O URBANISMO SUSTENTÁVEL
NO EIXO ANA ROSA - ACLIMAÇÃO EM SÃO PAULO
GABRIELA BASTOS PORSANI
Gabriela Bastos Porsani
O U R B A N I S M O S U ST E N TÁV E L NO EIXO ANA ROSA - ACLIMAÇÃO EM SÃO PAULO
Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientação: Profª. Drª. Gilda Collet Bruna. São Paulo, Junho de 2017.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________ Profª. Drª. Gilda Collet Bruna - Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________ Profª. Drª. Paula Raquel da Rocha Jorge Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________ Prof. Me. Thiago Azzi Collet e Silva Universidade Cidade de São Paulo
AGRADEÇO,
primeiramente, à minha família, pais e irmão, que estiveram ao meu lado durante esses seis anos de faculdade, sendo um deles no exterior, e que mostraram o verdadeiro significado de amor incondicional, me ajudando e apoiando sempre que precisei para conseguir realizar os meus sonhos. Em especial, agradeço à minha mãe que, com a sua sabedoria milenar de arquiteta, soube me amparar, tranquilizar e orientar em todos os instantes que pedi por sua ajuda ou até mesmo naqueles em que não dizia nada, mas ela sentia que eu precisava de um apoio moral e intelectual. Mama, essa vitória também é sua! Aos inesquecíveis amigos que estudaram comigo e foram igualmente batalhadores e dedicados em todo o período da faculdade e, com certeza, tornaram-se ótimos profissionais pela ética e dedicação que sempre apresentaram. Aos meus amigos de infância que compreenderam as minhas ausências e me incentivaram a manter a máxima dedicação para o fechamento desse ciclo. Ao meu orientador de projeto, Prof. Dr. José Luiz Tabith Júnior, por não medir esforços em compartilhar seus conhecimentos, pelas críticas construtivas e paciência indescritível, e por acreditar em meu potencial. E, finalmente, agradeço à minha orientadora de monografia, Profª. Drª. Gilda Collet Bruna, que sempre esteve disposta a me auxiliar e apoiar em todas as minhas decisões, fazendo comentários sérios e pertinentes. E que, principalmente, a cada atendimento, me transmitia boas energias e muita confiança para seguir em frente rumo à graduação e à vida como Arquiteta e Urbanista.
R
ESUMO
Este trabalho trata dos parâmetros do Urbanismo Sustentável e tem como objetivo aplicar as diretrizes desse tipo de urbanismo em uma área consolidada da cidade de São Paulo. Primeiro, foi identificada uma área e analisado o contexto atual e o recorte de estudo. Desse modo, a proposta se apoia em um Plano de Estruturação Urbana para o Eixo Ana Rosa – Aclimação, tratando de um projeto para um Centro Esportivo, levando em conta as diretrizes do Urbanismo Sustentável.
Palavras Chaves: Urbanismo Sustentável, Requalificação, Densidade, Eixo Urbano, Reestruturação Urbana, Distrito de Vila Mariana.
A
BSTRACT
This research discusses the parameters of the Sustainable Urbanism and aims to apply the guidelines of this type of urbanism in a consolidated area in the city of São Paulo, Brazil. First of all, an area was identified and analyzed its current context and determined its study cutout. Therefore, the proposal is based on an Urban Structural Plan for the Axis Ana Rosa - Aclimação and a project of a Sports Center, taking into consideration the guidelines of the Sustainable Urbanism.
Key Words: Sustainable Urbanism, Requalification, Density, Urban Axis, Urban Restructuring, Vila Mariana District of São Paulo.
ÍNDICE DE IMAGENS
Imagem 1: Mapa parcial histórico e demográfico da cidade de São Paulo, 1905. Imagem 2: Último bonde à vapor correu em 7 de julho de 1913. Imagem 3: Mapa: Área Urbanizada segundo Período de Expansão 1881/2002. Imagem 4: Planta parcial da cidade de São Paulo (1924). Imagem 5: Planta parcial da cidade de São Paulo (1951). Imagem 6: Mapa parcial de Regiões, Subprefeituras e Distritos, 2014. Imagem 7: Mapa de Taxas de Crescimento Populacional Anual. Imagem 8: Mapa de Densidade Demográfica. Imagem 9: Mapa parcial de Zoneamento da Subprefeitura da Vila Mariana. Imagem 10: Diretrizes para a ZEU. Imagem 11: Rua Machado de Assis, exemplificando a ZM. Imagem 12: Rua Vergueiro, representando a ZEU. Imagem 13: Mapa de equipamentos urbanos. Imagem 14: Foto da Cinemateca Brasileira. Imagem 15: Mapa parcial da Rede Estrutural de Transporte Público do distrito de Vila Mariana. Imagem 16: Mapa: Eixos de Estruturação da Transformação Urbana. Imagem 17: Vista aérea do Eixo Ana Rosa-Aclimação adaptada pela autora. Imagens 18 e 19: Exemplo de um projeto urbano inteligente voltado ao pedestre: Plano de Revitalização da cidade de Normal, Estado de Illinois, EUA, por Hoerr Schaudt. Imagem 20: Diagrama criado por Andrés Duany e Elizabeth Plater-Zyberk representando a ocupação dispersa (parte superior do desenho) frente ao modelo tradicional retomado pelo Novo Urbanismo, 1980. Imagem 21: Exemplo de representação do transecto urbano-rural de Duany Plater-Zyberk & Company, 2003. Imagem 22: Código Inteligente. Imagem 23: Mapa de empregos formais. Imagem 24: Diagrama ilustrativo para propostas nos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana.
Imagem 25: Vista aérea do Parque da Aclimação. Imagem 26: Imagem ilustrativa do projeto do corredor verde na Avenida 23 de Maio. Imagem 27: Praça Rosa Alves da Silva. Imagem 28: Praça do Povo Húngaro. Imagem 29: Quadra esportiva do Parque da Aclimação. Imagem 30: Vista aérea do elemento principal do Plano de Revitalização em Normal: a rotunda. Imagem 31: Masterplan do Plano de Revitalização de Normal. Imagem 32: Saída de água limpa desde a filtragem com UV para os círculos internos da rotunda. Imagem 33: Diagrama de funcionamento da gestão de águas pluviais. Imagem 34: Corte da rotunda sem escala. Imagem 35: Esquema de funcionamento do sistema Silva Cell. Imagem 36: Finalização da instalação do sistema Silva Cell. Imagem 37: Calçada finalizada com vegetação em cima do sistema Silva Cell. Imagem 38: Outra solução para a evasão de água desde a filtragem pela vegetação rumo à filtragem por UV. Imagem 39: Integração social no elemento principal do Plano de Revitalização da cidade de Normal. Imagem 40: Eco machine no Instituto Omega para Vida Sustentável, Nova Iorque, EUA. Imagem 41: Vista aérea da Praça Victor Civita. Imagem 42: Implantação do projeto da Praça Victor Civita com o programa especificado. Imagem 43: Deck de madeira certificada sobre estrutura metálica reciclada suspensa a um metro do solo. Imagem 44: Corte sem escala do deck de madeira elevado do solo. Imagem 45: Área sem plantio à direita, onde notam-se as placas de ardósia com o tubos preenchidos com fibra de coco para a irrigação. Imagem 46: Ciclo da água no sistema Tec Garden. Imagem 48: Os jardins de permacultura estão localizados próximos à Oficina das Crianças da ONG Verde Escola (edifício à direita da foto).
Imagem 49: Exemplo de plantio hidropônico. Percebe-se os canos de irrigação pretos fixados nas barras horizontais de suporte dos vasos. Imagem 50: Vista da wetland ao lado do antigo incinerador. Imagem 51: Exemplo de um dos banners informativos presentes na Praça Victor Civita. Imagem 52: Vista noturna da Praça Victor Civita com o Museu da Sustentabilidade ao fundo. Imagem 53: Proposta de qualificação das infraestruturas relacionadas ao espaço público. Imagem 54: Processo de implantação dos três pontos centrais dos bairros sustentáveis segundo a EcoDistricts. Imagem 55: Diretrizes gerais da EcoDistricts. Imagem 56: Corte ilustrativo do Eixo Ana Rosa - Aclimação. Imagem 57: Plano de Reestruturação Urbana do Eixo Ana Rosa - Aclimação. Imagem 58: Transectos urbanos de A a D. Imagem 59: Vista aérea dos lotes no começo do Eixo Ana Rosa - Aclimação. Imagem 60: Diagrama de setorização do programa. Imagem 61: Diagrama de fluxos públicos. Imagem 62: Croqui de situação do projeto em relação ao entorno. Imagem 63: Corte esquemático de entendimento do programa do bloco A. Imagem 64: Diagrama que indica a concentração da infraestrutura dos blocos A e B, composta por circulação vertical, salas de apoio e sanitários/vestiários. Imagem 65: Corte esquemático de entendimento do programa do bloco B. Imagem 66: Corte esquemático de entendimento estrutural dos blocos A e B. Imagem 67: Diagrama de proteção solar (chapas perfuradas + beirais). Imagem 68: Diagrama de área verde. Imagem 69 e 70: Piso permeável antes do preenchimento com grama e seixos. Imagem 71: Croqui desde à praça central do Bloco A com vista para o Bloco B. Imagem 72: Perspectiva aérea dos blocos A e B.
Imagem 73: Planta Nível 0.00 - Térreo. Imagem 74: Planta Nível +6.00. Imagem 75: Planta Nível +12.00. Imagem 76: Planta Nível +18.00. Imagem 77: Planta Nível +24.00. Imagem 78: Corte CC. Imagem 79: Perspectiva externa com vista para a praça central do bloco A. Imagem 80: Planta Nível -4.00. Imagem 81: Planta Nível -7.00. Imagem 82: Planta Nível -10.30. Imagem 83: Detalhe arquitetônico 1:100. Imagem 84: Perspectiva interna da quadra poliesportiva. Imagem 85: Corte AA. Imagem 86: Corte BB. Imagem 87: Perspectiva interna da piscina semi-olímpica. Imagem 88: Elevação Oeste. Imagem 89: Elevação Sul. Imagem 90: Elevação Leste. Imagem 91: Elevação Norte. Imagem 92: Perspectiva externa desde à Rua Vergueiro.
S
UMÁRIO
1. Introdução 2. O distrito de Vila Mariana
Os últimos trinta anos O recorte de estudo
3.
O olhar do Urbanismo Sustentável Os precursores do Urbanismo Sustentável Definições de bairros e distritos Parâmetros e estudos de caso Densidade Corredores de Sustentabilidade Biofilia Plano de Revitalização de Normal, Illinois, EUA, 2010 Praça Victor Civita, São Paulo, 2008 Edificações e Infraestrutura de Alto Desempenho Bairros Sustentáveis
4.
17 21 31 42 47 48 59 60 61 71 76 80 96 108 112
Eixo Ana Rosa - Aclimação O Plano de Reestruturação Urbana O Centro Esportivo
121 124 132
5.
Considerações finais
163
Referências
167
1
INTRODUÇÃO
O interesse em estudar o Urbanismo Sustentável defendido por Douglas Farr (2013), foi o ponto de partida deste trabalho. Para tanto, buscou-se aproximar os conceitos deste modelo urbanístico à uma escala urbana paulistana, por meio de autores brasileiros, como Carlos Leite (2012), Geovany Jessé Alexandre da Silva (2011) e Marta Adriana Bustos Romero (2011). A ideia central de toda a análise é entender como aplicar os conceitos do Urbanismo Sustentável em uma área já consolidada da cidade de São Paulo. Para tanto, buscou-se identificar essa área pela semelhança entre as diretrizes do Plano Diretor Estratégico (PDE, 2014) e àquelas abordadas pelo Urbanismo Sustentável, em questão. Dessa forma, notou-se que os Eixos de Estruturação da Transformação Urbana, propostos pelo PDE em zonas de concentração de transporte público e que precisam de requalificação, apresentam as mesmas semelhanças do Urbanismo Sustentável. Desse modo, escolheu-se um dos pontos dos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana pertencente ao bairro de Vila Mariana. Em vista da compreensão dos processos históricos do bairro de Vila Mariana, o capítulo 1 trata das leituras históricas e atuais do bairro, a partir das quais é feito um recorte de estudo denominado Eixo Ana Rosa - Aclimação, para implantar, posteriormente, os parâmetros do Urbanismo Sustentável.
Já o capítulo 2, por sua vez, apresenta os precursores deste urbanismo, as diferentes definições de distrito e bairro em relação ao contexto norte-americano e segundo o Dicionário de Urbanismo de Celson Ferrari. Neste capítulo, também são expostos todos os cinco parâmetros do Urbanismo Sustentável com embasamento no livro de Douglas Farr, em conjunto com outras bibliografias estrangeiras e brasileiras referenciadas, como também por meio de estudos de caso. Por fim, o capítulo 3 visa propor uma mudança urbana em todo o Eixo Ana Rosa – Aclimação, a partir de um Plano de Reestruturação Urbana, o qual apresenta quatro transectos¹, de modo a aplicar as estratégias abordadas no capítulo anterior. Além do plano urbano, neste capítulo também é apresentado o objeto de projeto: um Centro Esportivo, como modelo de edificação a ser seguido por todo o eixo, mas com a possibilidade de alterações dada às particularidades de cada local.
1 Um transecto é um corte ou caminho que passa por uma parte do meio ambiente, mostrando uma gama de diferentes habitats. Biólogos e ecologistas usam transectos para estudar os muitos elementos simbióticos que contribuem para os habitats, onde determinadas plantas e animais prosperam (TRANSECT, 2017, tradução livre da autora).
2
O DISTRITO DE VILA MARIANA
O objetivo de estudar o nascimento e evolução do distrito de Vila Mariana é entender o processo de melhoria urbana pelo o qual passou. Para tanto, procura-se responder à tais perguntas: desde quando começou-se a investir nessa região e por que houve o interesse por ela? Segundo Levino Ponciano2 (2002) em seu livro: “Bairros paulistanos de A a Z”, em 1782, o bairro de Vila Mariana originou-se a partir de uma sesmaria dada a Lázaro Rodrigues Piques pelo governador Francisco da Cunha Menezes, a qual era limitada pelo ribeirão do Ipiranga de um lado e a estrada do Cursino de outro. Já em 1864, foi aberta a estrada do Vergueiro por José Vergueiro. Esta era a nova estrada para Santos, cuja influência na região foi muito relevante para início do desenvolvimento econômico, uma vez que o acesso ao mar atraía comerciantes e compradores por facilitar o transporte de mercadorias e pessoas. Outra construção que permitiu o avanço financeiro foi a construção da estrada de ferro que partia da Liberdade em direção à Santo Amaro (na época ainda município), entre 1883 e 1886. O engenheiro responsável pela obra foi Alberto Kuhlman, cuja empresa chamava-se Companhia Carris de Ferro de São Paulo a Santo Amaro. Essa ligação por trens à vapor acompanhava ou era sobreposta ao caminho do carro para Santo Amaro já existente, e, como consequência das sobreposições, ocorreu a divisão das chácaras por onde a estrada cruzava.
2 Levino Ponciano é jornalista, ex-repórter de O Estado de S. Paulo, Diário Popular e Diário do Grande ABC. Dentre os livros que escreveu, neste trabalho foi utilizado o “Bairros paulistanos de A a Z” de 2002 (PONCIANO, 2002). 26
Em 1887, houve progresso na região por meio do funcionamento das oficinas de Ferro Carril, na Rua Domingos de Morais, do Matadouro Municipal e da Escola Pública de Dona Maria Petit. Esses estabelecimentos atraíam a população, mas não eram suficientes para impedir que os moradores se deslocassem até o Mercado Municipal de São Paulo para compras (VILLANO, 2003). Com o aumento do número de habitantes, houve a escassez de moradias e, como solução, os empresários de classes média e alta construíram imóveis para alugar, pois viam nos aluguéis um meio de acumulação de capital. Estes mesmos também foram responsáveis por investir no setor terciário da região, o que permitiu que, cada vez mais, os moradores tivessem menos necessidade de se deslocarem para outros bairros (VIEIRA, 2016). A partir do crescimento e desenvolvimento da região, segundo o IBGE (2017), em 1895 foi criado o distrito de Vila Mariana e anexado ao município de São Paulo.
27
Divisão de Distritos Rua Domingos de Morais Rua Vergueiro Imagem 1: Mapa parcial histórico e demográfico da cidade de São Paulo, 1905. Nota-se em vermelho a linha de bonde desde a Rua Domingos de Morais em direção ao bairro da Liberdade; e em verde a indicação de limites de distritos. Fonte: SMDU, 2016, adaptado pela autora. 28
Três anos depois, a Companhia The São Paulo Tramway Light and Power canadense comprou a Companhia Carris de Ferro de São Paulo a Santo Amaro, a qual funcionou até 1913. Em 8 de julho deste mesmo ano, inaugurou-se a primeira linha de bonde elétrico da cidade de São Paulo.
“Os serviços públicos de transporte, energia e telefones eram controlados por uma única companhia – a empresa de capital misto anglocanadense The São Paulo Tramway Light and Power Co., que detinha o monopólio do fornecimento de energia, telefonia e transporte urbano sobre trilhos (o bonde). Esse monopólio simultâneo dos serviços mais essenciais dotara a empresa de um grande poder de gerar valorizações urbanas.” (ROLNIK3, 2013, p. 20)
Imagem 2: Último bonde à vapor correu em 7 de julho de 1913. O primeiro elétrico, em 8 de julho. Fonte: GIESBRECHT, 2013.
A primeira metade do século XX não foi marcada somente pela inovação nos bondes elétricos, mas sim também pelo avanço industrial que a cidade de São Paulo iria adquirir nos próximos anos. No cenário da Primeira Guerra Mundial (1914-8), São Paulo passou por
3 Raquel Rolnik é arquiteta e urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e autora de três livros, sendo que o “Folha Explica: São Paulo” (2013) foi usado como bibliografia para este trabalho (ROLNIK, 2017). 29
um grande crescimento industrial, uma vez que houve o colapso no comércio com as grandes potências internacionais. À vista disso, iniciouse o processo de substituição de importações, direcionado para movimentar o mercado interno a partir da produção nacional de bens de capital e consumo. Como consequências desse desenvolvimento industrial massante, houve o surgimento de um proletariado urbano e um acentuado crescimento demográfico, o qual resultou no acréscimo da demanda por terrenos e moradias (ROLNIK, 2013). Dessa forma, foi neste mesmo período que a capital paulista expandiu-se para todas as direções de forma irregular em cada uma delas. Segundo Petrone4 (1955), a cidade se expandiu de tal forma para o sentido sul que Santo Amaro perdeu a autonomia administrativa, tornando-se um bairro da capital. Para tanto, foram instaladas linhas de bondes, construídas rodovias e represas da
4 Pasquale Petrone é geógrafo, autor e professor no departamento de geografia da USP. Para este trabalho foi utilizado seu texto: “A Cidade de São Paulo no século XX” para a Revista História da USP de 1955 (MAMIGANIAN; MACHADO; BUSS; PEREIRA, 1993). 30
Light, com a finalidade de atrair habitantes de classe média e indústrias, aumentando a influência paulistana em mais de 15 km de raio. Como representado no mapa ao lado (imagem 3) e de acordo com o que foi abordado anteriormente, a urbanização da Vila Mariana no eixo da Rua Domingos de Morais com a Rua Vergueiro ocorreu de 1882 a 1914, período em que implantou-se a linha férrea. De 1915 a 1929, o crescimento na região aconteceu, em sua maioria, à oeste do eixo ferroviário. Segundo Rolnik, a partir dos anos 30, mudou-se o padrão de “crescimento da cidade, marcada pela substituição dos transporte sobre trilhos (trens, bondes), pelo transporte sobre rodas (ônibus, carros) (...)”, (2013, p. 42) e, por conseguinte, foi possível adentrar as outras áreas da cidade. Portanto, de 1930 a 1949, ocorreu a urbanização sentido leste do bairro, uma vez que tornou-se viável acessar essa zona de topografia acidentada. Assim sendo, o distrito de Vila Mariana acompanhou essas transformações urbanas e, na segunda metade do século XX, já apresentava ruas e lotes bem definidos de uso majoritariamente residencial.
