Cadernos de viagem - Viagem PP — pesadelo e paraíso

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Fevereiro de 2012 Número 82

Cadernos de Viagem Viagem PP — pesadelo e paraíso

Esta nossa viagem foi bastante diversificada em emoções e sensações.

@ M. Margarida Pereira-Müller

O voo da SWISS até à África do Sul foi como se esperava: calmo e sem incidentes de espécie alguma. Em Joanesburgo tínhamos à nossa espera Martin e Irma Snoek que nos mimaram nas horas que estivemos na sua casa. O braai (churrasco) mar e terra oferecido foi, como sempre, deli-

cioso. No dia seguinte pela manhã partimos para Pemba, com uma curta paragem em Maputo. Esta viagem em nada se compara à grande viagem que o meu Pai fez em novembro de 1969, que demorou vários dias, pois não só ao avião militar se estragou tendo obrigado a uma paragem de vários dias em Luanda como o voo de Lourenço Marques para Porto

Amélia demorou várias horas, tendo pousado na Beira, Quelimane e Nampula antes de chegar ao destino. O aeroporto de Pemba é …. minúsculo. Na sala de espera das bagagens, mini mas com tapete (mini) rolante, tivemos uma boa sessão de sauna... Quando saímos do terminal, Jasper, a quem tínhamos alugado o jipe não estava no aeroporto como combinado. Fomos então


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para o Pemba so pesadelo: 100 Beach Hotel km de estrada and Spa proestragadíssima curar o res(seria bastante ponsável. melhor se tivesse Finalmente, sido uma picada), tudo se resolcheiíssima de buraveu. Nunca cões que lembrafizéramos um vam em parte craA estrada entre Macomia e Diaca é um pesadelo aluguer tão teras. Para complipouco burocrático. lá para as 17—18h car a situação, anoiteQuando perguntei ao estaríamos em Mocimcera cedo, por volta boa da Praia. AcreditáJasper da Safi Rent se das 17h45. A noite afripoderíamos tratar do cana é mesmo escura, paperwork dentro do não há poluição lumihotel Pemba Beach por nosa nenhuma. As pescausa do calor ele replisoas continuam porém cou admirado: “Which não só caminhando à paperwork?”. Entregoubeira da estrada como nos a chave, nós pagágostam de socializar no Safi Rent tem mos-lhe em dólares e meio da…. estrada um método muito cada um seguiu o seu completamente às despreocupado caminho, despedindoescuras. Deitam-se no de alugar carros nos até 4ª feira seguinalcatrão ou na terra e te! ficam a conversar e a olhar as estrelas. Foi Eram quase 15h quando mos…. uma condução muito partimos de Pemba. O Os primeiros 200 km, difícil e dura. Já passava condutor do shuttle do até Macomia, fizeramdas 21h30 quando chehotel tínhamos dito que se lindamente, numa gámos a Mocimboa da estrada que poderia ser Praia, o nosso ponto de em Portugal, não fosse paragem intermédio – e atravessar aldeias de o porto onde atracapalhotas e de nos cruvam os barcos que zarmos constantemenlevavam as tropas porte com pessoas a camituguesas para os postos nhar na berma da estrano Norte de Moçambida. Em Macomia, a que nos idos anos 60 e estrada alcatroada aca70. bou e começou o nosFogueiras junto à estrada


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Mocimboa da Praia

Chegados à noite a Mocimboa da Praia, não encontrávamos ninguém a quem perguntar pelo caminho para o Chez Natalie onde iríamos pernoitar. Mas finalmente lá demos com o lodge, que fica fora da povoação, depois do cemitério. O hotel está muito bem instalado em frente a um grande mangal com uma bela vista para um braço

do mar. Tem uma série de chalets, muito espaçosos que comportam

está interessantemente decorada com máscaras macondes.

