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¦ Editorial ¦ Ano XIII • nº 75

Novembro / Dezembro 2015

www.graosbrasil.com.br Diretor Executivo Domingo Yanucci Administradora Giselle Pedreiro Bergamasco Colaborador Antonio Painé Barrientos

Matriz Brasil Av. Juscelino K. de Oliveira, 824 Zona 02 CEP 87010-440 Maringá - Paraná - Brasil Tel/Fax: (44) 3031-5467 E-mail: gerencia@graosbrasil.com.br Rua dos Polvos 415 CEP: 88053-565 Jurere - Florianópolis - Santa Catarina Tel.: +55 48 3304-6522 | 9162-6522 graosbr@gmail.com Sucursal Argentina Rua América, 4656 - (1653) Villa Ballester - Buenos Aires República Argentina Tel/Fax: 54 (11) 4768-2263 E-mail: consulgran@gmail.com Revista bimestral apoiada pela: F.A.O - Rede Latinoamericana de Prevenção de Perdas de Alimentos -ABRAPOS As opiniões contidas nas matérias assinadas, correspondem aos seus autores. Conselho Editorial Diretor Editor Flávio Lazzari Conselho Editor Adriano D. L. Alfonso Antônio Granado Martinez Carlos Caneppele Celso Finck Daniel Queiroz Jamilton P. dos Santos Maria A. Braga Caneppele Marcia Bittar Atui Maria Regina Sartori Sonia Maria Noemberg Lazzari Tetuo Hara Valdecir Dalpasquale Produção Arte-final, Diagramação e Capa

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NA LARGADA PARA 2016 Novos desafios e oportunidades para as novas colheitas Caros Amigos e Leitores O gerenciamento dos armazéns de grãos estará sobre pressão por abundantes safras, os recordes colocaram em evidências as limitantes, os gargalos, e se faram mais óbvias as ineficiências do sistema. Lembramos a frase do famoso Albert Einstein: “Não podemos continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferente”. Quanto antes às empresas iniciem um projeto de otimização, envolvendo todos os níveis, melhores resultados obterão; de forma mais rápida e consistente. A maioria dos armazéns do Brasil e da América do Sul em geral, estão em situação similar, com um manejo tradicional onde se alcança o objetivo de conservação com os mais baixos níveis de eficiência. É possível e conveniente melhorar o dimensionamento das instalações, instalar equipamentos essenciais, colocar em prática as BPM (Boas Práticas de Manejo), instrumentar controles e índices. Com isto será possível aproveitar o negócio em toda sua magnitude. Diminuir gastos e perdas, tende a evitar faltantes e aperfeiçoar os processos de manejo dos grãos no armazém. Ajuda a tomar decisões sobre investimentos, trabalhar na capacitação e atualização dos funcionários, gerar sistemas de controle, conhecimento de custos e índices de eficiência, os quais são os objetivos que sempre devem estar presente. Consideramos que as quebras técnicas cobrem em parte as perdas. Por ex.: se elas dão uma cobertura de 2 % e o faltante é de 1 %, a perda completa foi de 3 %. Partindo de um faltante de 1 %, alcançando o equilíbrio, a ganancia será de 3 %; equivalente ao lucro direto que dá o armazém atualmente. Uma melhora de 100 %. Esta edição é de coleção, seguramente encontraram temas de seu interesse. Chegaremos a vocês com Grãos Brasil (papel e digital), com as jornadas e cursos a distância, podem contar com a gente para fazer uma especialidade melhor. Mãos à obra; o primeiro é parar para pensar e depois ver o que devemos fazer de melhor. Um forte abraço. Que Deus abençoe sua família e trabalho, desejando pra todos um Feliz Natal e um Próspero 2016. Com afeto.

Domingo Yanucci Diretor Executivo Consulgran - Granos Revista Grãos Brasil



¦ Indice ¦ 06

Algumas Reflexões da Pós-Colheitas | Eng. Domingo Yanucci

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Estimativa dos custos de recepção, secagem e limpeza| Ocepar

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DDGS - Utilização em alimentos, qualidade e segurança | Msc. Juliana R. da Silva e Dra. Vildes M. Scussel

28

“Hard To Cook em feijão”: O que é e como prevenir?| Eng. Cristiano Dietrich Ferreira e outros

33

Viver Um Dia De Cada Vez, O Melhor Caminho| Oswaldo J. Pedreiro

Setores

02

Editorial

37

Não só de pão...

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38

Cool Seed News

40

Utilíssimas


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Pós-Colheita Algumas Reflexões da Pós-Colheita Por: Eng. Domingo Yanucci| Consulgran - Granos - Grãos Brasil | graosbr@gmail.com

A prática mais importante da pós-colheita é a amostragem e o monitoramento Sem dúvidas todas as atividades dos armazéns são necessárias e, portanto, importantes, mas em nossas palestras sempre falamos que temos uma prática que é a mais importante de todas. Fazemos isto, primeiro porque estamos convencidos de que é a realidade e segundo porque é uma boa forma de ressaltar um conjunto de práticas pouco valorizadas nos manejos tradicionais. Quando nas reuniões perguntamos para os responsáveis qual é a prática mais importante muitos falam: secagem – limpeza – controle de pragas – aeração, etc. etc., e nós afirmamos que nenhuma destas práticas podem fazer bem se não se conhece como está a mercadoria. Como a única forma de saber com que estamos lidando é a amostra e monitoração, podemos então afirmar que estas são o conjunto de práticas mais importantes. Muitas vezes se deixa para depois porque tem outras práticas mais urgentes, receber, carregar caminhão, etc. etc., em outras ocasiões não se dispõe nos armazéns um programa de seguimento da qualidade do grão, por ex. uma história clínica de cada depósito, o que complica a eficiência dos processos. A falta de consciência sobre a importância das práticas de amostragem e monitoramento e às vezes as implicâncias comerciais que isto tem, tem como consequência a não incorporação de tecnologias necessárias para otimizar os resultados. Por ex.: Coletores mecânicos pneumáticos de amostras, sistemas de monitoramento de secadores, silos, clima, peneiras de recepção, etc. Faz muitos anos que foram 06 | Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

desenvolvidos sistemas de extração de amostras de grãos em movimento, que lamentavelmente não estão difundidos em nossas novas instalações. Trata-se de equipamentos simples que permitem coletar mecânica e automaticamente as amostras. Cada vez mais torna-se necessária a coleta de maior volume de amostras, porque as variáveis de qualidade (sobretudo as mais heterogêneas, como por ex.: micotoxinas) requer grande quantidade de amostras. Não se pode ter um armazém de alta capacidade e depender da coleta manual de amostras; as máquinas podem fazer isto com menor índice de erro e com uma melhor performance para obter representatividade dos volumes.


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¦Pós-Colheita¦ os grãos, sabemos que também temos micélios microscópicos dentro do grão. Em determinadas condições estes fungos produzem substâncias tóxicas que afetam a convertibilidade e ate podem causar a morte dos que consomem os grãos. A forma de ataque, a forma de detecção e a biologia dos fungos, é algo que merece ser levado mais em conta.

O fator de maior perda de peso e de qualidade são os fungos Por serem micro-organismos, para muitos só existem quando se fazem visíveis. Os fungos do gênero Aspergillus e Penicillium, que são os clássicos da pós-colheita de grãos e sementes, sem dúvida são a causa mais importante de perdas de qualidade e peso na pós-colheita. Alguns podem ficar surpresos porque pensavam que eram os insetos, outros pensavam que é a secagem excessiva, etc.; a verdade é que nunca se pode ter um granel sem fungos, pois estes sempre estão agregados ao grão, tanto por fora dele como em seu interior. Quando falamos de quebra na armazenagem, esta é para justificar a perda de peso que ocorre devido a respiração do granel (massa de grãos), que na realidade é muito mais dos fungos do que do próprio grão. Em condições normais, todo granel respira consumindo a matéria seca e gerando calor e umidade. Como sabemos, a umidade é o principal fator que afeta a vida dos fungos e estes se desenvolvem a partir de uma umidade relativa de equilíbrio de 65% ou mais. Por ex.: quando trabalhamos com umidades limites primeiro começa a desenvolver-se o A. Restrictus, e depois seguem em uma espécie de sucessão ecológica Glaucus, Flavus, Nigricans, Acraceus, sendo o gênero Penicillium o que requer maior teor de umidade. Conforme o tipo de grão, este apresentará uma ou outra espécie de fungo característico ao seu gênero. Quando o grão está em perfeito estado, está perdendo peso principalmente por causa dos fungos que fazem parte do ecossistema de pós-colheita. Hoje já temos máquinas que determinam umidade grão por grão, porque os fungos não se desenvolvem em função de um dado de umidade média, que é o que nós determinamos; se desenvolvem em função dos maiores níveis de umidade. Muitas vezes se pregunta o que ocorre no armazém com milho a 13,5% de umidade e tendo fungos; na verdade este 13,5% é o resultado de uma mistura onde temos grãos com 14, 15, 16%. E o milho de 15% em seu germe tem 17% de umidade. Se não tiver umidade não teremos desenvolvimento de fungos. Alguns olham o grão ardido, fermentado e até podre e pensam que é da natureza desta matéria orgânica; na realidade são os fungos os causadores de toda esta deterioração. Em algum momento podemos ver os micélios dos fungos sobre 08 | Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

