Tradução: Ana Maria Pereirinha
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Revisão Jorge Buescu
Cor:
Argumento: François de Closets e Corbeyran Éric Chabbert Bérengère Marquebreucq
AS GUERRAS DE ALBERT EINSTEIN
científica:
Desenhos:
1. a edição setembro de 2022 Depósito legal 503 887/2022 ISBN 978‑989‑785‑149‑0
Tradução Ana Maria Pereirinha Revisão científica Jorge Buescu Revisão de texto Elisabete Lucas
Editor G UILHERME VALENTE Nota
Argumento François de Closets e Corbeyran Desenhos Éric Chabbert Cor Bérengère Marquebreucq
Fotocomposição Gradiva Impressão e acabamento ACD PRINT, S. A. Reservados os direitos para Portugal por Gradiva Publicações, S. A. Rua Almeida e Sousa, 21 – r/c esq. — 1399 ‑041 Lisboa Telef. 21 393 37 60 — Fax 21 395 34 71 geral@gradiva.mail.pt
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Título originalTodosLesguerresd’AlbertEinstein—Livre1©HachetteLivre,2022osdireitosreservados
Através delas foi posto em causa o postulado do mundo moderno, segundo o qual o progresso da ciência está ao serviço da condição humana e do seu aperfeiçoamento. A investigação científica deixou de ser portadora de humanismo, para passar a ser possibilidade de des-humanização. Em que momento e em que condições é que a admirável sede de conhecimento, que levou o homem a explorar a natureza depois de ter descoberto o planeta, resvalou do bem para o mal? Estes dois álbuns trazem uma resposta a tal pergunta. Eles vão fazer-vos reviver a história — uma história apaixonante! — que conduziu os homens da investigação fundamental à destruição total.
«Como pudemos nós inventar tais horrores?» A pergunta surge inevitavelmente quando falamos de armas de destruição em massa, sejam químicas ou nucleares. É certo que as armas são tão inseparáveis da Humanidade como as ferramentas, e que ambas foram sendo aperfeiçoadas a par ao longo dos séculos. Passámos assim da flecha à besta, da bombarda ao canhão, da espingarda à metralhadora, numa evolução que parece, de certa forma, inevitável. Depois deu-se a rutura marcada pelas novas armas: o gás durante a Primeira Guerra Mundial, a bomba atómica no final da Segunda. Ambas tiveram efeitos aterradores: permitiram o extermínio em massa. Mas eram igualmente aterradoras devido à sua origem. Tanto um como a outra vieram diretamente dos laboratórios científicos. O primeiro de química, a segunda de física.
Na narrativa que aqui se faz desses acontecimentos é tudo verdade. Os personagens são autênticos, tal como os seus comportamentos, privados ou públicos. Bastou mantermo-nos o mais próximo possível da realidade para os encontrarmos em toda a sua autenticidade. Porque «a grande história» é sempre escrita a coberto da pequena. Tudo foi por isso tratado em pormenor — por exigência da narrativa orquestrada por Corbeyran — e tudo foi escrupulosamente reconstruído, graças ao extraordinário trabalho gráfico de Éric Chabbert. Começa aqui uma história que não sabemos até onde poderá levar a Humanidade.
François de Closets
PREFÁCIO
Eu próprio só descobri esta história extraordinária no fim do meu trabalho sobre Albert Einstein. Para escrever a sua biografia, mergulhei durante dois anos nesta epopeia fabulosa. Na galáxia de Einstein intervêm todos os cientistas do século XX. Mas um deles, Fritz Haber, destaca-se por dois motivos: era químico, e não físico, e era especialmente próximo de Einstein porque o ajudou no processo de divórcio da sua primeira mulher, Mileva. Esta proximidade, que não parecia ter intrigado por aí além os muitos biógrafos de Einstein, tornou-se estranha, quase incompreensível, pelo facto de Fritz Haber ter inventado e posto a uso os gases asfixiantes durante a Grande Guerra. Ora, todos sabemos que Albert Einstein foi, ao longo da sua vida, não apenas um pacifista por convicção, mas também um ativista pela paz.
No entanto, isto, por si só, não quer dizer muito. A simetria entre os destinos de ambos vai revelar-se por inteiro, isso sim, à luz da História. Durante a Primeira Guerra Mundial, Fritz Haber pôs a sua ciência, a química, ao dispor do Estado-Maior alemão para fabricar a arma definitiva capaz de vencer a guerra. Ora, em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, Albert Einstein pediu ao presidente Franklin Roosevelt que usasse a sua ciência — a física — para desenvolver uma arma absoluta, uma bomba nuclear. Apanhados nos ardis da História, estes dois grandes sábios, o nacionalista germânico e o pacifista globalista, acabam por fazer exatamente a mesma coisa: pôr as conquistas da ciência ao serviço dos militares para forjar armas de destruição em massa. É certo que as motivações são muito diferentes, mas o resultado objetivo é exatamente o mesmo. É nisto que esta história ultrapassa a sua dimensão puramente romanesca para atingir a grande tragédia, aquela que acorrenta o homem a um destino. Faça Édipo o que fizer, acabará por matar o pai e casar-se com a mãe. Da mesma forma, façam os cientistas o que fizerem e quiserem, as suas investigações acabaram e poderão acabar em armas. Uma fatalidade sobre a qual nos devemos interrogar.
