Pretextos rob pimentel

Page 1

PRE

TE

TOS

2

ROBERTO PIMENTEL


Postado no Facebook do dia 09.01.2017 À vista de alguns textos que temos publicado aqui com esse jeito meio inadequado de poesia, e já que tenho sido premiado com a atenção simpática e nunca crítica de tanto(a)s amigo(a)s, acho que lhes devo esta explicação - não me considero poeta,

Roberto Pimentel

Desconheço toda a técnica e regras de poesia, como tantos amigos mais íntimos meus diferentes disso, verdadeiros poetas como Evandro Moreira, Ney Santos Vianna, e tantos outros menos próximos que tenho lido e convivido pelos lugares por onde passei.

Isso de eu escrever começou no final da década de 50, com os sonhos e projetos de um grupo jovem da Faculdade de Direito, que como todo grupo jovem pensa em transformar o mundo - apenas com alguns escritos. Daí isso vira mania ou doença, e a gente segue infectado com isso pela vida. Mas, acreditem, não me considero poeta. Vai aí, a essência do único livro que publiquei em toda a minha longa vida "Pretexto"/1976 - por estímulo desavisado dos amigos Ney e Evandro.


Roberto Pimentel é um pescador de sirís,

que fisga poesias. um músico que toca poesias,

um boêmio do

Bar do Henrique que bebe poesias,

um exímio jogador de sinuca virtual das madrugadas, que dorme na cadeira, poetando.

Roberto Pimentel já foi um estudante que escrevia poesias, um ator juvenil inconformista, que poetava por aí

,Roberto já foi um incendiário de hotéis, enquanto escrevia poesias, (Quase incendiou o Hotel Itabira em noite de insônia)

Foi um funcionario da Carteira de Cobranças do Banco do Brasil, que contabilizava poesias , um advogado que poetava vendo o cais, um agente de imóveis que sonhava com poemas, um colecionador de bric-braques que tem um dicionario de rimas........... um atleta da bola de pau que poetava fazendo blagues e molecagens geniais.

Tem jeito não, menino Roberto, voce é um eterno poeta.

Gilson Leão


"

nĂŁo escrevo para mudar a vida, melhorar o mundo

ou salvar minha alma

vale mais um papel coberto de palavras do que um papel em branco ?

Eis minha desculpa para escrever.�

Dalton Trevisan

"


Não, não sou poeta. nos meus versos simples de anti-esteta divido o ideal descuido a forma. Em poesia, não aceito norma e, tampouco, pretendo o pouco de só cobrir com palavras o papel.

ROBERTO PIMENTEL

Poesia, para mim, é um meio. não sei da arte apenas como fim. Eu escrevo versos, sim, para mudar a vida melhorar o mundo e, enfim, assegurar o meu lugar .no céu


MARIA FAVELA

_______________ Maria Favela nasceu num barraco sofrida, sentida enjeitada, a coitada o pai na cadeia a mãe na calçada e quase que um dia a pobre Maria morreu de abandono O tempo passou Maria cresceu e a vida nos deu a outra Maria Maria Favela é gosto do mundo é bela é matreira é triste é alegre é terna é irada é tudo é nada e faz num segundo as mil caras do mundo A nova Maria fez tanta amizade que toda a cidade já foi ao seu quarto .deitar-se com ela maio/62


PÃO A CINCO ____________

Sentadas à mesa as cinco tristezas de ver sobre a mesa apenas um pão um pão sobre a mesa e cinco tristezas o pai e a mãe tristezas maiores e mais os três filhos menores e tristes sobrados dos mortos talvez alegria de não ver à mesa as cinco tristezas e um pão.

junho/62


Roberto e Marília, a eterna musa, sua verdadeira razão de ser poeta, Afinal todo poeta tem de ter uma diva paciente, solidária e também meio - poetisa Poetisa da paciência, para tolerar as horas tardias, a retórica inflamada, o Bar do Henrique, e principalmente a coleção de carrancas nordestinas plantadas na sala, impedindo o livre trajeto das 300 estátuas de São Francisco de Assis.