O mais importante na pós-colheita de grãos e sementes é o responsável do armazém Se observarmos o quadro dos componentes do ecossistema da pós-colheita, veremos que entre os fatores biológicos do meio temos o homem. Este é o fator mais importante; é ele que produz, é ele que estabelece as normas, é ele que desenvolve e implementa as tecnologias, e é ele o destinatário direto ou indireto dos grãos. Quadro Nº 1: Tipos de armazéns no Brasil

E entre os homens, o responsável do armazém é o mais importante, é ele que tem que saber como está o grão e conhecer as técnicas de aplicação para manter as caraterísticas do grão e fazê-lo com a máxima eficiência possível. Ao longo de tantos anos já se teve oportunidade de ver grandes investimentos em mãos pouco preparadas, gerando graves danos e também armazéns modestos, gerenciados por encarregados capacitados e, como se diz comumente, vestindo a camisa e dispostos a suar por ela, dando bons resultados. É o chefe do armazém que normalmente deve carregar as múltiplas pressões no tempo de safra, é ele que maneja as equipes de trabalho, permanentes ou temporárias e é só ele que tem a responsabilidade sobre a qualidade e os volumes que se armazenam.


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¦Transportadores¦ ¦Gestão¦ ¦Pós-Colheita¦ Os armazéns normalmente não são tão confortáveis como um escritório e o que deve ser destacado é que a diferença entre um trabalho de escritório e em um armazém “TUDO É DINHEIRO”. Toda decisão que se toma envolve gastos e/ou perdas de grãos e para completar o panorama não se pode nunca voltar atrás. Destacamos isto porque muitas vezes os responsáveis dos armazéns não são suficientemente valorizados e pouco remunerados, e poucos são os que investem em sua própria capacitação. Um chefe de um armazém pequeno (30.000Ton) é o responsável pelas instalações de um valor de R$12.000.000,00 e gerencia gastos por R$ 2.500.000,00 e é responsável de grãos por um valor de R$ 36.000.000,00 tudo em um ano. Lembramos que a pós-colheita é um negócio de centavos, na lavoura se pode falar em perdas de 5 – 10%, no armazém pensar em 0,5% é uma baita perda. A base do sucesso do controle de pragas, a limpeza e os tratamentos de instalação Este é um tema muito recorrente, que a grande maioria dos responsáveis do manejo de grãos ainda não compreendem plenamente. Muitas vezes passa que a gente pensa: “Para que limpar se não dura nada” e desta forma se acumulam resíduos que servem de refúgio e alimento das pragas, o que torna praticamente inútil a aplicação de agrotóxicos. Outras vezes não se tem o conhecimento do que significa limpo, para o controle de pragas. Frequentemente lembro quando me chamaram para ajudar no controle de um grande ataque de besourinho (Ryzopertha Dominica F.) em trigo e dei a recomendação de limpar o silo para depois fazer um tratamento de nebulização, duas horas depois me chamam “Eng., o silo já está limpo”, observo e vejo que faltava bastante, então assinalei os pontos onde faltava limpeza e pedi que melhorasse o trabalho, assim 2 horas depois me chamam para dar o OK, e novamente faltava limpeza, assim que tive que insistir. Comento esta anedota para exemplificar como a palavra não é suficiente para a implementação da boa tecnologia, porque o que é limpo para um não é para outro. Muitas instalações não dispõem de aspiradores industriais, então por mais boa vontade que tenham nunca podem limpar corretamente.

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Além do comentado temos outras limitações, uma referente à dosagem dos agrotóxicos para as instalações que a nosso entender são insuficientes nas etiquetas dos produtos aprovados. Outra limitante é a falta de máquinas nebulizadoras (que com pouco volume fazem um tratamento estendido, com gotas pequenas, das partes internas dos armazéns). É recomendável usar misturas de órgão fosforado e piretro ides; e complementar este tratamento com o uso de inseticidas em pó para chegar a lugares onde se refugiam as pragas e não se chega de outra forma. Lembremos também uma velha citação: Nenhum agrotóxico é melhor que sua aplicação. A aeração eficiente sempre se dá em séries de tempo A série é o número de horas de aeração necessária para resfriar uma massa de grãos. Este é um conceito conhecido pelos estudiosos da aeração, mas que não está generalizado na prática ainda. Esta série pode ser de 100 a 120h, por exemplo (para uma aeração tradicional – pobre). Para exemplificar tomemos o trigo, se colhe na primavera - verão, então se deve dar uma série o mais cedo possível para resfriar o grão que vem da lavoura, normalmente usando as horas da noite. Então assim se resfria imediatamente, pouco vamos conseguir arejando nas semanas seguintes. O consumo de energia será elevado e a possibilidade de perder peso por secagem é bem certo. Se deverá esperar que a temperatura ambiente mínima média baixe uns 5ºC da temperatura do granel.

Para resfriar de 28 a 23ºC, se requer o mesmo gasto de energia que para fazê-lo de 24 a 23ºC, custa o mesmo praticamente que resfriar 5ºC ou 1ºC, por isto o econômico e razoável é esperar que a temperatura ambiente baixe da ordem de uns 5ºC para justificar uma nova série de horas de aeração. Assim se estabelece umas 3 séries até chegar o inverno. Ex.: se colher com 30ºC, se resfria a 25ºC na primeira série; no sul do Brasil no outono se chega a 22ºC e no inverno a 18ºC. Cada região tem sua realidade, muito diferente será Santa Cruz de La Sierra (Bolívia), Paragominas (Pará- Brasil), Mato Grosso (Brasil), Paraguai ou Bahia Blanca (Buenos Aires- Argentina). A grande maioria dos armazéns não tem controle dos KWh que gastam por tonelada e passa desapercebido o excessivo gasto de energia, com resultados pobres ou incluso com resultados indesejáveis. Ao implementar-se a aeração em séries, mesmo incorporando um tempo extra para cada aeração, veremos que o gasto de energia elétrica reduz substancialmente.


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¦Pós-Colheita¦ Como é o clima para a armazenagem e a conservação Muitas vezes confundimos o que é um bom clima para produzir com o conveniente para a pós-colheita. Sabemos que a agricultura se inicia sobretudo em lugares onde era relativamente fácil conservar, porque só tem sentido produzir um grão sazonal em grandes quantidades, se existe a possibilidade de conservar a produção. O Eng. Eduardo Sierra nos apresenta a seguinte classificação climática desde o ponto de vista da qualidade da pós-colheita: 1) Umidade 2) Temperatura Quadro Nº 1: Áreas hídricas para a pós-colheita de grãos

Fonte: Eduardo Sierra

Quadro Nº 2: Zonas Térmicas para Pós-colheita

Fonte: Eduardo Sierra

A grande maioria das regiões produtivas da América do Sul são regulares ou marginais para o manejo da pós-colheita de grãos.

