REVISTA ABC IPSO OCAL

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Experiência de quem iniciou a formação online e depois mudou para presencial ou vice-versa, como foi essa mudança? índice 04 Agradecimentos 05 Apresentação 0Ediçãodistribuídaemformatodigital 3 (Re)encontrando caminhos NOTÍCIAS|ANOI|RIODEJANEIRO|2022 06 Editorial 08 Abraçandoospares-ABC 11 Celebrarépossível-IPSO 13 Umencontroúnicoedesejado-OCAL 15 Situaçõesclínicasquesurgiramemtratamentosvirtuais ÍNDICE 16 Transformaciones en la dupla analítica por el paso del análisis online a presencial. Un caso clínico - Sebastián Santa Cruz Austin (Instituto de Psicanálise da Associação Psicanalítica Chilena) 21 Cibele e o Smartphone - Thércio Andreatta Brasil (Membro do Instituto da SBPdePA | Representante OCAL da SBPdePA) 23 Experiências de cursar a formação online 24 ¿Como nos reencontramos? - Lucila Lusnich e Florencia Pagliaro (APdeBA) 26 O fio da vida: relatos de uma analista em formação durante a pandemia Heliana Luisa Guardiano Reis (SBPcamp) 30 31 Em tempos de Pandemia: relato de uma experiência de formação presencial e online Marinês Lana (Sociedade Brasileira de Psicanálise de Campinas) 36 Experiencia de cursar la formación online - Mariana Delfín Fuentes | María del Socorro López Olmedo | María de Lourdes Valdés la Vallina | Juan José Yave Villela Ávila (FOPI gerações 18 19 AMPIEP, México) Artistas (Fernanda de Souza Leão e Mestre Zé Lopes)38 Encerramento39

AGRADECIMENTOS

A realização do nosso primeiro encontro híbrido IPSO ABC OCAL “Re Encontrando Caminhos” foi possível graças a vontade e dedicação de muitas pessoas às quais queremos expressar a nossa gratidão

Agradecemos à Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ) pelo apoio e gentileza em nos fornecer suas instalações para a realização do encontro Nossos agradecimentos passam por seu Presidente: José Alberto Zusman; e Diretora do Instituto IEP SPRJ: Vera Lúcia Benchimol

Agradecemos o trabalho e a excelente disposição dos funcionários da SPRJ Nossos agradecimentos a Agnaldo Teixeira, Bárbara Neves, Gilson dos Santos, Pedro Felipe e Paulo Lindemberg. Agradecemos aos autores dos trabalhos apresentados e a todos os colegas analistas em treinamento que participaram de nossa reunião presencial ou remotamente

COMISSÃO EVENTO:

Alexandre Pantoja Analistas en Formación SPBsb, Brasil Bárbara Borges Analista en Formación SPRJ, Brasil Carlos Eduardo de Souza, Analista en Formación SPRJ, Brasil

Fernanda Souza Analista en Formación SPRJ Brasil Gabriel Rivera Analista en Formación APCh Chile

Isabela Cardia, Analista en Formación SBPCamp, Brasil Lina Rosa, Analista en Formación SPRPE, Brasil

Patricia Paes, Analista en Formación SPRPE, Brasil

Susana Maldonado Analista en Formación AMPIEP México

COMISSÃO REVISTA:

Alexandre Pantoja, Analista en Formación SPBsb, Brasil

Fernanda Souza Leão Analista en Formación SPRJ Brasil

Gabriel Rivera, Analista en Formación APCh, Chile

Isabela Cardia Analista en Formación SBPCamp Brasil

Patrícia Paes Analista en Formación SPRPE Brasil

Susana Maldonado, Analista en Formación AMPIEP, México

APOIO:

Agnaldo Teixeira

Barbara Neves

Gilson dos Santos Pedro Felipe Paulo Lindemberg

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APRESENTAÇÃO

Recentemente a SPRJ teve o imenso prazer de sediar o primeiro encontro dos candidatos da IPSO, da OCAL e da ABC Um encontro fraterno e frutífero que agora se materializa em uma importante publicação. Mais do que o êxito do encontro em si, enxergamos o futuro da nossa instituição maior, a IPA, tão ferida por divergências intolerâncias e cisões. Nossos novos colegas chegam com um sopro de vitalidade e união Estamos, enquanto representantes da IPA, espalhados por quase o mundo inteiro e faz se mister que saibamos que o nosso amanhã vai depender mais de fusões do que separações Precisamos, mais do que nunca, aprender a conviver e crescer com as diferenças que são a melhor parte da nossa identidade

A SPRJ já faz parte dessa história por ter sido uma das poucas sociedades da IPA que experimentou uma rica e feliz fusão com a antiga Rio 3. Natural que IPSO, OCAL e ABC se juntem a nós nessa nova história. Que deixemos o infeliz legado das cisões no passado e que usemos toda a nossa resiliência para construir uma IPA pronta para o futuro. Parabéns à todos os candidatos pela sua alegria de estarem juntos Obrigado por tudo que sempre nos ensinam. Nosso mais sincero agradecimento pela construção de uma IPA melhor e mais unida

José Alberto Zusman Presidente da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ)

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EDITORIAL

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sos, que s. É mas quanta falta deles ao vivo e direto O quanto precisávamos olhar, conhecer, abraçar, compartilhar em presença os altos e baixos da nossa formação.

Era outubro de 2021 quando as três organizações que representam analistas em treinamento na América Latina se reuniram para começar a realizar atividades conjuntas, pois, até agora, não o tínhamos feito A primeira coisa que pensamos foi fazer um encontro psicanalítico organizado pelas três instituições, que ia acontecer virtualmente como mandavam os tempos Mas uma ideia começou a tomar forma, pois vimos que as restrições da pandemia começaram a diminuir em diferentes países, e vimos como as reuniões psicanalíticas continuaram em plataformas virtuais é que como uma loucura passageira, como uma associação livre, a ideia de organizar uma encontro cara a cara Esta ideia fugaz encontrou um nicho e um ninho, cresceu e tornou se concretamente o (Re)encontro que dá origem a estas páginas. Estávamos cheios de entusiasmo, foi o primeiro encontro psicanalítico presencial na América Latina desde que o mundo mudou A possibilidade de que analistas em formação o lançassem e além disso num primeiro encontro entre as três organizações, parecia nos extremamente estimulante, parecia um momento histórico, e assim foi O Rio de Janeiro nos pareceu a cidade ideal para liberar nosso entusiasmo e começamos com as negociações.

De repente, a Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ) nos ofereceu sua casa e era difícil acreditar que tudo estava dando certo, que realmente íamos nos encontrar novamente Então pensamos em realizar o encontro híbrido, pois sabíamos que não seria fácil para muitos colegas viajarem e não queríamos que ninguém ficasse de fora desse lindo evento

E aconteceu, aconteceu o primeiro (Re)encontro psicanalítico presencial da América Latina! e foi extraordinário. Partimos para pensar a clínica e a formação através dos excelentes trabalhos que encontrará nas páginas seguintes Alguns destes trabalhos podem ser encontrados em outras publicações psicanalíticas Então vocês podem nos questionar o porquê de publicá los novamente. A resposta desta questão esclarece toda a potência desta revista Ela consiste em registrar como nós, analistas latino americanos, fomos capazes de construir um trabalho sensível e criativo nos momentos mais críticos da pandemia, constituindo um registro histórico ao mesmo tempo que teórico e clínico Não fomos nós, latino americanos, que inauguramos o gênero literário chamado “Realismo Mágico”? Essa invenção foi uma resposta a um momento histórico de regimes totalitários no continente Frente a dureza da realidade, apostamos na fantasia e na imaginação

atríciaPaes ABCSPRPE elRivera FAPChChile FernandaLeão ABCSPRJ negociações
construir um trabalho sensível e criativo nos momentos mais críticos da pandemia"
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O realismo mágico assim como a psicanálise busca desenvolver uma compreensão da experiência humana a partir da fantasia Garcia Marquez insistia que o gênero do qual foi considerado o principal representante deveria ser chamado só de realismo. Já que para este a realidade que é mágica

O realismo mágico alude à tradição latino americana dos relatos orais de causos fantásticos historias de pescador… onde elementos da factuais se misturavam a elementos folclóricos e supersticiosos para colorir a narrativa Insistimos que o colorido não torna a história menos realista, pelo contrario amplia o relato e a transmissão da experiencia. No Rio, nos reunimos para escutar os relatos de nossos colegas frente a um momento “surreal” da história da humanidade Fazemos nossas as palavras do Mia Couto:

Nas páginas a seguir o leitor encontrará relatos fantásticos e, por isso mesmo, reais do trajeto de analistas em formação Acreditamos no fio invisível da Heliana, que une os analistas em formação ao quarto eixo No smartphone carretel do Thércio que constituiu o jogo transferencial das análises virtuais No paciente que contém a morte e vida em si De fato também pudemos enxergar que na formação somos bebês que aprendem a se apropriar e nomear uma serie de experiências emocionais como colocaram a Lucila Lusnich e a Florencia Pagliaro E, como concluiu a Marinês, insistimos da busca e nos empenhamos na travessia

A Heliana Reis (ABC) trouxe fios imaginários e poderosos que ligavam e transmitiam a experiencia da formação Sustentando um vínculo institucional em um momento de distanciamento social O Thércio Andrade enxerga no aparelho de celular um carretel, através do qual a paciente pode viver a presença e a ausência do analista, em um jogo transferencial O paciente morto vivo de Sebastián Santa Cruz, que chega ao consultório do analista com seu corpo em decomposição

Lucila Lusnich e Florencia Pagliaro fantasiaram um bebê entrando em um curso de formação psicanalítica Mariana Delfín Fuentes María del ocorro López Olmedo María de Lourdes Valdés la Vallina e Juan José Yave Villela Ávila falam em um contato emocional que prescinde da presença A Marinês Lana conclui o seu texto com uma frase do principal expoente do realismo mágico no Brasil, Guimarães Rosa:

As três diretivas da analistas em formação (ABC, IPSO e OCAL) foram capazes de reunir, em um lugar chamado “cidade maravilhosa”, cinquenta colegas do México, Panamá, Nicarágua, Venezuela, Paraguai Argentina Chile e Brasil país anfitrião com a participação de colegas de Porto Alegre, Curitiba, Pelotas, Campinas, Belo Horizonte, Brasília se encontraram pessoalmente Campo Grande, Recife, João Pessoa, São Luís do Maranhão, Maceió, Fortaleza e Rio de Janeiro Neste encontro havia também um outro lugar, chamado virtual, em que se conectaram mais algumas dezenas de analistas em formação de diversos países da América Latina

Nas páginas desta revista você encontrará apenas festa, celebrando a vida através do trabalho e da alegria da presença Esta revista digital é o testemunho do nosso primeiro encontro de, esperamos, muitos que virão, porque nós (Re)en voltar atrás

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A vida é demasiado preciosa para ser desperdiçada em um mundo desencantado”
Quem elegeu a busca não pode recusar a travessia”.

