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Análise da capacidade armazenagem da produção de milho safrinha no mato grosso

Rafael Alves da Silva1 Saulo Tomiyoshi Medeiros2 Stelito Assis dos Reis Neto3

1 Companhia Nacional de Abastecimento - Analista/Engenheiro Agrícola – Gerência de Cadastro e Credenciamento de Armazéns Superintendência de Armazenagem - rafael-alves.silva@conab.gov.br 2 Companhia Nacional de Abastecimento– Gerência de Cadastro e Credenciamento de Armazéns - gecad@conab.gov.br 3 Companhia Nacional de Abastecimento -Superintendência de Armazenagem – suarm@conab.gov.br

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Conforme estimativa da produção de grãos do Brasil (safra 2021/2022), o Brasil produzirá cerca de 271,23 milhões de toneladas, o que é 5,64% maior do que foi produzido na safra anterior (CONAB, 2021b). Esta foi a maior da safra de grãos do país.

A previsão é de que somente o estado do Mato Grosso - MT produza cerca de 86,48 milhões de toneladas de grãos, representando 31,89% da produção de grãos nacional. O Mato Grosso tem a maior participação na produção de grãos do país, seguido dos estados do Paraná - PR (12,77%), Goiás - GO (10,63%) e Rio Grande do Sul (9,21%) e (CONAB, 2021b).

Em termos de tipos de grãos produzidos, a safra 2021/2022 pode ser assim representada: soja (46,29%), milho (41,76%), arroz (3,97%), trigo (3,45%) e outros grãos (4,52%). Desta forma, o milho e a soja representam cerca de 88,05% da produção de grãos do Brasil. (CONAB, 2021b).

A colheita da produção de milho no Mato Grosso ocorreu a partir da primeira semana de maio e se encerrou na primeira quinzena do mês de agosto, representando 47,53% dos 86,5 milhões de toneladas de grãos produzidos no estado e 15,15 % com relação da produção nacional de grãos.

Assim, diante da importância da safra de milho colhida na safra 2021/2022 nesse estado, é importante analisarmos o parque armazenador da região quanto a capacidade de receber, limpar, secar e armazenar os grãos. Como grande parte da produção de grãos é armazenada durante determinado período, várias regiões produtoras de grãos do Brasil têm enfrentado grandes problemas neste segmento agrícola em decorrência da capacidade estática limitada dos armazéns (Lima Júnior et al., 2012; Maia et al., 2013). De acordo com Elias (2003), a armazenagem é o processo de guardar o produto, associada a uma sequência de operações, tais como limpeza, secagem, tratamento fitossanitário, transporte, classificação, dentre outros, com o intuito de preservar as qualidades físicas, químicas e biológicas da colheita, até o abastecimento. A limpeza e secagem dos grãos são importantes procedimentos realizados antes do armazenamento e que possuem o objetivo de manter a sua qualidade durante o período que ficarem armazenados. A retirada das impurezas e redução da umidade, são de extrema importância para evitar a perda de qualidade do produto. Segundo Puzzi (1986), as Unidades Armazenadora podem ser classificadas em: fazenda, coletora, intermediária e terminal. Sendo importante que as capacidades de limpeza e secagem estejam nas Unidades Armazenadoras em nível fazenda e coletoras, que recebem produtos que possuem necessidade desses dois tipos de serviços. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2011) define Unidade Armazenadora

[UA] como edificações, instalações e equipamentos organizados funcionalmente para a guarda e conservação dos produtos agropecuários, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico. O MAPA separa as unidades armazenadoras em quatro tipos: 1) em nível de fazenda - localizada em propriedade rural, com capacidade estática e estrutura dimensionada para atender ao próprio produtor; 2) coletora - localizada na zona rural (inclusive nas propriedades rurais) ou urbana, com características operacionais próprias, dotada de equipamentos para processamento de limpeza, secagem e armazenagem com capacidade operacional compatível com a demanda local; 3) intermediária - localizada em ponto estratégico de modo a facilitar a recepção e o escoamento dos produtos provenientes das unidades armazenadoras coletoras, e; 4) terminal - localizada junto aos grandes centros consumidores ou nos portos, dotada de condições para a rápida recepção e escoamento do produto, caracterizada como unidade armazenadora de alta rotatividade.