Foto: Silos na neve e silos em clima quente

Reforço das aerações ou resfriamento artificial, alternativas de otimização Quando iniciei nestes temas, peguei toda literatura possível, e em geral se falava de uma vazão específica de 0,1 m3/min ton para resfriar o grão. No ano de 1987 em um curso da FAO no Centreinar (Centro de Treinamento de Manejo de Grãos de Viçosa MG), me coloquei a trabalhar no desenho de uma aeração e usamos esta ideia de vazão. Minhas primeiras publicações também repetiam o que todo mundo falava. Com o tempo fui percebendo que se duplicássemos a vazão, gerávamos melhoras muito transcendente no manejo de grãos. Então fica claro para mim que uma vazão de 0,1 m3/min ton era um grave erro. Aprofundando o tema vemos que com uma vazão de 0,1 m3/min ton (por ex. um ventilador de 100 m3/min em um silo de 1000ton), necessitamos da ordem de 100 a 120 h de aeração (por série) e isto é muito fácil de conseguir nas regiões do hemisfério norte onde se gerou esta informação; e na maioria de nossas regiões produtivas para obter 100h de frio necessitamos 2 ou mais semanas. Hoje em pleno Mato Grosso (Brasil) (mínimas de 18ºC no inverno) se está usando a mesma aeração que em Minneapolis 12 | Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

(Estados Unidos) (mínima – 10ºC no inverno). Sem dúvidas este é o maior erro técnico que se comete em nossos países. E o mais lamentável é que se segue cometendo. Se paga caro com perdas de milhões de reais por ano, se perde peso, se deixa mais cômodo às pragas e fungos, se gasta muita energia eléctrica (porque não se areja só nas melhores horas), se deve armazenar mais seco para ter segurança, etc., etc. Depois de vários anos chegamos à conclusão que não existe melhor inversão nos armazéns que reforçar (duplicar em termos gerais) a aeração, em todos seus conceitos referidos a resfriamento ou manutenção de grão úmido ou seco. Claro que a aeração sempre vai depender do clima da região em um 100%. Se quisermos independência de forma importante do clima é necessário programar a refrigeração artificial. Se os condutos da aeração não são limitantes, podemos conectar uma máquina de refrigeração e alcançar 15ºC em pleno verão, com todos os benefícios que isto tem. Lembramos como informação geral, por cada aumento de 5ºC se duplica o ritmo de respiração do grão. E dizer que duplica a perda de matéria seca, a produção de água e calor. Podendo levar o grão a uma deterioração irreversível. Se observarmos de um ponto de vista de um armazém já existente, deve-se tratar de desarmar 4 aerações e armar 2 e colocar 2 novas nos silos onde se retirou a aeração. Se tratar de um depósito novo, já deve considerar a vazão especifica que permita resfriar no máximo em uma semana (é dizer em 50 a 60 h), tempo razoável para que o grão comece a ficar quente e esteja seco.


Acesse: www.graosbrasil.com.br O espalhador para evitar problemas causados pela segregação Falamos que 90 % dos aquecimentos que se dão em um depósito se gera debaixo do ponto de carga. É o fenômeno de segregação (uma das variáveis físicas do grão) o que produz uma separação natural dos componentes do grão quando se guarda no depósito, resultando que debaixo do ponto de carga (normalmente chamado coração) se acumulam os corpos estranhos, pesados e quebrados. Podemos ter 2 a 3 pontos de diferencia no PH entre a mercadoria que está sobre a parede e a que está mais ao centro. Por outro lado pela formação natural do cone, é um setor de maior dificuldade de aeração, tudo isto conspira contra a conservação. Muitas vezes os aquecimentos que se geram no coração são mais rápidos que nossa possibilidade de resfriar (aeração pobre) e devemos arejar 2, 3 ou 5000 toneladas em função de umas poucas que estão iniciando aquecimento, o que gera perdas tremendas. Em definitiva, se queremos amenizar e até mesmo eliminar este problema, recomenda-se para armazenagens de mais de um mês de uso, a necessidade de espalhadores na carga dos depósitos. Isto vale também para outras tecnologias como: exaustores – descargas por gravidade – bocas de amostragem – termometria, que junto com uma aeração bem dimensionada permite uma melhora notável na conservação. Para dar um exemplo: se paga R$ 1.000.000,00 em um silo de 5000ton, se no mesmo se incorporar uma tecnologia de ponta que elevaria o preço a R$ 1.020.000,00 se teria um silo muito melhor, com possibilidades de recuperar em 1% do volume armazenado. Se estimamos que ingressem umas 10.000ton por ano, de R$ 600,00/ton, 1% em uma safra seria R$ 600.000,00/ano. Com estes números que são conservadores a gente pode se perguntar, porque não fazer as coisas bem feitas desde o início? O valor da assistência técnica na pós-colheita Ao longo destes 35 anos trabalhando na especialidade tive a oportunidade de apoiar tecnicamente inúmeras empresas cerealistas, cooperativas, indústrias, exportadores, etc., adquirindo bastante experiência sobre a forma de trabalho dos grupos responsáveis do manejo de grãos. O nível de produção, a figura do assessor técnico é muito comum, mas em nossa especialidade é difícil encontrar profissionais que atendam os variados temas involucrados na pós-colheita, por esta ração é muito forte a ideia dos responsáveis que eles são os que mais sabem, pelo menos dentro de suas instalações; e talvez isto até possa ser verdade, o ruim é quando os responsáveis não se abrem e vem as novas possibilidades que permitem otimizar os processos. Porque não se deve esperar pra ter um problema para ver como se soluciona; isto é uma situação comum, tenho pragas e não posso controlar, chamamos alguém que nos ajude; tenho que comprar um secador, as instalações já são antigas e devo dar rendimento à secagem. ¡Vejamos quem pode nos ajudar! ¡Devemos ampliar o armazém, vejamos quais são as alternativas! Enfim, uma infinidade de temas. Mas não devemos esquecer que a pós-colheita é o elo mais da cadeia produtiva, onde o que se busca é criar utilidade (beneficio), em outras

palavras gerar uma ganancia genuína, que dê rentabilidade para a empresa. Neste sentido se deve estar aberto e ir em busca do que está disponível no mercado para dar mais rentabilidade. Muitas empresas ainda se satisfazem com o resultado de uma boa conservação, que as quebras técnicas cobrem as perdas reais e isto não é suficiente, hoje temos tecnologia que permite obter mais benefícios econômicos, dando mais segurança aos processos de acondicionamento e conservação. A assistência técnica permite levar aos armazéns a solução e as possíveis limitantes, com experiência já provada e permitir abrir o caminho para o aprimoramento permanente, na busca de um círculo virtuoso de manejo de grãos. É excelente o resultado quando o grupo de trabalho vê no assessor um colaborador externo que leva experiências válidas e não um fator de desagregação, controle ou desejo de imposição de práticas inviáveis. Claro que contando com a inteligência para a mudança dos responsáveis, tudo é mais fácil e quando um chefe de armazém fala não, é não, porque as vezes até inconscientemente ele se encarrega de que seja assim. É comum que por não sair de uma zona de conforto (toda mudança implica um esforço – por mais que seja para o bem) o encarregado se converte no Dr. NÃO. Quando esta situação se reverte e se ganha a confiança dos responsáveis do manejo de grãos, é quando a figura do assessor pode cumprir seu objetivo de mudança e não só de diagnóstico. Sempre se recomenda estar aberto ao que se tem de novo, de maneira a aproveitar o que pode ser útil; pensar que se chegou a um nível onde tudo está suficientemente bem e não é perfeito, é o aborto do progresso. O grande desafio que temos hoje no Brasil é passar de uma pós-colheita tradicional a uma aprimorada ou racional, onde se busque os resultados mais com eficiência ou baixo custo.

“Quando os ventos de mudança sopram, uns levantam barreiras, outras constroem moinhos”. Érico Veríssimo


¦Custos¦ Estimativa dos custos de recepção, secagem e limpeza

A estimativa de custos apresentada neste trabalho considera apenas os valores de custos de recepção, secagem e limpeza para 2015, não incluindo os custos armazenagem e conservação. De acordo com os levantamentos efetuados, o custo operacional estimado é de R$ 2,80/saca de 60 kg des soja, R$ 3,72/saca de 60kg de milho e R$ 2,91 de trigo. 1. Caracterização da unidade a) Unidade Padrão Modalidade: Capacidade Estática (t) Recebimento (t)

c) Ponderações

A poderação para cada produto é feita conforme a fórmula do exemplo para a soja: [40*35.000]/[40*35.000+60*40.000+40*6.000] = 0,347. Essa ponderação é necessária para a distribuição dos custos de acordo com a quantidade recebida e intensidade diferenciada de uso das estruturas pelos produtos. Utilizou-se essas ponderações para a distribuição de dos custos totais para culturas no caso de reparo e manutenção (tabela 10), depreciação de obras civis, máquinas e equipamentos (tabela 12), seguro para a unidade de armazenamento (tabela 14) e juros sobre capital (tabela 16) Tabela 3 – Teores de umidade referência para a soja, o milho e o trigo.

Silo 45.000 81.000

Tabela 1 – Recebimento de safra (toneladas)

b) Teor de umidade de recepção Tabela 2 – Teores de umidade referência para a soja, o milho e o trigo.