ABRAÇANDO OS PARES

Após dois anos de Pandemia, a construção da nossa diretoria foi um grande desafio, pois encontramos muitos colegas apáticos e isolados dentro do processo de formação ao conversar sobre o momento que vivíamos nos pareceu natural enxergar nas letras da ABC, uma alusão à palavra abraço Um abraço é capaz de ligar e conter Sentimos que nos cabia o desafio de reanimar os candidatos a viverem as trocas institucionais

A Associação Brasileira de Candidatos (ABC) é a entidade representativa dos analistas em formação no Brasil Somos 515 candidatos associados em 18 institutos distribuídos por cinco regiões do país O Brasil é um país de dimensões continentais com diferenças regionais significativas Portanto, a associação promove, além das atividades científicas Encontros Regionais com o objetivo de acompanhar e compreender as necessidades de cada localidade

Ao longo destes 33 anos tivemos 15 diretorias diferentes As diretorias ficam a frente da associação por um período de 2 anos e são compostas, atualmente, por 07 candidatos (presidente, vice presidente, primeiro secretário, diretor de comunicação, segundo secretário, diretor de sede e tesoureiro)

A diretoria atual assumiu a associação em abril de 2022 Na época, o projeto do primeiro encontro entre IPSO OCAL e ABC já estava sendo desenvolvido. As três organizações têm se empenhado no sentido de estreitar as trocas Compreendendo a importância deste evento e a necessidade de que diretoria e conselheiros estivessem presentes sugerimos realizar a posse da nossa diretoria no (RE)Encontrando Caminhos.

Portanto, o (Re)Encontrando caminhos veio em um momento precioso, pois saímos do isolamento e nos descobrimos ampliando as fronteiras que compõe o universo da IPA Fomos muito bem acolhidos pelo Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro As inscrições presenciais foram totalmente preenchidas de analistas em formação de vários países da américa latina Alguns viveram, neste encontro, o primeiro contato presencial com os colegas de formação (já que os institutos ainda estavam, em sua totalidade, oferecendo os seminários de forma remota) A nossa diretoria se encontrou pela primeira vez

No primeiro dia, as três diretivas se apresentaram. Ao final da mesa institucional realizamos a posse da nova diretoria da ABC Convidamos os colegas da ABC (diretores e conselheiros) para junto com os colegas das diretivas da IPSO e OCAL, a brincarem com mamulengos que trouxemos de Glória do Goitá (cidade situada no interior de Pernambuco, que carrega o título de Capital Mundial do Mamulengo)

Os mamulengos (fantoches típicos do nordeste brasileiro) levados ao Rio eram duplos: homem/mulher, vida/morte, gente/diabo, mulher/medusa A proposta era dar movimento e vida aos fantoches através das mãos

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Um convite ao brincar e neste jogo lúdico, dar vida ao que estava inanimado Um convite a uma integração não só das ambivalências encarnadas nos mamulengos, mas, principalmente, dos pares (psicanalistas em formação) A experiência da pandemia nos atravessou a todos, chegamos ao Rio para viver a alegria do encontro, mas conscientes dos nossos lutos Com coragem para seguir o percurso da formação, mas advertidos pela experiência do medo Ao escutar os colegas de formação, foi possível refletir e integrar nossas próprias experiências frente ao longo período de isolamento social e os desafios de manter a clínica e a formação dentro de um cenário de isolamento social Analistas em formação das três diretivas expuseram, corajosamente, suas experiências através de trabalhos belos e profundos Mia Couto, em sua conferência que chamou “Murar o Medo” declara que:

"Os meus anjos da guarda tinham a ingenuidade de acreditar que eu estaria mais protegido apenas por não me aventurar para além da fronteira da minha língua, da minha cultura e do meu território O medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo No horizonte, vislumbravam se mais muros do que estradas."

O trabalho de se tornar analista é um mergulho profundo em si. A formação analítica que nos propomos requer três eixos: análise pessoal, estudo teórico e supervisão clínica Há ainda um quarto eixo que se dá através da experiência institucional Esse também é fundamental na constituição da identidade analítica. Acreditamos que a inserção na cultura e o encontro com o diferente são fundamentais na formação do analista, que não deve se limitar em suas certezas se mantendo sempre

sempre aberto para aprender com a experiência Após citar dois autores de língua portuguesa me aventuro a transpor as fronteiras de minha língua (ampliando as minhas referências ao agregar um autor do idioma dos nossos colegas da IPSO e OCAL) e finalizo este breve relato com as palavras do colombiano Gabriel Garcia Marquez:

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( ) e se assustou com a suspeita tardia de que é a vida, mais que a morte, a que não tem limites”
Ediçãodistribuídaemformatodigital CliqueeacesseositeoficialABC
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Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo " (Drummond, p133)
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encontrar caminhos” ue a Psicanálise é sejo ela abre novos de de trabalhar as semelhanças e das PSO seja um desses que nos permite ndo a psicanálise em ma criativa, com essa somos Expandimos om a experiência gradecemos a todos mente participaram oria da OCAL, ABC e o de Janeiro

Em maio deste ano ocorreu na Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro um encontro entre ABC, IPSO e OCAL Foi uma celebração porque dois anos de pandemia tinham “congelado” a partilha presencial Diante da pandemia, aprendemos a nos manter conectados não apenas pelas telas, mas pelas telas Assim conseguimos um encontro híbrido

Ser híbrido permitiu que todos que quisessem pudessem participar e garantimos que essa participação fosse absolutamente democrática Entre assentos, telas e quase sem entraves tecnológicos, circulavam ideias, clínicas e risos O fato de ser em espanhol e português gerou um clima de respeito que confirma que somos uma região bilíngue com possibilidade de nos entendermos nos dois idiomas sem que ninguém precise se adaptar e se acomodar ao outro Requer apenas paciência tolerância à frustração solidariedade e muito carinho.

Começou a fervilhar há muito tempo Surgiu da vontade de potenciar a qualidade e intensidade na formação daqueles que decidiram seguir este caminho da Psicanálise.

Sabemos que esses são os primeiros pontos de um tecido que atravessa toda a América Latina Por isso, aguardamos com alegria e entusiasmo o próximo encontro que nos convida a produzir juntos

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OÚNIC

em formação e a prom pares e com esta m OCAL e ABC reunira história para or Caminhos, tendo a p organizações, demon entre colegas e com p enriquecedor e con paralelo

Nós da OCAL queremos agradecer a todos os analistas em formação que fizeram parte deste belo encontro, à Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro por terem aberto as suas portas, à IPSO por nos nos permitir conhecê los mais de perto e ver as contribuições do trabalho em conjunto e à ABC por ter aberto a porta ao Brasil e fortalecido os laços

Esperamos que este seja também um evento pioneiro para futuras reuniões ABC IPSO OCAL e que cada vez mais analistas em formação se juntem a nós para fazer parte delas, aumentando assim o diálogo entre pares, o que sempre surpreende e nos deixa a querer cmais ada um, no Rio de Janeiro a 27 e 28 de Maio, pudemos reacender o entusiasmo de estarmos juntos, com uma troca híbrida, a primeira na América Latina Estávamos orgulhosos de, como analistas em formação, termos tomado a iniciativa e unido a riqueza de estarmos pessoalmente, mais os grandes benefícios do trabalho online aproximando nos de colegas de diferentes partes do mundo, de modo a que as fronteiras e as distâncias não representem pontos de desencontros

Organizar um evento como este não foi fácil, teve os seus altos e baixos, e os analistas em formação foram não só pioneiros em termos de logística, mas também em termos das pessoas que o assistiram e organizaram. Como Diretoria da OCAL, dissemos anteriormente "OCAL SOMOS TODOS", salientando a igualdade entre os analistas

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Clique e acesse o site oficial OCAL
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Situações clínicas que surgiram em tratamentos virtuais

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Transformaciones en la dupla analítica por el paso del análisis online a presencial. Un caso clínico Sebastián Santa Cruz Austin Instituto de Psicanálise da Associação Psicanalítica Chilena

Emulando uma análise face a face, nos cumprimentamos face a face e então ele se deitou em sua cama e desligou a câmera como se estivéssemos no cenário analítico , para depois nos despedirmos face a face Em geral, o paciente foi e continua sendo pontual, ele me avisa com antecedência de suas ausências ou se chegará atrasado ou chegando à sessão.

O presente trabalho trata da análise iniciada há um ano e meio com um paciente de 29 anos, solteiro e sem filhos Tudo começou totalmente online, por videochamada, durante o mês de outubro de 2020 Em outubro de 2021 fomos nos ver pessoalmente, realizando primeiro uma das três sessões da consulta e depois as três Neste breve trabalho quero mostrar o impacto na dupla analítica do passo de estar em análise completamente online por um ano para se ver pessoalmente

Há dois antecedentes principais da personalidade do paciente que acho importante destacar: a predominância de seu funcionamento limítrofe e a vivência de desamparo ou abandono com particular intensidade tanática

Ele é um alcoólatra em recuperação abstinente por 3 anos que consumiu grandes quantidades de álcool quase todos os dias por 10 anos, e que luta constantemente com uma tendência autodestrutiva que é especialmente sustentada pela identificação patológica com um pai também alcoólatra . Outro aspecto relevante de sua biografia é que a paciente nasceu com um gêmeo natimorto, após o qual a mãe sofreu uma profunda e longa depressão pós parto, com ocasionais mas intensas explosões de violência e uma consequente doença crônica na visão, hoje praticamente cega

Desde o início, em outubro de 2020, mantivemos a análise com frequência de três sessões semanais online por videochamada.

