Revista holi hai

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Holi Hai

#Juntos Colorimos


Holi Hai #Juntos Colorimos


Holi Hai

Textos e revisão: Graziela dos Santos Diagramação e arte: Thais Borelli (colaboração) Direitos das imagens Capa: Pedro Rosanes A revista Holi Hai é uma publicação única criada para a disciplina de Teoria da Cultura (TEORCUL), do 2º ano do curso de Jornalismo, da Universidade São Judas Tadeu (USJT). Revista Holi Hai, edição única, Sâo Paulo, outubro 2013.

Editorial Nunca me imaginei participando de um evento de uma religião que não a católica, ainda mais proveniente da cultura indiana. Não tenho costume de ir à Igreja; só sou católica por batismo mesmo, e faço oração somente naqueles momentos de pequenos agradecimentos ou de certo desespero. Sou batizada, mas não praticamente (por vontade própria). Posso dizer que não sou uma pessoa calma e que tem sai para aproveitar o dia no parque. Em geral, passo os finais de semana em casa e quando saio é apenas para fazer coisas “úteis”, seja lá o que isso possa significar. De repente, lá estava eu, em um parque sentada na grama de pernas cruzadas, em meio a gente desconhecida, meditando de olhos fechados sem receios de ser roubada; e depois pulando, cantando, dançando e jogando pó colorido pra cima, como se fosse a coisa mais natural e maravilhosa do mundo... porque, de fato, ERA! Acho que a impressão mais forte do Holi para mim foi essa de fugir do meu “lugar comum”, da mesmice do dia a dia e da oração-antes-de-dormir. Fui ali por vontade própria, meditei com gosto e de sorriso nos lábios, e me senti muito bem entoando mantras. Foi uma experiência inesquecível e libertadora. Claro que não me converti ao Hare Krishna, mas conhecer e vivenciar uma cultura tão distinta da que conheço foi mais do que válido, com toda certeza.

04. A história e origem do Holi 05. Mitologia por trás do festival 06. O ritual 07. Festival das Cores 08. Distinções sociais 09. A renovação do Holi 10. Holi - Festival das Cores em São Paulo 11. As cores 12. O evento 13. E no final... 14. Curiosidade: Holi no cinema


A história e origem do Holi Conhecido como uma festa que comemora a chegada da primavera, o Holi é um evento tradicional da Índia, onde as pessoas se reúnem nas ruas para jogar pós multicoloridos (ou tintas) uns nos outros. Devido a isso, a comemoração também é conhecida como Festival das Cores. Entre os devotos do hinduísmo,este é o seu ritual preferido por se diferenciar tanto do restante de suas tradições, que tem maior foco em rezas, entoação de mantras (repetir uma palavra ou texto diversas vezes para promover maior concentração) e meditação. Na Índia, a estação da primavera se inicia entre os meses de fevereiro e março, durante a Phalguna Purnima (lua cheia). Durante esse período, quase todo o país celebra a época do ano em que a terra está mais fértil, ou seja, a época da colheita. Os hinduístas permanecem em festa durante o período da entrada da lua cheia junto à primavera, comemorando durante alguns dias (a quantidade de dias varia de acordo com o costume de cada região indiana, indo de 2 a 16 dias).

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Mitologia por trás do festival

versão que prega a vingança de Vishnu contra Holika, por tentar matar seu fiel preferido. Há também histórias onde Holika aparece como irmã de Prahlad, mas essas são menos ocasionais.

