Quinta-Feira, 23 de Fevereiro de 2012
Arquivo dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua As melhores imagens da sua História
D. Branca Martinho -Sócia Honorária dos Bombeiros da Régua “Não basta interpretar o mundo, nem sequer transformá-lo; antes de começarmos pelo mundo, devemos começar por nós”
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obre a notoriedade de D. Branca Martinho escreveu Bandeira de Toro, na monografia O Concelho do Peso da Régua, editada em 1946, as palavras seguintes: “O vosso nome (…) perpetuado em obras de assistência, nas instituições religiosas e de caridade, impôs-se à consideração e veneração da sociedade reguense. E justo foi o descerramento do vosso retrato na galeria honorífica da Corporação dos Bombeiros Voluntários e que, quanto mais não seja, ficará ali presente in aeternum, como símbolo dos vossos benefícios.” Aquele seu retrato continua a brilhar desde 1923, primeiro no Quartel que ficava numa velha casa da Rua dos Camilos e, actualmente, está exposto na galeria dos benfeitores do Museu dos Bombeiros da Régua, baptizado com o nome de Museu João de Araújo Correia, ao lado de outras ilustres figuras da sociedade reguense como Dr. Antão de Carvalho e sua irmã Zélia de Carvalho, Dr. Júlio Vilela, Jaime Guedes, Cândida Braz Fernandes e Teófilo Clemente. Branca Martinho manteve uma rela-
José Alfredo Almeida ção de verdadeira veneração com a Corporação dos Bombeiros da Régua que conheceu desde tenra idade pela experiência do seu pai, Bernardo Lopes Vasques Osório que, ao lado do Comandante Manuel Maria de Magalhães e outros generosos cidadãos, fez parte da Comissão Instaladora e foi um dos que, em 28 Novembro de 1880, fundaram a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua, com fim principal de deter um corpo de bombeiros voluntários. Bernardo Lopes Vasques Osório, nascido em Ourense, na Galiza, foi um dos muito galegos que, com os vareiros de Ovar, nos finais do século XVIII, se estabeleceram na Régua, uns para trabalhar na vinha e outros fazer negócios. Os vareiros trouxeram o sal e o peixe para vender. Os galegos saibraram os montes abandonados depois da filoxera, plantaram vinhas novas e fixaram-se, com as suas novas famílias, no ramo do comércio, abrindo lojas e tabernas. Aos vareiros e galegos, como a família de Vasques Osório, a Régua comercial, de hoje, muito lhes deve. Os novos empreendedores
não vieram para apenas trabalhar e fazer fortunas, ao criarem laços com a comunidade souberam ser solidários e humanistas. O pai de Branca Martinho testemunha o exemplo de cidadania dos nossos povoadores antepassados que estiveram nas origens da associação humanitária dos bombeiros da Régua. O fim principal foi o de servir a população reguense, zelar pela sua segurança de vidas e bens e proporcionar-lhe a satisfação de necessidades de índole recreativa e cultural. Com a sua ajuda do sangue galego e vareiro, os bombeiros da Régua foram a primeira força de protecção civil e socorro a ser constituída a no distrito de Vila Real. Nos finais dos anos 20, a Branca Martinho reforçou ainda mais os laços aos bombeiros da Régua quando o seu marido Artur Gonçalves Martinho passou a presidir à Direcção da Associação. A sua ajuda passou a ser permanente e mais intensa, procurando por todos os meios auxílios na sociedade para que os bombeiros não tivessem que encerrar as portas do seu Quartel. A generosidade da viúva Vilela, vareira de sangue, e do portuense Jaime de Sousa, mais tarde designado Comandante Honorário, revelaram-se essenciais Foram estes dois empresários que valeram aos bombeiros quando precisaram de ajuda: a empreendedora do ramo dos transportes de aquilaria proporcionou gratuitamente uma casa para instalarem o Quartel e o empresário do Porto presenteou-os com um pronto-socorro, novo em folha, de marca Buick. Hoje aquele carro não está no serviço activo, é uma admirável relíquia que ainda sai à rua nos dias festivos para mostrar a sua elegância conservada no cromados e no seu vermelho reluzente D. Branca Martinho foi uma grande benemérita dos bombeiros da Régua. À sua maneira, seguiu o exemplo o exemplo da D. Antónia Adelaide Ferreira, a primeira sócia contribuinte, e de muitas outras senhoras que prestaram auxilio e devoção à missão humanitária