Durante um ano, as restrições de circulação devido à pandemia, o distanciamento físico do meu escritório e o quão “fácil” era conectar online foram os motivos manifestos para a dupla manter a análise no modo virtual De minha parte, acho que foi difícil para mim facilitar o encontro presencial e tive um cuidado especial durante algum tempo para não forçá lo Talvez eu estivesse confortável em manter a virtualidade na relação analítica com a desculpa de que começamos assim; Eu também tinha uma certa noção de que procurava consciente e inconscientemente me eximir de vivenciar pessoalmente e no mesmo quarto os intensos sentimentos de abandono desse paciente gravemente doente, ou talvez fantasiasse não ser colonizado por eles Algo que evitei naquela época, ou algo que me acomodou daquele relacionamento virtual O que eu evitava me parecia mais claro à medida que o processo avançava e principalmente ao conhecer o paciente pessoalmente

No primeiro ano de análise fez importantes mudanças na sua vida laboral, que ele experimentou manifestamente como um caminho para a liberdade, afastando se dos pais por ter mais recursos económicos Pareceu me que ele estava fugindo da casa paterna o que interpretei como uma tentativa de se desidentificar de um objeto patológico, e também como uma forte necessidade de não depender e de se "ampliar" como com uma armadura refúgio que permitiu que ele mantivesse uma asca de pseudo maturidade na qual se tornaria ativo e decisivo quando começasse a entrar em contato asca

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O que eu evitava me parecia mais claro à medida que o processo avançava e principalmente ao conhecer o paciente pessoalmente "

Transformaciones en la dupla analítica por el paso del análisis online a presencial. Un caso clínico Sebastián Santa Cruz Austin Instituto de Psicanálise da Associação Psicanalítica Chilena

contato com seus sentimentos depressivos A mesma coisa aconteceu na transferência ele se mostrou continuamente exagerando assim na análise: o grande homem decisivo Com o passar do tempo, vejo que a virtualidade nos permitiu manter o conluio de não entrar em seus sentimentos depressivos; Pareceu me positivo que esse homem com grave funcionamento limítrofe, sempre à beira da recaída no alcoolismo, buscasse a independência ampliando se diante do mundo (e de seu analista) Muitas vezes me peguei pensando em sessão sobre o necessário fortalecimento de Yoico nele e, de fato, parece me que o favoreci mais de uma vez, encorajando o Percebi que ele ficava muito ansioso, o que ativava um funcionamento inconsciente que visava manter a mãe analista entretida e interessada. Então eu senti que ele estava me trazendo “histórias fantásticas” para a sessão, fazendo um grande esforço para me mostrar algo muito interessante para capturar minha atenção e para eu mantê lo investido Na sessão, a mãe deprimida que o desnudou quando ele era bebê não podia ser reeditada, nem a mãe violenta

O acima ainda é repetido na análise Nesses momentos e atualmente em geral tenho um registro contratransferencial de um certo cansaço e preocupação (medo de uma recaída no alcoolismo?), e muitas vezes sinto vontade de acalmá lo que mal consigo conter Acho que ele mostra constantemente na transferência como é difícil permanecer um sujeito passivo com uma mãe desvitalizada, com a qual ele faz uma transformação no oposto e se torna ocupacionalmente resoluto atraente e vital. Associações sobre cirurgias milagrosas ou sobre pessoas cujas vidas foram salvas com equipamentos de ressuscitação não são incomuns neste momento No período virtual frequentemente aparecia no discurso do paciente um pai que permanecia passivo diante dos estados violentos de uma mãe que estava depressiva,

depressiva mas não morta mas raivosa ou apenas viva para destruir explosivamente e depois retornar a um morrer melancólico Estado Embora ele praticamente não trouxesse sonhos para a sessão, nesse período ele também frequentemente associava a zumbis e guerras; especialmente com o filme "Guerra Mundial Z", em que o herói laboriosamente teve que atravessar o planeta para encontrar uma cura (a cura para seus próprios sentimentos depressivos? mãe morta viva ou o pai zumbi? ou todas as opções acima!?)

Outro aspecto do processo que se desenrolou na análise virtual é que o paciente, nos momentos de maior angústia procurou manter uma relação fusional com o analista desde o início da videochamada, um esforço de indiferenciação que foi rapidamente rompido pela meu silêncio Com angústia ele me perguntou em muitas ocasiões: “você está aí?” A primeira vez que ele fez isso em meus devaneios eu tinha uma lembrança vívida de que na noite anterior minha filha de 4 anos acordou no meio da noite, me ligou e no escuro me perguntou “papai, você está aí?” O reconhecimento dessa memória me comoveu e me fez fantasiar sobre o paciente como uma criança pequena que precisava de um pai analista tranquilizador, que tolerava suas birras (agressões) que não se permitia na sessão, muito pelo contrário pois mantinha essa atitude de um grande homem aparentemente bem comportado em análise Acho que a agressão só poderia se desdobrar no cenário analítico presencial, que comentarei mais adiante

O medo inconsciente de que o objeto não responda (porque foi danificado) esteve presente desde o início e pôde ser trabalhado mais profundamente com a transição para a presença; Esse passo possibilitou trabalhar mais de perto as angústias da intrusão como consequência da busca de fusão com o objeto, ou o medo de ser invadido pela própria identificação projetiva com as consequentes fantasias persecutórias de retaliação

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Transformaciones en la dupla analítica por el paso del análisis online a presencial. Un caso clínico Sebastián Santa Cruz Austin Instituto de Psicanálise da Associação Psicanalítica Chilena

retaliação

No primeiro ano a angústia relacionada à perda do objeto ou o medo dele na transferência também foi evidenciada por meio de mensagens de WhatsApp que o paciente me enviava de tempos em tempos o que me parece ter a função de manter ao objeto a uma distância razoável, nem tão longe que desapareça, nem tão perto que o invada; o suficiente para saber que o objeto estava presente (ou vivo) e não o despiu Nesse paciente borderline funcional traumas precoces marcados pela presença ausente dessa mãe aparentemente deprimida (gêmea natimorta) que retirou seu amor do bebê paciente, e que então agiu com violência contra ele, deixaram a marca de uma experiência dolorosa o objeto primário em sua função materna.

Caímos repetidas vezes na já mencionada repetição de atrair a atenção da mãe analista com meus consequentes sentimentos contratransferenciais de acalmá lo e me sentir impelido a responder a essas mensagens no WhatsApp Ao tentar interpretar o WhatsApp nas sessões online, percebi que muitas vezes entramos no reino dos não representados obtendo poucas associações do paciente Neste ponto do processo, pareceu me que as intervenções voltadas para a construção eram mais úteis para reconstruir uma história que às vezes não tinha palavras remetendo a traumas arcaicos, ao que se repete, às angústias primitivas do desamparo, do vácuo , intrusão e separação

Assim no primeiro período na transferência eu também aparecia ora como figura a que se agarrar, ora como analista idealizado Mas o analista suporte, poderia rapidamente se tornar o analista pai alcoólatra, hierárquico e teimoso

Durante vários meses de análise virtual a identificação com o pai idealizado que depois se tornou negligente, descuidado (silêncio), gerou uma angústia desorganizadora e que, por sua vez,

quando a situação traumática retornasse, poderia levá lo a atuar na busca regressiva de calma através do álcool. Sinceramente fiquei preocupado com sua possível recaída, pois muitas vezes ele me contou como estavam: vários dias bebendo álcool dia e noite, passando por situações muito arriscadas de brigas acordando em lugares que não conhecia, etc. Agora posso ver que ceder ao álcool inconscientemente implica que esse paciente ceda à depressão, que ele rejeita fortemente

Como mencionei anteriormente, o medo inconsciente de que o objeto não responda aos poucos foi capaz de ser trabalhado na transferência em maior extensão nas sessões face a face bem como através do enquadramento Como exemplo: quando toco a campainha do meu escritório abro a porta para ele, ele entra e me observa atentamente fazendo o que imagino ser como um check up, que deixo ele fazer, pois acho que estamos recuperando o tempo desse ano online ou talvez, estou mostrando a ele que estou lá, viva, com ele

É importante ressaltar que o passo para nos ver pessoalmente surgiu de uma preocupação dele Aludindo ao facto de ter de vir trabalhar perto do meu escritório, perguntou me se podia comparecer pessoalmente e se a reunião seria da mesma forma: cumprimenta nos cara a cara e depois deita se no sofá Ele me surpreendeu com sua pergunta e também me deixou feliz, me deu uma espécie de esperança que acho que foi o que ele sentiu Senti esperança e medo também Eu estava disponível para recebê lo? Não ficou claro para mim; Experimentei a ambivalência de estar feliz por agora conhecê lo pessoalmente, mas também um certo medo de que a análise mudasse muito, que ficasse mais difícil Acho que estava mantendo em parte minha fortaleza inconsciente que só conseguia entender por meio da supervisão e da análise face a face Atualmente tende a me colocar na transferência como um grande

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grande homem/guia com quem busca identificar e assimilar minha pontualidade perseverança capacidade de pensar e progredir. Por outro lado continua fazendo um grande esforço para se desidentificar de um pai totalmente patológico, objeto atualmente denegrido, tóxico e fácil repositório de suas projeções

Pessoalmente, às vezes surgem intensas ansiedades de intrusão como resultado de sua busca inconsciente de fusão com o objeto, mas geralmente não o impedem de assistir às sessões pessoalmente. Acredito que o medo de ser invadido se exprima permanecendo no que me parece um silêncio temeroso, mas principalmente através do corpo, do motor, fazendo um movimento constante dos pés batendo um contra o outro no sofá, expelindo e espalhando pedaços de lama das solas de seus sapatos Também coçando a cabeça e deixando flocos de couro cabeludo que vejo cair e se espalhar na almofada do sofá De outro ponto de vista esses movimentos, desde o início da análise face a face, foram também o teste inconsciente para ele se ele poderia depositar algo comigo, não mais online, mas para deixar algo tangível (seu desperdício) sem que eu o rejeite ou o ataque Desde os primeiros momentos em que nos vimos pessoalmente, estava em jogo se eu poderia tolerar o que ele não podia em si mesmo, se ele poderia confiar em mim, se eu o deixaria se sentindo agressivo ou se ele agiria compulsivamente repetir a desestruturação e abandono tanatótico (tendência ao alcoolismo)

O que mais me impressionou nessas primeiras sessões oi a entrada de outros sentidos na análise principalmente o olfato na cena analítica O cheiro dele! Surpreendeu me o cheiro pungente de mofo ou de roupas secas à sombra, que me fez fantasiar sobre uma criança abandonada também mendiga. As vezes me sentia fazendo um esforço para aceitar o ar entrando em meus pulmões Pareceu me que era a prova de uma necessidade

imperiosa de ser apanhado profundamente, que eu aceitava o que é nauseante nele porque se não aceitasse ele não toleraria vir pessoalmente. Eu tinha um registro de intensos sentimentos contratransferenciais de auto exigência (obrigando me a respirar o ar deles), rejeição, irritabilidade e até desgosto Tive fantasias de algo podre que rejeitei (gêmeo natimorto no palco?). Essa experiência em análise foi comovente para mim e acho que me permitiu, ao supervisioná la, perceber e não encenar a identificação projetiva catastrófica do paciente e poder pensar sobre isso bem como fazer algo útil com esse comunicação.

