Percursos brumosos: considerações sobre espaços partilhados Giovanna Martins1
Je ne pouvais ni lire ni écrire. J’étais environné d’un Nord brumeux. Maurice Blanchot
Ser contemporâneo é ser cego, porque a distância não permite ver claramente: assim começamos o curso “Perspectivas Críticas sobre a Arte Contemporânea” sabendo que pensar nosso tempo é andar em meio ao indeterminado, experimentar a sensação desconfortável de desamparo, estar num não-lugar entre dois pontos que, certamente, não conduzirão a uma reta segura, mas sim, a um percurso labiríntico. Vemos através de um vidro esfumaçado: a bruma instalada, logo o desejo aumentado de compreender, de tocar e tornar visível, de colocar em cena as luzes imprecisas da razão. Vaticínio: as visões da arte contemporânea se apresentam como mapeamentos imprecisos de um solo resistente à estratificação, oráculos ineficazes de uma narrativa que sempre se reconstrói. Assim, o que se encontra por baixo de discursos deterministas é um desejo de verdades absolutas, uma máquina produtora de universais que manipula os fatos para que se transformem em possível doutrina, uma vontade infinita de ordem. O trabalho e a pesquisa no campo das artes, de alguma maneira contribuem para abalar estes princípios e estas verdades abrigadas pela Arte e pela História. Não se prestam a delimitar territórios, fechar espaços. Para Gilles Lepovetsky o trabalho intelectual, devido ao seu caráter inseparavelmente artesanal e apaixonado (amoureux) traz, em seu interior,
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Mestre em Artes Visuais (EBA- UFMG) e professora assistente do Departamento de Artes Plásticas da EBA – UFMG. 1