bombeiros. Era comum afirmar que “queria fazer algo por esta Briosa Corporação, e só um pequeno átomo que lhe consagro, faço-o por dever e devoção”. Por devoção, fez muito pelos bombeiros e pela causa do puro voluntariado. Não podemos esquecer que, a partir de certa altura, os bombeiros precisaram de dinheiro para garantir prontidão e qualidade nas suas missões de socorro. Quando faltavam subsídios, a benemérita incumbiu-se de encenar e levar ao palco peças de teatro amador com o grupo As Andorinhas. Os espectáculos agradaram ao público e garantiram as receitas que os bombeiros necessitavam para resolver dificuldades. Não realizou só esse trabalho, quando os bombeiros precisaram de uma nova ambulância para o transporte dos doentes, como aconteceu nos inícios dos anos 60, ela escrevia nos jornais veementes pedidos a entusiasmar a contribuição solidária da população. O carinho que Branca Martinho sempre dedicou aos bombeiros está explícito do num seu pensamento, quando disse que associação era a “… mais simpática que existe, e só quem já precisou dos seus sacrifícios levados ao heroísmo poderá avaliar a nobreza da sua missão e o Bem que ela faz sobre a humanidade…” Os bombeiros da Régua reconheceram a sua dedicação, a direcção presidida o Dr. Júlio Vilela, advogado de prestígio e um humanista de sublime sensibilidade cívica, nas cerimónias do 75º aniversário da Associação, em 28 de Novembro de 1955, distinguiu-a como benemérita, entregando-lhe o título de Sócia Honorária. Mais tarde, D. Branca Martinho agradeceu a distinção, aquele genuíno de acto de gratidão, por escrito numa carta eivada de sentimentos de ternura e orgulho pela causa dos bombeiros da sua terra, que encontramos esquecida no arquivo e aqui se revela na íntegra: “Exmo Senhor Dr. Júlio Vilela Digmo Presidente da Associação
SEMANÁRIO INDEPENDENTE DEFENSOR DO ALTO DOURO
dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua Faltaria a meu dever dos mais sagrados se não viesse agradecer ao meu caro amigo, e em si, a toda a Exma Direcção e Corpo Activo, o diploma e a medalha de sócia honorária dessa briosa Corporação, aliás, sem merecimento algum da minha parte. Fiquei confundida com a lembrança e ao abraça-lo quis ainda dizer que em si abraçava todos os membros dessa Associação, mas não o pode fazer tal a comoção que de mim se apoderou. A festa da comemoração foi fluida e grandiosa na sua simplicidade e a compreensão do nosso povo ajudou a torna-la maior e mais bonita! Vi, passar num encanto mágico, os capacetes doirados pelas ruas da nossa vila; vi mão de crianças e de uma mulher cobrilhe de flores. Lembravam estrelas a fulgir em noites quentes de estio. Não passará jamais das nossas almas o esplendor deste grandioso dia de festa. Desde nova tenho acompanhado esta corporação com carinho, a quem me ligam laços de viva simpatia e admiração. Por isso quero apresentar-lhe com os mais comovidos agradecimentos as minhas calorosas felicitações pela forma simples e elegante como tudo decorreu. Engastaram V. Excias não sem sacrifício e esforço mais um belíssimo diamante na coroa de louros que souberam conquistar pelo denodo e valentia com que servem a humanidade. Pedirei a Deus para que esta Associação singre pela vida fora, servida sempre por homens de acção e de mérito como V. Excia. São os votos sinceros da Branca V. Martinho Régua 6-12-1955”
(Continua no próximo número)
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