Berlim, 1912. A sua vizinha queria que lhe explicasse a relatividade... Mas não ouvi o que lhe adizerTivequerespondeu...pena!delhequeeraculináriadoscientistas...
satisfeitaFicou com a resposta?Nãocreio... Fez-me saber que era cozinheira!boa Ahahah! A Clara é a rainha da festa! E, além disso, é inteligente!muito Mas mantém-se muito judia... atormentada... complicada... 6
E você, Einstein? É feliz com a sua mulher? Nem por isso. Ela ficou em Zurique com os rapazes. Desculpe-me, mas está ali o Léopold Koppel, o presidente da Auer... Tenho de lhe extorquir uns milhões para o meu instituto! que«nonadaquiAlbert...apoucotocamosasonata»deBeethoven,nãoé?Esperonãosetenhaesquecidodoviolino!Nuncaviajosemele!OFritzsenteverdadeiraafeiçãoporsi... Olhe para ele! Já domina a assembleia... Eu faria figura de palhaço!Sim...eleéumsedutoreumbruto... Mas vocês têm a mesma intelectual!força 7
Permite que eu o roube outra vez? Vamos à entusiasmado!tomarvarandaar...Oseusócioestámuito Ah, sim, o Heinrich é um exaltado... desde que não lhe falemos do dinheiro que me tem de dar! Olhe para isto,Diga-meEinstein.oquevê. Vejo uma soberbomagníficacidadenumcenárionoturno... 8
Professor pouco provável, senhor presidente...
Einstein! Quando é que nos apresenta uma descoberta grandiosa, como a do seu amigo Haber? Uma descoberta que venha a ser um grandeindustrial!sucesso Com o amoníaco de Haber fazem-se fábricas, com a relatividade de Einstein só se fazem equações... são menos rendíveis! É
Porqueenterrar-sevocêemZurique?élá
Nem mais! Então porque vai
que sim! Somos duas inteligências superiores: você perdido na teoria, eu afogado na realidade! Precisamos de estar juntos em Berlim, na capital Pensemundo!donisso! E agora faça-me o favor de ir buscar o violino... a Clara já está à espera! 9
que tenho mais apoio para o meu trabalho. Einstein, você é um génio! Tem de estar em Berlim!Deformanenhuma!
Claro
PalácioBerlim,Imperial,1912. majestade...Certamente, E Berlim cientistasatrairdeveráosmaisilustres! E não é o senhor o maior dos químicos, senhor Haber? E o senhor Planck o maior dos físicos? É uma grande honra. Mas o maior físico do futuro chama-se Albert Einstein... E regressardeveaBerlim! Mmm... sim, já me falou dele... mas tem um feitio difícil... um pacifista, não é? O que importam as suas opiniões? É um génio que deve irradiar a partir de Berlim! Bem, seja! Seporrespondeele,faça-ovir! Com a criação da Gesellschaft,Kaiser-Wilhelm-oimpériogermânicovaireinarsobreaciênciamundial. 10
Zurique, 1913. Uma Vematómica...bombaem«The World Set Free», sabes? Uma história publicada na «The English Review», que me mostraste há poucoAdmitotempo?quelêsmuitomelhoreminglêsdoqueeu.
Bomba atómica... Foi um tal Herbert George Wells que inventou isso... Ele imagina que com a E = MC2 podemos fabricar uma arma terrível! absurdo!É É delirante!mesmo Mas basta dizer «Einstein» e para«Relatividade»parecersério...Sim,nosromances! Eis-me pai da Bomba Atómica... O máximo! E é por isso que o Fritz Haber te acha tão interessante? Sabes lá! Queria que eu fosse dominar o mundo da Física, como o Max Planck! 11
A propósito, não me perguntaste, mas fica sabendo que o Eduard continua com febre... hoje de manhã tinha 39º! Chamei o médico.
É verdade. E vais ter de te aplicar a sério a corrigir isso.
Fritz! Não o esperava tão cedo! Bom dia, Albert! A viagem é longa, mas para o ver vale a pena! Bom dia, podesMileva,SenhorMileva!Haber...trazer-noscerveja? Como vai a Clara? Vai muito bem. Sabe que ela foi a primeira mulher alemã a obter um ramentodouto-emQuímica? ficarParaaonível?seu Exatamente! Não é cerveja alemã, mas a de produção local é razoável!muito Nãodúvida.tenho Obrigado,Mileva... Deixo-vos conversar.aVouverseoEduardnãoprecisadenada... A Mileva também é cientista...É,conhe-cemo-nosnoPolitécnico... Mas ela abandonou a ciência... dedica-se só à casa e aos filhos... nemAliás,sequeixadisso! 12