Caderno ABEA 25 - Experiencias Praticas em Ambientes Profissionais

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XVII CONABEA - Conselho Nacional da ABEA XX ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo

ISSN 2177-3734

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XII CONABEA

Realização:

Conselho Nacional da ABEA Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo

XX ENSEA Encontra Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo Apoio:

EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS EM AMBIENTES PROFISSIONAIS

Caxias do Sul-RS 04 a 07 de novembro de 2003 UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - RS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

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DIRETORIA ABEA BIÊNIO 2003/2005 DIRETORIA EXECUTIVA Presidente Vice-Presidente Secretário Sub-Secretário Secretário de Finanças Sub-Secretário de Finanças

José Roberto Geraldine Jr. Gogliardo Vieira Maragno Fernando J. De Medeiros Costa Wilson Ribeiro Dos Santos Jr. Cláudio Listher Marques Bahia Angela Canabrava Buchman

Unifran/SP UFMS/MS UFRN/RN Puc-Campinas/SP Puc-Minas/MG UEL/PR

XII CONABEA Conselho Nacional da ABEA

XX ENSEA

DIRETORIA Ana Elisea Costa - UCS Carlos Eduardo Nunes Ferreira - Estáci de Sá Euler Sobreira Muniz - UNIFOR Gilson Jacob Bercoc - UEL José Akel Fares Filho – Unama/PA José Antônio Lanchoti - Moura Lacerda/SP Lino Fernando Bragança Peres - UFSC/SC Maria de Lourdes Costa – USU/RJ Nireu de Oliveira Cavalcanti Ubirajara Perci Borne

Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo

EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS EM AMBIENTES PROFISSIONAIS

CONSELHO FISCAL Titulares Ester J.B. Gutierrez - UFPEL/RS Isabel Cristina Eiras de Oliveira - UFF/RJ Itamar Costa Kalil - UFBA/BA

Suplentes Débora Pinheiro Frazatto Verde dos Santos – PUC-CAMPINAS/SP Paulo Romano Reischilian - UNITAU/SP Júlio de Lamonica Freire - UNIC/MT

Organização editorial: Aloisio Joaquim Rodrigues Jr

Capa: Aloisio Joaquim Rodrigues Jr

Impressão e Acabamento: ABEA - Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo Rua Fernando Ferrari, 75 - Botafogo - RJ -CEP 22231-040 Tel.:0xx21 25535446 e-mail:abea.arq.urb@uol.com.br www.abea-arq.org.br

COMISSÃO ORGANIZADORA ABEA Itamar Costa Kalil - UFBA/BA Isabel Cristina Eiras de Olivieira - UFF/RJ Cláudia Maria de Carvalho - Secretária ABEA

COMISSÃO ORGANIZADORA UCS Prof. Edison Humberto Viero Profª. Jaqueline Viel Caberlon Pedone Prof. Paulo Rogério De Mori

04 a 07 de novembro de 2003 Caxias do Sul

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APRESENTAÇÃO O Caderno de nº 25 é resultado dos trabalhos apresentados durante o XX Encontro Nacional de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – ENSEA, realizado no período de 04 a 07 de novembro de 2003 na Universidade de Caxias do Sul – RS. O tema proposto – Experiências Práticas em Ambiente Profissional, completa uma série de seminários realizados pela ABEA, como subsídio aos Cursos na implantação das Diretrizes Curriculares. As discussões sobre a implantação de Estágios Curriculares, Escritórios Modelos, Núcleos e Laboratórios Temáticos e Laboratórios Curriculares Essenciais vem ao encontro da necessidade de se estabelecer parâmetros mínimos de atuação dos cursos na prática das atividades complementares das Diretrizes Curriculares. Quando das discussões e aprovação das Diretrizes Curriculares, muito se debateu sobre a obrigatoriedade ou não dos estágios nos Cursos de Arquitetura e Urbanismo. A realidade atual do nosso ensino e as condições vigentes na prática desses estágios, levou o conjunto dos cursos a optar pelo conceito mais amplo da atividade, nomeando-a apropriadamente, por sugestão da FENEA – Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo, de Experiências Práticas em Ambiente Profissional, deixando opcionalmente aos cursos, a decisão de melhor aplicá-la no seu Projeto Pedagógico. Decorridos mais de cinco anos da implantação das Diretrizes Curriculares, se faz necessário nesse momento, uma avaliação consistente das experiências vivenciadas por cada um dos cursos, os rumos seguidos e suas correções. É nesse contexto que a ABEA realiza esse ENSEA, buscando contribuir para o aperfeiçoamento do ensino e formação dos Arquitetos e Urbanistas. O Caderno contempla ainda, as discussões ocorridas durante o XII CONABEA – Congresso Nacional da ABEA realizado no mesmo período, quando foi eleita a nova diretoria da Entidade para o biênio 2003/2005.

A DIRETORIA 6

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SUMÁRIO ATAS CONJUNTAS ................................................................... 10 TALIESEM

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PROJETO CASA FÁCIL - UNIFIL: EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E INSERÇÃO SOCIAL Ivan Prado Junior e Gilson Jacob Bergoc ...................................... 107

UMA VISÃO DO ENSINO DAS ESTRUTURAS DAS EDIFICAÇÕES PARA OS ESTUDANTES DE ARQUITETURA

Ana Elísia da Costa, Calíntia ArgentaCeron, Tiago Dallegrave Costa, Rafael Comerlatto, Daniela Longoni, Terezinha Buchebuan Maginus; Raquel Munaro, Cheila Rodrigues Netto, Alessandra Braun Texeira, Rafael Borguetti Zanotto e Acadêmicos do Curso de Arquitetura da Universidade de Caxias do Sul.....................................................20

João Eduardo Di Pietro e Roberto de Oliveira ......................................... 118

PROJETO INTEGRADO: UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA Análise crítica sobre a experiência de ensino através de Projeto Integrado Final do 1º ciclo do curso de Arquitetura e Urbanismo do UnicenP

José Carlos F. Bezzon ................................................................. 133

Carlos Eduardo U Botelho, Giselle L.Dziura e Haraldo H. Freudenberg ................................................................................... 37

LABORATÓRIO DE ARQUITETURA, URBANISMO E TOPOGRAFIA - LabAUT: INCENTIVO AO CONVÍVIO PRODUTIVO Sílvia Pereira de Sousa Mendes Vitale, Carlos Eduardo Zahn, Catia Regina Wellichan e Iuri Gomes Ortiz ................................................... 60

LABORATÓRIO DE PROJETOS HABITACIONAIS Cristiane Guinancio - ESPLAN - DF ............................................... 73

ESCRITÓRIO MODELO, SIMULACRO PROFISSIONAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL Euler Sobreira Muniz ...................................................................... 83

PROJETO E CONSTRUÇÃO DE PASSARELA EM ARCO DE MADEIRA UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM

URBANIZAÇÃO EXCLUDENTE: O ASSENTAMENTO ESTRELA DA VITÓRIA, NA CIDADE DE UBERABA /MG, UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR. UTILIZAÇÃO DE MODELOS PARA O ENSINO DAS ESTRUTURAS NO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO Amélia Panet Barros, Carolina Vidal Accioly, Marcelo Pessoa de A. Franca, Maria Ângela P. Xavier e José de Paiva Taussig....................158

ESTUDO DE DISPOSITIVOS PARA O MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM UMA RESIDÊNCIA Cristian Guilherme Moz, Paulo Rogério De Mori e Maria Fernanda Nunes .............................................................172

PESQUISA, EXTENSÃO E ENSINO EM MORADIA SOCIAL E MEIO AMBIENTE (*) Maria Lucia Refinetti Martins .....................................................................194 O ENSINO DA MADEIRA NO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIGRAN Cynara Tessoni Bono ...................................................................................211 A PESQUISA E A EXTENSÃO NO PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE DE UBERABA: UMA ESTRATÉGIA DE EFETIVAÇÃO

Everaldo Pletz ............................................................................. 97

Carmem Silvia Maluf, Janaína de Melo Tosta, José Carlos Faim Bezzon, Kelly Cristina Magalhães e Symphorien Barthélémy Oudiane ..............................229

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Ata conjunta do XII Congresso Nacional da ABEA (COSU) e XX Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ENSEA) Realizados na Universidade de Caxias do Sul – 04 e 07 de novembro de 2003

Às 14:00 horas do dia 04 de novembro de 2003, no auditório do Campus 8 da Universidade de Caxiasdo Sul, o presidente da ABEA Prof. Itamar Kalil abriu os trabalhos convidando para compor a mesa a Profa. Isabel Eiras, vice-presidente e o Prof. Fernando Costa, secretário. Nesse momento foi apresentada a programação oficial dos eventos.

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Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MSUFMS Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR UFPR Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ UFRJ Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Sul/RS UFRGS Universidade Federal Fluminense UFF Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo/SP Mackenzie Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro/RJ USU Universidade São Judas Tadeu, São Paulo/SP S J Tadeu Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia CONFEA Caixa de Assitência dos Profissionais do CREA MÚTUA Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo FENEA Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas FNA Universidade Positivo, Curitiba/PR UNICENP Universidade da Grande Dourados/MS UNIGRAN Universidade de Jaraguá do Sul UNERJ Centro Universitário do Vale do Taquari UNIVATS

Presentes os representantes das seguintes Instituições: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Centro Universitário 9 de Julho, São Paulo/SP UNINOVE Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto/SP B. de Mauá Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, São Paulo/SP FEBASP Centro Universitário de Brasília, Brasília/DF UNICEUB Centro Universitário de João Pessoa, João Pessoa/PB UNIPÊ Centro Universitário Dom Pedro II, São José do Rio Preto/SP D. Pedro II Centro Universitário FEEVALE, Novo Hamburgo/RS FEEVALE Centro Universitário Filadélfia, Londrina/PR UNIFIL Centro Universitário FUMEC, Belo Horizonte/MG FEA-FUMEC Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto/SP M. Lacerda Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, São Paulo/SP FAU/USP Faculdade de Arquitetura Ritter dos Reis, Porto Alegre/RS UNIRITTER Faculdades Metodista Izabella Hendrix, Belo Horizonte/MG I. Hendrix Fundação Armando Alvares Penteado, São Paulo/SP FAAP Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas/SP PUC-Camp Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, B.H./MG PUC-Minas Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba/PR PUC-PR Pontifícia Universidade Católica do R.Janeiro, Rio de Janeiro/RJ PUC-RJ Universidade Católica de Pelotas, Pepotas/RS UCPEL Universidade da Amazônia, Belém/PA UNAMA Universidade de Brasília, Brasília/DF UnB Universidade de Campinas, Campinas/SP UNICAMP Universidade de Caxias do Sul/RS UCS Universidade de Fortaleza, Fortaleza/CE UNIFOR Universidade de Franca, Franca/SP UNIFRAN Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro/RJ UNESA Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR UEL Universidade Federal da Bahia, Salvador/BA UFBA Universidade Federal de Pelotas, Pelotas/RS UFPel Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC UFSC

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XX ENSEA A programação do XX ENSEA contou com a apresentação de trabalhos agrupados em sub-temas. Na tarde do dia quatro, o sub-tema Laboratórios Curriculares Essenciais, e o sub-tema Núcleos e Laboratórios Temáticos. Após intervalo, o Arquiteto e Urbanista Benny Schasberg Diretor de Planejamento Urbano do Ministério das Cidades proferiu palestra sobre as “Possibilidades de interação Ministério das Cidades e o Ensino de Arquitetura e Urbanismo”. Na manhã do dia cinco, como continuidade da programação do XX ENSEA, houve apresentação dos trabalhos dos sub-temas Atividades de Extensão, Projetos e Práticas Pedagógicas e Disciplinares. Na manhã do dia seis os trabalhos foram retomados com os sub-temas Estágios Curriculares e Escritórios Modelo. Os dois últimos sub-temas, Estágios Curriculares e Escritório-modelo foram os que suscitaram o maior número de questões, passando pela questão conceitual, suas mais diversificadas conotações, oriundas da

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falta de uma diretriz norteadora quanto às suas definições, objetivos, abrangências e procedimentos. Ao final das seções, foi feita a leitura de um documento com recomendações e indicações do XX ENSEA ao XII CONABEA que passa a ser anexo desta ata. O documento foi aprovado. XII CONABEA À noite do dia quatro, às 20 horas foi realizada no auditório do Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul, a abertura solene do XII CONABEA e XX ENSEA. Para compor a mesa de abertura, o presidente professor Itamar Kalil convidou as seguintes autoridades: Professora Liane Beatriz Moretlo Ribeiro, Vice-reitora da UCS representando o Reitor; Professora Ana Mery de Carli, Diretora do Centro de Artes e Arquitetura da UCS; Professor Paulo Fernando do Amaral Fontana, Chefe do Departamento de Arquitetura da UCS; Arq. e Urb. Danilo Landó, representando o IAB/DN; Arq. e Urb. Eduardo Bimbi, Presidente da FNA; Arq. e Urb. Benny Schasberg, representando o Ministério das Cidades; Vereador Vinícios Ribeiro, presidente da Câmara dos Vereadores de Caxias do Sul; Acadêmico Pedro Henrique Vade, representando a FENEA; e o palestrante da noite, professor Valdo José Cavallet, Pró-reitor de Graduação da UFPR. Após os discursos de abertura, foi dado inicio à palestra “Os novos desafios da Formação Profissional” proferida pelo professor Valdo Cavallet. Após a palestra, o Presidente Itamar Kalil convidou os presentes para o coquetel de abertura oferecido pela UCS.

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Em seguida o presidente fez e leitura da pauta incluída no material entregue aos inscritos. Pauta proposta e aprovada: 1. Diretrizes Curriculares da área de Arquitetura e Urbanismo; 2. Panorama do Ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil; 3. Estatutos da ABEA – Proposta de alteração; 4. Comissão de Educação do CONFEA; 5. Ações em andamento; 6. Comissão de Avaliação de Curso de Arquitetura e Urbanismo – INEP; 7. Relatório da Diretoria; 8. Relatório do Conselho Fiscal; 9. Fórum das Entidades Nacionais dos Arquitetos e Urbanistas; 10. Próximos eventos – local e tema 11. Divulgação dos Resultados da Eleição e Posse da Diretoria e Conselho Fiscal. Como parte da programação do XII CONABEA, três palestras foram proferidas durante o evento: “Arquitetura e Urbanismo: a unicidade conceitual na história” com o professor Nireu Cavalcanti; “Relações entre Formação Profissional e Exercício da Profissão” com a Arquiteta e Urbanista Walesca Peres Pinto; e “Ações do Ministério das Cidades e a Formação Profissional” com os Arquitetos e Urbanistas Kelson Senra e Fabrício de Oliveira. Deliberações nos pontos da pauta.

Na tarde do dia cinco, o presidente da ABEA deu início aos trabalhos do XII CONABEA informando aos presentes da necessidade da necessidade de recomposição da Comissão Eleitoral, uma vez que dos membros designados pelo XXVI COSU em Brasília, apenas o professor Andrei Schelee estava presente. Foi indicado os nomes dos professores Carlos Eduardo Botelho – PUC-PR, e Edson Humberto Viero – UCS, para substituir os membros não presentes. A proposta foi aprovada.

1 – Diretrizes Curriculares da área de Arquitetura e Urbanismo O presidente inicia uma explanação sobre os acontecimentos desde as deliberações tomadas na XXVI reunião do COSU em Brasília até os últimos contatos com o relator do processo das Diretrizes Curriculares no Conselho Nacional de Educação, passando pelas ações da Comissão de Educação do CONFEA.

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Após as discussões foram aprovados os seguintes encaminhamentos: a) manter as negociações com o relator do processo no sentido de marcar uma audiência pública; b) que seja preparada uma ação judicial para a eventualidade de uma decisão do Conselho não favorável à proposta de diretriz encaminhada pela área de Arquitetura e Urbanismo; c) que seja buscada uma aproximação com o MEC. 2 – Panorama do Ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. O professor Gogliardo Maragno apresenta trabalho sobre o Panorama do Ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil atualizado com os dados mais recentes sobre os cursos e formandos. Aberta a discussão vários pontos foram lembrados pelos participantes como possíveis de serem inseridos no trabalho, considerado por todos como da maior importância. Após as discussões foram aprovados os seguintes encaminhamentos: a) tentar incluir na apresentação, dados relativos aos docentes– quantos somos, onde estamos, etc.; b) indicativo de uma campanha de ampliação de cursos de arquitetura e urbanismo na rede pública, nos estados que ainda não têm curso na área. c) oferecer ao Conselho Nacional das Cidades, um estudo da evolução da implantação dos cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. 3 – Estatutos da ABEA – Proposta de alteração O presidente encaminha a discussão com a leitura da proposta de alteração do estatuto da entidade aprovada por ocasião da XXVI reunião do COSU em Brasília, justificando que a proposta de alteração visa resolver o problema recorrente da mudança da sede da entidade a cada dois anos, causando transtornos de registros de CPMF e demais trâmites burocráticos. Desta forma encaminha pela aprovação da fixação da sede em Brasília. Após discussão ficou aprovada a seguinte redação para o Artigo 2o do Estatuto da ABEA: “Artigo 2o.- A ABEA é uma entidade permanente e tem sua sede executiva em

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Brasília-DF, onde terá foro.” Também ficou aprovada a constituição de uma Comissão constituída de três componentes para fazer a adequação dos estatutos da ABEA ao Código Civil Brasileiro até 11 de janeiro. As propostas de alterações deverão ser encaminhadas à diretoria da ABEA. A referida comissão ficou assim constituída: Cynara Tessoni Bono – UNIGRAN/MS; Gilson Jacob Bercoc – UNIFIL/PR; Adilson José Lara – CONFEA. 4 – Comissão de Educação do CONFEA – CES/CONFEA O arquiteto e urbanista Adilson Lara, secretário executivo da CES/CONFEA faz uma explanação dos temas pautados. a) Duração de Cursos: o presidente complementa a apresentação com informações a respeito do parecer do Conselho Nacional de Educação que se refere à mobilidade de profissionais entre países e expões a Diretiva Portuguesa sobre o assunto. Aberta a discussão ficou aprovada a iniciativa de encaminhamento da CES/CONFEA ao Conselho Nacional de Educação no sentido da manutenção do mínimo de 3.600 horas e cinco anos para conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo; indicativo de levar a discussão para a FENEA no sentido de envolver os estudantes, principais prejudicados pela possível redução de carga horária. b) Cursos Seqüenciais: A CES/CONFEA continua acompanhando o parecer de implantação de cursos seqüenciais e critérios de registros de cursos seqüenciais no CONFEA. c) Acreditação / Exame de Ordem: o ponto é trazido como informe ao CONABEA em virtude da recorrente manifestação de Conselhos Regionais no intuito da implantação de Exames de Ordem. Diante da impossibilidade legal da implantação de um sistema de exame de ordem, surge a alternativa de acreditação de cursos. 5 – Ações em andamento Educação Continuada: o presidente trás informes a respeito

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do projeto criado a partir da CES/CONFEA que visa incentivar as Instituições na criação de projetos de educação continuada à distância. Informa ainda que a diretoria da ABEA já está trabalhando em dois projetos, sendo o primeiro sobre o Estatuto da Cidades e o outro sobre Acessibilidade, em conjunto com a FNA e FISENGE, a serem lançados brevemente pelo Sistema CONFEA. Conselho das Cidades: o professor José Geraldine Jr. Faz um breve relato sobre a sua participação como representante da ABEA na organização da Conferência Nacional das Cidades que resultou na conquista de uma vaga no Conselho Nacional das Cidades. 6 – Comissão de Avaliação de Curso de Arquitetura e Urbanismo – INEP Os membros da Comissão de Avaliação do Curso de Arquitetura e Urbanismo do INEP presentes ao CONABEA, relataram a participação da comissão nas ultimas reuniões do INEP e as preocupações levantadas pelos membros com os rumos da política de avaliação do ensino superior levada pelo novo governo. Após as discussões, ficou aprovado: após adequação, enviar ao Ministro da Educação o texto aprovado na XXVI reunião do COSU em Brasília com a posição da ABEA acerca do Exame Nacional de Cursos; Criação de um grupo de trabalho FENEA/ABEA para discutir a proposta de avaliação apresentada pelo MEC; Consultar o MEC sobre o que vai acontecer com os estudantes que concluíram seus cursos e ainda não fizeram o Exame Nacional de Cursos. 7 – Relatório da Diretoria O presidente Itamar Kalil apresenta o relatório das atividades desenvolvidas pela diretoria na Gestão 2001-2003.

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8 – Relatório do Conselho Fiscal O conselho Fiscal composto pelos professores Roberto Py, José Antônio Lanchoti e Wilson Ribeiro faz a leitura do seu parecer sobre a prestação de contas apresentada pela diretoria. O parecer do Conselho Fiscal foi aprovado. 9 – Fórum das Entidades Nacionais dos Arquitetos e Urbanistas O presidente Itamar Kalil faz um relato dos últimos acontecimentos no âmbito do Fórum das Entidades. Depois do Congresso Brasileiro dos Arquitetos o projeto acordado no Fórum foi apresentado ao Senador José Sarney e, depois de passar pelas mãos da senadora Roseana Sarney, está hoje com o Senador Almir lando. O assunto entrou em discussão e foi aprovado o seguinte encaminhamento: divulgação na página da ABEA de todas as atas do Fórum das Entidades desde o início dos trabalhos; criação de um ponto de consulta para esclarecer dúvidas a respeito do projeto, através de consultoria jurídica, nas páginas eletrônicas mantidas pelas entidades que compões o Fórum; Reafirmar deliberações anteriores, inclusive quanto à realização da consulta aos profissionais e dos seminários regionais e nacional. 10 – Próximos eventos – local e tema O presidente encaminha no sentido de delegar à nova diretoria a definição do local do próximo evento, à luz das candidaturas já registradas anteriormente, e propõe que se discuta o tema do próximo evento. A plenária aprovou a proposta de delegar à nova diretoria a definição do local do próximo evento e definiu o tema como sendo: “Habitação e Mobilidade Urbana” 11 – Divulgação dos Resultados da Eleição e Posse da

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Diretoria e Conselho Fiscal Os trabalhos continuaram com a divulgação dos resultados da eleição pela Comissão Eleitoral onde concorreu uma única chapa inscrita para o mandato de 2003- 2004 da ABEA. DIRETORIA EXECUTIVA Presidente JOSÉ ROBERTO GERALDINE JR DE MAUA/SP Vice-Presidente GOGLIARDO VIEIRA MARAGNO MS Secretário FERNANDO J. DE MEDEIROS COSTA RN Sub-Secretário WILSON RIBEIRO DOS SANTOS JR PUCCAMP/SP Secretário de Finanças CLÁUDIO LISTHER MARQUES BAHIA PUCMINAS/MG Sub-Sec. de Finanças ÂNGELA CANABRAVA BUCHNAN PR DIRETORIA ANA ELISEA COSTA UCS/RS CARLOS EDUARDO NUNES FERREIRA UNESA/RJ EULER SOBREIRA MUNIZ UNIFOR/CE GILSON JACOB BERCOC UNIFIL/PR JOSE ACKEL FARES FILHO UNAMA/PA JOSÉ ANTONIO LANCHOTI MOURA LACERDA/SP LINO FERNANDO BRAGANÇA PERES UFSC/SC MARIA DE LOURDES COSTA UFF/RJ NIREU DE OLIVEIRA CAVALCANTI UFF/RJ UBIRAJARA PERCI BORNE UFRGS CONSELHO FISCAL TITULARES ESTER J. B. GUTIERREZ ITAMAR COSTA KALIL ISABEL CRISTINA EIRAS DE OLIVEIRA SUPLENTES DÉBORA VERDE PAULO ROMANO RECHILIAN JÚLIO DE LAMONICA

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BARÃO UFMS/ UFRN/

UEL/

A seguinte moção foi apresentada e aprovada pela plenária: “Os professores, estudantes e dirigentes dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, reunidos no XII CONABEA e XX ENSEA, realizados entre os dias 4 e 7 de novembro de 2003, na Universidade de Caxias do Sul – Campus 8, agradecem à Universidade e ao Curso de Arquitetura e Urbanismo pela infra-estrutura e atendimento colocados à disposição dos participantes, particularmente à sua direção e grupos de estudantes voluntários e o agradável acolhimento que nos foi proporcionado em uma ambiência arquitetônica de destaque.” Na continuidade e tendo cumprido a pauta estabelecida, o presidente eleito e empossado professor José Roberto Geraldine Jr agradeceu em seu nome e em nome da nova diretoria da ABEA a presença de todos. Nada mais tendo a tratar, o presidente deu por encerrado o XXII CONABEA, do qual lavro a presente ata.

Caxias do Sul, 7 de novembro de 2003.

Fernando José de Medeiros Costa UFPel /RS UFBA/BA UFF/RJ

Secretário da ABEA

PUCCAMP/SP UNITAU/S UNIC/MT

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TALIESEM Ana Elísia da Costa Arquiteta Ms., professora da Universidade de Caxias do Sul e-mail: aecosta@ucs.br Edison Humberto VIERO Arquiteto, especialista, professor da Universidade de Caxias do Sul e-mail: eviero@terra.com.br Calíntia Argenta Ceron; Tiago Dallegrave Costa;Rafael Comerlatto; Daniela Longoni; Terezinha Buchebuan Magnus; Raquel Munaro; Cheila Rodrigues Netto; Alessandra Braun Texeira; Rafael Borguetti Zanotto Acadêmicos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da U. de Caxias do Sul e-mail: taliesem@pop.com.br

Resumo O texto tem como tema os escritórios modelos nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e objetiva fazer um relato de experiências do TaliesEM – Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul. Esse relato ganha importância na medida em que as propostas pedagógicas evidenciam a importância da contextualização dos conteúdos e da resolução de problemas no desenvolvimento de aprendizagens, papel esse que os escritórios cumprem com grande eficiência. Por outro lado, esse relato tenta compartilhar possibilidades de vivências práticas por parte de acadêmicos do curso, sem ferir os preceitos éticos de exercício profissional. Inicialmente, apresenta-se o próprio TaliesEM, seu conceito, objetivos e fundamentos. Na seqüência, destaca as três atividades hoje desenvolvidas pelos acadêmicos: a qualificação do desenho da escadaria da COOESP, em parceria com a Secretaria da Habitação; o Plano de Intenções para uma praça dentro do projeto Você Apita – FIAT; e ainda, ações de educação ambiental e patrimonial junto a Ação Comunitária da Universidade de Caxias do Sul.

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Introdução A implantação dos Escritórios Modelos nos Cursos de Arquitetura e Urbanismo tem respaldo nas diretrizes curriculares da área, estabelecidas através da portaria n°1770, de 21/12/ 1994, do Ministério de Educação e Desporto, particularmente em seu artigo 5º. Pretende ser um âmbito de apoio das atividades curriculares, além de possibilitar o necessário desenvolvimento de atividades de pesquisa e extensão a elas vinculadas. Além dessa indicativa legal, torna-se importante salientar a contribuição pedagógica que os Escritórios Modelos poderão dar aos próprios cursos de Arquitetura e Urbanismo. Registrase que, cada vez mais, teorias do conhecimento evidenciam a importância da contextualização dos conteúdos, estabelecendo relações entre teoria e realidade, no desenvolvimento de aprendizagens, pois, como afirma o pedagogo Celso Vasconcellos: “Conhecer é construir significados, através do estabelecimento de relações no sujeito, entre as representações mentais [...] Conhecimento consiste numa representação mental de relações” (VASCONCELLOS, 2000, p. 39). Esse mesmo ponto de vista é compartilhado pelo pedagogo espanhol Rafael Porlãn1 , ao sugerir que aprender é resignificar conceitos e não reproduzir conteúdos. Também nesse universo cognitivo é relevante ressaltar a importância das experiências práticas, normalmente oferecidas através da resolução de problemas, como estratégia de desenvolvimento de aprendizagens e de capacitação profissional. Porlãn sugere que “aprender significativamente está relacionado a resolver e lidar com situações problema e com aquilo que interessa, ou seja funcional” 2 . No mesmo sentido, Vasconcellos argumenta: “O conhecimento é estabelecido no sujeito por sua ação sobre o objeto [...] Sem ação, não há “instalação” do conhecimento no sujeito.” (Vasconcellos, 2000, p.41) Assim, os Escritórios Modelos são, sem dúvida, espaços de aprendizagens significativas e ativas, que podem qualificar a própria formação profissional e evitar exposições inseguras 21


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e danosas do profissional recém-formado diante da sociedade. Historicamente, essa proposta encontra resistência na classe profissional que teme o apoio ou incentivo ao exercício ilegal da profissão. No entanto, essas dificuldades precisam ser superadas, sendo diagnosticadas possibilidades de atuação sem ferir preceitos éticos, tal qual já fizeram outras áreas de conhecimento, como a Medicina e o Direito. Por outro lado, observa-se que a formatação dos Escritórios Modelo permite que os alunos tenham um maior contato com a realidade com a qual irão atuar enquanto futuros profissionais, diagnosticando possíveis campos de atuação profissional, que não só aqueles estabelecidos e visivelmente mantidos pelo mercado de trabalho já quase saturado, o que é também de interesse, não só das academias, como das classes profissionais que devem garantir a manutenção e ampliação do seu espaço de trabalho. Assim, na seqüência, esse relato tenta compartilhar possibilidades de vivências práticas por parte de acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul, sem ferir os preceitos éticos de exercício profissional. 1. O TaliesEM O Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul é um projeto sem fins lucrativos, que visa a melhoria da educação e da formação profissional de seus acadêmicos, através da promoção de vivências sociais e de experiências teóricas e práticas como um todo. A sua denominação TaliesEM é uma referência a um dos projetos do arquiteto Frank Lloyd Wright. O Taliesin foi projetado, inicialmente, para ser a sua casa, com o tempo virou seu escritório e mais tarde a Fundação Frank Lloyd Wright. Implantada numa colina, Wright conceituava o Taliesin como uma “pestana radiante”. A colina era seu lugar favorito e propunha que a casa não deveria ser colocada sobre a colina e sim, pertencer a ela.

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Devia ser uma fábrica, mais que um estúdio e uma casa. Pretendia aqui ter uma vida não convencional ( CAVADAS, 1995, p. 270). Esta foi a inspiração para uma vida acadêmica não convencional. Com o TaliesEM, pretende-se deixar para trás a exclusividade da vivência estática da sala de aula e vivenciar a arquitetura com intensidade, como vida e inspiração. Por fim, resta esclarecer que seus conceitos, objetivos e fundamentos foram traduzidos em um estatuto ainda não concluído, elaborado pelo próprio corpo discente, com o acompanhamento da coordenação do curso, Chefia de Departamento e do professor que representa o corpo docente junto ao TaliesEM – Edison Viero. Este documento está estruturado em oito capítulos: I - Denominação Sede, Finalidades e Duração; II – Quadro Social, Direitos e Deveres; III – Patrimônio; IV – Assembléia Geral Ordinária e Extraordinária; V – Conselho de Administração; VI – Conselho de Professores; VII – Diretoria Executiva e VIII – Disposições Gerais. Para que se tenha claro os objetivos e limites do Escritório Modelo, esse documento é imprescindível, servindo de referência para as tomadas de decisão e condução das experiências desenvolvidas. 2. O TaliesEM na Ação Comunitária A Ação Comunitária é um projeto da Universidade de Caxias do Sul, lançado em 1999, resultante de uma parceria entre a Universidade, empresas e instituições da comunidade. Sua finalidade é contribuir para a promoção social das comunidades carentes da região, através da realização de ações comunitárias preventivas e educativas. As ações comunitárias são realizadas nos bairros e cidades da região e têm, aproximadamente, uma edição mensal. Consistem na oferta de atividades variadas que se estendem durante todo o dia e incluem serviços gratuitos na área da saúde, educação, estética, lazer e meio ambiente (UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL, 2003). 23


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Diante da possibilidade de participação do Curso de Arquitetura e Urbanismo no evento, o TaliesEM, inicialmente, levantou duas possibilidades de atuação – planejamento do próprio espaço em que as atividades ocorrem e ainda, atividades de educação ambiental e patrimonial. No que se refere às atividades de planejamento, a necessidade foi verificada em uma das ações, que apresentava sérios problemas de zoneamento e de sinalização. Já com relação às atividades de educação patrimonial e ambiental, destacou-se especial interesse pelas crianças que se apresentam em número significativo nas atividades e também disponibilidade de tempo para as atividades educativas. Contudo, também ficou estabelecido que as atividades a serem desenvolvidas poderiam assumir diversos formatos, dependendo das circunstâncias que se apresentarem: Patrimônio Urbano; Itinerários Urbanos3 ; Prevenção e Segurança nos espaços públicos. 2.1. A Primeira Experiência – Cidade de Farroupilha Edurbana A Edurbana é uma atividade lúdica, desenvolvida junto a crianças, que busca registrar a percepção dos espaços através da representação – desenhos e maquetes – e do movimento corporal. Através dessa brincadeira, espera-se que as crianças reflitam sobre a construção e organização dos espaços, favorecendo a criação e manutenção de ambientes mais saudáveis e com maior qualidade de vida. Assim, podem ser apresentado como objetivos desse jogo a ampliação dos conceitos de urbanidade, ou seja, a consciência do “pertencer a um lugar”, e de civilidade, aprendendo a conviver com o outro no espaço. A brincadeira foi desenvolvida numa seqüência de três movimentos: (1) “pertenço a um lugar”; (2) “entendo o lugar a que pertenço”; (3) “agindo sobre o nosso espaço”. 24

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No movimento “pertenço a um lugar”, as crianças são solicitadas a desenhar o mapa mental do percurso que faz de casa até a escola. O objetivo dessa atividade pode ser assim descrito: Tem como objetivo analisar as representações que as crianças tem do seu bairro, partindo do princípio que a criança percebe, constrói, vive e organiza o mundo e os espaços de forma particularizada, em contraste com a percepção adulta de espaço, mundo e tempo. Utilizando-se da análise do desenho infantil como uma forma possível de se captar esta representação, alguns aspectos mais específicos são investigados: como a criança se percebe neste espaço? Quais são os atributos espaciais mais significativos? O uso do desenho visa demonstrar também, como esta linguagem - que é um registro significativo na infância, no qual a criança fala de si, do mundo e do outro - funciona como instrumento de investigação e documentação em trabalhos com crianças no campo da educação. (MACIEL, 2003) Esses desenhos são elaborados em giz de cera e papel Kraft de grandes dimensões, para que as crianças fiquem livres quanto ao formato da representação. Depois dos desenhos elaborados, os papéis são fixados nas paredes e as crianças são solicitadas a conhecer e reconhecer Figura 1 – Primeiro Movimento edifícios e espaços importantes Edurbana na Ação Comunitária e/ou estruturantes para o grupo Fonte:TaliesEM (fig. 1). 25

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No segundo movimento – “entendo o lugar a que pertenço” é discutido com as crianças os elementos estruturantes do espaço – casa, rua, lote, quarteirão, centro, bairros, cidade, região... Essa discussão é feita a partir de maquetes em diferentes Figura 2 – Primeiro Movimento da escalas (fig. 2). Edurbana na Ação Comunitária Também são abordados os Fonte:TaliesEM principais edifícios públicos - escola, hospital, Prefeitura, Câmara de Vereadores, Fórum, Museu, Igreja... e como agem na organização do espaço. Por fim, no terceiro momento - “agindo sobre o nosso espaço”, o grupo do TALIESEM é mobilizado pela mesma indagação dos arquitetos espanhóis envolvidos no projeto da ABRINQ: Como seria uma cidade “arquitetada” por crianças e adolescentes? Se perguntássemos a uma criança como ela desejaria que fosse a sua cidade, o que ela diria? Esse é o desafio lançado pela delegação de arquitetos da Espanha na Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, que acontece em setembro, e abraçado por 48 meninos e meninas dos projetos Arrastão - Movimento de Promoção Humana, Gol de Letra e Centro Cultural Vila Prudente, apoiados pelo Programa Nossas Crianças, da Fundação Abrinq. Acompanhados pelo educador espanhol César Munhoz e por 8 arquitetos, eles ensaiaram uma utopia possível: a participação concreta das crianças no pensar e criar a cidade, desde seu início. O resultado, uma maquete de 60 m2 construída pelas pequenas mãos com materiais recicláveis e de

construção, é uma mostra do que acontece quando se permite a intervenção infanto-juvenil na paisagem urbana: esta passa a obedecer outra lógica, baseada em seus desejos e necessidades. O Brasil tem mais de 60 milhões de crianças e adolescentes em sua população. Se esta cidade “ideal”, pensada por e para nossas crianças, servir de base para reflexão para aqueles que constróem nossos espaços urbanos, já terá cumprido sua função. Afinal, uma maquete nada mais é que a projeção de algo que ainda não existe, mas que se pretende criar. (FUNDAÇÃO ABRINQ PELOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2003) Assim, as crianças são lançadas na proposta de planejar e construir uma cidade, num desenho coletivo e através de uma maquete, empregando embalagens e materiais alternativos (fig. 3). Como avaliação, pode-se concluir que o trabalho foi bem proveitoso do ponto de vista de envolvimento das crianças e da comunidade em geral. Contudo, as atividades são merecedoras de uma pesquisa que busque sistematizar os resultados alcançados. A perspectiva é que seja elaborada uma parceria com os Departamentos de Psicologia e Pedagogia, favorecendo as atividades interdisciplinares.

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Caminhos de um Cocô Além da atividade acima descrita, o grupo elaborou um enorme painel sobre as alternativas de saneamento urbano e a importância da fossa séptica nas casas, por mais simples que elas sejam, e o que acontece quando não se tem direcionamento do esgoto e do não uso da fossa.

Figura 3 –Terceiro Movimento da Edurbana na Ação Comunitária Fonte:TaliesEM


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Pelas suas cores primárias e o teor humorado de seu título, o painel objetivava ter grande apelo junto à comunidade. Assim, mais do que ter como público alvo as crianças, o painel objetivava atingir os pais das mesmas enquanto aguardavam o encerramento Figura 4 –Terceiro Movimento da da brincadeira. Importa observar Edurbana na Ação Comunitária que no planejamento das cidades, Fonte:TaliesEM as crianças tinham que resolver o problema do esgoto, quer com um rede coletora, quer com o uso das fossas sépticas (fig. 4). 2.2. A Segunda Experiência – Bairro Desvio Rizzo Jogo da Memória – Memória da Cidade Essa atividade parte do pressuposto de que a Educação Patrimonial possui um caráter pedagógico, capaz de gerar informação e formação, ou seja, capaz não só de comunicar e construir uma cultura, mas também de ajudar a formar cidadãos (NUPEP, 2003). Esse argumento pode ser desenvolvido a partir da própria metodologia empregada. Num primeiro momento, a educação promove o conhecimento e o reconhecimento do que é importante para a sociedade, passando pela sua significação coletiva e plural; depois, elege os bens dignos de preservação e, por fim, inicia ações decisivas de proteção. Nesse processo de reconhecer, eleger e proteger os bens patrimoniais, é importante observar que os sujeitos passam a conhecer a história do seu povo e a atuar como agentes participativos, possibilitando o surgimento da figura do cidadão. O Jogo da Memória da Cidade desenvolvido pelo TaliesEM busca agir no primeiro estágio desse processo pedagógico, ou seja, na promoção do conhecimento e reconhecimento do seu patrimônio arquitetônico, resgatando uma relação de afeto da

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comunidade pelo patrimônio. Só assim, o poder público e a sociedade em geral poderá desenvolver ações legítimas de preservação dos seus bens. Importa observar que a cidade assiste, recorrentemente, a negligência quanto ao seu patrimônio arquitetônico e urbanístico, resultando no seu abandono, descaracterização e destruição. Por outro lado, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico de Caxias do Sul – COMPHAC- vem, aridamente, desenvolvendo poucas ações para a preservação desses bens, lidando com a ganância imobiliária e/ou com a pouca sensibilidade e conscientização por parte da população e do próprio poder público. Hipoteticamente, esse quadro decorre da lacuna no processo de educação patrimonial, onde ações de eleição e proteção dos bens ocorrem a revelia do reconhecimento dos seus valores por parte da população em geral. Metodologia: O Jogo da Memória – Memória da Cidade foi desenvolvido a partir de outro jogo – o Memodíptico1 , que retrata cenas do casario de Porto Alegre, confrontando o edifício em seu contexto e o edifício isolado. No nosso caso, o jogo foi elaborado a partir da confrontação de fotografias atuais e antigas dos edifícios (fig. 5 e 6). Essa confrontação objetiva evidenciar a existência duradoura dos edifícios ao longo do tempo e, em casos de descaracterização, os valores arquitetônicos originais.

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Figuras 5 e 6 - Imagens da Residência Sassi no Jogo da Memória Fonte: CINQUENTENÁRIO..., 1925, p. 66 e TaliesEM


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Manter o patrimônio cultural, portanto, muito além da conservação física - de lugares históricos, prédios públicos, museus, monumentos, natureza significa resgatar a memória e os valores que originariamente levaram a se considerar aquele personagem, aquele lugar, aqueles objetos ou prédios como patrimônios da coletividade. Valorizar o patrimônio cultural significa interagir com o meio em que se vive – o patrimônio que a humanidade tem. (LACZYNSKI, 2003) Ludicamente, ao despertar a atenção e o olhar do jogador, que pode ser grupos de qualquer idade, espera-se que essas imagens passem a ter uma certa imageabilidade2 , vindo o edifício a ser conhecido ou reconhecido como um patrimônio digno de preservação (fig. 7). O Jogo - Evolução Buscando a atenção das crianças, desenvolveu-se também um jogo de tabuleiro, inspirado no “Jogo da Vida”, da Grow (fig. 8). O jogador joga dados e, conforme o número tirado, anda as casas do tabuleiro, evoluindo desde a chegada dos colonizadores até a forma- Figura 7 – Jogo da Memória na Ação ção da cidade. Num dado Comunitária – Bairro Desvio Rizzo Fonte:TaliesEM momento, o jogador recebe uma profissão (prefeito, industriário, professor, policial, etc) e a responsabilidade pelas ações na cidade dentro desta área passa a ser sua. Se cai numa casa com ação negativa, por exemplo, poluição das águas por uma indústria, o industriário é punido voltando algumas casa no jogo. Ou seja, baseia-se na res30

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ponsabilidade que cada um tem sobre o lugar em que vive e no que isso reflete no planeta. Desde a chegada dos colonizadores, passando pelos dias atuais, até o nosso provável futuro, o jogo se desenvolve com informações pedagógicas sobre a Figura 8 – Jogo Evolução na Ação – Bairro Desvio Rizzo formação das cidades e Comunitária Fonte:TaliesEM gerenciamento ambiental, no intuito de explicitar que cada ação, por menor que seja, reflete de alguma maneira na vida de todos, enfatizando a importância do coletivo. Pensa-se para as próximas ações comunitárias, desenvolver o jogo do tamanho da criança, para que ela mesma seja o peão a percorrer os caminhos da cidade. 3. O TaliesEM na COOESP O TaliesEM foi procurado pela presidente da Cooperativa Esperança do Vale COOESP, uma associação de moradores de um bairro carente de Caxias do Sul, para que fosse desenvolvida uma proposta de qualificação do traçado de alguns Figura 9 - Reunião com a Secretaria de acessos, áreas públicas e, habitação principalmente, da escada- Fonte:TaliesEM ria da área, realizada pela Prefeitura. O trabalho foi realizado juntamente com a Prefeitura, pelo fato desta área estar sendo regularizada pela Secretaria de

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Habitação (Fig. 9). Seguindo a metodologia já adotada por essa Secretaria, as decisões projetuais foram tomadas juntamente com os moradores, em reuniões-relâmpago, em que foram discutidas questões coletivas e individuais (fig. 10). O TaliesEM esteve presente na demarcação dos lotes e pátios privados e dos caminhos coletivos (fig. 11). O processo atualmente encontra-se parado, devido a não execução do levantamento topográfico das demarcações, inviabilizando a continuidade dos trabalhos.

Figura 10 - Reunião com a população da COOESP. Fonte:TaliesEM

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Neste ano, o projeto tem como tema a mobilidade, expressa na seguinte missão: “convocar jovens à atuação democrática e solidária para a solução dos problemas de mobilidade emergente de suas comunidades”. (FIAT e UNESCO, 2002) Entre os objetivos explicitados no projeto, destaca-se: desenvolver a sensibilidade e observação em relação aos fatos do cotidiano; buscar alternativas que promovam a igualdade de oportunidades de acesso e mobilidade para toda a comunidade; contribuir para a construção de uma sociedade democrática e mais fraterna. O TaliesEM no projeto Você Apita – Fiat

Figura 11 - Levantamento métrico da COOESP. Fonte:TaliesEM

4. O TALIESEM no Você Apita - Fiat O Projeto Você Apita é desenvolvido pela FIAT - empresa do setor automobilístico, e tem entre seus objetivos aderir à proposta internacional da UNESCO de desenvolver uma cultura de paz. Trata-se de um projeto de ação educativa que, no Brasil, vem sendo desenvolvido em cidades de diferentes estados. Numa parceria entre o Você Apita – Fiat e escolas da rede pública de ensino, tem-se como protagonistas crianças e jovens. Além disso, o projeto conta com diversos colaboradores, desde voluntários, organizações governamentais e não governamentais até empresas públicas e privadas. Estes colaboradores são contatados pelo coordenador do projeto de cada cidade.