A proximidade à natureza tem porém as suas desvantagens, nomeadaO nosso chalet em Chez Natalie mente, visitas inesperadas de até 4 pessoas, com roedores atrevidos. cobertura de macúti. Na 1ª noite, o HansA sala das refeições Jürgen sente algo a

Máscaras macondes na sala de jantar do Chez Natalie

Em Chez Natalie , os matabicho são de rei, com sumo fresco de frutas tropicais.


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Dhows no porto de Mocimboa da Praia

roer-lhe as unhas. Acorda, acende a luz e procura em todo o lado por um animal. Não encontra nada e volta a adormecer.

O porto de dhows é extremamente animado

- temos um animal no quarto! - Constato. O Hans-Jürgen vai procurar um funcionário. Vem um senhor armado com um pau. Ao ver as bolachas no chão, comenta: “Isto é rato”. Naquele instante, vemos um rato a correr sobre as almofadas. O senhor corre atrás dele e mata-o à paulada na casa de banho.

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repente, vemos um outro rato a correr sobre a nossa cama. Abrimos a porta do chalet e afugentamos o bicharoco que finalmente sai. Fechamos de novo a porta, convencidos de que o caso estava resolvido. Ao acordarmos verificamos porém que um ratinho se tinha deliciado com as mangas que compráramos na véspera — e até com a minha mochila….

Mocimboa da Praia é uma No dia seguinte, pequena cidade depois dum estafado dia em Muede província que da, deixamos no ainda mantém a traça colonial e as quarto um pacote de bolachas suas casas. Parece Vendedores e compradores acotovelamque ficou parada enquanto vamos se na praia no tempo. Os jantar. Ao regresseus edifícios estão sar, todas as bolachas Descansados, fechacomo há 37 anos, só estão espalhadas pelo mos aporta para nos que com mais o pó dos proteger de mais visitas. chão. anos… Azar, porém. De

O cemitério de Mocimboa da Praia O edifício dos CTT


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Mueda — Mocimboa do Rovuma Para muitas famílias Nampula ou mesmo lá para aclarar de vez Lourenço Marques militares, Mocimboa as minhas fantasias. Na (atualmente Maputo). do Rovuma é um preparação da viagem, nome familiar. Muitos reli todos os aerograAo tornar-me adulta, Pais estiveram lá mas que o meu Pai nos comecei a interessardurante a guerra coloescreveu de Mocimboa me por esses momennial. Para mim, Mocimdo Rovuma e fiz várias tos da minha história boa do Rovuma, Mueinvestigações quer nos familiar que era ao da, Tenente Valadim arquivos militares quer mesmo tempo parte da eram locais onde a na internet. história de Portugal. guerra colonial signifiComecei a visitar os Queria ir visitar esses cava mesmo guerra. novos países africanos lugares Onde havia muitas mas não ações dos “turras”, queria ir como eram chamade mãos dos os elementos vazias. Afida guerrilha que nal, era lutavam pela indecomo “ir pendência de à terra”, Moçambique (e das pois lá outras colónias). “vivi” Lugares inóspitos, A estrada para Mocimboa do Rovuma estava através intransitável no meio do mato dos relaonde as famílias não que faziam parte das tos do meu Pai entre tinham lugar. As nossas ex-colónias. novembro de 1969 e mulheres e os filhos Especialmente Moçammeados de 1971 - e dos militares poderiam bique onde o meu Pai ninguém vai à terra juntar-se-lhes em cidaesteve por diversas sem presentes. Atrades e vilas mais fáceis, vezes, antes e durante a vés da AAAIO recomais longe dos cenáguerra colonial. Mueda lheram-se 20 kg de rios de guerra como e Mocimboa do Rovuroupa de bebe. A LufPorto Amélia ma eram para mim thansa associou-se à (atualmente Pemba), locais agrestes, duros, ação e ofereceu uns Vila Pery (atualmente inóspitos, agressivos. sacos com chinelos. Chimoio), Inhambame, Este ano, resolvi ir até Foi assim equipada

Desilusão: por causa das grandes chuvadas, não conseguimos ir a Mocimboa do Rovuma


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com dois grandes caixotes que parti de Lisboa.