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2. Cálculo dos custos de recepção, secagem e limpeza Os itens componentes do custo operacional e total de recepção, secagem e limpeza de soja e milho foram subdivididos em custos variáveis e custos fixos, conforme pode ser verificado a seguir. 2.1.Custos 2.1.1. Mão-de-obra contratada Trata-se da equipe de funcionários contratados pela unidade para executar as atividades de recepção, secagem e limpeza de grãos. A apropiação dos custos para as safras de verão e safrinha/ inverno é feito de acordo com a produção recebida, ou seja a 1,8 da capacidade estática, resultado uma apropiação de 7,7 (meses) para verão e 4,3 (meses) para safrinha/inverno.


a) Mão-de-obra variável Tabela 4 – Custos variáveis para recepção secagem e limpeza de grãos

b) Mão-de-obra fixa Tabela 5 – Custos fixos na recepção secagem e limpeza de grãos

O custo mensal com mão de obra soma R$ 88.204,58, sendo que R$ 31.918,75 corresponde aos custos de mão-deobra variável e R$ 56.285,83 aos custos de mão-deobra fixa, perfazendo um custo anual de R$ 1.058.455,00. Ainda devemos considerar um percentual de 20% de horas extras, o que resulta em R$ 1.270.146,00. Esses custos devem ser apropriados para cada safra/produto, de acordo com o recebimento da unidade padrão da tabela 1. Assim temos: Tabela 6 – Custos de mão-de-obra variáveis, fixos e totais de soja, milho e trigo, em R$/ano e sacas.

d) Carga e descarga Considerou-se que a totalidade da produção da unidade foi recebida a granel, sendo que os serviços da carga e descarga dos produtos são realizados por tablea de preços dos sindicatos. Custo de carga e descarga (R$/t): 1,21 2.1.2 Energia a) Eletricidade Os levantamentos de campo indicam um consumo de energia elétrica na ordem de 5 kw/h para a secagem de uma tonelada de soja, de 6 kw/h para a secagem de uma tonelada de trigo e de 7,5 Kw/h para a secagem do milho. Inclui-se no custo da energia elétrica o preço do kw/h e o valor da demanda de potência. O valor da energia elétrica considerado foi de 0,60 R$/ kwh Os custos com energia devem ser também calculados conforme o recebimento de cada produto em cada safra, conforme distribuição da tabela 1: Tabela 7 – Apropriação dos custos de energia elétrica cultura e safra.

b) Lenha Para a secagem de 40 toneladas de produto, o consumo médio estimado de lenha é de 0,6 m3 para a soja, de 1,65 m3 para o milho e de 1 m3 para o trigo. O preço da lenha seca é de


¦Custos¦ R$100,00/t, correspondente aos seguintes custos por tonelada de produto seco. Tabela 8 – Custos com lenha para a secagem dos produtos.

2.1.3 Reparos e manutenção de bens e instalações Os custos com reparos e manutenção de bens e instalações correspondem às despesas necessárias para conservar as construções, benfeitorias, instalações e máquinas e equipamentos em condições de uso. Estão incluídas neste item, as despesas periódicas ou permantes de manutenção e reparos. Tendo em vista que estes custos não ocorrem de maneira univorme, ao londo de um determinado período de tempo, a sua estimativa torna-se difícil. Existem períodos em que os custos de manutenção são baixos, porém, em contrapartida, existem outros em que os mesmos se tornam significativos. O critério utilizado para estimar as despesas de reparos e manutenção foi a adoção de um percentual do valor do bem novo. As alíquotas adotadas baseiam-se em dados levantados nas unidades de recebimento de cereais, sendo maiores para máquinas e equipamentos, conforme pode ser observado nas fórmulas abaixo: Para construções civis os custos com reparos e manuteção (RMC) são representados pela fórmula: RMC = Vi x l Onde: RMC = valor inicial ou valor novo l = taxa anual de reparos e manutenção Tabela 9 – Custos totais de reparos e manutenção

Os custos totais de reparos e manutenção perfazem R$ 656.558,46, com uma distribuição de R$ 227.520,26 para o caso da Soja, de R$ 390.034,73, no caso do Milho e R$ 39.003,47, no caso do Trigo, de acordo com as ponderações da tabela 3. c) Custos dereparos e manutenção por produto As operações apresentados acima permitem o cálculo da manutenção em termos de custos por tonelada e por saca de produto, conforme Tabela 10.

dos anos, devido às inovações tecnológicas (depreciação econômica ou obsoletivsmo). Para efeito de cálculo dos custos de depreciação, utilizou-se o método linear, representado pela fórmula: D = (Vi - Vs)/Vu Onde: D = depreciação anual Vi = Valor inicial Vs = valor sucata Vu = vida útil em anos Consideram-se como construções civis utilizadas no processo de recepção, secagem e limpeza, as seguintes:Escritório, controle de balança, guarita, moega, casa de máquinas, base da balança, balança rodoviária e fornalhas. No item que se refere às máquinas e equipamentos foram considerados: - secadores equipados com elevadores de carga e descarga, máquinas de pré-limpeza. Tabela 11 – Depreciação total de obras civis, máquinas e equipamentos

Tabela 10 – Custos de reparo e manutenção por produto

2.1.4 Gastos Gerais Correspondem às despesas com água, telefone, fotocópias, material de expediente, viagens, treinamento, uniformes, despesas com veículos, materiais de limpeza, copa e cozinha, as quais, de acordo com os levantamentos resultam em R$ 1,73/t. Depreciação: Define-se o custo fixo de depreciação como o custo para substituir os bens de capital pelo desgaste físico (depreciação física), ou quando perdem o valor com o decorrer 16 | Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

Os custos de depreciação total de obras civis, máquinas e equipamentos perfazem R$ 1.179.125,40, com uma distribuição de R$ 408.607,81 para o caso da Soja, de R$ 700.470,53, no caso do Milho e R$ 70.047,05, no caso do Trigo, de acordo com as ponderações da tabela 3. A tabela 11 apresenta os valores equivalentes por tonelada e por saca de produto. Tabela 12 – Depreciação por tonelada e por saca de soja, milho e trigo.


Acesse: www.graosbrasil.com.br 2.1.5 Seguro Esse custo correponde ao valor pago para cobrir as instalações contra sinistros, ou para compensar a taxa de risco a que estão sujeitos os bens e instalações. Estes custos são calculados de acordo com a fórmula: S = (Vm * R) Onde: S = Seguro anual Vm = valor médio = (Vi + Vs)/2 Vi = valor inicial Vs = valor sucata R = Prêmio de seguro Dessa forma, o valor total do seguro resultante para a unidade em questão é: Tabela 13 – Seguro para a unidade de armazenamento

Os custos de seguro para a unidade de armazenamento perfazem R$ 123.808,17, com uma distribuição de R$ 42.903,82 para o caso da Soja, de R$ 73.549,41, no caso do Milho e R$ 7.354,94, no caso do Trigo, de acordo com as ponderações da tabela 3. A tabela 13 apresenta os valores equivalentes por tonelada e por saca de produto.

Tabela 14 – Custos com seguro para os produtos (Soja, milho e trigo)

2.1.5 Juro sobre capital Os juros sobre o capital fixo representam a remuneração pelo uso alternativo dos recursos (custo de oportunidade.) A utilidade deste conceito para esitimativa de custo verificase quando da necessidade de se atribuir remuneração aos recursos que não são pagos diretamente pelo mercado. Reconhecendo que este item faz parte dos custos totais de recepção, secagem e limpeza de cereais foi considerada a taxa anual de 3% sobre o valor médio do capital fixo utilizado para recebimento do produto (calculado sobre construções civis e máquinas e equipamentos). J = (Vm * R) Onde: J = juros sobre o capital fixo Vm = valor médio = (Vi + Vs/2) Vi = valor inicial Vs = valor sucata (10% do Vi) R = taxa de juros anual. Dessa forma, juro total sobre capital fixo é apresentado na Tabela 15.


¦Custos¦ Tabela 15 – Juro sobre capital

Tabela 17 – Estimativa de custos de recepção, secagem e limpeza para o milho e trigo para a safra 2015

Os juros sobre capital perfazem R$ 675.317,27, com uma distribuição de R$ 234.020,84 para o caso da Soja, de R$ 401.178,58, no caso do Milho e R$ 40.117,86, no caso do Trigo, de acordo com as ponderações da tabela 3. A tabela 15 apresenta os valores equivalentes por tonelada e por saca de produto. Tabela 16 – Apropriação dos juros sobre capital fixo para os produtos (soja, milho e trigo)

2.1.7. Administração central As unidades de recebimento de grãos estão submetidas a uma administração central, normalmente na sede das cooperativas. Os custos com a administração são rateados para os diferentes setores a partir de uma alíquota de 10% sobre os custos totais estimados para cada atividade. 3. Resumo A tabela 17 abaixo resume os custos de recepção, secagem e limpeza, subdividido em custos operacionais e totais, para a soja, milho e o trigo.

*Nota: Custo operacional = A+B+C+D+E+F+H+I+J+10% administração central

Para mais informações consulte a Revista Grãos Brasil ou a Ocepar.