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A coordenadora do Projeto Você Apita FIAT – Caxias do Sul, Daniela Fagundes, através de contato com a coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul, solicitou a colaboração do curso na elaboração de um plano de intenções para uma praça. O objeto de estudo seria uma área verde pública, na região do Bairro Esplanada (fig.12), em frente à Escola Basílio Tcacenco, a qual já tem seus alunos integrados em outras atividades do Projeto Você Apita – FIAT. Em conjunto com a comunidade, os integrantes do TaliesEM estão assumindo a responsabilidade de desenvolver o diagnóstico da área

Figura 12 – Área de intervenção do Projeto Você Apita - FIAT Fonte:TaliesEM

Figura 13– Jogo das Cadeiras Cooperativas no Projeto Você Apita - FIAT Fonte:TaliesEM

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e um plano de intenções para a praça. Esse trabalho também vem sendo acompanhado, voluntariamente, pelos professores do curso Paulo Rogério De Mori e Andréa dos Santos. Importante registrar que a metodologia adotada é a mesma da Edurbana, já dis- Figura 14 – Envolvimento das crianças no cutida nas atividades da Projeto Você Apita - FIAT Ação Comunitária. Pelas Fonte:TaliesEM condições de trabalho, a programação foi acrescida do Jogo das Cadeiras Cooperativas (DEACOVE, 2002), um rico instrumento para discutir a importância do outro na construção do espaço (fig. 13 e 14).

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Por fim, também é relevante observar que esta formatação favorece as relações interpessoais, tanto dos alunos entre si, especialmente alunos de diferentes semestres, quanto dos alunos e professores ou alunos e sociedade, sendo essa condição importantíssima na mobilização para a construção do conhecimento e para a consolidação de uma identidade de grupo. Referências Bibliográficas e Fotográficas

De modo geral, observa-se que as experiências envolvendo crianças são muito gratificantes para o grupo, uma vez que além de participar da formação dessas crianças, acaba-se atingindo, por conseguinte, os adultos. Com brincadeiras, desenhos e jogos, pode-se fazer com que as crianças construam conhecimentos relacionados ao desenvolvimento urbano das cidades, à importância da preservação de prédios históricos e do saneamento básico, e o principal - que todos são responsáveis, agentes, pela qualidade do espaço em que se vive. As atividades também têm sido oportunidades ímpares para divulgação e valorização da profissão de arquiteto e urbanista, evidenciando a importância de sua atuação, desde a construção de uma casa até o planejamento das cidades. Academicamente, acredita-se que as experiências do TaliesEM podem vir a qualificar o próprio curso, uma vez que tais experiências promovem um constante diagnóstico da realidade, capaz de realimentar e reformular as abordagens das próprias disciplinas de graduação.

CAVADAS, Fernando Pereira (1995). Frank Lloyd Wright. 6° ed. Barcelona: Gustavo Gili, 1995. CINQUENTENÁRIO DELLA COLONIZZAZIONE ITALIANA NEL RIO GRANDE DEL SUD. (1925). Porto Alegre: Globo, 1925. COSTA, Manuel da (2001). Memodíptico. 1° ed. Porto Alegre: 2001 DEACOVE, Jin (2002). Manual de Jogos Cooperativos. Santos: Projeto Cooperação, 2002. DEL RIO, Vicente (1990). Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. São Paulo: Editora PINI, 1990. FIAT E UNESCO (2002). Projeto Você Apita 2002. São Paulo: Centro de Coordenação Fiat para os Jovens, 2002. FUNDAÇÃO ABRINQ PELOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Cidade Brinquedo. http:// www.fundabrinq.org.br/?pg=noticias&noticia=acont02 [on line acesso out. 2003] LACZYNSKI, Patrícia. Educação Patrimonial. http://www.polis.org.br/ publicacoes/dicas/ 162026.html [on line - acesso out. 2003] NUPEP - NÚCLEO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO PATRIMONIAL. Apresentação. http://www.nupep.hpg.ig.com.br/ apresentacao.htm [on line - acesso out. 2003]I TALIESEM (2003). Estatuto do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul. UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL. http://www.ucs.br [on line acesso out. 2003]. VASCONCELLOS, Celso dos Santos (2000). Construção do Conhecimento em sala de aula. São Paulo: Libertad, 2000.

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Conclusão:


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VIII JORNADA PEDAGÓGICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA ASPEA (2001). Pedagogia Urbana - Contributo para um futuro sustentável. http://www.iie.min-edu.pt/proj/ambiental/aspea.doc [on line - acesso out. 2003]. MACIEL, Marcelo de Abreu (2003). Drawing, Space and Representation of the Hospitalized Child Through Playing. http:// www.geocities.com/saudebrincar/proj_marcelo.htm [on line acesso out. 2003].

NOTAS: 1 Conferência feita na Universidade de Caxias do Sul, em abril de 2002, como parte do Programa de Qualificação Docente. 2 Para Porlãn, “a busca da solução pode ser altamente estimulante, fazendo os alunos acessarem sua potencialidade epistêmica, concepções prévias, aprender novos conceitos, condutas e habilidades. A tendência do aluno é buscar a solução, vendo o implícito dentro de si mesmo, percebendo que são portadores de saberes, que podem estar desorganizados, mal compreendidos, desarticulados, mas que existe. Nesse processo cabe ao professor ajudar o aluno a sistematizar, organizar, articular o que o aluno pode fazer em termos de busca [...] Dessa forma o processo de resolução é rico para propiciar aprendizagens. (Novamente, fica evidente outro papel do professor: criar estratégias que levem o aluno a refletir sobre o processo aprendendo com ele e não apenas ficar atento ao resultado final)” 3 Ver também VIII JORNADA PEDAGÓGICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA ASPEA (2001) 4 COSTA, Manuel da. Memodíptico. 1° ed. Porto Alegre: 2001 5 Imageabilidade - capacidade de uma imagem ser forte o suficiente para “saltar fora”, impondo-se na memória e na percepção do observador (DEL RIO,1990, p. 93)

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PROJETO INTEGRADO: UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA Análise crítica sobre a experiência de ensino através de Projeto Integrado Final do 1º ciclo do curso de Arquitetura e Urbanismo do UnicenP Carlos Eduardo U. BOTELHO Professor, arquiteto e urbanista, Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Núcleo de Ciências Exatas e Tecnológicas – Centro Universitário Positivo (UnicenP) Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – CEP 81280-330, Campo Comprido, Curitiba, PR., Fone: 317-3029, Fax: 317-3030, e-mail: arquitetura@unicenp.br. Giselle L. DZIURA Professora Mestre (PROPAR-UFPR/PUCPR-2000), arquiteta e urbanista, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Núcleo de Ciências Exatas e Tecnológicas – Centro Universitário Positivo (UnicenP) – Coordenadora do Projeto Integrado do 1º ano do curso de Arquitetura e Urbanismo. Professora do Curso de Pós-Graduação – Ciberarquitetura – expressão e representação digital em arquitetura. Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – CEP 81280-330, Campo Comprido, Curitiba, PR., Fone: 317-3029, Fax: 317-3030, e-mail: arquitetura@unicenp.br, dziura@unicenp.br Haraldo H. FREUDENBERG Professor Mestre (PROPAR-UFPR/PUCPR-2000), arquiteto e urbanista, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Núcleo de Ciências Exatas e Tecnológicas – Centro Universitário Positivo (UnicenP). Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – CEP 81280-330, Campo Comprido, Curitiba, PR., Fone: 317-3029, Fax: 317-3030, email: arquitetura@unicenp.br, freudenberg@uol.com.br

Resumo Na busca de envolver o aprendizado do aluno de uma nova forma sistêmica, o curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Positivo - UNICENP em Curitiba-PR, desenvolveu um diferencial conjuntural em seu projeto pedagógico, que se estabelece num processo auto avaliativo dos conteúdos disciplinares ministrados através de um Projeto Integrado de Final de Série, aos moldes do trabalho de final de graduação tradicional. Essa sistemática pretende, ao se estabelecer como resultado de uma proposta arquitetônica individual, um instrumento definitivo da verificação do processo de aprendizagem das disciplinas, em cada estratificação de formação do Curso correspondente aos 1º, 2º, 3º e 4º anos letivos. O desenvolvimento e metodologia do trabalho experimentado, procuram buscar o sucesso da integração entre as áreas: 37


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A palavra Arquitetura deriva do latim “ARCHTECTUM” ARCH significa arte e TECTUM significa teto, no sentido de abrigo, e, técnica no sentido de saber fazer. Arquitetura, portanto deve agregar e estabelecer vínculos entre arte e técnica. Uma das grandes tarefas do profissional e do ser humano é

saber se localizar dentro do seu ambiente para que possa extrair o máximo de informações e gerenciá-las a seu favor e em favor da sua formação integral. Usualmente, durante a realização do curso, caminha-se por disciplinas, matérias e conteúdos sem a consciência do que se está realmente fazendo, ou do real contexto em que se está inserido. Ao final do curso, o discente melhor preparado, será aquele que soube, em cada campo, apreender os diversos conteúdos e enxergar as conexões que possam ocorrer entre eles. A Arquitetura é capaz de encantar aqueles que a estudam, transformando-nos em apaixonados pelo seu campo de trabalho. Contudo, uma das funções acadêmicas é o despertar para a razão do fazer. Na Antigüidade só havia o arquiteto. Não havia o engenheiro. (A arquitetura é uma das profissões mais antigas da história da humanidade). Era também, do arquiteto, o papel do construtor, que tomava todas as decisões relativas à obra. Na Grécia antiga o termo techné não diferenciava arte e técnica. Na língua japonesa não há distinção entre arquiteto, construtor e engenheiro: a palavra kenchiku designa igualmente as três atividades, assim como o próprio edifício. Para Vitruvio, por exemplo, arquitetura é função de ordem, arranjo, simetria, adequação e economia, bem como de relações que estão sintetizadas na sua conhecida tríade firmitas / utilitas / venustas, que poderia ser traduzida por solidez / utilidade / beleza. Hegel viu a arquitetura como uma arte simbólica (quer pelo seu modo de representação, quer pelo seu conteúdo), cujo problema central é o de dar forma sensível a uma idéia. Há inúmeras definições para arquitetura, e em cada uma vem contido o ponto de vista do autor. Para Le Corbusier, mais do que a tentativa de uma definição esclarece sob a forma de um manifesto, a sua visão de arquitetura. Partindo de uma denúncia violenta ao ecletismo do Século XlX e aos estilos, oferece a sua versão. Deixa transparecer sua filiação ao racionalismo francês ao afirmar que “a casa é a máquina de morar”, mas mostra também o seu outro lado, o de grande pintor e artista

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teórica, técnica e prática. Busca-se, como primeira etapa fundamentar o aluno na definição do tema, na programação das atividades e na pesquisa inerente ao assunto; na segunda procura-se substanciar o aluno na delimitação da região de abrangência e do local de implantação do projeto de estudo, assim como no inventário, análise e diagnóstico de seus componentes essenciais e na terceira, orientar o aluno no desenvolvimento e processo de execução do projeto, assim como a expressão gráfica e defesa oral das propostas elaboradas e submetidas a uma banca de avaliação com professores do curso. Assim, a partir dessa nova experiência pedagógica, permitiu-se que o aluno desenvolvesse, desde o início das suas atividades acadêmicas, uma visão sistêmica da arquitetura, refletida através da integração das disciplinas. Após a aplicação dessa interação observou-se que houve uma contínua melhora na capacidade de percepção espacial, entendimento e expressão da arquitetura e urbanismo. Os resultados dos trabalhos evidenciam ano a ano, que os alunos procuram desenvolver as inter-relações multidisciplinares que envolvem o projeto de arquitetura e urbanismo. No presente relataremos especificamente a experiência do primeiro ano do curso. Palavras-chave: Projeto Integrado, integração disciplinar, experiência pedagógica. FILOSOFIA DO PROJETO DE CURSO “O objetivo da arquitetura é a criação da eficiência perfeita e, portanto, mais bela.” Bruno Taut


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que foi, ao escrever que “a arquitetura é para emocionar”, e que “está além das coisas utilitárias”. Mais importante do que estabelecer uma definição única para arquitetura é compreender que da mesma maneira que o mundo está em constante transformação, também se transformam as necessidades do homem e com elas, a arquitetura - e todo o instrumental que a envolve, tanto no que se refere ao ensino, quanto ao exercício da profissão. Nosso aluno deve estar apto a adaptar-se à diferentes contingências, compreendendo necessidades, diagnosticando problemas e buscando soluções que agreguem, além de solidez, utilidade e beleza - economia de recursos naturais e respeito ao usuário e ao meio ambiente. Arquitetura e tecnologia Outro ramo do conhecimento humano que está intimamente ligado com a arquitetura é a tecnologia. Téchné significa saber-fazer. Não um saber ligado ao conhecimento de leis e números, conhecimento ao qual se chega através do uso da mente de forma exclusiva, mas um saber ligado à nossa habilidade e perícia de moldar as formas da natureza segundo a nossa necessidade. Tecnologia é o estudo do saber-fazer. O estudo da necessidade humana na busca da quebra de barreiras propostas pelo universo que nos cerca. É a busca da ferramenta mais adequada para resolver nossos problemas. Tomas Edison classificava como “tool-man”, o homem que busca ferramentas para a solução de seus problemas ou superação de suas necessidades. O desenvolvimento tecnológico, assimilado e transmitido durante a formação de uma turma de arquitetura, representa um desafio que apresenta múltiplas facetas. Primeiro, um corpo docente consciente da necessidade de atualização e que procure estar em sintonia com o estado da arte em constante evolução, presente na academia, indústria e comércio. Segundo, um currículo ágil para que tenhamos um profissional formado e falando a linguagem atualizada de sua área, sob pena de apresentarmos uma imagem de uma instituição no seu con40

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junto desatualizada. E em terceiro, investimento e parcerias permanentes nas áreas do curso para que tenhamos laboratórios de profissionalização que respondam às necessidades dos nossos alunos. Arquitetura e arte A arte, expressão particular que nos define como humanos, é um componente fundamental da arquitetura. O que vai definir uma arquitetura de qualidade é o equilíbrio entre arte e tecnologia. O que significa dizer que tanto durante a graduação, quanto ao longo da vida profissional, nós arquitetos, nos preparamos continuamente, para nos aproximarmos do artista e dos significados da construção, do conteúdo simbólico de uma obra e do técnico, que compreende como as coisas funcionam. Fazendo isso continuamente, desde o programa de necessidades de uma obra que deverá ganhar um corpo físico - artefato arquitetônico - até a estrutura que a sustenta. A arquitetura é uma arte que se realiza na construção, da mesma forma que a música se realiza no som e a literatura na linguagem verbal. Mas a música não é o som, nem a literatura é a linguagem (ou vice-versa), assim como a arquitetura não é apenas edificação. De acordo com STROETER (1934, pág. 122), arquitetura, música e literatura são a arte de manipular os meios de realização de modo a torna-los expressivos. A arquitetura, portanto, é algo que está fora do seu meio de realização, apesar de fazer uso dele. Vale-se da construção para atingir objetivos que estão além dela: os volumes, os espaços livres, a luz, a perspectiva, a integração com a paisagem, o abrigo, o monumento, a ideologia, etc. O projeto é de uma construção, mas o processo mental que levou até ela, e o próprio resultado final, são arquitetura. Objetivando o Método didático Segundo a Conferência Mundial de Educação Superior, realizada de 5 a 9 de outubro de 1998, em Paris, seria necessário introduzir no Ensino Superior métodos pedagógicos fundamentados na aprendizagem, para formar profissionais que, benefi41


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O curso de Arquitetura e Urbanismo do UnicenP trilha o caminho da interdisciplinaridade do ensino, visando desenvolver ao máximo todas as ferramentas e capacidades do futuro arquiteto, como profissional completo. Interdisciplinaridade significa tecer junto, integrar as várias ramificações de uma determinada área do conhecimento. O tema integrado, que se realiza no último bimestre, do primeiro ao quarto ano; e o TFG no quinto ano, desenvolvem nos discentes a capacidade de resolver problemas complexos sob diversos enfoques, do teórico ao prático. Esperamos construir assim, no intervalo de alguns poucos anos, um curso de excelência em Arquitetura e Urbanismo, em arte e tecnologia.

Sendo a Arquitetura âmbito de conhecimento interdisciplinar - e sendo necessária para a formação do indivíduo arquiteto a contribuição de diversas áreas, tais como: ciências humanas, artes e tecnologia - a atuação coerente do arquiteto deve sempre considerar a síntese desses conhecimentos. Conforme a “Carta de la Formación en Arquitectura - UIA Unesco” (1996), o objetivo básico da formação de arquitetos é formar o arquiteto como um generalista capaz de compreender e intervir no processo de adequação do entorno construído às necessidades humanas. Entendemos, no Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Positivo, que a formação do arquiteto é universal, abrangente e generalista, e que isso estabelece o paradigma a ser pretendido na formação do profissional contemporâneo. Essa ideologia se enquadra nas indicações mais recentes propostas pelas instituições profissionais dos arquitetos brasileiros e estão em consonância com o ideário das instituições, tanto educacional quanto de representação profissional, nacionais e internacionais, como política de formação e atuação do arquiteto para o século XXI. A atual estrutura curricular do Curso de Arquitetura e Urbanismo do UnicenP foi efetivada em 2000, sendo as seguintes as diretrizes que estruturam o currículo com base no pressuposto de formar arquitetos e urbanistas em condições de atuar, com grau de excelência, como profissionais liberais em instituições públicas e privadas, em todos os campos de competência de sua profissão (planejamento e projeto urbanístico, paisagístico e arquitetônico - edificação, interiores e restauro). A concepção do Curso de Arquitetura e Urbanismo do UnicenP está centrada no comprometimento com a necessidade de aprendizado em todo o território do campo do conhecimento necessário para o desempenho profissional do Arquiteto e Urbanista. Um curso idealizado para ser voltado para o debate, reflexão e memória, capaz de captar e estimular novas tendências e por conseqüência identificar e promover novos talentos.

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ciados por ter aprendido a aprender e a empreender, estariam em condições de criar seus próprios empregos, ter sua própria unidade de produção, e contribuiriam assim para reduzir o flagelo do desemprego. Pretendemos, em vista do colocado, formar em nossos alunos a capacidade de aprender, não para a vida, mas ao longo da vida. Dessa maneira, tecnologia, arte e capacidade de adaptação a mudanças interagem em harmonia, pois acreditamos que a arquitetura é um todo formado por essa tríade e de maneira particular, em cada acadêmico. “...aqueles arquitetos que puseram todo seu esforço sem possuir uma suficiente cultura literária, ainda que fossem muito hábeis com suas mãos, não foram capazes de alcançar seu objetivo nem de adquirir prestígio em seu trabalho; pelo contrário, os arquitetos que confiaram exclusivamente em seus próprios raciocínios e em sua cultura literária, dão impressão que perseguem mais uma sombra que a realidade. Porém, os que aprenderam a fundo ambas, sim o conseguiram, adquirindo enorme consideração, pois se equiparam com todas as defesas, como assim foi seu objetivo.” Marcus Vitruvius Pollio, 27 a.C.


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Desta forma, uma das principais diretrizes para o desenvolvimento do Curso está organizada para a análise da arquitetura, do lugar e seu território, questionando a contribuição da produção arquitetônica e urbanística na formação de paisagens e cidades, tendo-se como meta a configuração da estrutura espacial como um todo e não apenas do edifício de forma isolada. O espírito de crítica analítica apropriada e a vocação para a ponderação de argumentos, são princípios fundamentais na formação do caráter do arquiteto idealizado pela nossa coletividade acadêmica. Nessa apresentação nos propomos ao recorte da descrição da experiência didática específica do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Positivo - UnicenP, desenvolvida no 1º Ciclo de formação do seu Curso, quando do exercício do Tema Integrado do 1º ano do Curso, em sua estruturação e resultados didáticos, alcançados, referentes ao inusitado da proposição de trabalho. O PROCESSO DE ENSINO E O 1º CICLO DE FORMAÇÃO O processo de ensino-aprendizagem do curso baseia-se no conjunto de atividades didático-pedagógica descritas na Portaria 1770/93 do MEC, se estrutura em três ciclos de formação: 1º Ciclo: Formação Fundamental (1º ano), 2º Ciclo: Formação Profissionalizante (2º, 3º e 4º anos), 3º Ciclo: Formação Integral ( 5º ano). O 1o Ciclo (Formação Fundamental) é orientado para a formação básica, envolvendo o primeiro ano do Curso, correspondendo a 800 horas-aula de disciplinas obrigatórias, das quais 160 são voltadas à Área de Teoria (20%), 480 estão relacionadas à Área de Técnica (60%) e 160 são referentes à Área de Prática (20%). Pretende-se que nesse ciclo o aluno tenha uma visão completa do quadro geral de sua futura competência profissional, bem como do conjunto de disciplinas do Curso. Neste, ainda, os assuntos são tratados em diferentes 44

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escalas de abordagem, permitindo uma visão geral da área de atuação do Arquiteto e Urbanista. ESTRUTURA DAS DISCIPLINAS DO 1º CICLO A fim de promover a maior integração possível entre as disciplinas obrigatórias, preservando o caráter de multi, inter e transdisciplinariedade do curso e do profissional a ser formado, as ementas das disciplinas têm estruturas semelhantes para facilidade de identificação desta integração: PROJETO INTEGRADO: COMPOSIÇÃO Ementa: conceitos, princípios e prática de expressão visual, estrutura formal e composição volumétrica. Semiologia na arquitetura, paisagismo e urbanismo. EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO: DESENHO Ementa: princípios, métodos, técnicas e aplicação prática do desenho livre, desenho geométrico, desenho arquitetônico e perspectiva. Linguagem gráfica para arquitetura, paisagismo e urbanismo. EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO: TÉCNICAS COMPLEMENTARES Ementa: Conceitos, princípios, métodos, técnicas e aplicação prática da expressão oral, expressão escrita, modelagem tridimensional (maquete) e fotografia. Noções de computação: conceitos e princípios. Programas aplicativos em computação gráfica. Princípios, métodos, técnicas e aplicação prática da computação gráfica para arquitetura, paisagismo e urbanismo. Desenvolvimento de projeto assistido por computador. FUNDAMENTOS: TEORIA Ementa: Noções de estética e semiologia: conceitos, processo artístico e significação. Bases teóricas: conceitos, concepção, escalas de intervenção e exemplos de arquitetura, arquitetura de interiores, arquitetura de patrimônio, paisagismo, planejamento paisagístico, desenho urbano e

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planejamento urbano e regional. Métodos e técnicas de pesquisa aplicada à arquitetura, paisagismo e urbanismo: eficiência nos estudos; leitura e análise crítica; leitura e percepção espacial; organização e produção técnica e científica; normas, métodos e técnicas para elaboração e apresentação de trabalhos técnicos e científicos. FUNDAMENTOS: HISTÓRIA Ementa: análise da evolução da produção artística, da arquitetura (inclusive de interiores e de patrimônio), do paisagismo e do urbanismo nos períodos históricos característicos, a nível mundial, do Brasil e do Paraná. BASES TÉCNICAS Ementa: noções técnicas básicas: conceitos, métodos, técnicas e exemplos sobre tecnologia, sistemas estruturais e conforto ambiental aplicados à arquitetura, paisagismo e urbanismo, componentes da obra de arquitetura, do agenciamento paisagístico e da intervenção urbana e regional. TOPOGRAFIA Ementa: noções de topografia, aerofotogrametria, topologia, foto-interpretação e cartografia: conceitos e princípios. Topografia aplicada à arquitetura, paisagismo e urbanismo: métodos, técnicas e aplicação prática.

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Na 1ª etapa (1º bimestre), a disciplina mestra Projeto Integrado: Composição trabalha com exercício prático “Alma do objeto”, o qual desenvolve conceitos relativos a polaridades, preferencialmente bidimensionais, e que explora o desenvolvimento teórico da expressão da linguagem visual. Paralelamente a disciplina de Expressão e Representação: Desenho procura desenvolver a percepção espacial, conceitos de representações gráficas e introdução ao desenho. Essa disciplina possui como atividade integrada a representação bidimensional do exercício prático da “Alma do objeto”. Além disso, busca-se compreender a importância da mentalização do espaço (observação, treinamento e persistência) para a arquitetura e sua representação, através de da atividade “Mentalização do espaço”, integrando as disciplinas de Expressão e Representação: Desenho e Expressão e Representação: Técnicas Complementares. INTEGRAÇÕES 1ª ETAPA Projeto Integrado: Composição, Expressão e Representação: Desenho; Expressão e Representação: Técnicas Complementares

O PROCESSO DE ENSINO DO 1º CICLO O conteúdo e sua recorrente avaliação dividem-se em quatro etapas com caráter formativo e, ao longo de todo o processo, contempla o processo de ensino com atividades integradas. Esse processo é somatório, ou seja, à medida que ocorrem as etapas (1º, 2º, 3º e 4º bimestres), as disciplinas vão gradualmente integrando as atividades pedagógicas ao longo das etapas, e então conduzidas ao coroamento do Projeto Integrado, no qual todas as disciplinas são integradas através de um único tema de projeto arquitetônico. 46

Fig. 1 e 2 – Trabalhos 1º etapa Projeto Integrado: Composição

Na 2ª etapa (2º bimestre), a atividade da disciplina de Projeto Integrado: Composição consiste num volume compositivo 3D a partir do conjunto de obras de um arquiteto, através de

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interpretação livre da “Alma do arquiteto”, exercício que exige desenvolvimento de pesquisa teórico/gráfico, com apresentação da pesquisa e proposta final com aplicações do software Office PowerPoint investigado na disciplina de Expressão e Representação: Técnicas Complementares. Busca-se também, a interação entre as disciplinas de Fundamentos: Teoria e Fundamentos: História, que articula espaços que se relacionam aos grandes mestres da arquitetura, e ainda a atividade integra-se com a disciplina de Expressão e Representação: Desenho, que desenvolve desenhos técnicos da composição 3D obtida, no sentido de envolver o aluno com a técnica, sem perder de vista seu envolvimento teórico. INTEGRAÇÕES 2ª ETAPA Projeto Integrado: Composição, Expressão e Representação:Desenho, Fundamentos: teoria, Fundamentos: história e Expressão e Representação: Técnicas Complementares. Na 3ª etapa (3º bimestre), o exercício prático da disciplina de Projeto Integrado: Composição introduz o conceito de arquitetura do movimento, do encontro e do diálogo entre objetos, paisagem e pessoas. Busca-se desenvolver a percepção espacial e capacitar o aluno a compreender e utilizar os conceitos de: ritmo, continui-

Fig. 3 – Trabalho 2º etapa Projeto Integrado: Composição “Alma do Arquiteto” : Richard Meier - Alunas: Camila Mantovani Pereira e Makerli (2003)

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dade, fluidez espacial, estrutura de começo (introdução), meio (desenvolvimento) e fim (conclusão), pausa (espaços de transição), circulação, arranjos espaciais, ordem, integração e segregação. O trabalho consiste em representar através de uma composição 3D, Fig. 5 – Trabalho 2º etapa Projeto Integrado: “Alma do Arquiteto” : Daniel três sensações dadas, de- Composição Libeskind - Alunos: Tiago Thomaz e Juliano finindo um percurso linear. Nowak (2003) Busca-se neste momento do curso, integrar as disciplinas de Fundamentos: Teoria, Fundamentos: História, Expressão e Representação: Desenho, Expressão e Representação: Técnicas Complementares. Paralelamente, a representação do desenho Fig. 6 – Trabalho 2º etapa Projeto Integrado: Composição “Alma do Arquiteto” : Luis arquitetônico busca seu de- Barragan - Alunos: Rafaela Vicente e Juliano senvolvimento e Mansano (2003) detalhamento através de aulas práticas na disciplina de Expressão e Representação: Desenho e aulas teóricas na disciplina de Bases Técnicas.

INTEGRAÇÕES 3ª ETAPA

Fig. 4 – Trabalho 2º etapa Projeto Integrado: Composição “Alma do Arquiteto” : Oscar Niemeyer - Alunas: Loriane Cisz Portes e Simone Maquiavelli (2003)

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Projeto Integrado: Composição, Expressão e Representação:Desenho, Fundamentos: Teoria, Fundamentos: História, Expressão e Representação: Técnicas Complementares, Bases Técnicas.

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Fig. 7 – Trabalho 3º etapa Projeto Integrado: Composição “Alma do Espaço” Alunos: Irineu A Lopes e Alexandre Mattos (2003)

Fig. 9 – Trabalho 3º etapa Projeto Integrado: Composição “Alma do Espaço” - Alunos: Eduardo Vieira e Fernanda Ramina (2002)

Fig. 8 – Trabalho 3º etapa Projeto Integrado: Composição “Alma do Espaço” Alunos: Samuel Costa e Michele Guelmann (2002)

Fig. 10 – Trabalho 3º etapa Projeto Integrado: Composição “Alma do Espaço” - Alunas: Silvia Ahrens e Suelen C. Silva (2003)

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4ª etapa: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO INTEGRADO FINAL O Projeto Integrado Final consiste na realização de uma proposta arquitetônica como instrumento de avaliação do processo de aprendizagem, da estrutura curricular referente ao 1º ciclo, e do próprio curso, sendo portanto, um trabalho realizado individualmente. A presente experiência se dedica a aplicar os conceitos obtidos durante a formação fundamental correspondente ao ano letivo; introduzir o aluno no estudo, análise e propostas ergonômicas, funcionais, técnicas e plásticas relacionados a espaços arquitetônicos; propiciar um posicionamento multi, inter e transdisciplinar do aluno, através da integração entre as disciplinas com a sua estruturação e avaliar as condições de qualificação e nível de preparo do aluno para o ciclo subsequente do curso. Os objetivos específicos de cada área consistem em: - Área Teórica: fundamentar o aluno na definição do tema, na programação das atividades e na pesquisa inerente ao assunto; - Área Técnica: instrumentar o aluno na delimitação da região de abrangência e do local de implantação do projeto de estudo, assim como no inventário, análise e diagnóstico de seus componentes essenciais; - Área Prática: orientar no desenvolvimento e processo de execução do projeto, assim como à apresentação gráfica e defesa oral das propostas elaboradas pelo aluno. O TEMA E A METODOLOGIA

Fig. 11, 12, 13 – Trabalho 3º etapa Projeto Integrado: Composição “Alma do Espaço” Aluno: Daniel Fonseca Arantes

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Os edifícios de habitação têm sido sempre alvo de estudos de arquitetos, urbanistas, sociólogos e todas as áreas afins. Constituem, portanto, obras de arquitetura que exercem uma fascinação permanente que vai além de sua função, unidade de forma e técnica, considerando também a paisagem que a rodeia.

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Dessa forma, procura-se explorar temas em estruturas de dimensões mínimas, em que os detalhes, função, forma, dinamismo, materiais e proporção possam se desenvolver até chegar a um resultado lógico e harmonioso. O tema proposto para todas as disciplinas eleva o conceito da função HABITAR como foco do projeto, para que o aluno possa desmistificar o tradicional, o previamente concebido. Além disso instiga-se a reflexão do refúgio do homem e da otimização dos espaços mínimos. Para o início do desenvolvimento do projeto algumas considerações são dadas, como a localização, área máxima (70 m2), número de usuários e acesso de veículos. METODOLOGIA a) pesquisa: histórico e conceituação (necessidades físicas e intelectuais da habitação permanente e transitória), ergonomia e equipamentos, aspectos ambientais e tecnológicos (materiais, iluminação, ventilação, insolação, cores, texturas, etc.), aspectos econômicos, aspectos tipológicos e exemplares existentes da arquitetura mundial e brasileira; b) inventário, análise e diagnóstico: leitura do contexto geral e imediato (construído e natural), visuais de longa e curta distâncias – da área demarcada para a paisagem, visuais de longa e curta distâncias – da paisagem para a área demarcada, forma de utilização e acessos à edificação; perfil dos usuários; aspectos físico-tecnológicos e técnico-construtivos (Infra-estrutura existente, aspectos físicos do lote, aspectos naturais e paisagística.

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ENVOLVIMENTO DAS DISCIPLINAS - Projeto Integrado: Composição - aplicação dos conceitos, princípios e prática de expressão visual, estrutura formal e composição volumétrica, compreensão compositiva e contextual na Arquitetura, Paisagismo e Urbanismo; - Expressão e Representação: Desenho – representação gráfica do projeto de arquitetura através de desenho técnico com grafite e ilustração com técnica livre; - Expressão e Representação: Técnicas Complementares – representação eletrônica do projeto de arquitetura em AutoCAD, Arqui 3D, Photoshop e Power Point; - Fundamentos: Teoria e História – fundamentos do partido arquitetônico do projeto através de bases teórico-conceituais, referências estéticas e poéticas visuais consagradas e auxílio no desenvolvimento do memorial justificativo de projeto, conforme normas gerais de redação e apresentação; - Bases Técnicas: Auxílio e orientação na compreensão dos fatores ambientais (geográficos e climáticos), sensoriais (vistas e sonoros), de regulamentação que interferem ou direcionam ou ainda condicionam decisões projetuais; - Topografia: Auxílio nos aspectos de modelagem e terraplanagem, corte e arrimo do terreno.

Todas as etapas de trabalho são desenvolvidas com apoio e assessorias dos professores das disciplinas do 1º ano, no horário normal das aulas e submetido a uma banca de avaliação composta por três professores do curso.

OS RESULTADOS Para uma análise mais aprofundada foram estabelecidos 3 exemplares que refletem e identificam três entendimentos do resultado. São eles:

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1) Exemplar 1 – “Reflexão e Desenvolvimento” Aluno: Vitorino Barause Júnior Identifica-se o talento e a contribuição pessoal na assimilação do método pretendido na construção do currículo, em que se utiliza do resultado das várias fases do processo. Envolveu embasamento no estudo dos arquitetos para desenvolver o trabalho final, enraizado no pensamento clássico. Aproveitou os valores da essência do arquiteto Mies Van Der Rohe, assimilou os conceitos evolutivos adotados pelo arquiteto Campos Baeza e refletiu a sua própria proposta, buscando identificar a história e se apropriando dos conteúdos integrados.

Fig. 18, 19, 20, 21 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto Aluno: Vitorino Barause Júnior

Fig. 14, 15 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – fotos da maquete Aluno: Vitorino Barause Júnior

Fig. 21, 22 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto Aluno: Vitorino Barause Júnior

Fig. 16, 17 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – fotos da maquete Aluno: Vitorino Barause Júnior

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2) Exemplar 2 – “Provação” Aluno: Samuel Costa Percebe-se no projeto desenvolvido a tradução de uma experiência adquirida num ambiente profissional externo. Procurou sem apropriação da reflexão promovida pelo pro-

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cesso de ensino expressar um resultado que se apóia em expressões pré-concebidas. Não houve incorporação dos valores do arquiteto referenciado Richard Méier, e sim absorção da estética das obras do arquiteto.

Fig. 23 – Trabalho 4º etapa Projeto Inte- Fig. 24 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – maquete final grado Final – maquete final Aluno: Samuel Costa Aluno: Samuel Costa

Fig. 27, 28, 29, 30 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto Aluno: Samuel Costa

Fig. 25 – Trabalho 4º etapa Projeto Inte- Fig. 26 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto grado Final – maquete final Aluno: Samuel Costa Aluno: Samuel Costa

Fig. 31 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto - Aluno: Samuel Costa

2) Exemplar 3 – “Aplicação”

Fig. 26 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto Aluno: Samuel Costa

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Aluna: Fernanda Schlossmacher Observa-se claramente o envolvimento da aluna com o ensino promovido pelo processo quando resultado apresentado reproduz os conceitos explicitados.

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A construção do projeto está embasada no tema desenvolvido na 2ª etapa, a qual trabalhou com o arquiteto Luis Barragan e aplicou diretamente no projeto integrado final.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Luckesi, Cipriano. Fazer universidade : uma proposta metodologica. São Paulo : Cortez,1987 MEC, Secretaria de Educação Superior, Comissão de Especialistas de Ensino de Arquitetura e Urbanismo. Proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino de Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Brasília. 2001. Unicenp. Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo (em aprovação). Curitiba, 2003

Fig. 32 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – maquete final Aluno: Fernanda Schlossmacher

Presume-se que a formação dos alunos no curso busca o intercâmbio de idéias comprometendo-se com a criação e a provocação da reflexão. Permite-se também que o aluno perceba, questione, avalie e estude a realidade, a qual é transformada continuamente. No entanto, apesar dos caminhos diferenciados, todos os processos apresentados contribuíram para que os alunos percorressem os seus próprios caminhos, preservando a sua identidade e desenvolvendo a sua linguagem pessoal. Assim, soma-se a importância do crescimento individual do aluno, apoiado na sua própria reflexão.

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LABORATÓRIO DE ARQUITETURA, URBANISMO E TOPOGRAFIA - LabAUT: INCENTIVO AO CONVÍVIO PRODUTIVO Arq. Sílvia Pereira de Sousa Mendes Vitale Coordenadora do Curso / Unidade Vila Maria – svitale@uninove.br / Rua Guaranésia, 425 – São Paulo/SP Arq. Carlos Eduardo Zahn Coordenador do Curso / Unidade Memorial América Latina – cezahn@uninove.br / Rua Adolfo Pinto, 109 – São Paulo/SP Arq. Catia Regina Wellichan Técnica do Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Topografia – Rua Guaranésia, 425 – São Paulo/SP Arq. Iuri Gomes Ortiz Técnico do Laboratório de Conforto Ambiental – Rua Guaranésia, 425 – São Paulo/SP

RESUMO O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNINOVE vem desenvolvendo um Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Topografia – LabAUT. A experiência demonstrou que ele é essencial para incentivar o convívio produtivo dos alunos com os professores. O laboratório atende os alunos em atividades exercidas no seu próprio espaço e em atividades externas. Através da orientação dos professores, são disponibilizados apoios para as pesquisas e experimentos dos alunos. A procura do espaço e acervo do LabAUT vem se ampliando. Em 2000, seu rendimento era menor; atualmente, a freqüência é expressivamente significativa. O hábito de consulta e pesquisa vem se consolidando, entre o alunado e para apoio aos professores. Dada a amplitude das atividades o laboratório agrega a contribuição profissional de técnicos, formados em Arquitetura, que acompanham o seu desenvolvimento. Pode-se dizer que a relação dos alunos com o laboratório é muito significativa e positiva, com vistas a ampliar os conhecimentos e aprimorar o desempenho do Curso no âmbito da instituição.

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HISTÓRIA DO LabAUT E SUAS FUNÇÕES MULTIDISCIPLINARES O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNINOVE instalou e vem desenvolvendo, desde 1997, um Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Topografia, na Unidade Vila Maria, conhecido entre estudantes e professores como LabAUT. A experiência tem demonstrado que esse espaço é essencial para incentivar o convívio produtivo dos alunos com os professores, em atividades de extensão curricular e de pesquisas. O laboratório atende os alunos em disciplinas projetuais, de planejamento e de topografia, em atividades exercidas no seu próprio espaço físico e em atividades externas. Através da orientação dos professores, são disponibilizados materiais, equipamentos e documentação para as pesquisas e experimentos que os alunos estão desenvolvendo. Este laboratório tem uma função muito importante no curso de Arquitetura e Urbanismo da UNINOVE, pois é através deste espaço que os alunos tem acessos rápidos às mais variadas informações relacionadas com as atividades específicas do curso. O Laboratório instalado na Unidade Vila Maria deu início às suas atividades no segundo semestre de 1997, com o nome de “Laboratório de Urbanismo”, que nasceu a partir da necessidade de reunir professores e alunos da UNINOVE, junto com professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP em uma pesquisa denominada “Aldeia De Carapicuíba: Estudo Histórico, Arquitetônico e Urbanístico do Único Aldeamento Jesuítico Paulista Remanescente”. Esse projeto de pesquisa propunhase a atingir objetivos de divulgação histórica, preservação, revisão de critérios de uso e ocupação do solo, formulação de critérios de infra-estrutura e serviços urbanos. Desse modo,

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constituía-se em um amplo projeto piloto. Tal estudo atingiu parcialmente os resultados previstos, pela posterior interrupção do processo, em vista da reduzida experiência acumulada pelo Curso, na época de sua realização. Foram entretanto obtidos importantes avanços pedagógicos, principalmente quanto à interação produtiva entre pesquisadores, docentes e alunos envolvidos. Alguns resultados documentais e processuais foram objetos de análise mais pormenorizada em artigo publicado na revista ECCOS – publicação cientifica editada pela UNINOVE – no ano de 2000 (ZAHN, 2000). Nessa época, o Laboratório de Urbanismo instalado em pequena sala contava apenas com um computador, uma mesa digitalizadora e uma mesa para as reuniões. O resultado desse processo inicial de pesquisa levou a coordenação do Curso a propor a ampliação do espaço e o incremento do material e instrumental do laboratório, que passou a contar com sua configuração atual. Inicialmente, houve a necessidade de ocupar uma área que pudesse ser multidisciplinar e que pudesse oferecer ao aluno as informações voltadas às suas necessidades projetuais. Foi instalado o LabAUT - Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Topografia, que deu início às atividades no primeiro semestre de 2000, contando com dois professores e uma pequena equipe de estagiários do Curso de Arquitetura e Urbanismo. A área inicial, cerca de 68 m2, foi equipada com

pranchetas, microcomputador, mapotecas, e com acervo inicial de cartografia adquirido pela instituição especialmente para o LabAUT. Alguns equipamentos foram adquiridos para dar suporte às atividades, incluindo a incorporação dos aparelhos de topografia, instrumentos de medição, mesa de vidro com iluminação, entre outros. Atualmente, o ambiente novamente ampliado ocupa uma área total de 86m², dividida em duas salas: uma para o acervo com espaço para estudos, que ocupa 68m², outra sendo utilizada como sala de apoio aos docentes. Desde o início, as atividades eram direcionadas às aulas expositivas, disponibilizando-se diversos materiais, como mapas, fitas de vídeo, catálogos e teodolitos. Com a ampliação da demanda, com os alunos progressivamente intensificando sua freqüência, o laboratório passou a ampliar seu acervo e receber doações de documentação, de alunos e professores, para consulta incluindo mapas temáticos, catálogos, revistas e outros documentos. Atualmente, devido ao grande número de documentos doados e de equipamentos que foram progressivamente cedidos ou adquiridos pela instituição, o laboratório dispõe de um acervo significativo, abrangendo: mapas cartográficos, livros, revistas, monografias, dissertações, teses, fitas de vídeo, totalizando mais de 2000 itens diversificados. Além disso, o espaço é organizado com três computadores, pranchetas para atividades individuais ou em grupo, mesa de luz, máquinas fotográficas, níveis topográficos, teodolitos, aparelhos diversos de apoio à pesquisa e ao estudo de alunos e professores. A freqüência dos alunos é expressivamente significativa devido à diversidade do acervo, à finalidade e agilidade de con-

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sulta, à possibilidade de estudo no local e ao sistema circulante controlado de todo o acervo e inclusive dos equipamentos disponíveis. O hábito de consulta e pesquisa vem se consolidando, sendo de grande valia ao alunado e, mesmo, para apoio aos professores. Conseqüentemente, vem contribuindo aos objetivos do curso. O espaço físico vem novamente se tornando pequeno, havendo demanda para uma ampliação do ambiente, de modo a possibilitar o desenvolvimento de suas atividades de maneira progressiva. Com a abertura do Curso de Arquitetura e Urbanismo em nova Unidade, no Memorial América Latina, desde 2001, deve ser lá instalado brevemente um espaço do LabAUT para atendimento dos alunos dessa nova Unidade. Dada a amplitude das atividades do Laboratório e para seu bom andamento, ele agrega a contribuição profissional de técnicos, que vêm acompanhando o desenvolvimento das atividades do Laboratório na preparação do ambiente, nas atividades em grupo, no esclarecimento aos discentes nas questões relacionadas às pesquisas em elaboração e no apoio aos docentes em suas necessidades didáticas. Para melhor objetividade de resultados desse trabalho de orientação, é exigida formação superior em Arquitetura para esses técnicos. Atualmente, a função exercida pela Arquiteta Catia Regina Wellichan, contando também com a contribuição do Arquiteto Iuri Gomes Ortiz, do Laboratório de Conforto Ambiental – LabCON, em períodos específicos de maior demanda. Ambos são formados na própria UNINOVE, pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo, nas primeiras turmas. Além de o LabAUT servir às necessidades diárias, vem sendo desenvolvidas outras atividades correlatas com seu apoio, entre elas a documentação da memória do Curso de Arquitetu-

ra e Urbanismo da UNINOVE, o suporte a palestras, atividades extra sala, viagens e outros, tornando-se assim um laboratório diferenciado e multidisciplinar, por se destinar a essas múltiplas funções.