Em Mueda, ficaram felizes com a roupa de bebé oferecida pela AAAIO

Cheios de entusiasmo, saímos de Mocimboa da Praia com a certeza de que a estrada até Mueda estava muito boa e de que só teríamos picada durante os aproximadamente 50 km que distam de Mueda a Mocimboa do Rovuma. Grande azar! Ao chegarmos a Mueda, começa a cair uma chuvada típica da época húmida que transformou parte da estrada nacional em passagem de águas. Pior: o início da picada que nos levaria a Mocimboa do Rovuma estava totalmente desfeito; não era uma via mas um rio de largo porte com grande cor-

Hospital Rural de Mueda

rente! Que fazer? Ficá-

mos uma meia hora parados em frente

da fissura da estrada sem saber tomar uma decisão. Víamos as pessoas a passar a vau com grande dificuldade. Perguntámos então se seria possível ir com o nosso jipe. A resposta foi unânime: a estrada estava intransitável e assim se manteria nos próximos dias. Que fazer? Só tínhamos mesmo aquele dia. De repente lembrei-me que tinha visto um sinal para o Hospital Rural

A entrega dos caixotes com roupa no Hospital Rural de Mueda


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Não cumprimos a nossa missão. Mas ajudámos um grupo de bebés que frequenta o Hospital de Mueda e assim indiretamente a população de Mocimboa do Rovuma. E aproveitámos para ver Mueda, uma pequena vila de província, um pouco esquecida dos Monumento comemorativo do governantes por estar Dia da Vila—2 de setembro muito longe de Mapude 1967 to. de Mueda, Fomos até Quisemos almoçar, mas lá. Falámos com a direas restaurantes de ção na pessoa do Mueda só funcionam Senhor Macassar com reservas... de Cheia, chefe da contacomida. Chegar a um bilidade, e lá deixámos restaurante e querer os 20 kg de roupa de comer não é possível. bebé da AAAIO e os Conclusão: não almoçáchinelos da Lufthansa. mos. Ficaram felizes ao ver Decidimos então ir visitanta roupa linda, em tar o Museu do Massaparte nova. cre de Mueda. No livro "Guerra Colonial", de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (Ed. Diário de Notícias), afirma-se que "no dia 16 de Junho de 1960 (....) reuniram-se em Mueda milhares de agricultores da região para exigirem do Governador, presente no local, a melhoria das condi-

ções de vida e a possibilidade de criação de cooperativas. Depois de mais de quatro horas de reunião sem qualquer acordo, as autoridades acabaram por dispersar a multidão com recurso às armas, o que se traduziu por verdadeiro massacre, julgando-se que possam ter morrido cerca de meio milhar de pessoas" (pág. 106). A visita ao museu não foi porém possível, pois o “diretor estava de descanso” como nos explicou o funcionário. Restou-nos passear pela parte exterior do museu, onde está a vala comum dos moçambicanos mortos durante o massacre.

Mueda ainda relembra o massacre de 16 de Junho de 1960

Crianças em Mueda


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Chai

Em Chai às 19h do dia 25 de Setembro de 1964, Alberto Chipande deu o primeiro tiro que deu início à luta armada de libertação nacional.