Distritos Parques Referências urbanas Corpos d’água Limite da área de proteção dos mananciais Eixo de projeto Local de projeto Períodos Até 1881
De 1963 a 1974
De 1882 a 1914
De 1975 a 1985
De 1915 a 1929
De 1986 a 1992
De 1930 a 1949
De 1993 a 2002
De 1950 a 1962
Imagem 3: Mapa: Área Urbanizada segundo Período de Expansão 1881/2002. Fonte: INFOCIDADE, 2016, adaptado pela autora. 31
Imagem 4: Planta parcial da cidade de SĂŁo Paulo (1924). Fonte: SMDU, 2016, adaptado pela autora. Rua Vergueiro Eixo de projeto Local de projeto
32
Imagem 5: Planta parcial da cidade de São Paulo (1951). Observa-se o avanço da urbanização da área por meio de ruas bem definidas tanto à leste quanto ao oeste da Rua Vergueiro. Fonte: SMDU, 2016, adaptado pela autora. Rua Vergueiro Eixo de projeto Local de projeto
33
Para concluir, verificou-se que a origem e urbanização da Vila Mariana, deu-se, primeiramente, pelo loteamento de chácaras na região juntamente à implantação da linha férrea, visto que essa construção permitiu a chegada e saída de pessoas e mercadorias desde a Liberdade rumo ao interior ou em direção ao litoral santista. A área urbana iniciou sua ampliação a partir da década de 70 do século XIX, por meio de loteamentos de chácaras ao redor do núcleo central. Além disso, também no final do século XIX, surgiram núcleos urbanos mais simples, que seguiam os eixos viários, como por exemplo: Liberdade e Vila Mariana em direção à Santo Amaro (EMPLASA, 2001). Em segundo lugar, os imigrantes europeus foram essenciais para o estabelecimento de indústrias e comércios locais, pois vivendo na região, eles foram a principal mão de obra, bem como os próprios consumidores.
34
Os últimos trinta anos
O distrito de Vila Mariana, localizado na zona sul da cidade de São Paulo, pertence à Subprefeitura da Vila Mariana e abrange sete bairros: Jardim Aurélia, Jardim da Glória, Jardim Glória, Jardim Vila Mariana, Paraíso, Vila Clementino e Vila Mariana. Dada a sua localização próxima ao centro do município, este está margeado por três distritos da região central: Bela Vista, Liberdade e Cambuci, como também por quatro da região sul: Moema, Saúde, Cursino e Ipiranga, e por apenas um no sentido oeste: Jardim Paulista (ver imagem 6). A delimitação do distrito de Vila Mariana ocorre por meio de dezessete vias, sendo que as principais são: Avenida Paulista ao norte; Avenida Doutor Ricardo Jafet à leste; Rua Loefgreen ao sul e à oeste Avenida Rubem Berta, Avenida Ibirapuera e Avenida Brigadeiro Luís Antônio (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2017).
1 2
8
7
3
VILA MARIANA
6
4
5
Distritos 1 - Bela Vista 2 - Liberdade 3 - Cambuci 4 - Ipiranga 5 - Cursino 6 - Saúde 7 - Moema 8 - Jardim Paulista
Subprefeitura Vila Mariana Zona Central Zona Sul Zona Oeste
Imagem 6: Mapa parcial de Regiões, Subprefeituras e Distritos, 2014. Fonte: INFOCIDADE, 2016, adaptado pela autora. 35
De acordo com informações da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU, 2016), durante os anos 80 a cidade de São Paulo apresentou saldos migratórios negativos devido à dois fatores. O primeiro está relacionado ao processo de desconcentração industrial, o qual orientou parte de suas indústrias para outras regiões do Estado de São Paulo e do país, a partir da década de 1970. Por outro lado, o segundo refere-se à modernização tecnológica e administrativa, pela qual houve a diminuição de empregos do setor secundário da economia. No entanto, apesar do êxodo demográfico, houve o crescimento urbano da cidade por meio da expansão das áreas periféricas, incluindo as zonas de proteção a mananciais e aos munícipios da região metropolitana. Devido à esse modelo de urbanização paulistano no final do século XX, toda a região central, juntamente ao centro expandido, sofreram um esvaziamento demográfico, enquanto a periferia chegou a octuplicar seu crescimento populacional anual. Nota-se, a partir dos mapas a seguir e de dados coletados pelo IBGE (2017, ver tabela 1), que o distrito de Vila Mariana de 1980 a 1991 apresentou queda de 0,68% e de 1991 a 2000 de 0,79%. Contudo, após 2000 até 2010, constata-se que houve uma taxa de crescimento de 0,54%, indicando a inversão da urbanização.
População Recenseada, Taxas de Crescimento Populacional e Densidade Demográfica. Município de São Paulo, Subprefeituras e Distritos Municipais. 1980, 1991, 2000 e 2010.
Tabela 1: População Recenseada, Taxas de Crescimento Populacional e Densidade Demográfica. Fonte: INFOCIDADE, 2017, adaptado pela autora. 36
1980 a 1991
Centro expandido Distritos
1991 a 2000
2000 a 2010
Taxas (%) AtĂŠ -3,95
De 0,01 a 1,00
De -1,99 a -1,00
De 1,01 a 3,00
De -0,99 a -0,50
De 3,01 a 8,00
De -0,49 a 0,00
8,01 ou mais
Imagem 7: Mapa de Taxas de Crescimento Populacional Anual. Fonte: INFOCIDADE, 2016, adaptado pela autora. 37
Dessa forma, a perda populacional, durante as últimas duas décadas do século XX, refletiu na diminuição da densidade demográfica de toda a região. De 1980 a 2000, houve a redução da densidade de 22,74 hab/ha, uma vez que na década de 1980 apresentava 166,54 hab/ha e vinte anos depois 143,82 hab/ha. Entretanto, em 2010, o distrito já comportava 151,73 hab/ha. Atualmente, observa-se no mapa abaixo que são poucos os pontos de alta densidade dentro do distrito, sendo, inclusive, relevante perceber que o eixo da Rua Vergueiro é majoritariamente de baixa densidade demográfica, dado à grande quantidade de comércios e serviços.
Legenda hab/ha até 92 92 - 146 146 - 207 207 - 351 351 - 30346 Eixo de projeto Local de projeto Rua Vergueiro Imagem 8: Mapa de Densidade Demográfica. Fonte: GEOSAMPA, 2017, adaptado pela autora. 38
A partir do mapa a seguir (ver imagem 9), do Zoneamento do Plano Diretor da Cidade de São Paulo (PDE Lei 16.402/16, 2016) do distrito de Vila Mariana, observa-se a predominância da Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana (ZEU) e, em segundo lugar, a Zona Mista (ZM), entre outras zonas5. A primeira, de acordo com o Zoneamento Ilustrado da Prefeitura de São Paulo, foi determinada em eixos onde há grande oferta de transporte público coletivo, a fim de “potencializar o aproveitamento do solo nestas zonas, diminuir o tempo e a distância dos deslocamentos, permitir que mais pessoas morem e trabalhem nesses locais e favorecer a relação das pessoas com a cidade” (GESTÃO URBANA, 2017, p. 24). A imagem 10 resume o objetivo dos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana por meio dos principais pontos a serem levados em consideração, entre eles: fachada ativa; fruição pública; alto coeficiente de aproveitamento; ocupação de áreas operacionais do sistema de transporte público e ampliação de calçadas.
5 Zona de Centralidade (ZC): destinada para localização de atividades típicas de áreas centrais ou centros de bairro, coexistindo usos residenciais e não residenciais. Zona Predominantemente Residencial (ZPR): destinada para usos residenciais e não residenciais, desde que suas atividades sejam compatíveis com usos residenciais. Zona Exclusivamente Residencial (ZER-1): destinada, apenas, para usos residenciais de baixa densidade construtiva e demográfica. Zona de Ocupação Especial (ZOE): destinada para usos específicos, com características únicas na cidade. Zona Especial de Proteção Ambiental (ZEPAM): destinada à proteção de áreas que prestam serviços ambientais. Zona Especial de Interesse Social (ZEIS-1): destinada, predominantemente, à moradia digna para população de baixa renda, onde haja interesse público em manter a população moradora e promover a regularização fundiária e urbanística, recuperação ambiental e produção de Habitação de Interesse Social; Zonas Eixo de Estruturação da Transformação Urbana (ZEUP): zonas inseridas na Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana definida do PDE cujo decreto ativador do eixo ainda não foi publicado. Zona Corredor 1 (ZCOR-1): trechos de vias destinados à diversificação de usos de forma compatível à vizinhança residencial. Zona Corredor 3 (ZCOR-3): trechos junto a vias que estabelecem conexões de escala regional, destinados à diversificação de usos de forma compatível à vizinhança residencial e à conformação de subcentro regional. (PDE, 2014, p. 58, e Gestão Urbana SP, 2017) 39
Imagem 9: Mapa parcial de Zoneamento da Subprefeitura da Vila Mariana. Fonte: GESTÃO URBANA, 2017, adaptado pela autora.
ZEU
ZEIS-1
ZEUa
ZEIS-2
ZEUP
ZEIS-3
ZEUPa
ZEIS-4
ZEM
ZEIS-5
ZEMP
ZDE-1
ZC
ZDE-2
ZCa
ZPI-1
ZC-ZEIS
ZPI-2
ZCOR-1
ZOE
ZCOR-2
ZPR
ZCOR-3
ZER-1
ZCORa
ZER-2
ZM
ZERa
ZMa
ZPDS
ZMIS ZMISa
ZPDSr
Eixo de projeto Local de projeto
ZEPAM ZEP
Por outro lado, a ZM refere-se à áreas destinadas a usos residenciais, majoritariamente, e não residenciais com densidades construtiva e demográfica baixas e médias e que localizam-se na Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana. A zona mista apresenta como principal característica a viabilização de diversos usos, sendo uma zona que propõe a preservação da morfologia urbana existente com novos usos, sem excessiva transformação (GESTÃO URBANA, 2017). 40
Imagem 10: Diretrizes para a ZEU. Fonte: PDE, 2014, p. 68.
Imagem 11: Rua Machado de Assis, exemplificando a ZM. Foto da autora, 2016. 41
Imagem 12: Rua Vergueiro, representando a ZEU. Foto da autora, 2017. 42
Além do distrito de Vila Mariana contar com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o Instituto Biológico, os colégios tradicionais como Liceu Pasteur e Arquidiocesano, Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e com a Escola de Belas Artes, há uma série de escolas públicas e privadas existentes na área de estudo.
“No bairro, os dados sobre educação são gritantes sobre seu desenvolvimento. Quase 80% dos moradores completaram o Ensino Fundamental, contra 49,9% do município. O Ensino Médio foi concluído por 71,34% da população, bem superior aos 33,68% da média municipal, e os anos de estudo chegam a 12,30. Em toda São Paulo, esse número pára em 7,67. Não à toa, a taxa de analfabetismo é reduzida, atingindo 1,10%, quatro vezes menor que os 4,88% da cidade.” (PREFEITURA REGIONAL VILA MARIANA, 2016)
O distrito de Vila Mariana apresenta bons equipamentos relacionados à saúde, cultura e esportes e lazer. Dentre os diversos hospitais, há o Santa Rita, o Santa Cruz, o Israelita, o Hospital São Paulo e a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). No que diz respeito à cultura, há equipamentos referentes ao teatro como: a Escola Incenna e a Oficina dos Menestreis, à bibliotecas: a Biblioteca Municipal Viriato Correa, a Biblioteca Infantil Multilingue, o Espaço de Leitura Zalina Rolim e a Biblioteca Chácara do Castelo; à museus, com destaque para o Museu Lasar Segall e a Casa Modernista; entre outros espaços culturais, incluindo dois mais relevantes: o SESC Vila Mariana e a Cinemateca Brasileira. Já em relação à esportes e lazer, além do SESC Vila Mariana, há também o Esporte Club Vila Mariana. Ao analisar o mapa a seguir, nota-se que não há a presença de muitos equipamentos públicos à leste da Rua Vergueiro, zona esta majoritariamente residencial.
43
Em vista da mobilidade urbana (ver imagem 15), pode-se afirmar que a região apresenta fácil ingresso desde a linha 1 – azul do metrô, pela qual pode-se acessar a linha 2 – verde – por meio das estações Paraíso e Ana Rosa. Ademais, há linhas de ônibus provenientes de diversas direções da cidade que passam por essa zona, os quais estacionam no Terminal Ana Rosa localizado na Rua Vergueiro, entre elas: a linha 677A/10 desde o Jardim Ângela (zona sul de São Paulo) e a linha 975A/10 referente à Vila Brasilândia (zona norte). Em suma, nota-se que o distrito da Vila Mariana é muito completo em relação à quantidade de meios de transporte e equipamentos públicos culturais, principalmente à oeste da Rua Vergueiro. No entanto, à leste desta via principal, percebe-se o uso residencial majoritário, o que acarreta na falta de equipamentos públicos e comércios relevantes também para essa região.
44
Imagem 13: Mapa de equipamentos urbanos. Fonte: GEOSAMPA, 2016, adaptado pela autora. Equipamentos notáveis
Cultura
Esportes e lazer
Educação Eixo de projeto Local de projeto
Hospitais
Imagem 14: Foto da Cinemateca Brasileira. Fonte: AGÊNCIA BRASIL, 2016.
Rede cicloviária Faixa exclusiva Corredor de ônibus Estação de metrô Terminal Ana Rosa Eixo de projeto Local de projeto Imagem 15: Mapa parcial da Rede Estrutural de Transporte Público do distrito de Vila Mariana. Fonte: GEOSAMPA, 2016, adaptado pela autora. 45
O recorte de estudo
Segundo Farr, um dos quesitos para se aplicar o Urbanismo Sustentável é a existência de corredores de sustentabilidade, ou seja, aqueles que apresentam boa infraestrutura de transportes públicos e, por consequência, alta demanda por moradias e empregos próximos às estações, a fim de diminuir as distâncias dos deslocamentos pedonais. Este conceito de corredor de sustentabilidade está presente nos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana propostos pelo Plano Diretor Estratégico da Cidade São Paulo (PDE, 2014), os quais são áreas da cidade onde visa-se centralizar o processo de adensamento habitacional e construtivo associado à qualificação do espaço público, bem como “ampliar a oferta de empregos, criando polos de atração entre o centro e a periferia” (PDE, 2014, p. 48). Portanto, devido às semelhanças nas intenções projetuais do PDE com o Urbanismo Sustentável, estudou-se o mapa de Eixos de Estruturação da Transformação Urbana (ao lado) com mais profundidade e descobriu-se que o distrito da Vila Mariana faz parte deste eixo por apresentar a Rua Vergueiro, considerada um corredor por sua grande concentração de metrôs e linhas de ônibus, como também por necessitar mudanças em relação ao desenho das vias, à diversificação de usos e ao aumento da densidade. 46
Imagem 16: Mapa: Eixos de Estruturação da Transformação Urbana. Fonte: PDE, 2014, p. 170, adaptado pela autora. Áreas de influência Corredor de Ônibus Municipal Existente Metrô: Linha existente Metrô: Estação existente Município de São Paulo
Eixo de projeto Local de projeto
Além disso, associadas à esta Rede de Estruturação da Transformação Urbana, há as Áreas de Estruturação Local, as quais estão submetidas à seis objetivos:
“desenvolvimento urbano, especialmente nas áreas de maior vulnerabilidade; fortalecimento das centralidades locais; integração com transporte coletivo; ampliação de áreas verdes; oferta de HIS e regularização fundiária e oferta de equipamentos urbanos e sociais.” (PDE, 2014, p. 90)
Para aplicar os conceitos do Urbanismo Sustentável no distrito de Vila Mariana, criou-se um eixo de intervenção desde a estação de metrô Ana Rosa, por esta apresentar potencial de ligação à um dos eixos de lazer mais significantes para a área: aquele que leva ao Parque da Aclimação. Dessa forma, este eixo parte da Rua Vergueiro, segue pela pela Rua Machado de Assis até a Rua Pedra Azul em direção ao Parque da Aclimação e chama-se Eixo Ana Rosa – Aclimação.
Imagem 17: Vista aérea do Eixo Ana Rosa-Aclimação. Fonte: GOOGLE EARTH PRO, 2017, adaptado pela autora. 47
48
3
O OLHAR DO URBANISMO SUSTENTÁVEL
“A criação da moderna Cidade Compacta exige a rejeição do modelo de desenvolvimento monofuncional e a predominância do automóvel. A questão é como pensar e planejar cidades, onde as comunidades prosperem e a mobilidade aumente, como buscar a mobilidade do cidadão sem permitir a destruição da vida comunitária pelo automóvel, além de como intensificar o uso de sistemas eficientes de transporte e reequilibrar o uso de nossas ruas em favor do pedestre e da comunidade.” (ROGERS, 2012, p. 38)
52
A cidade sustentável difere-se da cidade racionalista do início do século XX, uma vez que defende as edificações e espaços multifuncionais como propulsores de ambientes com vantagens sociais, econômicas e ambientais. Este modelo apoia a compacidade urbana como configuração espacial, já que o alto adensamento encurta os deslocamentos, aumenta o senso de comunidade e minimiza o uso de automóveis, se for proposto respeitando as condicionantes ambientais de cada lugar (SILVA6, 2011). Este capítulo aborda o Urbanismo Sustentável definido pelo arquiteto e desenhista urbano Douglas Farr, em seu livro “O Urbanismo Sustentável: Desenho Urbano com a Natureza” (2013), analisando suas raízes, seus parâmetros e benefícios para melhorar a qualidade de vida. Para enriquecer e valorizar tais premissas, buscou-se outras referências que apresentassem paradigmas semelhantes e auxiliassem na exposição do tema. No entanto, alguns dos autores estudados trabalham em uma escala maior que a dos bairros sustentáveis retratados por Farr, uma vez que discorrem sobre as cidades compactas, como Richard Rogers7 e Carlos Leite8. Para tanto, utiliza-se de informações sobre as vantagens deste modelo citadino, mas adaptando-as ao ambiente e escala urbana da cidade de São Paulo, por meio de outros autores e estudo de caso brasileiros.
6 Geovany Jessé A. da Silva é Doutor e Pesquisador da FAU/UnB, Mestre em Geografia pela UFMT-MT, Arquiteto e Urbanista pela UFU-MG. Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT (SILVA; ROMERO, 2011). 7 Richard Rogers é um arquiteto italiano, nacionalizado britânico que ganhou o prêmio Pritzker em 2007 pelo conjunto de sua obra, como: um novo terminal do aeroporto de Barajas, Madri, e a Millennium Dome em Londres. (PRITZKER PRIZE, 2017). 8 Carlos Leite é Arquiteto, Mestre (1997) e Doutor (2002) em Estruturas Ambientais Urbanas pela FAU-USP. Possui pós-doutorado pela Universidade Politécnica da Califórnia em Sustainable Urban-Economic Development. (STUCHILEITE, 2017). 53
Os precursores do Urbanismo Sustentável
O Urbanismo Sustentável surgiu a partir de três movimentos de reformas do final do século XX que buscavam desenvolver melhorias entre o espaço natural e o construído, por meio de princípios e projetos inovadores, os quais são: o Crescimento Urbano Inteligente (Smart Growth, 1970), o Congresso para o Novo Urbanismo (CNU, 1993) e o U.S. Green Building Council (USGBC, 1993). O Smart Growth originou-se a partir do movimento ambiental, durante os anos 70 nos Estados Unidos, divulgado por urbanistas como Peter Calthorpe e Andrés Duany, cujos conceitos associavam à uma vida menos vinculada ao automóvel. Leite (2012, p. 159) afirma que, em geral, o Smart Growth converteu-se em um modelo distinto ao espraiamento urbano de baixa densidade nos subúrbios norte-americanos (urban sprawl), “somando ao modo de vida fora das metrópoles um pouco mais de densidade, o mix de usos, Transit Oriented Development (TOD), e, principalmente, walkability”. Este sistema foi implementado com maior convicção pelo presidente da época, Richard Nixon, a partir de uma legislação que até hoje serve como espinha dorsal da política ambiental norteamericana, a qual inclui uma série de leis ambientais 54
como: a da Água Limpa, do Ar Limpo, das Espécies Ameaçadas, da Proteção Ambiental, de Manutenção da Zona Costeira, assim como a criação da Agência de Proteção Ambiental (FARR, 2013). Em 1996, foram definidos os Dez Princípios de Crescimento Urbano Inteligente9, com a finalidade de erradicar as visões dos ambientalistas de que todo crescimento urbano era hostil e impróprio ao meio ambiente e, assim, consolidar o movimento.
