Tango Vol. 7 - A Flecha de Magalhães | Philippe Xavier, Matz

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ei, estrangeiro, porque estás aqui?

vens donde? como é que te chamas?

porque vieste aqui parar? pessoal, ouçam, não quero chatices, ok?

olha, não foi para te ir ao pacote.

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já percebi... São uns bandalhos à procura de alguém para espancar...

és um sacana dum turista sexual, é isso?

caiu-me a ficha. normal: sozinho, sem proteção. presa fácil...

sim, tu és um sacana dum turista sexual.

à primeira vista, meia-lecas. 60 quilos cada. por outras palavras, ao meu alcance.

vou dizer-te uma cena...

não te queremos no meio de nós, esterco!

mas há vários fatores a ter em conta, para mais em inferioridade numérica.

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vamos tratar de ti, já vais ver.

o calor, a fadiga, o stress, a má alimentação, a ignorância da cultura local. a menos que se trate de desculpas...

a verdade é que os subestimei. estes tipos são loucos furiosos. tarados dos desportos de combate. tenho de mexer-me antes que me façam em picadinho.

bem-vindo às filipinas, cabrão.

deixem-no em paz.

percebeste o que eu disse?

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tá-se bem, turista?

na boa,

obrigado.

vais ter visita.

visita?

sim. um amigo comum.

bom, tu vens comigo, preciso de te falar.

cruz! parlatório.

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arquipélago das filipinas. duas semanas antes...

tango, meu amigo, acho que vou gostar deste sítio.

gosto quando és positivo, mario.

cem dias de mar desde buenos aires... começava a achar que o tempo não passava. tu não?

eu, não. gosto muito do alto-mar. e do deserto. a solidão. a calma. a natureza. exceto, é claro, quando tenho um velho a reclamar o tempo todo.

o tempo todo, é um exagero. mas peço desculpa pelos meus eventuais, e bastante raros, acessos de mau humor.

A FLECHA DE MAGALHÃES e estou contente por aqui estar. a tua ideia de entregar barcos é excelente. ora bem. gostas?

gosto muito.

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só tenho uma questão.

não era para irmos a manila? o contrário é que me espantava.

e vamos. isto é só uma escala. não há pressa. temos uns dias de avanço sobre a data combinada.

tudo bem, mas apetecia-me matar saudades da civilização. não tanto dos homens, era mais das mulheres. e então, qual é o programa?

por agora, banho.

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três dias depois. tudo o que é bom chega ao fim...

pensava que tinhas pressa de voltar à civilização, viejo...

na verdade, sinto-me dividido.

mudas de opinião mais vezes que um catavento no cabo da boa esperança.

pois é, e marimbo nisso. ora, aqui a tens, mario, a tua civilização. manila.

a civilização, é um modo de dizer. afinal, é nas grandes cidades que se encontram as criaturas mais perigosas. e têm duas pernas e polegares oponíveis, não é? 10


um pouco mais tarde...

entendido. não há problema. até breve.

os problemas de uns, às vezes, são as oportunidades de outros.

quando tu dizes que não há problema, quer dizer que há problema, não é?

acalma-te lá. tens alguma coisa prevista para as próximas seis semanas? algum sítio aonde ir? vais ver alguém?

o que é que te deu? agora deste em filósofo? foi o ar da ásia que te pôs zen, subitamente? o que disse o dono do barco? o que é que não é um problema?

bem sabes que não, porquê?

problema para ele, oportunidade para nós.

o proprietário tem um impedimento, trabalho. um grande contrato, uma deslocação, reuniões, sabes como é. teve de adiar seis semanas a sua viagem. pede-nos para lhe vigiarmos o barco daqui até lá. e não estamos obrigados a ficar amarrados aqui. e então? problema ou oportunidade?

exatamente o que eu pensei. bom, vamos lá ao reabastecimento. temos de repor as reservas, que já não há grande coisa a bordo.

eu cá gostava à brava de comer em terra, se não tiveres nada contra. um verdadeiro restaurante. uma boa jantarada, que me dizes?

tudo bem, mas primeiro o reabastecimento.

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o que é que vamos fazer durante seis semanas? por mim, atracávamos numa baiazinha qualquer.

ambiente paradisíaco, relax rigoroso.

porque não?

idealmente com um bar ou um restaurante não muito longe. o melhor de dois mundos, o mar e a terra.

na verdade, é um pouco isso. pensei numa coisa.

«porque não»? isso transborda entusiasmo. a não ser que tenhas alguma coisa em mente de que não me tenhas falado.

já cá faltava. então e essa coisa inclui nadar em água translúcida sem mexer uma palha, haja o que houver?

isso, e conhecer o país.

negócio fechado. alinho.

eéo quê?

um pouco de turismo...

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