21.10.2013
Momentos de instabilidade política em Moçambique - uma cronologia Saiba quais foram os momentos mais marcantes que levaram à crise entre o maior partido da oposição em Moçambique, a RENAMO, e o Governo da FRELIMO.
1975 Ao fim de mais de uma década de guerra de libertação, a República Popular de Moçambique é proclamada a 25 de junho por Samora Machel, Presidente da Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO, e primeiro Presidente do país. A Revolução dos Cravos, que, a 25 de abril do ano anterior, tinha derrubado a ditadura em Portugal, abriu o caminho para a independência das então províncias ultramarinas (à exceção da Guiné-Bissau, cuja independência foi proclamada unilateralmente a 24 de setembro de 1973, reconhecida internacionalmente, mas não por Lisboa) e a assinatura dos Acordos de Lusaka, a 7 de setembro de 1974, entre o Estado português e a FRELIMO. Na capital da Zâmbia é reconhecido o direito à independência do povo moçambicano e acordada a transferência de poderes. A FRELIMO assume o poder e declara Moçambique um estado monopartidário marxista.
1976 Eclode uma guerra civil entre o Governo da FRELIMO e os rebeldes da RENAMO, a Resistência Nacional Moçambicana. O conflito dura 16 anos. A maior parte deste período inclui-se na Guerra Fria, que se reflete nos apoios recebidos por um e pelo outro lados: a FRELIMO, de orientação marxista a partir de 1977, é apoiada por países como a União Soviética, enquanto a RENAMO recebe assistência da África do Sul a partir de 1980, depois do colapso da Rodésia (atual Zimbabué).
1990 A FRELIMO abandona a ideologia marxista e revê a Constituição do país. O novo texto prevê um sistema político multipartidário. O país abre-se para uma economia de mercado. Governo e rebeldes reiniciam negociações no sentido de chegar a um cessar-fogo. Já antes, em 1984, as duas partes do conflito tinham assinado um cessar-fogo sob o Acordo de Nkomati. A condição, imposta no acordo, de que a FRELIMO retiraria o seu apoio ao Congresso Nacional Africano, ANC, e a África do Sul, por sua vez, o seu à RENAMO nãosobrevivera muito tempo e este primeiro cessar-fogo saíra frustrado.
1992
FRELIMO e RENAMO assinam o Acordo Geral de Paz a 4 de outubro, em Roma, Itália. No fim da guerra, contam-se mais de um milhão de mortos, a economia moçambicana está de rastos e o país é considerado o mais pobre do mundo.
1994 A FRELIMO vence as primeiras eleições multipartidárias com 44% dos votos contra 38% da RENAMO. Joaquim Chissano é reeleito Presidente da República. Chissano tinha assumido o cargo, depois da morte de Samora Machel num acidente de avião em 1986.
2000 Mais de 40 pessoas são mortas em tumultos durante protestos da RENAMO contra as eleições de 1999, nas quais Chissano tinha sido, mais uma vez, reeleito contra o seu adversário da RENAMO, Afonso Dhlakama. O maior partido da oposição protesta contra alegada falta de transparência no escrutínio, enquanto observadores internacionais afirmam que este foi livre e justo.
2009 O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, ameaça recomeçar a guerra depois de voltar a perder as eleições presidenciais contra Armando Emílio Guebuza, candidato da FRELIMO. Em 2005, Guebuza tinha sido nomeado chefe de Estado, depois de vencer as presidenciais de novembro do ano anterior. A RENAMO volta a acusar a FRELIMO de fraude perante o resultado: 75% para Armando Guebuza. Desta vez, também observadores acusam a Comissão Nacional de Eleições de não trabalhar de forma independente.
2010 Moçambicanos saem à rua em protesto contra o aumento dos preços dos alimentos. Várias pessoas morrem em confrontos com a polícia, que abre fogo contra os manifestantes.
2012, 8 de Março Um polícia é morto em confrontos com ex-combatentes da RENAMO, instalados há três meses na sede do partido da oposição na cidade de Nampula, no norte do país.
2012, 4 de Outubro Moçambique festeja os 20 anos de paz e do Acordo Geral de Paz de 1992, que foi assinado em Roma, na Itália. Cresce a insatisfação no seio da RENAMO. Reclamam mais acesso às instituições do Estado, às Forças Armadas e à Comissão Nacional de Eleições (CNE).