9 Os Dez Princípios do Crescimento Urbano Inteligente: 1. Crie uma gama de oportunidades e escolhas de habitação. 2. Crie bairros nos quais se possa caminhar. 3. Estimule a colaboração da comunidade e dos envolvidos. 4. Promova lugares diferentes e interessantes com um forte senso de lugar. 5. Faça decisões de urbanização previsíveis, justas e econômicas. 6. Misture os usos do solo. 7. Preserve espaços abertos, áreas rurais e ambientes em situação crítica. 8. Proporcione uma variedade de escolhas de transporte. 9. Reforce e direcione a urbanização para comunidades existentes. 10. Tire proveito do projeto de construções compactas (FARR, 2013, p. 16).
55
Ilustra-se o Smart Growth por meio do Plano de Revitalização da cidade de Normal, Estado de Illinois, EUA, por Hoerr Schaudt, (SCHAUDT, 2017), o qual representa qualificações urbanas, pontualmente relacionadas ao conceito de biofilia. Este conceito e estudo de caso serão abordados adiante com maior profundidade (ver página 80), mas pode-se afirmar previamente que é um projeto de Crescimento Urbano Inteligente, e ademais biofílico, porque do mesmo modo que busca resolver a questão do tráfego próximo à estação intermodal da cidade, também preocupa-se com as adversidades em relação à gestão de águas pluviais e à necessidade de um espaço verde de convívio entre os habitantes.
Imagens 18 e 19: Exemplo de um projeto urbano inteligente voltado ao pedestre: Plano de Revitalização da cidade de Normal, Estado de Illinois, EUA, por Hoerr Schaudt. Fotos antes e depois. Fonte: ELLIS; KWEON, 2011. 56
Já o Congresso para o Novo Urbanismo (CNU) surgiu em 1993, nos Estados Unidos, por meio de seis arquitetos: Peter Calthorpe, Andrés Duany, Elizabeth Moule, Elizabeth Plater-Zyberk, Stephanos Polyzoides e Daniel Solomon que objetivavam refutar as ideias do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado em 1928 (FARR, 2013). Para compreender melhor o CNU, deve-se entender o que foi o CIAM e quais foram suas propostas urbanísticas. O CIAM “era um movimento de reforma no desenho urbano por meio do aprimoramento das cidades e moradias” (FARR, 2013, p. 16) que “reuniu muitos dos principais arquitetos modernistas europeus como Gropius, Le Corbusier, Sert e Aalto” para responder aos problemas urbanísticos gerados pelo acelerado desenvolvimento das cidades (GALBIERI10, 2008). O produto exponencial do CIAM foi a Carta de Atenas apresentada em 1933 na cidade de Atenas, na Grécia, durante o IV Congresso, sobre a qual GALBIERI (2008) afirma que
“Com considerações sobre as habitações, o lazer, o trabalho, a circulação e o patrimônio histórico das cidades, a Carta prega, entre outros pontos, a separação das áreas residenciais, de lazer e de trabalho, através da setorização das áreas e de um planejamento do uso do solo.”
10 Thalita Ariane Galbieri, Arquiteta pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS (GALBIERI, 2008). 57
Os fundadores do CNU notaram conexões diretas entre a visão do CIAM sobre a cidade racional e a dependência de automóveis e a urbanização dispersa do solo nos subúrbios norte-americanos do pósguerra. Ademais, eles também perceberam que a definição arquitetônica modernista subtraiu praticamente todos os conhecimentos sobre técnicas de planejamento urbano anteriores ao CIAM (FARR, 2013). Em 1996, foi finalizada a Carta do CNU que repeliria o CIAM e a Carta de Atenas e daria as diretrizes para esse movimento, promovendo o planejamento urbano tradicional como uma alternativa à dispersão (ver imagem 20). Enquanto a Carta de Atenas “propõe quatro funções básicas na cidade: habitação, trabalho, recreação e circulação” (IRAZÁBAL11, 2001), a Carta do CNU ressalta a urgência de “diversidade social, mescla de atividades e tipos de circulação, acessibilidade pedestre, participação democrática e respeito à expressão da cultura local” (IRAZÁBAL, 2001). Assim sendo, na introdução desta carta, o movimento declara o repúdio à situação urbana vigente, bem como a sua relação com a sociedade e o meio ambiente, como uma disputa a ser vencida por meio da comunidade e da construção:
11 Clara Irazábal é arquiteta (UCV, 1987). Especialista em Planejamento Territorial e Desenho Urbano (Instituto de Urbanismo, UCV, 1993). Mestre em Arquitetura (Universidade da Califórnia, Berkeley, 1994). Doutoranda em Arquitetura (Universidade da Califórnia, Berkeley) (IRAZÁBAL, 2001). 58
“O Congresso para o Novo Urbanismo considera a falta de investimento em cidades centrais, a difusão da urbanização dispersa e sem caráter, o aumento da segregação de raças e classes sociais, a deterioração do meio ambiente, a perda de terras agrícolas e de áreas silvestres e a erosão da herança construída da sociedade como um só desafio de comunidade e construção relacionadas entre si.” (FARR, 2013, p. 18)
Imagem 20: Diagrama criado por Andrés Duany e Elizabeth Plater-Zyberk representando a ocupação dispersa (parte superior do desenho) frente ao modelo tradicional retomado pelo Novo Urbanismo, 1980. Fonte: STEUTEVILLE, 2017.
Ainda consoante com Farr (2013), o CNU tem sido muito eficiente em relação aos empreendimentos de bairro de uso misto e na criação de cidades com transporte público integrado, incluindo centros e traçados urbanos nos quais se possa caminhar. No entanto, uma vez que as ideias desse novo urbanismo são recentes e inovadoras, elas muitas vezes contradizem a legislação vigente, sendo necessárias novas técnicas para aprovação dos projetos, as quais são: o transecto urbano-rural e o Código Inteligente. O 59
Imagem 21: Exemplo de representação do transecto urbano-rural de Duany Plater-Zyberk & Company, 2003. Fonte: TRANSECT, 2017.
primeiro baseia-se no transecto natural, sendo este um desenho longitudinal utilizado em ecologia para descrever os nichos ecológicos singulares através de uma paisagem. Com isso, o transecto urbano-rural aplica essa estrutura ecológica para representar e descrever assentamentos humanos desde as áreas rurais até os centros urbanos. Já o Código Inteligente “é baseado na forma das edificações e no transecto e visa substituir os códigos de zoneamento existentes por códigos novos de extrema clareza e simplicidade” (FARR, 2013, p. 20). A partir deste, é possível prever parcialmente o modelo urbanístico e arquitetônico a ser implantado por meio de códigos relacionados ao número de pavimentos, tipos de ruas e edificações, percentual da área construída, entre outros. No entanto, o Código Inteligente não é inalterável e, por isso, permite 60
variações que enriquecem o zoneamento. Sob o mesmo ponto de vista, Leite (2012) complementa esse argumento ao afirmar que há certos parâmetros que definem o crescimento ordenado do território, sendo este uma ação essencial para atingir uma cidade mais sustentável. Estes parâmetros também estão relacionados aos elementos de desenho urbano, como:
“adequação urbanística do território (formas de implantação adequada, adequações visual, paisagística e sonora, preexistências a manter, geografia a respeitar), o nível de compacidade do território (onde compactar mais a cidade e com quais índices), a densidade qualificada12 [...], os eixos de crescimento e desenvolvimento urbano nas escalas regional e macrometropolitana, os graus de renovação urbana, o desejável crescimento territorial integrado ao sistema de mobilidade e os níveis de uso misto e uso coletivo do território.” (LEITE, 2012, p. 135)
12 “Densidade qualificada é aquela planejada urbanisticamente para cada contexto territorial, de acordo com os diversos usos adequados, não conflitantes com as necessidades dos usuários, procurando a valorização do uso misto na escala intraurbana e que favoreça a população local estar próxima de suas necessidades urbanas básicas.” (ROGERS, 2012, p. 33).
Imagem 22: Código Inteligente. Fonte: NOLETO, 2016, p. 118. O esquema acima, de autoria de Rodrigo Noleto (2016), exemplifica de forma sucinta e eficaz como pode ser criado e representado o Código Inteligente. 61
Por fim, o terceiro movimento para compreender o Urbanismo Sustentável é o U.S. Green Building Council (USGBC) criado em 1993. Este foi fundado por três profissionais do ramo imobiliário estadunidense: David Gottfried, Richard Fedrizzi e Michael Italiano, os quais decidiram que o público do USGBC fosse além dos profissionais de arquitetura e que houvesse a contribuição do setor privado na criação e desenvolvimento urbano, decisões estas muito relevantes que aceleraram a adoção de práticas de edificação ambiental ou sustentável. Após a fundação do USGBC, este órgão estabeleceu normas pioneiras para a edificação sustentável. O nome Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) foi adotado em 1996, o qual teve o sistema de certificação lançado em 2000. A certificação LEED é destinada ao projeto de acordo com a sua pontuação (combinação de itens obrigatórios com créditos opcionais), sendo que os níveis de desempenho são crescentes desde o mais baixo: Certificado, ao mais alto: Platinum (FARR, 2013). Portanto, o Urbanismo Sustentável originou-se a partir do aprimoramento dos conceitos destes três movimentos precursores, bem como de suas inovações tecnológicas, a fim de gerar uma nova estrutura capaz de mudar sistematicamente as leis para implementar um estilo de vida sustentável.
62
Definições de bairro e distrito
Na carta do Congresso para o Novo Urbanismo é discutida a mesma estrutura do urbanismo tradicional, que abrange três elementos: bairros, distritos e corredores. De acordo com esta, os bairros são compactos, respeitam os pedestres, tem uso misto e possuem, idealmente, em torno de 80 hectares. No entanto, os distritos apresentam majoritariamente uso único, como um campus universitário, enquanto que os corredores alternam entre grandes e pequenas escalas, como bulevares e linhas de metrô a rios e estradas que conectam bairros e distritos (FARR, 2013, p. 28 apud Carta do Congresso do Novo Urbanismo, 2001). Contudo, considerando a área de estudo em São Paulo, procurou-se conferir as definições de bairro e distrito segundo o dicionário da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados de São Paulo (SEADE, 2016), as quais são distintas às citadas anteriormente. Enquanto o bairro é um fragmento da cidade originado naturalmente a partir da Divisão Internacional do Trabalho, uma vez que as pessoas que praticavam o mesmo ofício se reuniam num mesmo local, o distrito é definido como uma divisão territorial e administrativa em que certa autoridade administrativa, judicial ou fiscal exerce sua jurisdição (SEADE, 2016, apud Instituto Geográfico Cartográfico, 1995). No caso da região estudada neste trabalho e conforme apontado anteriormente, o distrito de Vila Mariana apresenta usos múltiplos, desde residências, instituições e comércios relevantes, bem como importantes linhas de metrô. Sendo assim, não encerra-se somente em um uso majoritário como a definição de distrito norte-americana, mas sim permite a relação entre seus seis bairros, juntamente aos outros fronteiriços, cada qual com a sua particularidade. Houve a necessidade de diferenciar esses dois significados, pois, para tratar dos parâmetros do Urbanismo Sustentável, deve-se entender que estes estão relacionados aos bairros sustentáveis estadunidenses, os quais serão associados proporcionalmente ao contexto paulistano, precisamente no eixo Ana Rosa – Aclimação, no bairro de Vila Mariana, já citado. 63
Parâmetros e estudos de caso “Reduzido aos seus princípios mais básicos, o urbanismo sustentável é aquele com um bom sistema de transporte público e com a possibilidade de deslocamento a pé integrado com edificações e infraestrutura de alto desempenho. A compacidade (densidade) e a biofilia (acesso humano à natureza) são valores centrais do urbanismo sustentável.” (FARR, 2013, p. 28)
Os parâmetros do Urbanismo Sustentável são interdisciplinares e foram criados a partir das contribuições de diversos especialistas,com a finalidade de determinar regras para a implementação de projetos sustentáveis a serem propostos por prefeitos, vereadores, empreendedores, planejadores urbanos e arquitetos. Para compreender estes parâmetros, utilizou-se da divisão criada por Farr, mas em outra sequência, a qual remete-se às cinco categorias: densidade; corredores de sustentabilidade; biofilia; edificações e infraestrutura de alto desempenho e bairros sustentáveis (FARR, 2013).
64
DENSIDADE Para entender o conceito de densidade, deve-se conhecer brevemente as mudanças que ocorreram no âmbito da Arquitetura e Urbanismo desde o século XX até os dias atuais. Segundo Silva, Silva e Alejandro (2016) e como já foi brevemente abordado, o início da década de 1920 foi marcado pela introdução, mediante o Movimento Moderno juntamente aos CIAMs (de 1928 a 1956) e à Carta de Atenas (1933), da proposta de um urbanismo auxiliado pela exigência do desenho rígido sobre o terreno ou sobre a cidade tradicional, que defendia as quatro funções urbanas: habitar, trabalhar, recrear e circular. Após a Segunda Guerra Mundial, na Europa, construíram-se obras urbanas privadas e outras com parcerias com o governo para expandir o território sentido às regiões periféricas, porém estes empreendimentos eram de relativa baixa densidade bruta13, preferencialmente.
“As novas tecnologias construtivas, o advento do automóvel e avanço de outros modais, novos materiais, mudanças nos hábitos de trabalho, circulação e lazer, e a necessidade emergencial de novas habitações e de reconstruções de áreas devastadas pela guerra foram alguns dos fatores decisivos que cobravam da Arquitetura e Urbanismo, novas respostas aos “tempos modernos” do século XX.” (SILVA; SILVA; AJEANDRO, 2016)
13 “Densidade bruta: expressa o número total de residentes numa determinada área urbana (região, cidade, bairro, quadra) dividida pela área total em hectares, incluindo-se equipamentos urbanos e institucionais (escolas, creches, parques, áreas verdes, espaços públicos), vazios, logradouros, comércios, indústras, vias e outros serviços urbanos. Toda a região incluída dentro de um perímetro poligonal deve ser considerada para a determinação da densidade. Densidade líquida: expressa o número total de residentes (pessoas moradoras) numa determinada área urbana, considerando-se apenas a área estritamente residencial e excluindo-se vias, equipamentos, espaços públicos, vazios urbanos” (ACIOLY; DAVIDSON, 2011, p. 85).
65
Entretanto, a partir da década de 1960, tanto na Europa quanto na América do Norte, consolidaram-se críticas ao Movimento Moderno, em virtude de estudos que demonstravam as consequências negativas do espraiamento urbano de baixa densidade habitacional em relação à vida urbana, à mobilidade e ao meio ambiente, sobre os quais Silva e Romero (2011) afirmam que
“A produção de habitações para além dos limites urbanos oferece graves problemas à cidade, pois encarece tributos, aumenta investimentos e manutenção de infraestrutura urbana, dificultando a mobilidade urbana (distanciamento entre habitação, trabalho, serviços e lazer), consolidando a dependência automotiva cada vez mais onerosa (seja ela pública ou privada, individual ou coletiva), aprofundando a segregação socioespacial (...), além do aumento do impacto ambiental decorrentes, tanto do espalhamento e ocupação de áreas naturais, quanto da produção de resíduos, impacto da malha viária no espaço da cidade ou do aumento da emissão de gases provenientes de combustíveis fósseis.”
Em contraste com estes empreendimentos de baixo adensamento e com esse modo de urbanização (especialmente norte-americano), Jane Jacobs, em seu livro: Morte e Vida das Grandes Cidades (2000), propôs uma ocupação mínima de 250 habitações por hectare, a fim de gerar mais vida e participação urbanas (apud SILVA; SILVA; ALEJANDRO, 2016). Contudo, não recomenda-se acatar um dado de densidade específico e utilizá-lo como paradigma em projetos urbanos. Segundo Acioly e Davidson (2011), as densidades mudam muito de acordo com os países a serem comparados e, até mesmo, entre cidades de um mesmo país e, por isso, não há um dado exato sobre o adensamento ideal de um local. 66
Os autores ainda afirmam que as pessoas sentem ou veem aquilo que está relacionado às próprias origens sociais, econômicas e étnicas, e até certo limite à configuração, forma e uso da construção e do espaço urbano. Sendo assim, algumas das dificuldades encontradas ao tentar comparar densidades entre lugares distintos são consequências da discordância entre as metodologias específicas destas regiões, como por exemplo: o processo de coleta de dados e mapeamento; as legislações que definem o uso e ocupação do solo a partir de aspectos culturais e os critérios de seleção de vazios urbanos, bem como a delimitação do espaço urbano enquanto dimensão física (SILVA; SILVA; ALEJANDRO, 2016).
“Cada cidade apresenta características intrínsecas que podem fugir à regra de uma alta densidade, como a de Barcelona com 300 hab/ha, seja por sua dinâmica urbana, seja por questões climáticas ou posições culturais. Assim, a qualidade urbana não deve oferecer padrões e índices imutáveis, mas compreender as diferenças sob a roupagem da sustentabilidade urbana, que valoriza as particularidades.” (SILVA; ROMERO14, 2011)
Semelhantemente, os estudos de Pont e Haupt (2010) apontam que a “densidade urbana deve ser um aspecto quantitativo associado ao qualitativo (propriedades), com multivariáveis e multiescalas de análise
14 Marta Adriana Bustos Romero é Professora-Doutora e Pesquisadora da FAU/UnB, Pós-Doutorado em Landscape Architecture pela Pennsylvania State University - EUA, Doutorado em Arquitetura pela Universidade Politécnica da Catalunha – Barcelona/Espanha, Mestre em Planejamento Urbano pela FAU-UnB, Arquiteta e Urbanista (SILVA; ROMERO, 2011). 67
(tipo-morfológica)” (apud SILVA; SILVA; ALEJANDRO, 2016). Além disso, segundo Duany (apud SILVA; ROMERO, 2011), a densidade urbana tem de ser pensada não somente sob o âmbito do aumento populacional, mas também deve-se levar em consideração à escala do pedestre e a proximidade entre centro e periferia, para minimizar a segregação social. Para tal, Silva, Silva e Alejandro (2016) discutem que ao projetar a densidade deve-se ponderar sobre diversas particularidades que potencializam o desempenho do uso do espaço urbano, tais como: acesso à luz do dia, acesso pedonal, uso da rua pelas pessoas, dinâmica dos espaços públicos, mobilidade, privacidade, tipologias edificadas, bem como aspectos culturais e regionais. Farr complementa ainda que não é somente necessária a mistura de usos para eficácia da alta densidade, como também é preciso que haja diferentes tipos de habitações multifamiliares. Segundo o autor, enquanto a variedade de usos permite que as pessoas morem, trabalhem e se divirtam, deslocando-se à pé, a pluralidade das tipologias habitacionais proporciona maior relação entre pessoas de rendas e estilos de vida distintos, além de possibilitar que estas cresçam e envelheçam no mesmo local. “As relações duradouras e as conexões sociais profundas (...) têm sido correlacionadas ao aumento da saúde, felicidade e longevidade” (FARR, 2013, p. 29). Ademais, a mescla de estilos e rotinas diferentes contribui para a vivacidade e segurança do lugar.