Com o olhar que permite a passagem do tempo, acho que com esse paciente foi necessário aquele primeiro ano de análise virtual Acho que ele precisava de um ano para poder confiar no objeto, ele mesmo, de que a catástrofe de nascer com a morte ao seu lado não aconteceria novamente

Atualmente com o paciente quase sempre atendendo presencialmente, em meus devaneios muitas vezes tenho em mente imagens de uma dramatização, algo encenado, mas não fingido, que é aquela forte necessidade de agir grande, como dar um salto à frente sem viver os estágios perdidos pelos 10 anos de alcoolismo Sinto que ele me mostra com esperança, mas também com exaustão suas tentativas de fazer um casal com alguma mulher com quem realizar uma "família feliz" Isso inevitavelmente (e paradoxalmente) traz à tona inconscientemente a figura dos pais combinados como um objeto confuso e assustador Esses são momentos de estresse na análise pois as ansiedades confusas o dominam e le se apega aos modelos de identificação de “patrocinadores” de Alcoólicos Anônimos que o guiam pelo modelo de reabilitação de 12 passos Por sua vez, ele tenta me colocar na transferência como treinador Ao frustrá lo sua agressividade se torna mais evidente, permitindo que ele me critique no meu papel de analista (o que ele nunca fez online) Acho que o acima está acontecendo

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Transformaciones en la dupla analítica por el paso del análisis online a presencial. Un caso clínico Sebastián Santa Cruz Austin Instituto de Psicanálise da Associação Psicanalítica Chilena

Transformaciones en la dupla analítica por el paso del análisis online a presencial. Un caso clínico Sebastián Santa Cruz Austin Instituto de Psicanálise da Associação Psicanalítica Chilena

acontecendo agora, pois ele tem mais confiança de que não vou morrer de seus ataques abandoná lo ou ficar cego. Para finalizar quero comentar que na análise trabalhamos o quão diferente é fazer a sessão presencial vs online; Ele enfatiza a obtenção de mais benefícios por estar presencialmente e eu manifestei uma tendência a realizá los dessa forma, pois acho que isso ajuda o processo a avançar Ainda o exposto, às vezes ele me pede com antecedência para fazer a sessão online Acredito que isso, além de muitas vezes ser uma resistência também mostra essa forma arcaica de esperar que o objeto o mantenha investido, que haja uma mãe analista viva esperando por ele na consulta, que quer que a criança paciente comparecer, mesmo que não possa comparecer pessoalmente E isso o vitaliza

A necessidade de me manter "entretido" na sessão me parece que não é mais tão necessário A partir desse vértice, o medo da aniquilação por abandono foi mitigado por meio de interpretações que aprendi a fazer para que não sejam persecutórias ou gerem mais fantasias de abandono De certa forma, eu “permito” que ele bata seus sapatos enlameados no sofá, pois suspeito que há uma integração muito pobre do ego e uma forte necessidade de liberar emoções intoleráveis naquele momento Acho que nesse momento ele nega a inveja de que sou eu quem pode tolerar seu “desperdício”, que preserva o objeto e é parte importante do que mantém viva a análise

Também me parece que me ver na posição de acolhimento na consulta às vezes é intolerável pois desmascara o sentimento de criança sem recursos e confusa O outro lado de se sentir assim é o que chamamos em análise de seu tipo de funcionamento “Michael Corleone”, um tipo atual de pseudo maturidade que é na verdade uma tentativa de controle onipotente sobre o objeto. Quando estiver no modo Corleone, não comparecer a uma sessão pessoalmente é o mesmo que

mesmo que não depender de ninguém; ele cresce como chefe de uma família mafiosa mas isso o confunde pois o leva a cenários ilusórios nos quais ele não precisa do outro Assim, por exemplo, ele nega os sentimentos de abandono do fim de semana, bem como o impulso agressivo que isso provoca nele mas atualmente ele está mais permeável às minhas interpretações desse mecanismo

Com esse paciente, a reencenação de seu nascimento em análise (e de seu gêmeo natimorto), e da dor de sua mãe, foi repetida inúmeras vezes Mas acho que nós dois, agora, compartilhamos a esperança de que essa dor possa ser representada e dar lugar ao luto necessário

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Cibele e o Smartphone Thércio Andreatta Brasil Instituto da SBPdePA | Representante OCAL da SBPdePA

Desde o início, a cerca de dois meses, da nossa relação, o sentimento de confusão e distancia de Cibele só aumentava "

Sem uma clara percepção da consistência do vínculo entre a analisanda e o analista recebi a notícia da decisão de Cibele em ir visitar uma internação psiquiátrica Desde o início, a cerca de dois meses, da nossa relação, o sentimento de confusão e distancia de Cibele só aumentava

Cibele fora encaminhada a mim por uma colega da minha sociedade com quem se analisou anos antes Havia a procurado novamente, mas esta não tinha espaço em sua clinica para a acolher e pensou no meu nome.

Apesar da relutância de Cibele em aceitar, iniciamos as conversar duas vezes na semana, mesmo ela acreditando que talvez uma fosse suficiente. Em seguida às primeiras semanas, Cibele passou a solicitar mudanças nos horários, por ocasiões, primeiro de trabalho, depois por dificuldades em sair de casa (angústia) e razões do tipo organizacional

Em cerca de 5 semanas já havia contatado seu médico psiquiatra para avaliar uma ideação suicida e uma vontade de tomar comprimidos além dos prescritos sem me avisar Após faltar uma sessão e solicitar a remarcação de outra me sinto perdido com o tratamento e chego cogitar não ter condições de atendê la Ao visitar a internação, Cibele pergunta se poderíamos manter as consultas de modo virtual lá dentro

A Equipe do serviço, que tem restrições quanto visitas presenciais de familiares, aceita que mantenhamos as sessões pelo seu smartphone

Nesse momento, Cibele aceita aumentar a frequência para três vezes por semana A partir daí tenho a impressão que nosso vínculo de fato se estabeleceu A continência oferecida pelo hospital e a possibilidade de nos vermos pela chamada de vídeo possibilitou uma troca distinta daquelas experimentadas até então

Ao longo de dez dias no hospital, tivemos três sessões Desde a primeira, Cibele pode falar de modo claro e confiante sobre suas experiências precoces de abandono e desídia Quando era encontrada horas depois em seu berço no piso superior da casa com fezes por todo lado Também podemos falar sobre o modo inadequado que um adulto a chamava para sentar em seu colo e solicitava carícias quando menina configurando uma cena de AS.

São nessas sessões que Cibele pode trazer sonhos ricos em detalhes e que o trabalho da análise se aprofundou gerando intimidade e crescimento da capacidade de pensar Mantendo isso após a alta hospitalar nas sessões seguintes Reforçando o vínculo analítico

Discussão

Pensei em trazer esse breve relato para abrir uma conversa entre os colegas presentes no encontro sobre o uso da ferramenta virtual nos atendimentos Sabemos que cada um irá fazer uso desse instrumento conforme pode e deseja. A virtualidade pode favorecer um modo de se isolar e não tocar em assuntos doloridos, mas também ser uma ponte que irá ligar duas mentes afim de se encontrarem Penso que caberia uma reflexão sobre o enquadre analítico e setting aqui Quero trazer breves trechos de um trabalho de Rosine Josef Perelberg psicanalista britânica nascida no Brasil e atual presidente da Sociedade Britânica, chamado O Divã Vazio:

Bleger (1967) e Winnicott (1971), cada um em sua abordagem própria, reconhecem a existência do setting

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Cibele e o Smartphone Thércio Andreatta Brasil Instituto da SBPdePA | Representante OCAL da SBPdePA

setting como um estado transicional entre a simbiose (Bleger) e a potencial reunião (Winnicott).

Green caracteriza a situação analítica como associação psicanalítica O setting não tem valor apenas como uma metáfora para outro conceito como os sonhos, o tabu do incesto, parricídio, cuidado materno e assim por diante De acordo com Green, o setting contém um paradigma triangular que une três polaridades: sonhos (narcisismo) cuidado materno (da mãe de acordo com Winnicott), e a proibição do incesto (ou a função paterna, de acordo com Freud) A simbolização do setting é, portanto, a simbolização da estrutura inconsciente do complexo de Édipo a qual é provocada pelo setting.

O enquadre analítico e a relação simbiótica

No que é hoje considerado seu trabalho clássico Bleger (1967) elaborou uma distinção entre o “ processo analítico” e o “enquadre analítico” O processo “é aquilo que é estudado, analisado e interpretado”; o enquadre é um “não processo ” , no sentido que é criado a partir de constantes dentro dos limites em que o processo ocorre. Bleger inclui no enquadre psicanalítico o papel do analista” (p 511) O enquadre constitui um “mundo fantasma”, sempre ali, a não ser que esteja omisso

Bleger acredita que o enquadre silenciosamente contém e é o veículo de simbiose com a mãe Ele sugere que o enquadre é a própria compulsão a repetição É pela continuidade do enquadre que a parte psicótica da personalidade do paciente o não ego, pode ser expressa Bleger, sobretudo, também sugere que existem dois enquadre analíticos: “ um que é sugerido e mantido pelo analista, e conscientemente aceito pelo paciente, e um outro proveniente do “mundo fantasma” no qual o paciente projeta” (1967, p 511) Aquilo que é mais primitivo (a não diferenciação), de acordo com Bleger, repete se no enquadre

Ao observar o jogo com que brincava seu neto Ernest de 18 meses Freud deu se conta que quando jogava o carretel de algodão a criança dizia “fort” [desapareceu]; ele então o puxava de volta e dizia “da [encontrei] Isso é entendido por Freud como uma tentativa de dominar as idas e vindas da mãe Outra perspectiva destaca que a criança está, na verdade, jogando o carretel de algodão dentro do berço e portanto, quem sabe, também explorando a natureza do seu próprio desaparecimento da mente da mãe Quem ela é quando ela se vai? Presença e ausência marcos do início dos tempos, são ligados a consciência da existência do pai Tempo, espaço, ausência, fantasia e sexualidade são conectados de forma indissolúvel As observações de Freud haviam ganho um sentido comovente quando seu livro foi publicado, já que Sophie, a mãe de Ernest, havia morrido em janeiro de 1920, aos 27 anos desconcertantemente, para nós hoje, de gripe espanhola

Pode se sugerir que esse é a primeira narrativa Um objeto estava lá, era então perdido, e após recuperado O processo analítico, com sua ênfase nas idas e vindas do paciente, e também nas do analista com seus fins de semana e períodos de férias, reproduz essa sensação de temporalidade para os pacientes, por vezes introduzindo os a uma sequência de ausência e presença

Por fim Green diz que quando segura seu filho a mãe deixa a impressão de seus braços na criança, e isso constitui uma estrutura enquadradora que, na sua ausência, contém a perda da percepção do objeto maternal e a alucinação negativa deste A estrutura enquadradora é o resultado da internalização do ambiente maternal criado pelo cuidado materno É a “matriz primordial da catexia que está por vir”

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Experiência de cursar a formação online

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¿Como nos reencontramos?

Lucila Lusnich e Florencia Pagliaro APdeBA

Vivemos a passagem de nos vermos no computador, de ver uma imagem bidimensional, de nos vermos cara a cara, de nos cumprimentarmos novamente com um beijo ou um abraço caloroso, e havia a possibilidade de conversarmos no meio "

Começamos a formação Iusam na APdeBA em 2021 virtualmente tanto os seminários como a análise e a supervisão didática. Foi uma experiência inaugural abordar estes espaços através do computador No que respeita aos seminários, foi criado um grupo de trabalho com os professores e colegas o que foi interessante pois descobrimos que era possível aprender, trocar e fazer perguntas da mesma forma que em pessoa No que diz respeito à análise e supervisão virtual, foi frutuoso ter estes espaços através da pandemia e do isolamento para que não nos parasse no nosso desenvolvimento pessoal profissional e nos acompanhasse nesta situação sem precedentes para todos nós

No entanto no início deste ano a instituição propôs um quadro diferente, um esquema híbrido em que tivemos de assistir pessoalmente aos seminários numa semana e praticamente na semana seguinte Foi assim que nos reunimos em Março deste ano Vivemos a passagem de nos vermos no computador, de ver uma imagem bidimensional, de nos vermos cara a cara, de nos cumprimentarmos novamente com um beijo ou um abraço caloroso e havia a possibilidade de conversarmos no meio. Porque foi mais difícil aproximarmo nos quando estávamos atrás do ecrã, ou porque é que a ligação não foi tão fácil de estabelecer? A reunião terminou quando o zoom foi encerrado a virtualidade marcou um limite para nós.