Viviane Pimentel

· de setembro de 2015 · Editado 13 Um dia, esses dois resolveram construir uma vida em comum.... e lá se vão 50 anos de história. Por eles, somos quem somos. Por exemplo deles, aprendemos que a felicidade é um direito e para encontrá-la precisamos garimpar todos os momentos possíveis, entre erros, e mágoas, e brigas, e equívocos, e perdas. Se juntos temos nossas dores comuns, temos também em comum muitos momentos de uma felicidade construída no amor que vocês sacramentaram há 50 anos atrás. Admiro vocês, pai e mãe, ser fruto desta união é minha dádiva. — com Roberto Pimentel e Marilia Lima .Pimentel


junho/62

)uma vista simples sobre o êxodo rural( ?

Adianta, seu moço?

ço o r ca erra o r da t a a t n rr pla undo a te sol f o o o no vand do n uvisc ca man ch ente g m ei qu ver u a pra erra s v ? sem e cho e da rada 1 qu o top la est a! 12 n ue d q ta na a n an i Ad

ficar plan sem alm tan o cati do a te ço que vo à te rra i sem mando rra que ver um no sol acen vive nt e no t ope pra gen e naq te da s u e e r l r Adi anta a estrad a , seu a? moç o?

vou por pé na estrada do tope da serra e vou caminhando descendo acenando pra todo vivente cativo à terra queimando no sol que ainda acredite que em terra sem chuva plantar o caroço é vida de gente ?


MINHA SOLIDÃO A minha solidão, às vezes senta à mesa de um bar um copo na mão na outra, um cigarro e se põe a pensar o que seria de mim se não ficasse assim tão comigo mesmo com minha solidão

A minha solidão, às vezes se esquece de mim em meio à multidão perco-me então pois meu melhor amigo sou eu comigo mesmo junto à minha solidão A minha solidão, às vezes me toca no ombro e me conta segredos e me lembra enredos das bobagens que fiz mas é só ela mesma que me dá amparo que me dá coragem que me tem a cura para cada loucura


A minha solidão, às vezes me dá conselhos ou me aprova ou me recrimina e em momentos adversos resolve meus problemas e em seus melhores dias até sugere uns versos ou temas para minhas poesias

sem minha solidão eu me sinto sozinho longe de meu ninho sem refugio sem caminho sou desertor de mim A minha solidão é algo assim como meu único bem sem ela, não me entendo nem a mim mesmo tenho não me detenho não me explico não me desculpo sem minha solidão eu sou ninguém.


MEU AMIGO POMBO

Só porque toda poesia, grande ou pequena, importante ou sem importância, brilhante ou mediocre, se assenta sempre na poesia de fatos reais, grandes ou pequenos, importantes ou sem importância, brilhantes ou medíocres, da essência poética da realidade. Então, cuidemos de alimentar de poesia nossos corações.

Sua plumagem era de um branco muito alvo, quase cintilante - logo o associei à imagem do Espírito Santo. Ele e sua companheira, meses atrás haviam construído seu ninho numa caixa de ar condicionado exposta ao sol no prédio vizinho, então vinham para colóquios amorosos na sombra de minha jardineira, ao lado. Isto durou meses, até que fossem fechadas com tela as caixas de seu ninho - e aí retornaram algumas vezes, para sumirem de vez. Faz dias o meu amigo reapareceu sozinho, e fica vagando entre a caixa de seu ninho e minha jardineira, como se tentasse reviver as memórias de um passado feliz. Sabe-se lá o que aconteceu com sua companheira; pombos vivem mariscando entre pessoas e carros de todos os tipos. E eu só os acolhi de volta em minha jardineira, meu amigo pombo e sua triste solidão - o que poderia fazer por ele alem disso ?


DILSON SARMENTO Pouco tempo atrás foi Dalton, hoje recebo outra .triste noticia - Dílson Não sei se da maneira certa, mas um lamento com .jeito de até breve, amigos

Esta morte prepotente foi levando minha gente meus mitos, tios e primos amigos, os pais e o irmão eu, velho, não resistia cada vez que um se ia mais no peito me doía cada vez mais solidão todo o tempo, cada dia Esta besta foice fera foi ceifando essas raízes foi matando nossa gente apagando nossa história nos fazendo infelizes o sabor de sua glória e seu comparsa, o tempo me foi tornando em raiz prontinha pra ser levada no ponto de ser ceifada eu, solidão, aprendia a vida não vale nada só quero morrer feliz recebendo esta danada numa puta gargalhada pra humilhar a megera e me vingar desta fera fazer da hora funesta um dia de muita sorte um dia de muita gente .um dia de muita festa


