em que são envolvidos, e que jamais imaginaram que pudesse existir um sentimento tão sublime e incondicional como este. Sempre quando isto acontece, a pessoa sofre uma profunda mudança interior. (Este tema é mais desenvolvido no terceiro volume “O Divino jogo da consciência”)

Prepare-se para os prelúdios do amor erótico

*Tantra - Um caminho de transformação interior, para despertar a consciência através da união do masculino e do feminino representando o retorno à unidade Divina. *Rumi - Poeta, jurista e teólogo. Viveu grande parte na Turquia. 1207-1273.


Amor, Sexo & Relacionamento


O beijo é o segredo divino que um diz ao outro, sem ter que escutar. Ela é a peregrinação do coração pela alma, através dos lábios. Cynaro de Belgerak


É claro que não poderia deixar de incluir neste capítulo, que fala

do Divino jogo do amor, em

suas mais diversas manifestações , a importância da sexualidade em nossa vidas. É verdade que nestas últimas décadas, tem havido maior liberdade sexual, e o fim de diversos tabus e preconceitos, que reinaram durante séculos, principalmente no ocidente cristão, que condenavam os desejos sexuais com extremo rigor. Pelo fato do sexo estar ligado aos instintos, ele era visto como algo pecaminoso e não condizente com a espiritualidade. Deveria ser praticado somente para a procriação. Em consequência desta repressão, isto acabou provocando muitas perversões e perturbações mentais. Felizmente esta época tão sombria da humanidade, foi aos poucos diminuindo e abrindo espaço para uma mentalidade mais aberta. Hoje é até estranho conceber que todos estes tabus perduraram por diversas gerações. Até mesmo no início dos anos 60, lembro-me de um fato surpreendente que ocorreu no Brasil, quando a censura recolheu de todas as bancas, a revista “Realidade” da editora Abril, por abordar muito abertamente o tema da sexualidade. (Para quem quiser ter um conhecimento maior sobre a sexualidade e erotismo na história do Brasil, recomendo o livro “Histórias Íntimas” de Mary Del Priore.) No entanto, apesar desta emancipação, onde hoje as mulheres podem se entregar ao prazer sem culpa, por conquistarem o seu espaço dentro da sociedade, ocupando posições que até então eram reservadas para os homens, mesmo assim quando o assunto é sexo, ele assusta e constrange tanto os homens como as mulheres. Qual seria o verdadeiro motivo desta apreensão? Penso que este medo do sexo é tanto quanto o medo de viver. Isto acontece porque o envolvimento sexual, aproxima e expõe a nossa intimidade perante outra pessoa. Escondemos até de nós mesmos, muitas fraquezas, fragilidades, vícios, fantasias e sentimos que no envolvimento, isto pode vir a tona, causando um temor imaginário de não sermos mais aceitos. Podemos ser julgados e abandonados. Com esta visão, pode nos parecer mais seguro manter um distanciamento. Pode ser um romance virtual via internet. Talvez um relacionamento casual, sem compromisso afetivo. Apenas uma aventura. (Ver o filme “O Último tango em Paris de Bernardo Bertolucci) ou até mesmo evitar completamente um relacionamento. Devido a falta de auto-conhecimento, e dominados pelo ego, nos sentimos emocionalmente vazios, e fragmentados. Penetrar em camadas mais profundas numa relação amorosa nos apavora, porque teremos que abrir o nosso coração. É preciso coragem para se entregar, e não ficar na superfície. O medo nos assusta e desejamos apenas momentos de prazer e fugir rapidamente antes que ele se torne um compromisso. Pode ser sentido como uma invasão do seu eu, e talvez isto explica a instabilidade das relações afetivas nos dias de hoje. No entanto pela nossa própria condição de carência, sentimos a necessidade da intimidade. O desejo em poder compartilhar os nossos sentimentos. Estar só pode nos dar a sensação de estarmos desamparados no mundo. Queremos ter amigos, uma pessoa para amar e ser amado, ou filhos para se sentir preenchido. Sem se relacionar, a quem você pode se abrir, desabafar, confiar e dividir suas tristezas e suas alegrias?


Como mencionei no primeiro volume da trilogia “O Divino jogo do”Ser”, e seria bom aqui repetir: “O amor incondicional é suficientemente forte e não nos faz dependentes de outra pessoa. Ele ultrapassa os sentidos e é inseparável de mim como a cor da minha pele. O verdadeiro amor leva você para a liberdade. Ele é em si eterno; contém a piedade, a generosidade, o perdão e a compreensão”. O relacionamento é importante, porque ele é como um espelho que reflete sua imagem no outro. Quanto mais puro for o seu amor, maior nitidez a sua imagem irá se refletir. Então o seu amor se torna a fiel projeção de sua essência. Ele é o sentimento supremo que nos proporciona o propósito real da existência. Um bom exemplo que nos mostra a necessidade e a importância dos relacionamentos, pode ser visto no filme “O Náufrago” de Robert Zemeckis. Na história podemos ver que Chuck Noland, interpretado por Tom Hanks, sofre um acidente aéreo, que o deixa preso por quatro anos numa ilha totalmente desabitada. Em total isolamento, Chuck sentiu a necessidade de ter alguém com que pudesse interagir, para sobreviver tanto fisicamente como emocionalmente. Então por sorte ele encontra entre os destroços do avião que vieram parar na praia, uma bola de vôlei. Aproveitando a marca do fabricante, ele o batiza de “Wilson” e com seu próprio sangue, desenhou na própria bola um rosto humano. Assim acaba fazendo dele o seu imaginário e inseparável companheiro, para poder falar, desabafar, gritar e se alegrar. Hoje podemos perceber principalmente entre os jovens, que o sexo deixou de ser aquele bichopapão, e com muita naturalidade passam a ter relações íntimas, sem causar nenhum embaraço por parte dos pais ou familiares. O que era visto como um comportamento pecaminoso no passado, hoje é aceito como tão normal, como qualquer outra necessidade física. Podemos constatar também a quase inexistência do tabu da virgindade, e o erotismo se tornou hoje um complemento natural para estimular o prazer. Mas também, como tudo tem o seu oposto, o sexo, muitas vezes é desvirtuado e acaba se transformando em libertinagem, visando apenas a excitação dos sentidos, o que não condiz com o propósito da sexualidade. Desde que o sexo ficou fácil de conseguir, o amor ficou difícil de encontrar. Mas quando o verdadeiro amor se manifesta em nosso interior, ele se torna um sublime sentimento onde duas almas se unem para compartilhar com emoção, o amor que sentem um pelo outro. Não podemos nos enganar e achar que o sexo e o amor são a mesma coisa. O amor tem pouco a ver com o corpo. Ele é um sentimento de alma para alma. É uma identificação espiritual. O Divino que está em mim, amando o Divino que está em você. Precisamos perceber que se o sexo se manifestar sem amor, então você se torna apenas escravo de seus instintos. Não se pode fugir do amor. Tentar evitar que o sentimento de amor aconteça, é perder a sua criatividade, a sua poesia, o seu romantismo, e ele acaba não tendo condições de perdurar. Não existe nenhum mal, ou pecado em compartilhar o sexo apenas pelo prazer, até porque ele constitui o primeiro degrau para alcançar o verdadeiro amor. Como tão bem definiu o mestre Osho:--- O sexo é o portão dourado do paraíso. Mas quando estiver no paraíso (Unificado com a fonte (Deus) os portões nem se fossem confeccionados por diamantes, não terão mais nenhum valor. Mas sem dúvida amar uma pessoa com sincera amizade é muito mais profundo, e o sexo se torna um complemento juntando dois corações que batem no mesmo compasso, a ponto de ouvir um só. Então você se unifica com seu “Ser” e o tempo parece deixar de existir. Como o propósito deste tema é entender com mais profundidade a metafísica da sexualidade, podemos nos questionar: Ele é apenas um instinto para a perpetuação da espécie? Um prazer dos sentidos? ou ele é algo a mais? Na verdade ele é tudo isto, mas do ponto de vista metafísico, a união sexual cria uma conexão simbólica com a fonte. (Deus). Compartilhar o amor que cada um sente em relação ao outro e em relação a si mesmo, nos proporciona a experiência de estar em sintonia com uma dimensão além do ego, e nos faz sentir por momentos o sabor da unicidade. Então por instantes a dualidade é transcendida. Da mesma forma, quando ocorre o contrário, ou seja quando há uma