Tínhamos que voltar para Pemba. Mas como? Não haveria outra rota sem ser aquela terrível estrada de Diaca para Macomia? Vendo o mapa, ponderámos a hipótese de fazer um caminho mais longo através de Mueda e Montepuez, caso a estrada fosse alcatroada. Perguntámos a um polícia como estava essa estrada. Péssima, foi a resposta. E aquela picada ao lon-

Guerrilheiros a atravessar o Rovuma

go da costa? O polícia riu-se. Quer ir pelo mar? Não há mesmo outro caminho? Que não, que não havia. Teria mesmo de ser através da estrada das crateras. Decidimos então sair cedo de Mocimboa da Praia para fazer todo caminho com luz. A viagem de regresso demorou ainda mais que a de ida. Se por um lá viajámos de dia, por outro apanhámos grandes chuvadas que ainda nos obrigaram a ir mais devagar — devagar, devagarinho, parados… Enfim, tivemos porém a oportunidade de ir vendo a paisagem e até parámos uns

30 minutos em Chai para visitar o MUCHAI, ou seja, o Museu de Chai que conta a história do 1º tiro. Foi aqui em Chai que em 25 de Setembro de 1964 se iniciou a Luta Armada de Libertação Nacional contra as autoridades coloniais portuguesas com o ataque da Frelimo à casa do chefe do posto. O nosso guia explicounos detalhadamente como decorreu esse 1º tiro dado pelo (agora general na reforma) Alberto Chipande. A história foi-nos contada com muita emoção, se bem que com algumas datas baralhadas. Mas é bom também ouvir o outro lado da história.


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Matemo

Deixáramos a confusão de Pemba havia somente 25 minutos. A avioneta de três lugares já sobrevoara um mar com uma água totalmente cristalina com uma tão grande variedade de tons azuis e verdes que nos roubara a respiração. O mar parecia uma gigante tela. Lá em baixo, na pequena pista de Matemo, esperavam-nos amavelmente Karen e Jason du Plessis, os diretores-gerais do Matemo Island Resort. Assim que descemos da avioneta, recebemos uma toalhinha fresca que nos alivia o calor que logo se faz sentir assim que pomos os pés em terra. À nossa frente uma tabuleta,

rodeada com as bandeiras de Moçambique, do Grupo Rani e do aldeamento, dava-nos simpaticamente as boas vindas. Ainda mal chegára-

mos e já nos sentíamos em casa. Uma camioneta aberta, pintada de cores alegres, levou-nos para o edifício principal, passando por muita vegetação tipicamente africana. Um potente embondeiro fixou-se imediatamente na minha lente fotográfica mental. À entrada, um grupo de

funcionários recebeunos efusivamente saudando-nos e oferecendo-nos um cocktail de frutos, bem fresquinho. Ao pôr do sol, acedendo ao convite para um aperitivo antes do jantar, tivemos a oportunidade de conversar com Karen e Jason sobre Matemo e o grupo Rani que acima de tudo pretende oferecer verdadeiros santuários ecológicos em ambientes de luxo mas de grande simplicidade para que o cliente possa vivenciar a 100% o destino. Os resorts do Grupo Rani disponibilizam aos seus clientes

A filosofia central do Grupo Rani, é criar resorts turísticos em ilhas desertas ou quase desertas.


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O dia a dia flui placidamente. Os nossos olhos relaxam com uma paisagem que lembra uma grande tela com um mar de águas serenas, cristalinas e duma areia imaculavelmente branca

alojamento de luxo a nível mundial em localizações de grande beleza e biodiversidade naturais, de riqueza histórica e com oportunidades únicas e exclusivas e aventura e desporto — ou somente para relaxar e descansar. Matemo Island Resort tem 24 chalés, situados em cima da praia, com

casa de banho completa mais um duche exterior, protegido por uma paliçada que nos permite tomar banho tendo por cenário as

Vista aérea dos chalés

águas maravilhosas do Oceano Índico. Teve-se o cuidado de assegurar que os edifícios se integrariam nas envolvências naturais. Coberturas de macúti dão aos chalets um charme rústico; a sofisticação das habitações

Pormenor do spa

vem não só dos mármores usados nas casas de banho mas também das madeiras de Zanzibar e dos tapetes vindos do Dubai. Na varanda, podemos repousar em confortáveis cadeiras de verga ou numa simpática rede. Se preferirmos estar quase em cima do mar, podemos levar para a praia as chaiseslongues que também nos são disponibilizadas. Os produtos de toilete da marca Maria Garcia, com um aroma muito suave, deixam o quarto com uma fragância muito agradável.