PRAIA DA JUREMA-VITÓRIA-ES - BRASIL

A orla da Praia do Canto vista da Curva da Jurema é uma extensão de praias que se sucedem, uma ilha de ricas mansões , uma bela ponte recurva, lanchas e velas de barcos. céu e mar azul, um sol tropical caliente, brisa languida, palmeiras, castanheiras, alva areia fina e grama baixa com toca de coruja, ninhos de quero-quero, bandos de pombos mariscando e uma certa variedade de passarinhos, esporádicas tartarugas que perderam o rumo e acabam acabando ali mesmo na enseada, uns caras insistentes lançando e recolhendo linha de um mar de peixes precavidos, uma pequena extensão do horizonte na direção do mar alto; à tardinha, quase sem gente na Curva, um céu avermelhado faz tela de fundo no contorno dos edifícios que se estendem pelas avenidas vizinhas e o mar à tona fica pintado de um nostálgico cinza/chumbo, até que a brisa vire vento nordeste e manda a gente pra casa, mas com a alma pacificada. É o meu lugar feliz; como o Face bem o descobriu. Mas, podes crer, tem muita gente que só vai na Curva da Jurema para encher a cara nos quiosques. Pode ? rs



Boas lembranças do Geogle - nos anos 70, a AABB/Cachoeiro tinha expressiva atividade social e desportiva; no esporte, futebol em vários dias da semana, "peladas", torneios internos, partidas com outras equipes de Cachoeiro e cidades vizinhas. Assim como também em bocha (bola de pau), idêntica movimentação : na foto, uma das equipes da AABB durante um desses torneios, composta de: Rody, Fortunato, Coelhaço (técnico) em pé; à frente: "Seu" JoséTurbay, Mirinho e este seu amigo, Pimentel, que, aliás, foi o campeão do 1o. Torneio na inauguração da cancha de bocha (este texto final poderá ser objeto de contestações por atletas derrotados em dito certame. rs)

Time campeão na cancha de bola de pau da AABB- Cachoeiro. Não ganhava ninguém no jogo, mas era imbatível na cervejada de depois: Rody, no goró, Fortunato, nas piadas impróprias, Coelhaço nas versões musicais e demais gracinhas..........., Zé Turbay no quibe e cabrito roubado, Mirim nas Contações de Vantagens, Pimentel no torresmo de barro e demais inconveniências.


R

S O D ,

A N I P A

S A D SE

O R A S PAS

Para falar muito de gente que não presta, gente tipo ave de rapina. e um pouquinho só de tanta gente boa, as presas da rapina.

Há bom espaço nesta vida para os canalhas, para os abutres, para corvos, para gralhas, para seres ardilosos, ladrões, obscuros para saques e rapinas, becos e esquinas, teias, armadilhas, golpes de máquinas de tomar carnes e dinheiro Há florestas e cidades, há seres na espreita há curvas, logradouros sem saída forquilhas, armadilhas, trilhas no escuro da noite na floresta, há olhos grandes, imensos, infensos, a qualquer critério e prontos para a festa

Há sempre uma trama no ar há um mistério um vôo no silêncio da noite para alguém ou algo a tomar Há sempre alguma coisa escondida que não se diz e anda com a vida como andam os olhares sorrateiros ao vil metal, ao rubro sangue toda espécie de carne ou de dinheiro que possa alimentar a fome dos rapineiros

Há trejeitos e jeitos danças, artifícios, lambanças antes e depois da conquista Mas pode haver amor, boas lembranças e há também sempre uma lista de outras gentes ou outros pássaros cujo esforço nem se concretizara nesta louca e tremenda farra Há esses pássaros e gentes assim como gentes e pássaros consumidos no desamor, descrença, ideais perdidos esvaindo-se na dança desta festa pois todo espaço é sempre dos canalhas como corvos, como abutres, como gralhas seres ardilosos, ladrões, obscuros saques e rapinas, becos e esquinas, teias, armadilhas, golpes de máquinas

Há olhos, e bicos, e garras na floresta como nas cidades ao som de elétricas fanfarras de olhares de oferta, na festa onde há cocaína, álcool, heroína, fantasias de pênis e vaginas bruta carnificina neste luxo, malícia, jogo de mentiras, promessas, peças como asas abertas, coloridas, de roupagem atraente como fazem alguns pássaros ou algumas gentes como nem imaginas



CANÁRIOS-DA-TERRA

Atualmente não é raro encontra-los mesmo nas cidades; no meio rural, agora aparecem aos bandos, mariscam nos terreiros, e nem se intimidam com a presença humana. Canários-da-terra são pássaros de plumagem colorida, seu canto é muito bonito, qualidades concentradas nos machos, como ocorre na maioria do reino animal. E foram essas características que concorreram para sua quase extinção – voltando poucas décadas no tempo, só os víamos aprisionados em gaiolas, seus carcereiros expondo-os como troféus. Se os temos agora livres e salvos, embelezando nosso mundo natural, agradeçamos à legislação que os protegeu e a intensa fiscalização do IBAMA - livres, como Deus os fez.