separação, revivemos o momento em que tivemos a ideia de estarmos separados da fonte. Por esta razão toda forma de separação sempre nos causa muito sofrimento. Para as tradições orientais, a sexualidade possui um sentido muito mais amplo. O envolvimento sexual é sentido como uma abertura para um estado interior no qual a consciência entra num estado meditativo. Nesta perspectiva ela se desenvolve e se intensifica de forma natural. Não são eles que fazem o amor. O amor se faz. Se desconhecermos este potencial sagrado, estaremos ignorando a sua verdadeira natureza e de sua sagrada missão. Não podemos reprimir o nosso desejo sexual, sem antes passar por toda uma grande alquimia de transformação interior. Por isso não devemos estranhar o fato de existirem muitos símbolos fálicos esculpidos nas rochas em sítios pré-históricos. No Tantrismo* por exemplo em vez de combater a energia sexual, ela é transformada. Quando isso ocorre verdadeiramente, o casal vivencia a intemporalidade. Um se torna o outro e nesta conexão se dá a dissolução do ego, tempo/espaço. Pode durar poucos segundos, mas não deixa de ser um lampejo de plenitude, aquilo que todos os mestres de todas as tradições religiosas são testemunhas. É o modo como a utilizamos que pode fazer dela uma amiga ou inimiga. Porém ela não é uma coisa nem outra. A energia é simplesmente natural. Não podemos lutar contra ela. Somente estando consciente do seu desejo, ele pode ser transcendido. Como tudo faz parte de um processo gradativo, chegará o momento onde o celibato se tornará natural. A energia sexual é então transmutada e utilizada para outros propósitos mais elevados. Portanto não devemos fazer do corpo um ídolo a ser cultuado. Ele é apenas um instrumento de aprendizagem. Segundo “Um Curso em Milagres”, eles são apenas substitutos e não podemos acreditar que irão completar o nosso “Ser” dando-nos segurança em um mundo transitório e em constante mutação. Devemos olhar sempre em nosso interior, onde se encontra a verdadeira união, a paz, a serenidade e o verdadeiro amor. No instigante e revelador livro do Gary Renard “O desaparecimento do universo*”referindo-se ao sexo, seus mestres ascensionados declaram: “O ato sexual não chega nem de perto do êxtase incrível do céu*. Ele é apenas uma pobre imitação inventada da união com Deus. É um falso ídolo, feito para manter a sua atenção presa ao corpo e ao mundo, em busca de mais... Imagine o próprio auge de um orgasmo sexual perfeito, exceto que esse orgasmo nunca termina”. Esta descrição do Gary Renard me surpreendeu, porque muito antes de ler seu livro, me utilizei da mesma analogia do orgasmo quando passei por uma intensa experiência espiritual em meu primeiro livro da minha trilogia “O divino jogo do ser”. Um homem meditativo, e que dissipou suas sombras, não encontrará resistência para que a intimidade possa ocorrer. Todo seu passado foi perdoado e ele não tem nada a esconder. Possui um coração aberto e amoroso e aceita sem nenhum julgamento a sua totalidade. Possui uma ampla visão espiritual, que lhe permite amar as pessoas como elas são. Sabe que a essência Divina habita em cada um de nós e que todos somos um. Não poderia ser mais do que adequado reproduzir aqui, as iluminadas palavras do poeta Rumi* quando escreve em um dos seus versos: “Na verdade, somos uma só alma, tu e eu. Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti. Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo. Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu”.


O reconhecimento de que realmente somos o “Ser” desperta em nós a verdade de que nunca houve um “Ser” separado. Um “Ser” que vive uma vida independente. Como você pode não amar outra pessoa se essa pessoa é você! É o próprio amor que experimenta através de cada um de nós, a sua eterna e absoluta paixão.

No próximo capítulo os poderes e mistérios da mente

*Tantra - Um caminho de transformação interior, para despertar a consciência através da união do masculino e do feminino representando o retorno à unidade Divina. *Rumi - Poeta, jurista e teólogo. Viveu grande parte na Turquia. 1207-1273. *Céu – O mundo não dualístico do conhecimento. *O desaparecimento do universo – Gary Renard -Editora Grupo Mera.


Os poderes e mistĂŠrios da mente


Ser livre é ser dono de si mesmo. Não é fazer tudo o que vem a cabeça. É tomar as rédeas de sua vida em vez de entregá-la às tendências forjadas pelo hábito e à confusão mental. Não é largar o leme, deixar as velas flutuarem ao vento e o barco partir à deriva, mas ao contrário, colocá-lo na direção escolhida: aquela que consideramos como a mais desejável para nós e para os outros. Matthieu Ricard.


Fazendo uma recapitulação dos capítulos anteriores, podemos perceber que em síntese, existe um fato que não se pode alterar; se estamos em harmonia com a nossa verdade interior, sentimos bem estar e felicidade. Se não estivermos em harmonia, ocorre o oposto; ou seja, sofremos. Eu acho que não é mais nenhum segredo, pois está bem diante dos nossos olhos, que as florestas estão diminuindo e os desertos aumentando, causando grandes transformações climáticas e grandes terremotos em diversos locais da terra. E como se isto não bastasse, a cada ano o mundo gasta mais de um trilhão de dólares em armamentos, enquanto que por apenas seis bilhões por ano, daria para terminar com a fome e a desnutrição mundial. Só de testes nucleares, de 1945 até 1998, mais de 2.100 bombas atômicas explodiram no planeta. Foi com muita coragem que o economista John Perkins, que foi assessor do banco mundial e do fundo monetário internacional, que denunciou as corruptas estratégias econômicas de uma elite financeira, que controlam as grandes corporações, e que por sua vez interferem no governo e nas forças armadas. Esses tubarões corporativos verdadeiros predadores, estimulados pela ganância, ambição e dominados pelo ego, resultou nesta crítica e insustentável condição mundial. Sabemos que todas estas distorções são em essência sintomas do nosso insano estado mental. Na verdade o que podemos fazer para trazer a paz mundial, não é apenas modificar o sistema político, e prender os corruptos. Isto seria um paliativo. Isto foi tentado ao longo de toda a história da humanidade sem nenhum resultado. O que devemos fazer é reconhecer o “Ser” que habita em cada um de nós e praticar o perdão e a compaixão. É mudar nossa mente sobre o mundo. Também devemos desfazer a ilusão da palavra humanidade. Onde está a humanidade? Ela é apenas uma abstração. Não existe humanidade, existe somente um indivíduo. Quando cada um atingir a sua paz interior, então a paz exterior se manifestará por si mesma. Sempre a mudança tem que vir de dentro para fora. Isto acontece porque o mundo nada mais é que a projeção de nossa consciência, que possui infinitas possibilidades criativas. Você poderá até se surpreender com esta estranha visão de Sai Baba*, quando nos diz que hoje existe muito mais luz no mundo. Você pode até não compreender esta paradoxal afirmação, e indignado pode se perguntar:--- Como pode ter mais luz, quando assistimos a tantas atrocidades, corrupções, homicídios e tantas coisas terríveis? Eu mesmo por alguns instantes fiquei na dúvida, mas depois de uma rápida reflexão eu tive que concordar com ele. Sai Baba faz uma bela analogia com a luz de uma lâmpada de 40w. Diz ele: --- Imagine que está num quarto escuro, onde guarda suas coisas iluminadas por uma lâmpada de 40w. Se trocar por uma de 100w. verá muita desordem e sujeira que você nunca tinha reparado. Hoje o mundo é iluminado por uma lâmpada de 100w. É isto que está acontecendo. De fato quando a verdade é exposta bem visível na sua frente, você enxerga muitas coisas que você nem imaginava que pudesse existir. E esta percepção nos dá a impressão que o mundo está cada vez mais violento e caótico. Ficamos chocados e surpresos por imagens que nos assustam e nos


deprimem. Mas é exatamente o contrário que acontece. Nós não podemos mais esconder esta sujeira que se acumulou durante tanto tempo e tentar ainda ocultá-la debaixo do tapete, sem que

ninguém perceba, principalmente hoje na era da informática onde nada mais pode ser escondido. O tapete está hoje todo enrugado, e com muitas ondulações. Uma montanha russa de altos e baixos. O lado positivo de tudo isto é que começamos a enxergar as coisas com mais nitidez e perceber que estávamos quase cegos. Devemos abrir mais os nossos olhos para ampliar ainda mais o nosso campo de visão, para poder colocar todas as coisas em seus devidos lugares. Sem consciência, sem disciplina, sem uma força de vontade efetiva para aumentar mais a nossa voltagem, iremos permanecer por mais tempo, oscilando entre o prazer e a dor, entre a angústia e a felicidade. Devemos estar determinados para terminar de vez com esta constante gangorra que nos tira o entusiasmo e o prazer de viver com plenitude, e que a curto prazo pode causar um estado crítico em nosso planeta. Para se ter uma pequena ideia da nossa condição como civilização, outro dia recebi um e-mail que realmente me surpreendeu. Ele dizia que se pudéssemos reduzir a população da Terra a apenas 100 habitantes, mantendo as proporções existentes atualmente, o resultado da pesquisa seria assustador, mas verdadeiro. (Pesquisa feita em 2005) Apenas 6 pessoas possueriam 59% de toda riqueza. 80 pessoas estariam vivendo em condições sub-humana. 70 pessoas seriam analfabetas. 50 sofreriam de desnutrição, e apenas 1 pessoa teria acesso a um computador. Como podemos constatar, fica mais do que evidente que esta crise pela qual estamos passando, não é econômica ou política; estas são as consequências de uma profunda crise de consciência. Uma incapacidade de sentirmos diretamente a nossa verdadeira natureza. Uma amnésia que oculta “Quem somos nós”, e a nossa interconexão com o todo. É a mentalidade egóica que foca somente o mundo exterior. Mas quando a consciência se volta para dentro de si, ocorre um despertar. Então tudo ao nosso redor começa a mudar. Podemos dizer em outras palavras; estaremos mais próximos de nossa verdadeira realidade. Mais próximos da fonte. Como nada acontece por acaso, não passou muito tempo, assisti a um documentário chamado “Projeto Venus” sobre a vida de Jacque Fresco, que confesso nunca tinha ouvido falar. O vídeo mostrava suas ideias projetos e invenções. Ele é considerado um futurólogo e visionário, mas também é engenheiro industrial e planejador social. Mas o que mais chamou a minha atenção além de seus fantásticos projetos, foram suas palavras finais. Quando o filme estava para terminar, ele com muita simplicidade disse ao final da entrevista: ---Somos uma forma de vida rudimentar, nos estágios evolucionários. Na verdade não podemos ainda nos considerarmos seres civilizados. Somente depois que o mundo se unir e terminar os sistemas militares, prisões, torturas, fome, pobreza e privações. Quando tudo isso acabar, será então possível o início do verdadeiro mundo civilizado. Para isto acontecer é de fundamental importância aprender a usar as corretas ferramentas para que possamos reverter esta amarga realidade. Nós já possuímos esta ferramenta. Ela é a nossa a mente. Devemos estudar os pensamentos e as emoções, como eles funcionam e como elas interagem entre si. Corrigir as ações equivocadas que cometemos e promover uma inadiável transformação para despertar a nossa consciência. Porque se você estiver sonolento e tentar guiar um carro sem saber como dirigi-lo, você terá muita sorte se não bater no primeiro poste, ou


