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ENTRE A SABEDORIA E A GENTILEZA

O embaixador do Japão no Brasil com Miraitowa e Someity, mascotes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tokyo 2020/21

COM CARREIRA DIPLOMÁTICA VIGOROSA, O EMBAIXADOR YAMADA AKIRA SE ALEGRA COM BRASÍLIA E AS BELEZAS DO CERRADO. SOBRE CONCEITOS NIPÔNICOS, ELE DIZ VIVER A TRADIÇÃO COTIDIANAMENTE, ENQUANTO PENSA DE MANEIRA INOVADORA

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POR GIOVANNA PEREIRA « FOTOS BRUNO CAVALCANTI

Aimersão na cultura nipônica vivida pela nossa equipe passa por um breve papo com o embaixador do Japão no Brasil, o gentil Yamada Akira. O encontro foi entre a embaixada e o portão da residência oficial, numa pequena varanda ao ar livre. Mais do que olhos puxados e características físicas de um povo oriental, Yamada mostra ser, é claro, o exemplo de um típico japonês – até mesmo pelo sotaque que acompanha o bom desempenho com a Língua Portuguesa. Um tradutor esteve conosco, caso algum termo ou ideia escapasse.

No início da conversa, Yamada é sério e tranquilo. Com o passar do tempo, ele se mostra mais falante, em uma possível influência do calor do povo brasileiro – sem perder a formalidade. Yamada chegou ao Brasil em 2017 para assumir o posto e, deste então, encantou-se pelo nosso País. “O povo brasileiro é muito acolhedor e observador da cultura japonesa. E ainda há a beleza da natureza”, diz.

Nascido em janeiro de 1958, o embaixador é formado em Direito pela Universidade de Tóquio e desenhou uma carreira diplomática forte. Em 1981, ingressou no Ministério dos Negócios Estrangeiros e, a partir daí, ocupou cargos de liderança em embaixadas pelo mundo: Espanha, Argentina, Estados Unidos, Iraque, México, até a chegada ao Brasil. Devido à pandemia, o tempo de atuação no País ainda é impreciso, mas aqui, ao lado da mulher, ele segue no compromisso de estreitar, ainda mais, as relações internacionais entre Japão e Brasil.

A conversa começa com uma pergunta sobre o relacionamento de Yamada san com Brasília, quando nos surpreende contando que esteve na capital pela primeira vez em 1976, pelo programa do Ministério das Relações Exteriores de Tóquio, quando ainda era estudante. “Vi uma cidade vazia, muito nova e que, na época, me parecia um cenário futurístico”, disse saudoso. Anos mais tarde e aqui estamos, em uma tarde fria e seca do inverno brasiliense. “Brasília é uma cidade muito peculiar, vim pra cá em 2017 como embaixador e me surpreendo constantemente com as belezas do Cerrado, estamos no jardim e aqui diariamente somos presenteados com a visita de araras, beija-flores e tantos outros animais, é lindo”, afirmou. A postura de um tradicional japonês fica evidenciada na hora das fotos. Mas Yamada garante um sorriso, especialmente ao falar sobre os olhares atentos do mundo ao Japão por conta das Olimpíadas, e até posa ao lado de Miraitowa e Someity, mascotes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos deste ano. “Apesar do cenário complicado, vai dar tudo certo. É um momento importante para provar que podemos passar pela pandemia e voltar a realizar eventos”, declarou.

NAÇÕES IRMÃS

Sobre o relacionamento entre os países, Yamada san comenta que apesar de forte, muito ainda pode ser feito para estreitar os laços e acordos entre Japão e Brasil. “O Japão e o Brasil mantêm um relacionamento de cooperação e amizade de longos anos e são parceiros importantes que compartilham valores e princípios fundamentais. Sob ‘A Parceria Estratégica e Global’, ambos os países trabalham ativamente para o desenvolvimento da relação de cooperação em áreas abrangentes, não somente entre si, mas também na arena internacional. Atualmente, o relacionamento entre Japão e Brasil é maravilhoso, mas tenho a convicção de que a melhor época ainda virá”, afirmou o embaixador.

UMA ÁRVORE COM ASAS

Certa vez, um texto do poeta gaúcho Luiz Coronel foi ilustrado com a representação de uma árvore com raízes profundas e asas. A imagem, que em um primeiro momento se mostra contraditória, pode, afinal, ser a representação mais sincera da cultura japonesa. “Costumo dizer que o Japão não é formado por dois elementos, ora tradicional, ora inovadora, não, os japoneses vivem a tradição cotidianamente e pensam de maneira inovadora. A cultura japonesa mostra uma coexistência fundamental da tradição com a inovação”, explica. O Japão é um país extremamente enraizado em sua cultura, mas que alça voos para o futuro constantemente.

PANDEMIA

A imprevisibilidade e a impermanência da vida são assuntos recorrentes nas filosofias japonesas. A compreensão de que não se tem controle sobre o que virá a seguir pautam as reflexões seculares que ainda são aplicadas no contexto atual. Wabi Sabi é um dos conceitos nipônicos mais conhecidos, talvez por ser bastante aplicado como uma noção estética. Mas, em um contexto pandêmico, o termo inspira que é possível encontrar beleza em tudo, mesmo nas coisas imperfeitas. “A pandemia nos mostrou o quão importante é estarmos presentes na vida uns dos outros e, de certa maneira, nos mostrou como se conectar, seja com pessoas próximas ou, então, com aqueles a milhares de quilômetros de distância. Isso permanecerá conosco”, disse Akira.

ESPORTE

Fã confesso de futebol, Yamada san expõe uma frustração com a capital brasileira: “sempre que me mudo para um novo país, escolho o time da cidade para torcer, mas infelizmente aqui não me decidi ainda”, disse ele de forma gentil e com um sorriso sincero no rosto. Mas não há apenas frustrações no futebol, o embaixador disse orgulhoso que se considera um amuleto da sorte para os brasileiros. “Estive na final da Copa do Mundo de 2002 e o Brasil venceu. Em 2012, no Mundial de Clubes no Japão, também fui ao estádio e o Corinthians foi o campeão. Minha sorte está com os brasileiros”, brincou.

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