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TETÊ COM ESTILO POR MARIA THEREZA LAUDARES
TETÊ COM ESTILO
POR MARIA THEREZA LAUDARES
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mtlaudares@gmail.com – @mtlaudares
ENTRE O TRADICIONAL E O STREETSTYLE
COMO A MODA JAPONESA INFLUENCIA A SOCIEDADE
Pensar na Ásia é pensar no continente da atualidade. Na moda, o Japão se destaca como aquele que lança as tendências, inspira o continente. Ao direcionarmos nossa atenção para o país do sol nascente, surgem as perguntas: o que define a moda japonesa? Como somos influenciados pela moda que vem do Japão? Em um percurso, hoje considerado comum, a indústria da moda permeia o lifestyle da sociedade com propostas que vão da decoração ao vestuário, considerando a gastronomia e até mesmo a indústria automobilística. Muito ligado às tradições, o Japão se questiona sempre e, cada vez mais, sobre novas interpretações e formas de personalização promovidos pelo setor.
TRADIÇÃO
A indústria têxtil japonesa reconhecida mundialmente pela criação de estampas e motivos, bem como pelo desenvolvimento de técnicas de tear e tingimento, transmite a história material e cultural de sua sociedade. Nenhuma outra peça é mais representativa da cultura do vestuário nipônico que o kimono com sua silhueta única. Originalmente permitido apenas à alta elite social, a peça foi se popularizando ao longo dos séculos. Hoje, existem mais de dez modelos diferentes de kimono que podem distinguir ocasiões familiares, formais ou sociais, bem como demonstrar o estado civil. Vestir um kimono de maneira correta para ocasiões formais exige ajuda, uma atividade oferecida por profissionais capacitados.
O exercício de repensar o kimono é recorrente na moda ocidental e resume em si a influência da arte e design japoneses no espaço contemporâneo. A rela-
Desfile Yohji Yamamoto
Rei Kawakubo
ção entre a cultura oriental, representada pelo kimono, e a sociedade ocidental provoca certa mudança de atitude no tocante ao vestuário, uma vez que, a peça busca esconder o corpo ao invés de revelá-lo.
AZUL JAPÃO
Nascido na tradição têxtil japonesa, o Aizome, conhecido como o índigo japonês, é também importante para a identidade cultural do país. O tecido em tom azul obtido a partir do processo de tingimento de plantas naturais tem suas origens no século seis. As propriedades antibacterianas e inseto-repelente do Aizome fez com que ele se tornasse o escolhido entre os Samurais. Produzido manualmente até os dias atuais, o tecido possui vários tons de azul, indo do branco índigo Aijiro ao tom mais profundo de azul conhecido como Noukon. A logomarca dos Jogos Olímpicos de 2020 feita em tom de azul índigo é um reconhecimento à cultura têxtil nacional.
JAPONISMO
O impacto causado pelo Japão na moda ocidental contemporânea é reconhecido não apenas por sua influência, mas, em especial, pela mudança de paradigmas. Paris foi a porta de entrada para novos designers que fizeram com que os anos 80 se tornassem um período questionador da silhueta na moda. Foi nesse momento que emergiram estilistas, hoje renomados, como Yohji Yamamoto, Issey Miyake, Rei Kawakubo, Kenzo Takada e Hanae Mori. Ao repensar a silhueta Kawakubo, experimentou padrões de corte jamais ousados. Yamamoto, por sua vez, questionou o gênero nas roupas e usou como ponto de partida o molde retangular do tradicional quimono. O movimento como forma de expressão de identidade fez com que os criadores japoneses alargassem as proporções para que suas modelagens privilegiassem o conforto. As calças, camisas, saias, vestidos e casacos adquiriram comprimento alongado e medidas como ombros e cintura foram deslocados. O volume ocupado pelo corpo em relação à vestimenta foi questionado em seu deslocamento no espaço. Junto à transformação da silhueta surge a proposta de vestir-se de preto como símbolo contrastante de permanência e transgressão.
Eiichiro Sakata Yohji Yamamoto
Streetstyle japonês anos 80
A LINGUAGEM DO NOVO MERCADO JAPONÊS
Portadores de conceitos de vanguarda como criatividade e estilo de vida, os japoneses prezam por serem capazes de elaborar uma linguagem própria. A moda japonesa no século 21 faz uso da tradição da alfaiataria, expressão máxima da personalização, para construir uma imagem sólida e valorizada por sua capacidade de criação. No Japão a moda é a ferramenta que ajuda a formar a expressão da individualidade.
Transformar-se é o grande desafio do Japão que na intersecção de novas tendências e antigos valores encara problemas de múltiplas facetas, como o envelhecimento da população e a queda do crescimento demográfico. A ideia de luxo ligada à moda italiana e francesa por vezes são comunicadores do estilo clássico e tradicional que dialoga com as gerações conservadoras. Propensas ao risco, as gerações mais jovens – Millenials, Gen-Z e Alpha – representam as novas exigências do mercado. Inseridas em um contexto global as novas gerações japonesas tratam a moda como fonte de inspiração para a expressão de um estilo próprio e autêntico.
Um grande exemplo do contraste entre gerações é a queda das vendas em lojas de departamentos que, como canais de venda, não “conversam” mais com a clientela em busca de artigos de moda. A mudança de gosto dos japoneses é visível na hora da compra, pois cada vez mais preferem fazer suas compras caminhando pelas ruas e descobrindo pequenas lojas. Em Tóquio, lugares como as ruas de Futago-tamagawa ou Nakameguro ganham mais atenção do que as lojas de departamentos em Ginza ou Shinjuku. A capital é o cenário da cultura do street-style que teve suas primeiras manifestações na década de 80 do século passado. Uma das figuras mais importantes do streetwear japonês é o designer Hiroshi Fujiwara. Considerado o padrinho do streetwear, Fujiwara é referência de cultura e lifestyle contemporâneos com celebradas parcerias que vão desde o popular café Starbucks à luxuosa joalheria italiana Bvlgari. Recentemente uma colaboração com a Maserati previu uma série de 175 carros personalizados pelo designer.
Marcas pouco difundidas, mas nem por isso menos conhecidas entre os jovens consumidores, como A Bathing Ape, Vanquish e Fragment Design, entre outras, ganham espaço com seu design original e preços moderados. Em poucas palavras: a novidade, a cultura de moda das ruas é descobrir algo novo.
Como vestir é mais importante do que “o quê” se veste e, graças a essa abordagem, os japoneses comunicam suas escolhas por meio de diversos estilos e interpretações. Coordenar peças do vestuário e também suas texturas é o foco na construção do estilo. Adeptos dos novos valores do slow fashion, os japoneses se identificam com o consumo consciente, no qual comprar menos é comprar bem. Consumir moda torna-se quase um ato ecológico que valoriza a origem do material, reconhece o trabalho manual e respeita sua preservação.
A resistência à mudança não faz parte do discurso jovem, pelo contrário, os japoneses costumam absorver toda a informação de moda que recebem e, então, formular sua própria visão. O Japão torna-se referência no atual momento de retomada mundial quando a moda em busca de um novo posicionamento internacional e dá as boas-vindas a todas as transformações que validam o recomeço.