atropelar um pedestre, o que seria ainda muito mais grave. É o que acontece com as pessoas. Elas não sabem dirigir suas mentes. Entretanto, essa mente que pode nos causar tanto sofrimento, pode

também nos proporcionar a alegria e a felicidade. Como isto pode ser? Segundo os grandes mestres, que na verdade, são mais psicólogos, do que filósofos, eles nos informam que a mente é a causa, tanto da felicidade quanto da infelicidade, tanto da escravidão quanto da libertação. O mais surpreendente é que as milenares escrituras hindus, pouco falam sobre Deus ou de como alcançar Deus. Mas descrevem minuciosamente os meios de purificar e aquietar a mente. Por que a mente é tão importante? Porque ao entendermos que a mente pode ser uma armadilha, fica muito mais fácil percebermos as ilusões que ela nos causa. Todas as perturbações mentais das mais sutis às mais graves são conseqüências de uma mente cujos pensamentos estão descontrolados (a não ser em casos genéticos ou acidentes). A questão é: como podemos controlar a mente? Infelizmente isto não é possível. Não podemos controlar a mente, porque como já percebemos ela é apenas um disco rígido, lotado de arquivos. Mas podemos controlar e mudar os nossos pensamentos. Quem conseguiu transmitir esta verdade de forma tão comovente foi o escritor Nikos Kazantzakis, através do seu empolgante romance Zorba o Grego, que o cineasta Michael Cacoyannis transpôs para as telas de forma magistral e que só poderia ser interpretado pelo inesquecível Anthonny Quinn que encarnou totalmente o personagem. Porque Zorba o Grego? Porque ele nos mostra como os nossos pensamentos podem transcender os nossos medos, e principalmente, aceitar o momento presente. O senhor Basil, um tímido e introvertido escritor inglês, estabelece uma amizade com Zorba, um simples e extrovertido camponês de meia idade, mas com um grande amor pela vida. Quando Zorba aceita trabalhar numa mina abandonada de Basil, inicia-se uma transformação para o jovem inglês, que gradativamente passa de observador passivo e controlado, a protagonista atuante, soltando suas emoções e vivendo de forma mais intensa. Numa das mais belas seqüências do filme e que constitui a essência desta obra-prima é quando, ao se defrontar em uma situação um tanto trágica e inesperada, ele começa a rir, e aceitar o momento com serenidade. Agora com a mente mais descontraída, consegue transformar o que para o ego seria simplesmente o fim de uma amizade, acontece exatamente o contrário. Ele simplesmente aceita pacificamente a inesperada situação com gargalhada, saboreando uma costeleta de carneiro, um copo de vinho e pede a Zorba para ensiná-lo a dançar. Com esta atitude de desprendimento intensifica ainda mais sua amizade com Zorba. As cenas finais do filme são antológicas. Um verdadeiro hino a vida e um exemplo de como podemos através de uma nova perspectiva mudar a nossa visão de mundo. Para conseguirmos esta transformação, devemos fazer de nossa mente um laboratório de experiências, analisar o seu sofisticado funcionamento e efetuar as mudanças necessárias. No famoso Bhagavad Gita* existe um dialogo em que Arjuna diz a Khrisna: ---A mente é inquieta, inconstante, turbulenta, forte e obstinada. Ela é tão difícil de controlar quanto o vento. Da mesma forma que uma tempestade sacode uma embarcação até naufragá-la, a mente pode levar uma pessoa a qualquer lugar e atormentá-lo a cada dia. Nós criamos um mundo pessoal em nossa mente e depois habitamos nossa própria criação. É impressionante nos darmos conta de como os antigos Siddas*, já entendiam que todas as nossas dificuldades surgem de nossa ignorância em como lidar com os nossos pensamentos e até a própria definição da palavra mente é muito parecida com a noção do ego, como falso eu, conforme hoje a psicologia transpessoal a define. Segundo os Siddas a mente possui quatro funções básicas:


- Através dos sentidos ela recebe informações sobre nós mesmos, sobre os outros e do ambiente. - Ela relaciona estas informações com as nossas experiências anteriores, integrando-as à nossa história pessoal.

- Realiza um julgamento das informações recebidas. - Registra as experiências no enorme depósito do inconsciente. Naturalmente todo este mecanismo ocorre quase que instantaneamente, sem que tenhamos tempo de discernir corretamente todo este processo, impossível de interromper, tamanha é a sua velocidade. Qual seria então o método para desacelerar os pensamentos e que muitas vezes nos causam grande transtorno e sofrimento? Será que existe uma tecla escondida que pode nos permitir com um simples toque desacelerar os pensamentos? A resposta é sermos mestres da nossa mente. E a meditação é esta tecla que no início nos permite projetar em câmera lenta os nossos pensamentos. Com a prática da meditação podemos obter uma visão mais detalhada das imagens projetadas. Com isso podemos discernir melhor os pensamentos, controlar as emoções, tomar as decisões mais adequadas e mergulhar no vazio que separa um pensamento do outro. A mente é apenas um aglomerado de pensamentos. Portanto, seria um equívoco tentar controlar ou aniquilar o pensamento com mais pensamentos. Seria como um bandido confiando nas palavras de um comparsa, sem saber que ele na verdade é um policial. Assim sem se dar conta ele estaria se entregando pessoalmente e passivamente para a polícia. Enquanto você pensar que é a mente, você tenta encontrar meios de aniquilá-la, no entanto estas tentativas não darão os resultados esperados porque o ego vive sempre descontente. É a sua natureza. Ele nunca está satisfeito. O que se deve aniquilar são os falsos pensamentos que temos sobre nós, e remover as nossas preocupações e ilusões. Somente desta forma, livre da prisão dos pensamentos, podemos despertar e reconhecer a nossa unicidade. “O “Ser” eterno e ilimitado que já somos”. Acho desnecessário explicar aqui, o significado do ego, pois foi dedicado um capítulo inteiro sobre ele no livro anterior. Mas de qualquer forma, farei um breve resumo, para não ser confundido com o ego da psicanálise. Aqui ele representa o falso eu, a nossa “Persona” que tem sua origem do latim que significa “Máscara”. O ego é o falso conceito que fazemos de nós mesmos. O meu trabalho, o meu nome, minha conta bancária, meu porte físico, minha nacionalidade, as noções culturais e até religiosas que adquirimos ao longo dos anos. Embora no mundo prático do dia a dia ele seja importante e deve ser utilizado, ele não corresponde ao meu eu verdadeiro, ou seja, ao meu “Ser”. Assim o ego é uma falsa identificação que faço de mim mesmo e que muda a todo momento, de acordo com as circunstâncias. Ele passa a existir quando acreditamos que estamos separados do nosso “Ser”. Somente o “Ser” é imutável e iluminado, enquanto o ego é o seu provisório substituto. Ele é muito astuto, nos engana quase o tempo todo, e possui uma predominância enorme em nossa atual civilização. Não é sem razão que na visão hindu, nossa época é chamada de idade do ferro. Kaliyuga Você comeria gato por lebre? Este é o nosso ego, devemos estar sempre atentos para não cair em suas garras e acabar comendo o pobre gatinho. Assim por ser um impostor, o ego tenta substituir o “Ser”. Quando esta falsa identidade se cristaliza com o passar do tempo, as pessoas ao seu redor e, sobretudo elas mesmas acreditam ter atingido o sucesso almejado, principalmente se elas alcançam certo destaque social, seja pelos bens materiais, fama, prestigio e até por ter um grande conhecimento intelectual. Como vivemos grande parte do nosso tempo numa sociedade que cultua o mundo das formas, quanto mais caro fôr um objeto mais temos a impressão que ele é melhor. Se for


barato, ele não terá o seu devido valor reconhecido. O mesmo acontece com o “Ser”, talvez por ser difícil percebê-lo, não entendemos o seu significado e seu verdadeiro valor. É como ter olhos, mas como não podemos vê-los, achamos que eles não existem, pois não podem ver-se a si mesmos, a não