VIDA QUE VIDA só a realidade sem fantasias mais dias menos ilusões menos projetos mais distante a possibilidade reinante de construções é a realidade ruindo sonhos adversidades a nossa ilusão construindo sonhos contra verdades de dar dó e é só sonhadores como senhores da fantasia mas a realidade a monotonia o nada do dia a dia nos consome como servos subjugados condenados destinados à nossa fome insaciável insaciada de sonhos. dez/2016


AS DUAS VIDAS DE DONANA sob o trepidar tênue da lamparina no transpor da tardinha para a noite Donana, olhar vazio e seco, da janela já esgotadas todas as lagrimas da dor nem mais chora, já que agora as gigantescas ondas do mar alto traiçoeiras artífices dos destinos naufragaram os tempos felizes restando só destroços à tona e o pórtico sombrio da janela separa as duas vidas dela para dentro, as lembranças do amor venturoso a mesa farta de pescado uma prece curta em gratidão as canções do radinho de pilha a foto desbotada da jangada que conduzia a ela e a Genaro aos pontos ermos da ilha nos domingos ardentes de paixão e as historias de bravura na volta ilesa do mar bravio uma espécie de pavio que detonava a felicidade naquelas noites de luar céu estrelado fogueira na praia as caricias, os gemidos e aquela brisa boa de enxugar o suor dos corpos exauridos para fora, o naufrago olhar sem os passos de Genaro sem a volta à tardinha sem passeios na ilha sem domingos de paixão sem historias de bravura sem céu estrelado sem fogueira na praia sem levantar a saia sem suor e sem brisa e Donana, sózinha, da janela só vê agora as duas vidas dela uma de dentro, outra de fora.

junho/2011



ECOLOGIA

Acabei de encontrar, no piso concreto de uma calçada,

nesta gélida manhã de uma quinta-feira deste novembro, um pequeno, mas muito bem construído ninho de passarinhos, nele um único ovinho cinza com pintas negras. Deve ter caído dos galhos de uma mangueira, possivelmente desgarrado de suas bases pelos ventos ou chuvas desses últimos dias, ou até (quem sabe?) são os restos da ação de algum de seus predadores naturais. Pelo pouco que sei, alguns passarinhos fazem ninhos até

complexos, em

meio a condições

extremas, instinto de seus desastres.

mas não tem o recuperarem as sobras de Solidário ao drama do

casal de desconhecidos passarinhos que perdeu sua eventual prole, e que só daqui a muitos meses poderá repetir todos seus esforços para perpetuação da espécie em nova temporada, cometo este registro um tanto insólito, mas parte boa de meu coração ecológico.


CRISANTEMO DE OLIVEIRA E, no entanto, mataram Crisantemo de Oliveira caboclo bom, cearense, nascido perto do Crato lutou anos contra a seca contra a fome contra a morte contra toda a natureza contra o egoísmo dos homens contra a sua triste sorte viveu de lutar na vida, Crisantemo de Oliveira, e, no entanto, o mataram Finalmente, já cansado de sua terra inútil de sua luta inútil deu de beber, Crisantemo Sorvia um trago e

mais outro

depois um

mais, num repente,

o peito ardido

em revolta

gritava pra toda a

gente

que se achava a sua volta que lhe atirasse no peito o que fosse mais valente Aconteceu que um dia um cabra da confraria que em sua mesa bebia não perdoou a ousadia e pra mostrar valentia atirou em Crisantemo Já vivia morto em vida perdedor de sua luta e, no entanto, mataram Crisantemo de Oliveira janeiro/68


TROVINHA MEIO/PIA/MEIO/ IMPIA

Bem pertinho dos oitenta morrerei, não estou triste Eu pretendo ir para o céu mas será que o céu existe?