Podemos dizer que na presença tivemos um encontro diferente Concordamos que existe um plus que dá esta presença que é muito difícil de explicar por palavras, mas, neste trabalho, tentaremos fazer um desvio sobre o que este plus é que estar junto com outro ou outros, corpo a corpo oferece Porque é que registamos uma diferença?

Antes de mais, diremos que fomos capazes de re significar a importância do presencial quando nos vimos pessoalmente Foi só então que tomámos consciência do que nos faltava. Ganhamos antes, em casa, em estar protegidos do vírus, no conforto das nossas casas, a simplicidade de nos sentarmos em frente ao computador A virtualidade abriu uma porta para algo que não sabíamos ou não pensávamos como uma possibilidade: levar a cabo uma formação psicanalítica virtualmente Mas estamos interessados no que lá faltava

Podemos pensar que neste encontro com a presença corporal do outro, várias questões entram em jogo O assunto evoca espontaneamente os desenvolvimentos teóricos de Winnicott e quisemos tomar a liberdade de brincar com eles Para o autor a personalidade do bebé não está integrada desde o início da vida, ou seja, ele propõe uma não integração primária Para sair deste estado, ele menciona três realizações que começam cedo e estão associadas às funções maternas: detenção manipulação e apresentação de objetos, que ocorrem simultaneamente

Vamos primeiro concentrar nos na detenção, o que permite a realização da integração e portanto um estado de unidade. Inclui principalmente a detenção física da criança, "que é uma forma de amor materno" (D Winnicott, 1960)

Os mais pequenos precisam de uma pessoa para apanhar "os seus pequenos pedaços", diz Winnicott Graças a outra função importante, a de manipulação,

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¿Como nos reencontramos?

Lucila Lusnich e Florencia Pagliaro APdeBA

manipulação, ou seja, cuidados corporais, a personalização constrói se gradualmente de uma forma satisfatória. Isto dá origem à sensação de que a própria pessoa está no seu próprio corpo

Dada a experiência que tivemos no início da formação com virtualidade e a diferença que encontramos na formação presencial, pudemos pensar que trabalhar com outra pessoa no mesmo espaço físico nos alimenta de uma forma diferente A vantagem que obtemos convida nos a brincar com a teoria e a pensar que o frente a frente nos é apresentado como um ambiente facilitador que inclui as funções de apoio e manipulação Segundo Winnicott, o ambiente facilitador dá origem ao constante progresso dos processos de maturação da criança permitindo o desenvolvimento do seu potencial (p. 110, 1963).

Defendemos que existe outra qualidade no encontro, uma vez que não só nos podemos alimentar e satisfazer as nossas necessidades básicas que nesta metáfora seria a realização de seminários, mas também estar envolvidos noutros sentidos como o tacto, o olfacto com aromas, os gestos totais (na câmara vemos apenas metade do corpo ou apenas o rosto) e partilhar o espaço com os outros um fazer com os outros Será que no virtual, então, nos perdemos um pouco, estamos mais "pedaços" atrás do ecrã? Pensamos que em presença com os outros experimentamos a integração e a personalização, vendo nos a nós próprios no outro

Há um feito frente a frente, que é sentir que somos uma unidade integrada no ambiente Tudo isto nos permite continuar a ser e a desenvolvermo nos como analistas.

Em conclusão, Winnicott argumenta que "o indivíduo saudável nunca está isolado, mas está relacionado com o ambiente de tal forma que se pode dizer que ele e o seu ambiente são interdependentes" (D Winnicott, 1963) Esta citação liga nos à ideia da pandemia e às suas restrições

restrições de socialização que geraram uma distância entre corpos mas no final o que tornou possível manter esta distância dolorosa e desconfortável foi a virtualidade Para quantas pessoas o encontro à distância com o analista foi o momento mais aguardado da semana? Por esta mesma razão acreditamos que a virtualidade não é uma prática que deva ser abandonada mas sim uma prática que devemos incorporar nas nossas vidas e no nosso trabalho mas devemos parar para pensar quando é conveniente recorrer a ela e quando é apropriado permanecer frente a frente Vamos parar e pensar no nosso trabalho como analistas

Apresenta se como mais uma variável a avaliar quando se trabalha com um paciente: é possível ver todos os pacientes virtualmente? Para os pacientes que sofreram falhas precoces nas funções acima mencionadas não seria mais pertinente vê los pessoalmente? É claro que face à pandemia poder ter sessões virtuais com estes pacientes foi em alguns casos de apoio para evitar processos ainda maiores de desorganização Mas agora que tudo está a voltar a ser como era antes embora nunca mais seja o mesmo devemos chamá los para a clínica?

Esperamos ter partilhado convosco as nossas preocupações e reflexões sobre os acontecimentos sem precedentes que temos vivido e que nos têm mobilizado de tantas formas.

Bibliografia

Winnicott, D (1945) Desarrollo emocional primitivo en Escritos depediatríaypsicoanálisis 12ªimpressãoEditorialPaidós (1960) A integração do self no desenvolvimento infantil em Os processos de maturação e o ambiente facilitador Editora Paidós (1963) From dependence to independence in the development of the individual in Los procesos de maduración y el ambiente facilitador BuenosAires:Paidós

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No retorno do Congresso Brasileiro de Psicanálise em 2019, realizado em Belo Horizonte, estava muito entusiasmada Trazia na bagagem a riqueza de um encontro nacional e a constatação do que a psicanálise segue viva, pulsante e interessante A grande interlocução de um evento dessa magnitude, as possibilidade de aprofundamentos teórico técnicos e a participação efetiva dos candidatos foram notáveis A qualidade da produção cientifica da psicanálise brasileira é a resultante do trabalho árduo de grandes profissionais. Bem como, do empenho e da dedicação das comissões que compõem a Febrapsi e a ABC Tudo isso, somado ao encontro profissional e afetivo com novos e velhos amigos me motivaram a tomar a decisão de me candidatar à formação psicanalítica oficial da IPA Um sonho a ser realizado

No artigo "A família institucional e a fantasmática do analista" Bolognini (2008) considera o seguinte:

De uma coisa estamos certos, após um século de psicanálise: em nosso trabalho, não podemos nos permitir permanecer completamente sós, sob o risco de perda de sentido da realidade e da deterioração de nossa condição profissional e pessoal O analista deve ser um animal social, quando não societário. (p.02)

No réveillon daquele ano houve festa e aglomeração O espumante na taça borbulhava de esperança Afinal, depois de uma trajetória de mais de vinte anos estaria começando a minha formação oficial.

Uma grande expectativa sempre acompanha um grande projeto O planejamento cuidadoso para a realização dele que inclui: a análise didática os seminários, as supervisões, o instituto e a clínica A paixão pela psicanálise como pano de fundo Tudo pronto Doce ilusão Escrever sobre 2020? Um desafio quase intransponível Por onde começar?

às vezes, começar a escrever só depende de achar o fio da meada e tudo vai se desenrolando de uma forma muito fluída Outras vezes, em algum ponto aparece um nó ou um enrosco e a impressão que se têm é de um labirinto sem saída. Entre o fio, os nós, o labirinto e seu entrelaçamentos; percebo o processo: está sendo tecido o texto Um fio delicado conduzirá todo o caminho que pretendo percorrer sonhei que ele era vermelho Esta figura o seu deslocamento, a sua condensação e a elaboração secundária do significado dela no sonho, é subjetiva e complexa como nos ensina Freud (1900) A associação livre que me ocorreu foi em relação ao fio de Ariadne

Na mitologia grega a princesa de Creta é Ariadne que está apaixonada por Teseu A missão dele é entrar no labirinto para matar o perigoso Minotauro muitos fracassaram nessa arriscada aventura

Ela temerosa pela vida do seu amado, lhe oferece um novelo de lã que deveria ser amarrado na entrada do caminho e o traria de volta O fio de Ariadne, como ficou conhecido, poderia ser a representação do vínculo que une os amantes ou daqueles que lutam pela sobrevivência

Unidos por um fio a vida por um fio o fio da navalha, o fio da conexão, o fio solto, o fio do carregador, o fio do computador, o fio da rede simbólica, o fio da vida

Quando oficialmente começou a pandemia do novo coronavírus, percebemos que a nossa vida foi atravessada por uma situação inusitada e assustadora

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O fio da vida: relatos de uma analista em formação durante a pandemia Heliana Luisa Guardiano Reis SBPcamp
Dessa forma o passado, o presente e o futuro são entrelaçados pelo fio do desejo que nos une " Freud,1908

assustadora Nesse cenário, no entanto, me senti indignada por estar acontecendo justamente no meu ano de formação: narcisismo revelado (Freud 1914) Durante aquele período inicial, segui trabalhando com os pacientes a transição do atendimento presencial para o atendimento remoto Havia uma experiência prévia nesse tipo de atendimento, por razões geográficas, como explicitou Eizirick (2015), no artigo: "Alguns aspectos da formação psicanalítica":

Temos também a interessante e desafiadora questão da análise à distância, por meio do telefone ou do Skype, ou de outras formas de comunicação virtual. Aliás observa se que os pacientes cada vez mais se comunicação com os analistas, e vice versa, pelo msn ou pelo WhatsApp, em

uso do divã, a abstinência, elementos definidos pelo método de Freud (1904) sofreu uma enorme ruptura.