68
O quadro abaixo resume os benefícios sociais da compacidade e completude abordados em comparação à dispersão de elementos urbanos (usos, funções, população, espaços públicos e privados). Nota-se, portanto, que a alta densidade traz benefícios sociais, principalmente, por meio da integração social pela mescla de usos, habitações e informações, além da proximidade das funções, criando mais possibilidades de encontros e acarretando em maior segurança ao local.
Tabela 2: Comparação de modelos de cidade difusa e compacta de acordo com a manutenção e aumento da organização do sistema urbano. Fonte: RUEDA (1999) apud SILVA; ROMERO (2011). 69
Em relação aos aspectos ambientais, sabe-se que a poluição em grandes cidades pode estar relacionada ao ar, através da liberação de gases do efeito estufa, e à água, devido à impermeabilização do solo e aos assentamentos em lugares impróprios. A primeira é resultado da dispersão urbana, a qual exige o uso de veículos para transporte de mercadorias e de pessoas de forma mais intensa. Desse modo, como aborda Rogers (2012), é preciso que haja a densidade qualificada, com a finalidade de diminuir as distâncias percorridas diariamente por cada pessoa. À vista disso, é importante saber que a densidade sustenta o transporte público, isto é, zonas com muitos habitantes por hectare, dependem de metrôs e ônibus em corredores, diferenciando-se daquelas com baixa densidade, as quais necessitam apenas de táxis-lotação e ônibus locais (FARR, 2013). Já o segundo tipo de poluição a ser abordado é o da água, desde os lençóis freáticos aos mananciais. O primeiro, segundo Silva e Romero (2011), está relacionado à impermeabilidade do solo, uma vez que esta é diretamente proporcional ao nível de impurezas dos solos, danificando os ciclos hidrológicos e a qualidade da água infiltrada. Isto ocorre, porque as áreas, onde há pavimentação excessiva, tendem a apresentar um alto nível de escoamento superficial que leva consigo uma série de impurezas que, por conseguinte, aumentam a poluição do solo. Além disso, o uso de pavimentos impermeáveis provoca enchentes e causa impactos relevantes no microclima urbano. Takashi Asaeda15 e Vu Thanh
15 Takashi Asaeda é professor no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Saitama, Japão, com especialização em botânica, ecologia e luminologia (RESEARCH GATE, 2017). 70
Ca16 asseguram em seu artigo “Heat storage17 of pavement and its effect on the lower atmosphere” (1996) que a impermeabilização do solo impacta sobre o comportamento térmico de um ambiente, “principalmente as áreas recobertas com pavimento asfáltico, que absorvem consideravelmente maiores quantidades de radiação solar” (apud BORGES, M. G. E.; PEREIRA, F. O. R., 2010). Sob o enfoque dos custos econômicos, Silva, Silva e Alejandro (2016) defendem as vantagens de se habitar em regiões com alta densidade, em comparação às periferias. Apesar da redução dos custos de habitações na periferia em relação aos preços dos aluguéis ou de compra de imóveis, a moradia nessa zona é mais onerosa devido aos altos custos de deslocamentos pendulares, uma vez que, em cidades como São Paulo, ainda há a centralização de serviços e equipamentos urbanos em determinadas regiões. É possível notar no mapa a seguir que as maiores “ilhas” de concentração de emprego encontram-se no centro expandido da cidade, principalmente na região sudoeste que abrange os bairros da Lapa, Barra Funda, Vila Leopoldina, e ao longo da Marginal Pinheiros, em Pinheiros, Itaim e Santo Amaro.
16 Vu Thanh Ca é professor no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Saitama, Japão (RESEARCH GATE, 2017). 17 Heat storage é o armazenamento de energia solar durante o dia, para uso ou não em um momento posterior (ASAEDA; CA apud BORGES, M. G. E.; PEREIRA, F. O. R., 2010). 71
Número de Empregos 77.942 74.047 70.152 66.257 62.362 58.467 54.572 50.677 46.782 42.887 38.992 35.097 31.202 27.307 23.412 19.517 15.622 11.727 7.832 3.937 42 Distritos Eixo Ana Rosa - Aclimação Imagem 23: Mapa de empregos formais. Distritos do Município de São Paulo. Fonte: SMDU, 2004. 72
Por isso, Acselrad18 sugere, além da compactação urbana, a descentralização dos serviços, iniciando nas áreas centrais em direção à periferia, de modo a promover um espaço mais justo e menos segregado. Na opinião do autor, é indispensável a inserção das áreas periféricas na cidade formal, “estabelecendo a distribuição dos serviços e equipamentos urbanos, integrando centro e periferia, bem como o público e o privado” (apud SILVA; ROMERO, 2011). Sob a ótica dos países em desenvolvimento, especialmente no caso latino-americano, Silva, Silva e Alejandro (2016) afirmam que os benefícios do alto adensamento são ainda mais relevantes, visto a escassez de recursos financeiros e o elevado déficit habitacional que estes apresentam.
“Além dos benefícios ambientais, de saúde pública e social da cidade compacta frente à cidade dispersa, ela possibilita ainda otimizar a aplicação de recursos quando atende à um número muito maior de pessoas num mesmo espaço de cidade e de sistemas de infraestrutura redimensionada. Pensar em cidades dispersas de baixa densidade populacional para o Brasil, além de ser incoerente à lógica da sustentabilidade urbana, é um contrassenso à justiça social e acesso a uma cidade mais barata para todos.” (SILVA; SILVA; ALEJANDRO, 2016)
18 Henri Acselrad é doutor em Economia pela Universidade de Paris I (Panthéon Sorbonne) França,1980, professor Adjunto do IPPUR/UFRJ e pesquisador 1B do CNPq (IPPUR-UFRJ, 2017). 73
Em síntese, consoante com Rogers (2012), ao adensar as cidades, é possível estabelecer menor consumo de recursos e nível de poluição, além de aumentar a eficiência energética e evitar o espraiamento urbano sobre a zona rural. A cidade compacta, para o autor, é uma rede dos bairros que crescem em volta de pontos nodais de transporte público, atividades sociais e econômicas públicas e privadas, cada quais com seus parques e espaços públicos. Portanto, dadas as singularidades de cada local, a densidade urbana não deve ser tratada como um dado estatístico somente, mas sim deve englobar aspectos qualitativos na análise do espaço urbano. Isto posto, pode-se entender que a alta densidade é o principal foco do Urbanismo Sustentável, porque, somente a partir dela, será possível gerar espaços urbanos com benefícios sociais, econômicos e ambientais.
74
CORREDORES DE SUSTENTABILIDADE Os corredores de sustentabilidade podem ser classificados de duas maneiras: os que concentram os transportes públicos e os de biodiversidade. O primeiro proporciona o empreendimento urbano voltado ao transporte público (TOD – Transit Oriented Development), que, segundo Farr (2013), estimula a utilização do sistema de transporte público ao criar bairros em que pode-se ir a pé até as estações e que apresentam urbanização compacta, diversidade no uso do solo e desenho urbano orientado para o pedestre. Para que haja esse empreendimento próximo às estações de transporte, é importante que haja habitações para diversos níveis de renda a uma distância ideal para ir caminhando até o transporte público, processo chamado de TOD de renda mista.
“Ao oferecer (1) habitações realmente populares, (2) uma base estável e confiável de usuários do transporte público, (3) maior acesso a oportunidades e (4) proteção de deslocamento, o TOD de renda mista tem a capacidade de resolver os problemas aparentemente insolúveis, como o aumento do congestionamento, o preço proibitivo dos imóveis e a crescente diferença entre os moradores de baixa e alta renda.” (FARR, 2013, p. 109)
75
Para Rogers (2012), os sistemas de transporte coletivo seriam os responsáveis por ligar os centros de vizinhança, por meio de vias de alta velocidade, enquanto o sistema local atenderia às vias coletoras e locais. Dessa forma, o volume de impacto do tráfego seria diminuído, e, assim, as áreas centrais públicas do bairro seriam mais tranquilas e apropriadas ao pedestre. Ainda segundo Rogers, a concentração de transportes públicos coletivos não delimita-se apenas à metrôs e ônibus, mas também aos bondes locais, sistemas leves sobre trilhos e ônibus elétricos, os quais apresentam-se mais eficazes e possibilitam que as locomoções à pé ou em bicicleta sejam mais prazerosas. Ademais, esses sistemas junto à alta densidade, como já tratado, diminuem consideravelmente o congestionamento, a emissão de gases do efeito estufa, a geração de ruídos, o número de acidentes e o tempo no transporte de pessoas, serviços, materiais e mercadorias, além de melhorar os níveis de segurança e de integração no espaço público (SILVA; ROMERO, 2011). Por fim, promover o passe livre ao pedestre, utilizar automóveis compartilhados, atribuir valores aos estacionamentos são outras estratégias propostas por Farr (2013) para incentivar o uso dos transportes coletivos. Ao relacionar com o contexto da cidade de São Paulo, é importante ressaltar que o TOD é uma das premissas do Plano Diretor Estratégico (PDE, 2014). Conforme o PDE (2014), o TOD está representado por meio dos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana (citado anteriormente como área de estudo), uma vez que o objetivo destes eixos é potencializar o aproveitamento do solo urbano, onde haja a concentração de transporte público coletivo. Para tanto, visa-se integrar territorialmente as políticas públicas de transporte, habitação, emprego e equipamentos sociais, por meio de novas implantações que tenham a finalidade de estimular interações entre espaços públicos e privados, bem como diminuir as distâncias e deslocamentos. 76
Por outro lado, os corredores de biodiversidade estão relacionados às dimensões do habitat e como estes afetam a sustentabilidade das espécies. Para tanto, são necessários projetos urbanos e paisagísticos conciliados com estudos de biólogos que visem a manutenção de habitats existentes ou a criação destes para a preservação das espécies nativas e raras. Além disso, os habitats não devem estar isolados, mas, de acordo com Farr (2013), devem estar conectados por meio de áreas verdes densas como faixas de conectividade ou corredores de habitat, que não apresentem estradas ou trilhas.
Imagem 24: Diagrama ilustrativo para propostas nos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana. Fonte: PDE, 2014.
O Parque da Aclimação, presente no eixo de estudo, por exemplo, pode ser considerado um habitat natural, possuindo, aproximadamente, 85 espécies de fauna, sendo 65 aves. Já a vegetação localiza-se em áreas com jardim e contém 88 espécies nativas e exóticas, das quais copaíba, paubrasil e pinheiro-do-paraná estão ameaçadas (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2017). Entretanto, nesta região, não há nenhum corredor de habitat que conecte este parque à uma outra área verde, estando isolado por vias e edificações (ver imagem 24). 77
Imagem 26: Imagem ilustrativa do projeto do corredor verde na Avenida 23 de Maio. Fonte: MOVIMENTO 90º.
< Imagem 25: Vista aérea do Parque da Aclimação. Fonte: GOOGLE EARTH PRO, 2017, adaptado pela autora.
Sob outro ponto de vista, os corredores de biodiversidade não referem-se somente às calçadas e áreas verdes ao nível do pedestre, mas também podem estar relacionados ao tratamento de empenas cegas da cidade. Um exemplo disso é o novo projeto da Prefeitura da Cidade de São Paulo em parceria com o Movimento 90º19, que almeja criar o maior corredor verde do mundo por meio da instalação de jardins verticais nos muros públicos da Avenida 23 de Maio (ver imagem 26). Para tal ação, serão plantadas 251 mil mudas e as estruturas dos painéis serão feitas com 163,7 toneladas de lixo reciclado. Ademais, os jardins capturarão 66,8 toneladas de CO² e apresentam a expectativa de diminuir os ruídos da região. Este projeto está relacionado ao Termo de Compromisso Ambiental (TCA) firmado na gestão anterior com a empresa Tishman Speyer, com o objetivo de construir oito jardins verticais na cidade, dos quais cinco foram realizados em 2016 nos prédios ao lado do Minhocão (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2017).
19 O Movimento 90º é um negócio de impacto sócio-ambiental que tem como causa o aumento de área verde em grandes metrópoles através da instalação de jardins verticais com impacto na paisagem urbana, chamados parques verticais (MOVIMENTO 90º, 2017). 79
BIOFILIA Dando continuidade ao assunto biodiversidade, o próximo item essencial para o Urbanismo Sustentável é a biofilia. O termo biofilia é utilizado pela Universidade de Harvard para representar o grau de conexão entre os seres humanos e a natureza, bem como outras formas de vida (BRITTO, 2013). Leite reitera que para uma cidade ser sustentável é fundamental “um desenvolvimento urbano respeitoso às características geográficas do território, que promova boa relação com as águas e áreas verdes [...]” (2013, p. 137). De fato, ao optar por um avanço atrelado à biofilia, pode-se obter diversas vantagens para a cidade através da vegetação, tais como: níveis de ruído e de poluição reduzidos, mudança positiva no microclima urbano por meio do consumo de dióxido de carbono e produção de oxigênio, aumento da drenagem urbana ao absorver as águas pluviais e, por conseguinte, diminuição do escoamento superficial (ROGERS, 2012). Analisando como Farr (2013), a biofilia será tratada por meio de cinco elementos urbanos: áreas verdes, iluminação pública, tratamento de águas pluviais e esgoto, lixo urbano e produção de alimentos. Estes itens, se projetados adequadamente, permitem melhorias na qualidade de vida de um bairro e, em grande escala, de uma cidade.
80
1.
ÁREAS VERDES
Primeiramente, de acordo com Farr, “os parques e as praças com grande percentual de áreas verdes, equipamentos urbanos de captação de água pluvial ou vistas do céu à noite desempenham um papel-chave no suporte à biofilia” (2013, p. 168). Ademais, estes grandes espaços verdes incrementam os preços dos imóveis próximos, dando retorno aos empreendedores privados e ao governo. No presente trabalho, será dissertado sobre as áreas verdes sob o contexto brasileiro, o qual diferencia-se das classificações definidas pelo Léxico do Novo Urbanismo20. Segundo Celson Ferrari21, em seu livro: Dicionário de Urbanismo (2004), as áreas verdes são espaços de recreação, educativos e contemplativos, nos quais há o predomínio de vegetação de uso comum da população. Complementa-se essa definição por meio da descrição dada pelo Ministério do Meio Ambiente (BRASIL - MMA, 2017) sobre as áreas verdes urbanas, que são um “conjunto de áreas intra-urbana que possuem cobertura vegetal, arbórea, arbustiva ou rasteira e que contribuem de modo significativo para a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental nas cidades”. Mesclando ambas bibliografias (FERRARI, 2005; BRASIL - MMA, 2017), podem ser consideradas áreas verdes urbanas: praças arborizadas, parques urbanos, jardins públicos, zoológicos e botânicos, hortos florestais, parques fluviais e esportivos,
20 Segundo o Léxico do Novo Urbanismo, os parques e as praças seriam as representações de áreas verdes, sendo que os primeiros podem também ser classificados como: campo de esportes, área verde comunitária, praça cívica e jardim comunitário (FARR, 2012). 21 Celson Ferrari é engenheiro civil e urbanista paulista. Foi professor titular da disciplina “Urbanismo e Planejamento Regional” na Escola de Engenharia e Faculdade de Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie entre 1963 a 1992 (FERRARI, 2004). 81
alguns tipos de cemitérios, faixas de ligação entre áreas verdes. Consoante à Ferrari, a praça é definida como um “logradouro público urbano, geralmente de forma retangular ou quadrada, delimitado por vias ou, algumas vezes, por edificações” (2004, p. 293). Além disso, é um espaço de lazer ou recreação, que pode comportar ou não vegetações e edificações de uso institucional (FERRARI, 2004). A partir dessa definição, bem como da definição de áreas verdes anteriormente mencionada, pode-se entender a Praça Rosa Alves da Silva (presente no recorte de estudo), como uma praça de caráter recreativo e de ócio que apresenta vegetações pontuais (entre árvores, gramíneas e arbustos), juntamente às quadras para práticas de esportes e espaço limitado para animais de estimação, especificamente os cachorros.
Imagem 27: Praça Rosa Alves da Silva. Foto da autora, 2017. 82
Por outro lado, a Praça do Povo Húngaro é delimitada por vias e edificações e não possui nenhum elemento de recreação. O estado atual desta praça é muito precário, sendo local para descarte de entulhos e lixos, além de servir como estadia para os moradores de rua. Outro espaço caracterizado dentro de áreas verdes urbanas, são os parques urbanos. Estes, conforme o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL - MMA, 2017), são de domínio público, que visem melhorar a qualidade estética, funcional e ambiental da cidade, por meio de vegetação e espaços permeáveis de maiores extensões que as praças e os jardins públicos. Dentro do Eixo Ana Rosa – Aclimação, há o parque urbano municipal: Parque da Aclimação de 112 mil m², o qual, além de algumas espécies nativas e raras previamente abordadas, também abrange funções recreativas como: aparelhos de ginástica, pista de cooper, playgrounds e campo de futebol.
Imagem 28: Praça do Povo Húngaro. Imagem 29: Quadra esportiva do Parque da Aclimação. Fotos da autora, 2016. 83
[
[
PLANO DE REVITALIZAÇÃO DA CIDADE DE NORMAL, ILLINOIS, EUA 2010
Ficha técnica - Projeto: Uptown Normal. - Local: W. Beaufort Street & Constitution Trail Normal, Illinois 61761, Estados Unidos da América. - Orçamento: Uptown Normal Redesenvolvimento: 15,5 milhões de dólares; Uptown Rotatória: 1,5 milhão de doláres. - Área: 4.046 m². - Data da Construção: 2002 – 2010. - Cliente: Normal, Illinois. - Equipe de Projeto: Hoerr Schaudt Arquiteto de Paisagem e Líder da Equipe; Clark Dietz, Inc. Projeto de Estradas e Engenharia de Tráfico; Farnsworth Grupo de Engenharia de Infraestrutura Subterrânea; CMS Fountain Consultor Colaborativo; Hey & Associados Consultores de Ecologia, Arborização Viária & Arboricultura de Solos; Charter Sills Consultor de Iluminação; Jeffrey L. Bruce & Co. Consultor de Grama Artificial; Landtech Consultor de Irrigação; Stark - Contratante Geral de Excavação; Farr Associates Master Plan. - Prêmios: Prêmio de Excelência em Planejamento de Transporte, 2012; Prêmio Nacional por Realização do Crescimento Urbano Inteligente, 2011; Prêmio Presidencial de Illinois, 2010. (ELLIS; KWEON, 2011, tradução livre da autora)
85
Imagem 30: Vista aérea do elemento principal do Plano de Revitalização em Normal: a rotunda. Fonte: DEEPROOT, 2013.
Para exemplificar o conceito de biofilia, retoma-se o projeto de Hoerr Schaudt, na cidade de Normal, Illinois, EUA, citado de antemão como um exemplo do Crescimento Urbano Sustentável. Normal é uma cidade de tamanho médio, de 52 mil habitantes, localizada entre duas grandes cidades: Chicago e Saint Louis. Segundo Erin Tharp22 (2015), até 2002, a cidade possuía um pequeno distrito comercial e um modesto orçamento nacional, mas a partir do Plano de Revitalização (Uptown Redevelopment Plan), notou-se índices maiores de crescimento comercial e interação social em um novo ambiente visando a sustentabilidade. O masterplan propunha a construção de novos empreendimentos multifuncionais na zona do distrito comercial, a qual também abrigava uma estação de transportes intermodais. Contudo, foi a solução encontrada para o conceito das ruas, que permitiu que o projeto ganhasse três prêmios, sendo um deles, em 2011, o Prêmio Nacional por Realização do Crescimento Urbano Inteligente (US EPA National Award from Smart Growth Achievement). A problemática projetual envolvia uma área central decadente na cidade, a qual apresentava interseções mal alinhadas provenientes de cinco ruas, juntamente à falta de espaço comunitário e à necessidade de atualização nas práticas de gestão de águas pluviais.