A cultura indiana é repleta de misticismo, devido a sua influência religiosa politeísta (que cultua mais de um Deus). Os mitos que envolvem as origens do Holi diferem entre si, Com a irmã morta e nenhum sucesso em dependendo da crença popular das seu desejo, Hiranyakashipu decide matar o diferentes regiões da Índia. filho com as próprias mãos. Ele exigiu que Prahlad se arrependesse e reconhecesse Segundo o hinduísmo, o festival é a ele como seu único Deus, mas o príncipe comemorado há mais de 2 mil anos. respondeu que não o faria e que Vishnu Enquanto alguns historiados creem que sua estava ali naquele momento o protegendo originação antecede o nascimento de novamente. Cego de ódio, o rei brandiu a Jesus Cristo, outros acreditam que o Holi espada contra um pilar, localizado na nasceu a partir da junção de celebrações direção apontada pelo rapaz, e dali surgiu ritualísticas diversas da religião hindu. Narasimha, um dos avatares (forma Embora haja muitas versões, elas possuem humana de um Deus) de Vishnu, metade semelhanças marcantes que levam à homem e metade leão. história do príncipe Prahlad, seu pai Hiranyakashipu e Holika, a irmã do rei. O rei não era alguém comum; alguns indianos acreditam que tanto A lenda conta que Hiranyakashipu era rei Hiranyakashipu como Holika tivessem dos Daytias, um povo que tinha parentesco poderem por serem demônios. Outros com os Devas, mas que viviam em brigas creem que ele havia feito um pedido à constantes. Na última delas, os Daytias Brahma, o Deus criador do universo. venceram e Hiranyakashipu se Hiranyakashipu desejou o dom da autoproclamou Deus do universo, proibindo imortalidade, mas isso lhe foi recusado. a crença ou adoração de qualquer outro Após pensar, ele decidiu tornar sua morte Deus. Porém, ele tinha um filho, Prahlad, o mais próximo do impossível: não poderia que cultuava Vishnu, o Senhor do universo, morrer de causas naturais ou por armas; desde a infância. não morreria por nada que saísse da terra, do espaço, do fogo ou da água; não O rei ficou irado ao descobrir a adoração poderia ocorrer durante a noite ou dia; do príncipe e tentou dissuadi-lo, sem que não poderia ser de dentro ou de fora do houvesse sucesso. A cólera de local onde estivesse; e não poderia ser Hiranyakashipu foi tão grande que, na morto por um ser humano, Deus ou animal. mesma hora, ordenou que Prahlad fosse morto, então seus guardas atacaram o Ele morreu em combate com Narasimha, rapaz com espadas, mas ele não sentiu que não era humano, animal ou Deus; nada, pois Vishnu o protegeu. Sua carne o alvorecer; enquanto o avatar não pode ser transpassada e ele não sentiu durante estava empoleirado na janela, puxou dor, pois sua mente estava limpa e Hiranyakashipu para seu colo e o estripou decidida quanto à sua crença. com as garras. Prahlad tornou-se rei e governou os Daytias com sabedoria, Seu pai, assustado, decidiu que teria de alcançando a morada de Vishnu após a escolher meios mais duros para dar fim ao morte. filho. Ordenou que fosse pisoteado por um elefante, mas o corpo de Prahlad se endureceu como ferro e não foi esmagado. Então, o rei mandou que o jogassem em um precipício, onde ele planou até o chão por intervenção de Vishnu. O rei ainda tentou assassiná-lo de diversas formas, mas em nenhuma obteve sucesso. Desesperado, Hiranyakashipu pediu a sua irmã, Holika, que o ajudasse a matar o filho. Holika, que era imune ao fogo (graça concedida por Brahma), entrou em uma fogueira com Prahlad nos braços. Há lendas que dizem que, por seu dom ser sagrado, ela não poderia utilizar esse poder para fazer o mal, e isso causou sua morte; já outras acreditam que Holika não era má e que a origem de seu poder era proveniente de uma peça de roupa (em geral, um sári), que ela usou para envolver o sobrinho e salvá-lo do fogo. Mas também há uma

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O ritual Nas diferentes cidades que pertencem à Índia, o festival é comemorado de acordo com os costumes regionais de cada lugar. Nas cidades ao Norte do país, por exemplo, há uma cerimônia chamada Matka. A celebração consiste em suspender um pote de barro com soro de leite coalhado (resultado da fabricação de queijo) há uma boa altura para que os homens formem uma pirâmide humana e tentem quebrá-lo (costume que remete à quebra da piñata, proveniente de Portugal e da Espanha), enquanto as mulheres tentam atrapalhá-los, jogando água e cordas feitas de sári (longo véu que envolve todo o corpo). Na maioria dos locais onde o Holi é realizado, uma enorme quantidade de comestíveis, guloseimas e bebidas é preparada, havendo acompanhamento de música ao vivo e apresentações de dança ou cantoria. Geralmente, os primeiros que começam a jogar as cores e água nas pessoas que passam nas ruas são as crianças, não importando se o fazem entre si, familiares, amigos ou estranhos. Todos são alvos nesta data, e as tintas são vendidas ao ar livre pelos comerciantes locais; em alguns lugares, os participantes usam sprays coloridos ou balões com água tingida.

