Águas encantadas

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Esta história aconteceu em outros tempos, muito antes dos navios quebra­‑gelos e dos aviões. No tempo da magia. Quando os homens podiam se transformar em animais e os animais, em homens.

N

uma pequena aldeia em algum lugar ao Norte viviam umas famí­

lias inuit. Abrigadas em seus iglus, elas esperavam o fim do inverno. Os tempos eram difíceis. Faltava comida. Encolhidos na neve, os cães de trenó choravam de fome. Quando os caçadores voltavam, não tra­ ziam quase nada: algumas aves, uma dúzia de lêmingues. O mar então estava vazio. O povo sobrevivia dos caribus caçados no verão e con­ servados no gelo. Mas o gosto estava ficando ruim e todos sonhavam com carne fresca. Nessa aldeia inuit vivia uma jovem muito bonita chamada Sedna. Tinha o rosto redondo como a lua, duas longas tranças de cabelos negros e os olhos da cor do mar. Seu pai era viúvo, e era ela quem preparava sua comida e costurava suas roupas de caça. O velho, que já havia sido um grande caçador, insistia com a filha única para que se casasse logo. Dizia que já não tinha força suficiente para enfrentar Nanuk, o urso branco, e Amarok, o lobo, aquele que nunca caça sozinho. Ele precisava de um genro. E queria ter netinhos também. Mas Sedna era vaidosa. Achava que os moços da aldeia não serviam para ela. 6

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