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Pode-se dizer que a relação dos alunos com o Laboratório é hoje muito significativa e positiva para ambas as partes, com vistas a auxiliar na ampliação de conhecimentos e a aprimorar o desempenho do Curso no âmbito da instituição. Cabe ressaltar que um incentivo institucional importante foi obtido por ocasião da visita da Comissão de Especialistas do MEC, para reconhecimento do Curso, em Agosto de 2000 quando, a partir da observação das atividades ainda iniciadas do LabAUT, essa comissão fez constar em seu relatório a “necessidade de equipar adequadamente o LabAUT para que venha abrigar acervo bibliográfico e centro de documentação vinculado ao curso”.(MEC, 2000). ATIVIDADES DE APOIO REALIZADAS PELO LabAUT A seguir são apresentados alguns exemplos de atividades desenvolvidas pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo que contaram com registro ou participação direta do LabAUT em sua realização. VIAGENS CULTURAIS E EDUCATIVAS As viagens de estudo que fazem parte da extensão pedagógica do curso de graduação, têm como foco central analisar os conteúdos arquitetônicos, urbanísticos, tecnológicos e históricos. No decorrer dessas viagens, vasto documentário foi registrado pelos alunos, professores e técnicos. Citam-se a seguir


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algumas viagens, que se encontram registradas no LabAUT para estudos e pesquisas futuras. Viagem Cultural à Cidade de Curitiba Período: 29 de maio a 01 de junho de 1997: Realizada em período anterior à instalação definitiva do LabAUT, na ocasião em que o primeiro “Laboratório de Urbanismo” iniciava suas atividades. Viagem Cultural às Cidades Históricas Mineiras – Período: 30 de Outubro a 02 de Novembro de 1998: Promovida por professores de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo, tendo resultado em acervo fotográfico, hoje disponibilizado no LabAUT. Viagem Cultural ao Rio de Janeiro – Realizada em Outubro de 2000, acompanhada por professora da área de Meio Ambiente, para observação de aspectos da Região Central e Histórica da Cidade. VISITAS TÉCNICAS O Curso de Arquitetura e Urbanismo, por meio de diversas disciplinas, tem realizado visitas técnicas de natureza diversificada, sempre acompanhadas ou registradas para ampliação de acervo documental e fotográfico do LabAUT. A seguir são apresentados alguns registros dessas visitas técnicas. 66

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4ª Bienal de Arquitetura e Urbanismo: Primeira participação de alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo no Concurso Internacional de Escolas de Arquitetura. Na ocasião foram efetuadas diversas visitas de alunos com supervisão dos professores do curso. Visitas de campo para estudos regionais, em região afetada pela implantação do Rodoanel e áreas de expansão leste da Grande São Paulo, com acompanhamento de professores da disciplina de Planejamento Regional e Infra-estrutura. Laboratório de Programação gráfica - LPG da FAUUSP: Visita técnica para observação de recursos gráficos adequados à apresentação de trabalhos de projeto, especialmente para estudantes em fase de preparação de seus Trabalhos Finais de Graduação. EVENTOS REALIZADOS O Curso de Arquitetura e Urbanismo promove regularmente um ciclo de palestras denominado “Semana da Arquitetura”, que tem o objetivo de atualizar os futuros arquitetos sobre o campo de trabalho profissional. O LabAUT tem acompanhado sistematicamente a produção desses eventos, para suporte material e de organização, bem como registro e arquivo de informações. A Primeira Semana de Arquitetura foi realizada em 30 de setembro de 1998, com palestra do Arquiteto Silvio Soares

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Macedo, professor da área de paisagem e ambiente da FAUUSP. A Segunda Semana de Arquitetura foi realizada no período de 14 a 20 de maio de 1999, abrangendo participação de diversos palestrantes. Abordou questões referentes à Arquitetura Hospitalar e a apresentação de equipes participantes do Concurso de Idéias para as Marginais Tietê e Pinheiros e do Prêmio Prestes Maia de Urbanismo. A Terceira Semana de Arquitetura foi realizada no período de13 a 15 de outubro de 1999, com participação de diversos palestrantes. A Quarta Semana de Arquitetura foi realizada no período de 17 a 24 de abril de 2000, incluindo exposição discente de trabalhos realizados em 1999 e 2000. A Quinta Semana de Arquitetura foi realizada no período de 09 a 11 de outubro de 2000, abordando o tema Tecnologias aplicadas à Arquitetura e Urbanismo. A Sexta Semana de Arquitetura foi realizada no período de 02 a 04 de Maio de 2001 com participação de palestrantes em diversas áreas de conhecimento e a realização de oficinas de maquete e modelo vivo.

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A Sétima Semana de Arquitetura foi realizada no período de 12 a 14 de Novembro de 2001, centrando atividades na discussão e reflexão de problemas e propostas para a área central de São Paulo. A Oitava Semana de Arquitetura foi realizada em Outubro de 2002, contando com palestras tecnológicas e oficinas diversas. A Nona Semana de Arquitetura encontra-se atualmente em preparação, para ser realizada no período de 03 a 06 de Novembro de 2003. Este evento conta, pela primeira fez com participação direta do recém instalado Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo – CAAU da UNINOVE. Assim, vem sendo promovida progressiva integração do corpo discente na organização das atividades extra classe de interesse do Curso. MOSTRAS ACADÊMICAS DOS ALUNOS DO CURSO O LabAUT mantém em seus arquivos, registros de trabalhos que foram apresentados nas mostras para o público, tanto daqueles executados alunos como também dos resultantes de mostras obtidas a partir de profissionais convidados para apresentações temáticas aos alunos. Seguem alguns registros desses trabalhos e atividades. Em Maio de 2002, os alunos do

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Curso participaram de um Fórum de Empresários da região de Vila Maria, tendo preparado seu material a partir de trabalhos disciplinares, confeccionados em seu acabamento, com apoio do LabAUT. No decorrer de vários semestres, de 2000 a 2002 foram realizadas oficinas de trabalho integrando alunos em fase de preparo de seus Trabalhos Finais de Graduação (TFG), pelo orientador, professor Carlos Eduardo Zahn, reunindo orientandos de várias instituições. A finalidade foi proporcionar aos estudantes de graduação uma reflexão sobre seus objetivos projetuais, já que os assuntos permitiam interação entre diversos alunos, quanto aos seus temas. Em diversas ocasiões aconteceram apresentações de Trabalhos Finais de Graduação -TFG, de alunos concluintes, utilizando o espaço do Laboratório. No segundo semestre de 2002, houve a apresentação de trabalhos na disciplina de Cultura e Realidade Brasileira, organizados pela professora Maria de Fátima Schifino, com apoio do LabAUT quanto à confecção de materiais para esses trabalhos, que consistiram na preparação de programas hipotéticos de governo, abordando políticas ur-

banas, integrando-se desse modo com a discussão nacional por ocasião das eleições presidenciais. Ainda no segundo semestre de 2002, o Curso promoveu a Mostra Itinerante da 2ª Bienal “José Miguel Aroztegui” (Concurso estudantil Latino Americano de Arquitetura Bioclimática), também com o apoio do LabAUT para organização e montagem. Esta mostra foi inicialmente apresentada na Unidade Vila Maria, sendo posteriormente transferida para a Unidade Memorial América Latina. No decorrer de 2003, vem prosseguindo o apoio do laboratório à preparação de atividades desta natureza, agora com interação direta com o Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo – CAAU, para preparo de diversas atividades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Em vista da amplitude e da riqueza de experimentações que puderam ser desenvolvidas nos cinco anos de existência e desenvolvimento do Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Topografia – LabAUT, é possível confirmar as potencialidades que este espaço proporciona ao trabalho de apoio disciplinar e à prática de atividades de pesquisa, de investigação extracurricular e à sistematização de acervos de informação. Estes apoios são necessários e até fundamentais à consolidação de um ensino de qualidade e vem permitindo formação sólida e integrada aos profissionais egressos, do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNINOVE.


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REFERÊNCIAS

LABORATÓRIO DE PROJETOS HABITACIONAIS

MEC/ Secretaria de Educação Superior / Comissão de Especialistas de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – Roteiro de Avaliação para Reconhecimento do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNINOVE – Brasília, 2000. UNINOVE, Curso de Arquitetura e Urbanismo – Curso de Arquitetura e Urbanismo: 1995 – 2000 – Período de Consolidação / Álbum de registro de atividades e eventos – São Paulo: UNINOVE, Agosto de 2000. UNINOVE, Curso de Arquitetura e Urbanismo – Projeto Pedagógico – São Paulo: UNINOVE, 2002. ZAHN, Carlos E. et alii – Aldeia de Carapicuíba: Estudo Histórico, Arquitetônico e Urbanístico do Único Aldeamento Jesuítico Paulista Remanescente – in: ECCOS – São Paulo: UNINOVE, vol 2, No. 1, 2000.

Cristiane Guinancio

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ESPLAN -DF Mestrado 1994 - 1995 - The Bartlett School University College London MSc. in Architecture: Building and Urban Design in Development

1.

INTRODUÇÃO O Laboratório de Projetos Habitacionais estabelece uma integração com a comunidade local através da aplicação dos conhecimentos que são oferecidos e desenvolvidos no meio acadêmico na área de planejamento e projeto habitacional. A proposta, além de contribuir com a sociedade através da prestação de serviços, reforça o necessário intercâmbio sociedade-meio acadêmico. O Laboratório consiste em um escritório de atendimento a famílias de baixa renda. Este atendimento visa contribuir para a melhoria das condições de vida da população que vive precariamente, implementando um serviço específico de assistência técnica para a produção de unidades habitacionais. A formulação da proposta fundamenta-se nas experiências desenvolvidas por equipes da Universidade de Brasília nos Programas “Cred-Mac’ e “Casa da Gente”, em parceria com o Governo do Distrito Federal e a Caixa Econômica Federal. Estes programas foram destinados ao atendimento de beneficiários de financiamentos de materiais de construção para produção de habitações em áreas de assentamentos urbanos de interesse social. Tinham como objetivo potencializar a ação da autoconstrução, através da prestação de assistência técnica para projeto e execução das habitações. Para o atendimento às famílias, toma-se como referência a metodologia implementada nos programas mencionados. Esta metodologia compreende uma série de procedimentos e instrumentos de trabalho que objetivam a otimização dos recursos disponíveis na produção de habitações de baixo custo e boa qualidade. 73


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A assistência técnica prevê a elaboração dos projetos das unidades habitacionais e o planejamento e acompanhamento da obra em todas as fases de execução. Oferece também Cartilha de orientação para as obras. O processo é concluído com a realização da análise pós-ocupação. 2.

JUSTIFICATIVA

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A precariedade construtiva está fortemente condicionada pelos recursos financeiros escassos, demandando uma estratégia para a otimização dos investimentos, o que significa conseguir baixos custos na produção qualificada das unidades. Está também condicionada pela dificuldade da participação de mão de obra especializada nas construções.

O Déficit Habitacional Brasileiro, registrado em 2000, corresponde a 6.656.526 unidades habitacionais, com incidência urbana de 81,3 % (Fundação João Pinheiro, 2000). Estes dados se referenciam ao conceito mais amplo adotado para déficit habitacional, que considera a necessidade de construção de novas moradias pela deficiência do estoque, pela ausência de condições de habitabilidade, pela precariedade construtiva ou desgaste na estrutura física ou pela coabitação familiar. O mesmo estudo destaca que, das unidades construídas no Brasil nas últimas décadas, a autoconstrução é o tipo predominante de sistema construtivo adotado.

Fig. 3 – Unidades Habitacionais produzidas por auto-construção, sem assistência técnica. (Paranoá – DF)

A simples oferta de financiamento para aquisição de materiais de construção não garante o êxito do atendimento habitacional. A otimização técnica do recurso financeiro é seu componente essencial. Por isso, torna-se necessário o estabelecimento de um sistema composto de procedimentos e instrumentos capazes de promover a qualificação da produção. 3.

Figs. 1 e 2 – Ausência de condições de habitabilidade - Espaços internos insalubres. O corredor de acesso é o prisma de ventilação para atendimento a quatro unidades habitacionais. Duas unidades são voltadas para o trecho descoberto (em primeiro plano na fotografia) e as demais são voltadas para o trecho coberto ao fundo, utilizado como área de serviço coletiva. (Paranoá – DF)

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O LABORATÓRIO DE PROJETOS HABITACIONAIS

A proposta do Laboratório de Projetos Habitacionais prevê a implementação de ações específicas para a produção habitacional, dirigida a famílias de baixa renda. Estas ações supõem a existência de linhas de crédito adequadas à capacidade de contratação das famílias, que estarão construindo suas casas por auto-construção.

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O atendimento é igualmente direcionado a cooperativas habitacionais populares comprometidas com a solução das necessidades habitacionais de famílias de baixa renda. 4.

PROPOSTA DE TRABALHO

4.1. OBJETIVOS · Oferecer uma oportunidade de experiência prática em ambiente profissional aos discentes do Curso de Arquitetura e Urbanismo; ·Contribuir para a melhoria das condições habitacionais das populações de baixa renda; · Otimizar a aplicação dos recursos financeiros disponibilizados; · Transferir conhecimentos, tecnologias e formas de racionalização da construção do habitat.

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4.3. LINHAS DE AÇÃO 4.3.1. Solução Habitacional A solução habitacional é viabilizada tendo como referência os recursos que serão contratados por cada família atendida por um sistema de financiamento ou outros canais disponibilizados. São desenvolvidos projetos-padrão que respeitam o limite de recurso estabelecido por unidade de atendimento. As variações de projeto são disponibilizadas para escolha pelas famílias. No escritório, a equipe discute com o beneficiário qual a solução habitacional mais adequada para a sua situação familiar e para o sítio onde a unidade irá se inserir. O atendimento se consolida pela escolha ou adaptação de um projeto dentre os padrões existentes, com planilhas de quantitativo e cronogramas definidos, o que permitirá o rápido início das obras. 4.3.2. Assistência À EXECUÇÃO DA OBRA

4.2. DIRETRIZES GERAIS · Acompanhamento do trabalho prático com investigações e avaliações que conduzam ao aperfeiçoamento permanente do sistema de trabalho programado, conduzindo a cada vez melhores resultados de qualidade com baixos custos na produção de habitações;

O processo de execução tem como finalidade oferecer as condições objetivas de apoio técnico para a auto-construção. À medida em que o planejamento em escritório é concluído, são realizadas reuniões de orientação com os beneficiários para execução da obra. A assistência técnica à execução da obra é prestada individualmente às famílias e na própria localidade.

· Adoção de procedimentos e instrumentos para otimizar a produção das habitações por auto-construção, desde formas adequadas de apresentação de projetos até a utilização de planilhas eletrônicas para agilizar os cálculos de quantificação de materiais e custos;

4.3.3. assistência à legalização da unidade habitacional

· Oferta de material informativo e formativo para facilitar e tornar eficaz o trabalho nos canteiros de obra por parte das famílias atendidas, de maneira a desenvolver a consciência da capacitação e das potencialidades pessoais e do grupo para resolver seus problemas da moradia.

4.4. METODOLOGIA

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O atendimento é concluído pela oferta de orientação para os procedimentos e documentação necessários à legalização da unidade habitacional.

A metodologia se referencia às experiências desenvolvidas para os Programas “Cred-Mac’ e “Casa da Gente”, obtendo-se a racionalização da construção e a conseqüente diminuição de custos.

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Segue os seguintes passos: · identificar a família a ser atendida, que deverá ter acesso aos recursos financeiros necessários à aquisição de materiais de construção; · desenvolver projetos que atendam às especificidades do cliente e a sua respectiva disponibilidade financeira;

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4.5.

Os recursos humanos apresentados estão dimensionados para o atendimento de famílias em escritório e no canteiro de obras: · 01 (um) professor coordenador e responsável pelo controle de qualidade dos trabalhos;

· especificar, listar e orçar os materiais necessários;

· 01 (uma) equipe para levantamento de dados e elaboração de projetos composta por um professor/pesquisador e 02 estagiários;

· compatibilizar e desenvolver planilhas eletrônicas de quantitativos de materiais;

· 01 (uma) equipe de orientação das famílias e acompanhamento de obra composta por um professor/pesquisador e 02 (dois) estagiários;

· elaborar o cronograma de execução da obra; · orientar a família para o processo de construção, com a oferta do material instrutivo de assistência técnica (cartilha); · planejar e acompanhar o acesso aos materiais de construção; · prestar assistência técnica à obra; · acompanhar o uso da nova unidade, após a conclusão, e; · orientar quanto à legalização da construção. A documentação relativa ao projeto e acompanhamento das obras compõe-se dos seguintes elementos:

· 01 (um) estagiário para análise pós-ocupação. 4.5.1. PLANEJAMENTO MENSAL O quadro a seguir ilustra o planejamento de ações para o atendimento a 45 famílias num período de 12 meses, com base nos seguintes referenciais: · O atendimento inclui assistência técnica para projetos, acompanhamento de obra e análise pós ocupação; · Os grupos indicados de “A” a “I” equivalem, cada um, a um conjunto de 5 famílias atendidas;

· Projeto de arquitetura e instalações complementares;

· A área média de construção foi estimada em 30m2 por unidade de atendimento, resultando em um tempo médio de 3 meses para execução de obra.

· Planilha base de quantidades e custos de materiais por serviço; · Listagem de materiais; · Cronograma de execução; · Cronograma físico-financeiro de execução das obras e desembolso;

Atendimento

mês 1

mês 2

mês 3

mês 4

mês 5

mês 6

mês 7

mês 8

Escritório

Grupo A

Grupo B

Grupo C

Grupo D

Grupo E

Grupo F

Grupo G

Grupo H

Grupo I

Grupo A

Grupo A

Grupo D

Grupo D

Grupo D

Grupo G

Grupo G

Grupo G

Grupo B

Grupo B

Grupo B

Grupo E

Grupo E

Grupo E

Grupo H

Grupo H

Grupo H

Grupo C

Grupo C

Grupo C

Grupo F

Grupo F

Grupo F

Grupo I

Grupo I

Grupo I

Grupo A

Grupo B

Grupo C

Grupo D

Grupo E

Grupo F

Grupo G

Grupo A Obra

· Projeto de legalização. P ó so cu p ação

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OPERACIONALIZAÇÃO DO PROJETO

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mês 9

mês 10

mês 11

mês 12


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Cabe destacar que a avaliação acima apresentada é ilustrativa, visto que, num processo contínuo, efetivam-se simultaneamente início e conclusão de atendimentos individualizados a partir dos perfis das solicitações de assistência técnica, que definem os prazos reais. Neste sentido, no momento em que as primeiras obras estiverem concluídas, torna-se necessária a participação de um estagiário para efetuar o acompanhamento do uso das unidades, sob a supervisão do professor/pesquisador.

Semana 3 · Consolidação do projeto com o cliente;

4.5.2. DETALHAMENTO SEMANAL

Na implementação desta proposta, o Instituto de Ensino Superior Planalto conta com a participação do corpo docente e discente para a aplicação prática de conhecimentos no desenvolvimento de projetos, elaboração de instrumentos e apoio à auto-construção. O Laboratório de Projetos Habitacionais é, portanto, uma oportunidade de experiência prática em ambiente profissional oferecida aos discentes do Curso de Arquitetura e Urbanismo.

A assistência técnica em escritório não se resume a um único momento de atendimento. A elaboração do projeto e da documentação necessária ao início das obras é um processo que se estabelece em um período estimado em 30 dias, conforme ilustrado. O acompanhamento da obra adota uma visita semanal por família. Equipes

Mês 1

· Elaboração de projetos complementares e material técnico para a obra. Semana 4 · Conclusão do material técnico e orientação da família para o processo construtivo; · Elaboração do Relatório de Atendimento.

5.PARCERIAS NECESSÁRIAS

Mês 2

Docente

Discente

Semana 1

Semana 2

Semana 3

Semana 4

Semana 1

Semana 2

Semana 3

Semana 4

Escritório

1 Professor

2 Estagiários

Grupo A

Grupo A

Grupo A

Grupo A

Grupo B

Grupo B

GrupoB

Grupo B

Obra

1 Professor

2 Estagiários

Grupo A

Grupo A

Grupo A

Grupo A

Distribuição das Ações em Escritório Semana 1 · A equipe de assessoria apresenta o escopo de prestação da assistência técnica e elabora diagnóstico da demanda da família; · Realização do levantamento das condições locais.

5.1. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA A Universidade de Brasília, através do Núcleo de Pesquisa para Habitações – NPH/ CEAM, desenvolveu o instrumental que permite agilidade a todo o processo de atendimento nos programas anteriormente citados. Este instrumental é composto por um catálogo de projetos e de um “software” especificamente desenvolvido para a elaboração de planilhas referenciadas, fundamentais ao processo de atendimento e construção. Este instrumental é complementado pelo material de orientação das famílias e apoio na execução da obra. 5.2. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Semana 2 · Elaboração de proposta arquitetônica e atendimento à família em escritório para apresentação da solução elaborada.

A parceria com a Caixa Econômica é fundamental para o encaminhamento das famílias que tenham contratado o financiamento de material de construção através de programa específico.

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Considerando a capacidade técnica da instituição para o processo de identificação e seleção de famílias que necessitam do atendimento, teremos o respaldo para a implementação de ações direcionadas para os que efetivamente são carentes destes serviços. Acrescente-se a este o fato de que o atendimento direcionado a famílias que dispõe do financiamento de materiais de construção garante a efetividade da ação até o final do processo, que é a conclusão da construção da unidade habitacional e o acompanhamento do seu uso, para posterior aplicação acadêmica.

ESCRITÓRIO MODELO, SIMULACRO PROFISSIONAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL

5.3. COOPERATIVAS HABITACIONAIS No presente momento estão sendo estudadas hipóteses de parcerias com cooperativas habitacionais populares que necessitem de apoio técnico para assessoria à auto-construção das unidades habitacionais. A efetivação desta parceria contribuirá para a ampliação e consolidação do atendimento estabelecido. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, Centro de Estatística e Informações. (2001) “Déficit Habitacional no Brasil 2000”, Belo Horizonte, 2001. GONZALES, S.F.N., VIDAL, F.E.C., SPOSTO, R.M., JUCÁ FILHO, A., “Sistema de Assistência Técnica a Programas Habitacionais para baixa renda com financiamento de crédito de materiais de construção e produção por Auto-Construção. O caso de BrasíliaDF, Brasil” (mimeo).

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Euler Sobreira Muniz Arquiteto e Urbanista, mestre em Engenharia Civil com área de concentração em edificações, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza, Avenida Washington Soares, 1321 – Edson Queiroz – Fortaleza – Ceará – 60.811-341, telefone: (0XX85) 477-3250, fax: (0XX85) 477-3061, euler@unifor.br.

Uma proposta para um curso de Arquitetura e Urbanismo: No segundo semestre do ano de 1998, foi implantado na Universidade de Fortaleza o curso de Arquitetura e Urbanismo, após um bom tempo investido em levantamento de dados, visitas a outras instituições, discussões com professores e profissionais, análise de viabilidade econômica, formatação de proposta e apresentação em diversos fóruns. No início a preocupação de toda a equipe responsável por esta tarefa de implantação, formada por professores arquitetos e urbanistas, além de alguns engenheiros civis, era a de se contratar professores que unissem à titulação acadêmica o exercício profissional; assim como prover a universidade de toda a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento das atividades pedagógicas IMAGEM 01. O documento base de todas as ações foi o da Proposta de Diretrizes Curriculares encaminhada pelas instituições profissionais ao Ministério de Educação. No entender da equipe, era de fundamental importância que o candidato à docência no curso de Arquitetura e Urbanismo apresentasse experiência profissional, além da titulação acadêmica exigida pela própria instituição de ensino superior. É importante a presença de mestres para o exercício do magistério e de doutores para o desenvolvimento das pesquisas, mas é fundamental que uma boa parte dos docentes tenham uma vivência de canteiro de obras, um pé na execução de edifícios, na definição de espaços urbanos, na realização de projetos paisagísticos, no desenvolvimento de interiores, na produção

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ra e Urbanismo, que se apoiou na consultoria de Fernando Pereira e Leonardo Bittencourt IMAGEM 02. O vídeo e a fotografia também foram incluídos como suporte técnico para o novo curso. Pensava-se em uma comunicação visual que transcendesse à imagem parada e se ajustasse às novas formas de mídia, presentes no mercado: vinhetas, animações e pe-

de mobiliários e de peças gráficas. No que se refere à infra-estrutura, montaramse na Universidade de Fortaleza ateliês de desenho com pranchetas dotadas de régua paralela. No princípio, a idéia era a de se IMAGEM 01: Blocos em que estão inseridas aldesenvolver os trabalhos, gumas salas da Arquitetura e Urbanismo. Foto: Kiko Santos. desde o seu início nos computadores. Logo se viu que uma das ferramentas do aplicativo computacional que auxiliava na representação gráfica dos projetos, o zoom, dificultava o entendimento do objeto arquitetônico como um todo, por parte dos discentes. A prancheta se apresentava como a antiga e eficaz solução para o problema. Sobre ela, o aluno teria de representar, utilizando-se do lápis e do papel, o seu projeto como um objeto único. O uso do computador, enquanto ferramenta de projeto, foi postergado para o tempo em que a maturidade estudantil permitisse entender o projeto como um todo, mesmo diante da ferramenta zoom. Laboratórios com computadores e aplicativos gráficos foram instalados. A topografia e a tecnologia da construção receberam ajustes de modo a se adaptar a esta nova demanda. Não mais só os engenheiros, com suas visões tecnicistas, demandavam desses laboratórios, mas arquitetos e urbanistas, profissionais das ciências humanas que se fundamentam em uma base tecnológica, passaram a partilhar dos mesmos espaços físicos. A área destinada às disciplinas ligadas ao Conforto Ambiental teve um tratamento especial: equipamentos foram adquiridos, até fora do país, para se ajustar aos padrões mínimos presentes em documento existente na página da Internet de responsabilidade da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo intitulado: configurações essenciais para os laboratórios dos cursos de Arquitetu-

Finda a tarefa de estruturação da graduação, tratou-se de se definir o segundo suporte da tríade universitária, investiu-se na extensão montando-se o Escritório Modelo. A pesquisa ficava para a última etapa, pois só se consegue estabelecer um bom setor de pesquisa quando se têm cursos de pós-graduação: stricto e lato sensu implantados, para fornecer o devido suporte. A grande preocupação da equipe, ao definir as diretrizes para o Escritório Modelo, foi estabelecer o seu nicho de mercado. Pretendia-se evitar que esta atividade de extensão passasse a concorrer com o profissional que viria ser formado pelas instituições de ensino superior ou dividir espaço com os que já exerciam o seu mister. Criou-se, então, o Estatuto do Escritório Modelo e neste definiu-se que os trabalhos deveriam ser reali-

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IMAGEM 02: Laboratórios de Conforto Ambiental e Desenvolvimento de Projeto. Foto: Kiko Santos

quenos filmes. Procurando um modelo para o escritório:


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zados apenas para as associações de carentes, as empresas assistenciais, a comunidade universitária, a própria Universidade de Fortaleza, as organizações governamentais e serviria também para abrigar equipes de professores e alunos que participassem de concursos com objetivos educacionais. Nestes dois primeiros anos, foram realizadas no Escritório Modelo, em conjunto com os cursos de Turismo, Ciências Sociais e Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza e em parceria com a EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo e os governos dos seguintes municípios do estado do Ceará: Viçosa do Ceará, Tianguá, Ubajara e Ipú, situados na serra da Ibiapaba, limite do Ceará com o Piauí; Aquiraz, Cascavel, Beberibe, Aracati e Icapuí, localizados no litoral à leste da cidade de Fortaleza e São Gonçalo do Amarante, Itapipoca, Itarema, Acaraú, Jijoca de Jericoacoara e Camocim, no litoral à oeste da capital do estado do Ceará, as estratégias, o plano funcional e as diretrizes para a sinalização turística desses quinze municípios do interior do estado. O Projeto obteve a denominação oficialmente de Turismo Sustentável Local – Ecologia, Identidade Cultural e Excelência na Receptividade e ob-

IMAGEM 03: Logomarca do Projeto e um dos locais da realização dos trabalhos. Foto: autor.

teve, por parte dos responsáveis pela divulgação, o nome de fantasia de Turismo da Gente IMAGEM 03. Foram definidos como objetivos para o Projeto Turismo Sustentável: a formação de agentes comunitários de mobilização turística, a elaboração de propostas para o guia do visitante de cada um dos municípios envolvidos, o planejamento e a organização dos centros de informação turística, a definição e or86

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ganização dos produtos turísticos locais, atividades que foram encampadas pelo curso de Turismo, a organização formal dos parceiros turísticos locais, a definição de um pacto com as autoridades para a manutenção da infra-estrutura de serviços públicos nas áreas turísticas, trabalho que ficou a cargo do curso de Ciências Sociais e as diretrizes para a Sinalização Turística, de responsabilidade do curso de Arquitetura e Urbanismo. Ao curso de Publicidade e Propaganda coube a elaboração das peças gráficas para a divulgação das atividades, a composição dos fascículos, material publicado em jornal local, e as teleaulas, veiculadas em emissora com sinal aberto para toda a América do Sul. Para ajudar nessa tarefa da Publicidade foram disponibilizados professores e alunos da Arquitetura, estes colaboraram no desenvolvimento das marcas e vinhetas utilizadas nos programas e no projeto. Como metodologia de trabalho, para o desenvolvimento específico das atividades da Arquitetura e Urbanismo, foi utilizado o seguinte procedimento: divisão do estado em três regiões: a serra da Ibiapaba, o litoral leste e o litoral oeste, identificação dos potenciais turísticos rurais e urbanos através de visitas aos sítios, entrevista com os dirigentes municipais e a população local e, principalmente, através dos inventários de atrativos turísticos produzidos por professores e alunos do curso de Turismo, levantamento da base cartográfica, consulta aos Planos Diretores e aos Planos de Ação Turística e, após a análise, tabulação, interpretação e discussão de todos esses dados, a elaboração de propostas, definição de planejamentos, caracterização de produtos e apresentação dos resultados obtidos em eventos realizados em cada região. Para trabalhar nas áreas pré-estabelecidas foram definidas equipes compostas por um professor e quatro alunos e se incentivou ao máximo a troca de experiências e informações entre os discentes de formações diferentes – as visitas aos quinze municípios feita pelos alunos de Arquitetura e Urbanismo foram todas precedidas pelas realizadas pelo Turismo.

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O resultado final do trabalho foi, em primeiro lugar, a proposição de Estratégias para a sinalização turística, que segundo o Guia Brasileiro de Sinalização Turística, material produzido pela EMBRATUR é: a definição de como pedestres e usuários de veículos podem utilizar a infra-estrutura presente no local para atingir, os atrativos existentes, por meio da escolha dos melhores trajetos. Após este primeiro passo se elaborou o Plano Funcional, ou seja, a aplicação sintetizada dos critérios básicos adotados na Estratégia. E finalmente o Projeto de Sinalização, no qual constam o detalhamento e critérios para a implantação das placas de orientação direcional e interpretativa IMAGEM 04.

IMAGEM 04: Parte da proposta para um dos municípios. Projeto: Professor Rocha Júnior.

Com o parágrafo anterior é fácil de se entender como ficou definido o campo de atuação do Escritório Modelo. O trabalho desenvolvido pela Universidade se restringe a diretrizes, levantamento de indicadores, orientação e consultoria. A realização dos Projetos de Sinalização, com a definição e detalhamento dos comunicadores visuais ficará a cargo de profissionais contratados pelas prefeituras, contando com o apoio da EMBRATUR. Alguns dos municípios citados já passaram para a fase seguinte: uns estão realizado licitações, outros já se encontram em fase de desenvolvimento das propostas. Não é fácil, de fato, resistir às pressões dos interessados. Empresas se dirigem à Universidade na tentativa de encontrar serviços de Arquitetura e Urbanismo com valores mais baixos.

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Alguns alunos ansiosos pelo exercício profissional às vezes não entendem a postura da coordenação em não aceitar determinados trabalhos, por não se enquadrar nas atividades pertinentes ao Escritório Modelo. Vários trabalhos já foram recusados e outros tanto devem ainda ser rejeitados, porque a divulgação dos trabalhos atrai cada vez mais clientes. . O importante é manter firme o propósito de não interferir ou se inserir no mercado de trabalho do profissional graduado. É fato, que o Escritório Modelo vai, aos poucos, abrindo novos nichos de mercado para o arquiteto e urbanista. No estado do Ceará, pouco mais de mil profissionais estão registrados no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Pode-se facilmente notar, na cidade de Fortaleza, que existe um quadrilátero em que há uma forte atuação dessa categoria profissional. Muitos bairros dessa cidade são construídos pelas mãos dos engenheiros ou de trabalhadores sem formação universitária, uma verdadeira afronta à legislação profissional. È óbvio que não se podem garantir empregos para os formados pela instituição, porque, também, esses não existem. Uma revista de circulação nacional da área de arquitetura e urbanismo fez uma enquête com seus assinantes e constatou que mais de oitenta por cento dos profissionais graduados possuem o seu próprio escritório, são gestores dos próprios negócios. Mas a Universidade deve orientar seus discentes no sentido de buscarem oportunidades de negócios, de serem verdadeiros empreendedores. O interior do estado se configura em um grande mercado a ser desbravado, assim como a restauração de edificações de interesse histórico e a requalificação de áreas degradadas. Buscou-se, com a estrutura curricular do curso na Universidade de Fortaleza, formar um arquiteto generalista com uma visão holística. O mercado de Fortaleza e de todo o estado do Ceará, procura um profissional que possa atuar no urbanismo, na arquitetura, na produção de móveis, no paisagismo e na comunicação visual. Hoje, em parceria com o IPHAN, a Federação das Indústrias, o DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as 89


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Secas e prefeituras do interior do estado do Ceará, são desenvolvidos inventários e projetos de restauro de edificações de interesse histórico. Já se observa, nos discentes que participam desses projetos, um amadurecimento acadêmico, uma conscientização profissional e a responsabilidade sobre o papel social que desempenham. Com as prefeituras de Aratuba e Redenção, dois municípios próximos à cidade de Fortaleza, o primeiro situado no cume do maciço de Baturité e o segundo no sopé da mesma formação rochosa, firmaram-se parcerias para o levantamento das edificações de interesse histórico. Embora muito próximas, as cidades tiveram gêneses completamente díspares: Redenção, cidade que se notabilizou pela libertação precoce dos escravos, daí o nome que adotou, teve a sua origem vinculada com a cultura da cana de açúcar. Latifundiários rudes fizeram suas edificações seguindo o desenho colonial que se difundiu por todo o território nacional. Já Aratuba teve o seu início vinculado ao cultivo do café. Aristocratas rurais edificaram suas moradas utilizando-se dos conceitos do Art Decô. São edificações muito mais recentes e com linhas arquitetônicas muito bem definidas. Enquanto Redenção apre-

IMAGEM 05: Perspectiva, fachada e interior de edificações em Aratuba e Redenção.

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senta construções bem populares, Aratuba mostra uma certa erudição nas linhas arquitetônicas IMAGEM 05. Em Fortaleza, projetos de restauro estão sendo conduzidos sob a responsabilidade do Escritório Modelo. Esta área é muito recente na capital cearense e no interior do estado. Poucos são os profissionais habilitados para essa tarefa. Pretende-se com essa atividade e com posteriores cursos de pósgraduação nessa área, capacitar um maior número de arquitetos e urbanistas para o trabalho de recompor edificações deterioradas pela força inclemente do tempo e dar um novo uso às edificações que se configuraram como marcos históricos de cada um dos municípios. O Escritório Modelo, nesse instante, assume um novo papel: o de formador de massa crítica. Além

IMAGEM 06: Diversos aspectos das visitas técnicas. Fotos: Daniela Ancântara.

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dessa tarefa precursora do projeto do restauro, o curso tem mantido visitas técnicas a diversos municípios brasileiros de interesse histórico como suporte para as disciplinas de História e de Técnicas Retrospectivas. Já foram objeto de visitas: Icó, Sobral, Aracati no estado do Ceará, cidades marcadas pela criação, comércio, abate e transporte do gado, pelas charqueadas, técnica local desenvolvida que se caracterizava pelo ato de salgar as carnes de modo a melhor preservá-las no período em que eram transportadas por barcos para os centros de cultivo da cana de açúcar. No Piauí se apresentou aos alunos Parnaíba, terras que um dia foram cearenses. No Maranhão se fez visita detalhada a Alcântara e a São Luís, cidades que mantiveram um estreito relacionamento com a Coroa Portuguesa no período colonial. Natal no Rio Grande do Norte e sua arquitetura militar, João Pessoa na Paraíba e as manifestações religiosas, além Olinda e Recife no Pernambuco foram também alvo de visitação IMAGEM 06.

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CCT tem os seguintes objetivos: primeiro - aproximar, desde a formação acadêmica, estas duas categorias profissionais que já criam e modificam os mesmos objetos, os edifícios e as cidades, no Mercado de Trabalho; segundo – tentar operacionalizar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade, citadas nas Diretrizes Curriculares da Arquitetura e Urbanismo e fundamentais para uma formação plena dos estudantes, sem perder a visão holística da sociedade contemporânea e por último, aproveitar as características e potencialidades de cada profissão de modo a se obter um trabalho com maior qualidade técnica e uma formação psico-social mais aprimorada para o discente. 02. DO OBJETIVO: Criar dentro da Universidade de Fortaleza campo de estágio para os alunos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil do Centro de Ciências Tecnológicas e apoiar as atividades de ensino, pesquisa e extensão, desenvolvidas no âmbito acadêmico.

Diretrizes para o funcionamento do Escritório Modelo Foi elaborado por uma equipe de professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza um conjunto de Diretrizes para nortear as atividades desenvolvidas no Escritório Modelo. A seguir faz-se uma transcrição do documento que traz a assinatura da Coordenação, mas tem o respaldo do Colegiado do curso. 01. DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES: Atendendo a determinação existente na Proposta de Diretrizes Curriculares para os cursos de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, encaminhada pelos órgãos de representação acadêmica e profissional da categoria ao MEC – Ministério de Educação, a Universidade de Fortaleza implantará, no segundo semestre do ano de 2002, o Escritório Modelo dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil, ambos integrantes do Centro de Ciências Tecnológicas da UNIFOR. A idéia de servir não somente ao curso de Arquitetura e Urbanismo, mas aos dois cursos do 92

03. DA UTILIZAÇÃO: O espaço será ocupado nos três turnos: manhã, tarde e noite, pelos professores e estudantes dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil, para o desenvolvimento das seguintes atividades: - Criação e manutenção das páginas para a Internet dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica, Engenharia de Controle e Automação, Engenharia Eletrônica, Engenharia de Telecomunicações e Informática, integrantes do Centro de Ciências Tecnológicas; - Criação e manutenção de páginas de professor e de disciplinas; - Apoiar os Centros Acadêmicos na criação e manutenção de páginas; - Criação e Manutenção de páginas para a Internet, em parceria com outras instituições locais e Municipais; - Apoiar a Diretoria de Informática na manutenção de pá93


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ginas na Internet para os demais cursos da Universidade de Fortaleza; - Criação e manutenção de Banco de Imagens para o curso de Arquitetura e Urbanismo; - Desenvolvimento de Projetos Arquitetônicos, Urbanísticos, Paisagísticos e de Interiores para as Comunidades Carentes, e de utilidade Pública Entidades com fins assistenciais e a Comunidade Universitária; - Apoiar a Diretoria de Planejamento e a Sala Técnica da UNIFOR no desenvolvimento de Projetos Arquitetônicos, Urbanísticos, Paisagísticos e de Interiores para a Universidade de Fortaleza; - Apoiar no desenvolvimento de Comunicadores Visuais para a Universidade de Fortaleza; - Desenvolvimento de todos Projetos Complementares aos Arquitetônicos, Urbanísticos, Paisagísticos e de Interiores, criados para as Comunidades Carentes o de Utilidade Publica Entidades com fins assistenciais e a Comunidade Universitária; - Realizar Inventários de bens existentes em municípios brasileiros; e - Participar de Concursos de Arquitetura, Urbanismo, Paisagismo e Comunicação Visual locais e nacionais como forma de integração do aluno do curso de Arquitetura e Urbanismo no Mercado Nacional.

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Escritório Modelo está conectado a todas as centrais de impressão e plotagem existentes na Universidade de Fortaleza de modo a possibilitar a plena utilização de todos periféricos existentes na instituição. 05. DA RESPONSABILIDADE TÉCNICA: O Escritório Modelo do Curso de Arquitetura e Urbanismo é gerenciado por um professor graduado em Arquitetura e Urbanismo. Para cada projeto a ser desenvolvido neste espaço, será composta uma equipe formada por docentes e discentes. O professor é o responsável técnico pelas atividades desenvolvidas pelos seus orientados. 06. DOS ALUNOS ENVOLVIDOS: Para o desenvolvimento das atividades do Escritório Modelo serão alocados os alunos que obtiverem êxito nos processos de seleção definidos por editais específicos para cada projeto. 07. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS: As atividades acima enumeradas serão implantadas a partir de demandas apresentadas pelas comunidades objetos de trabalho, definidas em item anterior, e constarão de editais específicos. Nestes documentos constarão, também, a forma de implantação, o tempo de duração, a composição das equipes, a infra-estrutura envolvida e a forma de remuneração dos trabalhos.

04. DA INFRA-ESTRUTURA: Está sendo utilizado o Laboratório J-43 – Escritório Modelo para o desenvolvimento das atividades acima especificadas. Este laboratório é composto por três unidades espaciais: i) Sala do Gestor; ii) Sala de Reuniões e iii) Sala de Desenvolvimento de Projetos. Foram alocados para este laboratório os seguintes equipamentos: i) cinco computadores de última geração conectados na rede acadêmica da Universidade e na Internet; ii) uma impressora jato de tinta; iii) um scanner tamanho A-04; iv) oito pranchetas com régua paralela; v) armários; vi) cadeiras; e vii) mesa de reunião. O

É fato, que ainda estão sendo enfrentadas situações novas a cada dia e que se há de gerenciar essas especificidades para que possam vir compor um aprimoramento das Diretrizes implantadas. O importante é que se tem observado um volume grande de estudantes no Escritório Modelo: acadêmicos envolvidos com os projetos e estudantes que utilizam o espaço para aprender um pouco mais sobre o exercício profissional e se integrar com discentes de semestres diferentes e até mesmo de cursos diferentes. Tem sido, pois, o Escritório Modelo um espaço fecundo para o simulacro da vida profissional e para a discussão de conteúdos e conceitos que envol-

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vem a Arquitetura e o Urbanismo na cidade, no estado, no país e no mundo. Bibliografia: CASTRIOTA, Leonardo Barci. Colóquio Arquitetura Brasileira: Redescobertas. Cuiabá: IAB, 2000. CASTRO, José Liberal de Castro. Igreja matriz de Viçosa do Ceará – arquitetura e pintura de forro. Fortaleza: IPHAN / UFC, 2001. GAETE, Mario Paredes. Arquitetura no Brasil: Depoimentos. São Paulo: FPAA, 1996. MONTEZUMA, Roberto. Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFPE, 2002. REIS FILHO, Nestos Goulart. Evolução urbana do Brasil. São Paulo: Pioneira, 1968. REIS FILHO, Nestos Goulart. Quadro da arquitetura do Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1978. SILVA, Francisco de Assis e BASTOS, Pedro Ivo de Assis. História do Brasil. São Paulo: Moderna, 1976. VASCONCELOS, Sylvio de. Sistemas construtivos adotados na arquitetura do Brasil. Fortaleza: UFC, 1978.

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PROJETO E CONSTRUÇÃO DE PASSARELA EM ARCO DE MADEIRA UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM Everaldo Pletz Engenheiro civil, Doutor – USP Professor da Universidade Paranaense – UNIPAR pletz@unipar.br

RESUMO Neste trabalho relata-se e avalia-se a experiência ensino de projeto, construção, ensaio de uma passarela de madeira em arco, realizada com o envolvimento de alunos do quarto ano do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIPAR. A importância de uma abordagem sistêmica do processo de projetar é evidenciada.

Palavras-chaves: ensino, projeto, construção, tecnologia

1-INTRODUÇÃO A criatividade e o domínio de conhecimentos tecnológicos são os sustentáculos da Arquitetura. O domínio dos conhecimentos tecnológicos é sumamente importante porque projetar uma obra de Arquitetura requer que, questões de caráter estritamente técnico sejam ordenadas, compatibilizadas entre si e com a proposta de arquitetura. Já vai longe o tempo em que se julgava que ao arquiteto seria dispensável o conhecimento técnico, que lhe bastava a criatividade para desenhar, conceber, dar formas e funções, atribuir cores e texturas. Hoje, é sabido que o arquiteto precisa estar atento e comprometido com os interesses sociais, políticos e econômicos do empreendedor da obra, com as limitações técnicas dos diversos subsistemas 96

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que compõem a obra, com as condicionantes técnicas e econômicas do processo construtivo e com a satisfação e o conforto do usuário, sem esquecer da praticidade do ponto de vista técnico e econômico, necessária ao processo de manutenção. Antes de tudo, o aluno de arquitetura deve perceber que uma obra possui quatro fases, que a fase do projeto está condicionada pela anterior destinada ao macro planejamento. Deve entender que o projeto se relaciona com as fases de construção, operação e manutenção, influindo e recebendo influências destas fases, conforme explica FUSCO (1989). Em resumo é fundamental que se mostre ao aluno de arquitetura que projetar é um processo de ordenamento de condicionantes técnicas, econômicas, sociais e políticas, usualmente conflitantes entre si, em benefício de uma proposta de arquitetura que seja rica dos pontos de vista funcional, artístico e estético.