O MEU NOME É TUBARÃO

fui feto feito no charco de minha mãe-tubarão acabou a placenta, nojenta almocei meu irmão nasci com esta aptidão degustei borrachas , vidros,, metais, muitos braços e pernas de surfista como também

duas moças e um rapaz afogados na Praia da Boa Vista

meu nome é apenas tubarão

e uma coleção inteira da revista

só queria viver em paz

“Caras”

e comendo, e comendo

aquela mesmo de muitas caras

e comendo, e comendo

com cara de sacanagem

sem estar sendo insultado

e carros, e peles, e jóias, e mansões

por isso, no verão,

só coisas muito caras

quando você estiver no mar

paraíso vip das ostentações

seria bom o amigo se lembrar que eventualmente pode se tornar o meu lanchinho o meu almoço o meu jantar

engoli um ciclista e sua bicicleta um cachorro, dois gatos e um atleta um fusca velho, um vagão de minério e uns três metros de meio-fio de uma ponte que desabou e os lançou num caudaloso rio que, por sua vez, desembocou no mar justamente na hora do meu jantar me puseram uma fama

numa linda noite de lua cheia depende só do quanto você pesar por fim,, tome cuidado preste bem atenção: o meu nome é apenas tubarão zangado em qualquer versão faminto em qualquer região e voce, ó meu, pode anotar se bobear: vai ser minha próxima refeição. novembro/2009


COMO SE FOSSE assim como se fosse o sol na noite ou como se fosse assim luar ao dia ou como se fosse um afago o açoite e como se assim fosse dor a alegria só é assim como se fosse sol ao dia só como se fosse assim luar à noite só como se fosse afago uma alegria só como se assim fosse dor o açoite cedo ou tarde tarde ou cedo verdade vira mentira mentira vira verdade só assim como se fosse sol ao dia assim como se fosse o sol na noite só como se fosse assim luar à noite ou como se fosse assim luar ao dia ou como se fosse um afago o açoite só como se fosse afago uma alegria só como se assim fosse dor o açoite e como se assim fosse dor a alegria pois tarde ou cedo cedo ou tarde mentira vira verdade verdade vira mentira e restam as versões. julho/2012


MEU ROUXINOL para Mariella meu rouxinal de tantas cores de um canto lindo alegre, saltitante ninguém quer aprisionar você você é livre para seus vôos você é livre para seus risos você é livre para seu canto você é livre para suas cores e até para suas dores você é livre mas, pelo amor de Deus, meu rouxinol, se afaste dessa janela do lado de cá dessa janela há uma vida inteira para você viver há tanto amor por você há tanta vida para você tudo do lado de cá se afaste dessa janela, pelo amor de Deus do lado de lá dessa janela há um vazio muito grande uma tristeza muito grande sem seu riso sem sua alegria sem seu canto sem te ver saltitante não há nada lá, meu rouxinol nem para voce nem para quem o ama pelo amor aos seus pelo amor à vida pelo amor a si próprio pelo amor de Deus se afaste dessa janela, meu rouxinol março / 2012



Se eu partir

ADMITA

não se esqueça de fazer uma promessa e pedir a Deus por mim

Eu nem sei aonde vou mas já sei que é tão distante... Talvez um ponto no mapa cheio de fogo e de guerra e eu nunca fui guerreiro talvez um canto do mundo cheio de flores e amor e eu nunca fui amante

Para falar a verdade nem sei onde estou agora fui vencido, desarmado Eu nem sei aonde vou mas já sei que é tão distante... Se eu voltar não se esqueça de cumprir sua promessa e pagar a Deus agosto/69

por mim.


OLHAR DE MULHER Este olhar de mulher parece isca fincada na pontinha de um anzol uma oferta que petisca aos olhos uma recusa que belisca os nervos um fogo capaz de derreter a lua um gelo capaz de congelar o sol se bem não haja tanta força sua pois tudo é natural em seu olhar olhar, descaradamente inocente olhar, inocentemente descarado trama sem culpa e ar de fingido crime doloso com réu absolvido impossível descrever tanto mistério que voleia entre mentira e verdade uma mistura de pecado e castidade se repousa no umbral da santidade e conduz à devassidão do adultério não há quem afirme que assim seja se apenas olha ou se mesmo deseja se ao mesmo tempo oferece e nega a um só momento ele larga e pega olhar de uma mulher é mesmo isto como petisco envenenado em mel caminho certo para inferno ou céu a duvida entre a oração e o feitiço impossível desvendar o seu recado será sua dona cortesã será menina - obra de arte criada pelo diabo num momento de inspiração divina