ser que haja um espelho (o nosso mestre interior). Não nos damos conta que sem o “Ser” não há nada. Sem a percepção e a profunda convicção da existência e do valor do “Ser”, haverá apenas sofrimento. Até os grandes mestres, como Jesus possuíam um ego, até para poder manter seu corpo físico na dimensão do mundo das formas. Ele o utilizava apenas como um instrumento prático, sem lhe dar grande importância, pois ele era desprendido e nada podia afetá-lo. Segundo as interpretações bíblicas e através da minha intuição, penso que Jesus foi tentado pelo ego de forma mais intensa em quatro ocasiões. A primeira, quando passou 30 dias em solitude no deserto, em confronto consigo mesmo, representado simbolicamente por satanás (ego) A segunda foi os desafios que teve que enfrentar durante seus 33 anos de vida com seus discípulos, sua família, os rabinos que não o aceitavam como o messias, e com os próprios romanos. A terceira interferência do ego, foi quando em estado de oração pede para o pai: “ Afaste de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas sim a tua vontade.” Neste momento para representar simbolicamente a sua vitória sobre o ego, apareceu-lhe um anjo que o reconfortou. E a quarta foi quando crucificado e agoniado, brandou dizendo: “Deus meu, porque me desamparaste?” mas logo em seguida diz em voz alta “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!”. Embora ele tenha sido tentado várias vezes pelo ego, que procurava alguma fraqueza pela qual pudesse seduzi-lo, Jesus se manteve totalmente fiel ao “Ser”, derrotando definitivamente o ego, que na verdade nunca existiu. Quanto às emoções, segundo os psicólogos Yoguis, elas servem para dar sentimentos aos nossos pensamentos, pois são reações psicossomáticas dos mesmos. Assim um dos métodos utilizados por eles com frequência, era transformar pensamentos negativos em positivos. Hoje com o avanço da neurociência, constatou-se que podemos substituir conexões neuronais antigas por novas e isto foi classificado como “Plasticidade neuronal” isto significa em um nível estritamente celular que um pensamento repetitivo pode mudar falsos conceitos. Isto confirma os ensinamentos dos mestres de todos os tempos em relação ao poder da prática da meditação, afirmações, preces, mantras ou visualizações, que conseguem substituir hábitos mentais negativos por positivos. Através desta reeducação, desenvolvemos novas conexões neurológicas, alterando gradativamente pensamentos equivocados. Ao invés de acreditarmos que somos insignificantes ou inúteis, deveríamos substituir esses pensamentos negativos por pensamentos puros e nos sentirmos importantes e sublimes. Através deste processo de metamorfose nos aproximamos gradativamente de quem somos verdadeiramente. No início, podemos até duvidar se isto irá funcionar. Também não é importante tentar analisá-los. Basta apenas praticá-los. E aqui talvez podemos entender mais claramente a essência da psicologia Yogui. A existência de algo muito mais poderoso do que a mente. “É a testemunha. A consciência que observa a mente”. E aí nos damos conta que não é a mente e nem os


pensamentos que está observando, mas algo além e que é totalmente separado e livre dos pensamentos. Segundo os grandes mestres, este algo além é o “Ser” ou Deus interior. Podemos chamá-la também de “Espírito Santo”. Quando isto é bem compreendido e experimentado o “Ser” não

precisará realizar esforços para mudar os pensamentos. Trocar os maus pelos bons. Isto não será mais necessário, pois surge um claro reconhecimento, independentemente das situações em que se encontra, em que a dualidade é transcendida, ou seja já possui a consciência que neste momento aqui e agora ele é tão pleno e bem aventurado como jamais poderia estar, e totalmente ancorado no real. Reconhece que no “Ser” estão todas as suas riquezas inatas, como tão bem é definido na Raja Yoga* “A pureza, o amor, o poder, a paz, a felicidade o equilíbrio, e a verdade”. Todos constituem as qualidades inatas do “Ser”. Elas não precisam ser criadas, elas já estão em nós. Precisamos apenas desabrochá-las como flores de um jardim, para que suas fragrâncias possam inebriar a todos. Como tão bem descreveu Marianne Williamson, escritora e facilitadora de Um Curso em Milagres: “Estamos esperando que a luz brilhe sobre nós, mas ela não pode brilhar sobre nós, pois ela brilha de nós”. No entanto enquanto estivermos ainda dominados pelo ego, ele nos ilude, proporcionando-nos um falso sentimento de segurança, e quase sempre resiste em mudar os seus propósitos. Quando estamos em conexão com o nosso “Ser” então fica muito mais fácil entender estas verdades e administrar os nossos pensamentos. No entanto, quando a pessoa, sofre um forte abalo emocional sem possuir um intelecto fortalecido, o “Ser” se enfraquece e o ego passa a dominá-lo, causando-lhe uma série de distúrbios psicofísicos, como o medo, o pânico, a tristeza, a depressão...afetando o equilíbrio dos chakras. Nestes casos é aconselhável procurar um terapeuta holístico, para reverter o processo. É claro que a recuperação será mais lenta, porque irá depender muito do estágio espiritual do paciente. Estou abordando esta questão, pois o índice de distúrbios mentais tem aumentado consideravelmente nestas ultimas décadas. Embora esta situação não seja agradável, eles são reflexos de nosso estado da alma e que nos força através do sofrimento a uma auto-transformação. Podemos comparar a mente como um disco rígido, que armazena centenas de arquivos. Através do discernimento e compreensão podemos depositar pensamentos úteis e necessários que serão importantes em nossa viagem. Mas se estivermos desatentos e sem saber para que região estamos nos dirigindo, estaremos armazenando objetos inúteis e desnecessários que só aumentarão o peso da nossa bagagem, e retardando a nossa chegada. Porque sofrer desnecessariamente se podemos ter consciência da verdade de quem somos e para onde vamos. E quando alcançamos este estado, estaremos além do corpo, da mente e dos pensamentos. Com este poder podemos através da consciência, criar o mundo dos nossos sonhos. Neste estado surge à percepção que o “Ser” não possui começo, nem fim. A dualidade se desintegra e só permanece o “UM” que perdura eternamente. Assim, podemos dizer que a mente é apenas a consciência em forma contraída. Um exemplo que os Siddas nos explicam e que facilita a compreensão desta verdade, é como se uma pessoa sofisticada e super bem vestida tropeçasse e caísse num esgoto. Suas roupas obviamente ficariam enegrecidas e ele seria quase irreconhecível, mas apesar de estar sob toda esta sujeira ele seria a mesma pessoa de antes. Somente quando a mente se torna livre de pensamentos, você poderá sentir quem você é. Observe seus pensamentos sem se identificar com eles. Observe o seu corpo. Observe atentamente


como as palavras criam significados de acordo com seus conceitos ou preconceitos, estes por sua vez criam imagens mentais, e desta forma criam diversos sentimentos. Podem ser de sofrimento e ansiedade, ou de prazer e contentamento. Sua mente é um instrumento de grande poder e que deve ser utilizado sempre a seu favor. Temos que estar atentos, para não permitir, que num momento de desatenção o ego possa nos dominar. Isto não pode ser apenas uma compreensão intelectual. Você

tem que sentir o “Ser”, tanto quanto a certeza da aparente solidez do mundo material. Do contrário você continuará oscilando como um pêndulo de um relógio, ou como atravessar uma frágil ponte feita de cordas e toras de madeira, unindo duas altas montanhas. A probabilidade de perder o equilíbrio e despencar são muito grandes. O grande paradoxo em nossa maneira de viver, é que praticamente quase todas as pessoas estão em conflito e perdendo a paz, até mesmo quando aparentemente acreditam estar ganhando. Este é o divino jogo e do poder da mente. Um pensamento conduz a outro e mais outro, nos identificamos com eles e deste modo se não estivermos atentos ficamos como prisioneiros presos na cela de nossa mente que nós próprios construímos. Os mais diversos sentimentos e emoções surgem descontroladamente e assim nos afastamos do nosso “Ser. ”Neste estado contraímos a mais nefasta enfermidade: A amnésia espiritual que nos faz esquecer da nossa verdadeira identidade. Pensamos que somos o pobre homem que caiu no esgoto, e que não se lembra mais quem ele é. Temos que ter a coragem de abandonar esta cela, por mais bela que ela seja, e voar para o espaço infinito. Somente quando tivermos esta disciplina e determinação e nos desprendermos destas limitações, poderemos afirmar com absoluta convicção que somos verdadeiramente seres religiosos. Mas para podermos nos evadir desta prisão, devemos com o poder da meditação, abrir o portão de nossa cela e da obscuridade em que estávamos, gradativamente o ambiente começará a clarear. Esta luminosidade irá expandir a nossa consciência abrindo nossos olhos para a verdade. Então para onde você estiver olhando, você verá beleza nas pessoas, na natureza, nos animais, em tudo, bom ou ruim, belo ou feio. Sentirá que todo o universo é seu próprio “Ser” e compreenderá que tudo, nada mais é que um “Divino jogo do amor”. Segundo as palavras do mestre Gaudapada: --- Este mundo, com todos os seus seres animados e objetos inanimados, nada mais são do que a criação da mente. Quando as atividades da mente cessam, não existe mais mundo, não existe mais dualidade. Só existe o amor de Deus. Agora ao final deste capítulo, as palavras de Carl Jung surgem sob medida, para nos lembrar da importância de enfrentarmos as nossas sombras: “Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente sua escuridão.” Na medida em que você se torne consciente de si próprio, você mergulha no silêncio, e todos os desejos carências e expectativas desaparecem. Este é o momento mais sagrado. O reconhecimento de si. Depois disso, você pode retornar a superfície, sem ser mais afetado pelas ondulações do oceano. Você pode continuar brincando neste divino jogo, sem mais tensão, sem ansiedade e sem sofrimento. Pode estar em pleno centro de uma grande cidade, mas o seu interior permanece calmo e silencioso, como se estivesse assistindo Guerra nas estrelas, sentado confortavelmente na poltrona do seu home-teatre.


Para muitos que estão lendo este final de capítulo, poderá parecer muito fantasioso. Poderá pensar que é muito bonito para ser verdade. No entanto somente vivenciando a verdade do Ser, todas as dúvidas deixarão de existir.

Este é o único e verdadeiro romance. Um romance com o infinito que está acontecendo neste momento.

*Sai Baba - Considerado um avatar (Mestre iluminado) do nosso tempo.


*Bhagavad Gita - Antiga escritura Hindú. *Raja Yoga - O caminho real para a união com Deus. *Siddas - Os que alcançam a auto-realização.

