Revista Canto

Page 1

1° Edição

Canto

Jan/Jun

2014 O Silêncio e o som do Catalão

Revista Canto 1


Construindo o berço do Conhecimento

UNIVERDIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Reitor Carlos Antônio Levi da Conceição Vice-Reitor Antônio José Ledo Alves da Cunha Decana do Centro de Letras e Artes Flora De Paoli Faria Vice-Decana do Centro de Letras e Artes Cristina Tranjan Diretor da Escola de Belas Artes Carlos Gonçalves Terra Vice-Diretora da Escola de Belas Artes Helenise Monteiro Guimarães Diretor Adjunto de Graduação Dalton Almeida Raphael Diretor Adjunto de Pós-Graduação Marize Malta Teixeira Diretor Adjunto de Cultura Antonio de Souza Pinto Guedes

2 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

portal

Reserva florestal ou reserva natural? São denominações de certas áreas protegidas, cujas definições podem variar de acordo com a legislação do país. Às vezes são usadas como sinônimo de áreas protegidas. São áreas de importância para a preservação da vida selvagem, flora, fauna ou características geológicas e outras de especial interesse, as quais são reservadas e gerenciadas para sua conservação ética e para favorecer o estudo e a pesquisa em condições favoráveis. Reservas florestais podem ser designadas por instituições governamentais em alguns países (como o ICMBio no Brasil ou o ICNB de Portugal), ou por particulares donos de terras, organizações sem fins lucrativos e instituições de pesquisa, nacionais ou estrangeiras. Reservas florestais são classificadas em diferentes categorias da IUCN, dependendo do nível de proteção garantido pelas leis locais. Uma reserva de vida selvagem é uma área protegida importante para a fauna e flora, a qual deve receber proteção visando sua conservação. É possível fazer pesquisa não-invasiva, moralmente aceitável, em animais selvagens capturados em circunstâncias em que tais animais sejam incapazes de sobreviver por conta própria e portanto, a reserva lhes oferece uma possibilidade de vida que, de outra forma, não seria possível. Hera Venenosa Editora Chefe Revista Canto 3


Construindo o berço do Conhecimento

expediente Revista Canto Revista do Parque do Catalão UFRJ Edição Julie Pires e Angela Iaffe Design Bruna Santos, Lucas Gomes e Thaís Camurati Fotografia Bruna Santos e Mariana Werneck Ilustração Lucas Gomes Tratamento de Imagem Bruna Santos, Lucas Gomes e Thaís Camurati Revisão Julie Pires Colaboradores desta edição Angela Iaffe, Jofre Silva e Leticia de Luna Freire Impressão e Tiragem Gráfica Definir - 1.000 exemplares Contato revistacanto@ufrj.br

4 Contruindo o berço do Conhecimento


panorama

Canto

4 12 A Importância do Horto Construindo o berço do Conhecimento

14 Botânica 18 Inventário de Espécies 30 Corredor ecológico 40 Palavras de um Biólogo 44 Trilha 46 Mapa 48 Artes Visuais no Catalão 64 Música no Catalão Revista Canto 5


Construindo o berรงo do Conhecimento

Construindo

Conheci o berรงo do

6 Contruindo o berรงo do Conhecimento


Canto

imento A Cidade Universitária da UFRJ foi formada, no fim dos anos 1940, pela união de 8 ilhas. No processo de construção da Cidade Universitária foram utilizados grandes tratores chamados “bulldozers” que cortavam o relevo e jogavam o material retirado entre as ilhas, aterrando e unindo elas. O resultado foi uma grande área plana, porém, na época, com aparência de um deserto.