¦Tecnologia¦ DDGS - Utilização em alimentos, qualidade e segurança Por: Msc. Juliana R. da Silva e Dra. Vildes M. Scussel (PhD)| UFSC

Os GRÃOS SECOS DE DESTILARIA COM SOLÚVEIS (DDGS) são coprodutos da indústria de etanol que utiliza MILHO como matéria-prima. Devido à sua composição nutricional com alto teor de proteínas e fibras, aliado a baixo custo, o DDGS tem sido utilizado na produção de ração animal, embora ainda pouco conhecido no Brasil para essa aplicação, bem como em alimentos para humanos. Com o aumento do uso de DDGS à nivel internacional, especialmente sua inclusão na alimentação tem havido uma preocupação com sua segurança quanto à matéria prima (milho) utilizada, bem como do produto acabado - proliferação de microrganismos, formação de micotoxinas além de outros tipos de contaminantes. ETANOL E RESIDUOS DE PRODUÇÃO A produção de etanol se dá a partir da fermentação de AMIDO OU AÇÚCARES de diversas matérias primas (amiláceas e açucareiras) sendo que os mais ricos em amido ou açúcar apresentam maior rendimento em etanol (LEITE; LEAL, 2007). Nos Estados Unidos, atual maior produtor, o MILHO é a principal matéria prima utilizada. No Canadá e na Europa, são utilizados TRIGO e CEVADA. Já, no Brasil, segundo maior produtor mundial de etanol, o principal substrato da produção é a cana-de-açúcar (RIBEIRO et al., 2010). Contudo em períodos de baixa safra, que compreende o período de dezembro a março, o milho tem sido utilizado como fonte de carboidratos no país (SNA, 2014). 22 | Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

Figura I. Diferentes rotas tecnológicas para a produção do etanol (BNDES e CGEE, 2008 modificado por SILVA & SCUSSEL, 2015).


Acesse: www.graosbrasil.com.br Tabela I. Fontes de carboidratos para produção de etanol em diferentes países.

a

entresafra; bhidrocarbonetos policíclicos aromáticos (SILVA et al, 2015)

CANA-DE-AÇÚCAR VERSUS MILHO: a produtividade do etanol no Brasil proveniente de cana-de-açúcar ganha destaque quando se compara a quantidade desse biocombustível obtida por unidade de área, pois possui resultados bastante superiores às demais culturas utilizadas como substrato (LEITE; CORTEZ, 2004). De acordo com a Sociedade Nacional de Agricultura (2014) no ano passado foram produzidos no Brasil 11 milhões de litros de etanol provenientes de 29.000 toneladas de milho, em duas usinas localizadas no Mato Grosso. A vantagem da utilização desse grão em relação à cana-de-açúcar é: (a) facilidade na armazenagem do grão (no período de entressafra da cana), (b) o excesso de produção de milho nessa região e (c) seu baixo custo. O etanol produzido a base de milho resulta em coprodutos FLUIDOS (componentes aquosos e óleo) e SÓLIDOS (DDGS), correspondendo 30% do grão empregado (SPIEHS et al., 2002; FIALHO et al.,2009).

DDGS O coproduto sólido da indústria do etanol por milho, DDGS, tem sido utilizado como ingrediente na ração animal (suínos, frangos, bovinos, cães e eqüinos) pelo seu alto valor de proteína, fibra e energia, conferindo um alto valor agregado neste processo (CORBIN et al., 1985; BRITO, 2008). O emprego do milho como matéria-prima para a produção de etanol apresenta rendimento industrial de 460 L de etanol anidro e 380 Kg de DDGS por cada tonelada de grão seco inserido no sistema (WYMAN, 1996).


¦Tecnologia¦ Tabela 2. Composição nutricional do coproduto sólido do etanol - grãos secos de destilaria com solúveis.

a grãos secos de destilaria com solúveis bdesvio padrão relativo (adaptado de Sphies et al., 2002; Salim et al., 2010)

Figura 3. Grãos secos de destilaria com solúveis: (a) característica do produto; (b) variação de cor entre amostras correspondente a diferentes concentração dos aminoácidos (Shurson, 2008; Sinoma, 2012).

Alimentação animal Em virtude de sua composição nutricional e baixo custo, o DDGS passou a ser de grande importância na inclusão em dietas para diversas espécies animais em substituição parcial ao milho e soja nos Estados Unidos (LUMPKINS et al., 2005; USGC, 2012). Contudo, ainda pouco conhecido e utilizado no Brasil. Figura 2. Processamento do etanol de milho e seus coprodutos – moagem seca (SILVA, 2015; SILVA et al, 2015).

Composição nutricional Proteínas e fibras - o DDGS tem como característica, alto teor de proteína bruta (30,9%) e fibra bruta (7,2%), sendo a maior parte insolúvel. No entanto, essa composição pode variar (Tabela III), já que depende da qualidade do milho utilizado na produção de etanol e as condições do processamento, como as diferenças no tempo e temperatura de secagem (CROMWELL et al., 1993; BRITO et al, 2008). Quanto às fibras, o DDGS possui teor mais elevado de fibra em detergente neutro do que em detergente ácido. Portanto, se caracteriza como coproduto de alta concentração de hemicelulose (SILVA, 2015). Aminoácidos - alguns trabalhos relatam existir correlação entre a intensidade de cor do DDGS e a composição de aminoácidos, onde as amostras mais claras apresentam maior conteúdo de aminoácidos que as amostras mais escuras. Isso porque os DDGS durante o processo de secagem podem passar por aquecimento excessivo levando a perdas do conteúdo de aminoácidos (Figura III) (URRIOLA et al., 2009). Minerais - segundo Ribeiro (2010) um aspecto importante na avaliação nutricional desse coproduto é sua composição de macro e micro minerais, como o fósforo. O DDGS corresponde aproximadamente a 1/3 do valor total do milho utilizado na produção do etanol, já que os outros 2/3 são transformados em álcool e dióxido de carbono, portanto as concentrações de minerais devem ser aproximadamente elevadas (três vezes àquelas do milho) o que pode tornar-se uma limitação no seu uso na alimentação animal (SHURSON, 2008; SALIM et al., 2010). 24 | Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

Alimentação humana Há poucos trabalhos utilizando o DDGS na alimentação humana. No entanto, o DDGS tem potencial único para usos alimentares comerciais, particularmente em produtos de panificação (BOOKWALTER et al., 1984). Esse coproduto tem componentes que o tornam potencialmente valioso como ingrediente para alimentos humanos, pois contém ácidos graxos poliinsaturados, além de antioxidantes, ácidos fenólicos e fibra dietética (GALLAHER, 2013). Há uma questão importante relacionada à incorporação do DDGS em produtos alimentares para humanos que é sua segurança. Esse coproduto do etanol possui um potencial maior de exposição a contaminantes por concentrar os provenientes da matéria-prima ou serem formados no produto final, sendo um grupo deles as micotoxinas (MURPHY et al., 2006). Sua formação pode ocorrer devido à contaminação fúngica durante o armazenamento dos grãos e do próprio coproduto (KAHTIBI et al., 2014).


Acesse: www.graosbrasil.com.br DDGS E A SEGURANÇA ALIMENTAR A segurança alimentar tem um impacto significativo no nosso sistema global de alimentos. A contaminação afeta toda a cadeia alimentar e custam milhões em receitas perdidas e aumenta os custos. Ainda que o risco de contaminantes no DDGS possa ser baixo, os Estados Unidos aprovaram recentemente os regulamentos mais rigorosos de segurança alimentar, incluindo a produção de DDGS, a fim de minimizar ainda mais os riscos para consumidores. O monitoramento exigido nas usinas de etanol inclui o teste de entrada de grãos para DDGS, como micotoxinas e contaminação microbiana (USGC, 2012). Tipos de Contaminantes Dentre os contaminantes que podem estar presentes no DDGS, estão aqueles que se desenvolvem/formam durante o cultivo da matéria-prima da indústria (milho/trigo/cevada; cana-de-açúcar/beterraba) do etanol, as quais podem permanecer (resistentes a temperatura) ou se concentrar no produto final sólido. Assim como serem formados durante a secagem e/ou armazenamento deficientes. São eles, de campo [matéria-prima]: fungos, agrotóxicos, HPAs e micotoxinas, durante a produção: antibióticos e/ou pós-produção [DDGS]: fungos, bactérias, toxinas, HPAs (BISCHOFF et al., 2009; ZANGH et al., 2009; KAHTIBI et al., 2014).