O agora é o momento que nunca termina


Viver no presente é o único modo de viver. Quando você vive no presente, sem que o passado o arraste para trás, ou o futuro o arraste para frente, quando sua energia total é


concentrada no momento, a vida assume uma tremenda intensidade e se torna um apaixonante caso de amor. Este é o único modo de ser rico e próspero. Osho

Porque o agora é o momento que nunca termina? É simples. Ele não termina porque é o único momento que existe. Quando você se lembra do passado é agora que ele é lembrado. Quando você imagina o futuro é agora que ele é imaginado. Só resta um único momento, o momento do agora. Você não irá encontrá-lo em nenhum outro lugar, porque o momento presente não faz parte do tempo. Assim por estarmos iludidos pelo mundo das formas, perdemos momentos mágicos de nossa vida por não perceber e desfrutar do presente. Viver atentamente o presente é o segredo para apreciarmos cada detalhe deste momento. Quando você toma o seu chá apreciando tranquilamente o seu sabor e aroma. Quando nos encantamos com a beleza de uma rosa. Quando acariciamos o rosto do nosso filho, observando detalhadamente seus olhos, sua boca e se sentir inebriado por sua beleza e perfeição. O mesmo ocorre quando apreciamos um quadro, olhando suas diferentes cores, sua textura, seu significado, ou ficar extasiado ouvindo uma orquestra sinfônica tocando o Danúbio Azul de Strauss. Porque o agora é o momento que nunca termina? Porque o presente é o único momento em que a eternidade se encontra além do tempo. Por esta razão, quando perguntamos aos mestres, quando vamos conseguir alcançar Deus, a felicidade, o amor, a paz, o Nirvana, a resposta é sempre no agora. Podemos passar muito tempo em nossos sonhos, mas só “agora” podemos despertar. Muitas vezes me perguntam a minha idade, e não sem razão as pessoas ficam surpreendidas pela minha resposta quando digo: Não tenho idade, porque nunca nasci, apenas troco de roupas de vez em quando. Na verdade o tempo é apenas um conceito projetado pela nossa consciência, não existe o tempo como os nossos sentidos nos fazem acreditar. Dessa forma não existe idade. Nunca nasci e jamais deixarei de existir. Estou na verdade, sempre no atemporal. Jamais iremos alcançar, seja o que for, senão no aqui agora. Iludidos pelo tempo, acreditamos que só seremos felizes no futuro quando tivermos isto ou aquilo, e deixamos passar o momento mágico do agora. Ou como tão bem a Simone, minha irmã se expressou através de um maravilhoso e-mail que ela me mandou, sem saber que naquele momento estava um tanto ansioso e desanimado. As suas palavras se transformaram em verdadeiras vitaminas para o meu estado de espírito. “A única coisa que existe de verdade somos nós, agora. Será que estes lugares, esta música, este sol, ou por acaso o que aconteceu há 20 anos é algo concreto que podemos pegar? O que aconteceu e


o que acontecerá, são somente pensamentos. Isole-os e veja-os. Eles estão lá e você aqui. Quem é você? Um conjunto de valores na imensidão do momento presente.” O problema é que, ou ficamos infelizes por lembranças tristes do passado, ou preocupados, com o que o futuro possa nos reservar. Existe uma bela história a respeito de uma visão que a psicóloga Helen Schucman, teve antes de ser a escriba do “Um curso em milagres”, considerado hoje um clássico da espiritualidade. Nesta visão ela encontra um velho pergaminho. Na medida em que o desenrola ela começou a ver

símbolos a esquerda e a direita. Então ouviu uma voz dizer: “Se você ler o que está à esquerda conhecerá o passado, mas se ler o da direita conhecerá o futuro”. Helen olhou para os dois lados, enrolou de volta o pergaminho até a parte central, onde estava escrito apenas duas palavras: “DEUS É”. Então ela disse “isto é tudo que precisava saber, não desejo mais nada. Assim como a visão de Helen, devemos nos concentrar no meio, ou seja, no presente. É verdade que quando se é jovem, viver o momento é mais fácil. Tudo é novo, emocionante, e temos a sensação que o futuro está longe demais para nos preocupar. É claro que existem situações difíceis, mas no geral, o jovem carrega um peso muito menor do passado e se envolve com o presente com muito mais facilidade e entusiasmo. Ele ainda mantém a pureza do momento. Naturalmente existem exceções, caso o jovem tenha passado por profundos traumas, ou para cumprir uma determinada programação kármica. Caso contrário não existe necessidade de carregarmos mais este fardo em nossa mente. A raiva, o ressentimento e a culpa nos prendem, e naturalmente acabam interferindo negativamente em nossa vida presente. O mesmo pode se dizer em relação as preocupações que nutrimos do futuro. O mais irônico disso é que estatisticamente mais de 95% das nossas preocupações raramente acontecem. E assim sofremos inutilmente, deixando o momento do agora escapar. Agora, gostaria que você lesse atentamente estes dois textos escritos em épocas diferentes e perceba que embora tenham se passado um grande espaço de tempo entre eles, te darão a impressão de terem sido escritos neste momento. •

“Só há um tempo em que é fundamental despertar. Este tempo é agora.” Buda* – século VI A.C

Se abrirmos os olhos e enxergarmos claramente, ficará óbvio que não existe nenhum outro tempo senão este instante e que o passado e o futuro são abstrações sem realidade concreta. Até sabermos disso, temos a impressão de que a vida se compõe de passado e futuro e que o presente não passa de uma linha finíssima que os divide. Mas ao “despertarmos para o momento” percebemos que a verdade é exatamente o contrário, o passado e o futuro é que são ilusões passageiras, o presente é eternamente real.* Alan Watts* – Século XX

Para compreender com mais profundidade a importância de viver o momento presente recomendo um livro que foi de fato um verdadeiro presente “O poder do agora” de Eckhart Tolle. Posso dizer que foi um dos livros que mais me empolgou nestes últimos anos. Admiro a clareza com


que consegue transmitir sua visão referente ao tema, principalmente quando através de perguntas e respostas consegue responder com extrema lucidez questões extremamente sutis. Embora esta verdade não seja nova, pois vamos encontrá-la em todos os ensinamentos dos grandes mestres, conforme o exemplo que descrevi acima, Eckhart Tolle, consegue lhes dar uma nova abordagem e nos surpreende pela forma simples e inovadora em que ela é explicada. Ele próprio no início do próprio livro declara que não existe nenhuma verdade espiritual nova que possa ser transmitida, que já não esteja em nosso interior. É até enigmático, como este mestre espiritual que na sua juventude era tão ansioso e deprimido e que pensava frequentemente em se suicidar, subitamente teve aos vinte e nove anos uma transformação que o deixou com uma paz,

contentamento e sabedoria que permanecem até hoje. Talvez tenha sido a gotinha que faltava no exemplo do monjolo. Leia atentamente esta parábola que o grande mestre Hakurir gostava de contar para seus discípulos e procure refletir sobre seu profundo significado. “Um homem caminhava por um campo, quando se deparou com um tigre. Acuado, fugiu, mas o tigre o perseguiu até que chegaram a beira de um precipício. Sem saída, o homem se jogou, e agarrando-se a um cipó ficou balançando no vazio. Aterrorizado, o homem olhou para baixo e viu que outro tigre faminto estava esperando ele cair. Enquanto ele pensava em como resolver a situação, dois ratos, um branco e outro preto começaram a roer o cipó. O homem então percebeu que era o fim. Mas de repente, avistou um lindo cacho de morangos. Segurando o cipó com uma única mão, ele alcançou o morango e com a outra colocou na boca e exclamou: -Ah, que doce sabor!” Embora a história é levada ao extremo, este homem com certeza estava de fato vivendo totalmente o momento do aqui agora representado pelo morango. O tigre pode ser o seu futuro, e os ratos a transitoriedade da vida. Quanto a diferença de suas cores, um branco e outro preto, talvez represente simbolicamente a dualidade em que vivemos neste mundo onde tudo tem o seu oposto. Como vimos no decorrer de vários capítulos, percebemos que a vida é apenas um sonho transitório. Dentro desta perspectiva, e confirmado pelos mestres iluminados, as leis aparentemente físicas, são padrões da nossa única mente, que sonha com um universo aparentemente sólido. Desta forma, todas as informações e pesquisas que descobrimos para validar as nossas ideias neste universo de sonho são limitados e incompletos. É claro que a ciência possui a sua relativa importância, mas jamais poderia se tornar a última palavra da verdade. Sua única função é mensurar e estudar as leis que regem o universo, mas como sabemos, acabam sendo alterados com o passar do tempo por novas descobertas. Para sentir a verdade do nosso “Ser” é necessário desfazer esta ilusão de dualidade e se reconectar com a unicidade. Neste estado, você desperta e percebe que jamais em tempo algum se distanciou da fonte. A mais sábia definição desta verdade está no “Um Curso em Milagres” quando diz: “Na eternidade, onde tudo é um, introduziu-se sorrateiramente uma ínfima ideia insana, da qual o filho de Deus se esqueceu de rir. Estás em casa em Deus, sonhando com o exílio, mas perfeitamente capaz de despertar para a realidade”.


No prĂłximo capĂ­tulo vamos sentir o amor incondicional do Ser.

*Buda - Mestre iluminado. *Alan Watts - Um dos mais importantes interpretes do Zen-budismo.

O Amor do Ser



O amor é a mansão dourada na qual o Rei da Eternidade abriga toda a família da criação. E por ordem divina, o amor se torna um fogo místico capaz de derreter a densidade do cosmos, transformando-o na invisível substância do Amor Eterno. Paramahansa Yogananda

Alguns anos

atrás estava fora de forma, sem muito fôlego e não estava conseguindo marcar

nenhum gol, apesar da bola ter batido diversas vezes na trave. Isto sem mencionar os puxões de camisa e as diversas vezes em que fui derrubado, sentindo em minha boca o sabor amargo da grama. Bem, como tudo isso faz parte do jogo, tive que aceitar humildemente esta situação e perdoar os meus adversários. Mas em outras palavras, estava passando por uma grande adversidade. Então para não me envolver no desânimo, resolvi adotar uma cadela vira-lata. Você pode achar a princípio que isto não tem nada a ver com o tema do livro, nem tampouco com o nome deste capítulo, mas vou contar com muita alegria esta história um tanto pessoal, porque tem muito a ver.