POIS É ________ Pois é os sonhos se foram e resta muito pouco ou nada mais do que a realidade desta nova idade de estar velho resta a nostalgia da criança que fui do adolescente que fui todos os sonhos à frente todas as idades à frente e os anos dessas idades se foram resta a lembrança das meninas do colégio (tinha uma mais bonita) dos banhos de rio, na chuva tiritando de frio, e gripe da bola de meia, na rua das festas de povo na rua das paradas escolares das bolinhas de gude dos carrinhos de rolimã dos balões em junho de uma e outra briga das quedas, das topadas da turminha de amigos amigos para sempre e tantos já se foram resta a recordação da primeira poesia da primeira viagem do primeiro chope do primeiro cigarro da primeira madrugada da primeira namorada do primeiro beijo do primeiro abandono da primeira saudade Pois é vim gastando pela vida todos os meus primeiros e todos os meus últimos os sonhos que se foram e, pois, resta-me agora a realidade sem sonhos da idade de estar velho. dezembro/2008


AH! ESSA ESTRADA ___________________________

A mesma estrada que dali chega é a mesma estrada que daqui segue que vem do nada vai para o nada não tem começo e não tem fim ah! essa estrada ela é assim um dia boa outros ruim alarga lá estreita cá no mais das vezes, é solidão ou festa e fogos e multidão dia de chuva, é lama pura

ah! essa estrada de sinais duvidosos de placas ilegíveis de lombadas invisíveis de animais inesperados de pontes avariadas de precipícios de desastres de sangue o sangue de nós todos que também só vemos acidentalmente por um momento na hora exata de perder o que temos tudo e só o que temos um começo que não sabemos um fim que não sabemos nas armadilhas nas brincadeiras

ah! essa estrada do mesmo modo que ela vem é o mesmo modo que ela vai nela escorrego de tanto limo nela tropeço de tanta pedra nela me perco de tanta curva nela me canso de tanta reta nela me envolvo de água do rio nela me envolvo de céu azul nela me envolvo de mata verde nela me envolvo de boi na cerca nela me amasso de boi na pista ah! essa estrada

nos jogos ao longo dessa estrada ah! essa estrada.

Outubro/2005


SÃO FRANCISCO DE ASSIS Dia 04 de outubro é dia de se comemorar um dos mais populares santos da Igreja Católica. Os registros de sua passagem terrena datam do século XII, em uma das colônias feudais chamada Assis em que se dividia a Itália na época. Filho de comerciante rico, viveu como os jovens de seu status, participou de cruzadas armadas em favor do catolicismo, foi preso numa dessas batalhas, e no cárcere se deu seu encontro com os ideais que transformariam sua própria vida e os rumos da Igreja Católica. De volta à casa, despiu-se da materialidade de seus hábitos, vivendo e pregando o exemplo de uma vida cristã assemelhada à vida de Jesus. Incompreendido pela Igreja de então, amealhou seguidores, fundou a ordem dos franciscanos, que construía igrejas sem fausto, que acolhia doentes desamparados, que protegia a vida animal e a natureza, precursor do melhor que ainda hoje professa boa parte dos católicos. São Francisco de Assis, santa missão gloriosa.



Aos cinquenta anos de idade, a gente se sentia assim - imagine-se hoje, vinte e oito anos depois.

CINQUENTA DE IDADE

meu mano, desculpe se traço essas linhas com tanto amargor mas soube outro dia que andam dizendo em nossa cidade que estou gemendo que estou sofrendo que estou morrendo ao peso dos anos cinqüenta de idade então, por favor você diga ao povo de nossa cidade da rua do centro do morro da palha de perto da praça da zona do porto que até achei graça em tamanha chalaça ora, porra, meu mano eu sou um aborto que já nasceu morto e morto bem morto e ainda estou morto e já conto de morto cinqüenta de idade. janeiro/88