2012, 17 de Outubro Dhlakama instala uma base militar na região da Gorongosa, no centro de Moçambique, e começa a treinar antigos veteranos, exigindo uma nova ordem política. Satunjira foi a primeira base fixa militar do então movimento rebelde da RENAMO em 1980. A data do regresso de Dhlakama a Satunjira, 17 de outubro, coincide com o aniversário do primeiro líder da RENAMO, André Matsangaissa, morto em 1979 durante a guerra civil. Dlakhama chegou de Nampula, a capital do norte do país e uma das províncias de maior implantação da RENAMO junto do eleitorado, onde tinha permanecido nos meses anteriores após a sua saída da capital Maputo.
2012, 3 de Dezembro Começam negociações entre o Governo e a RENAMO, que exige uma maior representação nas forças armadas, a revisão do sistema eleitoral e um quinhão mais importante das receitas de gás e carvão. As conversações falham.
2013, 4 de Abril Quatro polícias e um militante da RENAMO são mortos num ataque contra uma esquadra da polícia na cidade de Muxúnguè, província central de Sofala. O objetivo é libertar mais de uma dezena de militantes da RENAMO detidos numa invasão pela polícia da sede do partido no dia anterior. O ataque do dia 4 é justificado pela RENAMO como retaliação à invasão da sua sede.
2013, 6 de Abril Pelo menos duas pessoas morrem num ataque contra um autocarro de passageiros e um camião na região centro. A RENAMO não reivindica o ataque.
2013, 17 de Junho Homens armados, alegadamente da RENAMO, matam seis militares num ataque contra um paiol na região de Savane, no centro do país. A incursão reacende a ameaça de uma confrontação mais grave entre as forças de defesa e segurança e os antigos combatentes da RENAMO. O partido da oposição rejeita a autoria do ataque.
2013, 21 de Junho O chefe do Departamento de Informação da RENAMO, Jerónimo Malagueta, é detido durante a madrugada, aparentemente na sequência das ameaças que o movimento proferiu dois dias antes. A 19 de junho, Malagueta tinha anunciado que o seu partido iria recorrer aos seus homens armados para impedir a circulação rodoviária e ferroviária no centro do país, contra
uma alegada concentração do exército nas antigas bases militares do movimento, na região da Gorongosa, centro, onde o seu Presidente, Afonso Dhlakama, se encontra instalado.
2013, 24 de Junho Homens armados, alegadamente da RENAMO, atacam três viaturas civis na região de Muxúnguè. Entretanto, a sétima ronda de negociações entre o Governo e a RENAMO termina sem que as partes cheguem a consenso no sentido de pôr fim à tensão política que se vive no país.
2013, 25 de Junho O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, assegura que “o Governo permanece firme na sua determinação de, pela via de diálogo, encontrar resposta” à crise político-militar que, nos últimos dias, causou a morte de 10 pessoas em Moçambique. O país comemora 38 anos de independência.
2013, 26 de Junho Armando Guebuza exonera o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CMGFA), Paulino Macaringue, e reconduz o seu vice, Olímpio Cambona, que entrou no exército oriundo da antiga guerrilha da RENAMO. O antigo Presidente Joaquim Chissano defende uma solução pacífica para a instabilidade política no país, observando que deve ser evitada a destruição do que foi construído desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992.
2013, 3 de Julho A RENAMO assume a autoria dos ataques de homens armados em Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique, mas nega o assalto ao paiol de Savane. Afonso Dhlakama, presidente da RENAMO, garantiu ter ordenado ataques contra alvos militares na província de Sofala para não permitir que o exército governamental e a polícia antimotim se concentrassem no centro, próximo ao seu quartel-general junto à Serra da Gorongosa. "Sim, autorizei ataque... Mas dois dias depois ordenei o cessar-fogo, porque sentimos quando um civil ficou ferido, o objetivo não era civil, era atacar o exército", disse Afonso Dhlakama. Contudo, Dhlakama negou o assalto ao paiol de Savane, no distrito de Dondo (Sofala), a 17 de junho, onde, além do roubo de material bélico, morreram seis militares das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). "Não queremos a guerra, que se diga isso. Eu não quero a guerra. Mandamos parar (os ataques), mas não me perguntem 'vão parar até quando'", finalizou Dhlakama.
2013, 6 de Julho Forças governamentais destruíram um acampamento de antigos guerrilheiros da RENAMO, com 53 cabanas, na região de Mogomonha, distrito de Chibabava, província de Sofala. O Comandante da Polícia em Sofala, Joaquim Nido, diz que no local estavam homens armados que realizaram ataques contra alvos civis nas últimas semanas no trajeto que liga o rio Save e
Muxungué. “As operações tinham em vista tornar a zona livre de bandidos, para restabelecer o nível de estabilidade e devolver a tranquilidade ao troço”, justificou. “Eles estão à procura da RENAMO para a atacar”, diz Afonso Dlakhama, líder do maior partido da oposição, que descreve a atuação do governo como uma “provocação”.
