6 minute read
A TERRA DO SOL NASCENTE
CULTURAS DISTINTAS E 17 MIL KM NÃO DISTANCIAM BRASIL E JAPÃO. PARCEIROS GLOBAIS ESTRATÉGICOS, OS PAÍSES COMPARTILHAM VALORES FUNDAMENTAIS EM ÁREAS COMO POLÍTICA, ECONOMIA, AGRONOMIA E CULTURA POR GIOVANNA PEREIRA «
FOTOS BRUNO CAVALCANTI
Advertisement
Em um relacionamento centenário, Brasil e Japão se transformaram em nações irmãs. De um lado, a brasilidade e a agitação da alma que samba a cada instante em um novo compasso encontrou na cultura de um povo milenar – e ao mesmo tempo inovador – motivos de sobra para se encantar. Da mesma forma, com olhares atentos, os japoneses viram no Brasil um povo acolhedor e curioso, além de belezas que seduzem. Por aqui, as asas do quadradinho do Distrito Federal acolhem pela linha do horizonte o sol que se ergue primeiro na Terra do Sol Nascente.
De preciosidades milenares do Oceano Pacífico, o Japão é um país insular, ou seja, composto por várias ilhas, cujas quatro maiores e mais conhecidas
são Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku, representando juntas 97% da área terrestre nacional. Curiosamente, Nippon é a terceira maior nação econômica do mundo. A capital, Tóquio, possui cerca de 30 milhões de habitantes. A título de comparação, aqui em Brasília somos apenas cerca de três milhões.
Brasília e Tóquio ficam a uma distância de mais de 17 mil quilômetros. Mas é mais fácil encontrar um pouco dessa cultura milenar por aqui do que se imagina. O trajeto é pelo Setor de Embaixadas Sul. A bandeira branca com círculo vermelho no centro anuncia a chegada ao destino. A partir de agora, estamos em território japonês. A Embaixada do Japão se mostra acolhedora, apesar do rigoroso ritual de acesso.
É uma das mais antigas de Brasília, foi uma das primeiras a conquistar seu espaço no Cerrado, em 1962, mas foi apenas em 1972 que a conhecemos como ela é hoje. “É um edifício muito rígido, com carinha de repartição pública. Precisa de alguns reparos”, dizem por lá.
A rigidez e seriedade do povo japonês são observadas em uma primeira impressão. Se de cara o prédio da embaixada é imponente, conforme atravessamos a primeira parte do terreno nos transportamos. Uma arquitetura mais leve se apresenta, linhas fluidas e orgânicas, que o tempo todo buscam criar harmonia estética e escultural com a natureza, nunca se sobrepondo, mas sim integrando o cenário, como um detalhe de uma pintura em nanquim.
Enfim, chegamos à residência oficial do embaixador Akira Yamada e sua mulher, a embaixatriz Shoko Yamada. Somos recebidos de portas abertas e com cortesia impecável. Em cada detalhe encontramos a riqueza da cultura japonesa e as particularidades da simplicidade do vazio. O importante está na essência, nas portas em papel (o shoji), que criam a transição perfeita entre o interior e exterior; nas caligrafias penduradas, que nos contam histórias em poemas; no jardim interno e central que acolhe a luz; e na presença marcante da madeira, um elemento conhecido pela arquitetura por evocar serenidade e conforto.
Ao sair, um encontro com a natureza do Cerrado reconfigurado aos moldes dos conhecidos jardins japoneses: um lago que, para a tradição nipônica, traz purificação; as carpas que simbolizam prosperidade e inspiram calma e meditação; a luminária em pedra com pedestal curvado (chamada rankei) indica o caminho da água.
PAÍSES AMIGOS
Brasil e Japão são parceiros globais estratégicos. Compartilham valores fundamentais como a democracia e o respeito aos direitos humanos. Ambas as nações cooperam na arena internacional além da esfera bilateral, em várias áreas, como política, economia e cultura. Há anos o Japão trabalha, por meio de ações e projetos, para transformar o Cerrado, uma das áreas mais estéreis do Brasil, em um importante polo de produção agrícola. Além disso, os laços interpessoais entre brasileiros e japoneses são um dos grandes motores de sustentação da relação entre os países. O Japão é a terceira potência econômica mundial e tem um grande poder financeiro e tecnologia de ponta. Por outro lado, o Brasil é a nona economia mundial, possuindo riquíssimas reservas naturais e um grande mercado consumidor.
Nossa visita ao Japão foi breve. Em um momento em que os horizontes do mundo voltam a se alargar, o ensinamento japonês que nos vem é o Kaizen, que evoca nossa constante melhora e um olhar positivo para o mundo: “Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje!”. Que assim seja.
BRASIL X JAPÃO
O Brasil possui a maior comunidade Nikkei – denominação para os descendentes de japoneses nascidos fora do Japão ou para japoneses que vivem regularmente no exterior. E o País de fato esbanja um carinho enorme pela cultura nipônica. Seja pelos sabores, pela força da tradição, pela surpreendente capacidade de inovação e avanços tecnológicos, pela cultura de animes, literatura e/ ou tantas outras características, o brasileiro é apaixonado pelo Japão e por tudo que ele oferece. O intercâmbio entre as culturas é rico. Cada vez mais as trocas culturais são incentivadas para que fluxo de turistas entre os dois países possa ser constante e sempre crescente. Um dos objetivos apresentados na Política de Relações do Japão para o Brasil é o 40 milhões de visitantes estrangeiros nos próximos anos. Com a pandemia esse movimento desacelerou, claro; mesmo assim, a ampla divulgação dos atrativos de ambas as nações não sessou. Atualmente, o número de visitantes brasileiros ao Japão é de cerca de 40 mil ao ano e, do Japão ao Brasil, em torno de 70 a 80 mil ao ano.
EM BRASÍLIA
Assim como no resto do País, a promoção da cultura japonesa é constante na capital federal. Diversos festivais, palestras e ações ocorrem durante o ano. Um dos mais queridos do brasiliense é o Festival do Japão, realizado há dez anos, por meio da Federação das Associações Nipo-Brasileiras do Centro-Oeste – FEAMBRA. Em 2020, uma das ações mais significativas de todas as edições, até agora, homenageou as vidas que se foram pela Covid-19, por meio das luzes das lanternas do tradicional Tooro Nagashi, que carregaram nomes dos falecidos e foram colocadas na água do Lago Paranoá, como forma de levar luz ao caminho de suas almas e propagar a paz.
QUEM É QUEM
• Nikkei: imigrantes e descendentes • Issei: imigrantes japoneses da primeira geração • Nisei / Nissei: segunda geração (filhos de japoneses) • Sansei: terceira geração (netos de japoneses)
JOGOS OLÍMPICOS
As Olimpíadas vêm como um respiro. Depois de um longo adiamento, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio chegaram a Tóquio em apresentações espetaculares. Mesmo em um cenário de incertezas devido à pandemia, os preparativos e cuidados para o evento esportivo foram feitos com maestria. Um dos destaques foi mostrar que, além de belo, ser sustentável também é preciso. Conforme expresso no princípio de sustentabilidade de Tóquio: “Ser melhor, juntos, para o planeta e para as pessoas”, o comitê organizador desenvolveu ações baseando-se nas metas de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas e o “espírito verde” se estendeu a todos os aspectos dos Jogos e, particularmente, ao design de elementos olímpicos icônicos, como as instalações esportivas e a Vila dos Atletas, a tocha e as próprias medalhas.