22 Erin Tharp é arquiteta especializada em projetos de paisagem, por meio de um mestrado de Arquitetura da Paisagem realizado na Universidade de Tennessee, Knoxville. Ela possui sua própria empresa: Tharp Design (THARP, 2015, tradução livre da autora). 87
5
6
4 1 4 2
3 7 Imagem 31: Masterplan do Plano de Revitalização de Normal. Fonte: THARP, 2015, adaptado e traduzido pela autora. Legenda: 1 – Hotel Marriott Centro de Conferência; 2 – Estação Central Multimodal; 3 – Museu para crianças; 4 – Edifício pré existente de uso misto; 5 – Local para estacionamento; 6 – Universidade Estadual de Illinois à um quarteirão; 7 – Parada de trem de alta velocidade. Edifícios comerciais e residenciais pré existentes Edifícios de uso misto propostos Fluxo de águas pluviais Recolhimento das águas pluviais na cisterna
88
Como solução, foi proposta uma rotunda, com uma praça em seu centro, para gerar um espaço de convívio, como também para aumentar a segurança e melhorar o tráfego de automóveis, pedestres e ciclistas. Com o objetivo de requalificar o gerenciamento das águas pluviais, foi elaborado um sistema que direciona as águas das duas ruas radiais para uma cisterna de 75 mil litros, a qual foi criada a partir de uma rede reciclada de esgoto de 60’’ para armazenar as águas pluviais e aliviar a bacia hidrográfica da região. Uma vez que a água é coletada na cisterna, ela é bombeada para os terraços com vegetação que tem a função de filtrar as impurezas (esse processo pode ser chamado de wetland23). A partir disso,
23 “Locais que ficam inundados periódica ou permanentemente, onde o solo saturado permite o crescimento de macrófitas. As wetlands podem ser naturais (brejos, pântanos ou várzeas) ou construídas. As wetlands naturais possuem como principais funções a proteção de margens de corpos d’água contra ações erosivas, a regularização do fluxo hidrológico e a retenção ou transformação de nutrientes presentes na água. Um projeto de um alagado construído busca imitar a natureza, servindo para as mesmas funções e ainda para o tratamento de esgotos. O sentido de fluxo, tipo de macrófitas e materiais filtrantes são determinados conforme o tipo de poluente a ser tratado” (IAQUELI, 2016).
no subsolo, a água é tratada com filtro UV, que ajuda na destruição de microorganismos, sem o uso de produtos químicos perigosos. Logo, a água é transferida aos círculos mais próximos da praça central, por meio de aberturas na estrutura (ver imagem 33), onde os visitantes podem interagir com o recurso limpo (THARP, 2015, tradução livre da autora). Dessa forma, a rotunda além de ser um espaço acolhedor e convidativo, ela também aborda uma maneira distinta de se tratar as águas pluviais, servindo como ferramenta educacional sobre esse tipo de gestão.
Imagem 33: Diagrama de funcionamento da gestão de águas pluviais. Fonte: DROMY, Eran, 2017. Cisterna coletora de águas pluviais Sistema de wetlands que filtram a água Fonte de interação com a água limpa Reservatório da fonte e filtro UV Imagem 32: Saída de água limpa desde a filtragem com UV para os círculos internos da rotunda. Fonte: THARP, 2015.
Irrigação da área verde
89
O autor do projeto, Hoerr Schaudt descreve a rotunda como
“o núcleo central de design do Plano de Revitalização Uptown Normal com uma forte ênfase na sustentabilidade. Um modelo de Crescimento Urbano Inteligente, o plano foi dirigido para o desenvolvimento do núcleo histórico da cidade para utilizar da infraestrutura existente, das escolhas de trânsito e de maior densidade. A rotunda oferece à cidade uma área verde pública com um forte senso de lugar - particularmente importante em uma comunidade sem traços naturais distintivos e com uma cidade próxima mais conhecida”. (SCHAUDT apud THARP, 2015, tradução livre da autora)
Imagem 34: Corte da rotunda sem escala. Fonte: THARP, 2015, adaptado e traduzido pela autora. Legenda: 1 – Silva Cell com pavimento permeável; 2 –Tubo de esgoto convertido em uma cisterna de detenção; 3 – Vult mecânico; 4 – Cisterna. Fornecimento de fonte de interação Fornecimento de cisternas de águas pluviais Fornecimento das wetlands Retorno da fonte de interação Fornecimento de irrigação
1
2
90
3
4
Imagem 35: Esquema de funcionamento do sistema Silva Cell. Fonte: DEEPROOT, 2017.
Imagem 36: Finalização da instalação do sistema Silva Cell. Fonte: DEEPROOT, 2012.
Analogamente, os designers ainda propuseram vegetação ao longo das calçadas através do sistema Silva Cell24, os quais combinados com um sistema de armazenamento de águas pluviais irrigam as árvores e as ajudam em seu crescimento, além de diminuir o volume de escoamento superficial nos logradouros.
24 O Silva Cell é um sistema de pavimento elevado modular que usa volumes de solo para suportar o crescimento de grandes árvores e fornece gerenciamento de águas pluviais no local através da absorção, evapotranspiração e intercepção (DEEPROOT, 2017, tradução livre da autora) .
Imagem 37: Calçada finalizada com vegetação em cima do sistema Silva Cell. Fonte: ELLIS; KWEON, 2011. 91
Com relação à gestão de águas pluviais, o estudo da LAF demonstrou que este sistema ajudaria a economizar 7.600,00 dólares por ano, prevenindo que 1,4 milhões de galões de água entrassem no sistema de esgoto. Isso foi feito por meio da diminuição da área impermeável para 673,55 m², o que resultou na captura de água de 5.462,70 m² (THARP, 2015, tradução livre da autora).
Imagem 38: Outra solução para a evasão de água desde a filtragem pela vegetação rumo à filtragem por UV. Fonte: THARP, 2015.
Segundo THARP (2015, tradução livre da autora), um estudo conduzido pela Landscape Architecture Foundation (LAF) em 2011 mostrou que o Plano de Revitalização de Normal economizaria 61 mil dólares em compra e implantação de árvores em 50 anos, uma vez que o sistema triplicou o tempo de vida das árvores nas ruas. Além disso, essas 104 árvores plantadas sequestram, aproximadamente, 10.790 libras de carbono por ano, o que equivale a remoção de um carro das estradas a cada ano. 92
Por fim, além dos benefícios sociais resultantes da criação de um espaço para a comunidade, a revitalização do centro da cidade de Normal também melhorou as finanças da cidade. Por meio das análises da LAF (THARP, 2015, tradução livre da autora) descobriu-se que a área gerou mais de 680 mil dólares, organizando conferências que apresentaram o projeto Uptown Normal. Ao mesmo tempo, os valores das propriedades também aumentaram, uma vez que a cidade notou o aumento 1,5 milhão de dólares de 2009 a 2010 e outro fenomenal de 31% em relação à 2004.
Imagem 39: Integração social no elemento principal do Plano de Revitalização da cidade de Normal. Fonte: SMART GROWTH, 2016.
2.
Além das áreas verdes, a iluminação pública é um outro elemento da biofilia proposto com o intuito de oferecer segurança aos pedestres e incentivar as atividades e comércios noturnos, além de nortear todo o sistema viário (FARR, 2013). Segundo Isac Roizenblatt, em sua tese de Doutorado “Critério de Iluminação Elétrica Urbana” (2009), a luz elétrica é fundamental para se definir um espaço e trazer sensação de segurança à noite. “A segurança é uma estrutura básica no nosso instinto de sobrevivência, o ato de ver dá um sentido imediato e espontâneo para distinguir, localizar e identificar” (ROIZENBLATT, 2009, p. 23). Com o propósito de que a luz elétrica atenda às necessidades sociais de maneira confortável, segura e eficaz, evitando ser um elemento estético que contribui para a poluição luminosa e o desperdício de energia, é preciso estudar as movimentações cotidianas de pedestres e veículos, transitando a trabalho ou lazer, nos espaços públicos e nas suas transições para o espaço privado (ROIZENBLATT, 2009). Dessa forma, a luz funciona como um elemento de orientação de todo o sistema viário e das pessoas.
3.
Outro item necessário para ser adotado em projetos sustentáveis é o tratamento de águas pluviais. Para que essas águas sejam usadas como recurso e não como dejeto, é preciso aplicar técnicas de projeto que visem a coleta, limpeza, reciclagem e infiltração da água in loco, como: coberturas verdes, sistemas de pavimentação porosos, biodigestores, reservatórios, sistemas de paisagismo com vegetação nativa com raízes profundas e alta absorção de água. A importância da infiltração de águas da chuva, além de estar relacionada com o reúso deste recurso, também é relevante por impedir que este fluído que escorre pelas superfícies impermeáveis leve os poluentes urbanos e agrícolas e prejudique os
ILUMINAÇÃO PÚBLICA
TRATAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS E ESGOTO
94
habitats dos organismos aquáticos, bem como os cursos de água usados para recreação (pesca, natação) (FARR, 2013). Outras soluções utilizadas em São Paulo para manejar adequadamente as águas pluviais e, assim, evitar seu desperdício são os piscinões e as piscininhas. Ambos são reservatórios que armazenam a água da chuva e ajudam a evitar alagamentos e o desperdício deste recurso. Conforme Rodnei Corsini afirma em seu texto “Piscinões para o controle de cheias” (2011), os piscinões são reservatórios que detêm ou retém a água da chuva com o objetivo de reduzir o efeito das enchentes em áreas urbanas. Desse modo, contribuem para que a bacia hidrológica de uma região possa recuperar parte de suas características de armazenagem. Estes podem ser abertos ou fechados, sendo que os fechados normalmente estão enterrados, mas os dois modelos eliminam a água através do bombeamento à rede de drenagem ou operam por gravidade. Por outro lado, ainda consoante à Corsini (2011), semelhante aos piscinões, as piscininhas também retêm as águas da chuva, mas em proporções menores, uma vez que estas são construídas dentro de edificações públicas ou privadas e, portanto, não apresentam dimensões urbanas. Estas diminuem a sobrecarga do sistema público de esgoto e, no Estado de São Paulo, são obrigatórias em construções com mais de 500 m² de área impermeável.
95
Em relação ao tratamento de esgotos, a ferramenta principal para que sejam ecologicamente sustentáveis são as máquinas vivas (eco machines). Farr (2013) afirma que estas são equipamentos de base ecológica, normalmente construídas dentro de estufas, cujo produto é água limpa e reutilizável. A partir da tecnologia destas máquinas, o esgoto local de um bairro pode ser usado para criar áreas verdes de diversos usos (parques, plantações, pomares) e gerar água livre de produtos químicos mas com qualidade terciária, cuja finalidade pode ser irrigar as áreas verdes, ser usada em descargas de bacias sanitárias, “aumentar a taxa de crescimento das florestas, bosques e parques e reabastecer aquíferos locais” (ROGERS, 2012, p. 50). Um dos procedimentos em uma eco machine são as wetlands, que, trazendo para um contexto brasileiro, são utilizadas em algumas cidades como alternativas às Estações de Tratamento de Esgoto tradicionais. Caroline Mazzonetto em seu texto “Tratamento natural de esgoto” (2011) cita referências em Analândia e em Piracicaba, interior de São Paulo, como também na região metropolitana da capital paulista para apresentar vantagens desse conceito.
Legenda: 1 – Placas fotovoltaicas; 2 – Wetlands; 3 – Lagoas arejadas; 4 – Clarabóia de rastreamento solar; 5 – Proteção solar; 6 – Sala de elétrica e mecânica. Imagem 40: Eco machine no Instituto Omega para Vida Sustentável, Nova Iorque, EUA. Fonte: TODD, 2017, traduzido pela autora. 96
4.
LIXO URBANO
A proposta de uma wetland-piloto da Sabesp, próxima à área de transferência da água da Represa Billings para a Guarapiranga, por exemplo, visa recompor a wetland natural do rio Parelheiros que deságua na Represa Guarapiranga, com a finalidade de melhorar a qualidade de água, bem como restituir a paisagem original do local. Para tanto, é necessário estudar quais são as plantas aquáticas macrófitas da região, para definir a melhor configuração de wetland que remova a maior quantidade de fósforo possível (MAZZONETTO, 2011). Apesar de Farr (2013) não tratar do lixo urbano, este é de grande importância, uma vez que seu tipo de descarte pode ser prejudicial ou benéfico à sociedade e, por isso, será abordado neste trabalho como um elemento dentro de biofilia. Rogers (2012) afirma que o lixo urbano, para ter impactos sociais positivos, poderia ser queimado por usinas e fornecer até 30% das necessidades energéticas de uma comunidade, ao invés de ser despejado em aterro ou ser incinerado de forma que contamine o meio ambiente. Além disso, o lixo gerado pelo homem é rico em nutrientes e, portanto, poderia ser reciclado para produzir gás metano e nutrientes. No Brasil, em agosto de 2010, foi regulamenta a Lei 12.305 que institui a Política Nacional de Resíduos 97
Sólidos (PNRS) e, por meio desta, estabelece a Gestão Integrada de Resíduos. Para gerenciar os resíduos, é implementada a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a qual abrange fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos. Três dos objetivos da responsabilidade compartilhada são: reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais; estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis e promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou para outras cadeias produtivas. (Seção II, Artigo 30 da Lei). Para acompanhar o programa, foi criado o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR), pelo qual será feita a sistematização de dados relativos aos serviços públicos e privados relacionados à gestão dos resíduos sólidos nas fases pré e pós consumo (BRASIL, 2010).
98
5.
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
Por fim, a última atividade associada ao termo “biofilia” é a produção de alimentos, a qual pode estabelecer benefícios econômicos, ambientais e sociais. Os primeiros remetem à geração de empregos e mercados autossustentáveis, enquanto o segundo à economia no consumo de energia (uso da luz solar) e à limpeza da água, ar e solos mais limpos por não usar pesticidas. Em relação ao âmbito social, a certeza da qualidade dos alimentos, como também a melhoria da saúde da população e o embelezamento dos bairros são vantagens dessa prática (FARR, 2013). Há diversas maneiras de se produzir alimentos em meios urbanos, seja por meio de hortas em espaços públicos; uso do sistema hidropônico para regiões com solos contaminados; através de fazendas verticais, entre outros.
99
[
PRAÇA VICTOR CIVITA, SÃO PAULO, BRASIL 2007
[
Ficha técnica: - Arquitetos: Levisky Arquitetos Associados e Anna Julia Dietzsch. - Ano: 2006 - 2007. - Tipo de projeto: Urbano. - Materialidade: Madeira e Metal. - Estrutura: Aço. - Localização: São Paulo, SP, Brasil. - Equipe: Gestão e Coordenação de Projeto: Levisky Arquitetos Associados Ltda. Colaboradores/ equipe: Renata Gomes - Arquiteto Associado – Coordenador Projeto. Arquitetos Colaboradores: Casey Mahon, Tatiana Antonelli, Lílian Braga, Luciana Magalhães, Renata H. de Paula. - Instalações: Grau Engenharia. - Estrutura: Companhia de Projetos. - Luminotécnica: Franco & Fortes Lighting Design. - Paisagismo: Benedito Abbud Paisagismo e Projetos. (HELM, 2011, adaptado pela autora)
101
Para exemplificar os três últimos itens abordados, apresenta-se o projeto da Praça Victor Civita, no bairro de Pinheiros em São Paulo, das arquitetas Adriana Blay Levisky e Anna Julia Dietzsch e do paisagista Benedito Abbud. Este é um modelo de recuperação de área degradada, em conjunto com a produção de alimentos e o reúso de águas pluviais e de esgoto, que só foi possível graças à Parceria Público-Privado (PPP) entre o grupo Abril Cultural (com sede em frente à praça) e a Subprefeitura de Pinheiros. Contudo, para a gestão da praça, foi criada uma organização chamada Amigos da Praça Victor Civita que apresenta nove responsáveis pela manutenção do local: Gerdau, Abril, CCR, Grupo Petrópolis, Claro, ONG Verde Escola, Itaú, Levisky Arquitetos Associados e Sabesp (CALLIARI25, 2014). Segundo Mauro Calliari em seu texto “Praça Victor Civita: Um espaço público de qualidade numa antiga área degradada” (2014), o local, onde hoje encontrase a praça, está degradado e contaminado, pois nele funcionava o incinerador de Pinheiros que queimou, de 1946 a 1989, o lixo da região oeste paulistana.
< Imagem 41: Vista aérea da Praça Victor Civita. Fonte: HELM, 2011.
25 Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor de organizações (CALLIARI, 2014). 103
“A contaminação por cinzas e metais pesados, resultado da queima do lixo, obrigou a construção elevada para evitar o acesso direto ao solo, o que foi resolvido por meio de um grande deck, que cruza a praça e se abre para os diferentes espaços criados, como os bancos inesperados, o teatro e os canteiros.” (CALLIARI, 2014)
Todo o projeto foi concebido por meio de premissas sustentáveis, sendo uma delas, o deck de madeira por utilizar três tipos de madeiras recomendadas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), como afirma a arquiteta Anna Julia Dietzsch em entrevista com Abílio Guerra e Aline Alcântara (2011). Outras pretensões foram as de reduzir a quantidade de entulho (optando por peças pré fabricadas) e o consumo de energia (com o uso de placas solares); o uso de materiais reciclados, legalizados e certificados determinados pelo IPT; o reúso da água; o aquecimento solar e a manutenção da permeabilidade do solo (HELM, 2011). O programa do projeto agrupa diversas atividades ao ar livre ou não (ver imagem 42),
“como à arena coberta, ao Museu da Reabilitação instalado no edifício do Incinerador, ao Centro da Terceira Idade, à Oficina de Educação Ambiental, ao Núcleo de Investigação de Águas e Solos subterrâneos e à Praça de Paralelepípedos.” (HELM, 2011)
104
1 - Energia alternativa: etanol. 2 - Jardineiras com sistema de auto irrigação “tec-garden”. 3 - Espécies com melhoria genética e para recuperação do solo. 4 - Coleta de águas pluviais sob deck de madeira. 5 - Jardim vertical: grafite e muro verde. 6 - Horta orgânica. 7 - Jardim vertical: horta hidropônica. 8 - Alagados construídos: filtragem e reciclagem natural de águas servidas (wetlands) 9 - Jardim vertical: trepadeiras floríferas. 10 - Jardim interno: espécies para minimização tratamentos químicos. 11 - Espécies alternativas para minimização de tratamentos químicos. 12 - Canaleta para irrigação por gravidade. 13 - Energia alternativa: biodiesel. 14 - Centro terceira idade. 15 - Jardins existentes. 16 - Deck suspenso de madeira. 17 - Deck permeável de concreto leve. 18 - Praça dos paralelepípedos mobiliários ecológico. 19 - Jardim vertical: unha de gato e hera de inverno. 20 - Núcleo de investigação do solo e águas subterrâneas (CETESB). 21 - Entrada principal.
Imagem 42: Implantação do projeto da Praça Victor Civita com o programa especificado. Fonte: HELM, 2011, adaptado pela autora. 105
Dada a contaminação do solo, foi colocada uma camada de 50 cm de terra nova em toda a área da praça, no total de 3.500 m³ de terra limpa para a implantação da vegetação. No entanto, isso não significa que são permitidos o manuseio e o passeio em cima do solo, mas sim, apenas contemplá-lo (NAKAOKA, 2013).