Para me sentir mais animado, resolvi adotar uma cadela vira-lata numa feira de adoção de animais, que a cada sábado expunham os bichinhos na área externa de um shopping. Mas para ser sincero, na verdade acho que foi ela que me adotou. A história de como minha cadela entrou na minha vida é realmente surpreendente, e acho que ela merece ser contada. Um dia enquanto estava trabalhando em meu escritório, de repente vejo um cãozinho entrando em minha sala, o que é totalmente incomum na região em que trabalho. Bem, ela ficou toda afoita e começou a brincar com alguns funcionários. A seguir pulou alegremente sobre mim como se me conhecesse. Acariciei sua cabecinha e ela muito carinhosamente retribuiu lambendo minha mão. Resolvi então lhe oferecer alguma coisa para comer. Mas enquanto procurava em minhas gavetas algum comestível, ela simplesmente saiu de fininho pela porta do prédio, do mesmo jeito que ela entrou e desapareceu. Ainda assim saí a sua procura, mas infelizmente não a encontrei. Vocês podem não acreditar, mas passado um mês aproximadamente, fazendo compras num shopping, vejo instalado num canto, uma feira de doação de animais. Curioso, me dirigi ao local e me deparei com dezenas de cães de várias raças e tamanhos, uns latindo, outros dormindo, todos separados por cercas de acordo com o seus tamanhos. Adoro animais e quando era pequeno tive vários deles. Mas quando estava quase indo embora do local, adivinham no que vi? A mesma cachorrinha que tinha entrado em meu escritório. Por incrível que pareça, não sabia se a adotava ou não. Fiquei indeciso e resolvi dar um tempo. Tinha que pensar sobre assumir esta responsabilidade considerando que moro num apartamento. Entretanto com o passar dos dias, a sua imagem não saia da minha mente. Não sei como explicar, mas senti que tinha que ficar com ela, e foi assim que resolvi voltar no próximo sábado na expectativa de encontrá-la. Quando voltei lá, adivinhem o que vi? Ela dentro da cerquinha, olhando para mim e emitindo uns grunhidos. Como me reconhecendo se esticou toda, e apoiada na cerca abraçou meu braço com sua patina, lambeu meu rosto, e era como se ela estivesse me dizendo: --Até que enfim você voltou. Estava esperando por você. Hoje a Tyka, o nome que lhe dei, além de companheira é também minha mestra silenciosa e confesso que estou aprendendo muito com ela. Através do seu jeito meigo e cativante, está sempre ao meu lado e me seguindo para onde eu vou. Quando recebo visitas, ela não perde a oportunidade de agradar as pessoas agitando seu rabo, e adora quando acariciam sua barriga. Não existe ninguém que não se apaixona por ela. Quando digo:--Tyka vamos passear, ela pula de alegria e corre em direção da porta erguendo-se até atingir a maçaneta. Para mim ela representa doçura, paz, serenidade e acima de tudo, sinto o seu amor incondicional. Devo dize r que fico muitas vezes intrigado quando vou passear com ela, e me

questiono:-- Quem está levando quem para passear? Muito me comoveu uma frase que li do escritor Milan Kundera, quando disse: ---Os cães são o nosso elo com o paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina, numa linda tarde, é como voltar ao éden. Dentro desta visão, não poderia esquecer também de Walt Whitman, um dos maiores poetas americanos, quando escreveu um verdadeiro tributo ao reino animal. Em suas sábias palavras, ele retrata como vivem totalmente no presente, sem se lamentar do passado, e sem expectativas quanto ao futuro. “Eu penso que poderia retornar e viver com os animais. Tão plácidos e autocontidos; eu paro e me ponho a observá-los longamente. Eles não exaurem e nem gemem sobre sua condição; eles não se deitam e ficam despertos no escuro chorando pelos seus pecados; eles não me deixam nauseado discutindo o seu dever perante Deus. Nenhum deles é insatisfeito, nenhum fica enlouquecido pela


mania de possuir coisas; nenhum se ajoelha para o outro, nem para os que viveram há milhares de anos; nenhum deles é submisso ou infeliz neste mundo”. Estou contanto toda esta história, para compartilhar este estranho e incomum encontro, e também para perguntar se vocês já perceberam quantos livros e filmes apareceram nestes últimos anos sobre cães, gatos, ratos, castores e outros animais. Qual é a explicação deste estranho fenômeno universal? Tudo me leva a crer, que a razão seja a carência interior em que o homem hoje se encontra, vivendo uma vida artificial e competitiva, onde impera o artificialismo, a mentira, a vaidade, todos filhos e netos do ego. Até os seus vizinhos se tornaram estranhos, e hoje é mais prudente evitar manter maior contato com desconhecidos. Acredito que esta imensa necessidade em ter um cão de estimação é porque o animal consegue transmitir fidelidade, devoção e aceitação. Eles na verdade acabam refletindo como espelhos os nossos valores e virtudes dos quais nos distanciamos. Esquecemos da nossa verdadeira natureza, e eles nos fazem lembrar por instantes de nossa própria pureza e inocência perdida. Não é de se surpreender, que a palavra God (Deus) em inglês, seja dog (cão) de trás para frente, e também não é de se surpreender, quando muito humoristicamente o físico Albert Einstein disse certa vez para um repórter: “Não confio em pessoas que não gostam de cachorros. Mas confio totalmente num cachorro quando ele não gosta de uma pessoa”. Hoje estudos científicos, comprovam a importância de se ter um animal de estimação. A Dra. Karen Allen,Ph.D da universidade de Buffalo, realizou um estudo com um grupo de mulheres idosas que viviam solitárias, mas na companhia de animais de estimação, e comprovou-se que tinham o mesmo dinamismo de mulheres ativas e bem mais jovens. Ter a capacidade de oferecer amor para se sentir humano, é um instinto mais forte do que passar fome ou sentir medo. O amor é a única energia capaz de transmutar o seu pequeno eu, retirando toda esta casca dura que se impregnou ao longo dos tempos, e que encobriu o brilhoso diamante que você é. Ele é a maior magia e também o maior mistério. Dando vazão a minha criatividade, compartilho com vocês um e-mail que encaminhei para minha amiga Beatriz, que insistiu e me convenceu em adotar um bicho de estimação. Trata-se de um texto ficcional de agradecimento pela nossa amizade.

Querida Bê. Acho que posso te chamar de bê, embora não tivemos ainda a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente. O motivo da minha mensagem, é te agradecer por ter convencido o Roby em me adotar. Quando pela primeira vez entrei em seu escritório por mero acaso, procurando por um pouco de atenção e afeto, foi amor a primeira vista quando ele apareceu. Embora ele tenha sido gentil e carinhoso, pensei com meus botões “utilizando uma expressão dos humanos”: Quem sou eu, uma pobre vira-lata, abandonada e judiada para ele ficar comigo. Então saí de fininho sem ele perceber. Por sorte alguns dias depois, fui recolhida por uma instituição de proteção aos animais “Amigos dos bichos”, onde fui tratada, alimentada e vacinada. Um mês mais


tarde fui exposta com outros cães, na parte externa de um shopping, e adivinhem quem me aparece por lá? Sim ele mesmo o Roby em carne e osso. Ele também me reconheceu, alisou a minha cabeça, e depois de alguns minutos para minha decepção desapareceu. Confesso que fiquei muito triste e desanimada. Perdi até a fome. Mas como você

sabe, uma semana depois ele

voltou e me adotou. Acho que era o destino. Querida Bê, nunca tivemos a chance de conversarmos de mulher para mulher, mas posso te dizer que o Roby é um homem adorável, e me trata como uma princesa. Passeamos juntos, brincamos juntos e estou muito feliz. Só me resta agradecer mais uma vez, a paciência que teve em convencê-lo em adotar um animal de estimação. É claro que não fui eu que digitei esta mensagem, mas pedi para que ele reproduzisse no teclado palavra por palavra os meus sinceros sentimentos. Um beijo bem forte de sua sempre amiga. Tyka.

Enquanto não nos libertarmos de pensamentos equivocados sobre nós, então o amor não consegue se manifestar em toda sua grandeza. Jamais ele deve ser uma obrigação. Ele tem que fluir com espontaneidade, como as águas de um rio correndo em direção ao mar, ou como uma imensa nuvem que precisa se derramar em forma de chuva, para se aliviar. O amor do “Ser”, é o amor que você já possui em si. É o amor que você sente por você próprio. Somente quando sente que você é o próprio amor, então poderá amar os outros. Da mesma forma que a lei da gravidade é invisível, o amor possui o poder de atrair e unir todas as coisas. Por ser eterno, ele jamais pode ser perdido ou roubado. Ao contrário ele se expande cada vez mais. O Divino jogo do amor é o principal sentido de nossa existência. Será que pode existir um romance mais sublime e infinito como este? No entanto não tenha pressa, procure diminuir a sua ansiedade e permita que esse amor se manifeste naturalmente. Existe um ensinamento zen que diz que nenhuma semente jamais viu a flor. Da mesma forma que a semente está enraizada na terra, você está enraizado no amor de Deus. Lembrese que a paciência irá te conduzir em direção à verdadeira religiosidade. Todo esforço gerado quando compulsivo é fruto do desejo até mesmo para alcançar Deus. No fundo é uma espécie de sombra do ego. Por isso o mestre Kabir* sempre enfatizou a passividade. Em um dos seus poemas ele diz: “Desde que encontrei o meu Senhor, não há fim para o divertimento do nosso amor. Não fecho os olhos, não fecho os ouvidos, não mortifico meu corpo, vejo com olhos abertos e sorrio vendo a sua beleza em todos os lugares.”