O desafio têm sido como manter uma matriz para seguir na função analítica? Na análise pessoal confesso que sair do divã onde me sentia tão segura e acolhida, para a tela do celular ou do computador foi uma experiência limitante e frustrante Não imaginava estar entrando num labirinto e muito menos como seria o monstro à espreita

No confinamento, quanto mais o tempo passava mais estranho tudo parecia, estávamos dentro do labirinto sem saber se haveria uma saída Era terrível a ameaça constante de um perigo real o

A realid aderiu parecia consult uma ex A prin continu rompid Mantive seu ho parecia com s intimid privacid psicana transpo compu Tudo p interna simbóli o settin uso

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O fio da vida: relatos de uma analista em formação durante a pandemia Heliana Luisa Guardiano Reis SBPcamp

Há muitos desdobramentos psíquicos durante o processo de análise, num deles me sentia como uma criança desamparada Diante da necessidade de ter e de usar máscaras, me vi procurando o fio da meada, entre costuras Presa no canto do muro, da tela, as lembranças voavam livremente e me ocorreu a seguinte: quando era menina acostumei a colocar o fio da linha na agulha para a minha avó e depois aprendi a costurar Os vários vestidos feitos para a minha única boneca, a transformavam em outras Enquanto cortava os tecidos, fitas e rendas, os sentimentos se apaziguavam através dos devaneios. O prazer de costurar me levava a enveredar por muitos caminhos e assim crescia e assim me transformava Muitos fios entrelaçados

Os livros os mitos os contos de fadas e outras histórias sempre me acompanhavam Encontrava ressonância na leitura e na escrita, muitas vezes me perdia e perdida ia me refazendo Escrever e costurar sendo outro jeito de brincar, de investir energia e de modificar a realidade: costurando ora tecidos, ora palavras me sentindo viva a cada ponto, a cada conto, a cada sonho e depois a cada sessão de análise Quando leio Freud, me encontro com um grande narrador, incansável na sua busca de entender os processos psíquicos:

tesouras e linhas trabalhando para que um belo lençol branco de algodão nunca usado e esquecido no fundo de uma gaveta se replicasse em máscaras amigas Proteção contra o inimigo invisível, replicante implacável A necessidade de escrever aumentou, usando as redes sociais encontrei um modo de chegar perto das pessoas de abraçar com palavras àqueles que estavam distantes

E de cuidar da minha solidão Redes de sentido A constatação de que o país estava caindo num obscurantismo terrível, nos enchia de indignação, de assombro, de dor e de medo A morte esfriava o país tropical Como sair desse enrosco? Desse penoso e estreito labirinto, como figura no mito grego Há algo de paralisante no medo uma silenciosa e massacrante força destrutiva nos amordaça, nos encolhe, nos enfraquece, e acinzenta tudo O tema da pandemia predominava em quase todas as sessões com os pacientes criando muros defensivos de franca resistência dificultando o acesso às associações livres Confinamento Muros de isolamento Um cansaço infinito Uma guerra silenciosa

Freud (1921) nos ofereceu um grande aporte teórico para pensar a importância dos grupos O artigo centenário escolhido para o próximo Congresso Brasileiro é bem atual: “Psicologia de Grupo e Análise do Ego”:

O(p92)

escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que ele leva muito a sério, isto é, no qual investe uma grande quantidade de emoção, enquanto mantém uma separação nítida entre o mesmo e a realidade (Freud, 1908, p.150)

Durante esse período da quarentena fiquei entre

“A psicologia de grupo interessa se assim pelo indivíduo como membro de uma raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão, de uma instituição, ou como parte componente de uma multidão de pessoas que se organizaram em grupo, numa ocasião determinada para um intuito definido”

Entretanto, diante da tragédia que assolou o país e das limitações impostas, o evento foi adiado, para 2022 Por outro lado vimos crescer de forma exponencial atividades no meio virtual. Eventos preparatórios, jornadas, simpósios, cursos, lives, etc Seguindo o fio da vida Dentre as inúmeras atividades

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O fio da vida: relatos de uma analista em formação durante a pandemia Heliana Luisa Guardiano Reis SBPcamp
Há muitos desdobramentos psíquicos durante o processo de análise, num deles me sentia como uma criança desamparada

atividades virtuais propostas ressalto uma, que a ABC organizou sobre “A escrita psicanalítica” Acompanhar o diálogo entre dois talentosos psicanalistas e amantes da arte de escrever: Cláudio Eizirick Marion Minerbo foi inspirador Eles dançavam com as palavras, cada qual revelando o seu estilo O encontro com colegas de todo o país nos ofereceu um panorama de esperança e incentivo à continuidade do trabalho A motivação que me faltava para escrever este artigo Laços

O nosso Instituto vem realizando seu cronograma normalmente Neste ano começaram: os seminários teóricos, os seminários clínicos, as reuniões científicas A nossa turma terá essa marca indelével e o desafio de ter iniciado as suas atividades no modo virtual. Limitações.

Entre vários eventos, promoveu um muito especial denominado: “Literatura e Psicanálise” com a grande escritora Nélida Piñon Ela nos incentivou apesar do perigo, a continuar firmes e livres para contar histórias Assim, escreveu em um dos seus livros:

À espreita de uma sentença que a ameaça, Scherezade aperfeiçoa se na arte de embricar histórias. Dona de um tempo que lhe é escasso, vai enlaçando um enredo ao outro, enquanto desvencilha se da malha das intrigas, como é capaz um narrador competente (p147)

Penso que fui embricando vários temas aqui numa tentativa de entrelaçar vivências importantes, neste momento da formação psicanalítica, que inclui: a pandemia, a difícil realidade do país e as mudanças no atendimento aos pacientes. Acredito que uma saída possível é seguir agarrada ao fio da esperança de dias melhores, quiçá possamos trabalhar juntos, para construir novas elaborações desse trágico percurso Que a nossa capacidade narrativa e analítica nos permita colocar enredo onde houve tanto lamento e dor Pensamentos e sentimentos também respiram nesse trabalho de elaboração de

delutoedetransformação

Diariamente, vamos tecendo junto com cada paciente sua história, seus esgarçamentos, buracosdesentidosdeixadospordoresetraumas Refazendoatramadotecidopsíquicofioafiona medida

daspossibilidadesdecadaum Eassimrefaçoa minha sempre: sozinha, na dupla analítica, nos grupos, na instituição e no mundo Laços e entrelaçamentosAfimdecriarnovossignificados novos sentidos e novas leituras para as experiências;nasaídadolabirintoavidasegue porumfio

Bibliografia

BologniniS(2008)AfamíliainstitucionaleafantasmáticadoanalistaIn JornaldePsicanáliseSãoPaulo(pp197215)2008

Bulfinch T (2006)Minotauro InOlivrodeOurodaMitologia Riode Janeiro:EdiouroISBN9788500025907

Eizirik,CláudioLaks (2015) Algunsaspectosdaformaçãoanalítica In JornaldePsicanálise48(88),5365PortoAlegre

Freud,S(1900)AinterpretaçãodossonhosInSFreud,Ediçãostandard brasileiradasobraspsicológicascompletasdeSigmundFreud(Vol06) RiodeJaneiro:Imago1980

Freud S (1904)OmétodoPsicanalítico InS Freud Ediçãostandard brasileiradasobraspsicológicascompletasdeSigmundFreud(Vol07) RiodeJaneiro:Imago1980

Freud,S(1908)EscritorescriativosedevaneioInSFreud,Ediçãostandard brasileiradasobraspsicológicascompletasdeSigmundFreud(Vol09, pp150)RiodeJaneiro:Imago1980

FreudS(1908)GradivadeJensenInSFreudEdiçãostandardbrasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol19) Rio de Janeiro:Imago,1980

Freud,S(1914)SobreonarcisismoInSFreud,Ediçãostandardbrasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol14) Rio de Janeiro:Imago,1980

Freud,S(1921)PsicologiadeGrupoeAnálisedoEgoInSFreud,Edição standardbrasileiradasobraspsicológicascompletasdeSigmundFreud (Vol23pp92)RiodeJaneiro:Imago1980

PiñonN(2000)VozesdoDesertoColeçãoFolhaMulheresnaLiteratura SãoPaulo:MEDIAFashion,2017OriginalpublicadopelaEdRecord,2004 Paim Filho, I (2019) O estranho ato de escrever em psicanálise In ConstruçõesVI OEstranhonaformação:confidências(pp192)Belo Horizonte:ABC

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O fio da vida: relatos de uma analista em formação durante a pandemia Heliana Luisa Guardiano Reis SBPcamp
Experiência de quem iniciou a formação online e depois mudou para presencial ou vice-versa, como foi essa mudança? 3Ediçãodistribuídaemformatodigital 0 (Re)encontrando caminhos NOTÍCIAS|ANOI|RIODEJANEIRO|2022

Em tempos de Pandemia: relato de uma experiência de formação presencial e online Marinês Lana Sociedade Brasileira de Psicanálise de Campinas

Era um espaço importante para nos conhecermos de modo que formávamos já um bom grupo de trabalho

Para começar, um breve histórico sobre o nosso modelo de formação.

Sou Marinês, psicóloga de crianças, adolescentes e adultos, em formação pela SBPCamp e co coordenadora do Projeto Primeiríssima Infância

Em nosso Instituto seguimos o modelo Eitingon de formação, um dos três modelos de formação aprovados pela IPA (Internacional Psychoanalytical Association Associação Psicanalítica Internacional, fundada por Freud em 1910), à qual somos filiados

Seguindo o modelo citado, nossa formação está calcada na imersão do futuro psicanalista que chamamos de candidato simultaneamente em três tipos de atividades:

Análise didática que acompanha toda a formação, com quatro sessões semanais com um analista didata;

Seminários teóricos e clínicos que se constituem em formação teórica e técnica e seguem um programa curricular definido pelo Instituto de Psicanálise com duração de 4 anos e meio (9 semestres) Os seminários são coordenados pelos docentes da IP Para iniciar os seminários, o candidato deverá ter cumprido ao menos um ano de análise didática;

Supervisão da própria prática psicanalítica, que acontece durante a Formação: o candidato deve supervisionar dois casos diferentes de pacientes adultos atendidos na frequência mínima de 4 sessões semanais

Cada uma dessas supervisões terá a duração mínima de 80 horas e deve ser realizada com um supervisor diferente escolhido entre os analistas didatas do Instituto de Psicanálise

Ao final de cada processo de supervisão, o candidato deve elaborar um Relatório de Supervisão que será avaliado por uma banca

Uma vez aprovado em todas as obrigações curriculares o candidato é então qualificado pelo Instituto como Psicanalista e pode solicitar seu ingresso como membro da SBPCamp e, assim, ser um membro da IPA

Um resumo de minha experiência no I.P

Iniciei a minha formação em agosto de 2017 com análise didática, como propõe o nosso modelo de formação Em agosto de 2018, tendo cumprido um ano de análise, ingressei no Instituto para cumprir os seminários teóricos clínico, no formato presencial num grupo específico Sou da segunda turma de formação No nosso Instituto, seleciona se um grupo de candidatos, e esse grupo segue junto, por quatro anos e meio, para realizar os seminários teóricos clínico, sempre às quintas à noite e sextas pela manhã Não temos a opção de transitar em outros grupos ou seminários, dado que o Instituto é pequeno e conta com apenas três turmas A primeira turma finalizou a formação e seus participantes já são membros do Instituto; a segunda turma que é a minha já terminou os seminários teóricos clínico e seguimos com o segundo paciente de supervisão oficial rumo ao segundo relatório A terceira turma começou a formação em 2020 em plena pandemia com análise didática e em 2021 com os seminários teóricos clínico no formato online

Admirável mundo novo: formação em tempos de pandemia

Já no meio da formação, tinha desfrutado de um ano e meio de convivência com o meu grupo, com os professores do Instituto, o espaço físico, os corredores, os cafés, boas conversas e boas risadas com os colegas as reuniões dentre tantas outras possibilidades como conversar sobre a formação, os textos que tínhamos que ler, os atendimentos, a vida fora da Instituição Era um espaço importante para nos conhecermos de modo que formávamos já um bom grupo de trabalho que podia trocar ideias, respeitando as diferenças e se enriquecendo

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enriquecendo mutuamente

Uma formação exige dedicação tempo de estudo é preciso abrir mão de certas coisas, daí que a convivência no Instituto é um espaço de também compartilhar momentos felizes e difíceis da formação da vida de consultório das coisas da vida e de suportar o novo, o desconhecido, descobertas que nem sempre são confortáveis Formar se como analista é caro em todos os sentidos do termo

Em março 2020, o semestre estava apenas começando, estávamos voltando para as atividades do Instituto, aquecendo as ideias, as teorias, o pensamento clínico, quando subitamente fomos interrompidos pela notícia do "fique em casa", o Covid19, que já vinha dando notícias em outros países, estava chegando até nós

Lembro me que na última quinta feira 12 de março, quando estive no Instituto, cheguei e encontrei com algumas colegas no café e com um dos meus professores e, ao me aproximar e cumprimentá los com beijo, logo fui avisada: "agora não pode mais" A minha ficha não tinha caído, estava ouvindo falar do vírus, mas não sabia que ele estava tão perto a ponto de, na semana seguinte, não termos mais aula presencial Aulas suspensas, atendimentos online, filhos sem escola, casa sem ajudante Fui ao encontro do desconhecido e fui tomada de muitas perguntas: O que estava acontecendo? Como seria isso? Atender em casa? Online? Com os meus filhos transitando de um lado para outro? Como faria sem a minha ajudante fiel escudeira de tantos anos? Como poderia trabalhar fora e dentro de casa? Não conseguia nem imaginar!

