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Atividade de pesquisa na Amazônia

Parque Estadual do Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

Em 1980, o remédio que ficou conhecido como captopril mudou completamente a medicina cardiovascular (BRYAN, 2009). Essa droga foi a primeira a utilizar de inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) para impedir a constrição de vasos sanguíneos e assim reduzir a pressão arterial (MAXWELL, 1990). Como os problemas cardíacos relacionados à hipertensão estão entre as maiores causas de óbito no Brasil e no mundo, a descoberta desse mecanismo biológico e a capacidade de transformá-lo em uma droga está entre as mais importantes da medicina como um todo. E tal descoberta apenas foi possível por conta da observação da natureza: os biólogos Rocha e Silva e Wilson Teixeira Beraldo, em uma pesquisa de campo, observaram os efeitos da peçonha da jararaca (Bothrops jararaca), registraram seu efeito vaso-constritivo e publicaram os dados de sua pesquisa (ROCHA E SILVA e BERALDO, 1949). Essa observação catalisou um processo criativo e permitiu a invenção do captopril.

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A história do captopril é apenas uma dentre as muitas que ilustram a importância da pesquisa de campo para aplicações práticas que impactam diretamente a vida de milhões de pessoas. Outras notáveis são a do analgésico e antiinflamatório Acheflan (PERINI et al, 2015), feito a partir do óleo essencial de Codia verbenacea, a do anticoagulante batroxobina (LOCHNIT E GEYER, 1995), derivado da peçonha da jararacuçu (Bothrops moojeni) e até a aspirina, cujo princípio ativo vem do salgueiro (Salix alba) (JACK, 1997). O fato é que a observação da natureza e a pesquisa de campo são essenciais para o cohecimento científico.

No que tange à hiléia amazônica, seja em sua fauna, em sua flora, em suas relações ecossistêmicas, ou até em sua geologia, é indiscutível que essa formação extremamente diversa carrega consigo um valor intrínseco (EHRLICH, 1997). Tendo em mente como tantos fármacos foram derivados da natureza, fica claro como estudos da Amazônia não somente cumprem um papel fundamental em nosso processo de humanização por fomentar a relação dialógica que estabelecemos com o cosmos (FREIRE, 2005), como também possui finalidades materiais práticas. Contudo, o conhecimento sobre a biota local contém inúmeros problemas: entre 25-50% das espécies de grupos taxonômicos conhecidos ainda carecem de descrição (PERES, 2005). Goulding e Ferreira (1988) demonstram, por exemplo, que das estimadas 700 espécies de peixe da Bacia do Rio Negro, apenas 450 foram propriamente descritas (GOULDING; CARVALHO e FERREIRA, 1998).

Dessa forma, a infraestrutura de pesquisa inserida em meio a locais de díficil acesso, como o Parque Estadual do Rio Chandless, garante não somente que estudos de qualidade possam ser conduzidos, como também permite o armazenamento e análise de amostras sensíveis, cujo transporte seria dificultado.

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