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Festival das Cores

A partir da epopéia hinduísta de Prahlad, acredita-se que o Holi celebra a vitória do bem contra o mal, junto ao triunfo da pura devoção. O nomenclatura do evento provém do nome da irmã de Hiranyakashipu, Holika. Por isso, no dia que antecede a comemoração, ocorre a queima de uma boneca, simbolizando a queima de Holika (Holika Dahan). O Holi também é considerado uma festa de agradecimento a Krishna (uma das encarnações do Deus Vishnu, do Hinduísmo), e a parte da celebração que simboliza a devoção dos hinduístas por ele é exatamente o que torna este festival tão singular: o lançamento de pó colorido entre as pessoas. Há uma lenda contando sobre o amor de Krishna e sua amante Radha; quando jovem, o rapaz pergunta à sua mãe porque ele tinha a pele escura (o significado de seu nome é “negro”) e Radha pele clara. Em resposta, ela lhe sugeriu, brincando, que escolhesse uma cor de sua preferência e pintasse o rosto da garota, e foi o que ele fez. A menina achou divertido e também pintou o rosto de Krishna. Em outra versão, conta-se que Krishna pintou Radha por ter inveja de sua cor clara. Foi a partir desse mito que surgiu, na Índia, o costume de jogar tintas ou pós de cores

variadas (gulal) no dia de Holi. Há quem compare o festival com o carnaval brasileiro, pois, embora haja uma forte simbologia neste costume, a tradição é vista mais como uma festa do que como um ritual sagrado. Não são somente as pessoas que são pintadas; as ruas ficam coloridas, assim como as casas, árvores, mercados e até mesmo os animais, especialmente os cultuados pelos indianos: vacas e elefantes. Antigamente, os pós coloridos eram fabricados a partir de flores e produtos com propriedade de tingimento, mas eram pouco duráveis no corpo durante a festa. Com o passar do tempo, as pessoas buscaram produzir os pós com cores mais duradouras e vistosas, adicionando químicas, o que causou sérios problemas de saúde aos participantes do Holi. A partir daí, a produção das tintas passou a ser feita de forma natural, com pó seco e leves aromas, sem que haja risco de causar ferimentos. Mas é claro que não são todos que levam em conta a preocupação com a saúde alheia, e visando o lucro, principalmente entre os turistas que visitam o país para participar do festival, existem comerciantes que vendem tintas feitas de material tóxico, como metal em pó e óleo de motor.

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Distinções sociais A cultura hindu possui um sistema de castas que divide a sociedade indiana em grupos sociais hereditários (a condição social do indivíduo passa de pai para filho), e prega que cada um só pode se casar com pessoas de sua própria casta. A simbologia mística envolta nas castas crê em sua originação diretamente do corpo de Brahma, a divindade que criou o universo: Brâmanes: nascidos da cabeça – sacerdotes e pessoas letradas Xátrias: nascidos dos braços – guerreiros Vaixás: nascidos das pernas – comerciantes Sudras: nascidos dos pés – servos, camponeses, artesãos e operários Além das quatro castas, existe uma classe que está abaixo de todas elas, conhecida como Párias (também chamados de Dalit ou Intocáveis), aqueles que são considerados à margem da sociedade. Na mitologia, sua origem provém da poeira em baixo dos pés de Brahma.

Outra simbologia trazida pelo Holi é a de renovação; para os indianos, a chegada da primavera marca o recomeço, semelhante ao significado do Réveillon (Ano Novo). Embora o hinduísmo tenha mudado muitas de suas crenças no decorrer dos anos, algumas das mais rígidas ainda não foram derrubadas do convívio social. A questão das viúvas, por exemplo, é uma delas. Segundo a religião, elas são proibidas de participar de festas e celebrações por ser considerado um “mau agouro”. A maioria delas vive reclusa em Vrindavan, uma cidade ao Norte do país. Também conhecida como “Cidade das Viúvas”, o local abriga mais de 15 mil mulheres em situação deplorável. Sem ter para onde ir após a morte dos maridos, elas são expulsas de casa e acabam se reunindo para morar juntas, na tentativa de se ajudar mutuamente e se poupar do preconceito. Pela primeira vez na história do Holi, neste ano na Índia houve a participação de 800 viúvas na celebração, graças à ação da ONG Sulabh International, que tornou isso possível. Essas mulheres puderam se vestir com roupas coloridas (geralmente utilizam cores neutras), jogar água, pós coloridos e pétalas de flores entre si, participando das danças e rituais.