2013, 8 de Julho A décima ronda negocial entre a RENAMO e o governo termina sem acordo. Em cima da mesa estavam três questões, nomeadamente a preparação de um encontro entre o Presidente Armando Guebuza e o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dlakhama, a desmilitarização da RENAMO e a revisão do pacote eleitoral.
2013, 15 de Julho A décima primeira ronda das negociações entre o maior partido da oposição moçambicano, a RENAMO, e o Governo trouxeram, pela primeira vez, resultados. Relativamente ao pacote eleitoral, poderão ser feitas as mudanças exigidas pelo maior partido da oposição. Os políticos chegaram a um acordo parcial sobre a composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Já quanto à desmilitarização da RENAMO, exigida pelo Governo, permanece o impasse.
2013, 29 de Julho O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, ameaça dividir o país em províncias independentes, caso o governo prossiga com as eleições autárquicas marcadas para novembro de 2013. A realização das eleições autárquicas a 20 de novembro, com os órgãos eleitorais "incompletos", constitui um "ato fatal para a democracia multipartidária" em Moçambique, avisa Dhlakama. Caso se realizem as eleições autárquicas "vamos dividir o país", afirma Afonso Dhlakama. Diz também que se assiste ao "fim da unidade nacional" com a recusa da FRELIMO em aumentar a representação da sociedade civil nos órgãos eleitorais.
2013, 30 de Julho Afonso Dhlakama, o líder da RENAMO, diz durante a reunião do Conselho Nacional da RENAMO, que caso as negociações com o Governo para resolver a tensão política prevalecente em Moçambique não produzam resultados num prazo de uma semana, poderá "tomar medidas à sua maneira". O governo rejeita o últimato.
2013, 5 de Agosto A décima quatra ronda das negociações entre a RENAMO e o Governo termina, como as duas rondas anteriores, sem resultados concretos.
2013, 6 de Agosto
Termina o prazo para o registro dos partidos que pretendem concorrer às eleições autárquicas de novembro de 2013: a RENAMO fica fora da corrida eleitoral. O maior partido da oposição não se inscreveu. Os seguintes partidos fizeram o registro: FRELIMO, Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), Partido Trabalhista (PT), Partido para Paz, Partido Democracia e Desenvolvimento (PDD), Partido Independente de Moçambique (PIMO), Partido Nacional de Moçambique (PANAMO), Partido de Renovação Nacional (PARENA) e Partido do Progresso Liberal de Moçambique (PPLM), bem como a coligação do Partido Ecologista e do Movimento Patriótico para a Democracia (MPD).
2013, 10 de Agosto Na região de Pandje, na província de Sofala no centro de Moçambique, registra-se um confronto entre a RENAMO e forças do governo. A RENAMO diz ter morto 36 soldados, já o governo fala de uma vítima mortal. O porta-voz do principal partido da oposição, Fernando Mazanga, acusa as forças governamentais de terem lançado o ataque: “um contingente composto por 225 elementos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e da Força de Intervenção Rápida (FIR) atacou a segurança da RENAMO, usando armas de guerra de alto teor bélico”.
2013, 14 de Agosto Novo impasse voltou a registar-se nas negociações entre o Governo moçambicano e a RENAMO. Ao cabo de 16 rondas negociais, o Governo e a Renamo não conseguiram alcançar um acordo com vista a por fim a tensão política no país que tem degenerado em cenas de violência, nos últimos meses.
2013, 15 de Agosto Encerrou a sessão extraordinária do Parlamento de Moçambique. A Assembleia da República foi convocada para apreciar eventuais propostas de revisão do pacote eleitoral saído das negociações entre o Governo e a RENAMO. Aumentam os receios em relação ao eventual desfecho da atual tensão política no país.
2013, 26 de Agosto A décima oitava ronda de negociações entre a RENAMO e o governo terminou – como a décima sétima ronda na semana anterior – sem conclusões.
2013, 2 de Setembro Como as tentativas anteriores, a décima nona ronda de negociações entre a RENAMO e o governo fracassou. A RENAMO pede uma mediação para facilitar as conversas entre as duas partes.