Revista Canto 7


Construindo o berço do Conhecimento

Fotografia da Ilha de

Em 1944, por sugestão do engenheiro Alberto de Melo Bom Jesus, em 1945. Flôres, diretor de Obras do Ministério da Aeronáutica, foi considerada a possibilidade de locação para a Cidade Universitária em uma área a ser constituída pela unificação de seis ilhas pertencentes à União (Bom Jesus, Sapucaia, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Pinheiro e Fundão, com exceção da sua parte alodial), situadas entre a Ponta do Caju e a Ilha do Governador, em frente a Manguinhos. Havendo necessidade, a área poderia ainda ser expandida com a inclusão das outras três ilhas circunvizinhas (Baiacu, Cabras e Catalão) que compunham o arquipélago. Existia, até então, a indicação de outras localidades, mas, dentre as propostas apresentadas, surgia aí, a ideia de se criar uma Ilha Universitária. A “felicidade da indicação” (Barbosa, 1945), em comparação às outras áreas cogitadas, foi confirmada pela opinião dos diversos especialistas, autoridades, professores, urbanistas, arquitetos e engenheiros consultados pelo ETUB (Escritório Técnico da Universidade do Brasil), Hildebrando de Araújo Góis, Raul Leitão da Cunha (Reitor da UB), General Eurico Gaspar Dutra (Ministro da Guerra), Gustavo Capanema (Ministro da Educação), Henrique Dodsworth (Prefeito do Distrito Federal) e Ana Amélia Carneiro de Mendonça (Presidente da Casa do Estudante). 8 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

Documentos produzidos pelo ETUB sobre a localização da Cidade Universitária expuseram as avaliações feitas segundo “critérios de máximo rigor e imparcialidade”, sugeridos pelo engenheiro Paulo de Assis Ribeiro, examinando fatores como distâncias, acessibilidade, custos de aquisição, despesas de preparo do terreno e de construção, custos financeiros e sociais decorrentes de desapropriações, demolições de benfeitorias, valorização do patrimônio, etc. Após transitar por todas as esferas envolvidas, direta e indiretamente, com a localização da Cidade Universitária, o diretor do DASP, Luiz Simões Lopes, apresentou, na Exposição de Motivos nº 936, de 14/05/45, os fundamentos que iriam embasar a escolha final pelo arquipélago. (ETUB, 1954, Barbosa, 1945, Oliveira, 2005): A proximidade da área ao centro de gravidade da população estudantil, garantindo, ao mesmo tempo, um relativo isolamento; A construção de um hospital em área vizinha a bairros operários proporcionaria a ocorrência de uma variedade de casos típicos para estudo, devido à clientela que se destinaria aos seus ambulatórios e clínicas; As condições climáticas da área favoreceriam a prática de esportes; A existência de pedra, areia e saibro na área e a possibilidade de receber, por via marítima, ferro e cimento, facilitariam as obras do aterro; A constituição geológica das ilhas de Bom Jesus, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Fundão, Pinheiro e Sapucaia (exceto uma parte) propiciariam um terreno firme de 3.720.000m²; Por fim, a possibilidade de expansão do terreno, em caso de necessidade, com a inclusão das ilhas de Baiacu, Cabras e Catalão, resultando em área superior a 5.000.000m². Revista Canto 9


Construindo o berço do Conhecimento

Vista aérea do arquipélago

onde hoje é a Cidade Universitaria. Assim como as demais localidades analisadas, o arquipélago também apresentava inconvenientes, porém, considerados menos graves: o ruído de aviões decorrente da proximidade da Base Aérea do Galeão e do Aeroclube de Manguinhos, e a proximidade de corporações militares, o que, em situações de rivalidades e conflitos, poderia amplificar os choques entre soldados e praças. Ao apoiarem a proposta, o Ministro da Guerra e o Ministro da Aeronáutica colocaram, respectivamente, duas restrições para a construção da Cidade Universitária no local: a conservação do Asilo dos Inválidos da Pátria, na extremidade nordeste da Ilha de Bom Jesus, e o não atraso na construção da ponte que ligaria a Ilha do Fundão ao continente. Restrições que não chegaram a se tornar obstáculos que invalidassem a proposta, uma vez que não havia interesse imediato de apropriação do prédio do Asilo pela universidade, sendo sua presença inclusive desejável do ponto

10 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

de vista social, cultural e artístico, e que a construção da referida ponte, à época iniciada pelo Ministério da Aeronáutica, já tinha sua ampliação prevista no projeto da Cidade Universitária (Oliveira, 2005).

