Relatos sobre as aulas de arte 5oano2013

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RELATOS SOBRE AS AULAS DE ARTE - 5ºano - 2013 Ana Letícia Millen Penedo “Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me diz que somos feitos de histórias.” (Eduardo Galeano - escritor) Queridos alunos e pais, trabalhar durante os quatro anos iniciais do Ensino Fundamental permitiu desenvolver com mais profundidade as questões colocadas desde o 2º ano. Resolvi escrever e lembrar alguns momentos. Para isso, consultei as anotações de meus cadernos de registros que guardo com carinho todos os anos.

2º ano - 2010 “Dignas de serem sabidas são aquelas coisas que fazem sentido, que têm a ver com a minha vida e os meus desejos.” (Rubem Alves - escritor)

O ensino de Arte do segundo ano enfocou a identidade da criança, sua percepção estética e sensível do mundo e o estímulo à imaginação criadora. O estudo sobre os artistas e o contato com suas produções, estimularam e enriqueceram o repertório da linguagem artística. Durante o ano “recebemos” a visita de vários deles no ateliê. As crianças criaram laços afetivos e se envolveram na apreciação e leitura de seus trabalhos. Assim, em 2010 trabalhamos com Miró, Aldemir Martins, Monet e Velázquez. A rotina da aula começava sempre em roda, com uma história, um livro, uma imagem ou uma música. As histórias desempenharam um papel central no trabalho. É com elas que construímos as imagens internas. Principais conteúdos do ano No início do ano, a proximidade do carnaval possibilitou o contato com a nossa cultura e com muitas histórias sobre a festa. As baianas, símbolo da “grande mãe brasileira”, nos ajudaram, com seu colo macio, a sentir mais segurança. O lápis, solto no papel, criou grandes e lindas baianas. Em março, modelamos para a Páscoa ovos de argila e conversamos sobre a simbologia do ovo ligada à vida. “Ovos dos Desejos”, onde cada um colocaria um bom pensamento. Depois da Páscoa entramos no universo de sonhos de Miró. Seus personagens, sua liberdade de expressão e lirismo permitiram às crianças uma maior intimidade com as tintas, os pincéis e o espaço do papel. “Trabalho como um jardineiro.” (Joan Miró)


2 Na volta das férias, o ateliê foi “invadido” por gatos e outros bichos. Mais um artista veio nos visitar, Aldemir Martins. Lemos poesias, ouvimos músicas e todos criaram seus próprios bichos. Com as mesas na vertical, criamos nossos cavaletes para a pintura de gatos das mais variadas cores e espécies. “Tal como um Noé contemporâneo, Aldemir capturou bicho, plantas e gente com seus pincéis, criando uma arca bem nossa...” (Nilson Moulin - escritor)

A entrada da primavera coloriu o ateliê com sua bruma perfumada. Nesse ambiente de sonho, partimos para uma maravilhosa viagem junto com Linéia ao Jardim de Monet. Foi um momento de muita delicadeza, com a presença de flores coloridas e inventadas que brotaram por todo o ateliê. Para concluir o ano, conhecemos a Princesa Margarita e o famoso quadro “As Meninas”, de Velázquez. Inspiradas pelo ambiente criado pelo quadro, as crianças fizeram seu autorretrato vestidas como príncipes e princesas.

3º ano – 2011 "O Universo é uma jóia arredondada. Somos a vida desse universo em constante transformação. Nada vem de fora, nada sai para fora". (Gensha Shibi - monge chinês do século VII)

A terra, o fogo, o ar e a água estruturaram nossos conteúdos. No início do ano a água e o ar estiveram presentes nas pinturas e nas histórias. O filme “O Balão Vermelho” nos deu o poder de voar. A visita ao Sítio Duas Cachoeiras proporcionou uma experiência verdadeira para nossas questões. O cheiro da terra, a brisa leve soprando a copa das árvores, a água fria da cachoeira, o calor da lã das ovelhas e da comida cozida à lenha. Durante o ano tivemos alguns artistas norteando o trabalho: Roberto Magalhães, Portinari, Rubens Matuck e Frans Krajcberg. Ao lado das histórias, as obras dos artistas alimentaram nossa prática diária e nossas conversas. Assim, Rubens Matuck era o menino semeador que se preocupava com as ruas feias e sem árvores. Krajcberg, o artista que chorou ao ver as florestas queimadas.