O “Ser” continua brincando com você o tempo todo, enviando sinais para o seu despertar. Nada mais é necessário. Este é o maravilhoso e infinito romance que todos nós sentimos em nosso interior. Ele não é como uma antiga, mas bela canção do poeta Vinícius de Moraes, quando diz que o amor é infinito enquanto dura. Não. O amor do “Ser” é puro, infinito, incondicional e dura para sempre. Não que o poeta estivesse errado. Ao contrário, ele percebeu que o amor do ego não possui condições de perdurar. Mas mesmo que você ainda não tenha se conectado com este verdadeiro amor e ainda não sentiu verdadeiramente este sentimento, não importa. Eu sei que em algum lugar, talvez bem escondido em seu coração, você sente com maior ou menor intensidade que isto é verdade. Mas mesmo assim uma grande e angustiante saudade se apodera de você. A saudade do grande amor que temporariamente se afastou. No entanto, bem em seu íntimo, você sente intuitivamente que em algum momento ele será recuperado. Com certeza este dia chegará e você irá se lembrar


para sua surpresa, que em verdade jamais houve nenhuma separação. Nada foi perdido. Vocês estiveram sempre juntos, lado a lado, segundo por segundo. Como o mestre Muktananda sempre afirmou em seus ensinamentos: “Lembra-se sempre do “Ser” com todo seu coração e o êxtase virá. Nenhuma negatividade pode resistir ao êxtase do amor do “Ser”. Na verdade quando amamos um ser humano, um animal, ou a própria natureza, estamos amando a nós mesmos. E quando sentimos que somos amados, este amor se intensifica e nos aproxima mais perto da nossa essência. Sentimos de maneira sutil que estamos todos interligados. Por esta razão, quando ocorre o contrário, ou seja quando somos rejeitados, isolados ou até agredidos, sentimos uma angustia e um sofrimento, como se estivéssemos revivendo inconscientemente aquele momento em que por uma razão ainda incompreendida nos separamos do todo. Talvez este seja o verdadeiro Big bang, não como os físicos o interpretam, mas sim o instante misterioso em que o “Ser” imaginou como num sonho surrealista ter se separado de si mesmo, fragmentando-se em um trilhão de coisas. Talvez num estado de profunda inspiração, Albert Einstein considerado um dos maiores físicos e humanista do século XX declarou: “Se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor... lembre-se. Se escolher o mundo ficará sem amor, mas se escolher o amor, com ele conquistará o mundo” È por esta razão que sempre o amor irá vencer, e como em todo bom romance, sempre ficamos na expectativa de um final feliz. Queremos um final feliz, porque a felicidade é a nossa verdadeira natureza. Por isso torcemos sempre para que no fim o amor possa se manifestar. É o que sentimos sempre quando lemos um romance ou assistimos um filme de amor. E sem nenhuma dúvida em se tratando de um romance com o infinito, nada poderia impedir a união deste grande e eterno amor. Assim para terminar esta linda e sublime história que em verdade é a nossa própria história, direi apenas que neste “Divino jogo do amor”, após uma aparente separação, eles finalmente se uniram e viveram felizes para sempre. Este é o nosso destino. A união com a totalidade. A unificação com a nossa verdade. O amor que está no “Ser”. Ele é único, imutável, sem começo e sem fim.

E agora prepare-se para uma maravilhosa viagem no país das maravilhas


*Kabir - grande poete e místico. *Albert Einstein – Físico nuclear.Desenvolveu a teoria da relatividade geral, ao lado da mecânica quântica. Considerado um dos pilares da física moderna.


VIVENDO NO PAÍS DAS MARAVILHAS


O homem sabe que Deus é a verdadeira encarnação do amor. Somente pela corda do amor, Deus pode ser amarrado. Mas é somente quando o amor é em prol do amor que a Corda pode ligar Deus ao homem. Somente então vocês se darão conta de que o amor é o mesmo Deus que habita todos os seres. Sai Baba.

Viver no país das maravilhas significa viver com os olhos abertos. Significa acordar dos sonhos e pesadelos que assombravam a nossa vida. Mas o país das maravilhas na verdade é o país que jamais nos distanciamos. Sempre estivemos nele. Ele é maravilhoso sem dúvida, porque nós somos seres maravilhosos. Esta conexão com o nosso “Ser” sagrado nos faz reconhecer a nossa criatividade, a nossa soberania. De repente agora vejo o mundo das formas se transformarem em frágeis maquetes de uma cidade que até então parecia verdadeira, e observo assombrado que tudo era uma cidade de


mentira que começa a desmoronar. Agora percebo que suas paredes eram apenas placas frágeis de madeira e isopor. Uma cidade fantasma. Apenas uma fachada. Abri uma das portas e dentro nada encontrei, apenas o vazio. Tudo era um cenário, muito bem construído, até nos mínimos detalhes. Tudo que eu achava suntuoso e desejável, de repente perdeu o seu fascínio e então descubro que vivia iludido e identificado na matrix, e que tudo era de brincadeira, apenas um gigantesco cenário flutuando na imensidão do espaço. De repente dou uma imensa gargalhada, enquanto vejo surpreso centenas de pessoas, se confraternizando, e aos poucos começo a reconhecer que todos eram atores, figurantes, técnicos e que faziam parte da minha história. Então, um imenso sentimento me arrebata de alegria e lágrimas de felicidade rolam sobre minha face, enquanto vejo maravilhado, todos os participantes se abraçando e festejando o final de mais um filme que encantou a todos nós. Vejo espantado o mocinho se abraçando com o vilão. A prostituta beijando carinhosamente o seu cruel cafetão, e o ciumento assassino sorrindo e cumprimentando seu rival. Cada um de nós teve o seu papel, e todos nós tivemos que interpretar magistralmente o nosso personagem. Agora percebo claramente que no fundo, como um jardim de flores, não existem diferenças. Somos todos iguais em essência, o que nos diferencia é apenas a fragrância de cada um. Dores, sofrimento, risos, mortes, disputas, vaidades, alegrias, ciúmes, ganância, mentiras, tudo fazia parte da história, tudo fazia parte desse infinito romance. Um romance que nunca acaba, porque amanhã mais uma vez, um novo jogo divino de amor terá início. Os atores mudarão seus personagens, novas maquetes serão construídas e um novo filme, começará a ser rodado. Neste novo país das maravilhas, já sabemos que será suntuoso, mais deslumbrante, mais transparente, não existirão mais limites. A felicidade e a alegria estarão estampadas radiosamente em todos os rostos de seus habitantes. Uma nova era terá início. Um novo mundo surgirá e todas as negatividades terão desaparecido do mesmo nada de onde elas vieram. O mundo é como um grande cenário. A energia que chamamos de matéria é apenas a projeção da consciência. Quando percebemos esta verdade, nossa visão se transforma e o mundo, embora seja uma ilusão dos nossos sentidos, ele passa a nos encantar. Vemos beleza, luz e sentimos a alegria de viver e compartilhar todo o nosso amor. É como quando vamos ao cinema para assistir um filme projetado pela luz do projetor. Você se emociona, se encanta com as imagens, se envolve com a história dos personagens e se diverte com as situações cômicas. Mas por estar concentrado no filme, às vezes você esquece que existe um operador bem atrás de você na sala de projeção. Da mesma

forma, quando nos envolvemos neste filme que é a nossa vida, não percebemos a presença real do operador. Ele é o Deus real e invisível, mas sempre presente em todos os lugares e em cada um de nós. Um importante provérbio hindu afirma que toda a filosofia Vedanta (texto dos vedas que trata do conhecimento) pode ser sintetizada através de uma simples frase: “Brahma (o “Ser”) é a única realidade” Brahma e o “Ser” não idênticos. Devido à ignorância imaginamos ser diferente de Brahma e que somos uma entidade independente. Somente a névoa da ilusão nos faz acreditar que Brahma parece não ser Brahma. Maya*, a natureza ilusória do universo é apenas o jogo cósmico de Deus ou Lila. Assim quem se conecta com Brahma se torna Brahma, ou como disse tão sabiamente o iluminado mestre Eckehart: “O olho com que vejo Deus é o mesmo com que Deus me vê”. Devemos procurar treinar a nossa mente, para lembrar que o nosso “Ser” é muito maior de que todas as nossas adversidades. E quando adquirimos esta consciência nos damos conta que nada mais são do que as consequências temporárias de nossa amnésia espiritual. Então chega um instante, onde não podemos deixar de ouvir o chamado amoroso da alma, tão presente e natural e que é que a única voz que pode nos orientar para o caminho que nos levará finalmente de volta para casa.


Enquanto não transcendermos o mundo da dualidade, esta verdade não pode ser vivenciada pelo nosso intelecto limitado e não pode ser descrito, pois está além de qualquer descrição. Somente quando nos conectarmos com o absoluto (o “Ser”) saberemos que nada, absolutamente nada existe separado do “Ser”. Vamos encontrar muitas pessoas que pensam que Deus está longe, e que até tenha se esquecido de nós, enquanto outros acreditam que ele está bem perto de nós. No entanto o que é perto e o que é longe? Imagine por exemplo um lindo pôr do sol. Ele está perto ou longe? Pense na palavra casa, e veja se esta casa está longe ou perto de sua mente. Estes exemplos podem fazer com que possamos perceber de forma mais clara, que não existe distância entre você e um pensamento, e hoje a própria ciência confirma que espaço-tempo não estão separados. Segundo o físico quântico David Bohm*: “ somos todos parte de um imenso holomovimento. A separação é uma ilusão. Somos todos fundamentais e totalmente ligados. O que ocorre no espaço-tempo é determinado pelo que acontece em uma realidade não-local além do espaço-tempo”. Uma das mais importantes descobertas da física quântica é a propriedade que foi chamada de não-localidade. Assim quando duas partículas interagem, elas continuam a transferir informação mútua e instantânea, mesmo que estejam separadas por milhões de anos-luz. Isto fez com que os físicos chegassem a conclusão que a não-realidade ou não separação é uma dinâmica universal. O mais surpreendente é que tanto a Cabala como os antigos ensinamentos Védicos, nos dizem que o núcleo de nossa consciência é o centro de todo espaço e de todo o tempo. Ele se encontra ao mesmo tempo em todos os lugares e em lugar nenhum. Também vamos encontrar esta mesma similaridade, através do mestre Swami Shankara (século IX) que já afirmava inspirado na filosofia Vedanta, que a visão que você está separado de mim é somente um artifício de percepção. Aqui estão as suas palavras: “Na verdade, você não esta aí, você está em mim e eu estou em você, e o lugar em que você está em mim eu estou em você é o mesmo lugar, e também não é um lugar, porque não possui localização no espaço-tempo. Assim eu projeto você e você me projeta e juntos criamos todo o Universo”.

