CRONISTA POR DESTINO E PROFISSÃO
Embora tenha publicado mais de 7 mil crônicas durante os 32 anos em que trabalhou n’O Estado de S. Paulo, o escritor Luís Martins não levava muito a sério o cronista LM. Tanto que, quando publicou sua primeira antologia de crônicas, Futebol da madrugada, no final dos anos 1950, assim introduziu o livro: É a primeira vez que, como cronista, me vejo metido em volume. Confesso que me sinto constrangido como se, numa reu‑ nião em que se exige traje de gala, eu aparecesse de pijama. Um pijama de tecido grosseiro que mais se assemelha a um rude ma‑ cacão – roupa de trabalho cotidiano, trabalho rotineiro...
Sabe‑se lá o que pensaria agora que, sem poder escolher nem mesmo a cor do pijama, é metido em volume ainda mais grosso, com a pretensão de reunir “o melhor” do cronista. Como se não bastasse, um volume organizado por sua filha. E já que o assunto veio à baila, aproveito para convidar o leitor a se sen‑ tir à vontade para descontar desta introdução filial o que achar necessário. Luís Martins considerava escrever crônicas um “ganha‑pão diário”, “ossos do ofício”, “trabalho braçal de literatura”, como dei‑ xou registrado diversas vezes; cronicar, para ele, era um recurso a que vários escritores precisaram recorrer para poder ganhar a vida com a pena, a caneta, o computador ou, no seu caso, primei‑ ro com a esferográfica e depois burilando o texto na máquina de
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