Embora a Constituição Indiana rejeite a discriminação causada pelas castas, essas barreiras culturais ainda se mantêm firmes nas Zonas Rurais da Índia; nas grandes cidades do país os grupos de castas são ignorados. O dia de festejo do Holi pode ser considerado o mais alegre do calendário hindu. Durante a comemoração, o sistema de castas é abolido nos locais onde ainda há vigência, e todos se misturam como iguais, sem dar importância há classe, idade, gênero ou religião; até porque seria improvável distinguir roupas de grifes de roupas mais simples, e outros indicadores sociais entre os participantes. Porém, homens costumam andar juntos e mulheres agem de maneira igual (havendo, inclusive, uma “guerra de cores” entre homens e mulheres em uma parte da Índia), o que não é necessariamente seguido por estrangeiros que participam do evento. Isso ocorre porque o festival simboliza a fraternidade, o amor, a igualdade e a harmonia; todos são incentivados a fortalecer laços com os entes queridos, estimulando-os a visitar parentes e trocar presentes.

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A renovação do Holi Além de toda a significação religiosa e social envolvida no festival, os indianos acreditam no poder de purificação promovido pelo Holi, tanto para a alma e mente, como para o corpo. Durante a celebração, é comum ver homens e mulheres tomando bebidas alcoólicas, pois eles ligam esse costume ao culto e comemoração dos significados que interligam os motivos religiosos com os de festejo. Para os hinduístas, o festival é uma ocasião para todos se soltarem e esquecer das preocupações mundanas. Além de bebidas alcoólicas, há uma bebida tradicional distribuída entre os participantes chamada Bhang, uma mistura de leite com maconha, que eles acreditam aliviar a alma do stress e das tristezas. Como o Holi saúda a chegada da primavera, leva-se em conta às mudanças corporais que o corpo sofre com a despedida do inverno, visto como um período onde todos se sentem menos dispostos. Então, para o povo hindu, a comemoração é recebida como uma oportunidade para expulsar a preguiça do corpo.

Durante toda a festa, há muita música e dança como um pretexto para todos acompanharem o ritmo e se mexer o máximo que puderem, ao mesmo tempo em que expurgam todos os maus fluídos de si com a ajuda dos pós multicoloridos, que para eles fortalece o organismo. Durante o ritual que antecede o dia do Festival das Cores, o Holika Dahan, grandes fogueiras são acesas e as pessoas às circulam de mãos dadas, dançando e entoando cânticos. Isso é feito segundo a crença hindu de que o calor do fogo mata as bactérias do corpo e leva o frio do inverno, deixando-o limpo e purificado. De nada adiantaria fazer uma limpeza de si mesmos se o local onde moram continuasse contaminado; então suas casas também passam por essa limpeza ritualística, removendo sujeira, entulhos e desordem para que o ciclo recomece sem impurezas em todos os aspectos de suas vidas.

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Holi - Festival das Cores em São Paulo