Imagem 43: Deck de madeira certificada sobre estrutura metálica reciclada suspensa a um metro do solo. Foto da autora, 2015.
Segundo Nakaoka (2013), os plantios foram feitos a partir de um sistema nomeado Tec Garden26, o qual foi construído a 60 cm acima do nível do solo original, onde foram colocadas uma camada de brita e uma manta de borracha. Os pedestais que suportam as placas de ardósia foram fixados na manta, enquanto que as placas, além de servirem de “base” para a nova camada de terra onde se dará o plantio dos jardins suspensos, também apresentam o meio vazado preenchido com fibra de coco. A água da chuva fica armazenada entre a manta de borracha e a ardósia e irriga o plantio por meio da capilaridade das fibras de coco, os quais possuem característica hidrófila (ver imagem 46).
26 Desenvolvido pela Remaster para construção de jardins autoirrigáveis sobre laje, o Tec Garden possui sistema de irrigação por capilaridade que atua como um lençol freático artificial. Além disso, não está limitado apenas à vegetação rasteira (REMASTER, 2017). 106
Imagem 44: Corte sem escala do deck de madeira elevado do solo. Fonte: PORTAL VITRUVIUS, 2009.
Imagem 45: Área sem plantio à direita, onde notam-se as placas de ardósia com o tubos preenchidos com fibra de coco para a irrigação. Foto da autora, 2015.
Imagem 46: Ciclo da água no sistema Tec Garden. Fonte: PORTAL VITRUVIUS, 2009. 107
Além disso, os plantios também são realizados por meio da hidroponia e da permacultura. O primeiro acontece como um jardim vertical de plantas hidropônicas, fixadas em barras metálicas, as quais são irrigadas por meio de canos estabilizados nessas barras. Já o segundo ocorre em plantações circulares e é cultivado por crianças que participam do programa de educação ambiental na praça (GUERRA; ALCÂNTARA, 2011).
Imagem 48: Os jardins de permacultura estão localizados próximos à Oficina das Crianças da ONG Verde Escola (edifício à direita da foto). Foto da autora, 2015
108
Imagem 49: Exemplo de plantio hidropônico. Percebe-se os canos de irrigação pretos fixados nas barras horizontais de suporte dos vasos. Foto da autora, 2015.
Imagem 50: Vista da wetland ao lado do antigo incinerador. Foto da autora, 2015.
O reúso das águas por meio de uma wetland é uma das características mais relevantes do projeto. As águas da chuva e provenientes da fossa séptica do Museu (previamente cuidada) são tratadas mediante processos físicos, químicos e biológicos. Sobre uma manta de borracha (a mesma utilizada no sistema Tec Garden), a wetland funciona como um “alagado construído” e, a partir dela, as águas são retidas e purificadas através da ação de cascalhos e plantas aquáticas juntamente às ações de micro-organismos e espécies brejeiras, as quais conferem um aspecto de pântano ao local. Após esse processo, são conduzidas por meio de canaletas em declive, em direção ao bosque, irrigando-o naturalmente por meio da gravidade. Além da função técnica da wetland, vale lembrar que esta também serve como um espelho d’água para a paisagem da praça (NAKAOKA, 2013).
109
Imagem 51: Exemplo de um dos banners informativos presentes na Praรงa Victor Civita. Foto da autora, 2015.
Imagem 52: Vista noturna da Praรงa Victor Civita com o Museu da Sustentabilidade ao fundo. Fonte: KON, 2008. > 110
EDIFICAÇÕES E INFRAESTRUTURA DE ALTO DESEMPENHO O quarto parâmetro essencial para implantar o Urbanismo Sustentável diz respeito às edificações e infraestrutura de alto desempenho. Leite afirma que a cidade sustentável deve balancear, de maneira eficiente, os recursos indispensáveis para seu funcionamento, “seja nos insumos de entrada (terra urbana e recursos naturais, água, energia, alimento, etc.), seja nas fontes de saída (resíduos, esgoto, poluição, etc.)” (2012, p. 135). As edificações e as infraestruturas, portanto, são projetadas para tentar diminuir ao máximo o consumo de energia, a poluição do meio ambiente, minimizar o número e distância dos deslocamentos, bem como incentivar as caminhadas, contribuindo para a saúde das pessoas. Contudo, para que esses objetivos sejam atingidos, é preciso que haja alta densidade, como já abordado, para que o alto desempenho esteja concentrado e, assim, funcionando melhor e mais economicamente. A tabela a seguir, compara a participação de cada rede de infraestrutura no custo total em porcentagem entre áreas de baixa e alta densidades. A partir desta, é possível notar que a participação do abastecimento de energia elétrica, de gás e de água no custo total é menor em áreas de alta densidade. Silva, Silva e Alejandro (2016) afirmam que a pavimentação e a drenagem são as infraestruturas mais custosas, uma vez que representam de 55% a 60% do custo de toda a infraestrutura urbana, enquanto que os sistemas sanitário e energético detêm 20% cada um.
112
“Portanto, um projeto urbano acessível deve minimizar superfície de vias, bem como utilizar materiais diferenciados entre as vias de alta velocidade e fluxo intenso (vias estruturais, arteriais, coletoras), das de menor volume e rapidez de deslocamento (as locais, que constituem em mais de 70% do sistema viário, dependendo do projeto urbano), podendo estas serem construídas com materiais mais baratos e permeáveis. A densidade urbana define custos de infraestrutura, assim, mais uma vez o modelo de habitação multifamiliar apresenta vantagens sobre o unifamiliar, por ser o primeiro mais denso que o segundo e de custos mais bem distribuídos entre os domicílios.” (SILVA, SILVA e ALEJANDRO, 2016)
Tabela 3: Participação de cada rede nos custos totais de cada sistema de abastecimento. Fonte: SILVA; SILVA; ALEJANDRO, 2016.
113
Segundo Farr, “o setor da edificação é o responsável pelo maior consumo de combustíveis fósseis e de recursos naturais do mundo” (2013, p. 196). Sabe-se que este consumo de energia de uma edificação dá-se pela calefação e pela refrigeração. Tais cargas podem ser internas ou externas, sendo as primeiras definidas pela iluminação, quantidade de pessoas, equipamentos e sistema de ventilação dentro do edifício, enquanto as segundas são influenciadas diretamente pelo tipo de vedações, aberturas e coberturas. Portanto, para que haja alto desempenho, a edificação deve conter soluções como: boa implantação para uso da iluminação e ventilação naturais; reúso da água da chuva; vedações adequadas de acordo com a localização geográfica de proteções solares (brises, beirais, vegetação); uso de materiais ecológicos e locais que produzam menos gases do efeito estufa (FARR, 2013). Tais soluções, de acordo com o contexto brasileiro, devem atender à Norma Brasileira de Desempenho (ABNT NBR 15.575), que estabelece requisitos para o bom funcionamento das edificações referentes aos sistemas construtivos utilizados. Similarmente às estas edificações, a infraestrutura de alto desempenho também apresenta diretrizes para promover a sustentabilidade urbana. De acordo com Farr (2013), são abordados dentro do termo “infraestrutura” as faixas de rolamento, as calçadas e passeios em geral, as redes subterrâneas de serviços públicos, o controle de água pluvial, as áreas verdes e qualquer outro elemento da paisagem urbana. Há muitos requisitos para projetar uma infraestrutura de alto desempenho, desde os componentes individuais, multifuncionais até o projeto integrado. Em relação aos primeiros, destacam-se o uso de plantas com longos períodos de estiagem, para reduzir as necessidades de irrigação e consumo de água, e o uso de lâmpadas LED na iluminação das vias públicas para diminuir o consumo de energia. Já para a otimização multifuncional, é preciso usar pavimentos permeáveis para minimizar o escoamento superficial das águas da chuva e a demanda nos equipamentos de gestão pluvial, bem como projetar solos estruturados em canteiros de árvores para que as raízes destas não estraguem os passeios e para que os pisos dos passeios apresentem maior resistência. A imagem abaixo mostra uma proposta de melhoria de uma rua comercial no centro de São Paulo, realizada pelo Instituto Soluções para as Cidades, em relação à alguns elementos de infraestrutura urbana como: integração entre os modais de 114
transportes, uso de pavimento permeável, arborização viária, mobiliário urbano e outros. Além disso, não é abordado por Farr, mas é de valiosa importância que as edificações, bem como às infraestruturas urbanas brasileiras, apresentem acessibilidade segundo a Norma de Acessibilidade Universal (ABNT NBR 9050).
8 2
1
5 3
6
9 7
10
11
12
10
4 Imagem 53: Proposta de qualificação das infraestruturas relacionadas ao espaço público. Fonte: GLOBAL DESIGNING CITIES INITIATIVE, 2017, adaptado e traduzido pela autora. Legenda: 1 – Mínimo 3 metros; 2 – Pântano/jardim de chuva; 3 – Museu para crianças; 4 – Lençol freático; 5 – Jardim de chuva;
6 – Guia elevada; 7 – Entrada de tubulação; 8 – Tubos perfurados/porosos; 9 – Tubos coletores; 10 – Superfície permeável;
11 – Depressões; 12 - Pavimento permeável.
115
BAIRRO SUSTENTÁVEL “Planejar uma cidade autossustentável exige uma ampla compreensão das relações entre cidadãos, serviços, políticas de transporte e geração de energia, bem como seu impacto total no meio ambiente local e numa esfera geográfica mais ampla. (...) Não haverá cidade sustentável, do ponto de vista ambiental, até que a ecologia urbana, a economia e a sociologia sejam fatores presentes no planejamento urbano.” (ROGERS, 2012, p. 32)
Para concluir, o quinto parâmetro essencial para implantar o Urbanismo Sustentável diz respeito aos bairros sustentáveis, os quais, em linhas gerais, são a união de todos os outros paradigmas apresentados anteriormente. Segundo a EcoDistricts27 (2017), os bairros são as bases de cidades sustentáveis e, por isso, é a partir deles que medidas voltadas a eficácia de sistemas sustentáveis devem ser implantadas. De acordo com o protocolo da EcoDistricts (2017), os bairros devem seguir três imperativos: equidade, resiliência e proteção climática, por meio de seis prioridades: local, prosperidade, saúde e bem estar, conectividade, infraestrutura viva e regeneração de recursos, as quais são implementadas em três etapas: formação, roteiro e desempenho (ver imagem 54).
27 A organização EcoDistricts foi fundada em maio de 2013 com a finalidade de propor um novo modelo de regeneração urbana por meio de bairros e distritos completos e sustentáveis para todos. A EcoDistricts visa promover as melhores práticas de sustentabilidade que abordam, simultaneamente, equidade, resiliência e proteção climática, mediante profissionais de desenvolvimento urbano e políticos (ECODISTRICTS, 2017, tradução livre da autora). 116
Ainda com base no protocolo da EcoDistricts (2017, tradução livre da autora), objetiva-se entender o que significam os três pilares dos bairros sustentáveis. Equidade é a capacidade das cidades de identificar e reconhecer as comunidades vulneráveis à mudança e, a partir disto, assegurar que essas comunidades tenham a oportunidade de participar, liderar e prosperar de forma significativa e justa. Já a resiliência é propriedade das cidades de funcionar de modo que todas as pessoas sejam capazes de suportar os choques sociais, econômicos e ambientais que possam surgir. E por fim, a proteção climática diz respeito à busca por cidades neutras em emissões de dióxido de carbono (CO²), sendo este o principal gás do efeito estufa que contribui para a mudança climática. Imagem 54: Processo de implantação dos três pontos centrais dos bairros sustentáveis segundo a EcoDistricts. Fonte: ECODISTRICTS, 2017.
Por outro lado, para compreender melhor as estratégias que colocam em prática os pilares abordados, criou-se uma tabela que diferencia as metas e objetivos de cada uma das prioridades abordadas.
117
PRIORIDADE
META
OBJETIVOS
LUGAR
Criar comunidades inclusivas e Forte compromisso cívico; vibrantes. preservação e celebração da cultura e da história; habitação diversificada e acessível; e espaços públicos acessíveis e serviços para as necessidades diárias.
PROSPERIDADE
Apoiar a educação e oportunidades econômicas que criem prosperidade e acelerem a inovação.
SAÚDE E BEM ESTAR
Acesso equitativo a uma educação e percursos profissionais de qualidade; uma sólida base de emprego, com o aumento no número e da qualidade de empregos; e inovação corporativa e criação de empresas. Sustentar a saúde e felicidade Vida ativa fundamentada em das pessoas. walkability e recreação; resultados de saúde equitativos baseados em cuidados médicos comidas locais e frescas acessíveis; ambientes tóxicos remediados; e segurança pública.
Tabela 4: Tabela criada pela autora a partir de informações do Protocolo da EcoDistricts. Fonte: ECODISTRICTS, 2017, traduzido e adaptado pela autora.
118
PRIORIDADE CONECTIVIDADE
INFRAESTRUTURA VIVA
REGENERAÇÃO DE RECURSOS
META
OBJETIVOS
Construir conexões efetivas entre Uma rede de rua que acomoda pessoas e lugares. diversas idades e habilidades usando múltiplos modos de transporte e opções de mobilidade compartilhada, além de uma rede digital de alta qualidade que fornece conectividade equitativa e dados comunitários alavancados. Habilitar e conectar a Solos saudáveis, água, árvores e habitat de vida selvagem; ecossistemas florescentes. natureza acessível; e processos naturais integrados ao ambiente construído. Trabalhar rumo à uma rede Uso mais eficiente da água; positiva de energia, água e desvio de resíduos de aterros; reutilização de terras reparadas; resíduos. e busca por eficiência energética, avanços tecnológicos e produção de energia renovável que reduzam as emissões de gases de efeito estufa.
119
Para implementar todos estes objetivos, é preciso das três fases já citadas: formação, roteiro e desempenho. A formação consiste em construir uma equipe, com os líderes, colaboradores e governantes necessários para apoiar as ações efetivas em todas as fases de desenvolvimento e implementação. Essa equipe segue um roteiro, no qual consta um plano de ação que abrange as metas de desempenho, estratégias viáveis para atingir os objetivos, um cronograma e recursos para a implementação. E, por fim, o desempenho fundamenta-se em executar o roteiro, reportar os progressos rumo às metas, utilizar os resultados para reforçar o desempenho e transferir as lições aprendidas (ECODISTRICTS 2017, tradução livre da autora). A partir disto, nota-se a semelhança dos objetivos dos EcoDistricts com os parâmetros tratados sobre o Urbanismo Sustentável, visto que ambos buscam a sustentabilidade urbana em seus três níveis: social, econômico e ambiental, por meio de ações referentes às infraestruturas; à mobilidade; ao lugar e ao meio ambiente, como observa-se na imagem a seguir.
120
3
2 1
6
4
5
Imagem 55: Diretrizes gerais da EcoDistricts. Legenda: 1 – Lugares culturais significantes preservados; 2 – O bairro não apresenta desperdício de energia; 3 – Os níveis de rendas familiares estão crescendo; 4 – O habitat é melhorado + a água da chuva é gerida; 5 – O bairro é caminhável com acesso a alimentos frescos com preços acessíveis. Fonte: ECODISTRICTS, 2017, adaptado e traduzido pela autora.
121
Em suma, é possível notar que todos os parâmetros citados devem coexistir para que o Urbanismo Sustentável seja implantado e funcione corretamente desde em bairros até em cidades sustentáveis. Para isso, é necessário que haja alta densidade com edificações multifuncionais (habitação, comércio e serviços) de alto desempenho, juntamente a um eficiente sistema de mobilidade: com transportes públicos adequados e um traçado urbano que encoraje a caminhada e o ciclismo, para melhorar a segurança pública e o senso de comunidade (LEITE, 2012). Ademais, o alto adensamento também contribui para que haja a infraestrutura de alta performance com custos reduzidos. Simultaneamente a todos estes elementos, deve-se integrar a biofilia no cotidiano das pessoas, com o propósito de que, finalmente, haja a boa relação entre os homens e a natureza, sem agressão ao meio ambiente, proporcionando espaços de usos coletivos e melhor bem estar urbano. O quadro de autoria de Rodrigo Noleto a seguir representa de forma sintetizada as mesmas estratégias, mas com palavras-chave, divididas entre aspectos sociais, culturais e econômicos, e aspectos ambientais.
> Quadro 1: Quadro síntese das estratégias do Urbanismo Sustentável separadas por temas. Fonte: NOLETO, 2016, p. 119. 122
123
4
EIXO ANA ROSA - ACLIMAÇÃO
rua vergueiro +820
praça rosa alves da silva +775
Imagem 56: Corte ilustrativo do Eixo Ana Rosa - Aclimação. Fonte: GOOGLE EARTH PRO, 2017, adaptado pela autora. Todas as fotos acima são da autora, 2017.
praça do povo húngaro +763
parque da aclimação +755
O Plano de Reestruturação Urbana
O conceito de Urbanismo Sustentável desenvolvido por Douglas Farr e abordado no capítulo anterior serviu de embasamento para a proposta de um Plano de Reestruturação Urbana para o Eixo Ana Rosa – Aclimação. Dessa forma, foi a partir de todos os parâmetros estudados que almejou-se propor diretrizes para este eixo, a fim de criar espaços urbanos mais adequados ao pedestre em combinação com diversos modais de transporte e com edificações de uso misto. O Plano de Reestruturação Urbana representado por um masterplan (ver imagem 57) foi desenhado a partir da análise da região por meio do Google Earth e de visitas da autora. Por este, observa-se a distinção de três zonas: as com tráfico intenso, as quais precisam de reformulação do sistema viário (como as ruas Vergueiro e Pedra Azul); a de via local com tráfego médio, precisamente a Rua Machado de Assis, dada a sua ligação direta entre as duas vias principais anteriormente citadas; e as vias locais perpendiculares ao eixo, as quais apresentam de médio a leve tráfego, de acordo com as proximidades às ruas de tráfego intenso. Com o intuito de melhor exemplificar as diretrizes, foram produzidos quatro transectos urbanos, que cortam os pontos mais críticos de cada zona. Vale relembrar que o transecto urbano-rural foi abordado no início do capítulo 2 (ver página 56) como uma das ferramentas a serem utilizadas para propor mudanças urbanas. No entanto, como o eixo abordado encontra-se em uma área totalmente urbana, os transectos produzidos não apresentam o corte do ambiente natural.
128
No plano a seguir, nota-se, além da indicação das zonas, alguns lotes assinalados seja por sua potencialidade ou pelo seu uso. Em laranja, por exemplo, estão apontadas os edifícios educacionais, sejam privados ou públicos, desde o ensino infantil ao cursinho Anglo próximo ao metrô Ana Rosa, os quais são de grande importância para entender a quantidade de crianças e jovens que transitam pela área e devem usufruir dos espaços públicos, bem como do objeto de projeto a ser abordado posteriormente. Por outro lado, em roxo estão marcados os imóveis inativos – para serem alugados ou vendidos – que apresentam potencial para tornarem-se estabelecimentos comerciais ou equipamentos públicos de uso dos moradores da região, a fim de minimizar os deslocamentos à pé e propor a mistura de funções nessa área majoritariamente residencial. Além disso, há também a proposta de requalificação dos comércios já existentes (pintados de rosa), principalmente aqueles localizados nas esquinas das quadras, a fim de recriar o espaço à frente destes estabelecimentos, seja por meio do aumento das calçadas, implantação de arborização ou recuo da fachada ativa (de modo a criar uma marquise sobre a calçada), com a finalidade de atrair mais clientes e, assim, aumentar o fluxo e o interesse das pessoas para usufruir destes comércios locais, bem como melhorar a segurança pública. Vale ressaltar que estes imóveis apresentariam também habitações nos pavimentos superiores, com o propósito de adensar todo o eixo. As diretrizes propostas para o Eixo Ana Rosa - Aclimação, descritas a seguir, também poderão ser ampliadas para as áreas adjacentes ao eixo, não limitando-se à este território, mas sim visando a melhoria da região como um todo. 129
Diretrizes:
1. Alargar as calçadas, seja por meio da concessão de parte do lote privado ou público ou através da diminuição do leito carroçável, com o objetivo de trazer mais conforto e segurança para o pedestre, incentivando-o a locomover-se à pé. 2. Implantar áreas verdes nas calçadas e valorização daquelas préexistentes, a fim de incentivar o uso do espaço público por mais pessoas, que se beneficiariam com a melhora do microclima e segurança urbanos. 3. Instalar mobiliário urbano nas calçadas e praças, para que haja o incentivo da apropriação do espaço, bem como para ser usado como descanso, dada a topografia muito íngreme da região. 4. Aterrar a fiação elétrica, de modo a contribuir com a paisagem urbana; a locomoção de pedestres e ciclistas; a eficácia desta infraestrutura e sua manutenção. 5. Propor a instalação de pisos permeáveis em conjunto a reservatórios abaixo da cota pública, para que as águas pluviais sejam armazenadas e usadas para irrigar a vegetação proposta. Além de diminuir o escoamento superficial e evitar alagamentos.