Msc. Juliana R. da Silva

(a) MICROBIOLÓGICO: (a.1) fungos toxigênicos - como todos os ingredientes de alimentos, os grãos de destilaria, assim como o milho usado no processamento, podem conter, por vezes, quantidades de fungos toxigênicos que podem


¦Tecnologia¦ quantidades muito pequenas em relação às taxas de utilização em alimentos para animais (USGC, 2012). Existem duas principais preocupações com o uso de antibióticos na produção de etanol. O primeiro é o potencial para que as bactérias desenvolvam resistência, tornando ineficazes os antibióticos para controlar as infecções (MUTHAIYAN & RICKE, 2010). Em segundo lugar, há uma preocupação sobre o resíduo de antibiótico no DDGS, que é largamente utilizado na alimentação animal, e consequentemente, o resíduo nos tecidos animais para consumo humano (BENZ, 2007). Paulus-Compart (2012) concluiu recentemente um estudo para determinar a presença de resíduos de antibióticos em DDGS.

afetar negativamente o desempenho dos animais (WHITNEY & SHURSON, 2004). Esses fungos são produtores de micotoxinas, que provocam grandes perdas econômicas em toda a cadeia produtiva agrícola, e à saúde humana e animal. As principais micotoxinas produzidas por gêneros Fusarium, Aspergillus e Penicillium são relatadas em milho são as fumonisinas (FBs), zearalenona (ZON), deoxinivalenol (DON), ocratoxina A (OTA), toxina T-2 e as aflatoxinas (AFLs) (SCUSSEL, 1998, 2002; QUEIROZ et al., 2009). Já no DDGS as principais micotoxinas relatadas são a DON e FBs (ZANGH et al., 2009; KHATIBI et al., 2014). (a.2) bactérias - outro grupo de contaminantes microbiológicos que podem estar presente no DDGS são as bactérias. A contaminação ocorre durante a fermentação, Lactobacillus, Pediococcus e Leuconostoc, produtoras de ácido lático, são as mais comuns (BISCHOFF et al, 2009; MUTHAIYAN & RICKE, 2010). Essas bactérias são de grande preocupação porque competem com a levedura, que produz amido, por crescimento (SKINNER & LEATHERS, 2004). Bactérias produtoras de ácido lático são problemáticas porque podem suportar temperaturas elevadas e pH baixo, condições encontradas no processo de produção de etanol. Além disso, essas bactérias crescem rapidamente e atingem um elevado número de células viáveis antes da conclusão da fermentação de levedura (LEJA & BRODA, 2009). A contaminação bacteriana reduz o rendimento de etanol até 5% e resulta na produção de DDGS com qualidade inferior (NARENDRANATH et al., 1997). As bactérias também deterioram o DDGS e levam a alteração no flavour e possível rejeição pelos animais (SALIM et al., 2010; USGC, 2012). (b) QUÍMICO: (b.1) antibióticos - esses compostos têm sido utilizados para controlar a proliferação bacteriana durante a fermentação da produção de etanol por muitos anos (JURANEK & DUQUETTE, 2007). Os mais utilizados são as virginiamicina, tetraciclina, eritromicina e penicilina. Quando os antibióticos são usados, eles são adicionados na fermentação em 26 | Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

Micotoxinas As micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por uma variedade de fungos. São compostos orgânicos, biologicamente ativos, que podem causar ampla variedade de efeitos tóxicos em animais e humanos (COULOMBE, 1993). São consideradas mais prevalentes no Brasil as FBs (Fusarium), ZON (Fusarium), DON (Fusarium) OTA (Penicillium e Aspergillus) AFLs (Aspergillus), e (SCUSSEL, 1998, 2002). O efeito tóxico causado pelas micotoxinas em animais e humanos varia de acordo com a micotoxina em questão, podendo ser agudo ou crônico (HUSSEIN & BRASEL, 2001). As micotoxinas podem estar presentes no DDGS se o grão de milho para produção de etanol estiver contaminado com esses metabólitos ou durante seu período de armazenagem. As micotoxinas não são destruídas durante o processo de produção de etanol, nem são destruídas durante o processo de secagem para produzir o DDGS (USGC, 2012; KHATIBI et al., 2014). Trabalhos realizados relataram que as micotoxinas podem concentrar-se três vezes no DDGS em relação ao grão (SCHAAFSMA et al., 2009; SHURSON et al., 2009) . O DDGS contaminado com uma única micotoxina, ou seu grupo, por exemplo, a FBs, pode contribuir para perdas na produção de suínos em US $ 147 milhões por ano, com perdas totais que possam ser significativamente maiores quando a contaminação é por várias micotoxinas afetando mais de um animal (WU; MUNKVOLD, 2008).


Acesse: www.graosbrasil.com.br Controle, prevenção e descontaminação O esforço para encontrar meios de prevenir ou controlar o crescimento de fungos e a produção e micotoxinas seja no milho como no DDGS, tem recebido cada vez mais atenção. Medidas de controle também precisam ser adotadas para evitar a contaminação por fungos e micotoxinas nos grãos e DDGS armazenados tais como: secagem eficiente, manutenção do controle de umidade e temperatura durante a armazenagem e monitoramento de fungos e micotoxinas durante todo o período. Além disso, certificar que condições adequadas no período de colheita sejam aplicadas como: evitar danos mecânicos aos grãos e realizar a colheita no ponto de maturação dos grãos, também são fatores importantes para evitar o crescimento de fungos (SCUSSEL, 1998; TIBOLA et al., 2009). A utilização de antibióticos para reduzir as bactérias presentes no processamento do etanol também é regulada pelo FDA, assim como, a análise de micotoxina no milho usado para a produção desse biocombustível (USGC, 2012). No Brasil, devido ainda ao pouco conhecimento e produção de DDGS, não foram regulamentados os limites para contaminantes nesse coproduto, apenas para o milho. Além desses fatores, há a preocupação com a secagem correta do DDGS após o processamento do etanol e sua armazenagem (ZANGH et al., 2009) a qual, juntamente com a contaminação ambiental do milho pode viabilizar a formação de HPAs (GARCIA et al, 2013).

CONCLUSÃO O DDGS tem sido reportado ser um bom ingrediente devido a suas inúmeras vantagens quanto à composição nutricional em aplicações para alimentação animal e humana (embora, ainda pouco estudada). Apesar de pouco conhecido e produzido no Brasil, o DDGS pode ser uma boa alternativa para redução nos custos da dieta animal, além de diminuir o impacto ambiental desse coproduto do etanol. No entanto, deve-se ter uma preocupação quanto à qualidade na questão nutricional, que sofre grande variação, assim como na segurança (em relação aos contaminantes microbiológicos e químicos) desse produto antes de produção em larga escala e/ou o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabelecer padrões para a comercialização, bem como LMT para possíveis contaminantes.


¦Feijão¦ “Hard To Cook em feijão”: O que é e como prevenir? Por: Eng. Cristiano Dietrich Ferreira |UFPel | cristiano.d.f@hotmail.com Valmor Ziegler |Ufpel | Tecnólogo em Alimentos Marcelo Ricardo Cappellari |UFPel Prof. Dr. Moacir Cardoso Elias |UFPel Prof. Dr. Maurício de Oliveira |UFPel

Os primeiros relatos a respeito da cultura do feijão, do gênero Phaseolus sp (ex. carioca e preto), surgiram a cerca de 7000 anos atrás, originando-se de dois centros de origem, localizados no México e na região dos Andes da América do Sul, sendo que os principais locais de consumo de feijão ainda estão muito associados a estes centros de origens. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), no último levantamento realizado em 2011, foi verificado que dentre os maiores consumidores de grãos de feijão estão, a América do Sul (25,52 gramas/hab/dia), América Central (24,05 gramas/hab/dia) e África (9,44gramas/hab/dia), sendo que no continente Africano predomina o consumo de feijão do gênero Vigna sp (ex. caupi), podendo ser verificado como semelhança entre estes locais as altas temperaturas (Figura 1). O feijão é uma cultura adaptada ao clima quente, ou seja, é produzido em regiões que apresentam temperaturas médias elevadas durante a estação de cultivo, sendo que na maioria destes locais, essas temperaturas se prolongam durante o período de armazenamento e em muitos casos dificultam a manutenção da qualidade dos grãos. Porém deve ser deixado claro que a manutenção da qualidade nutricional, tecnológica 28 | Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

Figura 1. Distribuição das temperaturas médias anuais no mundo.

e de cocção não pode ser melhorada com o armazenamento, portanto somente é possível que se mantenha semelhante ou com mínimas perdas em relação à qualidade inicial do produto que chega à unidade armazenadora. Dentre as deteriorações ocorridas em grãos de feijão são observados duas


GRテグS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 29


¦Feijão¦ alterações principais, o escurecimento e o endurecimento. O escurecimento está mais associado a cultivares de feijão de tegumento mais claro (ex. carioca, caupi e fradinho) fazendo com que estes grãos passem a ter valor de mercado reduzido. Já o endurecimento é um fenômeno típico de leguminosas (ex. feijões em geral, ervilha, lentilha, soja, etc) independente da coloração destes grãos, sendo oriundo, principalmente de reações de complexação entre diversos componentes químicos presentes nos grãos, consequentemente elevando o tempo de cocção e reduzindo o valor nutricional dos grãos.