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re com o engenheiro civil, projetista estrutural, antes ele trabalha complementarmente àquele profissional. Portanto desenvolver o projeto de uma passarela de madeira permite aos alunos, além do desenvolvimento das habilidades acima relacionadas: a- Perceber que o arquiteto precisa dominar todos os aspectos tecnológicos para bem poder projetar. b- Observar que uma solução estrutural eficiente usualmente conduz a um bom projeto de arquitetura, como acontece na natureza. c- Discutir a questão da utilização da madeira na construção civil, e reconhecer o seu enorme potencial para promover o desenvolvimento sustentável. d- Reconhecer a importância de se realizar um procedimento de controle de qualidade do projeto e da execução, tanto para o desenvolvimento dos serviços, como para o recebimento da obra.

Outro aspecto de fundamental importância destacado por CÉSAR (1998), estabelece que as aulas devem ser dadas dentro de um Laboratório ou Canteiro Experimental, criando um ponto referencial para a discussão do material, do processo construtivo, das interferências entre as variáveis intervenientes e, demonstrando a importância destes fatores para o desenvolvimento do projeto. Ë fundamental demonstrar ao aluno que o que ele colocar no projeto, será executado conforme ele especificar e que por isto um projeto deve ser elaborado com a maior seriedade e responsabilidade possível. O ensino baseado em atividades experimentais permite facilmente demonstrar na prática que muitas patologias das obras surgem de erros e omissões dos projetos.

Considerando o exposto acima foi definido que a construção de uma passarela de madeira, seria uma opção barata para o projeto de ensino, que permitiria ao aluno vivenciar todas as etapas de uma obra, materializando os conceitos sobre a realidade imaginada de uma obra. Em suma, levaria o aluno a saltar da teoria abstrata para a prática concreta e estabelecer o equilíbrio necessário entre ambas.

Segundo PLETZ e CALIL (2000) o projeto de pontes exige que seus projetistas realizem necessariamente uma abordagem sistêmica de todos os seus aspectos múltiplos. Quanto aos projetistas, pode-se afirmar que o arquiteto desempenha um papel fundamental no projeto de pontes, que é essencialmente uma estrutura, do ponto de vista da construção civil. Porém o arquiteto é um projetista de estrutura que não concor-

2.1.- PROJETO

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2- PROJETO, CONSTRUÇÃO E ENSAIO DA PASSARELA O projeto de ensino foi desenvolvido em três etapas distintas, o projeto, a construção e o ensaio da passarela, a seguir explicitadas.

Após a definição do material a ser usado, do levantamento das condições locais e da disponibilidade de equipamentos, elaborou-se um concurso de projeto de uma passarela para 99


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vencer um vão livre de 5,20m, com uma largura máxima de 2,20 m e altura máxima de 2,88 m para circulação de seus usuários, para assim não interferir na estrutura de cobertura existente sobre o local onde seria edificada a passarela. Além de se obedecer ao gabarito de 2,35 m para não prejudicar o fluxo de pessoas sob a passarela. Participaram deste concurso sete equipes de alunos do 4º ano de Arquitetura e Urbanismo. A definição do projeto vencedor foi realizada por uma comissão julgadora composta por quatro professores do curso. Os projetos elaborados foram analisados em função do atendimento dos seguintes quesitos: estética, funcionabilidade, exeqüibilidade e solidez. A FIGURA 1 apresenta o projeto vencedor, que uma vez assim declarado, foi detalhado para que se pudesse iniciar a fase da construção. Trata-se de uma passarela composta por dois arcos superiores ao tabuleiro, que apóiam sete tirantes metálicos de 0,8 mm de diâmetro, nos quais o tabuleiro é suspenso. Os arcos possuem seção transversal do tipo “ I “, em madeira laminada pregada, com mesas compostas por três tábuas de 20cm x 1,5cm e uma mesa composta por sete tábuas de 15cm x 1.5cm. Os arcos são circulares para facilitar a execução e possuem raio de curvatura igual a 4,41 metros. O tabuleiro é composto por tábuas de Garapeira de 1,20 x 20 x 2,5 cm, apoiadas sobre quatro caibros 5 cm x 6 cm dispostos segundo a direção longitudinal, espaçados entre si de 33,3 cm. Abaixo destes, 7 vigas 6 x 12 cm com 2,10 m de comprimento ( de Garapeira) dispostas transversalmente ao eixo da passarela, se apoiavam nos tirantes metálicos. As dimensões da passarela levaram os seus arcos a participarem também como elementos dos guarda-corpos. O resultado final foi um projeto simples e esteticamente agradável, com uma certa pitada de arrojo ao suspender o tabuleiro e apresentando o resgate de uma técnica de execução de arcos de madeira, esquecida na região.

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FIGURA 1 2.2- CONSTRUÇÃO Os arcos foram fabricados no local da obra, usando madeira de Cedrilho. Uma forma circular foi executada sobre o piso, com o raio de curvatura do arco, para que sobre a mesma as lâminas fossem sucessivamente colocadas, encurvadas e pregadas uma sobre a outra, conforme demonstra a FIGURA 2. Usaram-se pregos 20x48, 12x12 e 15x15, os menores na pregagem da segunda lâmina sobre a primeira, os intermediários na pregagem da terceira lâmina sobre a segunda e os maiores para a pregagem das demais lâminas. Inicialmente os alunos não haviam percebido esta necessidade. As tábuas foram selecionadas e posicionadas de tal modo que as emendas de topo não se localizassem sobre a mesma seção, evitando assim a perda localizada de resistência do arco. A seção I escolhida para os arcos facilitou a furação para os parafusos de 10 mm e de 30 cm de comprimento, do tipo francês, que atravessaram uma mesa e passaram encostados na alma, até alcançarem a outra mesa. Os furos só podem ser feitos depois de composta a seção, e se esta fosse retangular seria impossível furar sem danificar o arco e a furadeira, porque as lâminas estavam unidas entre si através de pregos, dispostos no interior do arco. 101


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FIGURA 2 Os aparelhos de apoio em aço foram fixados através de parafusos chumbados em vigas de concreto armado, conforme a FIGURA 3. Inicialmente eles foram projetados para serem fixados nas paredes, conforme se observa no projeto, na FIGURA 1. Esta mudança ocorreu porque inicialmente não se havia levantado a altura correta da viga de apoio, que posteriormente foi dada por insuficiente, e julgou-se melhor apoiar sobre o piso, que teria melhores condições de absorver os empuxos dos arcos, por ação de diafragmas. O tabuleiro foi construído com tábuas pregadas sobre quatro caibros. Nas extremidades dos tirantes foram apoiadas as vigas transversinas. Elas serviram de apoio para o tabuleiro que foi arrastado sobre as mesmas. Os esticadores permitiram ajustar o nível das transversinas e conseqüentemente do tabuleiro.

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Executados os arcos, cada um deles recebeu o respectivo conjunto de tirantes, dotados de esticadores. Cada arco foi levantado e puxado por corda até o final da primeira laje, posição em que foi içado por uma corda que passava pelo pórtico que localizado acima da passarela, para atingir a outra laje de apoio. Posicionados nos aparelhos de apoio, eles foram aprumados e travados dentro destes aparelhos, que conferiram um certo grau de engastamento. Deve-se frisar que durante a construção dos arcos, pregando tábuas após tábuas, os alunos demonstravam uma certa apreensão a respeito do sucesso do arco, porque as tábuas utilizadas apresentavam muitos defeitos, como nós e até fissuras, além de teor de umidade elevado. Concluída a colocação do tabuleiro os alunos correram para a passarela, houve uma explosão de alegria, de todos pelo sucesso da primeira obra projetada e construída, por terem dominado um sistema estrutural que nunca tinham visto, a não ser de uma maneira muito distante através dos livros, conforme se observa na FIGURA 4. Eles tiveram a oportunidade de vivenciarem a concretização do ciclo criativo.

FIGURA 3

FIGURA 4

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2.3- ENSAIO Após a execução procedeu-se uma inspeção da passarela e observou-se que os arcos começaram a fissurar devido à utilização de madeira verde. As pequenas fissuras que surgiram não chegaram a comprometer a resistência do arco, porque para efeitos estruturais apresentaram os mesmos efeitos de uma nova emenda. Os alunos ao refletirem sobre a influência dos defeitos das tábuas perceberam que o resultado do arco depende do conjunto de tábuas e que um defeito localizado neste tipo de sistema construtivo, tem uma repercussão fraca e diluída. Além da avaliação foi realizada uma prova de carga. A passarela foi carregada com 300 kgf/m2, obtidos com o posicionamento de um grupo de pessoas, e foi medido o deslocamento do tabuleiro, na seção central. A flecha obtida na prova de carga foi de 0,5 cm, enquanto que o valor máximo permitido por norma é de aproximadamente 1,5 cm. Quanto aos custos dos materiais para execução da passarela totalizaram R$2359,40; um valor bastante baixo, suficiente para a realização de uma prática de alto impacto para todos os acadêmicos do curso, e não apenas para os alunos do quarto ano. 3- RESULTADOS Além dos bons resultados observados na melhoria do nível de entendimento do processo de projeto, do amadurecimento da capacidade de percepção dos aspectos multidisciplinares intervenientes, ressalta-se que houve a produção de um artigo redigido pela aluna Michelle Faura Ferrarini, uma das autoras do projeto vencedor, apresentado no II Encontro de Iniciação Científica da Universidade Paranaense - UNIPAR. Todos estes fatos atestam o sucesso do projeto, no processo de ensino e aprendizagem.

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4- CONCLUSÕES Da realização deste projeto de ensino, resultaram importantes lições e reflexões, a seguir enumeradas: 1- É fundamental que exista nos Cursos de Arquitetura e Urbanismo, um espaço dedicado a execução do objeto projetado, para que o aluno perceba o projeto como uma das fases evolutivas da construção, e não como um fim em si mesmo. 2- Não há como ensinar a projetar sem ensinar a discutir a qualidade do projeto, e neste sentido o Canteiro Experimental é muito importante porque a construção é o crivo imparcial do projeto, que expõe as suas qualidades e os seus defeitos. 3- O Canteiro Experimental ou espaço equivalente é importante para um Curso de Arquitetura e Urbanismo porque nele se consegue reproduzir melhor várias condições que afetam o cotidiano profissional, como por exemplo, condições financeiras, disponibilidade de materiais, descompasso entre o fornecimento dos insumos e o cronograma de utilização dos mesmos. 4- Atividades de cunho experimental são usualmente de caráter multidisciplinar e geralmente não permitem que a situação problema seja desmembrada em partes isoladas, dando a falsa impressão de estanqüeidade entre as mesmas. Estas atividades demonstram aos alunos de um modo irrefutável que cabe ao arquiteto participar de áreas que aparentemente não pertencem ao seu campo, como, por exemplo, projetar estruturas, discutir o processo de execução. 5- AGRADECIMENTOS A realização deste projeto de ensino foi possível graças ao empenho da Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, na figura do prof. Carlos Augusto, e ao apoio da Coordenadoria de Pesquisas da UNIPAR.

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6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUSCO,P.B. (1989). Os caminhos da Evolução da Engenharia de Madeiras. - In: III-ENCONTRO BRASILEIRO EM MADEIRAS E EM ESTRUTURAS DE MADEIRA, São Carlos, 1989. Anais. Florianópolis, IBRAMEM/USP. Vol. VI, p.313-324. PLETZ,E. & CALIL, C. A abordagem sistêmica do projeto de pontes de madeira In: VII-ENCONTRO BRASILEIRO EM MADEIRAS E EM ESTRUTURAS DE MADEIRA, São Carlos, 1989. Anais São Carlos, IBRAMEM/USP.

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PROJETO CASA FÁCIL - UNIFIL: EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E INSERÇÃO SOCIAL Coordenadores: prof. MSc. Ivan Prado Junior e prof. MSc. Gilson Jacob Bergoc

Introdução

Pode-se dizer que a cidade contemporânea sofre de um mal crônico, senão crítico: a desorganização espacial. Desorganização essa impulsionada, entre outros fatores, pela exclusão social, ou seja, pela dificuldade que as populações menos favorecidas encontram em organizar seu lugar de viver e pela incompetência do poder publico, no contexto atual, de prover tal condição a essa parcela da população. No entanto, as médias e grandes cidades continuam crescendo, sendo que o intenso processo de urbanização, observado principalmente nas ultimas quatro décadas, “fez emergir de forma assustadora as aglomerações periféricas, desprovidas de serviços e infra-estrutura, bem como de acesso aos centros de emprego”. (LADEIA; MORAES, 1996) As aglomerações periféricas não resultam apenas do problema habitacional, mas também da deterioração das condições de vida de um modo de produção que busca cada vez mais a perpetuação das desigualdades sociais e a acumulação de capital. As habitações precárias - favelas, mocambos, cortiços surgem como alternativas para grande parte da classe trabalhadora, a fim de sobreviver nas cidades e permanecer próxima aos centros de emprego ou transporte. Tal situação, por longo período, foi tolerada pelo poder público por não alocar os recursos necessários para empreender uma ação habitacional eficaz, pelo fato de os terrenos não possuírem importância no mercado imobiliário e, ainda, porque as favelas serem centros de interesses político-eleitorais. Contudo, a partir da década de 70, tais aglomerações passam a constituir grande preocupação para a administração pública, dado o valor que os terrenos por elas ocupados adquirem no mercado imobiliário. Sem que se questionasse o por-

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Atualmente, cerca de 160 mil famílias no Paraná aguardam a vez de realizar o sonho da casa própria na fila do sistema habitacional. Segundo DE DEUS (2002), em Curitiba são 60 mil famílias que esperam em média seis anos o chamado da companhia de habitação. Londrina, município com aproximadamente 460.000 habitantes no norte do Paraná, configura-se como pólo atrativo de correntes migratórias. Desde a década de 60 verifica-se o problema habitacional se instalando. Escassas iniciativas e falta de recursos locais visando a faixa mais carente da população agravam o problema. De acordo com a COHAB-LD (Londrina, 2002) em Londrina a demanda habitacional atual é de aproximadamente 30 mil domicílios, sendo que 25.895 são para do-

micílios com famílias de rendimento de até 3 salários mínimos. Esses dados mostram o que essa cidade enfrenta e o nível de deterioração das condições de vida da população, que atualmente não tem alternativa a não ser sobreviver em habitações subnormais, em cortiços e favelas. A habitação constitui uma das fundamentais necessidades do homem. Esta assume função urbana vinculando-se ao processo de desenvolvimento regional, devendo ser encarada numa perspectiva mais abrangente, como investimento e como objeto de intervenção necessária ao desenvolvimento, tanto no nível da estrutura urbana quanto na formação e inserção social da população. A partir desses problemas diversas soluções têm sido apresentadas por entidades civis e sociais para minimizá-los. No Paraná, o Programa Casa-Fácil, idealizado e implantado a partir de 1988 pelo CREA-PR, tornou-se uma alternativa viável e aconselhada por órgãos nacionais e internacionais de habitação. Para sua viabilização conta com a participação de vários organismos: o CREA-PR, a prefeituras municipais, entidades de classe de arquitetura e engenharia e as Universidades em diversos municípios do Paraná. Partindo-se do princípio de quem ganha até três salários mínimos tem dificuldade em contratar um profissional da engenharia ou da arquitetura para projetar e assumir a responsabilidade técnica de uma residência, por menor que seja, e que em vista disso, a grande maioria das casas populares – mesmo as situadas em áreas urbanas dotadas de toda infra-estrutura – são obras clandestinas, o Programa Casa Fácil visa corrigir essa distorção ao mesmo tempo em que possibilita a aproximação da Universidade à comunidade. Assim, o programa propõe-se a atender a população de baixa renda com projetos arquitetônicos de moradias de até 70m² em que são considerados os aspectos legais, os de conforto e as necessidades de cada família, evitando assim uma série de problemas decorrentes de projetos inadequados ou

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quê de seu surgimento, o que seria reconhecer as falhas do sistema capitalista, as favelas passam a ser consideradas “disfunção do sistema” e, como tal deveriam ser erradicadas. Criam-se assim, programas com vistas à remoção do “problema” e, de invasores, as favelas passam a ser “invadidas”. É pertinente considerar que as habitações precárias são fruto de um universo de fatores econômicos, políticos e sociais e são reflexo de desequilíbrios existentes na sociedade e sua formação está intimamente ligada a problemas gerados no meio rural somados ao agravamento dos problemas gerados no meio urbano. A solução dos problemas habitacionais extrapola, portanto, a mera questão da habitação. A falta de moradia está ligada à ausência de emprego e salário justo, à indefinição quanto à reforma agrária que possibilite a geração de emprego e renda para o homem do campo, não o expulsando para os grandes centros urbanos e, fundamentalmente, o não pagamento da dívida externa, pois esta consome bilhões de dólares que poderiam ser utilizados na construção do bem-estar social da população. O Programa Casa-Fácil


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mesmo da má utilização dos lotes e do espaço urbano. A necessidade de oferecer condições dignas de moradia às classes mais desfavorecidas da população, com toda a documentação e legalização necessária, é sua principal justificativa. Desde sua implantação em Londrina, em 1994, o programa passou por diversos momentos, enfrentando inclusive descontinuidade. Pode-se assim afirmar que, mesmo antes da aprovação do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), o Projeto Casa Fácil atendia ao item que trata da assistência técnica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos, conforme consta no Art. 4º, Cap. V - Institutos jurídicos e políticos. O Centro Universitário Filadélfia - UniFil passou a integrar o programa, juntamente com a Universidade Estadual de Londrina, a partir de 1994. Atenderam aproximadamente 1500 famílias, até 1997, quando sofreu interrupção. A partir do ano de 2002, através do convênio firmado entre o CREA-PR, a Prefeitura do Município de Londrina e a UniFil, é reiniciado como Extensão Universitária, denominado Projeto Casa Fácil – UniFil. Deste reinício até junho de 2004 realizou trabalhos para mais de 350 famílias. O projeto Casa Fácil - UniFil O Projeto Casa Fácil - UniFil é coordenado pelos docentes arquitetos Gilson Jacob Bergoc e Ivan Prado Junior, sendo que o primeiro responde pelo gerenciamento do convênio perante o CREA-PR e a Prefeitura Municipal da cidade de Londrina e o segundo pela coordenação operacional dos projetos e o atendimento ao público, contando com o auxílio de alunos que atuam como monitores e estagiários. Seu principal objetivo é produzir projetos arquitetônicos de moradia popular, limitado a 70m2 de área construída e um pavimento, adequados à comunidade, de acordo com os parâmetros instituídos pelas leis vigentes, que visem a garantia das condições de salubridade, habitabilidade e conforto.

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Destinam-se à população com comprovada baixa renda, da cidade de Londrina, cuja família recebe no máximo três salários mínimos e que tem no máximo um único lote devidamente urbanizado nesta cidade e que não tenha sido atendida em outra oportunidade por programas similares. O atendimento ao público, assim como o desenvolvimento e fornecimento de projetos realiza-se em local próprio, com acesso independente para o público, no campus da UniFil, nas instalações do ETAC – Escritório Técnico de Arquitetura e Construção. Atualmente participam quatro monitores da 4ª e 5ª séries do curso de Arquitetura e Urbanismo. Estes atuam diretamente no atendimento à população, no levantamento do programa de necessidades, da elaboração dos projetos, orientados pelo docente, preenchimento de ART e encaminhamento de projetos e clientes à Prefeitura do Município de Londrina. Os estagiários, em número de quatro atualmente, auxíliam os monitores em todas as atividades (projetos, desenhos, elaboração de maquetes, atendimento e outras). A avaliação do programa é realizada através do acompanhamento constante e individual do atendimento e demais serviços prestados pelos envolvidos e, ao final de cada ano, através de relatórios apresentados pela coordenação de estágio ao Colegiado de Arquitetura e à Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão da UniFil. A disseminação dos resultados junto à comunidade acadêmica tem sido realizada através de relatórios de desenvolvimento do programa durante o ano, participações em eventos científicos pertinentes e, junto à comunidade em geral, através da imprensa escrita, falada e televisionada e da publicação de artigos em livros e revistas. Organização e funcionamento O interessado é encaminhado pela Prefeitura Municipal, após a comprovação de que não possui nenhum outro imóvel em seu nome, para participar do programa. Junto à UniFil, passa por uma entrevista visando levantar os dados sócio-econômi111


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cos, para comprovar se a renda mensal não é superior aos limites estabelecidos no convênio e verificar suas atuais condições e necessidades. Os dados físicos que orientarão a elaboração do projeto da moradia, tais como: situação, dimensões do terreno, norte, área de edificação já existente no terreno e outras, são fornecidos pela Prefeitura. Após esse processo é agendado o retorno, que varia de uma a três semanas, de acordo com a demanda do período e também com o projeto, definido em conjunto com o cliente. A fase seguinte refere-se ao desenvolvimento do projeto de acordo com as necessidades do interessado. O docente responsável orienta a elaboração do projeto arquitetônico. O beneficiado pode escolher entre projetos que já constam de um cadastro de mais de 54 tipologias habitacionais ou então discute como deseja sua futura residência. Neste caso os projetos são elaborados e o beneficiado volta tantas vezes quantas forem necessárias para que o projeto corresponda às expectativas, necessidades e até aos sonhos do interessado. Vale registrar que os beneficiados, na grande maioria, optam por projetos personalizados. Recusam as tipologias apresentadas como “padrão”, como que querendo afirmar sua identidade através do realização de sua moradia. Os alunos, sob supervisão do docente, preparam a documentação necessária para aprovação na Prefeitura bem como orientam o beneficiado sobre aspectos técnicos relacionados à execução da obra. O docente fica disponível para dirimir eventuais dúvidas da execução, o que é feito com a participação do alunos. Após receber todas instruções e documentos o beneficiado se desloca até a Prefeitura para encaminhar o processo de aprovação do projeto, que leva em torno de uma semana. Ao retirar o alvará de construção recebe um cartaz com a identificação do “Projeto Casa Fácil” que deve ser afixado na obra, valendo como placa. É feita a anotação da responsabilidade técnica - ART - junto ao CREA-PR, bem como memorial genérico da obra. Estes procedimentos garantem ao beneficiado a

isenção de uma série de taxas públicas: Alvará de Aprovação e Licença para Construção, ART e Habite-se. Esta documentação dá amparo legal para a isenção dos recolhimentos junto ao INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social. Obtém a certidão negativa de débitos no INSS e finalmente, de posse desses documentos, pode averbar a obra no Cartório de Registro de Imóveis. Enquanto estes procedimentos não estiverem completos, orienta-se o beneficiado a não fazer qualquer modificação na edificação, sob pena de perda dos benefícios. O atendimento ao público é realizado dois dias por semana e o desenvolvimento dos projetos nos demais dias. Desse modo, a capacidade de atendimento do programa é de aproximadamente oito pessoas por semana, o que equivale à capacidade máxima de 240 famílias por ano de acordo com a estrutura prevista para 2004.

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Resultados obtidos O Convênio Moradia Casa Fácil – UNIFIL entre 2002 e 2004, realizou 350 atendimentos, dos quais 320 projetos já foram entregues, correspondendo a uma área de 19.935,31m² em projetos fornecidos. Considerando que no mercado de trabalho em Londrina, habitualmente esse tipo de projeto custa para o interessado aproximadamente R$ 5,00 o metro quadrado, considera-se então que a prestação desse serviço corresponde em valores atuais a R$ 99.676,57 revertidos à população de baixa renda. Este projeto tem também um grande impacto econômico. Considerando um valor médio de R$ 200,00/m² para a tipologia de construção em questão, o total de recursos mobilizados pelos que têm procurado este programa perfaz um valor aproximado de R$ 3.987.062,00. Computando-se um imposto médio de 10% sobre os materiais de construção, pode-se afirmar que são gerados aproximadamente R$ 398.706,29 de impostos somente dos materiais. Esse é o benefício econômico gerado ao poder público.


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Dos projetos já entregues aproximadamente, 75% possuem área entre 61 e 70 m², 18% entre 40 e 60m² e 7% menores de 40m². Estão distribuídos em edificações de um pavimento e de um, dois e três dormitórios; as tipologias variam de residências isoladas, geminadas e edículas. Os projetos, são elaborados a partir das necessidades dos clientes, que a princípio podem optar por um projeto padrão ou personalizado, o que influencia no prazo de entrega. Uma característica interessante, é em relação a configuração dos projetos mais solicitados: dois dormitórios, sala, cozinha, banheiro e previsão para abrigo de automóvel, com cobertura e disposição do terreno muito semelhantes entre si. Além dos resultados econômicos, foram observados diversos benefícios do Projeto que atingem todas as partes envolvidas: 1. As famílias (beneficiados) economizam significativamente na contrução de suas habitações, garantem sua legítima propriedade e o valor comercial. Têm um projeto para uma edificação de melhor qualidade, considerando a implantação, insolação, ventilação e outras características que o projeto possa assegurar. 2. A Prefeitura Municipal tem no Convênio um aliado importante dos programas habitacionais municipais. Contribui para a ordenação do crescimento da cidade, para ocupar os vazios urbanos e para atender as normas edílicas, e de uso e ocupação do solo urbano. 3. As Entidades de Classe de Arquitetos e Engenheiros passam a ter presença mais atuante junto à comunidade, fortalecendo o aspecto social da profissão, já que estão à disposição dos interessados para a necessária orientação técnica durante a construção da obra; seus associados ficam liberados da responsabilidade técnica e civil, uma vez que não são os executores diretos das edificações.

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4. Devido ao cunho social deste projeto, a Instituição UniFil tem seu nome associado a um importante programa, ampliando dessa maneira sua ação junto à comunidade, reforçando seu papel como Universidade, promovendo a integração do ensino, principalmente com esta atividade de extensão, inserindo o aluno na realidade da nossa sociedade. O programa integra-se também à proposta pedagógica do curso. De acordo com UNIFIL (2000), não se almeja somente a formação de um profissional apto ao mercado, mas também de “um indivíduo igualmente capaz de pensar e agir criticamente dentro da situação concreta de trabalho, participante do processo de transformações inerentes à sociedade e consciente disto.” Nesse sentido, a proposta a declaração da UNESCO/ UIA (1998), ressalta que os conhecimentos e habilidades necessárias à formação do arquiteto, “devem emergir da contínua interação entre prática e ensino de Arquitetura, encorajada pelos governos, escolas, professores, pesquisadores e estudantes.” Os alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo, ao participarem das atividades do programa, além de apresentarem melhoria no rendimento acadêmico, têm a oportunidade de ampliarem sua visão em relação às oportunidades existentes no amplo campo profissional da arquitetura, desenvolverem o senso crítico, a responsabilidade social e a percepção da realidade, fundamentais para sua formação como profissional e como cidadão. O Projeto Casa Fácil - UniFil tem sido procurado inclusive por alunos de outras instituições para fornecimento de estágio, confirmando a abrangência de sua ação. Conclusão Esta expreriência nos mostra que as atividades acadêmicas, integradas a programas de amplo alcance social, programadas de maneira que permitam vivenciar a prática e, ao mes-

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mo tempo, refletir sobre ela, realizadas dentro e fora da unidade acadêmica, de forma articulada, contribuem para uma sólida formação profissional, abrangente e socialmente responsável. É dessa forma que os profissionais, arquitetos e urbanistas que estão inseridos direta ou indiretamente neste programa, acreditam estar colaborando com soluções para a melhoria da qualidade de vida das populações mais necessitadas, ao mesmo tempo em que se procura conscientizar os alunos para este problema que atinge milhares de pessoas no Brasil e no mundo, formando mais que um Arquiteto, um cidadão. Ao mesmo tempo coloca a possibilidade de uma Instituição privada realizar um trabalho social de grande alcance, vinculando o processo de formação de seus alunos com atividades de extensão que atingem diretamente a população mais carente, cumprindo sua função social.

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LONDRINA. PEMAS – PLANO ESTRATÉGICO MUNICIPAL PARA ASSENTAMENTOS SUBNORMAIS. Londrina, COHAB-LD, 2002. UNESCO/ UIA. Carta de La Formación en Arquitectura. In: BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. CESU. Diretrizes curriculares: arquitetura e urbanismo. Brasília, 1998.

Bibliografia CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA. Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Londrina: UniFil, 2004CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA – CREA-PR. Casa Fácil: Programa de moradia popular. Crea-PR: Curitiba, 1999. CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA. Relatório do Programa “Projeto Casa Fácil” de 2003. Londrina: Unifil, 2004 BRASIL. Estatuto da Cidade. Lei nº10.257, 2001de 10/10/ 2001.Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/sf/legislacao/ legisla/> Acesso em agosto de 2003. DE DEUS, S. L. Déficit Habitacional. Revista do Crea-PR. Ano 5, n. 18, Julho/agosto 2002. P.14-15 : Curitiba, 2002. LADEIA, A. B.; MORAES, E. B. Habitação de baixa renda no âmbito municipal: habitação e políticas públicas em cidades médias o caso de Londrina. Londrina, 1996.

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UMA VISÃO DO ENSINO DAS ESTRUTURAS DAS EDIFICAÇÕES PARA OS ESTUDANTES DE ARQUITETURA Prof. Dr. João Eduardo Di Pietro – dipietro@arq.ufsc.br Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Arquitetura e Engenharia Civil - Campus Universitário - Trindade - 88040-900 – Florianópolis – Santa Catarina

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argamassa armada, metálicas (aço e alumínio), madeiras (simples ou associadas) e alvenarias estruturais. Tem como objetivo principal um ensino de estruturas que seja eficaz à formação e ao mesmo tempo atraente ao estudante de engenharia e arquitetura.

Prof. Roberto de Oliveira, PhD - ecv1rdo@ecv.ufsc.br Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura - Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis

Palavras chaves: Ensino, Ensino de estruturas, Estruturas

RESUMO O objetivo deste trabalho é abordar a problemática da transferência do conhecimento de estruturas aos estudantes do curso de arquitetura, estabelecido a partir de uma análise do processo ensino/aprendizagem. Parte da experiência verificada ao longo de muitos anos de magistério, especificamente às disciplinas de Experimentação e Introdução à Analise das Estruturas oferecida ao curso de Arquitetura e Urbanismo e Análise Qualitativa das Estruturas, ao curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina, de discussões em encontros, seminários, congressos nacionais e ainda, de publicações existentes sobre o assunto. Em uma primeira etapa, as formas estruturais, suas relações com a natureza e seu funcionamento são mostradas através de modelos e maquetes, de maneira essencialmente qualitativa, permitindo, expeditamente, o pré-dimensionamento dos elementos estruturais. Procura-se reduzir o hiato existente entre o conhecimento teórico e prático no campo das estruturas, fazendo uma ligação entre a intuição, comum aos seres humanos e o conhecimento tecnológico que as cerca, adequando-as a uma realidade física baseada em postulados matemáticos. Na segunda etapa, procurar-se-á diminuir o hiato pela aplicação de métodos quantitativos em estrutura. Isto se consegue pelo exercício do processo de projeto em diversos sistemas estruturais tais como concretos (armado e protendido),

Os meios de produção e de serviço estão passando por profundas alterações, caracterizadas como uma mudança de paradigma - do paradigma da produção massiva para o paradigma da produção racional, isto é, sem desperdícios de energia, tempo, material e esforço humanos. Essa mudança implica uma modificação da postura dos profissionais em geral e, portanto, do processo de formação desses profissionais. Essa mudança de paradigma na produção e serviço tem levado as universidades a repensarem sua prática pedagógica, refazendo currículos, introduzindo tecnologia educacional e provendo estágios dos alunos com a finalidade de introduzilos na prática profissional. Especificamente em relação à arquitetura e à engenharia, há uma grande pressão para a introdução dessas mudanças. A produção racional está sendo utilizada por um grande número de empresas e o dia-a-dia do arquiteto, do engenheiro e do empresário exige cada vez mais o pensamento racional. No entanto, a formação desses profissionais ainda não sofreu alterações significativas, continuando a formá-los com habilidades para funcionar segundo o paradigma da produção massiva. A formação para a produção racional requer um processo de aprendizado centrado na ação de fazer engenharia e arquitetura ao invés de ensinar o aluno sobre engenharia e arquitetura. Descreve-se como criar ambientes de aprendizado e as implicações em relação ao currículo e em relação às atitudes do professor e do aluno.

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS


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A teoria de Kuhn, (1982), ajuda a compreender as mudanças de paradigmas na evolução do pensamento científico e pode ser útil para analisar o que ocorre no contexto da produção de bens e serviços. Inicialmente, tem-se a produção artesanal, em seguida, a produção massiva e, finalmente, a produção racional. A produção artesanal emprega trabalhadores com grande habilidade e ferramentas flexíveis para produzir exatamente o que o consumidor demanda e um item de cada vez. O custo dessa produção é alto, porém, geralmente, a qualidade do produto é excelente. Na produção em massa, o objetivo é densificar a produção e diminuir o custo do produto, muitas vezes em detrimento da qualidade. Profissionais com formação específica planejam a produção que deverá ser executada por um trabalhador com pouca ou nenhuma habilidade, através de máquinas especiais que produzem grande quantidade de um produto. A produção racional combina as vantagens da produção artesanal - grande variedade e alta qua1idade - e as vantagens da produção massiva - grande quantidade e baixo custo. Essas distinções podem ser esquematizadas conforme a Tabela 1 (GARBARIAN, 1992).

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Como esses diferentes tipos de produção caracterizam diferentes paradigmas, acabam tendo um profundo impacto em todos os setores da sociedade, como por exemplo, sobre a educação e serviços em geral, influenciando a maneira de viver e pensar. No caso específico da educação, esta sofre influ-

ência direta dos sistemas de produção e serviço. Isso, porque a educação deve preparar as pessoas para atuarem segundo esses paradigmas. Assim, a escola passa a ser a reprodutora das relações de produção e serviço. Ela não só deve passar as idéias dos sistemas de produção e serviço (educação através da transmissão de idéias), como também ela própria assume uma estrutura semelhante a dos meios de produção e serviço (educação através da vivência). O processo educacional também pode ser caracterizado de acordo com os diferentes sistemas de produção. Na época da produção artesanal, as pessoas eram educadas por “mentores”. Esses profissionais eram contratados para educar os membros da corte ou das famílias ricas. Uma versão menos elitista era o professor particular, que educava um pequeno grupo de alunos que podiam arcar com os custos dessa educação. Esse sistema educacional perdurou até o advento da produção em massa, quando então, houve a massificação do ensino. O sistema educacional atual pode ser caracterizado como fruto do paradigma de produção em massa. A nossa escola pode ser vista como uma linha de montagem: o aluno é o produto que está sendo educado ou “montado” e os professores são os “montadores” do conhecimento do aluno. Além disso, existe a estrutura de controle do processo de “produção”, formada por diretores e supervisores que verificam se o “planejamento da produção” traduzida em termos da metodologia, do currículo e da disciplina, está sendo cumprido. Se tudo for realizado de acordo com o plano, essa linha de montagem deve produzir alunos capacitados. Caso contrário, existem as ações corretoras: a recuperação ou a repetência. Mesmo a organização do currículo, que é baseada no paradigma da produção em massa ou, mais especificamente, no modelo da racionalidade técnica, estabelece uma dicotomia entre o conhecimento científico e aplicado e a aplicação desse conhecimento na prática profissional (VALENTE, 1995).

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Produção Artesanal

Produção Massiva

Produção Racional

Trabalhadores habilitados

Trabalhadores não habilitados

Trabalhadores habilitados

Ferramentas flexíveis

Ferramentas inflexíveis

Ferramentas flexíveis

Produtos exclusivos

Produtos padronizados

Produtos quase exclusivos

Alta qualidade

Qualidade razoável

Alta qualidade

Baixa quantidade

Alta quantidade

Alta quantidade

Alto custo

Baixo custo

Baixo custo


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Assim, o conhecimento é fragmentado, categorizado, hierarquizado e ministrado em uma ordem crescente de complexidade. Espera-se que o aluno seja capaz de assimilar esse conhecimento molecular, cada vez mais fracionado e integrar e aplicar esses conhecimentos na resolução de problemas do mundo real. Inicialmente são oferecidos cursos teóricos sobre os diferentes conteúdos programáticos e, mais no final do curso (especialmente nos cursos de formação universitária), é solicitado ao aluno o desenvolvimento de um projeto prático, apresentado como o contexto para a aplicação do conhecimento adquirido e o desenvolvimento de competências, capacidades e atitudes profissionais. Em síntese, o modelo educacional em uso, é baseado na transmissão de conhecimento, assumindo que o aluno é um recipiente vazio a ser preenchido ou o produto que deve ser “montado”. Essa abordagem é generalizada como metodologia de ensino e ainda é utilizada nos cursos de arquitetura e engenharia. O resultado desse modelo educacional é o aluno passivo, sem capacidade crítica e com uma visão de mundo segundo a que lhe foi transmitida. O profissional com essa habilidade terá pouca chance de sobreviver na sociedade do conhecimento. Na verdade, estamos produzindo alunos e profissionais obsoletos. Essa formação não pode mais ser baseada no “instrucionismo”, onde o professor instrui ao aluno, mas no “construcionismo”, onde o aluno constrói o seu conhecimento, aprende porque faz, reflete sobre o produto que obtém e depura as suas idéias e ações. O sistema educacional segundo a visão da produção racional ainda está por vir. No entanto, é possível ter algumas idéias de como essa educação deverá ocorrer e que tipo de formação ela deverá proporcionar. O Homem da sociedade “racional” deverá ser o homem da sociedade do conhecimento (DRUCKER, 1993).

Um homem crítico, criativo, com capacidade de pensar, de aprender a aprender, de trabalhar em grupo e de conhecer o seu potencial cognitivo e afetivo deverá ter uma visão geral sobre os diferentes problemas que afligem a humanidade como as questões sociais e a ecologia, além do profundo conhecimento sobre domínios específicos. Ou seja, um homem atento e sensível às mudanças da sociedade com uma visão transdisciplinar e com capacidade de constante aprimoramento e depuração de idéias e ações. Certamente, essa nova atitude é fruto de um processo educacional cujo objetivo será a criação de ambientes de aprendizagem onde o aluno possa vivenciar e desenvolver essas habilidades. Elas não são passíveis de serem transmitidas, mas devem ser construídas e desenvolvidas em cada indivíduo. No caso da arquitetura e da engenharia, o egresso da escola hoje, com certeza, deverá estar em contato direto com o sistema de produção racional. Esse paradigma de produção está sendo disseminado em todas as empresas e constitui um processo irreversível. Portanto, esse profissional deve estar preparado para atuar nesse novo ambiente de produção e a sua formação deve propiciar o desenvolvimento de habilidades para que isso definitivamente aconteça. Entretanto, essa formação tem que ser feita através de um sistema compatível com o novo paradigma, tanto no sentido da construção de conceitos quanto do desenvolvimento de uma estrutura que permita ao aluno vivenciar a experiência da produção racional ou do “pensamento racional”. A questão é: como proporcionar essa formação? Que alterações são necessárias para constituir um ambiente onde o aluno possa adquirir as habilidades necessárias para atuar na sociedade racional? As respostas para essas questões podem ser fornecidas através da experiência acumulada ao longo do processo de ensino e aprendizagem. Essa experiência pode servir de base para propiciar algumas idéi-

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as de como alterar o ensino de engenharia e de arquitetura e capacitar profissionais para atuarem no paradigma racional. Uma metodologia de ensino adequada é uma ferramenta que auxilia a entender os paradigmas educacionais como o instrucionismo - baseado na produção em massa - e o construcionismo - baseado na produção racional. ,2. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA Todo engenheiro civil, como também todo estudante de engenharia, já se convenceu da importância do conhecimento estrutural para a sua formação, sabendo entretanto, que a aquisição de tais conhecimentos é mais complexa do que se poderia esperar. A rapidez da evolução tecnológica, os novos materiais, a criação de novas formas arquitetônicas, que apresentam dificuldades para a formulação matemática de sua estrutura, tornam quase impossível ao homem de formação essencialmente artística, absorver todo este conhecimento. O arquiteto contemporâneo deve estar familiarizado com estética, engenharia, sociologia, economia, urbanismo e planejamento, entre outros O conhecimento das ferramentas necessárias para compreender a tecnologia moderna é, na maioria das vezes, limitado, pois a matemática, a física e a química não são matérias essenciais à sua formação (SALVADORI, 1990). Por outro lado, o conhecimento do engenheiro nas áreas sociológica, estética e do planejamento é tão limitado quanto o do arquiteto com respeito às matérias técnicas. Um diálogo entre arquiteto e engenheiro é praticamente impossível: carecem de um vocabulário comum. Como este diálogo é necessário, pergunta-se: deve o engenheiro ter mais conhecimentos de arquitetura ou o arquiteto mais conhecimento de engenharia? No campo das estruturas o conhecimento qualitativo deve ser, naturalmente, requisito básico ao estudo quantitativo, pois 124

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raramente se desperta o interesse por determinado assunto sem que haja, pelo menos, um conhecimento prévio sobre o mesmo, ainda que intuitivo. A intuição é um processo essencialmente sintético: gera a compreensão repentina e direta. Resulta num caminho satisfatório até o conhecimento global, desde que associada a duas condições: experiência prévia e cuidadosa verificação (STUCCHI, 1997). A prática pode significar um refinamento extraordinário da intuição que, através de um laboratório, pode ser refinada pelos experimentos, onde as diversas ações estruturais possam ser compreendidas e avaliadas visualmente. O emprego de modelos para o ensino das estruturas, tanto nas escolas de arquitetura como de engenharia, constituem elementos ideais para uma apresentação intuitiva e qualitativa dos conceitos estruturais, não eximindo, entretanto, de um conhecimento quantitativo a todos aqueles que desejam formas estruturais arrojadas e ao mesmo tempo corretas. 3. OBJETIVOS 3. 1. Objetivos Gerais A elaboração de uma metodologia que possa promover melhoria do ensino de estruturas nas escolas de arquitetura e de engenharia, através da utilização de modelos estruturais reduzidos. A confecção de modelos apropriados, afim de que sejam apresentadas as implicações da aplicação das cargas sobre estruturas são necessários para que haja uma compreensão imediata desses efeitos. Pretende-se, com esta proposta, além de motivar o aluno a interessar-se pelas leis físicas que envolvem os diversos tipos estruturais, proporcionar-lhe as ferramentas necessárias e introdutórias à análise quantitativa, através do conhecimento qualitativo do comportamento das estruturas.