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Matemo é um das 34 ilhas coralinas do arquipélago das Quirimbas, descritas pela primeira vez pelo cronista António Bocarro em 1634, e que lembram pérolas atiradas ao mar junto à costa norte de Moçambique. Segundo as lendas

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90% muçulmana, tendo cada homem duas, três, quatro ou até cinco mulheres. Os seus habitantes vivem essencialmente da pesca. Mal o sol nascem, os homens saem nos seus dhows, embarcações à vela, já usadas pelos árabes antes da chegada dos portugueses, regressando a meio da tarde com muito peixe e marisco. As mulheres ficam em terra e tratam das suas machambas, pequenas hortas de milho, mandioca e outros vegetais, que consomem e vendem ao hotel.

Karen e Jason du Plessis desfazem-se em Almoço sob o embondeiro amabilidades, tentando tornar a nossa estada locais, o nome vem da verdadeiramente inesarte de fazer as casas quecível. Na primeira com pedras e caniço ou noite, propõem-nos um maticar, no dialeto local jantar numa pequena (se bem que em Portu- plataforma mesmo junguês maticar significa to ao mar sob um céu latir). Tem 28 km de repleto de estrelas. Écumprimento e 7 de nos servida uma delilargura, por onde se ciosa sopa de abóbora espalham sete aldeias, com coco, camarão e habitadas maioritariapeixe-pedra grelhado. mente por crianças — No dia seguinte ao é que a população é almoço, almoçamos à

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Dhows na praia

sombra do grande embondeiro centenário cujo enormes ramos abrigam numerosos pássaros e borboletas. A lagosta grelhada soube-nos ainda melhor. Para relaxarmos, Joanne, a massagista da unidade, que irradiava calma e harmonia, levanos até ao spa, propondo-nos uma massagem feita com produtos Moya, feitos à base de plantas africanas. Incrivelmente bela e original, Matemo oferece diversas atividades no meio dum grande palmeiral. Ideal para quem quer quebrar a rotina diária, a pequena ilha de Matemo, com somente 8 km de comprimento e 3 km de largura, oferece dias sem pressa e despreocupados.

O Grupo Rani apoia as comunidades nos locais onde se instala. Em Matemo construiu escolas , mesquitas e centros de saúde


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Ilha do Ibo, cruzamento de povos

Vista geral de Ibo

Com a saída dos portugueses após a independência de Moçambique em 1975 a ilha ficou parada no tempo

Aproveitámos a nossa estada em Matemo para visitar a Ilha do Ibo. Connosco foi o guia, Júnior, que estava excecionalmente nessa semana também em Matemo a fazer uma formação para snorkeling. A viagem de barco demora somente 30 minutos e foi muito agradável cruzar as águas translúcidas. Vista de longe, Ibo parece que ainda está como há muitos séculos, com a vida a ferver como quando no tempo em que era um grande entreposto de escravos. As casas alinham-se na costa e veem-se bem os fortes. Ao chegarmos à ilha, saltamos do barco para a água e fazemos

a pé os metros que faltam até terra firme. Um bar, agora em renovação, é o primeiro edifício que vimos. Com a saída dos portugueses após a independência de Moçambique em 1975 a ilha ficou parada — direi mesmo esquecida do poder central. Com os portugueses, saíram também os chineses e os indianos. Ficaram somente os verdadeiros habitantes da ilha. Aí procuraram refúgio algumas pessoas do continente que tentavam escapar aos horrores da guerra civil entre a Frelimo e a Renamo. De resto, nada mais aconteceu durante mais de duas décadas.