Havia nos jornais a opinião que qualificava de “absurda” a construção de uma universidade em ilhas, haja vista o excesso de áreas livres na cidade. Dessa forma, o presidente Getúlio Vargas respondeu favoravelmente à Exposição de Motivos encaminhada pelo diretor do DASP, assinando o Decreto-lei nº 7.536, dispondo sobre a localização definitiva da Cidade Universitária da Universidade do Brasil. Apesar da aprovação oficial, logo foram manifestadas algumas dúvidas, críticas e especulações em diversos

Os critérios formulados pelo ETUB dividiam-se em três grupos: 1. Fatores de ordem política e social: facilidade para obter a área; acessibilidade; custo da condução; integração ao meio; ambiente universitário. 2. Fatores de ordem econômica: custo dos terrenos e das obras complementares; custos das construções; custo das utilidades (instalação de redes de água, esgoto, eletricidade, etc.). 3. Fatores de ordem técnica: circunvizinhança; condições do clima; área, forma e relevo topográfico; condições favoráveis ao ensino científico, artístico, cultural; condições favoráveis à educação física e esportiva. Revista Canto 11


Construindo o berço do Conhecimento

jornais da época sobre o projeto, devendo aqui mencionarmos o cuidado de Luiz Hildebrando Horta Barbosa (1946) em examinar e responder a todas elas, com vistas a “formar uma opinião mais justa e exata a respeito desse problema fundamental”. Havia ainda nos jornais a opinião que qualificava de “absurda” a construção de uma universidade em ilhas, haja vista o excesso de áreas livres na cidade. A esse respeito, ponderava-se que as maiores áreas disponíveis situavam-se em bairros como Bangu, Campo Grande e Recreio dos Bandeirantes e que, por esse motivo, não atendiam à exigência imprescindível de que a Cidade Universitária fosse “urbana”, construída em “um grande terreno em zona a mais central possível, de fácil e rápido acesso”. Outra crítica referia-se à “inoportunidade do início de obra de tão grande vulto numa época de inflação e de escassez de materiais de construção, de transporte e de mão de obra”, para a qual Luiz Hildebrando Ilustração de como era Barbosa sublinhava a importância do empreendimento a região antes do aterro.

12 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

para a nação, ressaltando os numerosos imóveis federais inutilizados que, por lei, seriam vendidos para pagar despesas com as obras e que, devido a sua complexidade, estas se estenderiam por 6 a 8 anos, prazo em que provavelmente a carência de materiais, transporte e mão de obra não se constituiria mais um problema. Além da construção da Avenida Brasil, inaugurada em 1946, consolidando a expansão industrial da cidade em direção à zona norte, toda a região da

Toda a região da Ilha do Governador estava passando por grandes transformações, sobretudo em torno da criação da Base Aérea do Galeão. Ilha do Governador estava passando por grandes transformações, sobretudo em torno da criação da Base Aérea do Galeão, pelo Ministério da Aeronáutica. Um anúncio de venda de lotes no Jardim Guanabara, indicava, já no final dos anos 1930, a valorização do bairro insular, nos arredores da capital. Lembrando o exemplo de Copacabana, a propaganda da Companhia Santa Cruz (1936) previa: “O que hoje custa tão pouco representa uma fortuna no dia de amanhã!”. Tantas eram as condições favoráveis que em 20 de outubro de 1948 - três anos após o decreto-lei que havia definido o arquipélago como local a abrigar a futura Cidade Universitária - foi sancionada a Lei n 447, dando um ponto final ao longo processo de discussões e questionamentos sobre a sua localização e permitindo ao ETUB pleitear a abertura de um crédito especial de Cr$12.860.000,00 pelo Decreto nº 25.995, de dezembro de 1948, para finalmente dar início às obras. Revista Canto 13


