Tango, vol. 5 - O Último Condor

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história

Philippe Xavier & Matz desenho

Philippe Xavier argumento

Matz cor

Jérôme Maffre tradução

Jorge Lima


Título original Tango 5 — Le dernier condor © Éditions du Lombard (Dargaud-Lombard S. A.), 2020, Matz e Xavier www.lelombard.com Todos os direitos reservados Tradução Jorge Lima Revisão Elisabete Lucas Fotocomposição Gradiva Impressão e acabamento ACD PRINT PRINT,, S. A. Reservados os direitos para Portugal por Gradiva Publicações, S. A. Rua Almeida e Sousa, 21 – r/c esq. — 1399 -041 Lisboa Telef. 21 393 37 60 — Fax 21 395 34 71 geral@gradiva.mail.pt 1. a edição julho de 2022 Depósito legal 501 384/2022 ISBN 978-989-785-158-2

Editor GUILHERME VALENTE

NOTA Dada a imperatividade de utilização do chamado «novo acordo ortográfico» para os livros serem disponibilizados nos estabelecimentos de ensino, a Gradiva segue esta norma ortográfica nas obras que o público escolar e académico lerá com proveito acrescido.


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o corpo humano parece que tem uns duzentos ossos. apetecia-me partir-te um por cada mês que passei na choldra, mas não chegavam. o que dizes, esterco? aqui, o esterco não sou eu.

e, no entanto, tu é que vais acabar num caixote do lixo... osvaldo...

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gastei muito tempo e dinheiro para te encontrar, borgès... ao fim destes anos, deves ter pensado que eu te tinha esquecido... por isso, quero rentabilizar o meu dinheiro... vou levar o tempo que for preciso... pensei muito nisto, quando estava na prisão por tua culpa...

não me tentes enganar. eu estava protegido. mais ninguém me procurava, sabes muito bem. tu é que me localizaste. aliás, vou precisar que me digas como o fizeste, quem é que me chibou.

por minha culpa? estranha maneira de ver as coisas. eras procurado e deixaste-te apanhar.

não posso lembrar-me dos escroques todos que descobri e meti na prisa em toda a minha vida, de quem os denunciou e porquê.

não me lembro.

justamente, devolver a memória às pessoas é uma das coisas que eu sei fazer. e vou fazer-te arrepender dos teus insultos.

vai dar uma curva, cabrera.

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horas antes... é o que se chama a boa-vai-ela... exatamente como imaginei... um belo prédio, o meu apartamento no último andar, inquilinos que me sorriem, me tratam por «senhor» e me pagam todos os meses...

bons dias, senhor borgès.

quando penso que o tango também tem um apartamento, mesmo ao lado do meu, mas prefere galopar pela pampa, atrás de vacas malcheirosas... oh lá lá... e cá em baixo, um talho excelente. carne argentina de primeira qualidade...

e uma mulher admirável, a quem podia arrastar a asa. mas a mulher do carniceiro, considerando o material de trabalho dele, é capaz de não ser grande ideia...

eu, o que quero da vida, agora, são zero chatices. tranquilidade. paz. serenidade. felicidade. fui feito para isso.

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os meus inquilinos são escolhidos a dedo. agradáveis. simpáticos. satisfeitos, porque não os esfolo... este aqui é o pablo. dançarino e professor de tango. dá espetáculos um pouco por todo o lado. o número de turistas que querem aprender a dançar é insano...

bom dia, senhor borgès.

bom dia, como está?

também tenho jovens quadros dinâmicos e abastados, uns quantos estudantes prometedores, um artesão canalizador, e um casalinho, sem filhos, graças a deus.

nenhum motivo para preocupações, exceto uma ou outra fuga de água, ou uma fechadura para mudar. sem problemas. no resto do tempo, posso passear, ler, beber um copo com os amigos...

bom dia, senhor borgès.

bom dia, virginia, tudo bem consigo?

tudo, obrigada, senhor borgès...

trate-me por mario, já lhe disse. a vida corre-lhe bem?

sabe como é, as coisas estão um pouco difíceis, de momento. é por isso que estou um pouco atrasada na renda, e...

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eu compreendo, eu compreendo. não se preocupe. leve o seu tempo, mas não se esqueça de mim, de acordo?

é muito simpático da sua parte. obrigada, senhor borgès.

mario.

mario.

também é preciso ser compreensivo, de tempos a tempos. afinal, não somos monstros, e há mais coisas além do dinheiro na vida. sobretudo quando temos boas perspetivas...

o tango de certeza que me diria que não é difícil ser generoso com o dinheiro dos outros. mas não é assim que eu vejo as coisas.

home, sweet home.

quando não nos falta nada e temos uma boa margem de manobra, parece-me normal dar uma mãozinha ao próximo, ou próxima, quando se pode e ele ou ela são simpáticos...

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e o dinheiro foi feito para ser gasto, pouco importa com quem. é um meio, não um fim. é assim que temos de ver as coisas, senão vivemos como os velhos sovinas, os unhas-de-fome empedernidos, sozinhos a contar os tostões. é pouco para mim...

como eu dizia, felicidade.

ah! evidentemente! nunca se pode ter um momento de tranquilidade.

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tio mario? sempre conseguiste arranjar bilhetes?

claro, diego, pensavas o quê? que o teu tio não cumpre as suas promessas? apanho-te daqui a três horas, ok?

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