Quando interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Deus, Jesus respondeu-lhes: “O reino de Deus não vem de modo a ser observado. Não se poderá dizer – Ei-lo aqui! ou Lá está! Porque o Reino de Deus está dentro de vós”. Só existe um lugar sagrado. Só existe um lugar de paz e plenitude, só existe um lugar onde reina o amor. E tudo isto só pode ser encontrado na terra das maravilhas "Você, eu e todos nós vivemos e interagimos nesta terra mágica, onde todos os nossos sonhos podem se realizar. E a exemplo do mágico e maravilhoso filme de Terry Gilliam "As aventuras do Barão Munchausen", sua vida não tinha limites. Ele dançava, ele voava, envelhecia quando ficava triste, mas rejuvenescia sempre quando se sentia feliz e apaixonado. Era corajoso, destemido, confiante e nada o impedia de realizar todos os seus sonhos, tornando sua vida simplesmente um deslumbrante e divino jogo de amor.


O nosso romance com o infinito não termina aqui porque o amor não tem fim. Om Shanti*

*Citação do livro - “Evolução Elegante” de David Lapierre e Peggy Dubro. * Fariseus - Grupo religioso que interpretavam de forma ortodoxa as escrituras. *Maya - Mundo da ilusão. *Om Shanti - Eu sou um ser cheio de paz.

AFIRMAÇÕES CONTIDAS NESTE LIVRO •

Assim todo sofrimento neste mundo, ocorre devido a ilusão que sentimos, quando nos esquecemos da nossa realeza e pensamos que somos pobres seres, abandonados neste pequeno planeta azul.

Quando a mente estiver vazia, tranquila e silenciosa, temos condições de aflorar o nosso “Ser”

Você pode estar cercado por dezenas de maçãs. Mas você estará perdendo tempo ou oportunidade, que teriam lhe dado o sabor da verdade, se você tivesse ao menos dado uma pequena mordida em uma delas.

Somos constantemente dominados pelo ego (falso eu), sentimos incontáveis desejos devido a sensação de carência, nutrimos expectativas e temores e somos o tempo todo arrastados como um vendaval ao passado ou ao futuro, deixando de viver o momento presente.


O próprio universo é um sonho. Um jogo fascinante de imagens continuamente projetados nesta gigantesca tela que é o universo; e nos questionamos: Estamos no universo ou o universo está em nós?

Amar o nosso próprio “Ser”, é o nosso maior e eterno romance. E quando você estiver conectado com este amor, sentirá este mesmo amor também no outro, e também no mundo exterior. Esta é a verdadeira liberdade.

Ser consciente de sua própria consciência significa que encontramos onde ela pode estar. E só pode estar apenas num único lugar. "Em nosso interior".

Somente através do silêncio da mente, quando desligamos o botão e eliminamos o congestionamento dos pensamentos, podemos trafegar tranquilamente em direção a nossa essência.

A verdade é que o nosso “Ser”, não precisa ser criado. Nós somos o “Ser”. Ele está lá presente para ser reconhecido. Tudo que existe está vivo. É a pura consciência de um eterno jogo que pretende se ver a si mesmo, como o oceano que quer se reconhecer em cada gota d'água.

A vida é uma grande aventura e o silêncio é o seu ápice. Entrar no desconhecido, no mistério, é permitir se entregar para a existência. Nesta entrega o amor floresce, o ego deixa de existir e as portas da verdade conseguem se abrir. É somente no silêncio que Deus se faz presente.

Assim independentemente dos vários papeis que interpretamos sejam eles quais forem, existe um eu que permanece sempre igual e que não se deixa afetar por nada.

O amor é a única energia capaz de transmutar o seu pequeno eu, retirando toda esta casca dura que se impregnou ao longo dos tempos e que encobriu o diamante brilhoso que você é. Ele é a maior magia e também o maior mistério.

A floresta é como o caminho escuro da nossa vida, e a lanterna é o pequeno nome de Deus que é suficiente para passarmos com segurança pela floresta da vida, dando um passo de cada vez.

O acúmulo de conhecimento não basta. Na maioria das vezes precisamos sentir o gosto amargo do limão e o doce sabor do açúcar, para depois misturando ambos num copo d´água possamos experimentar uma refrescante limonada.

O amor do “Ser”, é o amor que você já possui em si. É o amor que você sente por você próprio. Somente quando você se ama sentindo que você é o próprio amor, então poderá amar os outros. •

Só existe um lugar sagrado. Só existe um lugar de paz e plenitude, só existe um lugar, onde reina o amor. E tudo isto, só pode ser encontrado na Terra das maravilhas “Você, eu, e todos nós vivemos e interagimos nesta terra mágica, onde todos os nossos sonhos podem se realizar

O Reconhecimento de que realmente somos o “Ser” desperta em nós que nunca houve um eu separado, que vive uma vida independente. Como você pode não amar outra pessoa se essa pessoa é você. É o próprio amor que experimenta através de cada um de nós, sua eterna e absoluta paixão.


Somos seres atemporais e só existe o amor. Não existe outra coisa. Ele pode sofrer distorções pelas miragens da mente, mas jamais pode ser extinto. Ele não possui forma, nem cor, nem sabor, nem aroma, nem substância. Ele é um sentimento de unicidade. Somos todos um; não existe nenhuma separação; não existe eu, e nem o outro. São apenas sonhos criados por maya.

INDICAÇÕES DE LIVROS E FILMES LIVROS

EDITORAS

Ao encontro de Deus

Richard Carlson/ Benjamin Shield Editora Sextante

O dom da mudança

Marianne Williamson Editora prumo

Em contato com a natureza

Entrevista com Eckhart Tolle incluindo dois DVDs Editora Sextante

A eterna busca do ser

Paramahansa Yogananda Editora Self-Realization Fellowship

O divino jogo do ser

Roberto Saul Editora Alaúde


Caminho para Deus

Ram Dass Editora Nova era

O despertar de uma nova consciência

Eckhart Tolle Editora Sextante

Coleção aventura

Simone Saul Editora Açãoset serviços editoriais e comunicações

Felicidade

Matthieu Ricard Editora Palas Athena

O despertar da energia kundalini

Wyliah Editora Mistic space

A fonte da felicidade

Deepak Chopra Editora Best Seller

Projeto matrix

Rasul Editora Abrather

Yoga caminho para Deus

Hermógenes Editora Nova era

Fragmentos de um ensinamento desconhecido

P.D.ouspensky Editora Pensamento

FILMES

DIRETORES

O poder além da vida

Victor Salva

A roda da fortuna

Joel Coen

Vidas em jogo

David Fincher

Minha vida além da vida

Marcus Cole

Matrix

Irmãos Wachowski

O tempero da vida

Tassos Boulmetis

Zorba, o grego

Michael Cacoyannis

Conversando com Deus

Stephen Simon

Quem somos nós?

Mark Vicente/Besty Chasse/William Arnits


O pequeno príncipe

Stanley Donen

Bem-Hur

William Wyler

Rosa da Esperança

Sidney Franklin

Irmão sol, irmã lua

Franco Zeffirelli

Chico Xavier

Daniel Filho

Origens Vida fora da terra

Julia Cort e Larry Klein

As aventuras do Barão de Munchausen

Terry Gilliam

O homem de Alcatraz

John Frankenheimer

Cidadão Kane

Orson Welles

A vida no Paraíso

Kay Pollak

O Náufrago

Robert Zemechis

Contato com o autor: robbysaul@gmail.com




O Divino jogo do amor é o segundo livro de uma trilogia. Meditar sobre seus ensinamentos, é um convite para abrir seu coração, e refletir em cada momento de nossa vida, como uma maravilhosa jornada em busca de nossa verdadeira essência. Um livro verdadeiramente transformador. Não precisamos alterar nada, apenas adquirir consciência, e reconhecer aquilo que já é nosso. Como fazer a transição entre o ego e o “Ser”. O segredo está nestas páginas iluminadoras. Segundo Marcos Adriano, terapeuta e facilitador de “Um curso em Milagres”, muitos livros tem sido publicados, mas as obras de Roberto Saul tem deixado várias indicações, de como podemos voltar para casa. De como podemos começar a escolher o Amor ao invés do medo. Que o conteúdo desse “Romance com o Infinito” possa nos afastar das ilusões,e olharmos para o que é Real. Publicitário, designer gráfico, e cineasta. Em sua busca interior, aprofundou-se nos ensinamentos dos inúmeros pesquisadores da psicologia transpessoal, da física quântica e dos grandes mestres da filosofia oriental. Hoje se dedica em transmitir através de seus Livros uma nova visão para o despertar da consciência. Nascido no Cairo/Egito, possui nacionalidade francesa, mas reside no Brasil desde os 11 anos de idade.


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