Como foi poupada à guerra, a ilha mantevese tal e qual, só com os estragos feitos pelo tempo. Lembra uma casa de província que se deixou há muitos nos e que foi ganhando pó. Júnior foi-nos contando a história da ilha que, sendo maioritariamente muçulmana, está com pouca vontade de aceitar a abertura da ilha ao turismo. Mas “água mole em pedra dura tanto dá até que fura”. Com a ajuda da US Aid, começaram a restaurar-se os monumentos e em 1998, abriu em Ibo o primeiro alojamento para turistas.

Sr. António levou-nos até Ibo


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Ibo, que inicialmente se chamava Malawi, já é habitada há muitos séculos. Os primeiros forasteiros a chegar foram os árabes por volta de 1500, tendo construído a fortaleza, agora denominada de São João Batista, em forma de estrela, com somente três habitações e um quintal. Os árabes vinham comprar escravos, mandíbula de elefante e ouro. Os régulos da ilha iam regularmente ao continente buscar mainatos e que depois vendiam como escravos aos árabes. No século XVII, os holandeses descobriram prata na ilha e expulsaram os árabes. Depois de se terem fixado na Ilha de Moçambique, a primeira capital da província de Moçambique, os portugueses começaram a explorar as Quirimbas. Em 1735, os primeiros portugueses instalaram-se na ilha. A primeira construção defensiva foi o Fortim de São José que ficou

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pronto em 1760 e que serviu de cadeia de escravos. As instalações eram exíguas e todos os dias de manhã ao abrir a porta, os guardas encontravam dois ou três escravos mortos, que enterravam na praia, plantando em cada cova uma palmeira. Um ano mais tarde, foi erigida a igreja de São Baptista e em 1789 ocuparam a fortaleza árabe, tendo-a restaurado e expandido. Seis anos depois, concluem a construção duma capela dentro da fortaleza. Finalmente, em 1847 foi construído o fortim de Santo António como prisão. Mas na ilha não viviam somente portugueses, mas também chineses que vinham buscar alturia, indianos que exploravam o comércio e franceses que compravam prata para moedas. A população local continuava porém a viver nos bairros, fora da vila, em habitações feitas com pedra coralina e cobertura de macúti

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Capela na fortaleza

— como aliás ainda vive hoje. Nós embrenhámo-nos pelo bairro e ficámos à conversa com Zeina que nos ensinou a fazer luminu, um ensopado de mandioca seca com peixe frito. Como declinar do comércio dos escravos, a ilha perdeu interesse económico e capital de Cabo Delgado passou em 1928 para Porto Amélia, atualmente Pemba. A Ilha do Ibo ficou somente com grande interesse histórico.

A Ilha do Ibo teve grande importância como entreposto do comércio de escravos

Zeina a preparar o almoço


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Medjumbe—já circumnadou uma ilha?

Fomos recebidos com grande amabilidade e simpatia

A comunidade de Helgoland, uma pequena ilha alemã no Mar do Norte, organiza anualmente uma festa desportiva que se resume a nadar à volta da ilha. A ilha não é tão pequena assim e as águas do Mar do Norte são geladas. No entanto, sempre que lia no jornal a notícia sobre esse acontecimento desportivo ficava com vontade de participar. Um dia hei—de fazer, pensava eu ano a pós ano. Pois este ano, circumnadei uma ilha. Não Helgoland, não no Mar do Norte, mas no Oceano Índico. Quando cheguei à pequena ilha Medjumbe, propriedade do Grupo

Rani Resorts, pensei: É hoje o dia. Tomei essa decisão ainda no avião, ao sobrevoar a ilha . Ali estava ela, pequenina com os seus 18 hectares, 1000 metros de comprimento e 350 metros de largura, perdida no meio dum mar de corais, rodeada de águas azuis turquesas tão translúcidas que tudo o que estava no seu fundo se via do avião. E o banco de areia na sua ponta lembrava um longo véu de noiva. Victor Fernandes, diretorgeral do Medjum-

be Private Island Resort, recebeu-nos pessoalmente na pista. Num pequeno carro de golfe, levou-nos os poucos metros até à entrada do hotel onde nos esperava o resto da sua equipa. Foi-nos oferecido um pano húmido para nos refrescarmos, uma deliciosa espetada de fruta tropical e um colorido cocktail de fruta, uma especialidade do barman Adamo.