Neste ano, aconteceu no Brasil o primeiro Holi Festival oficial. O evento foi sediado pelo Parque Villa-Lobos, na Zona Sul da cidade de São Paulo, e ocorreu no dia 28 de setembro, dia em que se inicia a primavera. O Holi – Festival das Cores foi organizado pela Casa Verdí, uma produtora cultural com valores baseados na sustentabilidade e na criação coletiva. Durante 4 anos, o evento foi meticulosamente planejado para que houvesse possibilidade de realizá-lo como um festival aberto ao público. Essa soluçã o surgiu quando os organizadores optaram pelo financiamento coletivo através do site Startando. Os últimos 14 meses de planejamento para o acontecimento do Holi foram um tanto turbulentos, havendo a troca do local de realização (anteriormente, o Parque Ibirapuera havia sido cogitado, mas o pedido foi vetado por ordens da Prefeitura, alegando que a natureza do local poderia ser afetada) e diversas reuniões com a Prefeitura da cidade e a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. O financiamento coletivo (ou Crowfunding) é uma maneira de obter dinheiro para realizar diversificadas ações. Utilizando sites, geralmente, a ação é apresentada e a verba necessária também; então, pessoas interessadas na proposta fazem colaborações em dinheiro, recebendo em troca uma recompensa. No caso do Holi, as recompensas foram um porta-cores (tubo-refil para encher com pó colorido, quantas vezes quisesse, durante o evento – o pó só foi disponibilizado para quem adquiriu o tubo); a camiseta oficial do evento e a adição do nome do apoiador no vídeo oficial pós-evento. Mesmo com a venda do Kit-Holi, o festival foi aberto a quem quisesse participar, mesmo sem ter participado do financiamento. Bastava chegar ao palco, que foi erguido na Ilha Musical do Parque Villa-Lobos, e curtir as muitas atrações que ocorreram ao longo do dia.

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As cores Na filosofia indiana, as cores são de extrema importância, cada uma tendo seu próprio significado e simbolismo. No Holi, os pós coloridos foram feitos de material orgânico e as cores utilizadas foram escolhidas à dedo, mantendo toda a significação incutida no evento que celebra a estação das cores, a primavera:

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O evento O Festival das Cores se iniciou às 10h, já com um bom número de pessoas concentradas, aguardando o início das apresentações. Ao todo, foram oito as atrações: aula de yoga e meditação com o grupo Arte de Viver; apresentação de danças indianas com o grupo Natyalaya; entoação de mantras e cânticos com Chandramuka Swami (representando da religião Hare Krishna, no Brasil); banda de baião Xaxado Novo; banda Soul Shakers (banda cover de Bob Marley); bloco de samba-reggae Kaya na Gandaia; Jam Session Verdi (funk Jam) e a dupla sulafricana Goldfish. Entre uma atração e outra, vários DJ’s mantiveram a animação do público. Quando a aula de yoga foi iniciada, o sol parecia sorrir e o céu resplandecia em azul, o que contribuiu com as vibrações de quem já estava por ali, relaxando e meditando. A maioria estava vestida de roupas brancas ou com cores claras, como sugerido pelos organizadores do Holi (assim, as cores se concentrariam com mais facilidade). Com as energias renovadas, todos assistiram a apresentação do grupo de dança formado por mulheres, caracterizadas de acordo com a cultura indiana, seguida da entrada do Chandramuka Swami, que tocou e cantou mantras do Hare Krishna, levantando o astral. Por volta das 12h, foi iniciada a primeira contagem regressiva para lançar os pós coloridos; foi uma verdadeira chuva de cores enquanto todos dançavam, pulavam e entoavam em uníssono “Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Hare Rahma, Hare Rahma, Rahma Rahma, Hare Hare”.

Aos poucos, foram chegando cada vez mais pessoas e se reunindo em frente ao palco para curtir juntos. A energia foi se modificando, tornando-se mais efervescente, assim como os estilos das atrações também foram se alterando. Teve banda tocando músicas de influência nordestina; banda de reggae; bloco carnavalesco; improvisação em estilo “Jam” e discotecagem com músicas diversas de conhecimento geral do público (tanto nacionais como internacionais). Havia pessoas de todos os estilos, tribos, idades, nacionalidades e classes. O evento foi um grande sucesso, alcançou seu real objetivo. Das 14h em diante, o público tornou-se teve um grande aumento e a maioria aguardada a atração final, diretamente da África: Goldfish. Quando subiram ao palco, quem estava sentado imediatamente se pôs em pé e correu para pegar um bom ângulo de visão. Seu som é uma mistura de música eletrônica, com muitos efeitos e frases misturadas à mixagem. O final do evento foi marcado com a música contagiante dos sulafricanos e a brusca mudança de temperatura, que foi dos 30°C aos 12°C, rapidamente. Mas quem estava em meio ao público só sentiu o frio chegar quando as luzes do palco foram apagadas, pouco depois das 18h.

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E no final...