A pessoa jurídica que executa a armazenagem dos produtos agropecuários tem o dever de solicitar sua inclusão no Sistema de Cadastro de Armazém de Produtos Agrícolas - SICARM, administrado e controlado pela CONAB (Brasil, 2001). Apesar da obrigação do cadastramento de armazéns no SICARM, pode acontecer de a UA estar operando sem realizar o seu cadastramento e ficar de fora da avaliação, uma vez que não há fiscalização e/ou multa pelo não cumprimento da obrigação.

Durante vistoria para o cadastramento de armazéns, os técnicos da CONAB coletam os dados do armazém, tais como: capacidade estática de armazenagem (em toneladas), capacidade de recepção (toneladas/hora), capacidade de limpeza (toneladas/ hora), capacidade de secagem (toneladas/hora), capacidade de expedição (toneladas/hora) e coordenadas geográficas.

A implementação de armazenagem nas fazendas de regiões produtoras de grãos, onde a demanda de armazenagem seja elevada poderá elevar o nível de renda do produtor, que terá redução nas perdas e nos riscos decorrentes das flutuações dos preços, contribuindo para o desenvolvimento da comercialização. A implementação também favorecerá os consumidores, com o abastecimento contínuo e benefícios com preços mais estáveis (Silva et al., 2008).

Uma UA, técnica e convenientemente localizada, constitui uma das soluções para tornar o sistema produtivo mais econômico, propiciando a comercialização da produção em melhores períodos, evitando as pressões naturais do mercado na época da colheita (D’Arce, 2009). A guarda de produto na propriedade apresenta inúmeras vantagens: a minimização das perdas quantitativas e qualitativas no campo; economia do transporte; maior rendimento na colheita por evitar a espera dos caminhões nas filas nas unidades coletoras ou intermediárias; a obtenção de financiamento por meio das linhas de crédito específicas para a pré-comercialização; redução dos custos de transação; disponibilidade do produto para utilização oportuna, além de implicar na redução das filas nos terminais de exportação, constituindo-se em alternativa para fugir dos gargalos logísticos (Nogueira Junior e Nogueira, 2007; Giovine e Christ, 2010).

Nesse contexto, objetivou-se identificar possíveis gargalos de armazenagem da produção de milho safrinha 2021/2022 do Mato Grosso - MT, sendo avaliado os dados de capacidade de estática, capacidade de recepção, capacidade de limpeza, capacidade de secagem e capacidade de expedição dos armazéns comparados com a velocidade de colheita do milho safrinha.

Material e Métodos

Para a análise da falta de espaço para armazenagem, adotou-se a diferença entre a capacidade estática dos armazéns a granel e a estimativa de produção de safrinha (safra 2021/2022) por microrregião do Mato Grosso. Espera-se que as microrregiões com maior déficit de armazenagem correspondam às microrregiões com maiores demandas pelos serviços de armazenagem e, consequentemente, maior a oportunidade para instalação de novos armazéns. Nesta análise de déficit de armazenagem do Mato Grosso não foi considerado o estoque de passagem dos grãos, principalmente soja, que pressiona ainda mais a necessidade dos armazéns da região.

Para as demais análises, a estimativa de velocidade de colheita do milho safrinha no Mato Grosso foi transformada em toneladas por hora, considerando a progressão de colheita divulgado pela Conab na safra 2020/2021. O percentual colhido em cada período foi multiplicado pelo total produzido, previsão de safra 2021/2022, em cada localidade e dividido pela quantidade de dias do período, também foi considerado 8 horas de colheita diárias.

A análise da capacidade dos armazéns (capacidade de recepção, capacidade de limpeza, capacidade de secagem e capacidade de expedição) cadastrados no Sistema de Cadastro Nacional de Unidades Armazenadoras - SICARM/CONAB versus a produção de milho safrinha 2021/2022 do Mato Grosso foi simplificada, considerado o mesmo ritmo de colheita, ou seja, o mesmo percentual de colheita, para todas as microrregiões. O que diferencia as microrregiões é a quantidade de milho safrinha produzido.

