4 o brasil que dá certo / agronegócio
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Segunda-Feira, 31 DE Julho DE 2017
Rolo de algodão em campo em Mato Grosso
José Medeiros/Folhapress
Qualidade da fibra brasileira abre as portas para mais exportações
Rede conecta produtores rurais com start-ups
Algodão plantado em MT combina larga escala com excelência, o que é raro em termos mundiais
Investidores renovam soluções para o campo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CUIABÁ
Quinze elementos são considerados para aferir a qualidade de um lote de pluma de algodão. Características como cor, resistência, espessura e uniformidade, entre outras, determinam o preço e a abertura de portas no concorrido mercado internacional. Para o presidente da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Mato Grasso), Arlindo de Azevedo Moura,
os algodoeiros de Mato Grosso atingiram um estágio raro no mundo, em que a produção em larga escala se combina à qualidade da pluma. “A qualidade da produção de Mato Grosso é muito parecida com a da fibra americana, mas com uma diferença crucial: o ganho muito expressivo de produtividade”, afirma Moura. Segundo ele, o produtor norte-americano alcança 960 de quilos de pluma por hectare, enquanto os mato-gros-
senses têm colhido, em média, 1.550 quilos por hectare. “Dificilmente o americano conseguiria concorrer com a pluma de Mato Grosso sem subsídio. Se retirar, ‘mata’ o produtor”, afirma. Outras vantagens para o produtor de algodão matogrossense são a grande disponibilidade de solos adequados e as condições climáticas, que permitem o plantio em regime de rotação de culturas com soja e milho. Isso ajuda a combater pragas e re-
duz riscos do investimento. “Plantar algodão é caro. Por isso nunca é recomendável você ter mais do que 25% de sua área com essa cultura. Uma quebra pode ser desastrosa”, explica. Riscos altos também significam chance de alta rentabilidade. O algodão deve compensar perdas esperadas com a queda nos preços de milho e soja. “Em 2018, o grande gerador de resultado ao produtor vai ser o algodão.” (rodrigo vargas)
ccFOCO
384 mil km
de tecido —equivalente à distância entre a Terra e a Lua— poderiam ser produzidos só com as 100 mil ton de diferença entre esta safra e a anterior
950 quilos
de produto beneficiado é o rendimento de uma tonelada de algodão
Antonio Carlos Mafalda/Divulgação
Etapa de transporte de armazenamento, que alunos acompanham na vinícola Abreu Garcia (SC)
Jovens estudam vinho e agronegócio em SC Brenda zacharias carolina muniz de são paulo
Ainda que estejam longe de poder degustar um vinho, jovens na faixa de 12 a 16 anos começam a dar os seus primeiros passos para o estudo da enologia. O projeto, chamado História e Vitivinilcultura, acontece no Estado de Santa Catarina. Até agora, ele já levou cerca de 200 estudantes de uma escola da rede de ensino estadual para conhecer de perto as vinícolas localizadas na serra catarinense. “É uma oportunidade para que eles descubram o potencial do crescimento econômico da região onde vivem e também de estudar de uma maneira diferente”, explica o idealizador da atividade e professor de história Gil Karlos Ferri, 25. Eduarda Amorim, 15, alu-
na do ensino médio no município de Anita Garibaldi, visitou a vinícola Villaggio Grando, que fica em Água Doce, em junho. “Pude ver conceitos que eu aprendi em sala de aula, como por exemplo a equação da transformação do açúcar em álcool por meio
das leveduras”, lembra ela. Uma semana antes de cada passeio, a turma se reúne para assistir a uma aula sobre a história da região. Durante a excursão, os alunos conhecem a plantação, aprendem sobre a colheita e o armazenamento e também
conversam com os proprietários sobre as perspectivas do agronegócio. Ao fim, eles bebem suco de uva, é claro. A iniciativa surgiu no último ano da graduação de Ferri, na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2014. Mas o plano só foi colocado Thaís Soares/Divulgação
Grupo de estudantes da rede pública durante visita a vinícola em Campo Belo do Sul (SC)
em prática no ano seguinte, depois que o professor conheceu o enólogo Leonardo Ferrari, da vinícola Abreu Garcia, em Campo Belo do Sul, que embarcou na ideia e recebeu o primeiro grupo. As chamadas vinícolas-butique chegaram à serra catarinense no fim dos anos 1990. Em 2016, a produção da região chegou ao marco de 1,2 milhão de garrafas de vinho, gerando um resultado estimado em R$ 150 milhões. Na associação Vinhos de Altitude estão cadastrados 30 produtores da área, cujas terras somam 240 hectares. Para Guilherme Grando, 32, diretor da vinícola Villaggio Grando e presidente da Vinhos de Altitude, o projeto é importante por incentivar o desenvolvimento regional. “No entorno, são empregadas 2.000 pessoas, direta ou indiretamente ligadas a este mercado. A experiência tem valor cultural para esses jovens, que podem vir a trabalhar no setor ou na melhoria de serviços”, aponta.
júlia zaremba de são paulo
Competições entre startups e grupos no WhatsApp para discutir soluções para o agronegócio são estratégias da AgriHub para conectar produtores agropecuários do Mato Grosso com empresas jovens e investidores. “Havia uma falta de comunicação entre as partes que impedia a consolidação das tecnologias no agronegócio”, afirma Daniel Latorraca, economista e superintendente do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) que, em outubro de 2016, lançou a rede. O projeto, criado em parceria com a Federação da Agricultura Pecuária do Estado e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, conecta hoje 500 pessoas, entre produtores, start-ups, investidores e mentores. Em junho, a AgriHub realizou uma competição com 60 jovens empreendedores. A meta era apresentar, em 52 horas, soluções criativas para dilemas do campo, sugeridos pelos jurados. Os vencedores foram Leandro Bosaipo, Diego Calota e Múcio Mendes —empresário, analista de sistemas e zootecnista, respectivamente— criadores da Agri Trade (grupoagritrade.com.br), plataforma colaborativa que mostra o valor médio de insumos para as fazendas em seis regiões mato-grossenses. O trio ganhou R$ 10 mil para deslanchar a empresa. conexão móvel
A AgriHub também oferece um programa de mentoria para start-ups, com palestras, workshops e visitas a fazendas, e eventos em diferentes cidades do Estado para as empresas apresentarem tecnologias e produtos a clientes em potencial. Mas é no grupo de WhatsApp que os debates são realizados com mais frequência. A cada semana, é discutido um tema relevante ao agronegócio, como novas tecnologias para combater pragas. “Por que esperar que outros países tragam soluções para nossos problemas, se temos potencial para desenvolvê-las?”, diz o engenheiro agrônomo Ricardo Arioli, dono de uma propriedade em Campo Novo do Parecis (a cerca de 400 quilômetros de Cuiabá), uma das 55 fazendas que fazem parte da rede.