Construindo o berço do Conhecimento

Antes do aterro Em 1881, o oficial de artilharia Fausto de Souza calculava haver, na Baía da Guanabara mais de oitenta ilhas, com natureza e destinos diversos (Doria, 1922). Para se ter uma visão mais geral sobre as ilhas existentes no momento em que se iniciavam as obras de aterro hidráulico, no final dos anos 1940, Gastão Cruls, no livro Aparência do Rio de Janeiro, descrevia: De todas as ilhas da Guanabara, não só pela vastidão, como pelos foros que assumiu de importante subúrbio marítimo, destaca-se a Ilha do Governador, com 28.906.250m² de superfície e mais de 30.000 habitantes. Entre ela e as outras ilhas também integrantes do Distrito Federal (…) há uma grande diferença de tamanho, pois a que se lhe segue logo abaixo, Paquetá, já não tem mais de 1.093.075m², e vêm depois, sempre em ordem decrescente e apenas relacionadas às maiores, arredondando as cifras, Bom Jesus com 753.000, Fundão com 613.000, Sapucaia com 440.000, Boqueirão com 230.000, Catalão com 166.000, Cambembi com 162.000, Cobras com 154.000 e Brocoió com 143.000m². Ao todo, a área total das ilhas está computada em 35km².

14 Contruindo o berço do Conhecimento

Foto aérea das obras de construção da Cidade Universitária


Canto

A criação de um Parque na Ilha do Fundão já havia sido cogitada no programa inicial de trabalho de junção das ilhas para a Cidade Universitária, para sua arborização. Em setembro de 1996, foi liberada uma verba especial, pelo Governo Federal, para a realização de obras de melhoria da infra-estrutura da Ilha do Fundão, prevendo-se uma possível realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2004. Desta verba foi destinada uma parte para implantar o Parque no Catalão. O nome oficial de registro desta área é Parque da Mata Atlântica da UFRJ (Boletim da UFRJ portaria N 44, de 06 de janeiro de 2000), mas também é chamado Parque Frei Vellozo, em homenagem a Frei José Mariano da Conceição Vellozo, que foi um importante botânico brasileiro do século XVIII, ou Parque do Catalão.

A breve reconstituição do que eram as nove ilhas localizadas na Enseada de Inhaúma anos antes de serem escolhidas para abrigar a Cidade Universitária baseou-se principalmente na série intitulada A Guanabara como natureza, publicada aos domingos, entre maio e junho de 1936, no jornal Correio da Manhã, na qual o jornalista Magalhães Corrêa relatava as suas observações e impressões sobre a região a partir das excursões realizadas por sua equipe à bordo do barco Acarioca. Tais excursões compreenderam a zona que ia da Ponta do Caju a Meriti, englobando quatorze ilhas consideradas “rurais”: Bom Jardim, Bom Jesus, Pinheiro, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Catalão, Cabras, Baiacu, Fundão, Cambembi, Sapucaia, Raimundo, Anel e Saravatá.

Ilha do Catalão Ao atracar na praia da Ilha do Catalão, a equipe de Magalhães Corrêa avistou cestos especiais para apanhar peixes e lagostas vivas, canoas de pescaria, uma grande plantação Revista Canto 15


Construindo o berço do Conhecimento

Catalão (quâ-atã-ã)

Corrupção de quâ-atã-ã. De quâ (ponta); atã (tesa, ereta) e ã (em cima). Lit., "ilha que tem ponta ereta, em cima". Seu terreno é montanhoso situado na baía da Coroa Grande, próximo às ilhas Cabras e Fundão.

= Quâ-atã-ã (ilha da ponta ereta, em cima) quâ (ponta) + atã (tesa, ereta) + ã (em cima)

de mamoeiros, bananeiras e outras árvores frutíferas, além de dois pescadores da colônia Z5, junto a uma velha casa de tijolos. À esquerda, havia um alpendre coberto de zinco, sustentado por colunas de estipes de coqueiros, grandes árvores e uma enorme amendoeira. Ao sul da ilha, havia uma lavoura e, na extremidade meridional, uma enseada cuja praia era de fácil atracação com qualquer maré, havendo ali próximo um grupo de pedras, formando uma ilhota.