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3. 2. Objetivos Específicos Fornecer meios para: - Elevar o nível de compreensão e fixação dos conceitos teóricos sobre o comportamento das estruturas; - Estabelecer uma relação mais clara e direta entre a teoria e a prática; - Ampliar o contato do aluno com a prática de laboratório; - Proporcionar uma formação científica e integração multidisciplinar dos currículos de graduação dos cursos de arquitetura e de engenharia; Criar um espaço onde os alunos, nos períodos iniciais de graduação possam participar, de forma ativa, quebrando a tradicional postura apática no processo de concepção, na construção e ensaio de modelos físicos capazes de reproduzir o comportamento de diferentes estruturas. 4. METODOLOGIA DO ENSINO DE ESTRUTURAS 4. 1. Ensino e Aprendizado na Arquitetura e Engenharia Indubitavelmente cada disciplina tem seu programa particular. Cada professor segue alguns critérios gerais, mas tem também, suas preferências pessoais, primando pela objetividade mas admitindo doses variáveis de subjetividade. As temáticas de ensino apoiam-se em razões, exemplos, programas de necessidades, esquemas funcionais e, a evolução do projeto, em processos explícitos e implícitos. As disciplinas teóricas são apresentadas em forma de esquemas, exemplos e comparações. A forma de aprendizagem está fundamentada na compreensão de textos e especialmente na memória. Nas disciplinas técnicas referentes às edificações, distinguem-se os campos das estruturas, instalações, materiais e construções, que compartilham raízes teóricas comuns, mas 126

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requerem tópicos especiais de ensino/aprendizagem. Todas baseiam-se em conhecimentos físicos e matemáticos englobando componentes de ciências aplicadas e, por isso, denominam-se de tecnologia da construção ou da edificação. O ensino das estruturas baseia-se em considerações teóricas e aplicadas através de esquemas de funcionamento onde deduzem-se expressões matemáticas. Estas aplicações matemáticas permitem projetar e dimensionar os conjuntos de elementos que constituem o projeto estrutural formal e construtivo. O ensino/aprendizagem abrange então essas etapas mencionadas: as teorias, os esquemas estruturais, o projeto, o dimensionamento e suas verificações. Portanto, essa forma de ensino constitui-se em aprendizagem laboriosa e cansativa, através de exercícios variados e sujeitos aos mais diversos erros. A participação dos alunos, neste caso, não existe. Têm, simplesmente, que assimilar tudo que é passado pelo professor. O ensino de estruturas vem sendo ministrado, atualmente, de maneira descontínua, fragmentada, desinteressante e tunelizada, isto é, tem um começo e fim, impedindo entretanto, que o aluno vislumbre o que ocorre ao seu redor. 4. 2. Proposta Metodológica Na proposta para o ensino de estruturas, ora apresentada, o processo de transmissão do conhecimento deve ocorrer em duas etapas distintas: 1a Etapa: A Percepção Qualitativa das Estruturas Esta etapa desenvolve-se em três níveis de profundidade no processo ensino/aprendizado, segundo objetivos e necessidades variadas: - Nível 1 (inicial) – Contato com o modelo didático; - Nível 2 (intermediário) – Criação, projeto, construção e análise dos modelos;

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- Nível 3 (avançado) – Contato com a análise experimental através de modelos. No Nível 1 (inicial), o estudante tem contato com os diversos sistemas estruturais naturais (vegetais, animais e minerais), a fim de despertar seu interesse pelas mais diferentes formas que a natureza apresenta, na qual a estrutura é o resultado das possibilidades construtivas do material aliadas a uma forma com funções pré-determinadas e, existindo entre o material e a estrutura, uma congruência e uma continuidade que não existem no campo da técnica, onde o homem procura substituir o processo construtivo natural por um processo analítico. Ainda, nesta primeira etapa, o aluno tem os primeiros contatos com os modelos didáticos apresentados pelo professor de forma puramente qualitativa, onde são ilustradas as definições e conceitos teóricos, aliado à observação de seu comportamento real, comparando-o com o previsto pela teoria. No Nível 2 (intermediário), a interface entre a teoria e a prática se aprofunda pelas atividades que envolvem a criação, o projeto, a construção e a análise qualitativa dos modelos didáticos utilizados nas aulas práticas do Nível 1. Nesta etapa levase o aluno à liberdade de criação e de reflexão sobre o comportamento físico do modelo, bem como das questões relativas ao desenvolvimento da teoria, como a adoção de hipóteses simplificadoras. Esta tarefa é proposta como um trabalho prático e sua execução será durante o semestre letivo. No Nível 3 (avançado), o aluno entra em contato com a análise experimental através dos modelos físicos, aprofundando a análise teórica com o auxílio de métodos quantitativos. Esta etapa pode, ainda, ser direcionada aos projetos de iniciação científica e de pesquisa na pós-graduação. Os projetos, para este nível de aprofundamento, devem ter uma duração em torno de dois a três períodos letivos. As atividades de criação, projeto e execução de modelos físicos reduzidos, ou mesmo em escala real, são extremamente úteis no processo de sintetização dos conhecimentos a partir 128

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da teoria, possibilitando a aplicação do processo construtivista, onde o aluno constrói, aprende, reflete e depura suas idéias e ações. A implementação deste projeto de desenvolvimento e utilização de modelos didáticos, no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, foi possível graças a existência dos laboratórios de Modelos e Maquetes e de Sistemas Construtivos – Setor de Estruturas. O primeiro é utilizado na execução dos modelos e o segundo, nos seus ensaios. 2a Etapa: Métodos Quantitativos A aplicação de métodos quantitativos consegue-se pelo exercício do processo de projeto aplicado aos mais diversos sistemas estruturais, culminando com um anteprojeto integrado (arquitetônico e complementares). Esta etapa não é objeto deste trabalho. 4. 3. Implementação da Metodologia Proposta No curso de Engenharia Civil a implementação deu-se através da criação da disciplina optativa: Análise Qualitativa das Estruturas utilizando-se a mesma estrutura laboratorial utilizada na arquitetura. Como não foi possível dividi-la em duas turmas foi idealizado a apresentação, por parte dos alunos, de um relatório final, onde o estudante se manifesta de maneira aberta sobre a disciplina. 5. MÉTODOS E TÉCNICAS Para a aplicação desta proposta de ensino/aprendizado, isto é, o emprego de modelos qualitativos para o ensino de estruturas, foram utilizadas duas turmas da disciplina obrigatória de Experimentação II (Turmas A e B) do curso de Arquitetura e Urbanismo e uma turma da disciplina optativa Análise Qualitativa das Estruturas, do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina e tendo cada uma 3 (três) horas/aulas semanais, durante os semestres 97/2 a 99/2, apresentando a seguinte distribuição de alunos por turma: 129


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Tabela 2 – Quantidade de Alunos por Semestre Engenharia C ivil

Arquitetura

Semestre

Turma A

Turma B

Turma Ú nica 25

97/2

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98/1

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26

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98/2

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99/1

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99/2

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tre as equipes a fim de criar um clima de competição e estimular a criatividade. Esses modelos, dentre os mais significativos, foram sobre treliças planas, pórticos simples e cúpulas. O ensaio permitiu uma visualização dos esforços que ocorrem nos elementos que compõem a estrutura - as barras. Com a aplicação da carga é possível perceber, quais os elementos que estão sujeitas à tração e/ou compressão. As figuras a seguir ilustram algumas dessas experiências. As estruturas constituídas por treliças foram elaboradas dentro de certos parâmetros, não sendo permitido uma altura superior à 30 cm nem comprimento maior que 120 cm. As barras, com dimensões máximas de 2,5 x 5,0 cm deveriam ser confeccionadas em madeira tipo “Pinus Elliottis”. Foram submetidas ao ensaio de flexão para verificação do comportamento estrutural e resistência mecânica.

Para estas disciplinas foi adotado o mesmo programa de ensino. No curso de Arquitetura, para a turma A, utilizou-se o método tradicional de ensino de estruturas, puramente teórico, empregando-se o quadro negro e, para ilustração de fenômenos mais complexos, slides e transparências. Na turma B, o ensino contou, além de todos os recursos convencionais empregados na turma A, com a utilização dos modelos qualitativos desenvolvidos em laboratório. Para o curso de Engenharia Civil foram utilizados os mesmos recursos empregados para a Turma B da Arquitetura. Cabe ressaltar que, para a disciplina de Experimentação II, a seleção dos alunos por turma é de livre escolha dos acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo, que optam pela turma que melhor satisfizer suas expectativas. A disciplina optativa: Análise Qualitativa das Estruturas, da Engenharia Civil, também é uma opção do aluno. Numa primeira etapa, os modelos utilizados para visualização dos fenômenos estruturais mais comuns, tais como: tração, compressão, cisalhamento, flexão e outras formas de deformações, foram apresentados em sala, durante as aulas expositivas para ilustrar as explicações sobre a matéria lecionada. A segunda etapa constituiu-se na criação e confecção de modelos pelos próprios alunos. Foi instituído um concurso en-

As estruturas em pórtico deveriam também, ser construídas dentro de certos critérios a fim de proporcionar uma uniformização dos trabalhos. Não poderiam exceder 80 cm de comprimento e a altura das vigas não ultrapassar 20 cm. Poderiam ser elaborados com elementos maciços ou treliçados, em madeira (pinus) e, suas bases, engastadas ou articuladas em bases rígidas.

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Figura 1 – Treliças Planas


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Urbanização excludente: o assentamento Estrela da Vitória, na cidade de Uberaba /MG, uma experiência interdisciplinar.

Figura 2 - Pórticos Outros modelos representativos são as cúpulas. Elaboradas com os mesmos critérios que as estruturas anteriores. A base, com um diâmetro que não poderia ultrapassar 40 cm e uma altura máxima de 30 cm. Essas estruturas são excelentes para testar a criatividade dos alunos além de uma noção, mesmo que intuitiva, da sua resistência. Normalmente são elaboradas em forma de treliças, apresentando os mais diversos desenhos. Para a avaliação das cúpulas foi levado em consideração, não só a sua resistência mecânica, mas também a criatividade.

José Carlos F. BEZZON Arquiteto e Urbanista – Mestre pela EESC-USP e doutorando em arquitetura e urbanismo pela EESC-USP. Prof. Disciplina Projeto do Ambiente Construído I – UNIUBE – Universidade de Uberaba Rua Campos Sales, 303 apto 11 – Higienópolis – Ribeirão Preto - SP – CEP 14015110 – jose.bezzon@uniube.br

Resumo

Figura 3 - Cúpulas

Partindo da necessidade de verificação das condições de habitabilidade do espaço coletivo e individual da população excluída da cidade legal, visamos evidenciar as áreas de miserabilidade da cidade de Uberaba – MG, no intuito de discutir possibilidades de intervenção para integração desta população junto a cidade, buscando caminhos para novas políticas habitacionais e urbanas mais humanizadas. A primeira etapa desenvolvida foi o reconhecimento e o levantamento das áreas ocupadas. Esta ação inicial da pesquisa foi realizada pelos alunos durante os trabalhos desenvolvidos na semana de Atividade Comunitária do Curso de Arquitetura e Urbanismo em parceria com o Laboratório de Estudos do Ambiente Construído. A partir de então estamos, através do monitoramento e acompanhamento destas populações, verificando as políticas urbanas de crescimento e expansão da cidade que resultaram na conformação do processo de periferização do espaço urbano. Este estudo esta possibilitando elaborar propostas de redesenho para as áreas já consolidadas, verificar a viabilidade de remoções, assim como a situação do desenvolvimento e evolução das áreas já legalizadas pelos orgãos públicos municipais. O grupo de pesquisa naquele momento, constituído pelos alunos Gisele R. R. da Cunha, Juliana B. Grapeggia e Márcia

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S. Stacciarini, Acássio Teles e Luís Felipe Carrazza, detectou a partir dos primeiros levantamentos realizados que dentre as inúmeras áreas visitadas muitas estavam legalizadas. Outra verificação foi quanto a ocupação do Estrela da Vitória, onde dada a desproporção deste assentamento com relação aos outros e sendo este recente, se fazia necessário um estudo a parte sobre esta comunidade. Desta forma como avaliação dos primeiros resultados determinamos três áreas de atuação da pesquisa: Estudo dos assentamentos subnormais não legalizados; Estudo dos assentamentos subnormais legalizados; e Estudo do Assentamento Estrela da Vitória. A pesquisa encontra-se atualmente em fase de fechamento do mapeamento das áreas de atuação com levantamento dos aspectos físicos e espaciais dos assentamentos, assim como das condições de habitabilidade existentes. Foram realizados inventários destas comunidades para caracteriza-los nos aspectos sociais, econômicos, políticos e profissionalizantes visando a possibilidade de desenvolvimento de propostas de intervenção objetivando requalificar estas áreas. Durante a Semana de Atividades Comunitárias de 2003, realizamos uma oficina de desenho ambiental como proposta de urbanização alternativa para a área do assentamento Estrela da Vitória. Para o desenvolvimento destes trabalhos contamos atualmente com grupos de alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo1 , locados no LEAC – Laboratório de Estudos do Ambiente Construído e buscamos a parceria de outros docentes e discentes da universidade para as tarefas propostas. Em especifico no assentamento Estrela da Vitória, atualmente, são nossos parceiros os cursos de Serviço Social, Psicologia, Terapia Ocupacional e Nutrição. Com o desenvolvimento de práticas pedagógicas interdisciplinares pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo, pelo Instituto de Ciência e Tecnologia do Ambiente e pelo Laboratório de Estudos do Ambiente Construído, estamos trabalhando

com uma visão ampliada de integração das áreas do conhecimento, para constituir uma base de dados sobre a problemática da exclusão social da cidade de Uberaba visando possibilitar desenvolvimento de posturas políticas corretas com relação a produção de espaços urbanos e de habitações, menos hostis e mais dignos, para os menos favorecidos.

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Introdução A realidade de Uberaba é de uma cidade de desigualdades para as pessoas, com grandes bolsões de miséria. Desde seus primeiros arruamentos fica claramente definido no ambiente urbano o espaço da elite pecuarista, do operariado e da burguesia em ascensão. Ocupação estratificada que se agrava com seu franco desenvolvimento econômico e a falta de políticas que criem uma condição urbana digna para o cidadão. O tecido urbano das cidades brasileiras, e Uberaba não será diferente, se divide em espaços legais – áreas que em função do mercado formal imobiliário são devidamente equipadas proporcionando razoável grau de habitabilidade para a população; e as áreas ilegais onde habitam a população excluída deste processo de aquisição da casa própria no mercado formal. Esta polaridade – legal x ilegal – cria uma situação de exclusão exacerbada no espaço da cidade, criando verdadeiros territórios sociais distintos. Faz-se necessário não só equipara-los com infra-estrutura adequada para uma qualidade sanitária do espaço de moradia, e do local, mas principalmente criar dispositivos que venham possibilitar a integração destas áreas, para que possamos alcançar uma maior equidade sócio- espacial. Face ao acelerado processo de urbanização e ocupação desordenada das cidades brasileiras decorrente de políticas predatórias sobre o ambiente natural e construído, vivenciamos hoje uma situação caótica resultando na ocupação e extensão da trama urbana a distancias irrecuperáveis com relação a qualidade de vida das pessoas, em áreas de encostas e de proteção de mananciais, entre outros, com conseqüente de-


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gradação do meio natural com poluição de córregos e rios, erosão, epidemias, enchentes, entre outras; agravando mais e mais as diferenças sociais e espaciais da cidade. Segundo Ermínia Maricato, coordenadora do LabHab da FAU – USP, foram construídas no Brasil no período de 1995 a 2000, 700 mil unidades habitacionais por empresas e profissionais habilitados, enquanto 3,7 milhões de moradias foram obra de autoconstrução em favelas, loteamentos clandestinos e outras áreas, sem acompanhamento de profissionais, e desrespeitando a legislação urbanística. Para compreensão desta problemática na cidade de Uberaba dada sua complexidade frente às várias condicionantes e atores envolvidos na produção da cidade, abordando questões sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais, que nos levam necessariamente a buscar conhecimentos por outros ângulos de visão, decidimos por desenvolver esta pesquisa tendo como prática didático pedagógica a interdisciplinaridade, a partir de uma revisão colocada pelo novo projeto pedagógico em vigor no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Uberaba. Segundo Caumo (1997), cabe ao professor-pesquisador uma nova dimensão social prática que esteja em concordância com a construção histórica que vivenciamos, onde as atividades pedagógicas devem avançar na produção de conhecimentos com ações sociais práticas, numa continuidade do ensino como pesquisa. Segundo Morin (2000), existem duas linhas de educação, a escola e a vida; a primeira onde o conhecimento é fragmentado e dividido e a segunda devido aos problemas da humanidade são multidisciplinares e hoje globalizados. Sobre sua teoria da complexidade, afirma que o homem é indivisível, portanto o conhecimento face a compreensão do mundo, não pode ser dividido para ser estudado. Desta forma, esta pesquisa tem como objetivo através do

temário especifico da arquitetura e do urbanismo colocado sobre a problemática da urbanização excludente, a discussão e principalmente a “implantação” de práticas pedagógicas outras que traduzam melhores condições de aprendizado para professores, discentes e a própria comunidade, na construção do conhecimento e da cidadania. As ações de interdisciplinaridade do Curso de Arquitetura e Urbanismo associadas às experiências da comunidade do assentamento Estrela da Vitória, e expandidas de forma a conseguir a multidisciplinaridade com o engajamento dos Cursos de Serviço Social, Nutrição, Psicologia, e Terapia Ocupacional; tem nos demonstrado apesar de todas as dificuldades desta tarefa, que estamos no caminho correto de um a nova universidade, aberta, ética, socializada. Alerto que este texto não tem a pretensão de discorrer em profundidade sobre a problemática educacional de nível superior, mas apenas uma tentativa de elucidar e levantar questões para o debate a cerca do fazer do profissional “professor pesquisador arquiteto urbanista”, a partir da experimentação de vivências no desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão, principalmente por que não fomos formados para o magistério, onde esta construção do professor arquiteto, se dá ao longo de nossas atividades docentes.

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Ensino, pesquisa e extensão: a inter e multidisciplinaridade como prática de construção do conhecimento Há muito que se fala em uma ação integrada entre o ensino, a pesquisa e a extensão, que não devem ser tomadas isoladamente, mas sim formando um conjunto indissociável. Partindo desta premissa o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Uberaba elaborou em 2000 uma nova proposta pedagógica que se fundamenta no tripé: HOMEM, TECNOLOGIA e MEIO AMBIENTE, sendo a base de desenvolvimento do conceito de ambiente construído, onde os conteúdos são pauta-


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dos nas questões sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais; desenvolvidas através de uma estrutura didático pedagógica integrada com atividades laboratoriais de ensino e desenvolvimento de pesquisas, extensão e ações junto a comunidade. Naquele momento visando viabilizar estas idéias, que não são inovadoras, definimos enquanto colegiado do curso algumas estratégias de ação para criarmos uma cultura de interdisciplinaridade entre os conteúdos ministrados. Ações e métodos que nos auxiliariam a difícil construção da integração. Percebemos que partindo de problemáticas lançadas como temas para os períodos possibilitaríamos objetos de estudos comuns, com a participação construtiva de todas as disciplinas. E o mais importante, que a iniciativa da ação da pesquisa e da extensão, seriam consequentemente deslanchadas, resultando na retroalimentação do processo de ensino aprendizagem, já que estávamos iniciando a consolidação do GPAC – Grupo de Pesquisa do Ambiente Construído junto ao LEAC Laboratório de Estudos do Ambiente Construído. Por conta destas ações, temas debatidos no ambiente da sala de aula se estenderam para o laboratório constituindo projetos de pesquisa e de extensão, ampliando o espaço de aprendizagem, onde conseguimos “substancializar o ensino, redimensionando-o e ultrapassando o patamar de mera reprodução de conhecimentos acabados”. (Pereira - 2002). Com esta visão iniciamos esta pesquisa sobre as áreas de habitações subnormais na cidade de Uberaba, intitulada Reconhecendo a Cidade Real, quando era de nossa responsabilidade discutir em sala de aula o tema da habitação social. A partir dos estudos realizados no ambiente da sala de aula com os levantamentos e diagnósticos sobre esta questão no tecido urbano de Uberaba, associado a construção teórica, verificamos a necessidade de pesquisar esta problemática social e urbana no LEAC. Desde o início contamos com a participação de discentes de vários períodos do Curso de Arquitetura e Ur-

banismo, e o envolvimento em ações especificas, de outros professores do curso, a partir da demanda apresentada com as comunidades em estudo. No caso específico do assentamento Estrela da Vitória vários projetos estão em desenvolvimento, e estes vem gerando outras novas pesquisas e iniciações científicas com os docentes que ministram os conteúdos de infra-estrutura urbana, tecnologia das construções, estruturas, psicologia ambiental, entre outros; alem dos docentes e discentes dos cursos de Serviço Social, Psicologia, Terapia Ocupacional e Nutrição, que estão desenvolvendo os projetos em parceria com o Curso de Arquitetura e Urbanismo. Acreditamos ser de extrema importância esta integração com outras áreas do conhecimento, pois entendemos a pesquisa como “forma sistemática e organizada de diálogo crítico e criativo com a realidade” (Demo, 1996), onde devem os pesquisadores, docentes, discentes ou a própria comunidade, buscar na realidade os elementos para interpretá-la, compreendêla e transformá-la. (Oliveira,2002) Partindo deste princípio o olhar destas outras áreas nos enriquecem, ampliando a visão sobre a problemática colocada, descortinando outras possibilidades de interpretação da realidade e proporcionando, uma construção complexa do conhecimento sobre o cidade, para sua intervenção com soluções projetuais verdadeiramente mais concretas. Vale dizer da complexidade desta ação, da difícil tarefa de desenvolver uma pesquisa interdisciplinar, na transversalidade de um ensino integrado, onde somos “sujeitos que entendem e assumem e ensino como totalidade concreta” (Oliveira, 1994). Apresentamos a seguir a pesquisa em andamento, objeto deste trabalho, com o foco voltado para a atuação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, descrevendo resultados da pesquisa concreta e dos programas de extensão desenvolvidos com a comunidade Estrela da Vitória.

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Os assentamentos subnormais legalizados e não legalizados Uberaba nas últimas décadas vem sofrendo grandes transformações urbanas e sociais, com seu crescimento acelerado, em decorrência de ser um dos pólos econômicos do triângulo mineiro de maior desenvolvimento do país. Transformações estas que demonstram a falta de humanização das nossas cidades, que em função do capital especulativo e da falta de políticas urbanas verdadeiramente sociais, constróem espaços cada vez mais excludentes. Segundo Lefebvre apud Gottidiner (1984), o espaço social (espaço de valores e usos produzidos pela diversidade social) nas sociedades modernas perdeu sua unidade orgânica em função da homogeneização, fragmentação e hierarquização do espaço abstrato (a exteriorização de práticas econômicas e políticas que se originam com a classe capitalista e o Estado), pulverizando-se em guetos distintos. “os guetos da elite, da burguesia, dos intelectuais, dos trabalhadores imigrantes etc., todos eles não são justapostos, são hierárquicos, e representam espacialmente a hierarquia econômica e social, setores dominantes e subordinados”. Esta geografia excludente esta traçada desde o início do processo de urbanização da cidade de Uberaba quando da delimitação de suas terras demarcadas e da construção das vias férreas até o centro da cidade no século XIX, onde o operariado irá residir fora dos limites da área central, próximo a instalação das ferrovias, dos fundos de vale, e posteriormente das rodovias. No centro urbano que se consolidava instalavamse os ricos fazendeiros e prósperos comerciantes. Atualmente na cidade de Uberaba existem aproximadamente 44 áreas de ocupações espontâneas decorrentes de invasões de terras, em sua maioria públicas, localizadas ao longo de eixos ferroviários, rodoviários, e principalmente nos vazios urbanos2 e junto aos fundos de vale. Estas ocupações se locali-

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zam no território urbano, nestas áreas, em decorrência do processo de periferização, que se formaliza a partir da ampliação e da estruturação viária inter e intra-urbana. A partir da instalação dos trilhos da companhia Mogiana, a partir do final do século XIX e posteriormente da companhia Oeste Minas em 1940, pode-se notar a localização dos primeiros loteamentos nas proximidades dos trilhos. Além da malha ferroviária, as rodovias BR-050 e BR-262 implantadas na década de 50, impulsionaram a expansão de novos loteamentos como o Parque das Américas (BR-050) e o Parque das Gameleiras (BR-262), sendo que este último apresenta duas particularidades: foi o primeiro a transpor a rodovia Br-050 e localizar-se fora do anel-viário que circunda parte da cidade, e sendo formado a partir da legalização feita de uma invasão organizada pelos movimentos sociais, com um desenho em malha ortogonal, diferente das outras invasões observadas na trama urbana. Sendo a cidade muito rica em recursos hídricos e tendo sua topografia muito acidentada devido geograficamente a ocupação de sete colinas, inúmeras áreas de difícil ocupação pelo mercado formal de produção de habitação, ficaram abandonadas e desprotegidas, portanto passíveis de ocupação ilegal pela população excluída social e espacialmente da cidade. Esta situação é resultante do processo de crescimento e expansão urbano desordenado, decorrente da falta de planejamento da cidade e de políticas habitacionais corretas para que atendam a parcela menos favorecida dos habitantes. Na figura um verificamos através do mapeamento das áreas de ocupação espontânea legalizadas e não legalizadas sobrepostas à hidrologia da cidade que nove destas invasões ocorreram em fundos de vale abandonados, onde o poder não desenhou os tradicionais eixos viários de circulação. Surgem então, principalmente na década de 80 e 90 do século XX, inúmeras áreas ilegais na cidade de Uberaba, os assentamentos subnormais3 , focos de favela e submoradias, pois 141


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a população não quer se sujeitar a morar longe das áreas abastecidas da cidade e de seus empregos, tendo que destinar uma parte significativa de seus salários com transporte, em sua maioria precários, desgastando ainda mais a rotina do trabalhador. Das 44 áreas levantadas 17 estão devidamente regularizadas onde a comunidade detém a posse da terra, 22 estão com o processo de regularização em tramitação, e 05 são áreas que segundo a COHAGRA – Companhia Habitacional do Vale do Rio Grande, não são regularizáveis, pois não pertencem ao poder público municipal. Portanto 39 áreas estão classificadas por nós como “áreas de submoradias legalizadas”, e 05 áreas estão classificadas por nós como “áreas de submoradias não legalizadas”. Com o decorrer dos anos a prefeitura municipal, através de seus orgãos competentes, aos poucos vem reconhecendo estas áreas invadidas e regularizando os lotes e seus ocupantes, porem sem nenhuma política pública para o tratamento destes assentamentos. Entenda-se como tratamento, desde o abastecimento das áreas com infra-estrutura urbana, água, luz, transporte, telefone, pavimentação entre outros, assim como equipamentos de saúde, educação, cultura e lazer; até a “construção” da paisagem urbana, na arborização, na determinação de espaços públicos devidamente equipados, e em programas de melhorias para as habitações. Estes “benefícios” vão sendo conquistados aos poucos pela população a partir das campanhas eleitorais nos comprometimentos clientelistas com a classe política local. Assim a cidade vai conformando seus espaços onde cabe a população excluída a luta pela conquista de melhores condições de vida. Ao demonstrarem resistência e persistência em seus ideais como cidadãos, perdendo o medo e o receio ao enfrentamento pela posse da terra, o cidadão emerge por completo, participante, construindo as suas condições locais de vida. 142

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Áreas de Submoradias Legalizadas Áreas de Submoradias Não Legalizadas

Imagem 01: Mapa das áreas de ocupação espontânea construído a partir da base cartográfica da COHAGRA – SEPLAN – Prefeitura Municipal de Uberaba Fonte: LEAC - Uniube

A seguir estaremos descrevendo ainda de forma preliminar face ao estagio atual da pesquisa algumas das áreas que estão sendo estudadas. Parque das Américas O bairro Parque das Américas localiza-se nas proximidades da BR-262 sendo parcelado de forma convencional com desenho ortogonal. As margens do córrego não foram ocupa-

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das porém, posteriormente a área foi invadida e ocupada de forma irregular, sem nenhum tipo de infra estrutura, deixando os moradores em condições insalubres de sobrevivência. O esgoto sanitário é depositado no córrego do Mará (mata do carrinho), sendo este o mesmo lençol de onde se coleta a água das várias minas d’água existentes para consumo das famílias. Não há nenhum tipo de pavimentação, a energia elétrica é a única “benfeitoria” implantada para a população, embora não haja iluminação pública no local.

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Durante a semana de atividade comunitária promovida pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Uberaba no 1° semestre de 2001, foi realizada visita de reconhecimento do local, onde detectou-se que o local esta sendo aterrado com entulho, material impróprio para este fim. Diagnosticou-se que se trata de uma área que sofre com os problemas decorrentes das enchentes, e como medida paliativa foi instalado um equipamento da CODAU - Companhia de Água e Esgoto de Uberaba que bombeia a água para o outro lado da rodovia. Verificamos a ausência dos seguintes serviços e infra-estruturas urbanas: iluminação pública, pavimentação e esgotamento sanitário. Com relação ao abastecimento de água, muitos moradores utilizam uma mina próxima ao local, que foi considerada imprópria para uso. Recentemente, no ano de 2002, foram realizadas significativas mudanças: a área foi asfaltada, parcialmente iluminada e com as obras de saneamento iniciadas, o que comprova a lentidão dos órgãos públicos em urbanizar o local pois sua aprovação coma a legalização e posse da terra aos moradores ocorreu em 1990 e os melhoramentos urbanos, começam a ser implantados ainda em condições mínimas, somente dez anos depois.

Imagem 02: Parque das Américas - Fonte: LEAC - Uniube

Bargaço Bargaço também se localiza no bairro Parque das Américas e entre sua ocupação e aprovação muitas disputas aconteceram pois houve quem reclamasse a posse da terra. Após a legalização da área em 1990 as melhorias necessárias aconteceram de forma muito lenta, principalmente por se tratar de outro fundo de vale, afluente do córrego do Mará. A ocupação se implantará em local com grande declive, extremamente acentuado e de difícil instalação de infra-estruturas de urbanização, resultando assim ao poder público local ações muito contidas junto a esta comunidade. 144

Imagem 03: Ocupação Bargaço - Fonte: Juliana B Grapeggia

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Jardim Triângulo A área invadida se encontra na parte Norte da cidade, e de acordo com o Jornal Lavoura e Comércio o local era de propriedade da Igreja Católica. Para executar o processo de legalização a prefeitura adquiriu o terreno através de uma troca com a paróquia e regulamentou a invasão em 1990, proporcionando-lhe as condições mínimas de abastecimento das infra-estruturas urbanas, sem nenhuma preocupação com áreas de lazer e equipamentos urbanos. Mangueiras O Jardim das Mangueiras foi realizado pela prefeitura municipal e teve suas áreas institucionais desocupadas por muitos anos, sem a implantação de equipamentos para a população, fato que propiciou a ocupação destas áreas para moradias irregulares. Com a ocupação da área já consolidada a prefeitura regularizou a invasão. Esta é outra situação interessante decorrente da ineficiência do poder público em implantar os equipamentos urbanos nas áreas destinadas nos parcelamentos ao uso institucional, assim como na execução das áreas destinadas a arborização e ao paisagismo. Como resultado temos uma diminuição das possibilidades de implantação de equipamentos sociais, para o desenvolvimento de atividades culturais, lazer, saúde, educação entre outros, além da falta de áreas arborizadas, que implica na diminuição das qualidades climáticas e ambientais. Não havendo intenção de remoção das famílias ali instaladas, deve-se prever outras áreas no entorno que atendam as necessidades da população do bairro com a implantação de edificações institucionais, de áreas verdes para a construção de praças entre outras possibilidades de arborização.

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orientada, quando de sua ocupação pelo movimento de luta pela moradia, que atuou de forma a garantir todos os seus direitos desde a posse da terra até a instalação da infra-estrutura completa. O processo foi articulado de forma tão ativa e intensa que atualmente o local é confundido com os loteamentos comuns realizados pela prefeitura, sendo desconhecido da maioria da população que se trata de uma antiga invasão, inclusive porque houve uma expansão da área criando o Parque das Gameleiras II, este sim desenhado e executado pelos órgãos municipais. Av. Orlando Rodrigues da Cunha e Rua José Mateus Esta área se trata de um ponto importante da cidade pois a Av. Orlando Rodrigues da Cunha é um eixo viário divisor entre os bairros Abadia e Costa Teles, sendo então um eixo de ligação e circulação entre bairros. Com o desenvolvimento da cidade esta avenida passou a ser de fundamental importância para o comércio, e não era conveniente ter nas suas proximidades uma ocupação ilegal sem nenhuma infra estrutura. Sendo assim, a prefeitura legalizou o assentamento rapidamente para que não houvesse prejuízo para as atividades comercias. Atualmente com a paisagem urbana já transformada fica difícil identificar o local, persistem algumas submoradias, mas em termos de infra estrutura o local é beneficiado completamente.

Parque das Gameleiras O Parque das Gameleiras foi a única das áreas já legalizadas, em que o assentamento das famílias aconteceu de forma organizada e racional. Isto assim aconteceu porque foi

Imagem 04: Rua José Mateus - Fonte: LEAC - Uniube

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Vila Planalto A Vila Planalto também conhecida popularmente como Pássaro Preto localiza-se estando na ACEA - Área de Controle Espacial do Aeroporto, junto a Av. Maria R. da Cunha Rezende, e próximo a rodovia BR-050. Sua legalização ocorreu em 1991, e hoje já esta consolidado. Possui o seguintes infra-estruturas urbanas: abastecimento de água, esgoto, energia elétrica, pavimentação e transporte coletivo. Com relação aos equipamentos de educação e saúde, a população utiliza os já instalados e existentes no entorno, sendo que o equipamento de saúde é um posto do PSF - Programa Saúde da Família.

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empresa o projeto executivo da canalização e dos interceptores de esgoto da Av. Rosa Maria Frange Montes, a execução da obra foi finalizada em 2002, o que significa que durante 9 anos a população enfrentou sérios problemas com as enchentes. Durante este período não foram instalados equipamentos como escolas, creches e áreas de lazer fazendo com que os moradores tenham estas necessidades atendidas pelos bairros vizinhos, atualmente o programa saúde na família tem sua sede em uma residência. Com relação as moradias não legalizadas a prefeitura pretende removê-las para o Residencial 2000, loteamento urbanizado realizado pela COHAGRA – Companhia Habitacional Vale do Rio Grande, responsável pela política habitacional da cidade.

Imagem 05: Vila Planalto Fonte: Juliana B Grapeggia

Vila Esperança Esta ocupação apresenta algumas particularidades, em primeiro lugar por se localizar ao lado da linha férrea tornando-se uma área de risco, é também um fundo de vale. Parte da área foi legalizada durante o governo do então Prefeito Luiz Guaritá Neto, porem até hoje as obras de melhorias não foram finalizadas. Inicialmente foi realizado um projeto de urbanização da área que contempla a canalização aberta e retificação do Córrego do Desbarrancado. Posteriormente foi elaborado, por um escritório especializado da cidade de Belo Horizonte, um outro projeto que inclui a área no programa Pró-Saneamento da CEF – Caixa Econômica Federal. Foram elaborados pela

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Imagem 06: Vila Esperança Fonte: Juliana B Grapeggia

O Assentamento Estrela da vitória A comunidade Estrela da Vitória ocupou em outubro de 2000 um vazio urbano às margens da rodovia Br-050. A área conta com aproximadamente 130.000 m², possibilitando o assentamento de 275 famílias na cidade de Uberaba – MG. Inicialmente se cadastraram 390 famílias pleiteando um lote para a construção de suas moradias, porem só foi possível a ocupação de pouco mais de dois terços da população interessada, em função do desenho do parcelamento realizado.

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Esta ação a principio irregular foi portanto, realizada de forma ordenada e organizada com o apoio do CMP – Central de Movimentos Populares e do Movimento Uberabense de Luta pela Moradia com parcelamento da gleba em quadras e lotes dimensionados em consonância com as leis urbanas vigentes. Vivendo em situação extremamente precária dada as condições de pobreza absoluta de seus ocupantes o assentamento Estrela da Vitória enfrenta grandes dificuldades que podem ser minoradas frente a uma efetiva ação do poder público através de ações humanizadoras espacializadas com a inserção das infra-estruturas urbanas necessárias para melhoria da qualidade de vida desta população. Faz-se necessário propiciar e esta comunidade meios de solver problemas básicos de saúde, educação, transportes e etc. que impossibilitam as condições de vida, na execução das tarefas diárias desta população sem acesso aos serviços básicos como água, coleta de esgotos, energia elétrica, entre outros. O que pode favorecer a proliferação de doenças decorrentes da má conservação de alimentos, de higiene e insalubridade, devido as precárias condições espaciais. Preocupados em não originar um aglomerado subnormal ou um assentamento subnormal na cidade, que dificultasse a possibilidade de melhorias futuras de urbanização, as lideranças da comunidade organizaram a ocupação da gleba de forma ordenada atendendo a lei 6766-79 e sua alteração de 98, e as determinações do Plano Diretor do Município de Uberaba especificamente no que tange às áreas especiais de interesse social, caracterizadas pelos parcelamentos sociais, com lotes apresentando as dimensões padrão de 10m x 20m, perfazendo uma área de 200m² para cada família. Localizado no Jardim Planalto junto a Br 050, à Av. João XXIII e a Av. Maria R. da Cunha Rezende, estando na ACEA Área de Controle Espacial do Aeroporto, esta de acordo com as restrições de usos do espaço e também com as restrições gerais de parcelamento do município, obedecendo por exem-

plo as dimensões oficiais de desenho de quadras, lotes, sistema viário, áreas institucionais, sistemas de lazer e áreas verdes. As porcentagens apresentadas neste assentamento somam aproximadamente 6.632 m² de áreas verdes e 13.475 m² de área institucional. O sistema viário ocupa a área de 34.493 m². Todos os percentuais estão dentro do mínimo permitido por lei. O sistema viário apresenta perfeita conexão com a malha urbana existente sendo perfeitamente permeável do ponto de vista da integração com os eixos de circulação existentes no entorno, além de estarem adequadamente dimensionados e hierarquizados com vias locais, e coletoras conectadas às vias arteriais existentes. As áreas verdes e institucionais atendem as porcentagens recomendadas como vimos, inclusive com áreas de proteção “non aedificandi” às margens da rodovia Br 050. Estando previsto arborização adequada destas áreas assim como locais destinados para a construção de centro comunitário, creche, igreja, equipamentos necessários á melhoria do nível de habitabilidade da comunidade e de seu entorno. A área anteriormente servia de depósito de entulhos e lixos clandestinos, procedimentos estes que com a ocupação pelo assentamento Estrela da vitória, cessou frente a reação da organização do movimento. A pesquisa sócio-econômica realizada nos primeiros meses da ocupação, através de uma amostragem da população, verificamos que a comunidade tem procedência, em sua maior parte, de outras áreas da cidade, podendo ser caracterizados como uma segunda geração de emigrantes da zonas rurais que buscaram na cidade empregos, moradia e saúde. São em sua maioria analfabetos ou possuem até a quarta série do ensino fundamental, dado que acaba se refletindo em sua posição de trabalho, que se concentra no mercado informal associado a prestação de serviços de acordo com as possibilidades de oferta. Apenas 19% da população estava empregada formalmente

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possuindo renda fixa mensal, renda esta que não ultrapassa 3 S. M., sendo que 46.5% tem renda inferior a 1S. M. e 45% entre 1 e 2 S. M., 65% das crianças residentes no local estão no ensino fundamental e 13% no ensino médio. A necessidade de creche é apontada por 95% dos adultos, embora não desfrutem de tal equipamento. O transporte característico é o transporte público e a bicicleta. São também apontados alguns meios de locomoção gratuitos vinculados a ação municipal. As residências são em sua maioria constituídas por materiais não convencionais, como lonas, pedaços de madeira, e metal, entre outros. Grande parte dos moradores já estão construindo (num processo quase constante de construção) suas moradias em alvenaria de tijolos baianos (material mais utilizado). Utilizam da autoconstrução como meio de produção das habitações com procedimentos via de regra pouco adequados tecnicamente. Dentro deste quadro colocado o Curso de Arquitetura e Urbanismo tem atuado junto ao assentamento Estrela da Vitória em parceria com o CEDESEV – Centro de Desenvolvimento Sustentável Estrela da Vitória. Esta entidade foi criada pela organização do assentamento visando estabelecer programas sociais que estão sendo realizados em parceria com outros grupos representativos da cidade, objetivando melhorar as condições de habitabilidade do local.

Imagem 07: Assentamento Estrela da Vitória - Fonte: LEAC - Uniube

A seguir apresentamos os projetos que estão sendo realizados pelo grupo de pesquisa com a comunidade: 152

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1. Programa de Assessoria Técnica Destina-se aos assentados que iniciaram o processo de autoconstrução da moradia. Este programa desenvolve propostas projetuais partindo das edificações preexistentes construídas nos lotes pelos moradores, atuando e acompanhando todas as fases do processo de projetação e execução das habitações. 2. Programa de Moradias do Assentamento Estrela da Vitória. Este programa apresenta o desenvolvimento de oito tipologias habitacionais para escolha dos moradores, concebidas a partir do estudo desta população, visando atender suas necessidades de acomodação. As propostas apresentam possibilidades de ampliação das tipologias partindo de espaços mínimos, que se organizam em função das áreas molhadas da habitação. 3. Projeto da Cozinha piloto e horta comunitária. Este projeto foi desenvolvido em parceria com o curso de serviço social, onde coube a nós a realização do projeto espacial da cozinha piloto para a produção de refeições para os assentados, de orientações nutricionais como alimentação alternativa, e principalmente para o desenvolvimento de cursos de culinária como capacitação profissional dos assentados. A projeto da horta comunitária foi desenvolvido visando abastecer a cozinha piloto alem de possibilitar geração de renda com a comercialização das hortaliças. O curso de Nutrição foi convidado a fazer parte da equipe desenvolvendo pesquisa sobre as condições alimentares da população, e estruturação dos trabalhos a serem desenvolvidos junto ao funcionamento da cozinha e da horta. 4. Programa Como Construir. Este projeto esta sendo desenvolvido com o objetivo de ori-

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entar os assentados no processo de construção das habitações. Se pauta na confecção de uma cartilha de procedimentos técnicos de construção, largamente ilustrados, com linguagem acessível, para que o morador possa independente de nossa assessoria técnica, passo a passo, construir com qualidade e segurança sua própria moradia. 5. Programa de Urbanização Alternativa. Este projeto teve sua primeira etapa realizada com o desenvolvimento de uma oficina durante a Semana de Atividades Comunitárias de 2003, onde os alunos inscritos elaboraram projeto de urbanização sustentável a partir dos resultados obtidos da pesquisa, da discussão da problemática com a comunidade em assembléia no assentamento, e da sistematização de conhecimentos aplicados. Este foi a ação inicial deste programa que estará agora sendo desenvolvido no LEAC com a inserção de novos discentes, e a comunidade. Dentro deste programa estão sendo elaborados estudos sobre as condições das fossas negras construídas pelos assentados e a abertura indiscriminada de poços – cisternas para o abastecimento de água. Os cursos de Nutrição e Serviço Social estão acompanhando este trabalho com a discussão do tema saúde e sociedade. Conclusões parciais A pesquisa em seu estagio atual, nos mostra que a regularização fundiária pelo poder público local, é o reconhecimento da ocupação com a escrituração dos lotes a partir do parcelamento executado, viabilizando a posse da terra, porem não garante qualificação destes espaços através de melhoramentos urbanos para estas populações. A implantação das infra-estruturas urbanas assim como os equipamentos urbanos necessários às atividades humanas vão sendo atendidas pelo poder público ao longo do tempo em função de necessidades outras, que não a destas comunidades, vindo a atender

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setores da economia local, como o comércio, industria e o mercado imobiliário, que requerem melhorias para suas ações produtivas. Verificamos que este processo predatório de crescimento e expansão urbana da cidade de Uberaba é co-responsável pelo desencadeamento destas ocupações ilegais, face entre outras questões ao descaso com as condicionantes ambientais principalmente no abandono de áreas ambientalmente frágeis. As famílias do assentamento Estrela da Vitória que realizaram esta ocupação, assim como da Vila Esperança e de qualquer destas comunidade estudadas, não podem ficar a mercê de uma política habitacional insipiente que não os vê como cidadãos legítimos. Faz-se necessário rever a política urbana do município no intuito de sanar estas práticas excludentes. Trabalhar com a participação das comunidades junto a administração pública local, ouvindo suas reivindicações e encontrando caminhos para viabilizar suas necessidades. Inseri-los à sociedade como parcela produtiva e como promotores sociais. A construção do conhecimento baseado na inter e multidisciplinaridade tem ampliado a visão da problemática habitacional da cidade junto aos alunos formando uma consciência crítica e definição de posturas políticas frente as questões colocadas, principalmente na discussão das possibilidades junto a comunidade. A construção coletiva é um processo, é difícil, pois temos que manter o olhar, todos, para o mesmo horizonte, por sobre a diversidade e pela compreensão e integração desta, que faz com que deixemos de lado a “distinção” do saber constituído e nos coloca num mesmo patamar para o debate fomentando a participação não só da comunidade parceira, mas também da comunidade universitária, onde todos saem fortalecidos.

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Bibliografia BONDUKI, Nabil & ROLNIK, Raquel. Periferia da Grande São Paulo Reprodução do Espaço como Expediente de Reprodução da Força de Trabalho. In: MARICATO, Erminia(org.) A produção capitalista da Casa ( e da Cidade) no Brasil Industrial, São Paulo, Alfa- Omega Ltda., 1982 BARROS, Ricardo Paes de, Desigualdade e Pobreza no Brasil: Retrato de uma Estabilidade Inaceitável, Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v.15, n.42 , 2002. BONDUKI, Nabil (org), Habitat, São Paulo, Nobel, 1996. BONDUKI, Nabil Origem da Habitação Social no Brasil Arquitetura moderna, Lei do Inquilinato e Difusão da Casa Própria, i° ed. São Paulo: Liberdade ,1998. CARVALHO, Maria do Carmo Carvalho, Participação Social no Brasil Hoje, Revista Polis Papers: Assessoria, Formação e Estudos em Políticas Sociais, São Paulo,n.2 , 1998. CAUMO, Teodósio. O que os novos tempos exigem do professor no ensino universitário. Educação, Porto Alegre, 1997. DAGRAVA, Renata Estruturadores de Crescimento e Formas Urbanas da Cidade de Uberaba, Relatório Final apresentado para o Programa de Iniciação Científica da Universidade de Uberaba, Uberaba, 2002. GOHN, Maria da Glória, A Força da Periferia, 1° ed., Petrópolis RJ, Vozes,1985. GOHN, Maria da Glória, Movimentos Sociais e Luta pela Moradia, São Paulo, Loyola,1991. GOTTIDNER, Mark. – A Produção social do Espaço Urbano. São Paulo. Hucitec. 1984. GROSTEIN, Marta Machado. Expansão Urbana e Habitação da Classe Trabalhadora : da Vila Operária ao Lote Popular In : SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de Sampaio Habitação e Cidadania, São Paulo,FAU-USP FAPESP,1993. KOWARIK, Lúcio, Escritos Urbanos, São Paulo, Editora 34, 2000. MARICATO, Erminia. Habitação e Cidade ,5ª ed., Atual, São Paulo, 1997.