4º ano - 2012 “Se não houver a experiência do assombro a inteligência fica dormindo. O educador é um mostrador de assombros.” (Rubem Alves)

No quarto ano, o trabalho desenvolvido nas aulas de Arte foi pautado em dois eixos: a imaginação e a observação. Estabeleceu um diálogo entre os conteúdos da série (os contos árabes e a cidade de São Paulo) e os específicos da disciplina Arte (construção de um olhar sensível, desenho, gravura). Os conteúdos da disciplina foram desenvolvidos a partir de histórias, imagens e estudo sobre artistas.


3 No primeiro bimestre, as aulas começaram com a formação do grupo. Tecemos uma grande teia de barbante onde cada um fez parte do mesmo tear. O que afetasse a um, traria consequências a todos. A imagem da teia simbolizou a ligação e a responsabilidade de todos no grupo. O tecido tramado teve seus alinhavos com as histórias, os artistas e a observação do mundo. A presença da literatura no ateliê, a trama das palavras passou a fazer parte da nossa rotina. O fio da criação. A Linha do Desenho O desenho foi a principal linguagem abordada nas aulas de arte do 4º ano. Para tanto, a literatura foi presença constante, estimulando a construção das imagens internas. Alimentadas por histórias da mitologia grega, as crianças criaram desenhos onde apareceram: Teseu, Ariadne, Minotauro, o labirinto, Ícaro, Medusa, Perseu, Aracne e outras imagens. Como fechamento dos trabalhos, fizemos uma divertida visita à 30ª Bienal.

Trabalho de Cadu, 30ª Bienal, 2012

5º ano - 2013 O estudo desenvolvido nas aulas de Arte revê como foco o método de trabalho do artista e do aluno, além de ampliar o repertório de leitura e construção de imagens. Foram abordadas questões da história da Arte, como o aparecimento da Arte Moderna, com suas rupturas, e as características da Arte Contemporânea. Nesse momento completamos um ciclo, iniciado no 2º ano, e abordamos com mais profundidade questões como: *quem é o artista? *qual é o papel da Arte? *isso é Arte? *quando isso é Arte? Em sintonia com os conteúdos desenvolvidos na classe com os outros professores, em Arte também trabalhamos a formação da identidade brasileira. Enfocamos a formação da identidade do aluno e do nosso país: os índios, os negros, os europeus... Arte e imaginação No primeiro bimestre, as aulas começaram com a recepção dos alunos e com desenhos descontraídos de personagens divertidos. Em seguida, iniciamos o estudo sobre Surrealismo com apreciação de imagens e exercícios de desenhos e colagens.


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Arte e reflexão A preocupação e o respeito pelo meio ambiente foi outra questão importante desenvolvida no ano. O assunto foi trabalhado com o estudo sobre o artista Vik Muniz. Estimulados pelo processo de criação do artista, os alunos produziram imagens com diferentes materiais descartados, além de diferentes tipos de grãos. Nessa oficina, as imagens criadas foram registradas com fotografias e, à maneira do artista, foram desfeitas e refeitas novamente.

Arte e cultura Imagens sobre os índios O estudo sobre os índios partiu de uma visita ao Sítio do Sol, quando tiveram contato com a etnia guarani. A leitura de livros, filmes e palestras foi complementada com as aulas de Arte, quando foram criadas pinturas em grandes formatos, a partir de diversas imagens sobre o tema dos índios.

Arte da África Para finalizar o trabalho sobre a identidade, enfocamos a importância da arte da África com composições com formas geométricas e cores, estruturadas em planos paralelos. Sem utilizar réguas e outros instrumentos de desenho, os padrões são todos construídos à mão livre. Atividade inspirada no estudo sobre o trabalho dos Ndebeles, etnia que vive perto da cidade de Pretória, na África do Sul.

Estamparia com impressão de padrões geométricos A partir do estudo de desenhos geométricos, criados nas aulas de Matemática e de Arte, foram feitos moldes vazados para a estamparia de sacolas. Inspiradas nas capulanas, tecido estampado usado como vestimenta em Moçambique, as sacolinhas ganharam as cores e os padrões da arte africana.

“Temos dois olhos. Com um vemos as coisas que no tempo existem e desaparecem. Com o outro, as coisas divinas, eternas, que para sempre permanecem. Os olhos dos artistas são esses olhos que veem o divino-eterno.” (Angelus Silésius - poeta germânico, nascido em 1624)

Um beijo carinhoso a todos! Ana Letícia (São Paulo, dezembro de 2013)


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