Por ocasião da criação da Cidade Universitária, um Parque da Mata Atlântica foi previsto no Catalão, sendo preservado até a atualidade. Com 166.123m², a ilha era dividida, nos anos 1930, em duas propriedades particulares por uma linha feita de soqueira de bambu que a atravessava de praia a praia. Uma metade da ilha pertencia ao Sr. José Paz e seus 16 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

irmãos e a outra ao Sr. Cândido de Araújo e irmãos, embora esta também fosse administrada pelo Sr. José Paz. Assim, como as demais ilhas do arquipélago, a Ilha do Catalão possuía uma rica flora e fauna nativa. Na propriedade da família Paz, onde outrora havia uma criação de gado, encontravase uma diversidade de aves (socós, garças, patos, galinhas, etc) e um grande e belo pomar, com mangueiras, pitangueiras, goiabeiras, araçazeiras, sapotizeiros, coqueiros, cajazeiros, parreiras, bananeiras, jambeiros, etc. No seu ponto mais alto, um morro ao centro, encontrava-se um verdadeiro solar colonial, com uma grande varanda, doze quartos, sala e cozinha, além de várias casas espalhadas. Da fachada deste solar, onde viviam seis irmãos com seus respectivos filhos, descortinava-se um “extraordinário panorama da Baía da Guanabara”. Por ocasião da criação da Cidade Universitária, um Parque da Mata Atlântica foi previsto no Catalão desde os planos iniciais de construção, sendo preservado até a atualidade. Foi unido por um “istmo” a partir de 1953, mas preservado com seu relevo e mata. Existia nele um dos 3 hortos com a função de arborizar o restante do Campus.

.

Revista Canto 17


Construindo o berço do Conhecimento

Artes Visuais no Parque Catalão Fotos de Bruna Santos e Mariana Weneck

Fotografias de alunos da Escola de Belas Artes, em visita ao Parque Catalão.

18 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

Revista Canto 19


Construindo o berรงo do Conhecimento

20 Contruindo o berรงo do Conhecimento


Canto

Revista Canto 21


Construindo o berรงo do Conhecimento

22 Contruindo o berรงo do Conhecimento


Canto

Revista Canto 23


Construindo o berรงo do Conhecimento

24 Contruindo o berรงo do Conhecimento

Bruna Santos


Canto

Revista Canto 25


Construindo o berรงo do Conhecimento

26 Contruindo o berรงo do Conhecimento


Por Ernani Diaz Renato Moraes de Jesus (Escola de Engenharia, UFRJ) e Janie Garcia da Silva (Instituto de Biologia, UFF, Niterói)

Inventário de Espécies

Canto

O Parque Frei Vellozo na Península do Catalão, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, possui 17 ha e apresenta vegetação de restinga e manguezal na faixa litorânea. Em sua implantação, foram introduzidas cerca de 200 espécies típicas de floresta estacional tropical litorânea no seu território e mais de 40.000 mudas foram plantadas, com sucesso, na parte central da ilha. Revista Canto 27


Construindo o berço do Conhecimento

O Parque Frei Vellozo localiza-se na extremidade norte da Ilha do Fundão, na Baía de Guanabara, dentro do Campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A área do Parque corresponde à antiga Ilha do Catalão, que agora está unida à Ilha do Fundão por um istmo formado por aterro. O local agora é designado simplesmente por Catalão. O Parque tem uma área de 17 hectares, e é, quase que, totalmente rodeado pelo mar, tendo nas suas margens vegetação de restinga e de mangue. O seu relevo apresenta-se ainda como originalmente, caracterizado por uma pequena colina. O solo do Parque também é original, não tendo sido desbastado, nem aterrado, a menos do istmo que é constituído por um aterro sobre o mar. O nome do Parque homenageia Frei José Mariano da Conceição Vellozo, que viveu de 1742 a 1811 e foi o autor da Flora Fluminensis, concluída em 1790. Ela contém classificação de 1.640 plantas nativas. Frei Vellozo foi o mais importante botânico brasileiro do século XVIII.