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MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 2ª ed. São Paulo: Editora Cortez, 2000. PEREIRA, Otaviano José, A Construção de uma Identidade, Editora da Universidade, Uberaba, 2002. ROLNIK, Rachel. – A cidade e a Lei – legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São Paulo, Studio Nobel, 1997.

NOTAS 1

A atual equipe desta pesquisa é constituída de discentes de vários períodos do

Curso de Arquitetura e Urbanismo, são eles: Aracele Alice Silva, Lívia M. Freitas(2º período), Ana Leticia G. Garcia, Cristina Y. Kawachi, Leisimar P. Costa e Joyce S. Melo (3º período), Acassio Teles (8º período), Luís Felipe Carrazza (9º período) 2

Vazios Urbanos são áreas ou glebas vazias, localizadas no espaço intra-urbano,

completamente abandonadas e sem acesso, resultantes da expansão desordenada dos limites da cidade. 3

Segundo IBGE3 Segundo IBGE (1991) constitui-se um aglomerado subnormal um

conjunto de “unidades habitacionais (barracos, casas...), ocupando ou tendo ocupado até período recente, terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) dispostos, em geral, de forma desordenada e densa e carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais. Segundo HBB (2000) constitui-se um assentamento subnormal o “assentamento habitacional irregular – favela, mocambo, palafita e assemelhados – localizado em terrenos de propriedade alheia, pública ou particular, ocupado de forma desordenada e densa, carente de serviços públicos essenciais, inclusive em área de risco ou legalmente protegida”.

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Utilização de Modelos para o Ensino das Estruturas no Curso de Arquitetura e Urbanismo Amélia Panet Barros Arquiteta e Urbanista, M.Sc., Professora Adjunta e Coordenadora do Curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ. map2001@terra.com.br,

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Palavras chave: Estrutura, Ensino de engenharia, Ensino de arquitetura, Modelos estruturais

RESUMO É indiscutível a importância do conhecimento em engenharia de estruturas por parte dos estudantes de arquitetura para a boa elaboração de projetos. Os conceitos que envolvem a engenharia estrutural, na maioria das vezes, estão embasados em teoremas matemáticos bastante complexos, requerendo do aluno um elevado grau de conhecimento nesta ciência. Conceitos como momento de inércia, raio de giro, flambagem, flexão, torção, centro de gravidade, entre outros são de grande importância e devem acompanhar aqueles que pretendem projetar estruturas. Desta forma, as disciplinas de Estrutura nos cursos de arquitetura deixam, não raras vezes, de atender os seus objetivos pelo fato de tentarem introduzir os conceitos da engenharia de estruturas com o auxílio puramente da matemática. Este trabalho visa apresentar a experiência desenvolvida no curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ com a utilização de modelos estruturais qualitativos voltados ao ensino das disciplinas de Estrutura, objetivando a visualização prática e a melhor assimilação, por parte dos estudantes, dos fenômenos da engenharia acima descritos.

1. INTRODUÇÂO A “arquitetura” é considerada uma das mais antigas profissões. Independente da existência de uma escola ou de qualquer processo de formação profissional, o “arquiteto” surgiu da necessidade de organizar espaços e criar abrigos para as diversas atividades e necessidades básicas exercidas pelo homem, desde o início de sua existência. Os conhecimentos adquiridos pela prática, através de erros e acertos, foram transmitidos gerações após gerações na intenção de prover o ser humano das condições materiais necessárias ao exercício de suas atividades. Com relação à formação do arquiteto, Turkienicz [1] comenta que: “a arquitetura, a exemplo da linguagem que utilizamos para nos comunicar, tem a propriedade de ser apreendida sem que haja a necessidade de uma estrutura cognitiva formal que preceda sua utilização”, no entanto, “sua apreensão informal ou intuitiva resulta, mesmo assim, na absorção de uma enorme carga cultural.” Na baixa idade média, de acordo com Canclini [2] “as catedrais e os demais edifícios eram feitos coletivamente, e os escultores e pintores – além de participar do trabalho arquitetônico – concebiam suas obras como inseparáveis da construção.” Essa simbiose das artes, onde a arquitetura corresponde à construção material dos desejos e necessidades humanas, justifica a origem grega do nome “Arkhitekton”, cujo significado é “mestre-construtor”, e sintetiza a atribuição inicial da profissão de arquiteto. No renascimento que este saber empírico vai sendo substituído por diversos processos de conhecimento, procedimentos e métodos relacionados à profissão do arquiteto. O ensino da arquitetura passa a compor parte, hora do ensino das artes, hora do ensino politécnico.

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Carolina Vidal Accioly Eng. Civil, M.Sc., Professora Adjunta do Curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ. vidalacioly@bol.com.br Marcelo Pessoa de A. Franca Eng. Civil, M.Sc., Professor Adjunto do Curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ. francamarcelo@yahoo.com.br Maria Ângela P. Xavier Eng. Civil, D.Sc., Professora Titular do Curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ. mangelaxavier@uol.com.br José de Paiva Taussig Aluno de Graduação do Curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ. jptaussig@terra.com.br


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Percebe-se, ao longo desse processo, que o ensino institucional da arquitetura gerou um empobrecimento como campo cognitivo, com relação à origem da profissão que estava diretamente relacionada ao processo de produção material das criações arquitetônicas. Nesse contexto, defende-se a idéia de que a formação do profissional arquiteto e urbanista deve envolver vários campos de conhecimento, implicando conteúdos relacionados às ciências sociais, às artes e às ciências exatas. Sua multidisciplinaridade diz respeito ao seu caráter plural que incorpora atributos e conhecimentos desses outros campos na intenção de conseguir sua expressão máxima. Visando uma formação de qualidade, próxima da prática profissional, o curso de arquitetura e urbanismo do Unipê dividiu sua estrutura curricular em três campos cognitivos, projeto e expressão, tecnologia, e, teoria e história. O campo cognitivo da tecnologia, assunto desse artigo, é de extrema importância no ensino da arquitetura e do urbanismo e tenta fazer jus à origem do nome arquiteto que vem do grego “Arkhitekton”, cujo significado é “mestre-construtor”, ou seja, o arquiteto sempre foi um profissional da construção. Portanto, este campo cognitivo procura fornecer uma visão global dos conhecimentos relacionados com a produção material para caracterizar o arquiteto como sujeito detentor de domínio tecnológico dentro do campo da arquitetura e do urbanismo. Para isso, procura desenvolver no aluno, a capacidade de articular e interagir conhecimentos técnicos e científicos, na construção ou execução dos ambientes projetados, através de técnicas e tecnologias já conhecidas ou através de novas propostas sugeridas pelos alunos, advindas do desenvolvimento e detalhamento dos projetos. Para isso, as perguntas: como fazer? como se comporta? quanto custa? e como manter?, devem estar presentes nas atividades, processos de tra-

balho, especificações de materiais, escolhas estruturais, detalhamentos e nas alternativas energéticas eleitas, ou seja, no processo projetual. Este campo cognitivo também procura ressaltar a organização dos processos produtivos como metodologia importante, capaz de otimizar o processo projetual. Para facilitar o conhecimento e comportamento das estruturas, o curso, através de sua coordenadoria e professores de estruturas resolveu confeccionar modelos tridimensionais que expressam o comportamento dos componentes estruturais e ilustram as leis e teorias necessárias.

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2. DESCRIÇÃO DOS MODELOS Os modelos ora em exame foram frutos da necessidade de tornar as disciplinas de estrutura mais didáticas e agradáveis para os alunos de arquitetura. Os modelos a seguir apresentados foram extraídos da Dissertação de Mestrado de Santos [2], tendo sido feitas, quando necessárias, algumas pequenas modificações. 2.1 Modelo para demonstração da decomposição de forças Todo e qualquer corpo está sujeito à ação de forças. Sendo uma estrutura um sistema físico capaz de resistir aos esforços provocados pelas forças externas que sobre ele atuam, a compreensão do processo de decomposição das forças se faz imprescindível. Estruturas estaiadas, pênseis, treliçadas, de membrana, entre outras podem ser bem melhor compreendidas pelos estudantes de arquitetura quando os conceitos de decomposição de forças estão bem assimilados. Desta forma, o modelo em foco destina-se a demonstrar de forma prática o método analítico para a decomposição de uma força em duas direções ortogonais, evidenciando as relações entre componentes e resultante.


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Figura 3 – Representação de uma barra submetida a Esforço Cortante Figura 1 – Visualização da decomposição de forças

Seu funcionamento é bastante simples, onde cada direção da seta que representa a força F, fornece de modo instantâneo as componentes desta força no eixo X e Y, que nada mais são que as respectivas projeções da seta sobre estes eixos. A representação dos métodos para a decomposição de forças através do modelo acima apontado permite o desenvolvimento de um raciocínio intuitivo de modo a facilitar a compreensão de problemas que envolvam o estudo das forças e suas componentes. 2.2 – Modelo para representação de momento fletor e força cortante em uma seção transversal de uma barra O momento fletor e a força cortante são esforços internos solicitantes presentes em diversas estruturas. O conhecimento destes esforços é de grande utilidade para a vida profissional do arquiteto. Seja na concepção de uma estrutura, seja na escolha de um tipo de perfil, o arquiteto deve levar em consideração os esforços a que estes elementos estão sendo solicitados. O modelo aqui apresentado propõe representar as deformações em um trecho de uma barra submetida a momento fletor e a força cortante.

Nota-se, com a utilização deste modelo, que suas faces internas permanecem planas quando submetido à flexão, analogamente ao que ocorre em um trecho de uma peça em flexão (Hipótese de Navier). Quando da atuação de força cortante, percebe-se que as faces internas dos blocos se mantêm paralelas entre si, de modo semelhante ao que ocorre nas seções próximas de uma barra submetida a corte puro. 2.3 – Modelo para visualização da Flexão, Torção e Concentração de Tensões em uma barra prismática Este modelo pretende, de maneira bastante didática, ilustrar como se comporta uma barra sujeita à flexão simples ou à torção. Com o auxílio do mesmo modelo pode-se mostrar ainda que em uma peça, de seção não circular, quando sujeita a um momento torçor, as seções que antes eram planas, empenam por torção, deixando de ser planas (Princípio de Saint-Venant). Outro fenômeno que pode ser facilmente ilustrado com a ajuda deste modelo é o fenômeno da concentração de tensões, fenômeno este muito importante no cálculo estrutural, em especial na análise das estruturas de madeira e de alvenaria estrutural.

Figura 2 – Representação de uma barra submetida a Momento Fletor

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Figura 4 – Barra sujeita à flexão e à torção

Observa-se na figura – 4.a que, flexionando-se a barra, as seções planas permanecem planas e perpendiculares ao seu eixo (Hipótese de Navier). Nota-se também que um dos bordos da peça fletida encontra-se totalmente comprimido, enquanto o bordo oposto encontra-se totalmente tracionado. Quando da imposição de um torque, nota-se que as seções que antes eram planas, deixam de sê-lo e empenam por torção (Figura – 4.b). Ao se aplicar uma força concentrada na barra, nota-se uma perturbação em torno de um ponto evidenciando a existência da concentração de tensões em torno daquele ponto. 2.4 – Modelo para visualização da Deformação Transversal em um bloco comprimido A análise de tensões e deformações é de fundamental importância para a compreensão do comportamento das peças sujeitas a algum carregamento e serve de base para a análise de estruturas. Com o auxílio deste modelo, pode-se facilmente visualizar a deformação transversal de um bloco comprimido.

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Figura 5 – Deformação longitudinal de um bloco comprimido

Sob compressão, o bloco tende a encurtar na direção vertical (encurtamento axial) e alongar horizontalmente (alongamento transversal). Devido ao atrito entre as faces superior e inferior do bloco e a placa, as deformações transversais são mais acentuadas próximas ao centro do bloco. A relação entre a deformação específica axial e transversal nos fornece o Coeficiente de Poisson. 2.5 – Modelo para visualização do comportamento de vigas de concreto armado, vigas de concreto protendido, pilares sujeitos à flexão simples, flexão composta e flexão oblíqua Com a utilização deste versátil modelo pode-se ilustrar o comportamento estrutural das vigas de concreto armado e protendido, dos pilares sujeitos a compressão centrada e flexocompressão. Conceitos como o de núcleo central também pode ser facilmente visualizado com ajuda deste modelo.

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to das estruturas, no tocante ao seu equilíbrio e transmissão de esforços.

Figura 7 - Modelo para demonstração de esforços reativos

Figura 6 – Modelo para visualização do comportamento de vigas e pilares

Os elásticos posicionados ao longo dos quatro vértices simulam o alongamento e o encurtamento das fibras de uma barra sujeita à flexão. Quando solicitado à flexão, os elásticos tracionados do modelo representam as forças de tração do binário resistente, analogamente ao que ocorre com a armadura longitudinal de uma viga de concreto armado (Figura – 6.c). Caso seja dada uma protensão nos elásticos tracionados do modelo em flexão, pode-se de maneira simplista, simular o funcionamento das estruturas protendidas (Figura – 6.d). 2.6 – Modelo para demonstrar a existência de esforços reativos Todos os elementos estruturais sob a ação de forças geram, em seus vínculos, esforços reativos. É de importância que o aluno visualize este efeito em elementos estruturais simples, para que possa com facilidade entender o comportamen166

No funcionamento deste modelo, são empregados pesos, barras, roldanas e molas. Desta maneira é possível visualizar: uma barra submetida a várias forças verticais descendentes ser equilibrada por uma única força ascendente ou por duas forças extremas ascendentes; equilíbrio provocado por duas forças horizontais e equilíbrio entre um momento externo e um binário aplicado. 2.7 – Modelo que representa os vínculos planos usuais Com este modelo é possível observar o comportamento de uma viga com os vínculos mais usuais na prática : engastamento e apoios.

Figura 8 - Vínculos planos usuais

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O modelo consiste de duas vigas em acrílico, uma engastada e outra bi-apoiada, presas em um suporte de madeira. A ação dos apoios na viga pode ser observada utilizando como carga o esforço feito pelas próprias mãos.

2.9 –Modelo para representar a deformação longitudinal de uma barra tracionada.

2.8 – Modelo que representa as reações de apoio em uma barra bi-apoiada com um balanço Entende-se por barras as peças tridimensionais em que uma das dimensões predomina fortemente sobre as demais, que devem ser praticamente da mesma ordem de grandeza. Podese considerar, desta maneira, uma viga como sendo uma barra. A viga bi-apoiada com balanço constitui-se numa estrutura simples comumente encontrada na prática.

Uma barra sujeita a uma força de tração sofre uma deformação longitudinal. Esta deformação depende de vários fatores como intensidade da força aplicada, módulo de elasticidade do material, área da seção transversal da barra e seu comprimento. O modelo destina-se a demonstrar como cada uma dos fatores citados acima influenciam na deformação longitudinal da barra.

Figura 10 – Representação da deformação longitudinal de uma barra tracionada

O funcionamento do modelo consiste na aplicação de pesos padrões (p) em cada êmbolo, com exceção dos que recebem cargas 2P e 3P, verificando-se qualitativamente as variações de comprimento causada pelo peso em relação a referência padrão. A variação de comprimento pode ser determinada utilizando-se uma régua normal. Figura 9 – Reações de apoio em uma barra bi-apoiada com balanço

O modelo constitui-se de uma barra vinculada a um painel de madeira através de êmbolos. Em vários pontos ao longo da barra pode-se colocar um peso, cujo efeito nos apoios é indicado em marcadores presos aos êmbolos. Assim é possível verificar o sentido e a intensidade das reações de apoio, conforme a posição da carga na viga. 168

2.10 – Modelo para representar a tensão normal e tensão de cisalhamento que ocorrem em uma seção transversal de uma barra. Quando aplicamos a uma barra uma força normal ocorre em sua seção transversal uma tensão normal, aplicando uma força cortante ou um momento torsor ocorre tensões de cisalhamento.

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Este modelo destina-se a ilustrar as tensões desenvolvidas na seção transversal da barra quando uma destas forças estejam atuando.

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compreender o funcionamento destas estruturas. Ensinar a compreender o comportamento das estruturas não é tarefa das mais fáceis, ainda mais para profissionais da engenharia, que com sua formação pouco humanística, insistem em pedir auxílio apenas à matemática para solucionar suas questões. A utilização de modelos tridimensionais que simulam qualitativamente o comportamento das estruturas auxilia sobremaneira a compreensão dos fenômenos físicos ligados à engenharia estrutural introduzidos durante as aulas expositivas. Sua utilização proporciona ao professor maior velocidade na introdução destes conceitos e, ao aluno, melhor assimilação dos mesmos. 4. BIBLIOGRAFIA

Figura 11 – Representação das tensões normais e de cisalhamento na seção transversal de uma barra

Como o modelo apresenta uma seção transparente ligada a outra seção por cabos elásticos, ao aplicarmos uma tensão normal à seção da barra, visualizamos os cabos tracionados. Da mesma forma que, ao aplicarmos um esforço paralelo à seção transversal da barra ou girarmos uma seção em relação a outra, fazendo com que as duas seções deslizem entre si, visualizamos os cabos representando as tensões de cisalhamento. Logo, podemos ilustrar com este modelo as tensões que ocorrem no interior de uma barra submetida aos esforços acima citados.

Citado por HERKENHOFF, Heloisa Lima. (1997) “Ensino de projeto arquitetônico: caracterização e análise de um suposto modelo, segundo alguns procedimentos didáticos”, Dissertação de Mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP FAUUSP, São Paulo, 1997. CANCLINI, Néstor Garcia. (1980), A socialização da arte; teoria e prática na América Latina. São Paulo: Cultrix, 1980. SANTOS, José Amaro dos. (1983) “Sobre a Concepção, o Projeto, a Execução e a Utilização de Modelos Físicos Qualitativos na Engenharia de Estruturas”, Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica da USP - EPUSP, São Paulo, 1983. MELCONIAN, Sarkis. (1998), Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais. São Paulo: Érica, 1998. BEER, Ferdinand P. e JOHNSTON JR, E. Russell. Resistência dos Materiais. São Paulo: Makron Books, 1995.

3. CONCLUSÃO A concepção de uma estrutura antecede o seu dimensionamento, e para conceber é necessário entender e

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ESTUDO DE DISPOSITIVOS PARA O MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM UMA RESIDÊNCIA Cristian Guilherme Moz Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UCS Paulo Rogério De Mori Orientador do trabalho, pesquisador do Projeto de Pesquisa Ecodesing Maria Fernanda Nunes Supervisora do trabalho, professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UCS. Curso de Arquitetura e Urbanismo – UCS RS 122, km 69, s/n – Campus 8 CEP: 95010-550 – Caxias do Sul/RS e-mail: mfonunes@ucs.br

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Este estudo trata da organização do conhecimento sistematizado a respeito do universo dos resíduos sólidos. Entender como os resíduos são gerados, conhecer o ciclo dos resíduos em uma residência, desde sua geração até a coleta e avaliar como o layout de uma residência interage com os resíduos sólidos. 1. Resíduos Sólidos

RESUMO Este trabalho é resultado de uma pesquisa para a disciplina de Laboratório de Arquitetura e Urbanismo do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul. O campo de estágio foi realizado no Laboratório de Desenvolvimento de Produtos do projeto de pesquisa Ecodesign que é uma pesquisa multidisciplinar envolvendo os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia de Materiais e Engenharia Química. Cada curso desempenha um papel diferente na pesquisa de tecnologias que visam criar processos de reaproveitamento de resíduos sólidos poliméricos, com o objetivo de transformá-los em novos objetos. Neste processo multidisciplinar, o curso de Arquitetura e Urbanismo é responsável pelo projeto dos produtos. Primeiramente, o grupo de pesquisa desenvolveu uma série de layouts de produtos para o segmento de mobiliário urbano. Logo apareceram outras demandas manifestadas pelo Instituto de Saneamento Ambiental da UCS, num momento seguinte, o grupo começou a questionar-se sobre o universo dos resíduos sólidos domésticos. Como são os utensílios para o manejo de resíduos sólidos domésticos? Tal interesse motivou a iniciativa do presente estudo.

Maria Suzana de Conto Mandelli em sua tese de doutorado, Variáveis que Interferem no Comportamento da População Urbana no Manejo de Resíduos Sólidos Domésticos no Âmbito das Residências (1997), é prudente ao definir a expressão resíduo sólido doméstico: “Na tentativa de formular um conceito, ainda que de forma preliminar, é possível dizer que resíduo sólido é o produto descartado pelo homem, resultante de sua atividade diária em sociedade.”(MANDELLI, 1997, p.24). A prudência, tomada pela autora ao conceituar resíduos sólidos domésticos é compreensível, uma vez que não é habitual se considerar o resíduo como um produto, mas entre outras palavras um produto pós-consumo. Para Lima (1995), a definição de resíduos sólidos não é tarefa fácil, devido a inúmeros fatores envolvidos a sua origem e formação, tais como: número de habitantes do local, área relativa de produção, variações sazonais, legislação, condições climáticas, hábitos, variações da economia, poder aquisitivo, nível educacional, tipo de equipamento de coleta, segregação na origem, sistematização da origem, disciplina e controle dos pontos produtores, leis e regulamentações específicas. Neste sentido, Lima (1995) afirma que a identificação destes fatores é uma tarefa muito complexa e somente um intenso estudo, ao longo de muitos anos, poderia revelar informações mais precisas no que se refere à origem e formação do lixo no meio urbano. Por outro lado, Demajorovic procura diferenciar lixo de resíduos sólidos, da seguinte forma:

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Resíduos sólidos diferenciam-se do termo “lixo” porque, enquanto este último não possui qualquer tipo de valor, já que é aquilo que deve apenas ser descartado, aqueles possuem valor econômico agregado, por possibilitarem (e estimularem) reaproveitamento no próprio processo produtivo. (DEMAJOROVIC,1995, p.89 apud MANDELLI, 1997, p.23) Ferreira (1986) define o termo lixo por meio da expressão “aquilo que se varre de casa, do jardim, da rua, e se joga fora; entulho. Tudo que não presta e se joga fora”. O termo resíduo segundo Ferreira (1986), é expresso como “Remanescente; aquilo que resta de qualquer substância, resto; aquele que sofreu alteração de qualquer agente exterior, por processos mecânicos, químicos e físicos”. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) na NBR 10004 (ABNT 1987), que trata da classificação dos resíduos sólidos, conceitua o termo como: Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. (ABNT, 1987) Para a presente abordagem, não cabe estabelecer diferenciações entre lixo e resíduo sólido. Será considerado que, todos os resíduos descartados em uma residência estão compreendidos em um grande grupo chamado de resíduos sólidos domésticos. Tudo aquilo descartado pelo homem resultante de sua atividade diária em sociedade. Desde papéis, embalagens de todas as formas, matéria orgânica putrescível gerada da manipulação de alimentos, resíduos de varrição, papel higiênico dos banheiros, enfim todos os resíduos que possuam ou não valor econômico ou valor de reaproveitamento agregado. 2. A separação dos resíduos sólidos domésticos Há muitos anos, os países desenvolvidos sensibilizados com as questões ambientais, investem em estudos para o reaproveitamento de resíduos sólidos. Depois de vivenciarem problemas como a falta de espaço e a insalubridade com a 174

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formação de verdadeiras montanhas de lixo nos aterros sanitários, metrópoles que produzem grandes quantidades de lixo como Nova York e Tókio, passaram a encarar o problema de forma diferente. “Fresh Kills”, o maior aterro sanitário do mundo situado em Nova York, recebe treze milhões de quilos de lixo comercial e doméstico por dia. Cobre quatro milhas quadradas e atinge mais de trinta metros de altura. Contém nove bilhões de metros cúbicos de lixo. Quando completo será a mais elevada montanha da planície costeira da costa leste. Hawken e Lovins (1999 apud BARBOSA, 2002) Como alternativa para conter o avanço dos aterros, os países desenvolvidos investiram em políticas de reaproveitamento de resíduos com o objetivo de diminuir o impacto ambiental, visível nos aterros, e reaproveitar o material desperdiçado. A forma para viabilizar os projetos se deu basicamente pela construção de usinas de reciclagem e pela criação de campanhas de conscientização ecológica voltadas principalmente à cultura da separação e disposição final dos resíduos sólidos, sejam eles domésticos ou urbanos. O processo de separação mereceu maior atenção em função de ser um grande dinamizador do ciclo de reaproveitamento dos resíduos. Segundo Cozetti (2001 apud BARBOSA 2002) o brasileiro produz, por dia, em média, um quilo de lixo domiciliar. Portanto quem viver até os 70 anos terá produzido quase 25 toneladas de detritos ao longo de sua vida. No Brasil, a sensibilização ao problema foi tardia em relação aos países desenvolvidos, mas os planos de ação não foram diferentes, uma vez que os números também assustam. Em Caxias do sul, conforme Leonir Taufe diretor da CODECA, atual responsável pela coleta de lixo, “a cidade produz uma média diária de 275 toneladas de lixo, e apenas 25 toneladas são separadas para a coleta alternativa”.

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Esta nova cultura da reciclagem é um fenômeno, social, urbano e também econômico, tão representativo que justifica ser pensado por arquitetos e outros profissionais. Centenas de empresas começam a explorar a reciclagem de resíduos. O lixo tornou-se uma mercadoria. Era resto de um valor de uso e adquiriu um novo valor de troca. Descartável para uns, que não se preocupam com o valor de troca (os moradores em geral), ao passo que para outros o valor de troca é um atributo. Mercadoria que tem um valor simbólico e real. A figura 1 ilustra muito bem este fenômeno.

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rado corretamente do reciclável, seguindo a classificação local agiliza consideravelmente a disposição final, seja ela em aterros sanitários ou as usinas de reciclagem. 3. A geração dos resíduos sólidos Ao longo dos tempos, especialmente nos últimos 30 anos, alguns fatores vêm modificando a sociedade, principalmente a urbana. O homem contemporâneo, principal ator da geração de resíduos, está alterando seus hábitos priorizando rotinas que visam garantir praticidade de execução, tais como: a produção de refeições rápidas e a agilidade no asseio diário.As formas de consumo mudaram e aumentaram significativamente. Surge então o que podemos chamar de sociedade do descartável, uma cultura que acabou se instalando em nossas vidas e potencializando o problema da geração de resíduos sólidos. As embalagens, entre outros, são as mais comuns, sendo necessário encontrar solução para sua minimização, segregação e reaproveitamento. 4. A casa como mediadora

Figura 1 – Catador de embalagens plásticas na China. (Fonte: Jornal ABC Domingo, Novo Hamburgo, 1º de junho de 2003).

A criação de uma consciência ecológica, mesmo que o serviço de coleta não faça uma separação e disposição correta, tem valor enquanto meio educador em relação às questões ambientais. É o primeiro passo na busca para o tratamento adequado a disposição final dos resíduos sólidos. O processo de separação na fonte geradora de resíduos tem grande importância a disposição final dos resíduos. O lixo comum sepa-

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Podemos relacionar o ciclo do manejo de resíduos sólidos em uma residência, com uma atividade industrial, onde pressupõe-se que exista um ciclo de produção: o produto chega, é estocado, uma parte é consumida, outra parte virá lixo, o lixo é embalado e por último vai para o passeio público esperar pela coleta. Parece simples e óbvio, mas se a casa, não estiver preparada para contemplar este ciclo, e em grande parte não esta, o ciclo do manejo de resíduos não será bem desempenhado e certamente esses resíduos causarão incômodo aos usuários. Incômodos de ordem física como a falta de espaço, ou de salubridade, com o surgimento do mau cheiro e o aparecimento e proliferação de insetos e roedores. Este é um problema relativamente novo onde mais uma vez existe uma mudança de comportamento. O homem, antes rural, vivia em propriedades onde a falta de espaço fisco não era

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problema. Os lotes, geralmente de grandes dimensões, possuíam um lugar em separado da casa para estocar, temporariamente, os resíduos nela gerados. Quando não iam para o depósito, os resíduos, especialmente os orgânicos, eram depostos em uma horta de cultivo para subsistência, numa prova total de sustentabilidade. 5. O manejo dos resíduos sólidos É este o momento de explicitar e definir as ações relacionadas àquilo que entendemos ser o procedimento ideal em relação ao manejo dos resíduos sólidos domésticos. As ações iniciam-se no interior das residências e terminam no transbordo na via pública seguindo a seguinte ordem: acondicionamento, segregação, estocagem e transbordo à via pública. O acondicionamento é comum a todas as ações, pois os resíduos precisam, como de costume, ser embalados em sacos plásticos. O ato de segregar os resíduos está relacionado a cultura de separação do lixo objetivando essencialmente colaborar com a política de coleta seletiva. A ação é desencadeada, salvo algumas exceções, no interior da residência em quaisquer setores. A segregação seria muito mais eficiente se começasse no exato momento em que os resíduos são descartados, economizando tempo e reforçando a consciência sobre a importância de segregar. No entanto não é comum encontrar dispositivos que ofereçam tal condição. Outro fator relevante em relação a segregação e acondicionamento de resíduos, diz respeito ao tipo de resíduos e a tipologia dos mesmos, ou seja, as diferentes formas e dimensões destes resíduos. Quanto a estocagem dos resíduos, a falta de um lugar específico é ainda mais evidente. É extremamente importante ressaltar que a ação de estocagem de resíduos está diretamente relacionada à periodicidade da coleta pública. Existem locais em que a coleta de lixo comum passa apenas duas vezes por semana e a coleta seletiva de resíduos apenas uma

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vez por semana. Nesta situação os moradores são obrigados a acondicionar os resíduos e estocá-los em locais impróprios de forma improvisada. Certamente existe uma particularidade referente a área de cada residência, mas na maioria das vezes os resíduos acabam sendo estocados sem suporte em locais como: garagem, área de serviço, dentro de churrasqueiras, pendurado na parede fora de casa e etc. Estocar os resíduos dentro de casa acaba sendo a melhor alternativa, pois quando colocado antecipadamente no passeio público, o lixo fica exposto a ação de catadores, vândalos, mendigos ou acaba revirado por cães e gatos. O incômodo começa a surgir quando as residências não se mostram preparadas para armazenar temporariamente os resíduos sólidos obrigando os moradores a conviver com o mau cheiro e tantos outros problemas já mencionados nos capítulos anteriores. 6. O layout residencial e o manejo dos resíduos sólidos Quando o arquiteto inicia o projeto de uma residência ele genericamente divide o programa de necessidades, do cliente, em três zonas: zona social, zona de serviços e zona íntima. Cada zona deverá conter uma ou mais dependências dependendo das necessidades impostas pelo contratante. Logicamente famílias maiores ou com maior poder aquisitivo precisarão de residências maiores, com mais área disponível. Seu tamanho pode ser definido por diversos condicionantes, mas na maioria das vezes acaba sendo resultante de dois fatores: área construída e custo, uma vez que um pequeno acréscimo de área pode representar um significativo aumento de custos. Conforme verificamos no item anterior, as unidades habitacionais estão ficando cada vez mais enxutas, e na maioria dos casos, mesmo que se construa uma casa de grandes dimensões existe uma tendência de aproveitamento máximo das áreas, procurando racionalizar o espaço e evitando dependências de uso eventual. Segundo Mandelli (1997), a ausência de espaços de estocagem nas residências força os moradores a improvisar 179


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espaços. Com maior freqüência, está a garagem seguido da área de serviço, e por último no pátio da casa, em lugares inusitados como dentro de churrasqueiras ou encima de árvores, conforme mostram as ilustrações na figura a seguir.

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planejamento, no entanto temos de admitir que de forma geral, as dependências geram tipos de resíduos que são derivados de suas atividades. O setor de serviços é onde possivelmente são geradas as maiores quantidades de resíduos sólidos de uma residência. Principalmente por agregar a cozinha, a lavanderia, a garagem, a área de limpeza e manutenção, locais em que as atividades praticadas têm como característica a geração de resíduos, diferentemente de uma sala de estar. Além do setor de serviços, outras dependências como as suítes, gabinetes ou salas de estudo, também produzem algum tipo de resíduo. Sem mencionar os banheiros e lavabos de onde saem grande parte dos dejetos do asseio diário. É possível verificar que, em maiores ou menores quantidades, os resíduos estão presentes em todas as dependências da casa. E além de presente, o lixo circula entre as dependências participando das rotinas dos usuários. 7. O OBJETO DE ESTUDO

6.1 OS RESÍDUOS SÓLIDOS E AS DEPENDÊNCIAS DA CASA Pode-se afirmar que existe uma série de variáveis de comportamento e costumes que interferem na geração de resíduos sólidos nas residências, sabe-se também que cada residência possui layout específico ou muitas vezes nem possui

Para responder a problemática da falta de dispositivos para o manejo dos resíduos no âmbito residencial, torna-se indispensável a apropriação de um layout residencial como objeto de estudo. Trata-se de um estudo arquitetônico, desenvolvido em exercício acadêmico, que aparentemente não demonstrou preocupação com o manejo dos resíduos sólidos. Além da apropriação de um layout arquitetônico é fundamental definir critérios sobre os usuários do imóvel como: a quantidade de pessoas na família, o perfil sócio econômico e a periodicidade da coleta no local, a fim de precisar a composição gravimétrica (fração dos componentes do lixo) aproximando-se ao máximo de uma situação real de ocupação. As soluções serão resultantes da reflexão e do entendimento sobre as ações do manejo dos resíduos sólidos. Primeiramente conhecendo a dinâmica de cada ação, como ela acontece dentro de casa, depois definindo critérios para encontrar a maneira adequada de intervir e racionalizar sua operação. As respostas serão de duas formas:

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Figura 2 – Exemplo de locais inadequados de estocagem de resíduos – (fonte: Mandelli 1997)

Uma idéia para a área de estocagem poderia se configurar como área de transição entre a cozinha e área de serviço, locais onde costumam acontecer a maior parte dos descartes de resíduos sólidos. Em síntese o manejo dos resíduos sólidos não é contemplado no programa de necessidades das residências. Os profissionais de arquitetura ainda não assimilaram o processo de manejo dos resíduos e por isso dão respostas pouco eficientes ao problema.


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a) Modificações de layout arquitetônico contemplando a atribuição do arquiteto, profissional responsável pelo layout residencial; b) A criação de utensílios (dispositivos) que esta ligada ao desenvolvimento de produtos ao qual o projeto de pesquisa Ecodesign responde. 7.1 O PROJETO ARQUITETÔNICO O projeto a ser adotado é uma residência unifamiliar de dois pavimentos com área construída igual a 281,32m², localizada em um lote de 360,00m².

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- Coleta comum, caminhões compactadores e como tratamento e destino final o Aterro Sanitário São Giácomo; - Coleta seletiva, feita em caminhões tipo baú não basculante, com destino para as Associações de Recicladores. Neste caso há uma situação privilegiada pela coleta de lixo comum, que passa três dias por semana. Já a coleta seletiva de menor freqüência, passa apenas uma vez na semana. Este é um indicativo que permite supor que a casa deverá priorizar uma área maior para resíduos seletivos do que para comuns. 7.3 LEVANTAMENTO APROXIMADO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

No município de Caxias do Sul existem dois sistemas de coleta dos resíduos sólidos domiciliares, sendo a separação destes na fonte geradora. O serviço de coleta implantado é no sistema porta-a-porta, de duas maneiras:

O presente estudo está fazendo uso se uma condição hipotética de residência e de moradores. Para conseguir um valor aproximado do volume de lixo gerado em uma semana, que é a freqüência da coleta seletiva, foram usados comparativos com o volume de resíduos gerados em uma residência nas mesmas circunstancias da residência estudada: um saco com o lixo seletivo ao fim de uma semana com volume aproximado a 100 litros pesando 1400g e o montante de lixo comum gerado em 1 dia representando um volume aproximado de 10 litros. Este volume não considera o papel higiênico dos banheiros que podem representar um acréscimo de 5 litros dia. Assim tem-se em média o volume de 15 litros/dia de lixo destinado a coleta comum. Ao término de uma semana o volume de lixo destinado à coleta seletiva será de aproximadamente 100 litros. Para o dimensionamento da área de estocagem convém deixar um acréscimo de 50% para contemplar o descarte de embalagens de maiores dimensões menos freqüentes. Totalizando assim 150 litros. Para a coleta comum de resíduos, após três dias, haverá um volume de aproximadamente 45 litros. Considerando um acréscimo de 50% deste volume tem-se um volume final aproximado em 67,5 litros. Para dimensionar a área de

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Figura 3 – Perspectiva frontal da residência

7.1 OS MORADORES Será definida uma situação hipotética sobre o perfil dos moradores. O layout em questão foi desenvolvido considerando uma família de cinco pessoas composta por um casal de aproximadamente 50 anos de idade e três filhos adolescentes de entre 18 e 20 anos. 7.2 REALIDADE DE COLETA


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estocagem e transbordo deve-se sempre considerar as variáveis: periodicidade de coleta, número de moradores e hábitos de consumo que determinarão um tipo de lixo específico. Neste caso, se adotará um volume de 220 litros, o equivalente a 0,22m³. 8

O método de Desenvolvimento de Produtos O projeto de pesquisa Ecodesign utiliza para o desenvolvimento do projeto de produto o método proposto por Denis Schulmann em seu livro O Desenho Industrial. Schulmann (1994) divide o processo de desenvolvimento de produto em três fases principais, sendo estas maleáveis a medida que o estudo apresenta especificidades. O quadro 5 sintetiza as etapas deste método: Quadro 1: O processo de desenvolvimento de produto segundo Denis Schulmann Reconhecer a existência de um problema ou de uma oportunidade ESTUDOS PRELIMINARES

Analisar para compreender em profundidade, e desenvolver uma estratégia de resolução.

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O presente trabalho pretende reconhecer a existência dos problemas relativos ao manejo dos resíduos sólidos e desenvolver estratégias de solução propondo uma dinâmica para o manejo destes resíduos, chegando até a primeira fase do processo de criação descrito por Dennis Schulmann com a exposição de soluções possíveis e a abertura de possibilidades. Desta forma é oportunizado ao projeto de pesquisa Ecodesign, dar continuidade ao desenvolvimento dos estudos percorrendo os outros procedimentos a fim de tornar viável a produção dos dispositivos. 8.1 DINÂMICA PARA O MANEJO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMÉSTICOS Ao falar na dinâmica proposta, quer-se sugerir uma espécie de conduta em relação ao manejo com os resíduos sólidos domésticos a fim de garantir o funcionamento dos dispositivos a serem projetados. Tal procedimento pode ser comparado a um manual de instruções sobre como proceder em relação ao manejo dos resíduos sólidos. A figura a seguir ilustra o ciclo proposto para o manejo dos resíduos sólidos em uma residência.

Definir a característica do produto que vai resolver o problema Expor as soluções possíveis e abrir oportunidades A CRIAÇÃO

Selecionar a melhor solução a partir de uma avaliação sistêmica Melhorar e aprofundar a solução, para precisar o conceito do produto. Especificar os diversos elementos que dizem respeito à fabricação: técnicas materiais e processos, etc.

INDUSTRIALIZAÇÃO / LANÇAMENTO

Operar o total dos meios de produção Introduzir no mercado Figura 4 – Ciclo, sistematizado, para o manejo dos resíduos.

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Os produtos definidos na última fase da metodologia foram: 8.1.1

Segregação:

Como já visto o ato de segregar está ligado ao imediato momento em que o lixo é descartado nas dependências da casa, portanto costuma acontecer em seu interior. Assim que é gerado o resíduo é logo acondicionado em sacos de lixo postos em recipientes que assumem geralmente a forma de lata. f) Propostas:

Figura 7 – Lixeira Trevo

Figura 8 – Lixeira de banheiro Tetris

Figura 5 – Sketche de coletor para cozinha

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Figura 6 – Sketche do porta sacolas Onda

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Estocagem:

A necessidade de um espaço para estocagem temporária de resíduos se faz necessária a medida que a periodicidade da coleta pública não é tão freqüente, principalmente para acondicionar embalagens plásticas, garrafas de vidro e outros resíduos destinados a coleta seletiva. Os resíduos putrescíveis também devem ter lugar reservado na área de estocagem, principalmente por serem resíduos que causam mau cheiro e atraem animais e insetos indesejáveis.

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e) Propostas: A seguir localização da área de estocagem dimensionada em função do volume e ilustração dos containeres móveis.

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8.1.3 Transbordo O transbordo corresponde a última ação que o usuário tem com o lixo, a disposição final dos resíduos após a coleta fica a cargo do poder público.

Figura 10 – Perspectiva do dispositivo de transbordo Figura 9 – Área de estocagem com os contêineres móveis

f) Considerações: A área de estocagem foi implantada em uma região que permitiu fácil acesso tanto pelo interior da residência quanto pelo lado externo da mesma. A porta tipo veneziana do lado externo permite a ventilação, e facilita a comunicação com a área de transbordo. A porta interna representa uma possibilidade de acesso a residência e por questão de segurança deve manter-se trancada. Como sugere a conduta em relação aos resíduos assim que forem recolhidos das áreas de descarte, eles devem ser acondicionados nos contêineres móveis que permitem o transporte até a área de transbordo. Os containeres possuem volumes diferentes para atender as diferenças de volume entre resíduos seletivos e orgânicos. 188

Figura 11 – Perspectiva do dispositivo de transbordo

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b)Considerações: Este dispositivo apropriou-se de uma solução existente pelo fato da mesma se mostrar extremamente simples e eficiente. Procurou-se apenas enriquecer a solução acrescentando locais de pega bem definidos e laterais de plástico que serviram como elemento sinalizador aos trabalhadores da coleta. Quando o cesto está posicionado para o lado de fora a intenção de expurgo dos sacos de lixo se reforça visualmente pelas laterais coloridas. O presente estudo está considerando a delimitação entre o lote e o passeio público feita por uma grade metálica, entretanto o mesmo dispositivo poderia se adaptar facilmente a uma situação em que a divisa fosse feita com um muro de alvenaria.

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descartáveis vem aumentando gradativamente na composição dos resíduos. Pesquisas mostram que apenas 44% dos resíduos coletados na cidade de Caxias do Sul são do tipo orgânico putrescível. Daí a importância de haver um planejamento no sentido de averiguar a heterogeneidade e as mudanças na composição dos resíduos servindo de informação para o projeto de espaços para o manejo dos resíduos. Estas e outras considerações, bem como o aprimoramento das soluções apresentadas neste estudo, podem perfeitamente ter continuidade ou desencadear novos estudos junto ao projeto de pesquisa Ecodesign, numa demonstração pouco comum de multidisciplinaridade onde a arquitetura e a engenharia ambiental caminham lado a lado.

Considerações finais a respeito das soluções Os parâmetros tomados para dimensionamento dos dispositivos foram aproximados em função do levantamento do volume de resíduos gerado em uma semana em uma residência em circunstâncias semelhantes a proposta pelo estudo. Segundo Mandelli (1997) é importante salientar que o procedimento correto em relação ao projeto de espaços para o acondicionamento de resíduos sólidos deve considerar uma análise da composição gravimétrica dos resíduos gerados pela família. (Mandelli 1997). No caso de uma residência, este procedimento não exige tanto rigor, mas em estabelecimentos com outras atividades ou maiores dimensões como hotéis e hospitais, onde o montante de resíduos gerados é muito maior, torna-se necessário o uso de informações precisas. Outro dado importante é relativo ao peso específico dos resíduos sólidos. As mudanças nos hábitos de consumo estão mudando também a composição dos componentes do lixo. É importante que o arquiteto ou os demais profissionais envolvidos em estudos que envolvam o universo dos resíduos sólidos tenham consciência de que a presença de resíduos

10 CONCLUSÃO Após anos desenvolvendo soluções no âmbito do mobiliário urbano e algumas experiências de caráter comercial a investigação sobre a dinâmica dos resíduos sólidos em uma residência possibilitou ao projeto de pesquisa Ecodesign a exploração de um novo universo ainda não experimentado. Para viabilizar o estudo de desenvolvimento de dispositivos para o manejo dos resíduos sólidos domésticos junto ao projeto de pesquisa Ecodesign, procurou-se primeiramente obter um entendimento sobre o universo dos resíduos sólidos. O primeiro passo foi a busca de uma definição sobre resíduos sólidos, verificar as classificações propostas, conhecer a dinâmica dos resíduos sólidos dentro de uma residência e entender como o layout residencial se relaciona com os resíduos sólidos enquanto problema espacial e de salubridade. Com este primeiro manancial de informações foi possível, conhecer e sistematizar as ações ligadas ao manejo dos resíduos sólidos, que acabaram sendo o principal insumo para o desenvolvimento dos dispositivos. O mesmo conhecimento permitiu-nos diagnosticar que o problema resíduos sólidos, não está sendo contemplado, pelos profissionais responsáveis pelo programa de necessidades de uma residência.