Receção à entrada do hotel


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Um chalé

Medjumbe é uma das três dezenas de ilhas que pertencem ao arquipélago das Quirimbas e que estão espalhadas na costa do Norte de Moçambique, entre a baía de Pemba e o rio Rovuma. O xeque saudita Adel Aujan, dono do Grupo Rani, deve também ter-se apaixonado por esta pérola, elegante com um rasto de areia no final. Comprou-a e em 2005 construiu um resort para férias exclusivas.12 chalés simples mas muito sofisticados foram plantados na praia de areia branca, suficientemente afastados uns

dos outros para que os seus ocupantes não se sintam. Apesar de

A praia vista do chalé

terem à sua frente todo o Oceano Índico com as suas cálidas águas (e quando digo que as águas são quentes é porque elas são mesmo quentes: 30º no verão, 25º no inverno), cada chalé tem ao lado uma pequena whirlpool privada. Podem perguntar: mas o que se faz numa ilha

tão pequena? Não se fica com ataques de claustrofobia? Não, a ilha é um mimo e os funcionários do resort tudo fazem para que o cliente se sinta bem, como em casa – ou melhor do que em casa. Quem vem para Medjumbe quer viver o sossego, quer relaxar, quer parar a corrida do dia a dia, quer deixar o tempo correr como a areia a escorrer por entre os dedos, calma e suavemente. Pode nadar placidamente nas águas azuis turquesa que se esbatem à frente do seu chalé. Pode passar umas horas deitado na rede, a ouvir os sons da praia vazia. Ou horas a fio a procurar conchas na praia de areia mais branca do que a farinha de trigo. E há conchas lindas, grandes e pequenas, brancas e coloridas, lisas e com ondi-

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Passam-se horas a fio na praia a colecionar conchas ou à noite a ver as estrelas


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às massagens com pedras quentes aos workshops de massagens para recém-casados, durante os quais ela os ensina as técnicas básicas de massagens para relaxar.

bem guardados de Moçambique - uma longa faixa de 250 km de ilhas tropicais onde se junta uma grande riqueza marítima com uma grande riqueza histórica.

Querendo ainda mais Um longo banco da areia no final da ilha lembra privacidade, pode ir até o véu duma noiva Quissanga, a ilha vizinha, ainda mais pequenhas. na, inabitada, mas que Pode fazer snorkeling e já pertence também ao descobrir que há uma Grupo Rani. O hotel variedade inimaginável prepara-lhe o cesto de de feitios e cores de peixes. Pode ir à pesca de alto mar e pescar Medjumbe, um paraíso no meio peixes enormes do Índico daqueles que pensa que só se veem nos filmes.

Nas suas águas, os 1500 km² do Parque Nacional da Quirimbas dão abrigo a tartarugas, golfinhos e baleias assim como uma grande variedade de peixe.

E claro, no spa, a sul-africana Daniella tem uma “ementa” de massagens para nos fazer renascer, que vão da simples massagem das costas

piquenique que inclui uma manta aos quadrados para pôr na areia, comida de fazer crescer água na boca e uma garrafa dum bom vinho. À noite, pode deitar-se na areia e ficar a olhar o céu estrelado. As Quirimbas O arquipélago das Quirimbas é sem dúvida um dos segredos mais

Culturalmente, as Quirimbas são igualmente importantes, com a sua grande mistura de influências árabes, holandesas, portuguesas, chinesas e indianas, tendo conhecido grande importância nos séculos XVI, XVII e XVIII com o comércio de escravos. Mas mesmo no paraíso, chega a hora de os despedirmos. Vamo-nos embora mas levamos para sempre no nosso coração esta pequena ilha que nos acalentou a alma.


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