2013, 6 de Setembro O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, responsabilizou a REANMO por ainda não se ter encontrado com o líder do movimento, Afonso Dhlakama, para a resolução da crise política no país. "A delegação do Governo diz que vamos preparar o encontro, a delegação da RENAMO diz não e coloca uma série de coisas, condicionando tal diálogo. Quando posso-me encontrar com ele, o faço sem problemas", afirmou Guebuza.
2013, 11 de Setembro O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, reiterou que só se vai reunir com o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, se a polícia e o exército forem retirados da antiga base central do movimento. "Quero o encontro, urgente, desde que retirem todos os elementos das Forças Armadas de Defesa e Segurança de Moçambique e agentes da Força de Intervenção Rápida que cercam a minha base", disse Dhlakama. "Se não retirarem estes militares, jamais sairei daqui para uma reunião com Guebuza. Os militares que cercam a minha base não vieram para festejar comigo. Querem eliminar-me fisicamente. E, para evitar que isso aconteça, não abandonarei esta base".
2013, 7 de Outubro Depois de mais um encontro regular às segundas-feiras, a RENAMO anunciou a suspensão das negociações com o Governo e exigiu a participação de facilitadores nacionais e observadores internacionais. "Não vamos romper o diálogo, estamos prontos para estar aqui todas as segundas-feiras para trabalhar, mas, perante a falta de consenso, as próximas rondas não vão iniciar sem a presença de facilitadores nacionais e observadores internacionais", disse o chefe da delegação da principal força política da oposição moçambicana, Saimon Macuiane, que é também deputado da RENAMO na Assembleia da República. Por seu turno, o chefe da delegação do Governo, José Pacheco, rejeitou a exigência da RENAMO. "Até este momento, ainda não há razões bastantes para recorrermos a terceiros para resolvermos as questões levantadas pela RENAMO para estas negociações. O que nós achamos é que a delegação da Renamo não se sente com qualidade suficiente para debater estes assuntos, mas nós reiteramos que ela é soberana para contratar quem quiser para esta assessoria", disse Pacheco. Falhou o encontro paralelo dos militares por ausência da delegação militar da RENAMO. Saimon Macuiane apontou dificuldades financeiras do seu partido como razão para os militares da Renamo não se terem deslocado de Santundgira para Maputo. É na localidade de Santundgira nas proximidades do Parque da Gorongosa, província de Sofala no centro do país, que fica a base central do movimento.
2013, 14 de Outubro A RENAMO volta para trás e senta-se de novo na mesa das negociações com o Governo de Moçambique. O encontro termina, como já é o costume, sem resultados palpáveis.
2013, 17 de Outubro Ataques armados marcaram o primeiro aniversário de Afonso Dhlakama na sua base em Satunjira, Gorongosa. Segundo o Ministério da Defesa Nacional de Moçambique as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) mataram dois homens armados da RENAMO em resposta a uma "emboscada". O diretor Nacional de Política de Defesa no Ministério da Defesa, Cristóvão Chume, disse que as mortes aconteceram no distrito de Gorongosa, centro de Moçambique, quando elementos armados da RENAMO atacaram militares que faziam um trabalho de rotina na área. "Na zona de Mucodza, distrito de Gorongosa, uma subunidade das FADM, que realizava a sua atividade normal de trânsito, proveniente de Casa Banana em direção à Vila de Gorongosa, a cerca de sete quilómetros desta vila, sofreu uma emboscada e, em resposta, abateu dois homens da guerrilha da RENAMO, capturou um e apreendeu duas armas", disse Cristóvão Chume.
2013, 21 de Outubro Forças governamentais cercaram e tomaram a base da RENAMO na Gorongosa. Logo a seguir, a RENAMO, anunciou o fim do Acordo de Paz de 1992. “A atitude irresponsável do comandante e chefe das forças de segurança coloca um termo ao Acordo de Paz de Roma”, declarou o porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga, numa crítica direta ao Presidente Armando Guebuza. Segundo a RENAMO, o exército moçambicano tomou a residência de Afonso Dhlakama, obrigando-o a abandonar a casa. Dhlakama fugiu de "boa saúde", acrescentou o porta-voz. O controlo da antiga base rebelde pelos militares moçambicanos, também foi confirmado pelo Ministério da Defesa de Moçambique. Autoria Marta Barroso / Leonel Matias / Reuters / LUSA Edição Helena Ferro de Gouveia / Johannes Beck © Deutsche Welle Leia o artigo na íntegra aqui: http://www.dw.de/momentos-de-instabilidade-política-emmoçambique-uma-cronologia/a-16912568