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NÃO EXISTE MADRUGADA SEM PAULINHO
PRODUTOR QUE REVOLUCIONOU A NOITE DE BRASÍLIA, PAULINHO MADRUGADA CELEBRA 25 ANOS DE FESTAS. A BOA NOVA É ARVOREDO, RESTAURANTE MUSICAL
NO PARQUE DA CIDADE POR MORILLO CARVALHO « FOTOS LUARA BAGGI
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Se você vive em Brasília há mais de 20 anos, lembra-se da época em que dizíamos “não tem nada pra fazer na cidade no fim de semana”, ou “em janeiro, Brasília vira uma roça”. Faz tempo que a realidade é outra. Pois pode agradecer a uma pessoa: Paulinho Madrugada. Ele não foi o único responsável por transformar a noite da cidade, mas certamente foi um dos precursores.
“Eu cursava Processamento de Dados no UniCeub e Ciência Política na UnB. Primeiro semestre ainda. Aí, viajo pra Piripiri, no Piauí, onde tinha muita coisa pra fazer: tertúlia, seresta, ir pra praça, ir pro clube, ir pro açude, forró, festinhas. Aqui, o único evento era, nessa época do ano, ir para o Gilberto Salomão, ver os carros passando. Em comparação a Brasília, Piripiri parecia Las Vegas. Volto e falo: tem alguma coisa errada. Vou fazer uma festa, trazer esse clima de férias e de alegria pra cá”, rememora.
A ligação com o Piauí não é à toa. Foi em Teresina que Paulo Henrique do Rêgo Bandeira nasceu, em 22 de julho de 1974. Mas apenas nasceu – seis meses depois, estava em Brasília para ficar. O pai, bancário, e a mãe, do lar, escolheram o início da Asa Sul como morada: viveu a infância e a adolescência entre a 102 e a 202 Sul, o Colégio Dom Bosco e o Colégio Militar. Para além dessas raízes, as que Paulinho Madrugada criou em Brasília fazem com que um pedaço importante da história cultural da cidade tenha as marcas dele.
Como um bom brasiliense, a diversão na adolescência, nos anos 80, eram as festinhas de apartamento, ouvindo Será, da Legião Urbana. Citando Renato Russo antes de formar a banda, vale se lembrar de Anúncio de Refrigerante, na qual o poeta se apresentava como “o trovador solitário” pela cidade: “sentado embaixo do bloco sem ter o que fazer... Passar as tardes no Conjunto Nacional, com muita coisa na cabeça, mas, no bolso, nada. E chega o fim de semana e todos se agitam, sempre à procura de uma festa e ninguém nunca agita nada”. Brasília era assim até a ida de Paulinho ao Piauí.
Ele estava com 19 anos. “Em princípio, a festa seria de forró, sucesso na época, mas vi que ninguém gostava em Brasília. Virou uma festa meio doida, com o nome Quero Mais que o Mar Pegue Fogo Pr’eu Comer Peixe Frito. Tinha tudo pra dar errado, mas por incrível que pareça a festa deu muito certo”, lembra. Foi também quando decidiu se autointitular como Paulinho Madrugada. “Criei um nome e uma produtora. Achava esse nome muito engraçado”, conta. Festas pequenas que foram crescendo à medida em que foi se tornando o “cara” das formaturas da UnB.
Das formaturas, passando pela festa A Volta dos Anos 80, o incentivo à cultura local e as reinvenções com a pandemia, a verdade é que Paulinho é figura icônica na capital. Não existe madrugada sem Paulinho.
Foto: Acervo pessoal Paulinho Madrugada
Melhores do Mundo
MASKAVO E OS MELHORES DO MUNDO
“O primeiro evento do qual eu fui o dono, o produtor, foi o lançamento do primeiro CD do Maskavo. Foi um divisor de águas da minha carreira e da deles também. Foi no Salão Social da Asbac, junto com Os Wallaces – banda que Victor Leal e Adriano Siri tinham antes de surgir Os Melhores do Mundo. Lotou”, conta. Logo depois das festas de formatura e deste show grande, Paulinho criou sua festa mais famosa, que já teve 60 edições em 25 anos.