O nome do Parque homenageia Frei José Mariano da Conceição Vellozo, o mais importante botânico brasileiro do século XVIII. A criação de um Parque na Ilha do Fundão já havia sido cogitada no programa inicial de trabalho da Reitoria, pelo Reitor da UFRJ da época, Prof. Paulo Alcantara Gomes e o Vice-Reitor, atualmente Reitor, Prof. José Henrique Vilhena de Paiva. Em setembro de 1996, foi liberada uma verba especial, pelo Governo Federal, para a realização de obras de melhoria da infra-estrutura da Ilha do Fundão, prevendo-se uma possível realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2004. Desta verba foi destinada uma parte para implantar o Parque no Catalão. 28 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

Revista Canto 29


Construindo o berço do Conhecimento

Pesquisa no Parque Antes do reflorestamento foi realizado um inventário das principais espécies arbóreas e arbustivas existentes no Catalão (Silva, 1999).

As espécies encontradas são: Espécies nativas da região: Acrocomia aculeata, Aspidosperma sp., Astrocariym aculeatissimum, Allophylus puberulus, Avicennia schaueriana, Caesalpinia bonduc, Caesalpinia pluviosa, Capparis flexuosa, Cupania sp., Dalbergia ecastophyla, Erythroxylum pulchrum, Eugenia uniflora, Ficus clusiifolia, Ficus enormis, Gochnatia polymorpha, Hibiscus pernambucensis, Inga laurina, Laguncularia racemosa, Lecythis pisonis, Luehea divaricata, Machaerium cf hirtum, Manilkara subsericea, Maytenus obtusifolia, Peltophorum dubium, Chloroleucon tortum, Pseudobombax grandiflorum, Schinus terebinthifolius, Senna pendula, Sideroxylon obtusifolium, Sophora tomentosa, Sparattosperma leucanthum, Spondias sp., Syagrus romanzoffiana.

Pseudobombax grandiflorum

30 Contruindo o berço do Conhecimento

Peltophorum dubium


Canto

Espécies exóticas: Agave sisalana, Albizia lebbeck., Artocarpus altilis, Artocarpus heterophyllus, Cocos nucifera, Delonix regia, Diospyros sp., Dracaena fragrans, Hibiscus tiliaceus, Malvaviscus arboreus, Mangifera indica, Manilkara zapota, Mimusops coriacea, Persea americana, Sterculia foetida, Syzygium aqueum, Syzygium cumini,Tamarindus indica, Terminalia catappa.

Terminalia Catappa

Minusops Coriacea

Espécies brasileiras estranhas à região: Bougainvillaea spectabilis, Calliandra brevipes, Clitoria fairchildiana, Licania tomentosa, Psidium guajava, Triplaris sp.

Bougainvillaea spectabilis

Calliandra brevipes

Revista Canto 31


Construindo o berço do Conhecimento

Reflorestamento:

implantação Para executar o reflorestamento foi contratada a Companhia Vale do Rio Doce, que possui larga experiência em programas de recuperação florestal. As mudas da fase inicial foram oriundas do Viveiro da Reserva Florestal de Linhares (ES). Elas foram transportadas por caminhão e estocadas no Horto da Prefeitura da UFRJ. As matrizes destas mudas são da Reserva Florestal de Linhares (ES), que é constituída por uma vegetação original de Floresta Estacional Tropical de Tabuleiro. Prescreveu-se que as mudas plantadas deveriam ser de espécies da Floresta Estacional Tropical Litorânea da costa do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. 32 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