Com o desafio posto fui então ao encontro de um admirável mundo novo. Desconhecido, perturbador, amedrontador e, ao mesmo tempo, admirável, descobrimos depois Não sabíamos ainda

o que seria possível descobrir, ganhar ou perder a partir daquilo que nos foi imposto e não escolhido Admirável pela nossa capacidade de reinventar para continuarmos tocando a vida

Estava me sentindo triste, incomodada, desajeitada com medo de ser contaminada pelo vírus, com medo de morrer ou de perder pessoas, as que me eram próximas, familiares, meus amigos, pacientes e até quem eu não conhecia Fui ao encontro do desconhecido, que desorganiza bagunça tira o chão

Aos poucos fui entendendo. Novos tempos! Novo jeito de viver!

Ficava em casa atendia cozinhava ajudava os meninos com as coisas da escola, atendia, a pia transbordava de louça, as roupas precisavam ser lavadas, a casa começou a ficar bagunçada Eu terminava o dia me sentindo exausta

Acordava e pensava: a guerra continua, um dia de cada vez Estava bem triste, cansada e me sentindo muito sozinha

A vida comum cotidiana deixou de existir O meu analista atendia no formato online Eu sentia falta da sala, do divã, da presença dele Era estranho e, ao mesmo tempo, eu aguardava ansiosamente o momento da análise, ainda que num formato novo e que eu não me sentia tão à vontade mas que de algum modo me ajudava a seguir adiante Mantive ali um lugar para continuar pensando e enfrentando os dias que se seguiam

Eu havia começado a atender o meu primeiro paciente do relatório no início de 2019 e fazia semanalmente a supervisão oficial Então, também experimentei, com o início da pandemia, atender o caso oficial online e fazer a supervisão oficial online também Naquele momento entendia que estava conhecendo e me adaptando ao que antes não fazia parte do meu cotidiano: captar através da tela a presença do outro/paciente à distância, seu

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olhar, seu falar, seus gestos, suas emoções, suas angústias E a partir deste encontro proceder à analise.

Assim, ter uma noite (quinta) e uma manhã (sexta) livres, que eram os dias dos seminários clínicos e teóricos suspensos no início da pandemia, era pra mim um bálsamo, uma trégua no meio da guerra, era tempo livre para acomodar o que não se acomodava Porém, recebemos a notícia do Instituto de que os seminários seriam retomados de modo online Eu estava tentando equilibrar os pratos, desequilibrei me com essa notícia, senti como excesso voltar aos seminários Fui tomada por uma sensação de que não seria possível continuar senti muita angústia medo e tristeza Tudo ainda muito novo. Muita turbulência para administrar

Voltamos, no formato online, numa quinta, 02 de abril quinze dias depois de termos recebido a notícia do “fique em casa ” Em função da minha sobrecarga de funções acumuladas e das novas aprendizagens que o formato online nos impôs, resisti ao retorno

Depois, porém, senti muito orgulho do Instituto, notei a vitalidade, a sua capacidade de organização, em busca do admirável mundo novo Se a formação não era mais possível no presencial tínhamos o online graças à tecnologia, à modernidade Não podia, naquele primeiro momento pandêmico, imaginar os ganhos que teríamos nem o que experimentaríamos depois de toda a turbulência inicial. Nesse admirável mundo novo, tivemos acessos a vários cursos e palestras online de Institutos de dentro e de fora do país Adentrando nos no mundo digital, passamos a receber em intercâmbio colegas de outros Institutos e pudemos também frequentar outros Institutos Tudo mais acessível, globalizado, mais Psicanálise, mais troca e muito enriquecimento

Mas quase desisti...

No início lembro me bem do primeiro seminário teórico depois o clínico e do meu esforço para ficar concentrada, tentar acompanhar No outro dia, entrei na aula de Freud e continuei com a sensação estranha de que eu não deveria estar lá, me sentia sem condições de continuar ao final da aula, caí num pranto, não conseguia dizer nada, só chorava

Naquele momento, pensei em interromper a minha formação Não achava que fosse possível viver uma situação tão difícil externamente. Um vírus ameaça nos de morte e muda completamente nossa rotina Forçou nos a um formato online de análise pessoal e de atendimento online dos seminários E nesta conexão em aprendizado, tendo ainda os filhos em casa, vivendo também momentos de ruptura, de não continuidade, de adaptação Enquanto mulher, mãe, profissional e dona de casa sentia que não era possível manter uma formação em meio à situação conturbada da pandemia

Curiosamente, também pude me surpreender com a força e organização do nosso Instituto que rapidamente retomou, de modo remoto, os seminários teóricos, clínicos, as reuniões Passei a sentir ali, junto aos meus colegas, uma força e vitalidade, algo que empurrava para a vida Se de um lado eu pensava em parar de outro o Instituto me convidava a continuar

Todavia, bastante confusa e com a ajuda do meu grupo expressei que talvez eu tivesse que interromper a formação minhas colegas notaram o meu cansaço, o desamparo e as dificuldades que eu estava experimentando Não estava fácil para nenhuma de nós, mas cada uma na sua condição talvez naquele momento eu estivesse mais fragilizada e, então, elas entenderam que teriam que sinalizar para o Instituto que eu estava com mais dificuldade

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E foi assim que pude ir me recuperando: minhas colegas de turma que são muito especiais e queridas estiveram comigo e eu me senti menos sozinha, ao mesmo tempo em que pensava como seguir a diante, sem ter que deixar a formação

Ainda muito inquieta, triste e sem saber o que fazer recebi uma ligação da Diretora do nosso Instituto. Conversamos, pensamos, buscamos alternativas Foi uma conversa boa, que me ajudou a pensar, a entender, a me acalmar e a poder voltar

Sou grata ao Instituto. Voltar, inicialmente, me foi muito incômodo, mas ao mesmo tempo muito importante A organização do Instituto também ajudou a me reorganizar e o semestre seguiu Não foi fácil mas pude perceber o quanto foi importante tanto profissionalmente como emocionalmente estar de volta, dar continuidade a minha formação Todas as outras coisas foram se acomodando na medida possível

Seguimos com a formação no formato online em 2020 e, em 2021, tempo que nosso grupo finalizou os seminários teóricos clínicos Terminamos uma parte importante da formação

Em maio de 2021, apresentei o meu primeiro relatório para uma banca composta por três analistas didatas também no formato online

Aos poucos com a vacinação fomos voltando à nova normalidade Voltei para o meu consultório e os atendimentos passaram a ser mistos: pacientes que voltaram para o presencial e também pacientes que permaneceram no online Voltei para a minha análise no formato presencial e hoje, atendo o paciente do segundo relatório, no presencial, a supervisão é online

Formação em tempos de pandemia: o que pude aprender com isso.

A pandemia foi um divisor de águas nas nossas vidas.

Vidas se perderam, projetos se interromperam, casamentos acabaram famílias se desfizeram muitas pessoas perderam seus trabalhos a pobreza para os que já viviam nela se amplificou ainda mais

Em algum momento conforme relatei pensei que não seria possível continuar com o projeto da formação, algo que foi sonhado por mim por alguns anos, e que, ao iniciar, temia que algo pudesse acontecer e que pudesse me impedir de continuar mas não podia imaginar que seria uma pandemia.

A pandemia se impôs e modificou de modo radical o nosso modo de estar, de pertencer e de fazer parte do mundo da vida Mas também notei que a pandemia me obrigou a me encontrar com aspectos do meu mundo interno, me perturbou, desestabilizou e me fez pensar que não seria possível seguir com a formação, com a Psicanálise o que nos é tão cara Mesmo com toda dificuldade de adaptação a este novo mundo admirável, pude me amparar na Instituição, no meu grupo, nas teorias e, aos poucos pude compreender que com um limão poderíamos fazer uma boa limonada Se de um lado perdemos a nossa liberdade de sair, de encontrar pessoas, de viver uma vida já conhecida, de outro, descobrimos como tornar proveitoso um mau negócio como nos ensinou Bion

Algumas vezes entre nós colegas de formação, falamos sobre a frustração de fazer uma formação meio presencial e meio online mas ainda assim, valeu muito a pena Concluímos que a Psicanálise é algo para a vida toda e que sempre iremos lembrar que a formação foi uma parte que nos impulsionou à busca e estaremos sempre buscando, desbravando e conhecendo mais de nós mesmos, da técnica e da teoria

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Admirável também poder perceber que, apesar de toda a turbulência experimentada com a pandemia e com as mudanças que ela trouxe aprendemos muito com isso Muito se discutiu, antes de pandemia, que não seria possível atender online, criança online ou pacientes mais prejudicados No entanto quando a única possibilidade era essa, também descobrimos que era possível, nem sempre, é claro, mas muitos de nós acabamos nos surpreendendo com alguns atendimentos que caminharam bem ainda que nesse formato

Hoje o nosso desafio consiste em equilibrar o presencial e o online Penso que o modelo híbrido será algo adotado por todos nós Imagino que no que se refere aos cursos intercâmbios, palestras, congressos dentro e fora do Brasil, o formato online é algo que veio para ficar e que continuará trazendo benefícios

Quanto aos atendimentos de consultório no modelo híbrido teremos sempre que pensar avaliar e, quem sabe, com o tempo teremos algo melhor formulado a esse respeito

Para finalizar, queria compartilhar que muito se pensou e se discutiu entre nós candidatas a possibilidade ou a necessidade de se diminuir os seminários, diminuir os textos, as leituras, mas isso não se efetivou Penso que esses são os impactos que sofremos não só em função de uma pandemia que claro nos desorganiza frente à vida, porque impõe mudanças para as quais não fomos consultados Porém, imagino, ainda que a pandemia não tivesse surgido, pensar na carga de leitura de atividades e o quanto cada um de nós se dedica a uma formação é mesmo algo inimaginável A Psicanálise exige, como já disse antes, dedicação, esforço, ela nos é muito cara e, por isso tão importante

Fazer análise didática quatro vezes por semana é um mergulho em águas profundas dentro de nós mesmos,

nós mesmos, é preciso ter coragem para olhar para dentro de si com tanta frequência e intensidade e supor e imaginar que muito se ganha com isso, mas, ao mesmo tempo, será um tempo de encontrar se com o obscuro, com o desconhecido, com o que temos de mais primitivo em nós mesmos Atender pacientes em análise de alta frequência, como no caso do relatório, quatro vezes por semana, também exige de nós candidatos esforço, dedicação, capacidade negativa, tolerância à frustração e capacidade de estar com o outro quando ele também poderá mergulhar em águas profundas. A teoria e a técnica da Psicanálise é muito densa, complexa, rica e cheia de descobertas, entrar em contato com isso, também desorganiza, desacomoda inúmeras vezes temos que acomodar aquilo que não cabe em nós, que não compreendemos e, ao mesmo tempo, que nos instiga a ir a diante

Então imagino que isso já seria bastante para ser enfrentado durante os longos anos de formação e pelo resto da vida Para quem escolhe permanecer na Psicanálise, fomos atravessados por uma pandemia e precisamos acomodar essa experiência na nossa formação Apesar das perdas muitos foram os ganhos

Agradeço pela oportunidade de compartilhar esse relato de experiência de formação em tempos de pandemia Reforço aqui a importância de fazer parte de uma Sociedade, que é pequena e que ampara e apoia seus candidatos, de ter feito parte de um grupo que tem a força de um grupo criativo e amoroso Termino com Guimarães Rosa:

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Quem elegeu a busca não pode recusar a travessia”.

