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ATÉ QUANDO ESPERAR

PHILIPPE SEABRA DÁ NOTORIEDADE A UM DOS MAIORES LEGADOS DE BRASÍLIA: O ROCK. UMA ROTA ESPECIAL, PENSADA AOS MOLDES INGLESES, QUE TERÁ A PRINCIPIO 41 PONTOS HISTÓRICOS DESSA GERAÇÃO

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EFERVESCENTE POR MORILLO CARVALHO

Com 96,4 mil habitantes, a cidade de Santiago de Compostela, no extremo oeste espanhol, dificilmente seria notabilizada ou alçaria fama mundial se não tivesse um caminho místico que a ligasse a outras regiões de seu país. O Meio-Oeste americano provavelmente seria daqueles lugares que só conhece quem vive por lá, não fosse a mitológica Rota 66, a primeira grande autoestrada do mundo, que inspirou road movies e mais road movies. No Brasil, é encantador refazer o trajeto da Estrada Real.

O que faz com que todos esses lugares sejam tão especiais? Um bocado de História, muitas histórias, um tanto de cultura, outro bocado de aventuras e

Foto: JP Rodrigues

Fotos: Arquivo pessoal/Philippe Seabra

também as paisagens. Brasília, agora, acaba de ganhar uma Rota do Rock. E a ideia é registrar os referenciais que a cidade tem para que cada fã do estilo possa saber o que seus ídolos fizeram nos locais demarcados. Olhe bem ao redor, quando estiver andando por nossas ruas: placas já estão sendo colocadas, e podem te surpreender.

HERANÇA BRITÂNICA

A mais antiga iniciativa de demarcar locais que estabeleçam uma conexão entre passado e presente vem de Londres. Desde 1867, a capital britânica tem o “The English Heritage blue plaque scheme”, o que pode ser traduzido para algo como “Herança Inglesa – esquema de placas azuis”. É muito comum, ao andar pelas ruas londrinas, observar a presença delas nas fachadas de prédios, especialmente os históricos. São onde viveram ou trabalharam personalidades notáveis. Todos os anos, a organização pública English Heritage, responsável desde 1986 pelo esquema das placas azuis, recebe pelo menos cem pedidos de reconhecimento de locais onde viveram notáveis. Em geral, apenas um terço é aprovado, porque os critérios são tão rígidos quanto os que levam fatos históricos aos livros de História: a pessoa precisa ter nascido há pelo menos cem anos ou morrido há, ao menos, 20. É o tempo para que se consolide a herança cultural dela, que se depure sua importância histórica e se reconheça sua contribuição. Por isso é que ainda faltam pelo menos dez anos para que a icônica casa de Amy Winehouse, no bairro boêmio de Camdem Town, conte com uma placa azul.

Mas Brasília é Brasília, e seu design único a faz única. Tanto que a Unesco a reconheceu como cidade criativa em design entre 2017 e 2020. Dentre os elementos que a representam, estão as placas de sinalização, concebidas pela equipe do arquiteto Danilo Barbosa – um exemplar da sinalização das quadras 7 Norte está no acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa). E as placas da Rota do Rock seguem os modelos dos inventores do modo de se viver em Brasília: de estrutura metálica, confeccionadas em argamassa armada, marrons (que determinam os pontos turísticos), em fonte Helvética, foram pensadas por um cara ao qual a memória do rock brasiliense deve devotar-se, o vocalista da Plebe Rude, Philippe Seabra.

O CURADOR E IDEALIZADOR

Sonho antigo de Seabra, a Rota do Rock, demarcando os lugares importantes dos sons que projetaram a cidade para o País, passou a ser viabilizada numa parceria com a Secretaria de Turismo do Distrito Federal e uma faculdade privada de Turismo. “É um

projeto que eu já tinha há muitos anos, e sempre fez tanto sentido... Você está viajando pela Europa, aí vê uma pequena placa. Se está em Londres, aí você vê ‘John Lennon cresceu nessa casa’! Por que não fazer a mesma coisa, claro, guardando as devidas proporções? Já que é tão emblemático, tão histórico, né? Quando eu comecei a mapear os locais, aí sim que eu vi que... nossa, é muito legal isso aqui”, conta Seabra.

A princípio, a Rota teria 15 pontos. No fim das contas, tem 41. “São dos mais diversos... Do Teatro Galpão, que mais representa o movimento da década de 70 [o Teatro Galpão fica no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul], ao Teatro Garagem, que já pega aquela década de 90”, pontua o curador, lembrando que, embora este último espaço tenha sido fundado em 1979, no antigo estacionamento subterrâneo do Sesc 913 Sul, o clube em si deu palco a inúmeros shows de rock progressivo na década de 70. “Inclusive o primeiro show de rock que eu vi na minha vida foi lá”, lembra Seabra.

Dentre os locais oitentistas a serem demarcados, estão o espaço onde funcionou a lanchonete Food's, nos fundos do antigo Cine Karim, na 110/111 Sul; o local que sediou o bar Cafofo (407 Norte); a Colina da UnB e o Brasília Rádio Center – onde Plebe Rude e Legião Urbana alugavam uma sala que servia de estúdio. “Imagine para o fã do rock de Brasília poder ficar em pé, no exato local onde o Aborto Elétrico fez o primeiro show? Tem alguns pontos importantes também nas RAs, como o Cave, no Guará, onde foi o primeiro show da Legião Urbana aqui em Brasília. E o mais importante pra mim é em Taguatinga, onde havia o Teatro Rolla Pedra”, conta.

Philippe Seabra diz que coisa maior está por vir, mas desconversa quando questionado. Diz que a Rota é só o começo deste projeto. Bom, só podemos esperar algo realmente imenso, tendo em vista

que, só para o ano que vem, ele pretende lançar sua autobiografia O Cara da Plebe, o musical A Evolução (que já estava pronto e só não entrou em cartaz por causa da pandemia, mas foi montado pelo multiartista Jarbas Homem de Mello), um disco acústico da Plebe Rude (porém “mais punk”, ele ressalta) e um musical solo.

QR-CODE

A secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça, lembra: “em cada uma das placas, o Philippe vai contar a história do que aconteceu naquele local. Além disso, nós teremos um QR-Code, que vai poder ser acessado, para que a pessoa tenha uma experiência muito interessante de poder enxergar como era, naquele momento, da história. É um produto único e que só Brasília poderia ter”.

Sim, serão placas que respeitarão o padrão de sinalização visual de Brasília, como preconizou Danilo Barbosa, e que honrarão a nossa história musical, como sonha Philippe Seabra. Mas terão esse quê a mais, essa possibilidade de conhecer mais do que dizem as informações da placa. “Acreditamos muito nesse resgate do que Brasília tem de melhor: essa geração que criou aqui músicas e que são talentos que o Brasil inteiro ama e reconhece”, diz a secretária.

E só para você ter um gostinho do que dizem as placas, olha o texto da que está na Torre de TV desde o último dia 13 de julho, o Dia Mundial do Rock, quando houve a entrega da primeira placa, com um pocket show: “Local de grandes concertos nacionais e internacionais, a Torre de TV foi onde o rock alternativo e underground de Brasília encontrou seu maior público. Foi aqui que bandas como Móveis Coloniais de Acajú e Scalene, vencedor do Grammy Latino, se consolidaram perante o público brasiliense, mantendo viva a tradição do rock da cidade. Mas nenhum DVD de porte pode ser filmado aqui devido à interferência do sinal da torre nas gravações”. Se, outrora, o Aborto e o Capital Inicial cantavam que “por toda a plataforma você não vê a Torre”, agora é hora de vê-la. Mas de um jeito bem diferente...

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