As espécies inicialmente plantadas em dezembro de 1996 foram as seguintes: Espécies nativas plantadas: Acosmium lentiscifolium, Acrocomia aculeata, Anacardium occidentale, Andira fraxinifolia, Andira nitida, Andira ormosioides, Apuleia leiocarpa, Ardisia crenata, Aspidosperma aff. subincanum, Aspidosperma cylindrocarpon, Astronium graveolens, Bauhinia forficata, Bauhinia variegata var. alboflava, Bauhinia variegata var. rubra, Bixa arborea, Bombacopsis sp. (Paineira barriguda), Bombacopsis stenopetala, Bouganvillea sp. (Buganvile maravilha), Bowdichia virgilioides, Caesalpinia echinata, Caesalpinia ferrea, Cariniana legalis, Caryocar edule, Cassia ferruginea, Cedrela odorata, Centrolobium tomentosum, Chorisia glaziouii, Clarisia racemosa, Clusia spiritusanctensis, Coccoloba alnifolia, Copaifera langsdor-

Cassia ferruginea

Eugenia sp1 (Praianinha)

ffii, Cordia trichotoma, Deguelia longeracemosa, Dimorphandra jorgei, Diospyros sp. (Abricó da mata), Eriotheca macrophylla, Erythrina velutina, Eugenia involucrata, Eugenia sp1 (Praianinha), Eugenia sp2 (Araçá de balaio), Eugenia sp3 (Grumixama amarela), Eugenia sp4 (Grumixama preta), Eugenia sp5 (Jamelão da praia), Eugenia sp6 (Pitanguinha), Eugenia uniflora, Ficus clusiifolia, Gallesia integrifolia, Galphimia glauca, Goniorrhachis marginata, Guazuma crinita, Guettarda viburnoides, Inga laurina, Ixora coccinea, Joannesia princeps, Kielmeyera membranacea, Lecythis pisonis, Licania tomentosa, Lonchocarpus Revista Canto 33


Construindo o berço do Conhecimento

cultratus, Manihot sp. (Bálsamo de horta), Manilkara bella, Melanoxylon brauna, Miconia sp. (Cabeludinha), Mimusops sp. (Abricó), Myrcia multiflora, Myrciaria jaboticaba, Myrciaria sp. (Araçá vermelho), Nectandra oppositifolia, Ocotea spectabilis, Ormosia arborea, Ormosia nitida, Paratecoma peroba, Parkia pendula, Peltophorium dubium, Phyllocarpus riedelii, Plinia strigipes, Posoqueria latifolia, Pseudobombax grandiflorum, Psidium aff. macrospermum, Psidium cattleianum, Psidium guajava, Psidium sp1 (Araçauna), Psidium sp2. (Goiaba do ipiranga), Pterygota brasiliensis, Rheedia brasiliensis, Rheedia gardneriana, Sapindus saponaria, Schinus terebinthifolius, Chamaecrista ensiformis, Senna multijuga, Sophora tomentosa, Sparattosperma leucanthum, Spondias sp. (Cajazão), Syagrus romanzoffiana, Syagrus sp. (Côco da pedra), Tabebuia arianeae,

A grande maioria das espécies plantadas são da Floresta Estacional Tropical Litorânea. Tabebuia cristata, Tabebuia heptaphylla, Tabebuia riodocensis, Tabebuia roseo-alba, Tabebuia serratifolia, Tapirira guianensis, Terminalia cf. kuhlmann, Thrinax excelsa, Tibouchina stenocarpa, Zeyhera tuberculosa, Zizyphus platyphylla.