Para elaboração dos mapas deste trabalho, utilizou-se: o software “QGIS”; coordenadas geográficas dos armazéns a granel obtidas no SICARM (CONAB, 2021a); arquivos vetoriais correspondentes à base digital do Brasil que dispõem dos polígonos delimitadores do Brasil, dos estados e microrregiões cada município do país no formato “shapefile”, disponibilizados no portal eletrônico do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE,2020b); dados da produção de grãos do Brasil safra 2021/2022, estimativa de 09/2022 (CONAB, 2022b); dados da produção de milho 2ª safra do Mato Grosso safra 2021/2022, estimativa de 09/2022 (CONAB, 2022b) e produção agrícola municipal do SIDRA 2021 (IBGE, 2022a). Todos mapas foram elaborados no Datum SIRGAS 2000.

Resultados e Discussão

Ao avaliar a produção de grãos do Brasil por microrregião, observa-se na Figura 1 uma forte concentração da produção na região centro-oeste do país, com destaque para as microrregiões de Alto Teles Pires-MT, Sudoeste de Goiás-GO, Parecis-MT, Dourados-MS, Barreiras-BA, Canarana-MT e Sinop-MT.

Figura 1. Previsão da Safra de grãos do Brasil, safra 2021/2022, estimativa de setembro de 2022. Fonte: CONAB (2022b) e SIDRA/IBGE (2022) 732.930 t, respectivamente). No entanto, as microrregiões com superávit de armazenagem de milho foram Alto Teles Pires, Primavera do Leste, Rondonópolis, Alto Araguaia e Cuiabá (2.721.507, 1.486.535, 1.059.840, 322.258 e 82.831 t, respectivamente).

Acredita-se que o déficit de armazenagem de algumas microrregiões possam ser supridas por Unidades Armazenadoras localizadas em microrregiões vizinhas com superávit.

Figura 2. Déficit de armazenagem no estado do Mato Grosso - Capacidade estática vs produção de milho safrinha. Fonte: CONAB (2021a, b, c) e SIDRA/IBGE (2022)

O cenário de capacidade estática de armazéns cadastrados no SICARM/CONAB versus a produção de milho safrinha 2021/2022 do Mato Grosso é apresentada na Figura 2.

No balanço geral do Mato Grosso (capacidade estática versus produção de milho safrinha), para produção de milho safrinha de 41.103,80 mil toneladas e capacidade de armazenagem granel de 39.653,28, estima-se um déficit de armazenagem de 1.450,52 mil toneladas para armazenar a produção total de milho safrinha do estado. Este déficit estimado não inclui a análise do estoque de passagem de soja e/ ou de milho primeira safra.

Se de um lado o déficit de armazenagem pode ser maior pelo fato de alguns armazéns ainda terem um estoque de passagem de soja e/ou de milho na região, por lado, pode ser amenizado em razão do escoamento do milho segunda safra que segue diretamente para a exportação ou fabricação de ração animal, sem ficar armazenado no local de produção por muito tempo, e pela utilização de estruturas emergenciais de armazenamento, como por exemplo os silos bolsa.

Conforme análise, as microrregiões com maiores déficits de armazenagem da milho safrinha foram Arinos, Norte Araguaia, Canarana, Parecis e Paranatinga (1.265.750, 1.198.967, 1.036.528, 745.325,

No Gráfico 1, a seguir, foi realizado um comparativo da velocidade de colheita de milho safrinha durante o período de maio a agosto de 2022 com a capacidade de secagem e limpeza. Nota-se que o período mais crítico ocorre entre a última semana do mês de junho e a primeira quinzena de julho.

Nas primeiras semanas de julho a velocidade de colheita atinge 140.927,31 toneladas/hora, valor inferior a capacidade de secagem do Mato Grosso que é de 152.249 toneladas/hora. No caso do milho safrinha, os sistemas de secagem dos armazéns tem utilização menor, uma vez que grande parte do milho colhido já chegam ao armazém seco (teor de água baixo). Nestes casos, realiza-se apenas a limpeza do milho e, posteriormente, a armazenagem.