30 | Revista Grãos Brasil | Setembro / Outubro 2015

O fenômeno de endurecimento é muito comum em grãos de feijão, sendo atribuídos a estes a denominação de grãos “HTS ou HTC”. O HTS do inglês, hard to shell, que significa tegumento duro, ocasionado pela impermeabilização do tegumento. Enquanto o HTC do inglês, hard to cook, significa difícil de cozinhar, ocasionado pela dificuldade de hidratação dos cotilédones, sendo este, reconhecido como o principal fenômeno responsável pelo endurecimento de leguminosas como o feijão. Grãos de feijão com HTC apresentam elevados tempos de cocção, o que ocasiona aumento no gasto energético para cocção, mas, além disso, a redução do valor nutricional e da digestibilidade dos componentes é um fator a ser considerado. Também são verificados prejuízos nas características sensoriais dos grãos de feijão, pois os consumidores preferem feijões que após o processo de cocção apresentem maciez dos cotilédones, caldo grosso e com coloração característica, características estas perdidas em grãos HTC, que por consequência reduzem o valor econômico do feijão. O endurecimento é uma associação de diversos fatores como, complexação da pectina com Ca+2 e Mg+2 ou ácidos fenólicos, lignificação da lamela média, formação de fitatos (com Ca+2, Zn+2 e Mg+2 ou proteínas), formação do complexo proteína/polifenol mas principalmente alterações ocorridas na conformação das proteínas, ocasionando de maneira geral, a redução da solubilidade proteica e a disponibilidade de aminoácidos, os quais são imprescindíveis a nutrição humana. A temperatura elevada da massa de grãos (acima de


Acesse: www.graosbrasil.com.br 25°C), associada a umidades de grãos elevadas (acima de 16%), são os principais fatores que afetam a qualidade dos grãos e são primordiais para serem controlados durante o período de armazenamento. A associação desses fatores favorece o desenvolvimento de pragas, fungos, reações químicas e metabólicas. Embora os grãos sejam armazenados em condições de temperaturas mais baixas (16 a 20°C), eles podem sofrer aquecimento de forma natural ao longo do tempo, ou seja, como os grãos são organismos vivos, durante o armazenamento consomem as reservas energéticas através dos processos metabólicos, produzindo CO2, calor e água. Além disso, a presença de microrganismos (fungos e bactérias) e insetos também contribui para a elevação da temperatura da massa de grãos durante o armazenamento, com isso, as reações de degradação são favorecidas (Figura 2). Em grãos de feijão, as reações de oxidativas químicas e enzimáticas são as que mais causam prejuízos durante o armazenamento, pois são responsáveis por alterações na coloração e dureza de grãos de feijão. Figura 2. Dinâmica das reações durante o armazenamento.

A redução da disponibilidade de aminoácidos pode ser destacada como uma das principais consequências do armazenamento inadequado, ocasionando o HTC. Segundo WHO (Organização Mundial da Saúde), a exigência de consumo de proteínas para adultos é de 0,66g/Kg de peso vivo ao dia, sendo que a exigência de aminoácidos essenciais lisina e metionina, respectivamente são de 30 e 10 mg/kg de peso vivo ao dia. Dessa forma, o consumo regular de feijão e arroz nas proporções de 3:1, suprem a necessidade de uma pessoa com aproximadamente 70 kg corporais, desde que consuma 46,2g de proteína (sabendo que feijão e arroz fornecem, respectivamente 100 e 30 mg/g de proteína, respectivamente para os aminoácidos lisina e metionina). O feijão e arroz são consumidos juntamente devido a fatores sociais e culturais, mas principalmente devido ao seu elevado valor nutricional, pois como relatado anteriormente, o feijão é uma excelente fonte de proteínas, sendo rico em lisina, enquanto o arroz é rico em metionina, o que torna essa “dobradinha” extremamente valiosa, pois ocorre uma complementação em aminoácidos essenciais.

O regulamento técnico do feijão contido na INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 12, DE 28 DE MARÇO DE 2008, Art. 10., diz que o percentual de umidade tecnicamente recomendável para fins de comercialização do feijão será de até 14,00% (quatorze por cento). Parágrafo único. O feijão com umidade superior a 14,00% (quatorze por cento) poderá ser comercializado, desde que não esteja ocasionando fatores de risco à saúde humana. Como verificado na IN MAPA N°12/2008 é recomendável que os grãos de feijão sejam armazenados em 14% de umidade, porém como não há um limite máximo de umidade exigido no momento da comercialização, podem ser facilmente observados valores de umidade de 16 a 17% no produto embalado encontrado no mercado. Muitas vezes estes grãos armazenados em umidades elevadas não apresentam fatores de risco a saúde humana, porém apresentam alterações que embora não sejam verificadas visualmente, podem prejudicar o aproveitamento total dos nutrientes. Estudos vêm sendo realizados no Laboratório de PósColheita, Industrialização e Qualidade de Grãos (LABGRÂOS), do Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial (DCTA), da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM), da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), visando entender as relações entre a temperatura e a umidade de armazenamento, com o desenvolvimento do fenômeno de HTC e HTS em grãos de feijão. Em estudos realizados no período de 2013/2014 foram armazenados grãos de feijão preto nas umidades de 14 e 17% e nas temperaturas de 11, 18, 25 e 32°C, onde foi possível observar comportamentos diferentes em função destes dois parâmetros (Figura 3).

Figura 3. Tempo de cocção de grãos de feijão preto em função da temperatura (11,18, 25 e 32°C) e umidade (14 e 17%) armazenados durante 12 meses. GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 31


¦Feijão¦

Neste experimento foram considerados HTC os grãos que apresentaram tempos de cocção superiores a 200 minutos, determinados em cozedor de MATTSON). Temperaturas baixas (11°C) são eficientes na prevenção do fenômeno de HTC mesmo quando armazenados na umidade de 17%. Na prática, temperaturas de 11°C não são muito fáceis de serem conseguidas em grandes quantidades de grãos, pois necessitam de um maior tempo de aplicação de ar frio para redução da temperatura da massa de grãos, aumentando o gasto energético e consequentemente o custo de manutenção do sistema. Comercialmente a utilização de resfriamento é realizada até que a temperatura da massa de grãos atinja aproximadamente 15°C, porém não devendo ultrapassar os 18°C. Embora essa faixa de temperatura (15-18°C) promova a redução da taxa de respiração dos grãos, redução das reações enzimáticas, oxidativas e hidrolíticas, redução da taxa de multiplicação de insetos e fungos, somente ela não garante o armazenamento seguro, devendo ser associado estas temperaturas com umidades mais baixas e/ou atmosfera modificada. Conforme podemos observar na Figura 3, a umidade tem papel importante na prevenção do HTC. Quando os grãos foram armazenados com 14% de umidade não se observou o desenvolvimento de HTC, porém quando a umidade foi elevada para 17% esse defeito já pode ser observado aos 4 meses na temperatura de

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32°C. A condição de temperatura mais comumente encontrada durante o armazenamento de grãos em silos e armazéns é a de 25°C, porém deve-se notar que a redução da temperatura para 18°C não é suficiente para que seja reduzido o HTC em grãos de feijão, pois observando os resultados contidos na figura 3, podemos constatar um comportamento muito semelhante no tempo de cocção entre essas duas temperaturas (18 e 25°C), sendo que ao final dos 12 meses de armazenamento foram verificados HTC em ambas temperaturas. Conforme relatado neste texto, os grãos de feijão apresentam suscetibilidade ao endurecimento quando armazenados em condições inadequadas, portanto algumas medidas devem ser adotadas para prevenir ou minimizar o aparecimento do “Hard to cook”. Como alternativas simples, porém eficientes temos a redução da umidade e temperatura da massa de grãos. Nestas condições ocorre principalmente a redução na velocidade de reações enzimáticas, permitindo que sejam armazenados grãos de feijão por um longo período, com manutenção da qualidade tecnológica, nutricional e sensorial dos grãos de feijão. Os autores agradecem a CAPES, CNPQ, FAPERGS e POLO DE ALIMENTOS


¦ Mercado¦ Viver Um Dia De Cada Vez, O Melhor Caminho Por: Oswaldo J. Pedreiro |NOVO HORIZONTE - ASSESSORIA E CONSULTORIA | contato@nhassessoria.com.br

“Confessar, sem medo de mentir, e encontrar inspiração para escrever”... Talvez seja essa a melhor frase para começar nosso comentário periódico sobre o mercado agrícola internacional, ao final de mais um ano de atividades e de muitos sobressaltos devido às crises que se espalharam no Brasil e no mundo, algumas políticas e econômicas, outras com violências inexplicáveis provocadas por extremistas sem coração e sem temor a Deus, talvez até por interpretação equivocada da vontade do Supremo Criador de todas as coisas.