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Após estas identificações iniciaram-se os estudos dos dispositivos baseados nas ações relativas ao manejo dos resíduos. Primeiramente, definiu-se uma situação hipotética de residência em que habita uma família de cinco pessoas, sob uma realidade local de coleta do serviço público, enfim simular uma circunstância que se aproxima ao máximo de situação real de ocupação. Os dispositivos, embora projetados para o modelo de residência proposto no estudo, pretendem se adaptar a qualquer outra situação residencial. Devendo inclusive sofrer adaptações pertinentes a cada caso, considerando variáveis particulares como o número de habitantes da residência, periodicidade da coleta, hábitos de consumo etc. Os estudos tiveram um papel importante na geração de conhecimento e insumos ao projeto Ecodesign. Eles chegaram até a fase criativa de elaboração dos produtos, com a exposição de soluções possíveis, dando possibilidade ao projeto de pesquisa aprofundar estas soluções e finalizar o processo de desenvolvimento. Este estudo propiciou a investigação de um novo nicho de pesquisa acenando a possibilidade de continuação de soluções relativas ao manejo dos resíduos sólidos além da área privada do transbordo. Apontando a possibilidades para o estudo de coletores públicos de uso comum a vários moradores, contêineres para o descarte de resíduos tóxicos ou até mesmo, parques de reciclagem espalhados em diversos pontos da cidade. Além disto, este trabalho demonstrou que é extremamente importante promover ações de multidisciplinaridade para estudar um fenômeno. Aqui a Arquitetura se aliou a Engenharia Ambiental, para juntos apontarem soluções a um problema urbano, social e econômico que cresce desordenamente – a problemática dos resíduos sólidos urbanos. 192

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS(1997). NBR 10004: Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro, 1997. BARBOSA, João Carlos Lutz. (2002) “O Projeto do Nosso Lixo de Todo Dia”. Artigo publicado nos anais do P&D Design 2002. BAXTER, Mike. (2000) “Projeto de Produto”. São Paulo: Edgard Blucher, 2000. 262 p. 2ª ed. Jornal Pioneiro, janeiro de 2003. MANDELLI, Suzana M. D. C. (1997) “Variáveis que Interferem no Comportamento da População Urbana no Manejo de Resíduos Sólidos Domésticos no Âmbito das Residências”. 1997. Tese (Doutorado em Educação – Área de Motodologia do Ensino) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP. 267 p. SCHULMANN, Denis. O Desenho Industrial. Campinas: Ed. Papirus, 1994. 124 p. 1ª ed.

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PESQUISA, EXTENSÃO E ENSINO EM MORADIA SOCIAL E MEIO AMBIENTE (*) Maria Lucia Refinetti Martins Arquiteta e Urbanista, Dra.em Arquitetura e Urbanismo FAU-USP FAU-USP – Professora do Depto de Projeto; Coordenadora do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos Rua do lago, 876 05508-900 São Paulo SP (11) 30914647 malurm@usp.br

1. Fundamentação Apesar da extensão fazer parte das atribuições acadêmicas, com frequência assume um caráter de “prestação de serviços” ou de “assistencialismo”. Representa – quando existe, a única parcela da produção universitária que se ocupa do setor popular. O desafio que se coloca é inserir essas práticas no centro da produção principal do conhecimento, na linha de ponta da pesquisas e do ensino. É com essa ótica que o Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da FAUUSP procura atuar. Constata-se que a maior parte do crescimento urbano das grandes cidades brasileiras não conta com a colaboração do conhecimento técnico formal ou também do financiamento público ou privado. A maior parte da produção da moradia urbana nas metrópoles e grandes cidades, se faz fora do mercado legal privado ou mesmo das políticas de promoção pública e ao largo da legislação urbanística e ambiental existente. A ausência de alternativa habitacional para a maioria da população pobre nas grandes cidades brasileiras teve como uma das consequências, a ocupação irregular e predatória ao meio ambiente urbano. É nos lugares ambientalmente frágeis, “protegidos por lei”, desprezados pelo mercado imobiliário, que proliferam os loteamentos irregulares, as ocupações informais e as favelas. Nesse contexto, a questão ambiental urbana é antes de tudo um problema de moradia e de política habitacional ou, mais precisamente, da falta ou insuficiência desta. (*) texto publicado com o título de: Moradia Social e Meio Ambiente – regularização de loteamentos em área de mananciais na RMSP. In SAMPAIO,M.R. e PEREIRA, P.C. (ed). Profissionais da Cidade. São Paulo, Unesco-USP, 2003, p 139-154. ISBN 8588126-42-7

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A situação que se coloca hoje é de uma extensa área de loteamentos onde vive a maior parte da população de baixa renda, em situação irregular e em grande parte das vezes em áreas que comprometem os mananciais urbanos. Do ponto de vista jurídico são irregularizáveis segundo a legislação existente; do ponto de vista social representam a única alternativa de moradia de enorme parcela da população. É essa a condição que bate à porta do Ministério Público, nas Promotorias de Habitação e Urbanismo,responsáveis por zelar pelos interesses difusos da população quanto à ordem urbanística – qual seja, a questão de uso e ocupação do solo. Com o objetivo de discutir a natureza desse conflito, prioritariamente no caso da ocupação existente nas áreas de proteção ambiental e a necessidade de garantir condições de consumo da água dos mananciais de São Paulo, reuniram-se no início de 2000, professores – pesquisadores do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos do Departamento de Projeto da FAUUSP e integrantes do Ministério Público do Estado de São Paulo – Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Habitação e Urbanismo e programaram uma série de atividades, incluindo uma disciplina optativa no curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, na USP. O trabalho iniciado com essa parceria, que incorpora também Municipalidades da Região Metropolitana de São Paulo, tem por perspectiva de médio e longo prazo desenvolver uma linguagem em comum, num processo sinérgico de produção de conhecimento, metodologias e procedimentos, alternativas técnicas e jurídicas, replicáveis para situações semelhantes, presentes na Região Metropolitana de São Paulo e na maioria das grandes cidades no Brasil e na América Latina. Se de um lado a tradição urbanística sustenta a elaboração de propostas de regulamentação em conceitos e modelos de organização urbana, espacial, pouco considerando as dificuldades reais, práticas do exercício jurídico e da aplicação das sanções, o Ministério Publico e o Judiciário lidam com os diplo-

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mas legais sem qualquer referência ou domínio físico-espacial. A proposta aqui apresentada, busca contemplar pesquisa, extensão e ensino, tendo por objetivo contribuir na superação dessa limitação dos campos disciplinares e de seu difícil diálogo e complexa ação a empreender no caso concreto do uso do solo da periferia metropolitana de São Paulo, particularmente nas áreas de proteção de mananciais. A experiência de trabalho conjunto levou à formulação, no final de 2000 de proposta de projeto em Políticas Públicas, que obteve, a partir de 2002 apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de são Paulo - FAPESP. Esse apoio possibilitou a aquisição de equipamentos e material para pesquisa e viabilizou bolsas de três meses de duração para cinco estudantes, o que consolidou sua participação e ampliou o âmbito dos trabalhos. A realização de encontros quinzenais do conjunto de parceiros, co-parceiros e bolsistas – viabilizados pela disponibilidade de diárias e combustível permitiu boa aquisição e troca de informações entre o conjunto. O apoio e reconhecimento de conceituados profissionais da área garantiu a apresentação à equipe de seminários temáticos com alto nível técnico. 2. Descrição da experiência Concebido desde o início como atividade múltipla de ensino pesquisa e extensão, o desenvolvimento do projeto, que integra também o ensino (disciplina de ateliê do curso de graduação), vem permitindo melhor compreensão da dinâmica de implantação de loteamentos e edificações irregulares e/ou clandestinos e a avaliação de seus efeitos negativos. Tem também identificado gargalos e dificuldades no controle do uso do solo, e maneiras mais adequadas de abordagem da questão da irregularidade, com instrumentos e soluções técnicas alternativas e possibilidades novas, como o recurso ao Termo de Ajustamento de Conduta e os novos instrumentos decorrentes do Estatuto da Cidade, como o Usucapião Especial Urbano ou o Usucapião Coletivo. 196

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O projeto representa experiência inovadora de articulação entre as práticas e metodologias da Justiça e da área de Arquitetura e Urbanismo, promovendo transferência de informações e recursos técnicos entre as duas Instituições participantes e agentes públicos municipais (da RMSP) vinculados à aprovação, controle e regularização de uso e ocupação do solo. Assume também o papel de formação e consolidação da área profissional, na medida que envolve regularmente estudantes de graduação. Os procedimentos de trabalho têm se organizado em torno de diferentes momentos, formas e dimensões, reunindo desde o grupo mais restrito, de Pesquisadores, passando por reuniões parciais da equipe, orientações a bolsistas, até atividades ampliadas, como seminários que incluem os estudantes de Graduação da disciplina “Ambiente Construído e Desenvolvimento Sustentável – Moradia Social” e seminários abertos. Decorrentes do conjunto dos trabalhos, uma série de produtos vão se consubstanciando, entre eles: Identificação e sistematização de situações típicas e portanto dos objetos de trabalho. Determinante para construção do conhecimento e da prática, segue principalmente em três vertentes: a) Condição jurídica: levantamento e caracterização da quantidade e tipologia de procedimentos (nome pelo qual são designados os processos em andamento no MP) em curso nas Promotorias de Habitação e Urbanismo; b) Condição de irregularidades urbanísticas e ambientais: tipificação desenvolvida a partir dos casos escolhidos e das análises das condições físicas observadas nos casos escolhidos e cotejamento com as diversas legislações incidentes: c) Condições de operacionalização: identificação das estruturas institucionais e procedimentos de fiscalização e regularização de loteamentos das Prefeituras e do Estado.

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Consolidação de Bibliografia e Repertório aliada à produção de textos pela equipe de pesquisadores e parceiros – o que reflete a progressiva consolidação de conceitos, princípios e diretrizes. Desenvolvimento de metodologia, a partir de projetos piloto (proposta de alternativas urbanísticas – incluindo infra estrutura) para casos selecionados – procedimentos em fase de investigação pelo Ministério Público. São projetos elaborados com orientação dos pesquisadores, em nível de anteprojeto, pelos estudantes da disciplina de graduação articulada à pesquisa – Ambiente Construído e Desenvolvimento Sustentável. Esse material está sendo sistematizado e consolidado para futura publicação. Relatórios síntese das proposições para divulgação entre Promotores de Justiça e Municípios da Região, podendo ser usado também como material didático na graduação ou em cursos de especialização. O material produzido vai sendo divulgado de modo informal e progressivamente organizado. Vai sendo consolidado à medida que alguns aspectos se mostram mais definitivos. Deverá resultar num produto completo e didático a ser publicado. Esse material é constituído tanto por relatos e desenhos referentes a intervenções físicas visando qualificação ambiental quanto por trabalhos teóricos, conceituais, ou mesmo de interpretação e explicitação, que buscam inserir o tema dos assentamentos populares em áreas inadequadas, num contexto mais amplo, construindo nexos e desdobramentos. 3. Objetivo Geral O Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos tem por objetivos desenvolver fundamentação teórica e conhecimento técnico na área dos assentamentos humanos visando a formação de pesquisadores e profissionais para as políticas públicas. O enfoque crítico e analítico fornece uma base para a intervenção – sob a forma de projetos, progra-

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mas, planos e gestão – sobre a cidade real, direcionada ao interesse público e à inclusão social. O projeto específico - Moradia Social e Meio Ambiente, tem por objetivo desenvolver alternativas de ajustamento de conduta para loteamentos irregulares, nas áreas de proteção dos mananciais na Região Metropolitana de São Paulo, propondo soluções urbanísticas que sejam ambientalmente sustentáveis e passíveis de regularização jurídica, no caso de ocupações já consolidadas - de moradia pobre, irregular e ambientalmente inadequada. 4. Objetivos específicos O objetivo específico do trabalho aqui apresentado é desenvolver, a partir do estudo de casos concretos, a proposição de soluções urbanísticas para mitigar os prejuízos coletivos nas situações de irregularidade consolidada e de difícil reversão, melhorando as condições ambientais e permitindo alguma solução/ regularização jurídica. Procura também estabelecer restrições e exigências que facilitem o processo de fiscalização e desenvolver parâmetros que contribuam para a elaboração dos Planos de Bacia, conforme instituído pela Lei no 9.866/97 – Proteção e Recuperação das Bacias Como desdobramento desse objetivo mais imediato pretende avançar no desenvolvimento de diretrizes de preservação / ocupação e uso do solo para áreas ambientalmente sensíveis e de mananciais na grande São Paulo – e outros grandes centros, incorporando à sua concepção ambiental e urbanística critérios e formas de aplicação, fiscalização e controle, compatíveis com a cultura e as normas jurídicas nacionais e locais e a efetiva capacidade de gestão do poder público. A curto prazo, o propósito é avançar na elaboração, a título de experiência e reflexão, de pelo menos dois projetos completos, em condições de implantação, incluindo orçamento, etapas, formas de avaliação e medição, além, evidentemente, do processo de regularização. 199


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No que tange à pesquisa, pela própria natureza de seus objetivos, o desenvolvimento aponta para três rumos principais de investigação: aspectos técnicos (de arquitetura, urbanismo e infra-estrutura), aspectos jurídicos (regulação e jurisprudência) e aspectos de gestão (ações e práticas desenvolvidas pelos diversos agentes públicos responsáveis pela preservação dos mananciais - incluindo aplicação da legislação de controle do uso e ocupação do solo e fiscalização). No que se refere a aspectos Técnicos atenta-se particularmente ao seguinte desafio: buscar alternativas de intervenção que viabilizem, em assentamentos consolidados de impossível adequação à legislação vigente, atingir-se uma condição de respeito ao “Espírito da Lei”, qual seja, a proteção aos mananciais. Para atender ao objetivo de garantir a qualidade da água dos mananciais, a legislação de proteção utiliza como instrumento restrições de uso e ocupação do solo: baixa densidade de ocupação, por meio de lotes obrigatoriamente grandes. Admitir a possibilidade de Reparação de Danos e Ajustamento de Conduta em condições de completa impossibilidade de adequação aos padrões da Lei implica em disponibilizar outras alternativas e instrumentos que assegurem atingir seus objetivos, ou seja, que permitam conseguir boa qualidade e adequada quantidade de água e ao mesmo tempo estabeleçam padrão de controle que garanta o estabelecido no Termo de Ajustamento. O objetivo específico nessa linha é Investigar no meio técnico e propor projetos de moradia que minimizem o comprometimento ambiental em áreas junto aos mananciais da cidade de São Paulo: tanto mitigar situações onde a ocupação inadequada é de remoção socialmente inviável, como desenvolver projetos e implantações alternativas que permitam simultaneamente moradia e preservação ambiental; Buscar, no caso de assentamentos consolidados, de moradia pobre, evitar a con-

taminação da água pelo esgoto doméstico, recorrendo a propostas de ação local, de baixo custo e baixo impacto. Em relação aos aspectos Jurídicos, o trabalho é voltado à investigação de elementos que incluem: levantamento e análise de inquéritos civis, procedimentos preparatórios e ações civis relativas a assentamentos irregulares em áreas de mananciais em curso nas Promotorias de Justiça de Habitação e Urbanismo; antecedentes de regularização urbanística e/ou registrária desse tipo de loteamentos; termos de ajustamento de conduta celebrados e padrões de compensação ambiental que tenham sido aceitos. Quanto a aspectos de Gestão a pesquisa vai em duas direções: a primeira observa procedimentos adotados em órgãos institucionais, como Prefeituras, Secretaria do Meio Ambiente, Ministério Público e Conselhos Gestores de Bacia Hidrográfica quanto a regularização e ações de controle e fiscalização de loteamentos irregulares, particularmente nas áreas de proteção a mananciais; a segunda associa aspectos técnicos e de gestão, propondo o desenvolvimento de metodologia de análise de casos, estabelecimento de uma “tipologia” referencial e produção de parâmetros ou “modelos“ de orientações a assumir nos diferentes tipos de assentamentos e de irregularidades que se apresentam nas áreas de mananciais. Trata-se de caracterizar situações padrão e definir diretrizes de ajustamento que possam ser adotadas para formulação de Termos de Ajustamento de Conduta.

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5. Atores envolvidos O projeto conta com variados atores, em proporções diversificadas de tempo e envolvimento. O núcleo central é constituído pela equipe responsável pelo projeto, na FAU-USP – Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos: Professores Erminia Maricato (Coordenadora do LabHab), Maria Lucia Refinetti Martins (Responsável pela pesquisa), Minoru Naruto e pela equipe parceira, do Ministério Público do Estado


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Os trabalhos se desenvolvem a partir de loteamentos irregulares que tenham processo no Ministério Público, identificados como casos paradigmáticos. A partir deles se desenvolve a pesquisa e também a disciplina optativa de ateliê. Nessa disciplina, se envolvem professores, alunos, promotores públicos, representantes das prefeituras e profissionais convidados, para aprofundar conhecimentos sobre as áreas e sobre o contexto jurídico e institucional, cabendo aos alunos, orientados pela equipe de professores desenvolver análises e projetos, com propostas de alternativas para regularização jurídica e urbanística dos assentamentos. Os diversos casos já estudados ou em estudo situam-se nos Municípios de Santo André, São Bernardo e Diadema (na Bacia Billings) e Embu (na Bacia Guarapiranga). No que se refere à pesquisa, mais propriamente, o desenvolvimento dos trabalhos inclui diversos níveis de envolvimento e participação, que se consubstanciam em:

Atividades regulares da equipe mais ampla: a equipe completa constitui-se de mais de 20 pessoas, incluindo: Pesquisadores, Equipe Parceira (Promotores de Justiça do Caohurb), Promotores de Justiça dos Municípios de Diadema, Embu, Santo André e São Bernardo, técnicos das áreas de Habitação e Meio Ambiente dos referidos Municípios, Bolsistas do Projeto (FAPESP e PIBIC), Bolsista Programa PAE-USP, Estudantes com Trabalho Final de Graduação no tema. Com esse grupo são desenvolvidas reuniões quinzenais, alternadamente entre reuniões de troca de informações e de atualização de conhecimentos e seminários com palestrantes convidados, sobre temas específicos, escolhidos pelos pesquisadores, ouvida a equipe. A essas reuniões são trazidas e reunidas diversas contribuições – entre textos, Leis, e depoimentos. Esse material é debatido nas e será utilizado para a produção bibliográfica da pesquisa. Grandes seminários envolvendo discentes de Graduação:dois grandes seminários já foram realizados, em que os estudantes da disciplina de Graduação – que trabalhou sobre o Loteamento Sítio Joaninha, assentamento irregular, na área de proteção aos Mananciais em Diadema, apresentaram inicialmente seus Partidos de Intervenção e finalmente suas Propostas e Projetos. Foram atividades ampliadas, com a presença dos estudantes, da equipe completa e de interessados em geral. O conjunto de projetos apresentados pelos estudantes e comentados pela equipe está sendo trabalhado para apresentação sob forma de “Caderno de Hipóteses e Sugestões”. Atividades restritas, com parte da equipe: debates e avaliações entre Pesquisadores do LabHab e CAOHURB, têm sido sistemáticos e frequentes, quanto à definição de temas a serem aprofundados e de textos a produzir. Inúmeros têm sido os convites de uma instituição a outra para participação em palestras, seminários e debates Desse conjunto de atividades e intenso debate mais a pesquisa e o empenho individual de cada participante resultaram

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de São Paulo - Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Habitação e Urbanismo: Promotores José Carlos de Freitas, Cláudia Maria Beré, Marco Antonio Pereira. A equipe ampliada (co-parceiros) envolve: 3ª Promotoria de Justiça de Embu: Promotora Roseli Naldi Souza, 1ª Promotoria de Justiça de Diadema: Promotora: Stela Tinone Kuba, 13ª Promotoria de Justiça de São Bernardo: Promotora Rosangela Staurenghi; representantes das Prefeituras de Diadema, Embu, Santo André e São Bernardo; Pesquisadores e bolsistas: Robson Moreno (mestrando), Giselle Tanaka, Gustavo Chacon, Mariana Mencio e Renata Lucas (Treinamento Técnico), Andrea Vilella, Luciana Ferrara e Tatiana Nobre (Iniciação Científica); além dos profissionais convidados que apresentaram palestras e dos 90 alunos que cursaram a disciplina optativa AUP547 – Ambiente Construído e Desenvolvimento Sustentável entre 2000 e 2002. 6. Estratégias Pedagógicas e Metodologia utilizada


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diversos produtos, de textos a palestras, publicações, projetos, participações em eventos científicos e seminários, entrevistas e até um prêmio – o Selo do Mérito 2001, da Associação Brasileira de COHABs, como reconhecimento a “pessoas ou entidades que, efetivamente contribuem para o aperfeiçoamento, melhoria e qualidade do ambiente construído destinado à população de baixa renda”. 7. Inovação Principal As principais inovações são de diversas ordens: No plano acadêmico a proposta expressa uma alternativa concreta de efetiva integração entre Ensino, Pesquisa e Extensão, pondo em marcha, de fato, uma formulação cuja prática tem sido muito difícil e parcial na Universidade. No plano conceitual, inova no tratamento do conhecimento: se de um lado a tradição urbanística sustenta a elaboração de propostas de regulamentação em conceitos e modelos de organização urbana, espacial, pouco considerando as dificuldades reais, práticas do exercício jurídico e da aplicação das sanções, o Ministério Publico e o Judiciário lidam com os diplomas legais sem qualquer referência ou domínio físico-espacial. A pesquisa tem por objetivo contribuir na superação dessa limitação dos campos disciplinares e de seu difícil diálogo e complexa ação a empreender no caso concreto do uso do solo da periferia metropolitana de São Paulo, particularmente nas áreas de proteção de mananciais. No plano técnico busca desenvolver alternativas de projeto e de uso de tecnologias de baixo custo, capazes de conciliar moradia de interesse social e boas condições ambientais em áreas ambientalmente frágeis, já comprometidas, de forma irregular. No plano institucional, fomenta o debate e o contato entre Universidade, Ministério Público e Municipalidades, propiciando um mútuo conhecimento e reconhecimento e uma progressiva ação sinérgica.

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8. Impactos Gerais - disseminação Dada a própria natureza da atividade, que agrega Ensino, Pesquisa e Extensão, há impactos de caráter mais acadêmico – seminários, palestras, publicações, impactos sobre a ação do Ministério Público – que chega a incorporar em seus procedimentos concepções e diretrizes produzidas no bojo dos debates e interação, impactos sobre o tratamento que as municipalidades dispensam aos casos estudados e impacto geral sobre a formação dos estudantes, que têm crescentemente se envolvido com temas relativos a assentamentos populares e particularmente à relação entre assentamentos populares e Meio Ambiente. Isso se torna evidente pela significativa ampliação desses temas no Trabalhos Finais de Graduação, cujo objeto é de livre escolha de cada estudante. Dentre as principais atividades nos três anos da experiência podem-se citar: Atividades do LabHab com participação do CAOHURB - Seminário Estatuto da Cidade. Promoção LabHab e LABFAU – FAUSP, 28 agosto 2001. Participação de Claudia Maria Beré na Mesa Redonda:O Estatuto da Cidade é Inovador ? - Seminário Cultura e Extensão 2002. A USP na sociedade – reafirmando o diálogo e ampliando caminhos. FEA-USP, 12 e 13 jun 2002. - Apresentação do poster referente à Pesquisa conjunta, intitulada: Moradia Social e Meio Ambiente – regularização de loteamentos em áreas de mananciais na RMSP. Painel disponível no site do evento: www.usp.br/prc/projetos/g_imgs/ fau.jpg - Workshop “Terra Urbana para Políticas Sociais: Aquisição e Desapropriação”. LabHab e Lincoln Institute. FAU-USP, 05 a 07 de agosto de 2002. Participação de Cláudia Maria Beré (CAOHURB) e Rosangela Staurenghi (Promotoria de São Bernardo) como palestrantes. 205


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- Seminário final da disciplina Ambiente Construído e Desenvolvimento Sustentável – junho de 2002. Apresentação dos estudos desenvolvidos pelos estudantes, sob orientação dos Profs. Ermínia Maricato, Maria Lucia Refinetti Martins e Minoru Naruto, para regularização urbanística e ambiental do loteamento Sítio Joaninha, em Diadema. Participação da equipe CAOHURB, Promotores de Diadema e São Bernardo e técnicos das áreas de Habitação e de Meio Ambiente das Prefeituras Municipais de Diadema e Santo André.

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MARICATO, E. Limitações ao Planejamento Urbano Democrático. P 47-61 MARTINS, M.L.R. Direito Urbanístico e Reparação de Dano: entre o modelo e o real. P 65-83 BERÉ,C.M. O papel do Ministério Público no parcelamento do solo urbano. P 327-44 FREITAS, J.C. O Estatuto da Cidade e o equilíbrio no espaço urbano.P 441-57

buem para o aperfeiçoamento, melhoria e qualidade do ambiente construído destinado à população de baixa renda”. O trabalho apresentado para concorrer à premiação foi justamente a produção referente à parceria com CAOHURB, na promoção de atividade de ensino e extensão, expressa na exposição Moradia Social e Meio Ambiente - MARTINS, MLR. Mercosul e a questão ambiental urbana: o desafio da Moradia Social. In: MUSCAR e BRANDIS (org.). Los desequilibrios ambientales globales, regionales y locales. Madrid, TIByMA, 2002 - MARTINS, MLR. Estatuto da Cidade - Conteúdo e Desdobramentos para o Meio Ambiente e para a Moradia Social. In: Prefeitura de Guarulhos. O Espaço das águas na cidade. PMG 2002 - MARTINS, MLR. Moradia Social e Meio Ambiente - regularização de loteamentos em área de Mananciais na RMSP. Apresentação no Seminário Internacional “Profissionais da cidade”. UNESCO-FAUUSP, 2002. - Apresentação do tema “A importância da capacitação na produção da habitação de interesse social na América Latina”, no IV Seminário Ibero-americano da Rede CYTED XIV.C – Capacitação e transferência de tecnologia para Habitação de Interesse Social – Em busca de novas estratégias. São Paulo, IPT, set. 2002. Profa. Maria Lucia Refinetti Martins

- Seminário O Estatuto da Cidade. Promoção CAOHURB, SECOVI, IRIB. São Paulo, 31 de out/ 1o nov 2001. Apresentação de Palestra pela Profa. Dra. Ermínia Maricato: O que fazer com a cidade ilegal ? Outros produtos referentes às atividades da Pesquisa - MARICATO E e MARTINS MLR. Moradia Social e Meio Ambiente. Revista Sinopses, 35. São Paulo, FAUUSP, 2001. - Prêmio SELO DE MÉRITO, da Associação Brasileira de COHABs, concedido o Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos FAUSP em março de 2002. O prêmio é atribuído a “pessoas ou entidades que, efetivamente contri-

9. Dificuldades principais e acertos Do ponto de vista do funcionamento da pesquisa e do entrosamento das equipes (LabHab, CAOHURB, Promotorias e Municipalidades) e conjunto de estudantes que cursam ou cursaram a disciplina de ateliê da Graduação não há qualquer dificuldade. Tudo o que foi proposto nessas primeiras etapas foi realizado de modo tranquilo e proveitoso para o conjunto, com inúmeros desdobramentos, entre seminários, palestras e publicações. Tem representado um espaço de reflexão, aprendizado e desenvolvimento conjunto.

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Atividades do CAOHURB com participação do LabHab - Ministério Público do Estado de São Paulo. Temas de Direito Urbanístico 3. São Paulo, Ministério Público/Imprensa Oficial, 2001. O livro, coordenado pelo CAOHURB contém entre os diversos artigos apresentados dois de pesquisadores do LabHab e dois da equipe parceira do CAOHURB, que expressam os temas trabalhados na pesquisa:


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A maior desafio é o tema em si. Complexo e de raízes estruturais, envolve diversos aspectos em que, no conhecimento acumulado e disponível na sociedade e no meio acadêmico, as “noções” são muitas e as certezas muito poucas – e as práticas são reconhecidamente insatisfatórias. A pesquisa representa importante espaço de reflexão e elaboração mas deve ser compreendida como apenas parte de um processo muito mais abrangente, que é lento, de construção de novas maneiras de enfocar o problema do assentamento em grandes cidades, o que envolve concepções de urbanismo, soluções técnicas, corpo jurídico, estrutura administrativa e gestão, provisão de recursos. Desde o início dos trabalhos sempre tivemos clareza quanto aos objetivos e ao caminho. No entanto só a investigação sistemática é que vem permitindo a precisão das ações. A possibilidade de contar com o Auxílio à Pesquisa, que proporcionou recursos materiais e bolsistas, foi determinante para que se tivesse “fôlego” e “pernas” para compreender com maior exatidão a situação e os desafios colocados tanto às Municipalidades quanto às Promotorias e assim delimitar precisamente o “caminho crítico” e os pontos chave onde investir prioritariamente. Do ponto de vista técnico, das proposições urbanísticas e ambientais avança-se a cada estudo de caso (até o momento, desenvolvido a cada semestre, ao longo da disciplina de ateliê). No entanto, a grande prova será a implantação de uma intervenção completa, cuja proposição, projeto e previsão de recursos pretende-se elaborar na próxima etapa, tendo consciência no entanto, que dependerá para a efetiva implantação e execução de obras, da provisão de recursos de maior porte, o que se procurará mobilizar, juntamente com as municipalidades, para o médio prazo. 10. Sustentabilidade da experiência A experiência se mantem pela continuidade da participação dos parceiros. Recebeu importante impulso o primeiro semestre de 2002 com o apoio financeiro da FAPESP, ao qual se candidata para uma segunda fase. Tem por perspectiva esta208

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belecer um processo de continuidade que se auto-sustente. Nesse prosseguimento, as diretrizes e objetivos mais amplos são o grande rumo, enquanto a permanência da atividade acadêmica, de formação de novos quadros e de profissionais, é o fio condutor, que ao longo do tempo poderá articular os atuais e/ou novos parceiros. 11. Avaliação Em síntese, pode-se afirmar que objetivos e metas propostos vão se materializando, chegando a produtos e conclusões que permitem melhor foco e direcionamento para as investigações e ações de novas etapas. Desses três anos de trabalho, alguns pontos vão se mostrando essenciais: A importância da consolidação de uma linha de pensamento, uma articulação entre teoria e prática com pressupostos e objetivos claros. Daí decorre a formação de equipe e a sustentabilidade do projeto. A constituição de parcerias, amplificação do diálogo e o estabelecimento de referenciais, são aspectos fundamentais onde alicerçar o processo didático e a formação profissional. A experimentação e a prática fazem parte da construção teórica. O desenvolvimento de projetos e sua aplicabilidade são essenciais a essa construção. São diversas as propostas de desagravamento e de melhoria ambiental desenvolvidas no âmbito do ateliê da graduação para os projetos-piloto. São no entanto ainda “reflexões” apenas de caráter físico-ambiental e representam portanto uma etapa do trabalho. É a partir dessas experiências que começa a ser possível precisar níveis de irregularidade, formas de intervenção e superação e caminhos para a regularização também nos campos jurídico e registrário. Com base nos projetos-piloto vão se construindo os procedimentos metodológicos. Esse é um trabalho que avança com segurança, desenvolvendo-se no transcorrer da disciplina de graduação, pesquisa, palestras e seminários. Vai sendo paulatinamente registrado e consolidado como referência e como material didático. 209


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A título de contribuição final, pode-se ainda ressaltar que a experiência que o LabHab tem desenvolvido pode acrescentar algumas reflexões às propostas do projeto Profissionais da Cidade. Este assume como um de seus desafios “contribuir para a emergência de currículos acadêmicos que capacitem novos perfis de profissionais universitários para tratar dos problemas das cidades latino-americanas, onde a maior parte do espaço se produz atualmente sem a intervenção desses profissionais”. Sem dúvida, essa é a questão, mas o currículo em si representa apenas uma parcela do desafio: inserir no universo acadêmico as questões afetas à cidade informal, ilegal, incorporá-la no processo didático e na pesquisa, é uma parte fundamental – mas é fundamental também, a criação de alternativas concretas de trabalho para esses novos profissionais. Qualificar a cidade e a moradia da maioria da população não pode ser um gesto de voluntariado mas constituir-se numa efetiva disponibilização desses serviços profissionais de modo extensivo e universal. A extensão como atividade didática, voltada aos setores da sociedade e da cidade que não têm acesso a profissionais habilitados é crucial, mas não pode ser concebida como uma atividade de assistência. É necessário que se incorpore ao âmago da produção do conhecimento e que tenha status e reconhecimento como pesquisa de ponta – e que toque efetivamente nos constrangimentos que bloqueiam a ação – grande parte deles expressão da falta não de tecnologia e de conhecimento, mas de humildade para uma ação intersetorial e que reconheça no outro um interlocutor.

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O ENSINO DA MADEIRA NO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIGRAN Cynara Tessoni Bono (cynarabono@unigran.br), colaborador Naise Dobbins Canisso (nadcanisso@ibest.com.br) Centro Universitário da Grande Dourados - Faculdade de Ciências Exatas - Curso de Arquitetura e Urbanismo

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar as alterações e atividades realizadas dentro do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRAN no que diz respeito à dinâmica do processo de ensino-aprendizagem da madeira como material de construção. A utilização da madeira na concepção projetual para arquitetos e urbanistas, passa, necessariamente, pelas transformações do conhecimento no âmbito da construção do edifício e da cidade, como preconiza as Diretrizes Curriculares. Dentro destes parâmetros, as alterações e atividades realizadas correspondem à construção de um protótipo em eucalipto roliço tratado, às modificações na ementa da disciplina de tecnologia da construção e na realização de uma semana acadêmica temática sobre Arquitetura em Madeira. Estas ações são de caráter tímido e, ainda, isoladas; mas, acredita-se, possibilitem a mudança de posturas em relação à utilização do material pelos futuros profissionais. Os resultados serão aferidos a médio e longo prazo, pois mudanças fazem parte de um processo contínuo. A maior contribuição consiste em demonstrar que a arquitetura de madeira é a arquitetura do futuro, pois em tempos atuais, a tomada de decisão na concepção arquitetônica deve, necessariamente, considerar suas conseqüências ao meio ambiente. Palavras-chave: Arquitetura e Urbanismo; processo ensinoaprendizagem; madeira; meio ambiente.

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1. INTRODUÇÃO A matriz curricular dos cursos de Arquitetura e Urbanismo existentes no país deve obedecer as Diretrizes Curriculares e o Conteúdo Mínimo fixados pelo Ministério da Educação – MEC - para a formação de arquitetos e urbanistas através da Portaria 1.770, de dezembro de 1994. Estas diretrizes encontramse sistematizadas em áreas de estudo correspondentes às matérias de fundamentação e às matérias profissionais e, embora estas instâncias não estabeleçam exigência de precedência e não caracterizem um ciclo básico, devem, necessariamente, conduzirem à definição exata a que se propõem: a formação técnica e profissional do arquiteto em condições de desempenhar sua finalidade precípua de projetar o edifício e a cidade. O conjunto de disciplinas e de atividades que dinamizam o processo ensino-aprendizagem que um determinado curso de Arquitetura e Urbanismo oferece aos acadêmicos é denominado currículo pleno da Instituição de Ensino Superior no qual se encontra vinculado. As ênfases oferecidas para os conteúdos das disciplinas e atividades de implementação curriculares são estabelecidas dentro do projeto pedagógico que os cursos de Arquitetura e Urbanismo desejam oferecer aos alunos, traçando o perfil do egresso bem como os padrões de qualidade e as posturas do profissional que será inserido no mercado de trabalho. De acordo com a Comissão de Especialistas de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – CEAU - (SESu/MEC, 1994) as diretrizes curriculares devem ser metodologicamente trabalhadas sob a forma de disciplinas, atividades, seminários, visitas dirigidas e outras formas de implementação curricular. A dinâmica do processo de ensino-aprendizagem requer a utilização de múltiplas formas de apropriação do conhecimento e não se limita à oferta de disciplinas ministradas em sala de aula. A busca do conhecimento em sua fonte através do envolvimento dos alunos nos processos construtivos, verificações laboratoriais, pesquisas bibliográficas, iconográficas e de

O ensino e a aprendizagem da utilização da madeira como material de construção para arquitetos e urbanistas, passa, necessariamente, pelas transformações do conhecimento no âmbito da construção do edifício e da cidade, como preconiza as Diretrizes Curriculares. Com algumas exceções, os cursos de Arquitetura e Urbanismo existentes no país inserem este material de construção, dentro de seus conteúdos programáticos, como fôrmas e cimbramentos, que caracterizam a função auxiliar do material em relação a outros materi-

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campo, vivenciando os problemas a serem resolvidos no âmbito do projeto e do planejamento, são premissas básicas para a formação de arquitetos e urbanistas. Estimular as atividades de pesquisa e extensão bem como a criatividade, de maneira a garantir o desenvolvimento de metodologias que possibilitem a transformação do conhecimento no campo da construção do edifício e da cidade é requisito para imprimir padrões de qualidade nos cursos de Arquitetura e Urbanismo em expansão, em reconhecimento e em verificação periódica pela CEAU. Dentro deste contexto, o Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN – localizado na cidade de Dourados, Estado de Mato Grosso do Sul - MS, procura, gradativamente, fazer as alterações e adequações necessárias que possibilitem alcançar o patamar indicado pela Secretaria de Educação Superior – SESu/MEC - , respeitando as realidades local e regional de inserção dos futuros profissionais no mercado de trabalho. A matriz curricular vem sofrendo alterações juntamente com a atualização do ementário das disciplinas e seus respectivos conteúdos programáticos. Soma-se a isto a qualificação do corpo docente através do incentivo à obtenção de titulação e atividades de pesquisa e extensão que agreguem valor na formação e no ato de projetar dos alunos vinculados ao curso.

2. O ENSINO DA MADEIRA NO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIGRAN


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ais construtivos; ou, ainda, como revestimento, que caracteriza a nobreza do material. O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRAN não foge à regra. A utilização da madeira segundo as posturas mencionadas denota a fragilidade e o preconceito em relação à aplicação do material nas concepções arquitetônicas. Posturas ainda impregnadas nos cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo. Com o advento do Movimento Moderno, que modificou os parâmetros da Arquitetura no mundo e no Brasil, elegeu-se, dentre outras coisas, um material que pudesse traduzir os novos conceitos de composição, plástica e construção da edificação. O concreto armado foi o material eleito e difundido que veio traduzir os novos conceitos da então chamada Arquitetura Moderna. Segundo STUNGO (1998), a madeira foi um dos materiais construtivos de edificação dos mais populares, ao lado da argila e da pedra, por milhares de anos. Desde 1970, entretanto, os arquitetos, em geral, negligenciaram o uso da madeira em favorecimento de materiais construtivos como o concreto, o aço e os sintéticos. Para os novos conceitos da Arquitetura Contemporânea esta situação ganha um enfoque diferente. Existem alguns apontamentos, desde o final do século passado, que a procura de identidade da chamada Arquitetura Contemporânea induz à adoção de vários materiais construtivos que traduzam os novos parâmetros do edifício e da cidade e, entre eles, a redescoberta da madeira. Acredita-se que este acontecimento tenha ocorrido, também, com a inovação na indústria madeireira, que conduziu à redescoberta do ato de construir em madeira, uma tradição que sobreviveu somente em áreas marginais e rurais, e naquelas regiões não afetadas pela prosperidade crescente das nações industriais do mundo. De acordo com STUNGO (1998), pode-se verificar que métodos tradicionais da construção e as tipologias de sistemas construtivos e estruturais retornam com uma nova leitura devido aos avanços tecnológicos. As atuais concepções arquitetônicas com madeira devem ser, e são, mais do que uma tendência de passagem investigada por uma minoria de 214

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arquitetos e usuários finais. Os arquitetos contemporâneos estão explorando um mundo novo do projeto com arquitetura de madeira. Não há nenhuma razão, conseqüentemente, em considerar o interesse atual em construir com madeira como apenas uma fase de passagem, pois a arquitetura de madeira vem consolidando seu espaço no contexto atual da arquitetura contemporânea. Além disso, o ato de projetar deve considerar as conseqüências e os impactos ao homem e ao seu meio ambiente. A concepção arquitetônica possui desafios de redução do consumo de energia na construção e na operacionalização dos edifícios, entre outros. Isto inclui o ensino de alternativas construtivas e de tipologias com a utilização da madeira para subsidiar a tomada de decisão no ato de projetar. Mediante o exposto, o Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRAN procura, dentro de seu contexto local e regional, incrementar o processo ensino-aprendizagem da utilização da madeira como material de construção e, com isso, agregar valor à formação de seus alunos, através de experiências além dos limites da sala de aula, abertura dos referenciais teóricos e da vivência com profissionais de outras Instituições de Ensino Superior – IES - e do mercado de trabalho na realização de ateliês de projeto.

3. AS ALTERAÇÕES E ATIVIDADES REALIZADAS As alterações e atividades realizadas para dinamizar o processo de ensino-aprendizagem na utilização da madeira como alternativa construtiva e de tipologias de sistemas construtivos e estruturais que venham subsidiar a concepção arquitetônica, correspondem à construção de um protótipo em eucalipto roliço tratado, às modificações na ementa da disciplina de tecnologia da construção e na realização de uma semana acadêmica temática sobre Arquitetura em Madeira. Estas ações são de caráter tímido e, ainda, isoladas; mas, acredita-se, possibilitem a mudança de posturas em relação à utilização do

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material pelos futuros profissionais. Os resultados serão aferidos a médio e longo prazo, pois mudanças fazem parte de um processo contínuo. 3.1 Protótipo em Eucalipto Roliço Tratado (ano letivo de 2000) A construção de um protótipo em madeira de eucalipto roliço tratado teve sua oportunidade durante a Exposição Agropecuária da cidade de Dourados - EXPOAGRO´2000 – realizada no mês de maio pelo Sindicato Rural nas dependências de um recinto de exposições localizado no limite da cidade. A UNIGRAN participa todos os anos do evento, principalmente, através de atividades que envolvem o Curso de Administração Rural. Em 2000, a coordenação do Curso de Administração Rural sugere aos cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Biologia uma atividade conjunta com o objetivo de promover a interdisciplinaridade entre as diversas áreas de conhecimento envolvidas. A interface entre os cursos diz respeito às construções e ao paisagismo rurais. Procedeu-se, então, à definição dos objetos de estudos dos respectivos cursos: manejo de culturas de aveia e milho – Administração Rural; construção de um protótipo em madeira de eucalipto roliço – Arquitetura e Urbanismo e plantio de árvores brasileiras – Biologia. Portanto, esta atividade de extensão e de envolvimento dos alunos nos processos construtivos, teve como objetivos: a. Promover a interdisciplinaridade das diversas áreas do conhecimento através da realização de trabalhos conjuntos oferecidos pela instituição (Cursos de Administração Rural, Arquitetura e Urbanismo e Biologia); b. Aproximar do cotidiano profissional os alunos dos diversos cursos envolvidos através de atividades práticas; c. Divulgar alternativa de tipologia e tecnologia construtivas para edificações inseridas no contexto urbano e rural; d. Realizar parceria entre empresa e universidade para a realização de atividades extracurriculares e de pesquisa.

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Figura 1 - Maquete do protótipo em eucalipto roliço tratado.

A Figura 1 mostra a maquete do protótipo executado, que por sua vez foi desenvolvida na disciplina de “Maquete”, ministrada pelo Prof. Arquiteto Silvio Staut Moraes Jr.. A maquete de estudo, para os arquitetos, permite a análise de volumetria, plástica e detalhes do sistema construtivo adotado, além de proporcionar uma visão parcial do resultado a ser obtido por parte de profissionais e usuários envolvidos em todo o processo da edificação. A confecção de maquetes possibilitou aos alunos o projeto de variantes de modulação e de arranjos estruturais para o sistema construtivo adotado. Possibilidades que proporcionam flexibilidade na concepção da edificação em madeira.

Figura 2 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

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A definição do anteprojeto do protótipo foi realizada pela coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, de acordo com o sistema estrutural modular em eucalipto roliço para habitação ensaiado por INO, 1992. O embasamento da proposta foi apresentado aos alunos através da definição dos componentes, dos elementos estruturais e dos módulos padrões adotados para o sistema estrutural modular, somando-se a isto a discussão dos conceitos de modulação e das possibilidades de arranjos estruturais que proporcionam flexibilidade na concepção da edificação em madeira.

O sistema construtivo adotado, tipologia, ligações, dimensionamento são de inteira responsabilidade da empresa que fez a doação de todas as peças (pilares, vigas de teto e de piso, terças e contraventamento) do protótipo. As Figuras 2, 3, 4, 5, 6 e 7 mostram a seqüência de montagem sugerida pela empresa e seguida pela coordenação na execução do protótipo. Sob responsabilidade do arquiteto João Marques Gonzaga, a execução do protótipo foi realizada pela mão-de-obra da UNIGRAN.

Figura 3 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

Figura 5 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

Para que a construção do protótipo em eucalipto roliço tratado pudesse ser realizada, procedeu-se à parceria com uma empresa de Campo Grande/MS, TRAMASUL Tratamento de Madeiras Ltda., única empresa do Estado que faz tratamento de madeira em autoclave. Os alunos realizaram visita técnica à empresa com o objetivo de conhecerem a linha de produção - secagem, tratamento, desdobra e comercialização das peças. Os alunos visitaram duas obras executadas pela empresa na cidade com o mesmo sistema construtivo adotado no protótipo.

