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– Você continua ridículo com essa dentadura de vampiro, Fabinho. Durante a viagem, eu ia brincando com minha dentadura de vampiro. Às vezes, eu colocava a dentadura na boca e ameaçava can‑ tar ópera. Outras vezes, ficava testando mordidas. Isso tudo pra ajudar a passar o tempo. Estava o maior sol. Quarenta e três graus na sombra. O ar‑condicionado do carro do meu pai é bem fraquinho. Mesmo com os vidros totalmente abertos, estava praticamente insuportável. Depois de mais de cinco horas rodando em cima de um as‑ falto cheio de buracos, saímos da estrada que tínhamos pegado na nossa cidade e entramos em uma outra ainda mais malcuidada. E estreita. Nessa segunda estrada, tinha umas árvores legais perto do asfalto, mas eu não sei dizer os nomes. Sou meio fraco em botânica. Rodamos uns duzentos quilômetros e caímos em uma estrada me‑ nor ainda, mais cheia de buracos, com muitas curvas perigosas e ár‑ vores maiores e mais legais. Quanto mais bonita ficava a paisagem, piores as estradas. De vez em quando, dava pra ver umas vacas pas‑ tando perto da rodovia. Elas deviam estar morrendo de calor.
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