Mas o nosso negócio é comentar o mercado de commodities agrícolas, então vamos em frente. A gente nem bem assimila um relatório, já vem outro e contradiz – ou às vezes só confirma o que se esperava – tudo aquilo que estávamos começando a remoer por dentro e por fora. O mercado em si já é complicado, e quando outros fatores interferem no seu comportamento, tudo o que você havia projetado tem que ser revisado para não ficar demais no vermelho. E mais uma vez está provado que quanto mais nos achamos

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¦Mercado¦ outubro, o número estimado era de 320,49 milhões de toneladas. Em contrapartida, os estoques registraram uma queda mais expressiva e recuaram de 85,14 milhões para 82,86 milhões de toneladas. A produção brasileira foi mantida em 100 milhões de toneladas. O departamento reduziu ligeiramente os números dos estoques finais brasileiros, que passaram de 19,74 milhões para 18,59 milhões de toneladas. Em contrapartida, as exportações apresentaram leve aumento de 56,45 milhões para 57 milhões de toneladas.

capazes, vem um novo relatório e nos desmente sem deixar espaço pra desculpas!... Paralelamente ao relatório mensal do USDA, a nossa CONAB anuncia na mesma data do instituto norte americano, o que se deve esperar em termos de produção aqui na pátria amada, idolatrada, salve, salve!... RELATÓRIO DO USDA – NOVEMBRO/2015 No dia 10 de Novembro o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reportou seu novo boletim de oferta e demanda do mês de novembro.

Milho EUA No caso do milho, o USDA aumentou a projeção para a safra americana 2015/16 para 346,82 milhões de toneladas. Em seu último relatório, o número ficou em 344,31 milhões de toneladas. Os investidores acreditavam em número ao redor de 344,54 milhões de toneladas. Os estoques finais americanos também subiram e passaram de 39,66 milhões para 44,70 milhões de toneladas. As expectativas do mercado estavam em 40,57 milhões de toneladas para os estoques. O rendimento médio das lavouras americanas também subiu de 177,8 sacas por hectare para 179,17 sacas por hectare. A projeção das consultorias estava em 178,02 sacas por hectare. Milho Mundo A produção mundial de milho para essa temporada foi estimada em 974,87 milhões de toneladas, frente as 972,6 milhões de toneladas indicadas no mês anterior. Os estoques também apresentaram um aumento expressivo e subiram de 187,83 milhões para 211,91 milhões de toneladas. Para o Brasil, o departamento também revisou para cima a produção desta temporada de 80 milhões para 81,50 milhões

Soja EUA A safra 2015/16 foi estimada em 108,35 milhões de toneladas, frente as 105,81 milhões de toneladas projetadas no mês de outubro. As expectativas dos participantes do mercado estavam, em média, entre 106,52 a 107 milhões de toneladas. O órgão também revisou para cima a projeção para os estoques finais que subiram de 11,56 milhões a 12,65 milhões de toneladas. Em relação à produtividade média das lavouras americanas, o departamento também elevou a estimativa para 54,77 sacas por hectare. No boletim anterior, o rendimento médio estava previsto em 53,52 sacas por hectare. Já as apostas dos participantes do mercado estavam próximas de 53,87 sacas por hectare. Soja Mundo No cenário global, a produção da oleaginosa foi projetada em 321,02 milhões de toneladas para a safra 2015/16. Em 34| Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

Oswaldo J. Pedreiro | Novo Horizonte - Assessoria e Consultoria


Acesse: www.graosbrasil.com.br


¦Mercado¦ de toneladas. Na contramão desse quadro, os estoques finais do cereal brasileiro caíram de 15,17 milhões para 9,67 milhões de toneladas. As exportações foram mantidas em 25 milhões de toneladas. Na Argentina, os produtores deverão colher cerca de 25,60 milhões de toneladas, contra as 24 milhões de toneladas reportadas em outubro. As exportações aumentaram de 14,5 milhões para 16 milhões de toneladas. No dia 10 de Novembro foram divulgados os números estimados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para a nova safra brasileira de grãos: • Soja (15/16) = 102,8 milhões de tons - ante 96,2 (14/15) e projeção USDA de 100,0 milhões de tons • Milho (15/16) = 82,7 milhões de tons - ante 84,67 (14/15) e projeção USDA de 81,5 milhões de tons • Área: milho 2 safra redução de 9,3% , enquanto área de soja aumenta em 2,1%

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Fonte: Conab Ao final de tudo isso, só nos resta desejar a todos um FELIZ NATAL, e que o NOVO ANO que se inicia traga bons frutos para todos, com MUITA PAZ, MUITO AMOR NO CORAÇÃO, E QUE DEUS ABENÇOE A TODOS INDISTINTAMENTE. FELIZ 2016!...



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¦Utilíssimas ¦ Revista Granos & Postcosecha Latino Americana Nossa prima irmã em língua espanhola segue crescendo em distribuição em todo o continente latino-americano. A unidade de idioma assim como os meios de comunicação permite uma rápida chegada da Revista Granos em forma digital a vários países produtores da região. A Granos esta coordenando as jornadas de atualização em Paraguai, Bolívia, Uruguai e Argentina e esperamos que em 2016 possamos alcançar maior presença em Colômbia, México e outros Latino americanos.

A cada 2 anos a indústria avícola e suína escolhem um lugar para fazer negócios. Avícola em conjunto com Suínos é há 10 edições o ponto de encontro que a indústria escolhe para vender, mostrar, reencontrar-se com os seus pares, conhecer aqueles que irão tomar decisões de compra e projetar-se no mundo. Com mais de 6.700 profissionais da Argentina e do resto do mundo, mais de 200 empresas escolheram Avícola em conjunto com Suínos para fazer negócios. Paralelamente à exposição, foi colocado em andamento o 11º Seminário Internacional de Ciências Avícolas sob responsabilidade da CAPIA – Câmara Argentina de Produtores Avícolas -, sendo esse evento, uma vez mais, o ponto de encontro onde líderes e referentes do setor debateram e expuseram sobre as novas técnicas, tecnologias, avanços, estudos e descobrimentos, do nosso grande setor. Se a sua empresa deseja obter informação para participar da próxima edição de Avícola em conjunto com Suínos 2016, por favor entre em contato com: Pablo Wabnik E-mail: Pablo.Wabnik@pwievents.com Telefone: +54 (11) 5219-1553 |Celular: +54 (9 11) 5459-0054 Skype: Wabnikp

www.avicola.com.ar

Curso de Educação a Distância Encontra-se em preparação um curso sobre manejo de grãos para chegar a todos os rincões do Brasil. O mesmo já foi desenvolvido há vários anos em língua espanhola para a Universidade de Belgrano (Buenos Aires-Arg.) e também para as Nações Unidas em um trabalho de cooperação como Uruguai. 40 | Revista Grãos Brasil | Novembro/Dezembro 2015

Visita à Japurana Com armazéns em Paragominas e Dom Eliseu, a empresa Juparanã lidera a provisão de insumos e a comercialização de grãos no estado do Pará. Estão com novas instalações, e em busca de aperfeiçoar os processos de volumes crescentes safra a safra. Parabéns para a equipe de Juparanã.

JORNADA EM PORTO SAN LORENZO (Santa Fé Argentina) A Cooperativa de Cerealistas de Santa Fé e Córdoba concretizaram uma jornada de atualização, onde fomos convidados a participar, por intermédio da firma Farchem. Quero ressaltar dois aspetos que considero interessante: 1) A importância que o setor dá para a capacitação e atualização dos responsáveis do manejo de grãos e sementes. Ano a ano aumenta os jovens participantes que necessitam receber experiência e os enfoques de eficiência. 2) A associação de empresas cerealistas privadas, em forma de cooperativa para otimizar a compra de insumos (adubos – agrotóxicos – sementes) , assim como a comercialização de grãos e facilitar a transferência de tecnologia para os cerealistas. Parabéns para as Cooperativas cerealistas.




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