Experiencia de cursar la formación online

Mariana Delfín Fuentes | María del Socorro López Olmedo María de Lourdes Valdés la Vallina | Juan José Yave Villela Ávila FOPI gerações 18 19 AMPIEP, México

foram colocados num grupo de candidatos desconhecidos Mariana nunca imaginou que estava a iniciar esta viagem ao mesmo tempo que uma crise global que abalou toda a gente em vários aspectos da vida

Este documento tem como objetivo dar voz a duas gerações de estagiários da AMPIEP que partilharam a sua experiência de iniciar formação em linha Encontraremos pontos de vista diferentes experiências que se ligam e outras que divergem, tentando construir a mesma voz nestas linhas que tive a oportunidade de comunicar hoje

Mariana juntou se à décima oitava geração que iniciou os seminários coincidindo com o primeiro alerta de saúde em Fevereiro de 2020, sem se aperceber da possibilidade de um momento de crise que manteria todos vulneráveis

Falando da sua experiência, ela menciona que, enquanto grupo, ficaram surpreendidos com o isolamento social que não podiam saber como era viável Tiveram de aprender a estar em solidão e a viver continuamente com aqueles conflitos familiares que as vidas ocupadas os mantinham à distância, talvez negados Aprenderam a ligar e a contactar os seus entes queridos apenas através do uso da tecnologia onde um ecrã se tornou um recurso indispensável, ligado à angústia da morte iminente; com questões de vida, familiares e económicas Assim num grupo de candidatos desconhecidos, os processos de angústia e impotência perante a perda do que tinham e estavam a perder logo no início da sua formação foram

Ela foi capaz de se adaptar aos seminários e talvez, à conveniência de viajar para a Associação Conheceu também os seus companheiros de grupo que estavam a iniciar a mesma viagem, procurando diferentes formas de se ligarem uns aos outros através do ecrã O seu processo de adaptação também envolveu a continuação da sua análise sem a presença física do seu analista e do seu respectivo consultório

O candidato fez a seguinte reflexão: "observando nos como psicoterapeutas, no processo de nos tornarmos psicanalistas, imersos num tempo atormentado pela pulsão da morte, o Covid 19 parece ter atravessado fronteiras e colocar nos numa situação ainda mais regressiva do que alguma vez experimentámos antes O início da formação online tem sido uma viagem diferente, cheia de possibilidades adaptativas, uma experiência que sem dúvida deixará muitas oportunidades de aprendizagem

Sobre a mesma ideia, a passagem do face a face para o início virtual da formação, então é colocada num questionamento constante, para aplicar e integrar a teoria agora em forma virtual para questionar a gestão técnica do nosso próprio enquadramento, de quem somos e quem queremos ser como psicanalistas em processo porque quando falamos do virtual queremos dizer que é necessário proteger nos desta pandemia, proteger os nossos pacientes e também lidar com a nossa própria angústia, a dos nossos entes queridos ou dos próprios pacientes Deu origem à observação das negações da pandemia em doentes tão desprotegidos e talvez em nós próprios Tais ansiedades provavelmente não foram sentidas de

Nos assuntos humanos, o mais complexo só se pode desenvolver a partir do mais"
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Experiencia de cursar la formación online

Mariana Delfín Fuentes | María del Socorro López Olmedo María de Lourdes Valdés la Vallina | Juan José Yave Villela Ávila FOPI gerações 18 19 AMPIEP, México

de forma tão intensa e regressiva antes No entanto, a ausência de um paciente fazia sentido devido à resistência; durante a pandemia a ausência de um paciente fez pensar no risco de morte e contágio, juntamente com a resistência conhecida que se tornou difícil de discernir

Juan concorda com Mariana e partilha conosco que na sua experiência a formação online lhe permitiu experimentar uma nova forma de ligação O caos inicial deu lugar ao longo do tempo à possibilidade de um novo vínculo que teve de ser aprendido através da interação digital que tem sido distante e ao mesmo tempo próximo. As variações de interação que ocorreram por terem ou não o microfone, a câmara e a falta de presença, permitiram lhes identificar aspectos de si próprios, do grupo e mesmo dos seus professores

A décima nona geração, da qual faço parte, começou a sua formação em Agosto de 2021, após um ano e meio de pandemia Já sabíamos que ia ser virtual por isso não ficámos surpreendidos Tal como a outra geração tivemos de enfrentar novas formas de ligação, partilhando com a Associação e os outros candidatos a angústia de estar no início de uma formação complexa num momento incerto da vida Muitos colegas, como eu, começaram virtualmente a análise de alta frequência no sofá, adaptando o espaço de tal forma que, como pacientes, estávamos deitados e a câmara com o analista de um lado para o outro Enfrentamos e continuamos a enfrentar as preocupações de sermos capazes de enfrentar a nossa própria angústia face à crise mundial com um vírus que não pára de sair, que continua a alimentar as ansiedades dos nossos pacientes e as nossas próprias ansiedades No entanto, a experiência de vida que isto nos proporcionou favoreceu, por sua vez, a importância de manter a moldura interna a fim de se poder cuidar da moldura externa que foi afetada e modificada quando o campo analítico foi convertido em múltiplos cenários A formação tem sido diferente do habitual mas acrescentou

um elemento anteriormente desconhecido à interminável tarefa de investigação na nossa profissão

O virtual permitiu a ambas as gerações ligarem se através da partilha de um seminário de supervisão coletiva; dando contenção, orientação e um sentido de pertença Há quase um ano que vivemos o que Winnicott disse: o que diz respeito ao mais humano requer o mais simples Estávamos unidos pela necessidade e interesse de nos formarmos considerando os possíveis obstáculos e dificuldades concordando assim com o início de duas novas gerações de futuros analistas formados no meio de uma pandemia.

Soco concorda com Mariana em que apesar de ter enfrentado os restos da pulsão de morte, encontrou também, através da pulsão de vida, um processo de adaptação através do vínculo que foi para além da presença, pelo que tem sido surpreendente para ela experimentar como, apesar da distância física com os seus colegas e companheiros ela também tem sido capaz de criar ligações importantes através da pulsão de vida, Ela também tem sido capaz de criar ligações importantes, e como conheceu algumas delas pessoalmente, ela sente como a ligação que tem gerado ao longo dos anos tem sido tão significativa que a ligação não tem sido afetada, mas pelo contrário, apenas fortalecida Isto mostra um novo fenómeno em que tivemos de fazer um esforço importante para nos mostrarmos e ligarmos com o outro

Esta experiência permitiu nos experimentar um aspecto intangível que tem tudo a ver com o sentimento nas relações humanas O contacto emocional pode ultrapassar os limites físicos e lembra nos a tarefa de estar em contacto contínuo com os nossos próprios afetos e os do outro, um pilar essencial do que faz agora parte da nossa vocação como analistas em formação

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Artistas

Fernanda Souza Leão é psicóloga, designer e artista plástica. Atualmente faz formação psicanalítica na Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro e é diretora de sede da Associação brasileira de Candidatos.

Além de desenvolver a capa da revista, utilizou obras inéditas desenvolvidas no período da pandemia e pinturas que refletem sobre o processo analítico

Para a capa da revista e a identidade visual do evento “(Re)encontrando caminhos”, se inspirou em George Lucas que foi analisando de Bion

Ele fez todo o cenário de Star Wars baseado no princípio da incerteza E foi nele que se apoiou para ilustrar as discussões decorrentes desse encontro tão rico entre candidatos da ABC, IPSO e OCAL

Mestre Zé Lopes nasceu em 21 de outubro de 1950, na cidade de Glória do Goitá, interior de Pernambuco

Aos 10 anos de idade teve seu primeiro contato com os mamulengos e desde então seguiu brincando Trabalhava diariamente na sua oficina dando personalidade aos pedaços de mulungu (madeira típica da região)

Também dava aulas de artes na Rede Municipal de ensino Fundou uma Associação na região como forma de beneficiar a categoria Em 1996, criou o museu do mamulengo em sua terra natal Em 2016, tornou se Patrimônio Vivo de todo estado de Pernambuco

Deixou 07 filhos de dois casamentos, dois deles também artesãos Em 2020 virou semente

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Encerramento

Na verdade este texto não tem a função de encerrar nada, mas somente apresentar um outro limite/continente dessa nossa revista

Como encerrar algo que ficará para sempre em nossas lembranças como um momento de congraçamento entre analistas em formação da IPA de distintos países da América Latina e do mundo?

Conseguimos construir um espaço lúdico de amizade, de alegria, de esperança, de conhecimento de estudo de trabalho não sem ter que lançar mão de uma coragem que não estava assim tão animada por tudo que o mundo estava vivendo nesses 2 anos anteriores de pandemia

Depois de tudo que passamos o nosso (Re)Encontro não poderia ter sido mais afetivo, acolhedor, criativo e estimulante Tendo como pano de fundo a belíssima cidade do Rio de Janeiro.

Sonhamos ainda com a continuidade dessa inédita união entre IPSO, OCAL e ABC, para que juntos possam dar novos passos encontrar novos caminhos, ampliar possibilidades, capacitando os seus associados, antes de tudo emocionalmente, através de um ambiente favorável a troca de experiências clínicas e teóricas, de estímulo da escrita da circulação de novas ideias

Deixamos viva a vontade de continuarmos juntos na busca de desenvolver sempre o nosso trabalho: o fazer psicanalítico

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PorAlexandredaCostaPantoja (analistaemformaçãodaSPBsb,Brasília Brasil)

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