No sonho, a liberdade voa com mais asas.
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E
le entrou no meu sonho, sem licença. Chegou pequenininho como se fosse filho da insignificância. Seu andar perdido, pisando dúvidas, parecia transportar o passado em suas costas. Não se desfaz da carga do passado. Ele sabia que o futuro é só matéria de fantasia. No sonho, trancado em meu quarto, floresceu uma floresta com sombra, perfume e tesouro. Ele pisava sobre as folhas e uma música metálica fatiava o silêncio, brotando sob seus pés.
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Eu não sabia a língua dele, mas suspeitava suas respostas. No sonho tudo é uma verdade indecifrável. — De onde vem você? — eu perguntei. — Venho de muito depois do Sul, de um lugar frio — resmungou. — E veio só? — voltei a perguntar. — Não. Trago comigo o vento. E com o vento trago a nuvem; com a nuvem trago a chuva; com a chuva trago o rio; com o rio trago o mar — balbuciou sem parar. — Você é filho das águas? — indaguei. — Não. Sou filho do sonho e neto do sono — afirmou.
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Eu sabia que tudo era sonho, mas não queria acordar. Busquei me proteger debaixo da asa da liberdade para não interromper a história que vivia sem escolher. É preciso se aninhar na liberdade para ganhar coragem e voar. Estendi a mão, e meu mínimo amigo subiu na palma. Aproximei meus olhos e vi na minha mão um elefantinho, tão pequetitinho que com um simples sopro eu poderia assustá-lo. Prendi a respiração para não sufocar tamanha delicadeza.
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