Dentre as mais de 80 mil pessoas que o Holi reuniu, a opinião geral é a de que foi um dia único, cheio de boas vibrações e harmonia, mas, infelizmente, não é só de cores que se faz um evento. A organização do festival contou com o espaço aberto do parque e se preocupou em espalhar lixeiras de madeira, além das já presentes no local. Em comunicados na página do Facebook do evento eles pediam que, ao final da celebração, todos jogassem fora o próprio lixo. Mesmo com essas precauções, ao final do dia, a Ilha Musical estava apinhada de sujeira; um resultado final lamentável diante dos significados que envolvem o Holi. A gerente administrativa Priscilla Castroviejo participou do festejo, a convite de sua filha mais velha, e ficou maravilhada com a vivência. “Foi um dos mais incríveis festivais que participei! A vibe, a energia, a proposta, as cores!”, relembra. Porém, ela notou o descaso de parte das pessoas com o próprio lixo; “acho que o festival ficou dividido entre dois públicos: a galera que chegou cedo, curtiu o yoga e os mantras, e a que chegou com o isoporzinho de bebida após às 12h. Nem todo mundo estava sintonizado com a proposta do evento”, complementa. A escritora Simone Sgarbi também lamentou a quantidade de lixo espalhado, mas não foi motivo para não ter se divertido. “O festival teve dois momentos: a manhã mais zen, e a tarde mais badalada, mas o legal foi ver as tribos se misturando e curtindo”, opina. Em comunicado oficial, a equipe organizadora do Holi agradeceu muito a participação de todos, fazendo a ressalva: “A única coisa que nos decepcionou um pouco foi o descaso da parte do publico com o lixo. O parque é um espaço público, e é de todos nós. Somos todos responsáveis pela preservação do ambiente em que estamos. Não só no parque, mas em todos os lugares, poderíamos ter um pouco mais de cuidado com o que deixamos por aí”.

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Parâmetro fotográfico Índia

Brasil

Mãos com pó colorido

Mãos fotografando o pó colorido

Curiosidade: Holi no cinema No cinema indiano, o Holi Festival é, entre os diretores, o ritual preferido de ser encenado nas telonas. A maioria participou desse festejo desde a infância, então têm conhecimento para transmitir seu significado. Mas é mais interessante assistir a um filme que mostra o Holi de um ponto de vista cultural diferente, no caso, do americano. Há dois longas-metragens que mostram o que acontece no Festival das Cores na Índia: Despachado para a Índia (2006, de John Jeffcoat) - o foco na força das diferenças culturais, e conta a história de um supervisor de call center que é mandado para a Índia para treinar seu substituto, e lá acaba se apaixonando por uma indiana. Quem quer ser um milionário? (2008, de Danny Boyle) – mostra a vida de um garoto indiano que perdeu a mãe cedo e cresceu na miséria, até que um dia vai participar de um programa de perguntas e respostas, e se da bem, a partir de suas vivências.

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Mantra Composição: Nando Reis e Arnaldo Antunes Quando não tiver mais nada Nem chão, nem escada Escudo ou espada O seu coração... acordará Quando estiver com tudo Lã, cetim, veludo Espada e escudo Sua consciência... adormecerá E acordará no mesmo lugar Do ar até o arterial No mesmo lar, no mesmo quintal Da alma ao corpo material Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare Quando não se tem mais nada Não se perde nada Escudo ou espada Pode ser o que se for, livre do temor Quando se acabou com tudo Espada e escudo Forma e conteúdo Já então agora dá para dar amor Amor dará e receberá Do ar, pulmão; da lágrima, sal Amor dará e receberá Da luz, visão; do tempo, espiral E quando não tiver mais nada Nem chão, nem escada

Escudo ou espada O seu coração... acordará Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare Nitai Gauranga Jaya Gaura Hare Quando se acabou com tudo Espada e escudo Forma e conteúdo Já então agora dá, para dar amor Amor dará e receberá Do ar, pulmão; da lágrima, sal Amor dará e receberá Da luz, visão; do tempo, espiral Amor dará e receberá Do braço, mão; da boca, vogal Amor dará e receberá Da morte o seu guia natal Haraie nama Krishna, yadavaya nama há Yadavaya madhavaya Krsna vaya nama há Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare Adeus dor Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare.

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