A VOLTA AOS ANOS 80
“Os ‘anos 80’ começam em 82, com Você Não Soube me Amar, da Blitz; tem o auge em 86 com o segundo disco da Legião (Dois); tem O Concreto já Rachou, da Plebe Rude e o Cabeça Dinossauro, dos Titãs. Quando chega em 88, decai muito rápido, já não tem tanto disco bom e começa a vir o pagode, o sertanejo e o axé. Quem foi criado ouvindo Plebe Rude, daqui a pouco só tinha Katinguelê pra ver na televisão. Então, em 95, as pessoas já estavam com muita saudade dos anos 80”, lembra. “É quando você tem a maior banda do Brasil, que é a Legião, e os maiores artistas do mundo, como Michael Jackson, Madonna, New Order, Smiths...”, reforça.
MELHORES DO MUNDO
O objetivo de Paulinho sempre foi o de tornar a cidade em que vive o lugar mais legal do mundo. Foi quando acompanhava o Jogo de Cena, evento organizado pelo diretor teatral James Fenstersaifer, que viu começar Os Melhores do Mundo. “Eu quero participar disso”, decidiu, aos 21 anos. “Fui o primeiro patrocinador, apresentador da peça de estreia, Sexo. E de lá eles seguiram firmes com o grupo”, conta, orgulhoso.
AFONSO BRAZZA
Nascido em São João do Piauí (PI), Brazza viveu a infância no Gama, foi para São Paulo e integrou a equipe técnica de José Mojica Martins, o Zé do Caixão. Conheceu uma das musas da pornochanchada, Claudete Joubert, com quem se casou e voltou para Brasília, para tornar-se o cineasta da capital. Em 1993, lançou Inferno no Gama. Encantado com os cartazes dos filmes, Madrugada pegou o telefone dele e foi ao Gama. Formaram uma parceria que resultou em três filmes. TRIO SIRIDÓ, FORRÓ CHIQUE E SEU JOÃO
Se em 1993, quando voltou do Piauí, achou que o brasiliense não curtiria o forró, no final dos anos 90 a coisa estava bem diferente. “Virou uma loucura o Forró Chique, às segundas-feiras. Comecei no Cacadu, onde hoje é o O’Rilley, depois no Café Cancun, Fashion, Frei Caneca. E o Trio Siridó ficou super conhecido”, diz. Outro evento que marcou época foi a Festa do Seu João, que chegou a reunir 30 mil pessoas. “Teve dimensão de festival, era como o nosso Rock in Rio”. Este, e vários outros, foi realizado em parceria com a Verri Verri Produções – formada pelos irmãos Paulo e Rodrigo Verri, também sócios quando abriram a Boate Macadâmia, que funcionou entre 2004 e 2006.
DANCETERIA E LEGIÃO SINFÔNICO
Nos últimos três anos, Madrugada lançou uma nova festa, no Iate Clube: a Danceteria. Com a pandemia, porém, tanto a festa que o consagrou quanto esta nova tiveram interrupções. A Volta teve uma edição no Drive Show, no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson, em formato adaptado. Mas um evento pandêmico de sucesso, preparado por ele, e que deverá voltar ao calendário da cidade, é o Legião Sinfônica: realizado em novembro do ano passado, chegou à lotação máxima permitida para o momento, de 40% da capacidade do teatro do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, reunindo a Orquestra Filarmônica de Brasília e a banda Quatro Estações, tocando o repertório da Legião. POR FALAR EM LEGIÃO...
Os percalços também existiram. Um dos maiores foi quando, na terceira ou quarta festa A Volta aos Anos 80, na piscina de ondas do Parque da Cidade, a chuva inviabilizou o evento. Paulinho gravou, de dentro da piscina, com água perto dos joelhos, um vídeo anunciando o cancelamento. Quem tocaria, como convidado surpresa, era Dado Villa-Lobos, o guitarrista da Legião Urbana. “Eu estava preparado pra ser a melhor festa da minha vida. A situação estava crítica, eu estava muito triste, mas resolvi gravar o vídeo. A reação das pessoas me surpreendeu, ninguém reclamou”, lembra. Duas semanas depois, teve festa. Espera só essa pandemia passar pra ver se elas não voltam com tudo...