Gráfico 1. Velocidade da colheita de milho safrinha versus capacidade de secagem versus capacidade de limpeza versus capacidade de recepção versus capacidade de expedição (t/h). Fonte: CONAB (2021a, b, c)

As demais capacidades dos armazéns (recepção, limpeza e expedição) apresentam valores condizentes com a velocidade de produção, assim, utilizando-se essa metodologia, não representaram um gargalo durante a colheita.

O modelo de análise foi simplificado e devido as características do milho safrinha, existe a possibilidade de armazenar o produto sem a necessidade de secar na unidade armazenadora, em contrapartida a capacidade de secagem utilizada é média, podendo sofrer reduções significativas por problemas de manutenção e recebimento de produto com teor de umidade mais alto.

No Mato Grosso a distribuição das capacidades de limpeza e secagem estão aderentes com as funções dos armazéns, estando cerca de 80% concentrada nos armazéns coletores e nível fazenda, conforme Tabela 1. No caso da capacidade estática, este percentual é cerca de 72%.

Tabela 1. Capacidades por função dos armazéns. Fonte: SICARM - CONAB (2022a).

É importante também observarmos quem opera o parque armazenador nesse estado, principalmente, quanto a possibilidade de prestação de serviços de armazenagem por parte dos detentores dos equipamentos.

Através da Tabela 2, a seguir, pode-se verificar que 32% da capacidade de secagem é operada por pessoas físicas, que por lei (Brasil, 2001), não podem prestar serviços de armazenagem para terceiros. Além disso, outros 18% dessa capacidade está sendo operada por tradings, que de forma geral não prestam serviços para terceiros.

Desta forma, nota-se uma redução de 50% na capacidade de secagem que estará indisponível para prestação de serviços a terceiros. Esta informação é importante, uma vez que o produtor de milho safrinha que não possui armazém equipado com limpeza e secador terá dificuldades de encontrar local que preste esses serviços.

Tabela 2. Capacidade estática, de secagem e limpeza de grãos por tipo de agente armazenador. Fonte: SICARM – CONAB (2022a).

Para o período mais crítico de secagem, elaborou-se um mapa que compara a velocidade de colheita de milho safrinha com a capacidade de secagem dos armazéns por microrregião. A Figura 3 ilustra esses déficits por microrregião.

Conforme análise, as microrregiões com maiores déficits de capacidade de secagem de milho safrinha foram Norte Araguaia, Paranatinga, Arinos e Aripuanã, (2.419, 2.392, 2.127 e 1.051 t/h, respectivamente). No entanto, as microrregiões com superávit de capacidade de secagem de milho safrinha foram Alto Teles Pires, Primavera do Leste, Rondonópolis e Alto Araguaia (11.634, 5.478, 2.788 e 1.563 t/h, respectivamente).

De forma similar ao observado na análise de déficit de armazenagem, acredita-se que o déficit de capacidade de secagem de milho safrinha de algumas microrregiões possam ser supridas por Unidades Armazenadoras localizadas em microrregiões limítrofes, como pode ser observado para o estudo de caso da microrregião de Paranatinga-MT na Figura 3.

Figura 3. Análise da capacidade de secagem de milho safrinha vs colheita da produção de milho safrinha no estado do Mato Grosso. Fonte: CONAB (2022a, b, c) e SIDRA/IBGE (2022)

Conclusões

As microrregiões que apresentaram maiores déficits de armazenagem de milho safrinha e, consequentemente maior indicativo de necessidade para instalação de armazéns no Mato Grosso, foram: Arinos, Norte Araguaia, Canarana, Parecis e Paranatinga (1.265.750, 1.198.967, 1.036.528, 745.325, 732.930 t, respectivamente).

Quanto ao maior gargalo operacional do complexo de armazenagem do estado, a capacidade de secagem foi a que apresentou a maior necessidade de ampliação, principalmente, nas microrregiões de Norte Araguaia, Paranatinga, Arinos e Aripuanã.

Observou-se a necessidade de expandir a análise para a colheita da 2ª safra do Mato Grosso detalhando as informações de armazenagem e produção por município.

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