130
6. Reestruturar as vias de maiores trânsitos, ruas Vergueiro e Pedra Azul, com a finalidade de melhorar a circulação de pedestres, ciclistas, automóveis e ônibus ao mesmo tempo, bem como propor melhorias como alargamento do canteiro central e das calçadas juntamente à implantação de arborização. 7. Implantar parklets na Rua Machado de Assis em frente aos comércios e futuros equipamentos públicos, para incentivar o pedestre a caminhar, bem como valorizar os comércios locais. 8. Desenterrar e limpar o córrego abaixo da Viela que termina na Praça do Povo Húngaro, com o propósito de melhorar a drenagem da região, promover um espaço público distinto ao pré-existente e propor a biofilia além da vegetação. 9. Utilizar dos edifícios em estado de venda/aluga em parceria com a iniciativa privada, para estabelecer outros equipamentos e tipos de comércio (como farmácias e mini mercados), a fim de suprir com a necessidade de grandes deslocamentos diários.
131
Centralidade Imóveis inativos com potencialidade para estabelecimentos comerciais e equipamentos públicos Comércio pré-existente a ser requalificado Eixo Ana Rosa - Aclimação Edifício Educacional Reformulação da Rua Machado de Assis Reestruturação do sistema viário Requalificação das vias locais Local de projeto
PR
O
DU
D
BY
AN
AU
TO DE
SK
ED
UC
AT
IO
NA
L
PR
O
DU CT
CE
132
D
BY
AN
AU
TO
DE
SK
CED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
ED
UC
0
AT
100
250
IO
NA
L
PR
O Imagem 57: Plano de Reestruturação Urbana do Eixo Ana Rosa - Aclimação. DU CT 2017. Fonte: Elaborado pela autora,
5
4
1
5
2
3
5
4
5
4
1
3
4
4
5
133
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCA
^ Imagem 58: Transectos urbanos de A a D. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
0
5
25
As ações demonstradas nos transectos acima são:
1) Utilizar rotatórias e outras áreas verdes sem uso, para plantio de alimentos ou de jardins a serem usados pelos moradores locais. Estas áreas contariam com o sistema Tec Garden, a fim de captar e armazenar as águas pluviais, para serem usadas na irrigação das plantações, como também para diminuir o escoamento superficial. 2) Trazer à vida o córrego abaixo da Viela Estevam Hernandes que termina na Praça do Povo Húngaro, com o objetivo de recriar um espaço público apropriado ao lazer, por meio da conscientização do uso das águas urbanas, melhoria na arborização e criação de arquibancadas ao longo do córrego para serem usadas quando a vazão estiver baixa.
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
3) Readequar o sistema viário por meio do alargamento das calçadas, da implantação de faixas exclusivas de transporte público em harmonia com outros modais de transporte, como automóveis e bicicletas, de modo que as ciclovias estejam mais próximas às calçadas e as faixas exclusivas para ônibus próximas aos canteiros centrais, priorizando, assim a segurança e o conforto de pedestres e ciclistas – principalmente nas ruas de tráfego intenso. 4) Aterrar a fiação elétrica pública por meio da canalização abaixo das calçadas. Essa prática melhora a paisagem urbana e permite a manutenção da elétrica de forma mais organizada e segura. 5) Utilizar pavimentos permeáveis em todos os canteiros e calçadas, de modo que abaixo destes hajam um reservatório de armazenamento das águas pluviais, para que estas irriguem a arborização viária ou sejam escoadas lentamente, a fim de impedir alagamentos. 134
As análises, diretrizes e propostas acima apresentam o intuito de aplicar o Urbanismo Sustentável em uma área consolidada da cidade de São Paulo. Para tanto, utilizou-se de todos os parâmetros estudados no capítulo anterior para serem aplicados ao eixo de diversas maneiras, seja pela reestruturação do sistema viário; uso de infraestrutura de alto desempenho; biofilia por meio do resgate do córrego e áreas verdes inóspitas; adensamento e pela proposta de se criar um eixo urbano como um corredor de sustentabilidade, mediante a harmonia entre diferentes transportes e o uso de arborização viária. Por fim, complementando essas estratégias, a edificação de alto desempenho será abordada no item a seguir.
135
O Centro Esportivo
Ao fazer a análise dos equipamentos urbanos de todo o bairro da Vila Mariana, verificou-se uma grande concentração destes atrativos a oeste da Rua Vergueiro, sendo o sentido leste predominantemente residencial. Dessa forma, para incentivar a mescla de usos defendida pelo Urbanismo Sustentável, e após levantamento dos equipamentos públicos do bairro, notou-se a necessidade de um Centro Esportivo a leste da Rua Vergueiro. Assim, o Centro Esportivo proposto, de associação pública e privada, serviria como um complemento às escolas da região, bem como para seria de utilidade para os moradores e trabalhadores do bairro. Dada a necessidade de uma grande área para a implementação do projeto, visto à dimensão do programa, foram escolhidos dois lotes localizados nas esquinas das ruas Vergueiro com a Machado de Assis e dentro do Eixo Ana Rosa - Aclimação. A ideia de selecionar tais lotes deu-se a partir de sua localização, para que o projeto possa servir como um exemplo de reurbanização de todo o eixo, mesmo que com outras funções e tipologias, levando em consideração a particularidade de cada local.
136
Imagem 59: Vista aérea dos lotes no começo do Eixo Ana Rosa - Aclimação. Fonte: GOOGLE EARTH PRO, 2017, adaptado pela autora.
O programa de projeto foi determinado para atender às diversas faixas etárias: desde as crianças aos idosos. Para a disposição do mesmo, foram propostos dois conjuntos de edifícios (A e B), conectados por uma passarela no último pavimento, que compõem dois tipos de atividades: secas e com água, respectivamente. Para compor todo o programa, estudou-se aqueles referentes aos projetos brasileiros do Serviço Social do Comércio (SESC), bem como analisou-se outras referências internacionais, entre elas o Centro de Deporte y Ocio Covaresa (2007), de Jesús de los Ojos (OA Estudio) e José António Salvador Polo, na cidade espanhola de Valladolid. A - atividades secas
B - atividades com água Imagem 60: Diagrama de setorização do programa. Fonte: Imagem da autora, 2017. 137
Para facilitar a compreensão do projeto, será abordado cada bloco individualmente, mas, primeiro, é importante ressaltar que dada a topografia acidentada desta região, o partido inicial foi vencer o desnível de sete metros de ambos os lotes com todo o programa adequado desde a Rua Vergueiro às ruas Manuel de Paiva e Frei Eusébio da Soledade. Para tanto, foram analisadas alternativas que atraíssem o pedestre a cruzar a quadra e vencer o desnível, as quais resultaram em escadas públicas com mezaninos e no rebaixamento da quadra poliesportiva do bloco A, gerando uma grande praça pública em sua cobertura, que permite o fluxo de pedestres a qualquer hora do dia. Sendo a quadra o elemento central deste bloco, todos os outros ambientes estão dispostos ao seu redor, sendo subdivididos por dois núcleos de atividades, conectados por passarelas onde concentram-se o núcleo de circulação vertical e a infraestrutura de apoio às atividades.
138
Imagem 61: Diagrama de fluxos públicos. Fonte: Imagem da autora, 2017.
ESTAÇÃO DE METRÔ ANA ROSA
TERMINAL DE ÔNIBUS ANA ROSA
BLOCO A
RUA VERGUEIRO
BLOCO B
RUA MACHADO DE ASSIS
Imagem 62: Croqui de situação do projeto em relação ao entorno. Fonte: Imagem da autora, 2017. 139
Portanto, o bloco A pode ser acessado tanto pelo nível 0.00 desde a Rua Vergueiro, quanto do -7.00 desde a Rua Frei Eusébio da Soledade. Caso seja adentrado pelo 0.00, o visitante pode usufruir dos comércios, do espaço de exposição e da praça central, a qual foi projetada para ser apropriada como as pessoas desejam, seja por meio de ensaios de dança, prática de skate, espaço para foodtruck, entre outros. Vale evidenciar que os comércios, além de serem importantes para o complemento do programa do Centro Esportivo, são propostos pelo PDE (2014) para as zonas dos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana, visto que a Rua Vergueiro pertence à estes eixos, é necessário a fachada ativa. Ainda no nível 0.00, o programa conta com uma recepção, a administração (subdividida em diversos ambientes como: recepção, presidência, diretoria, operacional, sala de reunião, copa, R.H. e almoxarifado) e outros ambientes de apoio localizados no mesmo eixo do bloco de circulação vertical que conta com duas escadas de emergência e três elevadores, sendo um deles monta-carga. Estes ambientes de apoio seriam: sala de enfermaria, apoio da recepção e sanitários. Caso não haja a necessidade de se utilizar os elevadores, a circulação pode ser feita por meio de uma escada principal que acessa desde o nível -10.30 até o +18.00. A disposição desses elementos no térreo possibilita um fluxo diagonal do lote em direção ao Terminal de Ônibus Ana Rosa, facilitando o percurso do pedestre que acessa desde a cota -7.00. Os outros pavimentos são semelhantes, mudando somente os usos de cada um e as dimensões das salas, uma vez que algumas apresentam portas pivotantes giratórias que possibilitam que as salas se unam em um grande salão. O primeiro pavimento (+6.00), por exemplo, possui um espaço de atividades corporais (como yoga, pilates, dança) e outro infantil (com brinquedoteca e atividades para crianças de até 12 anos), além do vestiário feminino e de um depósito no mesmo eixo de circulação vertical. Já o segundo (+12.00) conta com academia, sala de spinning, vestiário masculino e outro depósito. E o último, por sua vez, apresenta um espaço para artes marciais e outros dois distintos para crossfit e tênis de mesa, além de um espaço de convivência próximo à 140
passarela metálica que liga o bloco A e o B. Na cobertura do bloco A, além das caixas d’água e casas de máquinas dos elevadores, há painéis fotovoltaicos, propostos com a intenção de suprir com parte ou total da demanda de energia do edifício. Como já dito, os terrenos apresentam um desnível de sete metros e, por isso, para o bloco A, foram propostos mais três pavimentos abaixo da cota 0.00. O primeiro à -4.00 é um mezanino urbano, de acesso público, que permite a visualização da quadra poliesportiva. Por outro lado, o nível -7.00 dispõe de mais um acesso à este bloco desde a Rua Frei Eusébio da Soledade, por meio do qual é possível aceder ao restaurante de frente à área verde permeável e às arquibancadas da quadra, além da sala de professores e sanitários. Por fim, o último nível -10.30, é o mesmo de acesso à quadra poliesportiva, onde há dois vestiários para os jogadores, bem como a área técnica, refeitório e vestiário dos funcionários ventilados, já que seus fechamentos dão para a área verde permeável ao fundo do lote. painéis solares
painéis solares
sl. artes marciais
sl. tênis de mesa
academia
crossfit sala infantil
sl. ativ. corporais rua vergueiro loja
loja
praça quadra poliesportiva
adm restaurante
rua frei eusébio da soledade
a. técnica Imagem 63: Corte esquemático de entendimento do programa do bloco A. Fonte: Imagem da autora, 2017. 141
O bloco B, no entanto, apresenta, prioritariamente, as atividades com água, além de outros espaços de atividades de estar, lazer e saúde. Semelhante ao bloco A, desde à Rua Vergueiro pode-se acessar a recepção, a escada principal (que vai desde o -4.00 até o +18.00), o bloco de circulação vertical que também conta com a sala de avaliação física e outra de enfermaria, além de sanitários, e mezaninos com vista para a piscina infantil no nível -4.00. Seguindo a mesma forma do térreo, o primeiro pavimento (+6.00) muda os usos dos ambientes, apresentando uma clínica de fisioterapia e a piscina semi-olímpica com dois vestiários (um feminino e outro masculino) nas laterais da piscina. Já o segundo pavimento (+12.00) compõe o café e o mezanino com arquibancadas com vista para a piscina semiolímpica. O terceiro andar (+18.00) é formado pela piscina recreativa e pelo espaço de convivência que está conectado ao bloco A pela passarela, anteriormente citada. Na laje de cobertura do bloco B há cobertura verde e horta sobre o sistema de Tec Garden, a qual seria utilizada somente pelos usuários do café ou do restaurante, além das caixas d’água e casas de máquinas dos elevadores.
142
Imagem 64: Diagrama que indica a concentração da infraestrutura dos blocos A e B, composta por circulação vertical, salas de apoio e sanitários/vestiários. Fonte: Imagem da autora, 2017.
horta | cobertura verde piscina recreativa
espaço convivência café
piscina semi olímpica
clínica fisioterapia recepção
rua manuel de paiva
rua vergueiro
piscina infantil estac.
a. técnica
Imagem 65: Corte esquemático de entendimento do programa do bloco B. Fonte: Imagem da autora, 2017.
Analogamente ao bloco A, o B também apresenta um mezanino urbano no nível -4.00, o qual permite a visualização da piscina infantil neste mesmo nível. Portanto, nesta planta, a piscina conta com dois vestiários e uma sala de professores. É preciso atentar-se que o eixo das piscinas é o mesmo em todos os pavimentos, exigindo grandes pés direitos dada a profundidade e a altura das estruturas destas. O último andar do bloco B é o -8.20 que está composto por vagas de automóveis destinadas apenas à diretoria e à presidência do Centro Esportivo, além de daquelas à carga e descarga e à acessibilidade. Neste mesmo pavimento, há também vestiários e refeitórios dos funcionários e a área técnica com ventilação para a área verde permeável.
143
Como solução estrutural, foram trabalhados três tipos de estrutura. Para vencer os grandes vãos tanto dos espaços de uso múltiplo do bloco A, quanto da quadra poliesportiva e dos ambientes de atividades secas do bloco B, usou-se da estrutura metálica em modulações entre 7,50 e 11,25 metros, com vigas de 70 cm de altura. No entanto, a cobertura da quadra poliesportiva é composta por treliças metálicas que vencem 32 metros de vão. Por outro lado, a parte do bloco B destinada às piscinas teve de ser projetada em concreto, para que os pilares apresentassem melhor funcionamento junto às vigas de concreto, que também são as estruturas das piscinas. Em ambos os blocos, o volume de circulação vertical, de infraestrutura e apoio é de parede estrutural de concreto em conjunto com os pilares metálicos do bloco A e em concreto do bloco B.
piscina recreativa
piscina semi olímpica praça piscina infantil
rua machado de assis quadra poliesportiva
estac.
a. técn.
Imagem 66: Corte esquemático de entendimento estrutural dos blocos A e B. Fonte: Imagem da autora, 2017. 144
Já os fechamentos foram analisados segundo a orientação solar. As fachadas leste e oeste dos dois blocos apresentam proteções solares com chapas metálicas perfuradas ou não, uma vez que a intenção era permitir parcialmente a passagem de luz natural. Estas chapas estão afastadas em 62,5 cm do fechamento de vidro com janelas basculantes e passarelas técnicas, para permitir a ventilação natural por entre os pavimentos. As perfurações das chapas variam de 1 a 10 cm de diâmetro, para que fosse possível gerar o efeito degradê nas escalas humanas das fachadas, uma vez que quanto menor o diâmetro, maior o efeito de transparência (ou seja, maior é a chance de conseguir observar o interior do edifício). Já quanto maior o diâmetro, mais notase o desenho, por isso foram propostas as perfurações em ordem crescente de diâmetros, resultando no degradê. Por outro lado, as fachadas norte e sul, bem como as internas, apresentam fechamento com vidro e beirais de 2,50 m, os quais também funcionam como barreiras à luz solar.
Imagem 67: Diagrama de proteção solar (chapas perfuradas + beirais). Fonte: Imagem da autora, 2017.
145
Em relação às áreas verdes, estas foram propostas com o intuito de serem utilizadas como praças públicas e, por isso, estão localizadas nas esquinas dos blocos A e B, de modo a haver a conexão visual entre ambas. Além destas, a praça central do bloco A também apresenta área verde por meio do sistema Tec Garden.
Imagem 68: Diagrama de área verde. Fonte: Imagem da autora, 2017.
Imagem 69 e 70: Piso permeável antes do preenchimento com grama e seixos. Fonte: Fotos da autora, 2017. 146
Como todo o projeto foi pensado de maneira a otimizar a construção e garantir a sustentabilidade da edificação, seja com estruturas metálicas e fechamento de chapas perfuradas metálicas pré-fabricadas, ou com o uso de painéis fotovoltaicos, as áreas verdes também contribuem para a sustentabilidade do Centro Esportivo, uma vez que são implantadas através de pisos perméaveis de plástico 100% reciclado, embaixo dos quais há uma tubulação que direciona as águas pluviais para serem armazenadas e depois reutilizadas como águas cinzas dentro do edifício.
Imagem 71: Croqui desde à praça central do Bloco A com vista para o Bloco B. Fonte: Imagem da autora, 2017.
147
Imagem 72: Perspectiva aérea dos blocos A e B. Fonte: Imagem da autora, 2017.
> Imagem 73: Planta Nível 0.00 - Térreo. Fonte: Elaborado pela autora, 2017. 148
0
10
25
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
149
sala de atividades corporais
sala infantil
piscina semi-olímpica
150
Imagem 74: Planta Nível +6.00. Fonte: Elaborado pela autora, 2017. 0
10
25
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
clínica de fisioterapia
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
academia
sala de spinning
sala de atividades cardiovasculares
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
Imagem 75: Planta Nível +12.00. Fonte: Elaborado pela autora, 2017. 0
10
25
151
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
café
sala de artes marciais
sala de crossfit tênis de mesa
espaço de convivência
espaço de convivência
152
Imagem 76: Planta Nível +18.00. Fonte: Elaborado pela autora, 2017. 0
10
25
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
piscina recreativa
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
painéis fotovoltaicos
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
horta
Imagem 77: Planta Nível +24.00. Fonte: Elaborado pela autora, 2017. 0
10
25
153
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
cobertura verde
Imagem 78: Corte CC. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Bloco B | Área terreno: 2.547 m² | T.O = 70% = 1.783 m² - T.O Proposta = 66% = 1.700 m² | C.A = 4 = 10.188 m² - C.A Proposto = 3,33 = 8.500 m² | A.P = 15% = 382 m² - A.P. Proposta = 18% = 462,40 m² 154
10
25
BLOCO B | Área terreno: 5.012 m² | T.O = 70% = 3.508,40 m² - T.O Proposta = 55% = 2.800 m² | C.A = 4 = 20.048 m² - C.A Proposto = 3,44 = 13.824 m² | A.P = 15% = 751,80m² - A.P. Proposta = 19% = 974 m² PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
QUADRO DE ÁREAS
0
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
Imagem 79: Perspectiva externa com vista para a praรงa central do bloco A. Fonte: Imagem da autora, 2017.