A grande maioria das espécies plantadas são da Floresta Estacional Tropical Litorânea, com algumas exceções. Nesta fase inicial foram plantadas cerca de 38.000 mudas. Para os replantios foram obtidas mudas de diversas origens: Viveiro da Reserva Florestal de Linhares (ES), Horto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RJ), Horto do Dep. de Biologia da UFF em Niterói (RJ) e mudas originárias das diversas coletas feitas nos trabalhos de inventário de remanescentes de matas da Ilha do Governador e cultivadas no Horto da Prefeitura da UFRJ. Mudas das seguintes espécies nativas foram introduzidas nestes trabalhos de replantio, nos últimos dois anos: 34 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

EspĂŠcies nativas, fase nov. 1997, com aprox. 1.000 mudas: Allophylus puberulus, Bauhinia forficata, Capparis flexuosa, Cecropia glazioui, Ceiba erianthos, Chorisia sp., Cupania paniculata, Cupania sp., Eugenia uniflora, Ficus clusiifolia, Ficus enormis, Ficus tomentella, Guarea guidonia, Inga sp., Inga laurina, Jacaranda jasminoides, Luehea

Eugenia Uniflora

divaricata, Moldenhawera cf floribunda, Ocotea sp., Peschiera fuchsiaefolia, Pseudobombax grandiflorum, Pterocarpus rohrii, Rapanea sp., Schinus terebinthifolius, Senna macranthera, Senna pendula, Tibouchina sp., Xylopia sp.

EspĂŠcies nativas, fase junho 1998, com aprox. 860 mudas: Acrocomia aculeata, Annona sp., Caesalpinia echinata, Caesalpinia pluviosa, Cedrela sp., Clusia hilariana, Clusia sp., Cordia sp., Cordia trichotoma, Cupania sp., Cybistax antisyphilitica, Erythrina verna, Erythroxylon pulchrum, Eugenia uniflora, Ficus arpazusa, Ficus clusiifolia,

Ficus luschnathiana

Ficus enormis, Ficus luschnathiana, Ficus maxima, Ficus tomentella, Genipa americana, Hymenaea courbaril, Lafoensia glyptocarpa, Lecythis pisonis, Luehea sp., Miconia sp., Peltophorum dubium, Sapindus saponaria., Schinus terebinthifolius, Sophora tomentosa, Swartzia sp., Syagrus romanzoffiana, Tabebuia chrysotricha, Tibouchina granulosa, Tibouchina sp., Xylopia sp., Zeyera tuberculosa. Revista Canto 35


Construindo o berรงo do Conhecimento

36 Contruindo o berรงo do Conhecimento


Canto

Espécies nativas plantadas em diversas ocasiões, com aproximadamente 300 mudas: Chorisia sp., Clusia fluminensis, Cordia trichotoma, Eugenia copacabanensis, Ficus glabra, Ficus pertusa, Inga sp., Lecythis pisonis, Piptadenia gonoacantha, Chloroleucon tortum, Pterocarpus rohrii, Samanea tubulosa, Schizolobium pa-

Piptadenia gonoacantha

rahyba, Tapirira guianensis.

Algumas espécies desenvolveram-se muito bem na área. Entre elas podem ser citadas as seguintes: Cecropia sp., Cedrela odorata, Ceiba erianthos, Chorisia sp., Deguelia longe-

Em pesquisa feita pela UFRJ, foram encontradas 80 espécies diferentes de aves na área do Catalão, mostrando que ela está em franca recuperação ecológica. racemosa, Erythrina sp., Ficus clusiifolia, Ficus glabra, Gallesia integrifolia, Johannesia princeps, Ormosia sp., Peltophorum dubium, Pterocarpus rohrii, Schinus terebinthifolius, Schizolobium parahyba, Senna macranthera, Tabebuia sp., Zeyhera tuberculosa etc.

No Programa de reflorestamento, ainda em desenvolvimento, já foi constatado a recuperação de aves na área do Parque. Em pesquisa feita pela UFRJ, foram encontradas 80 espécies diferentes de aves na área do Catalão, mostrando que ela está em franca recuperação ecológica.

.

Revista Canto 37


Construindo o berço do Conhecimento

“Em todas as coisas da natureza existe algo de maravilhoso.” Aristóteles

38 Contruindo o berço do Conhecimento


Canto

Revista Canto 39


Construindo o berço do Conhecimento

Descubra o paraíso escondido na Reserva do Catalão

40 Contruindo o berço do Conhecimento


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.