E aí me chegam essas gentes, miúdas, tanto chão para plantar, tantos frutos para colher, e eles chegam, á custa de mentiras, invenções de suas mentes ambiciosas, revoltadas e ignorantes, que nada sabem plantar além da semente da inveja, de colheitas sem esforço, mas com uma ambição incontida e sem limites para se beneficiar da colheita do que não plantaram, especialistas em violência para destruir a plantação dos outros, uma gente que nunca entendeu de plantio, porque nunca plantou, e vive na entressafra dos propósitos . PLANTIO ____________ o meu gosto é plantar flores nos jardins de um coração pra sentir na primavera na abertura da estação como afago de ternura como prova de amizade como fonte de ventura como choro de saudade como jeito de meiguice como perfume de rosa como birra de pieguice como relaxo de prosa como sinal de afeição como toque de calor como rubro de paixão como beijo de amor no estéril chão da dor tentei plantar uma flor que trabalho que me deu! foram dias, meses, anos cuidados e desenganos e a plantinha morreu no árido chão do ódio tentei plantar uma flor que trabalho que me deu! foram mãos, suor e sangue os sonhos, o corpo exangue e a plantinha morreu foi assim que descobri no plantio de uma flor se há muito que esperar se há muito de se querer há muito que aprender há muito de se evitar e se a terra não for fértil o mais certo é nem plantar. abril/2009


VIDA NOSSA IGUAL 79 um código de idade uma eternidade mas passa á velocidade da luz 18 código da maioridade meta distante que demora e demora para o começo da liberdade que nos seduz dirigir beber namorar vestibular à vista tanta conquista no ar o código 18 é espetacular ninguém a proibir o nosso direito de ir e vir o sonhado indulto de ser adulto e num momento encantamento casamento filhos ser chefe de família o ideal maior e descobrir - a vida é luta aguerrida e é preciso na lida dar o nosso melhor mas, no comando o mando, sem tino do intruso destino somos todos iguais com enredos iguais com alegrias iguais com dramas iguais com ganhos iguais com perdas iguais e pouco ou nada mais do que vai na velocidade da luz do código 18 ao código 79. Hoje, 14/01,2017, ao ensejo do aniversario de meus 79 anos de idade.


E a gente quer

querer

bem, num Brasil

sem

querências; por

parte

de uma gente que

deveria

querer bem, que é

paga

QUERENCIAS Eu queria ser rima numa poesia, de um poeta simples do sertão, daqueles que sobrevivem a cada dia cantando a esperança quase fantasia que dias melhores hão de vir, mas sei lá se virão. Eu queria nascer mil vezes

a place from which ones strenght is drawn where one feels at home; the place where you are your most autehntic self

para ver o espetáculo dos revezes do desamparo, da fome, da exclusão e ver esta nossa gente do sertão e sobre sua mesa, um prato de comida carne moída, arroz, verdura e feijão farinha, alface, roscas de tomate, ou sei lá, mas isso que hoje lhes falte fosse amanhã a sua refeição Eu queria que o luar desta noite não fosse, como sempre, o açoite de um novo desvalido amanhã e surgisse na manhã do outro dia a sua gente, a rima pobre da fantasia do poeta simples e puro do sertão que fosse verso, canção e melodia e mais um prato de comida, barriga cheia, lua cheia e vida plena e também um pleno sol num outro dia o sabor quente de sua redenção Mas, sei lá, minha gente, eu bem queria, só querências que eu também sei lá, sei não. junho/2016


Pimenta e suas artes, histórias e mentiras, conclusões e flamenguismos, ocultimos, cumplicidade com pombos salientes, pedradas no telhado do Bob'S, seu amor pelos humanos e animais, Pimenta e o lirismo, seu espírito de colecionador, suas paixões, amizades duradouras, a generosidade estampada em todos os poros, contradições e desperdícios. Pimenta nos representa.

Este livro, humildemente diagramado por mim, espelha a admiração que todos temos por esse menino passarinho, por esse entusiasta de todas as artes, por este amigo que tenho orgulho de poder abraçar e admirar em todos os momentos em que damos boas risadas, lembrando das farras, das brigas, dos banhos de piscina noturnos, da convivência com Coelhaço, Leleo, Renato Portas, Rogerinho, Afonso, Josenildo, Mirim, Paracatú e demais amigos noturnos dos ping-pongs da AABB, onde ninguém vencia, mas não se perdia também Gilson Leão


Pimenta começou a aprender violão aos sessenta anos. Nunca será um grande concertista, mas consegue convencer cantando serenatas românticas, e bossas e algumas composições próprias, que ele não mostra pra ninguém. Tenderly, como é seu feitio gentil, em frente aos cadernos, que o guiam no cenário musical.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.