155
156
Imagem 80: Planta NÃvel -4.00. Fonte: Elaborado pela autora, 2017. 0
10
25
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
piscina infantil
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
restaurante
área técnica PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
Imagem 81: Planta Nível -7.00. Fonte: Elaborado pela autora, 2017. 0
10
25
157
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
estacionamento
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
quadra poliesportiva
área técnica
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
Imagem 82: Planta Nível -10.30. Fonte: Elaborado pela autora, 2017. 0
25
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
158
10
Imagem 83: Detalhe arquitetônico 1:100. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Imagem 84: Perspectiva interna da quadra poliesportiva. Fonte: Imagem da autora, 2017. 159
Imagem 85: Corte AA. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
0
10
25
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
160
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
0
10
25
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
Imagem 86: Corte BB. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
161
Imagem 87: Perspectiva interna da piscina semi-olĂmpica. Fonte: Imagem da autora, 2017. 162
Imagem 88: Elevação Oeste. Imagem 89: Elevação Sul. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
0
10
25
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODU
UCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
163
0
10
25
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PROD
164
CED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT
Imagem 90: Elevação Leste. Imagem 91: Elevação Norte. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.
Imagem 92: Perspectiva externa desde Ă Rua Vergueiro. Fonte: Imagem da autora, 2017. 165
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
168
A partir de todo o estudo realizado para a compreensão do Urbanismo Sustentável, percebese a grande relevância de seus parâmetros e que devem ser colocados em prática, com urgência. Aliás, também foi possível notar que o bairro da Vila Mariana, dado como ótimo para se viver na cidade de São Paulo, carece de uma requalificação urbana, principalmente à leste da Rua Vergueiro, região esta na qual predomina o uso residencial, com a inexistência de espaços e equipamentos públicos de qualidade. Dessa forma, é possível concluir que as melhorias urbanas devem ser constantes, mesmo em lugares já consolidados, considerados como completos, ou seja, não pode-se deixar de considerar as questões do Urbanismo Sustentável. Entretanto, para que isso ocorra, é preciso que se formem alianças entre profissionais e o poder público, além da participação popular, para que realmente as transformações possam se concretizar.
169
REFERÃ&#x160;NCIAS
CAPÍTULO 1 AGÊNCIA BRASIL. Cinemateca Brasileira perdeu em incêndio cerca de mil rolos de filme. 2016. Disponível em: <http://www.metropoles.com/entretenimento/cinema/cinemateca-brasileira-perdeu-em-incendio-cerca-de-milrolos-de-filme>. Acesso em 05/02/2017. ELIEZER, Igor. A história das linhas de trem entre São Paulo e Santo Amaro. Disponível em: <http://jornalggn.com.br/ blog/luisnassif/a-historia-das-linhas-de-trem-entre-sao-paulo-e-santo-amaro>. Acesso em: 01/12/2016. EMPRESA METROPOLITANA DE PLANEJAMENTO DA GRANDE SÃO PAULO. Memória urbana: a grande são paulo até 1940. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001. 3 v. GEOSAMPA. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx#>. Acesso em 22/01/2017. GESTÃO URBANA. Disponível em: <http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2016/03/ViaMariana.pdf>. Acesso em 23/01/2017. GESTÃO URBANA. Glossário. Disponível em: <://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2016/03/ Gloss%C3%A1rio.pdf>. Acesso em 23/01/2017. GIESBRECHT, Ralph Mennucci. Rua Domingos de Moraes. Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/ avenidas/d/domingosdemorais.htm>. Acesso em: 01/12/2016. GIESBRECHT, Ralph Mennucci. Santo Amaro (Tramway). Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/s/ stoamaro-tramway.htm>. Acesso em: 01/12/2016. IBGE. Histórico. Disponível em: <http://ibge.gov.br/cidadesat/painel/historico.php?codmun=355030&search=saopaulo%7Csao-paulo%7Cinphographics:-history&lang=>. Acesso em 31/01/2017. IBGE. População Recenseada,Taxas de Crescimento Populacional e Densidade Demográfica. Disponível em: <http:// infocidade.prefeitura.sp.gov.br/htmls/7_populacao_recenseadataxas_de_crescimento_1980_10745.html>. Acesso em: 22/01/2017. INFOCIDADE. Expansão da Área Urbanizada. Disponível em: <http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/mapas/3_ expansao_da_Area_urbanizada_1981_1>. Acesso em 07/12/2016. INFOCIDADE. População Recenseada, Taxas de Crescimento Populacional e Densidade Demográfica. Disponível em: <http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/htmls/7_populacao_recenseadataxas_de_crescimento_1980_10745.html>. Acesso em 22/01/2017. 172
INFOCIDADE. Regiões, Subprefeituras e Distritos. Disponível em: <http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/mapas/3_ regioes_subprefeituras_e_distritos_2014_10338.pdf>. Acesso em 07/12/2016. INFOCIDADE. Taxas de Crescimento Populacional Anual. Disponível em: <http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/ mapas/7_taxas_de_crescimento_populacional_anual_1980_10315>. Acesso em 07/12/2016. PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO (PDE). Texto da Lei Ilustrado. 2014. Disponível em: <http://gestaourbana.prefeitura. sp.gov.br/wp-content/uploads/2015/01/Plano-Diretor-Estrat%C3%A9gico-Lei-n%C2%BA-16.050-de-31-de-julhode-2014-Texto-da-lei-ilustrado.pdf>. Acesso em: 15/08/2016. PETRONE, Pasquale. A cidade de São Paulo no século XX. Revista de História, São Paulo, v. 10, n. 21-22, p. 127170, june 1955. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/36445/39168>. Acesso em: 01/12/2016. PONCIANO, Levino. Bairros paulistanos de A a Z. 2. ed. rev São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 2002. 266 p. PREFEITURA REGIONAL VILA MARIANA. Histórico. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/ secretarias/subprefeituras/vila_mariana/historico/?p=416>. Acesso em 27/11/2016. ROLNIK, Raquel. São Paulo. 3. ed. São Paulo: Publifolha, 2013. 83 p. (Folha explica). ROLNIK, Raquel. Sobre. Disponível em: <https://raquelrolnik.wordpress.com/sobre/>. Acesso em 20/05/2017. RYBCZYNSKI, Estanislau. Santo Amaro: eixo histórico dos transportes, trem, bonde e metrô, no mesmo itinerário. Disponível em: <http://www.saopaulominhacidade.com.br/historia/ver/9135/Santo%2BAmaro%253A%2Beixo%2Bhistorico%2Bdos%2Btransportes%252C%2Btrem%252C%2Bbonde%2Be%2Bmetro%252C%2Bno%2Bmesmo%2Bitinerario>. Acesso em: 01/12/2016. SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO. Censo de 1920. Disponível em: <http://smdu.prefeitura. sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1924.jpg>. Acesso em: 25/01/2016. SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO. Censo de 1950. Disponível em: <http://smdu.prefeitura. sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1951.jpg>. Acesso em 27/11/2016. SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO. Informes Urbanos. Disponível em: <http://smdu. prefeitura.sp.gov.br/informes_urbanos/pdf/2.pdf>. Acesso em 22/01/2017. SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO. Introdução. Disponível em: < http://smdu.prefeitura. sp.gov.br/historico_demografico/introducao.php>. Acesso em 22/01/2017. SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO. Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo. Disponível
173
em: <http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2016/12/GEST%C3%83O-smdu-zoneamento_ ilustrado.pdf>. Acesso em 23/01/2017. VIEIRA, Henrique. Vila Mariana História e Urbanização. Disponível em: <https://www.portalvilamariana.com/artigos/ vila-mariana-historia-e-urbanizacao.asp>. Acesso em 27/11/2016. VILLANO, Francisco. História do bairro de Vila Mariana. Edição 23. Novembro/2003. Disponível em: <http://www. pedacodavila.com.br/materia/?matID=422>. Acesso em 27/11/2016. MAMIGANIAN, Armen; MACHADO, Ewerton; BUSS, Maria Dolores; PEREIRA, Raquel M. F. do Amaral. Entrevistas e Depoimentos: Entrevista com o Professor Pasquale Petrone. Geosul. Santa Catarina, p. 103-137. fev. 1993. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/viewFile/12828/12008>. Acesso em: 26/05/2017. CAPÍTULO 2 PRITZKER PRIZE. Richard Rogers > Biography. Disponível em: <http://www.pritzkerprize.com/2007/bio>. Acesso em: 12/04/2017. ACIOLY JUNIOR, Claudio; DAVIDSON, Forbes. Densidade urbana: um instrumento de planejamento e gestão urbana. 2. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2011. ASAEDA, T.; CA, V. T. Heat storage of pavement and its effect on the lower atmosphere. Atmospheric Environment. v. 30, p. 413-427, 1996 apud BORGES, Marcus Gonçalves Euclydes; PEREIRA, Fernando Oscar Ruttkay. Influência do ambiente construído no microclima urbano. XIII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Canela, 2010. Disponível em: <http://www.infohab.org.br/entac2014/2010/arquivos/409.pdf>. Acesso em 31/01/2017. BRASIL. Decreto-lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm>. Acesso em 02/04/2017. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA) > Parques e Áreas Verdes. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ cidades-sustentaveis/areas-verdes-urbanas/parques-e-%C3%A1reas-verdes>. Acesso em 24/02/2017. BRITTO, Fernanda. O que é uma cidade biofílica? Texto por Constanza Martínez Gaete via Plataforma Urbana. Tradução: Archdaily Brasil. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-99393/o-que-e-uma-cidade-biofilica>. Acesso em 31/01/2017. CALLIARI, Mauro. Praça Victor Civita. Um espaço público de qualidade numa antiga área degradada. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 166.02, Vitruvius, out. 2014. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ projetos/14.166/5354>. Acesso em 01/04/2017. 174
CIDADES SUSTENTÁVEIS. EcoDistricts – Cidades Sustentáveis partindo dos bairros. Disponível em: <http://www. cidadessustentaveis.org.br/boas-praticas/ecodistricts-cidades-sustentaveis-partindo-dos-bairros>. Acesso em 11/04/2017. CORSINI, Rodnei. Piscinões para controle de cheias. Edição 4, junho de 2011. Disponível em: <http:// infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/4/artigo220142-1.aspx>. Acesso em 01/04/2017. CORSINI, Rodnei. Leis incentivam uso de piscininhas em edificações. Saiba como construir. Infraestrutura Urbana > Leis e Normas. Edição 16, dezembro de 2011. Disponível em: <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoestecnicas/16/3-reservatorio-para-aguas-pluviais-conhecido-como-piscininhas-sistema-260595-1.aspx>. Acesso em 01/04/2017. DEEPROOT. A Small Town Thinks Big (Trees). Disponível em: <http://www.deeproot.com/silvapdfs/caseStudies/ Normal%20IL%20Streetscape_New.pdf> Acesso em: 30/05/2017. DEEPROOT. Silva Cell 2 Overview. 2013. Disponível em: <http://www.deeproot.com/products/silva-cell/landingpage/silva-cell-2/overview>. Acesso em: 30/05/2017. DEEPROOT. Uptown Normal Gateway Plaza. 2012. Disponível em: < https://www.flickr.com/photos/deeproot/ albums/72157648536139789/with/15433402437/>. Acesso em: 30/05/2017. ECODISTRICTS. Disponível em: <https://ecodistricts.org/>. Acesso em 08/04/2017. ECODISTRICTS. Protocolo EcoDistricts. The global performance standard that empowers sustainable neighborhood – and district-scale development. Portland, EUA, 2017. Disponível em: <https://ecodistricts.org/wp-content/ uploads/2017/01/ed-protocol-guide-v1-2-web.pdf> Acesso em 11/04/2017. ELLIS, Christopher D; KWEON, Byoung-Suk. Uptown Normal Circle and Streetscape. Agosto de 2011. Disponível em: <https://landscapeperformance.org/case-study-briefs/uptown-normal-circle-and-streetscape#/challengesolution>. Acesso em: 01/02/2017. FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável. Desenho urbano com a natureza. Tradução: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2013. FERRARI, Celson. Dicionário de Urbanismo. São Paulo, Disal, 2004. GALBIERI, Thalita Ariane. Os planos para a cidade no tempo. Resenhas Online, São Paulo, ano 07, n. 079.01, Vitruvius, jul. 2008 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.079/3069>. Acesso em 18/05/2017. GLOBAL DESIGNING CITIES INITIATIVE. Green Infrastructure and Stormwater Management. Disponível em: < https:// globaldesigningcities.org/publication/global-street-design-guide/utilities-and-infrastructure/green-infrastructure175
stormwater-management/>. Acesso em: 31/05/2017. GUERRA, Abilio; SILVA, Aline Alcântara. Conversa com Anna Julia Dietzsch. Praça Victor Civita - Museu Aberto da Sustentabilidade. Projetos, São Paulo, ano 11, n. 126.03, Vitruvius, jun. 2011 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/ read/projetos/11.126/3946>. Acesso em 01/04/2017. HELM, Joanna. Praça Victor Civita / Levisky Arquitetos e Anna Julia Dietzsch. 2011. Disponível em: <http://www. archdaily.com.br/br/01-10294/praca-victor-civita-levisky-arquitetos-e-anna-julia-dietzsch>. Acesso em 01/04/2017. IAQUELI, André Luiz. Wetlands construídos: aplicações, benefícios e vantagens do sistema. Artigo – Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia. São Paulo, 2016. Disponível em: <https://www.tratamentodeagua. com.br/wp-content/uploads/2016/03/Artigo-sobre-wetlands.pdf>. Acesso em 02/04/2017. INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO REGIONAL (IPPUR). Henri Acselrad. UFRJ. Disponível em: <http://www.ippur.ufrj.br/index.php?option=com_showprofile&task=prof_unique&id=77&Itemid=16>. Acesso em 29/05/2017. IRAZÁBAL, Clara. Da Carta de Atenas à Carta do Novo Urbanismo. Qual seu significado para a América Latina?. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 019.03, Vitruvius, dez. 2001. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/ read/arquitextos/02.019/821>. Acesso em 18/05/2017. KON, Nelson. Praça Victor Civita. 2008. Disponível em: < http://www.estudiocarlosfortes.com/pt-BR/projects/victorcivita-square>. Acesso em: Acesso em 01/04/2017. TODD, John. Omega Center for Sustainable Living Eco-Machine. Disponível em: <http://www.toddecological.com/ data/uploads/casestudies/jtedcasestudy_omega.pdf>. Acesso em 31/05/2017. LEITE, Carlos; AWAD, Juliana di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012. 264 p. MAZZONETTO, Caroline. Tratamento natural de esgoto. Infraestrutura Urbana > Saneamento. Edição 14, dezembro de 2011. Disponível em: <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/14/artigo256157-1.aspx> . Acesso em 31/03/2017. MOVIMENTO 90º. Disponível em: <http://movimento90.com/about/>. Acesso em 31/03/2017. NAKAOKA, Juliana Tiemi Ueda. Revitalização da Praça Victor Civita/SP. 2013. Disponível em: <https://acidadeinvisivel. wordpress.com/2013/04/01/332/>. Acesso em 01/04/2017. NOLETO, Rodrigo de Andrade Costa. A cidade sustentável: regeneração de espaços subutilizados em áreas centrais. São Paulo, 2016. Disponível em: <http://tede.mackenzie.br/jspui/handle/tede/2907>. Acesso em 06/12/2016. 176
OMEGA. Eco Machine. Disponível em: <https://eomega.org/omega-in-action/key-initiatives/omega-center-forsustainable-living/eco-machine%E2%84%A2>. Acesso em 02/04/2017. PORTAL VITRUVIUS. Praça Victor Civita - Museu Aberto da Sustentabilidade. Projetos, São Paulo, ano 09, n. 106.03, Vitruvius, out. 2009 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/09.106/2983>. Acesso em 01/04/2017. PREFEITURA DE SÃO PAULO. Prefeituras Regionais. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/ secretarias/regionais/subprefeituras/mapa/index.php?p=14894>. Acesso em: 10/01/2017. PREFEITURA DE SÃO PAULO. Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.prefeitura. sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/parques/regiao_centrooeste/?p=5728>. Acesso em 05/01/2017. PREFEITURA DE SÃO PAULO. Prefeitura começa a instalar Corredor Verde na Avenida 23 de Maio. Disponível em: <http://capital.sp.gov.br/noticia/prefeitura-comeca-a-instalar-corredor-verde-na-avenida-23-de-maio>. Acesso em 31/03/2017. REMASTER. Tec Garden – Jardim Auto Irrigável. Disponível em: < http://remaster.com.br/novo/index.php?p=tecgarden>. Acesso em 01/04/2017. RESEARCH GATE. Takashi Asaeda. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Takashi_Asaeda>. Acesso em: 29/05/2017. RESEARCH GATE. Ca Vu. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Ca_Vu/info>. Acesso em: 29/05/2017. RIBEIRO, Edson Leite; SILVEIRA, José Augusto Ribeiro da. O fenômeno do sprawling urbano: O fenômeno do sprawl urbano e a dinâmica de segregação socioespacial. Artigo, São Paulo, edição 185 AU Pini, ago. 2009 <http://www. au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/185/artigo149628-1.aspx>. Acesso em 18/01/2017. ROIZENBLATT, Isac. Critérios da Iluminação Elétrica Urbana. 2009. Tese (Doutorado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2009. Disponível em: <http://tede.mackenzie.br/ jspui/handle/tede/2571>. Acesso em: 02/04/2017. ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. Traduzido por Anita Regina. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 2012. SEADE. Produtos. Disponível em: <http://produtos.seade.gov.br/produtos/500anos/index.php?tip=defi>. Acesso em: 03/01/2017. SILVA, Geovany Jessé Alexandre da; ROMERO, Marta Adriana Bustos. O urbanismo sustentável no Brasil. A revisão de conceitos urbanos para o século XXI (parte 01). Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 128.03, Vitruvius, jan. 2011 <http:// 177
www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.128/3724>. Acesso em 29/08/2016. SILVA, Geovany Jessé Alexandre da; ROMERO, Marta Adriana Bustos. O urbanismo sustentável no Brasil. A revisão de conceitos urbanos para o século XXI (Parte 02). Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 129.08, Vitruvius, fev. 2011 <http:// www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.129/3499>. Acesso em 29/08/2016. SILVA, Geovany Jessé Alexandre da; SILVA, Samira Elias; ALEJANDRO, Carlos. Densidade, dispersão e forma urbana. Dimensões e limites da sustentabilidade habitacional. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 189.07, Vitruvius, fev. 2016. <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.189/5957>. Acesso em 31/01/2017. SILVA, Geovany Jessé Alexandre da. Cidades sustentáveis: uma nova condição urbana: estudo de caso: CuiabáMT. 2011. xxiv, 314 f., il. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo)—Universidade de Brasília, Brasília, 2011. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/handle/10482/11232>. Acesso em 19/02/2017. SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO (SMDU). Mapa de empregos formais. Distritos do Município de São Paulo. 2004. Disponível em: <http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/economia_urbana/mapas/cap1_ p2.pdf>. Acesso em 06/03/2017. SMART GROWTH. Normal Illinois. 2016. Disponível em: http://smartgrowth.org/normal-illinois/. Acesso em: 31/01/2017. STEUTEVILLE, Robert. Great idea: Pedestrian shed and the 5-minute walk. Fev. 2017. Disponível em: <https://www. cnu.org/publicsquare/2017/02/07/great-idea-pedestrian-shed-and-5-minute-walk>. Acesso em 18/05/2017. STUCHILEITE. Carlos Leite. Disponível em: <http://www.stuchileite.com/>. Acesso em 12/04/2017. THARP, Erin. Artigo: How Uptown Normal Started an Economic BOOM! 2015. Tradução livre da autora. Disponível em: <https://landarchs.com/how-uptown-normal-started-an-economic-boom/>. Acesso em: 01/02/2017.
178