O protótipo possui 2 módulos de 3 x 3 m (distância entre os eixos dos pilares) e um submúltiplo do módulo de 1,5 x 3 m perfazendo um total de 22,5 m2 de área coberta. A edificação foi implantada a 0,50 m acima do nível do solo para proporcionar aeração necessária às estruturas de piso e de fundação e possibilidade de manutenção de prováveis instalações hidrossanitárias. E, para suprir a necessidade de acesso ao protótipo e vencer o desnível supramencionado, foram projetados patamares perfazendo um total de 32 m2 de estrutura de piso, incluso o da área coberta.

Figura 4 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

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A ementa da Disciplina “Tecnologia da Arquitetura e Construção II” e seu conteúdo programático, inserida na matriz curricular no terceiro ano do Curso de Arquitetura e Urbanismo

da UNIGRAN, tinha como objetivo principal apresentar a diversidade de materiais de construção e de acabamento a serem utilizados, tanto no interior como exterior de uma edificação, sem desprezar os fatores tecnológicos, funcionais e plásticos. Verificou-se, juntamente com o professor da disciplina, arquiteta Márcia Festa, a omissão de aspectos técnicos e tecnológicos dos materiais de construção em relação à utilização nos sistemas construtivos adotados para a execução do edifício. Esses conteúdos servem de embasamento para a concepção de projetos da edificação, seja de uma residência unifamiliar, seja de um edifício alto. As disciplinas técnicas dentro de um curso de Arquitetura e Urbanismo devem oferecer respaldo às disciplinas de projeto arquitetônico. Isto permite que o conhecimento não seja visto de maneira estanque pelo aluno e, sim, de maneira interdisciplinar. Ou seja, que o aluno tenha condições de fazer transferência de conhecimento das diversas disciplinas técnicas, principalmente, para aquelas relacionadas à concepção de projeto. Com o intuito de promover ajustes verticais nas disciplinas técnicas do curso, a Coordenação promoveu uma ampla discussão com os professores responsáveis pelas cadeiras tecnológicas com o objetivo de dirimir possíveis sombreamentos de conteúdo bem como identificar lacunas nos conteúdos abordados. Temáticas como sistemas construtivos concebidos com aço, madeira e alternativos (isopor, bambu, entre outros) não eram discutidos, somente os concebidos em concreto. Dentro de uma tomada de decisão junto ao Corpo Docente, a Disciplina “Tecnologia da Arquitetura e Construção II” agregou aos objetivos mencionados anteriormente, o entendimento sobre o conceito de Sistema Construtivo. Soma-se a isto outros objetivos, tais como definir Processo Artesanal, Processo Racionalizado e Sistema Industrializado que caracterizam o setor da Construção Civil nacional e internacional; promover a compreensão sobre os conceitos de edificações enquanto processo e produto; apontar possibilidades de inserção

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Figura 6 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

A fundação teve os pilares cravados nas perfurações do solo. Como impermeabilização foi utilizado óleo diesel queimado. A cobertura foi feita de sapê, adquirido junto ao Núcleo Indígena da cidade e executada pelos próprios indígenas. Todas as ligações das peças de piso, cobertura, pilares foram feitas com parafusos passantes ou pregadas.

Figura 7 – Montagem do protótipo durante a EXPOAGRO.

O trabalho de construção do protótipo configurou-se como atividade de extensão da disciplina ”Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo II”, ministrada pela Prof. M. Sc. Cynara Tessoni Bono. Além das atividades mencionadas, os alunos da disciplina em questão conceberam, como exercício de projeto, uma residência familiar utilizando a concepção do protótipo, fazendo ajustes necessários ao atendimento do programa de necessidades previamente estabelecido. O resultado atendeu às expectativas no tocante ao entendimento dos critérios de modulação e flexibilidade na concepção em estruturas de madeira.

3.2 Ementa da Disciplina “Tecnologia da Arquitetura e Construção II” (ano letivo de 2001)


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da arquitetura na escala de produção industrial. Os sistemas construtivos utilizando aço, concreto e madeira são abordados, após as alterações, por professor e alunos em três dimensões: o material, a fabricação e a aplicação. A madeira encontra-se discutida e apontada como um dos materiais de construção indicados para a execução de Sistemas Construtivos; vista, inclusive, dentro dos parâmetros de produção industrializada, com etapas definidas de pré-fabricação, transporte e montagem. Como resultado, verificou-se entre os alunos, a descoberta de alternativas de projeto inimagináveis com a utilização da madeira como material de construção. 3.3 Semana Acadêmica Temática: Arquitetura Contemporânea em Madeira (ano letivo de 2002) Com o intuito de reforçar a utilização da madeira e tornar gradativa a especificação do material nas concepções de projetos de Arquitetura contemporâneos por parte dos alunos em seus trabalhos acadêmicos e, futuramente em seus trabalhos profissionais, o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Ciências Exatas do Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN), dentro de seu calendário de atividades extracurriculares, realizou a X Semana Acadêmica Temática sob o enfoque da Arquitetura Contemporânea em Madeira, no período de 12 a 16 de agosto de 2002, nas dependências da Instituição de Ensino. Trata-se de uma semana onde acontecem atividades no período matutino e no período noturno. No período matutino conta-se com o ateliê de projeto, exposições de Trabalhos Finais de Graduação selecionados para o Concurso PAVIFLEX, trabalhos realizados pelos alunos junto às disciplinas do curso e exposições proporcionadas a partir do Convênio de Cooperação Técnica firmado entre o IPHAN e a UNIGRAN. No período noturno acontecem as aulas abertas com empresas e professores convidados com temas de relevância que con-

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tribuam para a formação holística do arquiteto e agreguem valor no ato de projetar, palavras de Representantes de entidades ligadas ao exercício profissional, tais como o CREA/ MS, além de premiações para o Corpo Docente e Corpo Discente do curso e Jantar de Confraternização como encerramento da semana. A semana tem como público-alvo acadêmicos do curso, futuros profissionais, e aberta também, para profissionais do mercado, arquitetos e engenheiros. A realização de semanas acadêmicas dentro dos cursos de nível superior é uma das exigências do MEC (Ministério da Educação) e deve ser parte integrante do calendário escolar. Como premissa básica, a semana deve ser caracterizada por atividades de extensão que contribuam para a formação do acadêmico. As Semanas Acadêmicas do Curso de Arquitetura e Urbanismo anteriores eram realizadas em parceria com o Curso de Educação Artística entendendo a existência de interface entre os dois cursos. A partir do ano letivo de 2000, o Curso de Arquitetura e Urbanismo passa a realizar sua semana acadêmica adotando parâmetros mais específicos de sua área de conhecimento. Isto significa evidenciar suaidentidade, criando no acadêmico a atmosfera necessária para o exercício profissional.

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Figura 8 – Arte final concebida para a Semana Acadêmica Temática sobre Madeira.

3.3.1 Programação Período Matutino – Ateliê de Projeto

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Como uma das principais atividades da semana acadêmica, o ateliê de projeto vertical (exercício que reúne alunos do primeiro ao quinto ano) se caracteriza pela definição exata a que se propõe: a formação técnica e profissional do arquiteto em condições de desempenhar sua finalidade precípua de projetar. O projeto é a sistematização de informações necessárias para o desenvolvimento de todas as demais etapas do processo de edificar. É o planejamento prévio que permite a ação coordenada, lógica e conseqüente. Fundamental na Arquitetura que se destina a resolver os problemas que mais diretamente afetam ao homem. O exercício do projeto induz à verdadeira função desses conhecimentos na formação da personalidade do arquiteto. Não é possível de outra forma que não através do exercício efetivo da profissão à experiência, o domínio dos materiais e das técnicas, a pesquisa das novas soluções plásticas ou construtivas necessárias para a evolução da Arquitetura e do arquiteto, indispensáveis para impedir que os conceitos profissionais caiam no dogmatismo acadêmico estéril.

Figura 9 – Prof. M. Sc. Marcos Leopoldo Borges e aluno do curso no ateliê vertical.

O ateliê de projeto foi ministrado pelo Prof. M. Sc. Marcos Leopoldo Borges, da Universidade de Uberaba e pela Prof. Dr. Varlete Benevente, da Universidade de Uberaba e do Centro Universitário Moura Lacerda. Esses professores, engenheiro

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civil e arquiteto, respectivamente, são especialistas na área de projetos de madeira. O ateliê de projeto teve como temática a utilização da madeira como material construtivo, enfocando, principalmente, a versatilidade do material na obtenção de grandes estruturas. Foram abordados aspectos sobre reflorestamento, tratamento, secagem, aplicação e industrialização do material, entre outros. Aspectos importantes na tomada de decisão do projeto executado em madeira. O ateliê de projeto teve seu desfecho com a apresentação dos projetos e maquetes de estudo desenvolvidos pelos alunos.

3.3.2 Atividades Paralelas - Exposições Dentro do Convênio de Cooperação Técnica estabelecido entre a Instituição de Ensino e o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a exposição “Conjunto Arquitetônico Urbanístico Antônio Prado no Rio Grande do Sul”, (sob coordenação da 11a Sub-regional), mostrou a utilização da madeira nas casas de colonos da Região Sul do país. A exposição teve como premissa básica uma noção mais ampla de patrimônio que contemple a pluralidade cultural da nação, compreenda seus aspectos materiais e imateriais, sua dimensão simbólica e inclua o Patrimônio Histórico Cultural como um meio indissociável. Dentro deste contexto, o poder público, entidades afins e a própria Instituição de Ensino são detentores da responsabilidade pela preservação, proteção, conservação, promoção e valorização deste patrimônio como instrumento de construção e exercício da cidadania. As maquetes de estudo do protótipo de eucalipto roliço tratado executado em parceria com a empresa TRAMASUL Tratamento de Madeira Ltda., também foram expostas com a finalidade de reforçar, junto aos novos alunos, o exercício realizado no ano letivo de 2000. Pode-se, a partir do projeto e da maquete, promover discussão sobre critérios de projeto adotados, (re)alimentando as discussões promovidas no ateliê de projeto vertical. São experiências que, a médio e longo prazo, poderão ser aferidas, ve225


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rificando ou não, a adoção da madeira como material de construção por parte de profissionais, arquitetos urbanistas e engenheiros civis.

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4. CONCLUSÕES

Figura 10 – Prof. Dr. Varlete Benevente durante palestra.

As atividades e as alterações realizadas dentro do contexto didático-pedagógico do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRAN que pudessem fomentar a utilização da madeira como material de construção civil, como material plástico, tecnológico, estrutural, viável economicamente para a concepção de projetos de Arquitetura contemporâneos, acredita-se sejam de dimensões diminutas, tímidas, mas não sem importância e não sem resultados. Alguns relatos de alunos dos períodos letivos mencionados, tratam de entender a madeira não mais como um material alternativo e, sim, como mais um material de construção a ser especificado, com segurança, em projetos arquitetônicos de pequena ou grande envergadura. A descoberta de possibilidades arquitetônicas com o emprego desse material fez desmoronar alguns preconceitos engessados pelo tempo e pela doutrina da Engenharia Militar, ampliou conceitos e fez, com inúmeros temores, o experimento de alternativas projetuais. A Coordenação, juntamente com o Corpo Docente do curso, pretende realizar uma pesquisa junto aos profissionais, arquitetos urbanistas e engenheiros civis, atuantes na cidade de Dourados e região, com o objetivo de verificar a utilização da madeira em projetos executados ou não. Acredita-se que entre esses profissionais estarão egressos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRAN, que tiveram em sua formação experiência do projeto em madeira. A partir dos resultados obtidos, aspectos didático-pedagógicos serão balizados, revistos, modificados e implantados no ementário e conteúdo programático das disciplinas, nas atividades extracurriculares, nas experiências de laboratório, nos ateliês de projeto que possam agregar valor no ato de projetar aos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRAN. Acredita-se que, a partir dessas e outras ações, a conscientização do emprego de materiais que visem a sustentabilidade do meio ambiente, o baixo consumo de ener-

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3.3.3 Programação Período Noturno – Aulas Abertas As atividades do período noturno tiveram como objetivo a abertura de horizontes dos alunos através de aulas ministradas por profissionais ligados às universidades do país e empresas do setor da Construção Civil, a saber: Tema “Sistema Construtivo Stella”, Facilitador Eng. Civil Ricardo Montanha Oliveira; da empresa BATTISTELLA Indústria e Comércio Ltda. – sistema construtivo residencial em Madeira Laminada Colada; Tema “Arquitetura Contemporânea em Madeira”, Facilitador Prof. Dr. Varlete Benevente, da Universidade de Uberaba e do Centro Universitário Moura Lacerda – novos parâmetros da utilização da madeira nas edificações contemporâneas; Tema “Processo Produtivo do Mobiliário em Madeira”, Facilitador Valcedir Segat, da empresa FLORENSE Fábrica de Móveis Ltda. – aplicação da madeira em outros setores; Tema “Silvicultura e Produção Sustentável de Madeira”, Facilitador Eng. Agrônomo Edson Pimenta, da FLORASUL – produção madeireira do Estado e conceito de sustentabilidade do material.


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gia para produção, entre outros façam parte do cotidiano profissional dos egressos, modificando posturas, abrindo horizontes e intensificando a procura pela qualidade de vida do homem, fim a que se destina a Arquitetura e o Urbanismo.

A PESQUISA E A EXTENSÃO NO PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE DE UBERABA: UMA ESTRATÉGIA DE EFETIVAÇÃO

AGRADECIMENTOS

Arquiteta e Urbanista, Especialista em Planejamento Urbano e participação popular pela PUCSP, Mestre em Ciências e Valores Humanos pela UNIUBE, Doutoranda na FAUUSP e Diretora do Curso de Arquitetura e Urbanismo

Ao corpo de professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRAN, pelo apoio nas alterações e atividades sugeridas pela coordenação para que as adequações necessárias no projeto pedagógico possibilitem alcançar os padrões de qualidades indicados pela SESu/MEC. À empresa TRAMASUL Tratamento de Madeiras Ltda. em proporcionar aos alunos a abertura de suas instalações para visita técnica e a experiência na construção de um protótipo em eucalipto roliço tratado através da doação do material do sistema construtivo. Aos professores e profissionais convidados, pelo empenho e desprendimento na realização das atividades didático-pedagógicas propostas. Ao IPHAN e ao CREA/MS, por acreditarem na formação dos alunos, futuros profissionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, L. M. E.; CLARO, A.; MEIRA, M. E.; SILVEIRA, R. P. G. Ensino de Arquitetura e Urbanismo – Condições & Diretrizes. Brasília: SESu/MEC, 1994. 4p. (CEAU – Comissão de Especialistas de Ensino de Arquitetura e Urbanismo). INO, A. Sistema estrutural modular em eucalipto roliço para habitação. 1992. 212p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo. STUNGO, N. The new wood architecture. London: Laurence King Publishing, 1998. 240p.

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Carmem Silvia Maluf

Janaína de Melo Tosta Arquiteta e Urbanista, Professora Especialista - Mestranda na PUCCAMP José Carlos Faim Bezzon Arquiteto e Urbanista, Especialista em Urbanismo Moderno e Contemporâneo pela PUCCAMP, Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela EESC-USP Kelly Cristina Magalhães Arquiteta e Urbanista, Mestre em Engenharia Urbana pela UFSCAR Symphorien Barthélémy Oudiane Arquiteto e Urbanista, Mestre em Racionalização da Construção pela UFRJ

1. Introdução A extensão universitária, concebida como “o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade”, insere-se numa perspectiva de mudança e desenvolvimento.1 O Colegiado do Curso de Arquitetura e Urbanismo, pautado no conceito e nos objetivos da extensão e na LDB inseriu no seu projeto pedagógico, no ano de 2001, a Atividade Comunitária. 2. Objetivos da Atividade Comunitária A Atividade Comunitária foi proposta para: - garantir que a realização de trabalhos extra-muros, enquanto ações concretas com abordagem interdisciplinar, fosse desenvolvida como uma ampliação do conceito de “sala de aula”; - incentivar a prática acadêmica que contribua para a consciência social e política na formação do Arquiteto Urbanista, tornando-o um profissional cidadão; 229


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- agregar competências e habilidades no aluno para atingir o perfil estabelecido do curso. - desenvolver uma ação, voltada para o aprimoramento das atividades fundamentais do processo de aprendizagem dos alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo, buscando uma integração entre as diferentes áreas do conhecimento e da formação acadêmica, através da aplicação prática dos conteúdos teóricos abordados em sala, no decorrer do curso, visando formar um profissional comprometido com as transformações e com o desenvolvimento da sociedade; - possibilitar ao aluno contato com a população, inserindo-o no cotidiano do ambiente em estudo, permitindo a identificação e a proposição de soluções, a partir dos conteúdos teóricos abordados em sala; - desenvolver e consolidar no aluno habilidades de relações interpessoais para que ele possa atuar junto às populações carentes ou necessitadas de algum cuidado específico; 3. Metodologia A cada período letivo, o respectivo projeto de Atividade Comunitária, com o seu cronograma de realização, é aprovado no Colegiado do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Seu desenvolvimento é efetivado por ocasião da semana prevista no calendário do curso para atividades extra-muros, podendo ser estendidas, segundo a necessidade específica de cada projeto. A Atividade Comunitária é coordenada por um docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo e conta com a participação ativa dos demais docentes, de acordo com as atividades propostas no Plano de Ensino. Os professores envolvidos incluem no respectivo Plano de Ensino a Atividade Comunitária planejada para o respectivo período letivo. A participação dos professores na Atividade Comunitária envolve: acompanhamento, orientação e avaliação da participação do aluno, individual e/ou em grupo, segundo os objetivos 230

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estabelecidos nas disciplinas envolvidas e de acordo com as habilidades previstas para o perfil proposto. A participação dos alunos se dá por meio de inscrições abertas com vagas para os alunos de todas as séries do curso de Arquitetura e Urbanismo, em número definido, segundo a necessidade de cada projeto. Cada grupo pode ser organizado em subgrupos, visando agilizar e sistematizar as atividades previstas em cada etapa do projeto. Cada sub grupo é monitorado por um aluno selecionado entre os inscritos no projeto da Atividade Comunitária e sob o acompanhamento de um professor. Os grupos devem promover o registro das informações referentes as etapas do projeto, através de relatórios, mapas, fotos, desenhos e/ou outras formas de registro. Os alunos e professores envolvidos, no final do semestre, devem apresentar os resultados obtidos às comunidades acadêmica e do bairro envolvido. A Atividade Comunitária pode integrar Projetos de Iniciação Científica, desenvolvidos por alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo. 4. Sistema de Avaliação Consideram-se aprovados os alunos que participam e cumprem as atividades previstas no projeto, no qual está inscrito. São avaliados os aspectos relacionados com sua participação e envolvimento na pesquisa, sua capacidade de resposta aos problemas encontrados, sua autonomia na tomada de decisões e sua postura ética. 5. Atividade Comunitária – Projetos No ano de 2001, momento de instalação das Atividades Comunitárias no Curso de Arquitetura e Urbanismo, todos os alunos foram envolvidos. Para que isso pudesse se efetivar, foram aprovados cinco atividades em áreas distintas, a saber:

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5.1. Espaços de convivência para a infância

Produção de desenhos

Perspectiva do pátio

Entrevista com funcionários e professores

A maioria das creches municipais, que abrigam crianças de 0 a 5 anos durante o período de trabalho de suas mães, têm apresentado um quadro inadequado quanto às condições físicas de suas instalações: falta e inadequação de espaços; falta de manutenção dos edifícios, por longos períodos - o que resulta em total falta de condições de abrigo e atendimento digno. Diante dessa realidade e a identificação do baixo desenvolvimento psicossocial, motor e físico dos usuários, a professora Janaína de Melo Tosta coordenou as ações que tiveram como objeto a Creche Recanto da Amizade, localizada na Rua Joaquim Borges Assunção, s/n°, no bairro Alfredo Freire. O objetivo definido era a análise, o diagnóstico e o estudo da adequação do espaço destinado à convivência infantil, visando adequá-lo às reais necessidades de seus usuários, garantindo melhoria na qualidade de vida e condições mais favoráveis ao crescimento e ao desenvolvimento psicossocial das crianças. Os alunos envolvidos nessa Atividade Comunitária, após discussão teórica e embasamento conceitual da problemática abordada, desenvolveram a atividade proposta em três etapas. 232

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Na primeira etapa foi feito um levantamento das instalações do edifício onde está implantada a creche, assim como o levantamento do sistema organizacional através de entrevistas com a direção, funcionários e professores e reuniões com os pais dos alunos. Na segunda etapa, os dados obtidos foram compilados, gerando o diagnóstico, onde foram especificadas as deficiências da estrutura física e as inadequações de procedimentos. Na terceira etapa desenvolveu-se o projeto arquitetônico de adequação espacial da referida Creche, intervindo e buscando a melhoria do espaço existente, criando condições para o desenvolvimento cognitivo, simbólico, social e emocional da criança, culminando com a apresentação do mesmo à comunidade envolvida, visando sensibiliza-los e envolvê-los na busca pela efetivação e implementação das mudanças necessárias. A aluna Patrícia Ued Naves vinculou sua ação nessa Atividade a um projeto de iniciação científica, apresentado nos Seminários de Iniciação Científica da Universidade de Uberaba e da Universidade Moura Lacerda de Ribeirão Preto – SP. 5.2. Reconhecimento da cidade real

Área de submoradias - Amoroso

CostaVista parcial: Vila do Quiabo.

Interação professor, comunidade.

Atividade dos alunos na marcação de unidade modular residencial – assentamento.

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alunos

e


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O tecido urbano se divide em espaços legais – áreas que em função do mercado formal imobiliário são devidamente equipadas proporcionando razoável grau de habitabilidade para a população - as áreas ilegais onde habitam a população excluída deste processo de aquisição da casa própria no mercado formal. Esta polaridade – legal x ilegal – cria uma situação de exclusão no espaço da cidade, criando territórios sociais distintos. Faz-se necessário portanto, não só equipá-los com infra-estrutura adequada para uma qualidade sanitária do espaço de moradia local, mas principalmente criar dispositivos que venham possibilitar a integração destas áreas, para alcançar uma maior equidade espacial. O grupo de alunos envolvidos nessa Atividade e coordenados pelo professor José Carlos Faim Bezzon, buscou mapear os focos de favela, cortiços e loteamentos irregulares, com o objetivo de evidenciar as áreas de ocupação clandestina e de risco ambiental das sub-moradias na cidade de Uberaba, para reconhecimento das condições de habitabilidade da população excluída da cidade e conseqüentemente, discutir possibilidades de intervenção para integrar a população excluída junto a cidade legal, buscando caminhos para novas políticas habitacionais mais humanizadas. Tomaram, para isso, ações que visaram levantar a situação real da habitabilidade da população de excluídos do mercado formal imobiliário na cidade de Uberaba, elaboraram mapas cartográficos das áreas de sub-moradias, diagnosticando a população de excluídos e caracterizando as áreas de segregação espacial e social das classes menos favorecidas da cidade de Uberaba. As visitas às áreas (periféricas ou não) realizadas, possibilitaram realizar uma primeira inserção no tecido da cidade, reconhecendo no espaço urbano novas áreas detectadas de ocupação clandestina, como vários focos de favela, assentamentos irregulares, áreas encortiçadas e de autoconstrução e favelas urbanizadas (áreas legalizadas pelo poder público).

Este procedimento permitiu, primeiramente, gerar um mapa das áreas de miserabilidade da cidade de Uberaba, possibilitando compreender como se dão essas ocupações, através dos estudos de localização e avaliação das áreas (físicas) ocupadas. Identificaram-se as áreas mais interessantes do ponto de vista sócio-espacial para possíveis intervenções, assim como desenvolvimento de novas pesquisas. A partir dos resultados do levantamento e mapeamento das áreas houve a necessidade de propor novas ações. A equipe do projeto está realizando atividades de monitoramento e acompanhamento destas populações, verificando as políticas urbanas de crescimento e expansão da cidade que resultam na conformação do processo de periferização. Este estudo está possibilitando elaborar propostas de redesenho para as áreas já consolidadas, verificar a viabilidade de remoções, assim como a situação do desenvolvimento e evolução das áreas já legalizadas pelos órgãos públicos municipais. Desta forma e a partir dos primeiros resultados, determinamos três áreas de atuação da pesquisa: o estudo das áreas de habitações sub-normais, o estudo dos assentamentos legalizados e o estudo do assentamento Estrela da Vitória. Atualmente, realiza-se a conclusão do mapeamento e levantamento dos aspectos físicos e espaciais dos assentamentos, assim como das condições de habitabilidade existentes. Foram realizados inventários dessas comunidades para caracterizá-los nos aspectos sociais, econômicos, políticos e profissionalizantes visando à possibilidade de desenvolvimento de novos projetos. Específicamente, no assentamento Estrela da Vitória atualmente, as parcerias envolvem professores e alunos dos cursos de Serviço Social e Psicologia.

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Busca-se, também, com essa ação, coletar as informações para a constituição de uma base de dados sobre a problemática habitacional de caráter social, da cidade de Uberaba, visando possibilitar desenvolvimento de posturas políticas corretas com relação à produção de habitações para os menos favorecidos. 5.3. Espaço de moradia e assistência ao idoso

Condições térmicas inadequadas

Calçada inclinada – necessidade de rampa

Área de convívio

Rampa escorregadia e sem corrimão

O Layout existente na cozinha prejudica a ventilação cruzada

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Falta de ventilação

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As instituições de assistência ao idoso, no município de Uberaba, surgiram na sua maioria da iniciativa de pessoas comuns impulsionadas por ideais de caridade ou voluntariado. Conseqüentemente, na maioria das vezes, essas pessoas não são capacitadas para a atividade: o que resulta na abertura de instituições com instalações inadequadas à assistência ao idoso. A falta de condições físicas adequadas para o acolhimento dos idosos prejudica o atendimento deles e dificulta o trabalho dos profissionais envolvidos: psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, médicos etc. A realização do projeto, justifica-se na medida em que se busca a promoção da melhoria das condições físicas e ambientais das instalações que abrigam os idosos. Sob a coordenação do professor Symphorien Barthélémy Oudiane, os alunos inscritos nessa Atividade Comunitária, voltaram suas ações ao estudo das condições físicas e ambientais do Lar do Idoso Inês Maria de Jesus, localizado na rua Visconde de Abaete n.º 11- Bairro Abadia, visando adequá-las para as reais necessidades de seus usuários, garantindo melhoria na qualidade de vida, condições mais favoráveis ao convívio dos idosos e a integração harmoniosa com familiares e sociedade. A metodologia usada neste módulo é toda articulada em cima de estratégias que possam capacitar o discente para este tipo de trabalho. Foram três os momentos para os alunos se envolverem com a dinâmica de trabalho: 5.3.1. Estabelecer o contato com os grupos de funcionários da UAI (Unidade de Atendimento ao Idoso), para dar conhecimento aos alunos das condições de atuação dos profissionais envolvidos, e da dinâmica

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de trabalho, oferecendo a eles uma visão geral sobre o atendimento ao idoso em Uberaba. Nesta etapa, os alunos irão formular estratégias de trabalho para atingir os objetivos pré-estabelecidos e para garantir uma maior eficiência no processo de levantamento de dados. Depois, seguese análise dos dados apurados. 5.3.2. Elaborar revisão bibliográfica sobre o assunto para atualizar o aluno sobre a temática, principalmente no que se refere aos cuidados e ao conhecimento da legislação específica sobre o tratamento do idoso e do seu espaço de convivência, qualificando o aluno para abordagem projetual mais detalhada e embasada. Elabora-se um relatório geral, assegurando assim um registro de todas as experiências e do conhecimento acumulado. Organiza-se um seminário na conclusão da atividade para verificação das habilidades incorporadas pelos alunos. O resultado final das duas etapas da Atividade Comunitária subsidiará uma Proposta de Ação Comunitária que será desenvolvida por alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Uberaba, visando a melhoria das condições físicas de instituições destinadas a abrigar o idoso de nossa comunidade e à elaboração de um Projeto Arquitetônico para a Instituição investigada, assim como as ações necessárias para sua implementação, com a busca de parcerias junto à Comunidade Uberabense. 5.3.3. Elaborar propostas para melhoria do ambiente diagnosticado atentando, principalmente, às situações críticas levantadas com vistas a uma intervenção progressiva na Unidade que foi objeto do estudo. Promove-se, junto à comunidade atendida, a divulgação dos resultados e as propostas de adequação.

5.4. Diagnóstico Físico Ambiental do Bairro Alfredo Freire

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Auto construção de habitação

Vista do eixo central do Bairro Alfredo Freire

Vista Parcial do Bairro Alfredo Freire

Área verde anexa ao centro comercial

[

Tipologia das habitações do conjunto

A falta de habitabilidade das edificações, gerada pela escolha equivocada de materiais e técnicas construtivas, associada à má qualidade do espaço urbano, decorrente de um traçado não adequado ao sítio em que está inserido o Bairro, e à falta de infra-estrutura de suporte no assentamento de uma comunidade, vêm sendo apontadas como possíveis agentes causadores das condições que induzem ao desenvolvimento de endemias.


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Foi no intuito de investigar possíveis relações entre as doenças prevalentes na comunidade Alfredo Freire e as condições físicas e ambientais a que esta comunidade está exposta, sejam através das características urbanas e/ou de moradia, que o presente projeto sustentou suas ações ao efetuar o levantamento das condições ambientais urbanas e físicas das moradias que compõem o Bairro Alfredo Freire, caracterizar as condições ambientais da área urbana e das moradias, elaborando o diagnóstico, confrontando-o com o levantamento epidemiológico elaborado pela equipe da área da saúde, possibilitando traçar o perfil físico e ambiental, assim como o perfil social e econômico da comunidade em estudo. Sob coordenação da professora Carmem Silvia Maluf, dois sub-grupos foram criados, visando agilizar a coleta de dados necessária à caracterização requerida. O primeiro sub-grupo, monitorado pelo graduando Henrique Resende e Silva, foi responsável pela caracterização das condições ambientais da área urbana, elaborou os levantamentos: histórico do Bairro, da morfologia urbana adotada para o loteamento (ou loteamentos) que compõem o Bairro, incluindo seus elementos constitutivos, como largura do passeio e do leito carroçável, da dimensão dos lotes, da topografia, das condições climáticas, da cobertura vegetal remanescente (natural ou não), das edificações públicas, comunitárias e institucionais, da infra-estrutura (água, energia, rede de esgoto), das linhas de transporte urbano, do sistema de coleta de lixo domiciliar, hospitalar ou industrial, do tratamento de esgotos domiciliares, hospitalares ou industriais, das áreas de invasão, dos loteamentos clandestinos e das áreas de favela. O outro sub-grupo, monitorado pela aluna Sabrina Ellen Brossi Daher, foi responsável pela caracterização das moradias, feita através do levantamento das tipologias dessas edificações, suas respectivas áreas construídas,

quantificação e qualificação de seus cômodos, o número de pavimentos, o percentual de área ocupada e livre no lote, os materiais e tecnologia utilizados nas construções, as condições de ventilação e insolação dos cômodos, a adequação e/ ou diversificação de uso dos cômodos e a definição do grupo familiar envolvido (número de moradores e sua caracterização). As fases de levantamento, mapeamento e caracterização, assim como, a análise físico-ambiental foram concluídas pelo grupo e encaminhada à equipe multiprofissional da área da saúde. O aluno Henrique Resende e Silva aprofundou-se nos estudos realizados, incorporando a presente atividade a um projeto de iniciação científica que foi apresentado no Seminário de Iniciação Científica da UNIUBE. A aluna Renata Dagrava, dedicou-se ao estudo das tipologias habitacionais utilizadas pelos diferentes empreendedores nas diferentes etapas de consolidação do bairro Alfredo Freire, culminando com o desenvolvimento de seu Trabalho Final de Graduação(TFG) versando sobre propostas de intervenção ambiental na área. Estão em desenvolvimento as ações de confronto da relação do diagnóstico elaborado na Atividade Comunitária, com o diagnóstico epidemiológico traçado pela equipe multiprofissional da área da saúde, com vistas a estabelecer possíveis relações entre as doenças prevalentes nesta comunidade e as condições de moradia e de infra-estrutura urbana disponíveis. O resultado final deste trabalho deverá subsidiar ações concretas voltadas à melhoria da qualidade de vida dos moradores do Bairro Alfredo Freire, por parte das equipes multiprofissionais, seja através de orientações específicas para cada problema detectado, seja através de ações de intervenção nas áreas de saúde, arquitetura, urbanismo, social e de educação.

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5.5. Representações de espaços públicos: o caso da praça no Bairro Alfredo Freire - ANO 2001

Imagem do eixo de entrada do bairro.

As áreas verdes sem projeto

Associação de Amigos do Bairro Alfredo Freire

Áreas verdes ainda desocupadas

Os espaços livres públicos, de pequeno porte, presentes próximos às edificações são caracterizados normalmente como praças. No entanto, o significado da praça no contexto da cidade adquire diferentes valores, que dependem de fatores diversos, como: localização, dimensões, características físicoambientais, histórico-culturais e urbanísticas. Observa-se que a maior parte das ruas e praças contemporâneas tem seu desenho atrelado a um traçado vinculado às vias de tráfego de veículos, que independe das construções que são edificadas em seus lotes lindeiros. Nesse sentido, é difícil separar as praças das ruas que as delimitam, pois o grau de atrativo de uma praça está quase sempre relacionado às características do entorno em que inserem. Pode-se dizer que as praças são apropriadas em função de suas características estéticas, seus aspectos histórico-culturais e sua vitalidade.

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Na concepção do projeto, além da busca de um desenho com qualidades estéticas em sua composição, é fundamental a definição de um programa que resulte de análises, levandose em conta os hábitos culturais do público alvo, bem como os aspectos que venham a conferir vitalidade ao lugar que está sendo criado. Apesar dos vários usos e funções que a praça assume, temse observado que as mesmas tendem a repetir um programa básico, que atende a um certo estereótipo, vinculado à palavra praça e reproduz, muitas vezes, o jardim com canteiros não pisoteáveis, bancos e caminhos. Esse programa atende a uma certa faixa de população, mas não proporciona oferta compatível aos interesses dos grupos que configuram a demanda potencial de cada uma das áreas passíveis de intervenção. Quanto à sua utilização, podem apresentar espaços ligados às atividades cotidianas ou abrigar eventos especiais. Conforme sua localização, elas assumem características diferentes. Consideremos as praças localizadas junto às áreas predominantemente residenciais. Visando contemplar as necessidades dos moradores do bairro Alfredo Freire, segundo seu modo de vida, quanto às possibilidades de desenhos e usos das praças e áreas livres do bairro, a professora Kelly Cristina Magalhães coordenou um grupo de alunos na avaliação das possibilidades de um novo desenho da paisagem urbana para a comunidade Alfredo Freire, bem como conhecer as carências de espaços de uso público vividos por essa comunidade. A atividade desenvolveu-se em três etapas fundamentadas na abordagem dos desejos da população em relação aos espaços livres de edificação no bairro. A primeira etapa denominada APREENSÃO, compreendeu a aproximação do Grupo de Estudo, formado por alunos e professores, com os problemas vivenciados no bairro no que diz respeito às carências de espaços para lazer e qualidade ambiental urbana. 243


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Com o objetivo de exercitar um olhar atento à realidade deste setor urbano, foram utilizados instrumentos de investigação tais como: entrevistas, reuniões com a comunidade, dinâmicas de grupo, envolvendo jovens, adultos e crianças.

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Elaborada a análise dos espaços públicos disponíveis no Bairro Alfredo Freire assim como sua interação ao desenho urbano local, verificou-se que, pela falta de articulação dos mesmos e pela não existência de um referencial dos espaços livres para os moradores das habitações lindeiras, não fica evidenciado em nenhum momento sua utilização, nem sua apropriação pela comunidade. Desta forma, concluiu-se que a população não é servida de propostas projetuais para seus espaços públicos. Foram apresentadas propostas e entregues à Associação de Amigos do Bairro, que através de seu Presidente, procura cumprir seu papel reivindicando ao poder público a efetivação das propostas. 5.6. Representações de espaços públicos: o caso da praça no Bairro Alfredo Freire - ANO 2002

Na segunda etapa, ocorreu a INTERPRETAÇÃO, analisando os dados da primeira etapa, juntamente com a comunidade, e a possibilidade de realização deste projeto de espaço público ideal para a população. Na terceira etapa, foram discutidas as possibilidades de INTERVENÇÃO por meio de reuniões com a comunidade para avaliar como esse bairro pode munir-se de qualidade de vida urbana, partindo de iniciativas próprias. 244

Finalizadas as ações propostas para o ano 2001, analisados os objetivos pedagógicos alcançados, percebemos que se iniciava naquele ano uma nova forma de atuar no ensino da Arquitetura e do Urbanismo. Porém, mais que a expectativa gerada em nosso corpo discente e docente, criou-se uma relação de parceria entre as comunidades acadêmica e dos bairros envolvidos e que nosso compromisso extrapolava os muros da Universidade e assumia responsabilidades junto à população envolvida. Mais que uma atividade acadêmica, a Atividade Comunitária era, agora, responsável por propor ações efetivas às problemáticas abordadas pelos grupos de estudo. Neste sentido, o Colegiado do Curso aprovou para o ano de 2002 uma única Atividade Comunitária, envolvendo todos os alunos, que curricular ou voluntariamente, envolveram-se com o objetivo de implementar uma ação mais concreta na transformação do espaço próximo à comunidade estudada. Como estratégia de atuação, optou-se por uma das Atividades Comunitárias desenvolvidas no período anterior, para que 245


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a proposta apresentada ao final de seu desenvolvimento, pudesse efetivamente ser implantada. Na retomada do projeto descrito no item 5.5., as professoras Janaína de Melo Tosta e Kelly Cristina Magalhães, coordenadoras dessa Atividade Comunitária, estruturaram um Laboratório de projeto com o objetivo de formular as diretrizes básicas para a execução do plano paisagístico de uma praça no Bairro Alfredo Freire, conforme dados de pesquisa já adquiridos. A escolha da praça se deu em função de sua localização central em relação aos três loteamentos que compõem o Bairro, tornando-se mais acessível à toda comunidade. Entre outros aspectos, sua localização foi circunstancial em virtude da alta ocupação de residências nos seus arredores, assim como pelo uso institucional, como a escola e igreja. Como a maioria dos espaços públicos das cidades, a praça é originária do sistema de circulação de veículos e não mantém relação alguma com o uso do solo que acontece no seu entorno. Sendo assim, foi de extrema importância discutir sua relação com a paisagem local pelos elementos dominantes, no que diz respeito à definição de suas características predominantes, fundamentais à elaboração do projeto de paisagismo. Tais características foram cotejadas com as informações sobre as formas de utilização dos outros espaços públicos presentes no bairro, baseando-se em dados levantados entre os dois semestres de 2001 - período correspondente às primeiras etapas da Atividade Comunitária. O Laboratório de projeto permitiu que vários professores se envolvessem e que ocorressem desdobramentos para futuras pesquisas. Assim, conforme se deu o envolvimento de professores e suas diversas habilidades, também ocorreram novas formas de inserção dos alunos nestas frentes de pesquisa. As etapas desenvolvidas ao longo do ano de 2002 foram:

- Aproximação com o tema proposto. Para a viabilidade desta etapa as turmas foram divididas em grupos a fim de executarem as tarefas apresentadas abaixo. Cada tema proposto contém elementos que subsidiarão o desenvolvimento da etapa posterior que consiste no desenvolvimento de projeto. a) Leitura de projeto Levantamento bibliográfico sobre paisagismo e praças contemporâneas e modernas. Aplicação do exercício de leitura de projeto desenvolvido em sala de aula sendo este orientado aos alunos; b) Levantamento de mobiliário Seleção de diversos tipos de mobiliários, entre eles, bancos, lixeiras, luminárias, pontos de ônibus, etc. Análise das dimensões, conforme informações das aulas de Desenho do objeto. c) Materiais alternativos,. Dentre os livros e revistas encontrados na biblioteca, os alunos deveriam identificar as possibilidades de utilização de materiais alternativos para o uso em paisagismo. d) Revisão dos dados das etapas anteriores da atividade comunitária Identificação das principais necessidades da comunidade com relação aos espaços a serem projetados para a praça, tendo como base as manifestações sócio-culturais desta comunidade nos espaços visitados. Pode-se destacar atenção especial aos grupos de cantores que usam as praças para se apresentarem. e) Levantamento de vegetação para praças e ruas arborização urbana. Relação das principais espécies utilizadas em arborização urbana e praças, bem como suas especificidades (inflorescência, frutificação, quanto à origem e fenologia em

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geral), com atenção especial às espécies disponíveis no Horto Municipal, passíveis de doação. · Laboratório de projeto Após a primeira etapa concluída, o Laboratório de projeto organiza-se para o desenvolvimento dos projetos. Os grupos de alunos constituídos para o desenvolvimento da pesquisa se mantêm para a implementação do projeto. - Implementação A fase de implementação do Projeto tem como base o aprendizado do aluno e sua convivência com as dificuldades de execução do projeto na sua implantação. Esta fase está apoiada no tripé Comunidade - Parcerias - , Universidade. Outras parcerias acontecem através da Legislação Municipal que versa sobre a adoção de espaços públicos. A Atividade Comunitária proposta para o ano de 2002 teve desdobramentos internos e externos à Instituição, sendo objeto de estudo em outras disciplinas do curso em diferentes períodos, a saber: a) novos inquéritos foram elaborados na disciplina de Psicologia Ambiental e aplicados junto à comunidade local, sendo analisados para sustentação da proposta projetual; b) disciplina de Materiais e Técnicas Construtivas buscou levantar o potencial dos materiais disponíveis e sua melhor forma de utilização; c) o envolvimento de professores de outras áreas, que colaboraram com a análise de fertilidade do solo, assim como sua composição para fins de utilização em piso e painéis de solo cimento; d) a utilização de materiais alternativos para pavimentação de um trecho mais central da praça, desenvolvida através da pesquisa de solo-cimento; e) a adesão de parcerias de empresas locais doando materiais e serviços: § finalização do piso de concreto, bem como o plantio das

espécies vegetais adequadas ao local; g) a motivação dos alunos, professores, comunidade e das parcerias envolvidas, incentivaram a adesão voluntária de alunos de diferentes períodos do curso, no fechamento Atividade Comunitária – execução dos serviços da praça. Grupos de alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo, que atuam no LEAC – Laboratório de Estudos do Ambiente Construído, colaboraram nos desdobramentos que se fizeram necessários durante a implementação de cada Atividade. Contamos, ainda, para o desenvolvimento destes trabalhos, com a parceria de docentes e discentes de outros cursos e laboratórios da universidade para a execução das tarefas propostas. A diversidade de ações implementadas, permitiu aos discentes a elaboração de revisão bibliográfica sobre os assuntos abordados, buscando a fixação e a reflexão sobre cada tema e a consolidação de habilidades e competências que, com certeza, não poderiam ser adquiridos na experiência diária da sala de aula. O processo de investigação através da atividade comunitária revelou-se uma rica fonte de percepção e de coleta de informações do ambiente construído que irá alimentar o banco de dados do Curso de Arquitetura e Urbanismo, para apoio ao trabalho de intervenção, de reformulação, reflexão e abordagem projetual sobre os espaços destinados a diferentes fins.

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6. Conclusão “As universidades [...] obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” Art.207 da Constituição Brasileira A articulação do ensino, pesquisa e extensão tem se constituído num desafio para as universidades brasileiras. Ainda recentemente, no XV Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras, realizado em Recife, no período de 12 a 16 de maio de 2002 foi organizado Grupo de Trabalho para


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“apontar estratégias que viabilizem a articulação do ensino, com a pesquisa e a extensão no âmbito da graduação”. Procurando a superação desse desafio, o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Uberaba buscou, por meio da inserção da Atividade Comunitária na sua estrutura curricular, relacionar o ensino com a pesquisa e extensão. A realização dos projetos na Atividade Comunitária, onde o curso promove no ensino e aprendizagem, coloca o estudante como investigador da realidade, para reconhecer e valorizar outros espaços educativos, além da sala de aula, viabilizando a relação entre teoria e prática e promovendo sua aproximação com a sociedade. O objetivo de integrar os alunos com a comunidade, proporcionando um contato com a realidade, foi possível, levando-os a compreender e discernir sobre as propostas reais e utópicas, estudando alternativas que realmente se efetivem. Cumpre também destacar a importância da Atividade Comunitária para a construção da consciência social e política na formação do Arquiteto Urbanista, como um ser crítico e capaz de propor uma sociedade justa e mais humana e para sua formação como profissional cidadão. 7. Bibliografia Foi garantido o suporte informacional necessário à professores e alunos, para a realização de cada Atividade Comunitária. Constaram da bibliografia específica das Atividades Comunitárias os seguintes títulos:


XVII CONABEA - Conselho Nacional da ABEA XX ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo

XVII CONABEA - Conselho Nacional da ABEA XX ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo

meio ambiente. São Paulo: Difel Difusão Editorial , 1980. VALLADARES, Lícia do Prado et al. 2. ed. Habitação em questão. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

Adotou-se, ainda, a bibliografia básica e complementar, indicada nos Planos de Ensino das disciplinas dos períodos em que os alunos envolvidos estavam matriculados além da leitura de projetos específicos.

NOTAS 1 Conceito de extensão estabelecido no I Encontro Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas

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